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RESUMO
A relativização da coisa julgada no meio jurídico é tida por muitos como um assunto bastante
polêmico, e distante de um posicionamento pacifico. Desse modo, o presente trabalho é muitíssimo
relevante no campo do direito por possibilitar aos juristas e aos operadores desta área dizer se há ou
não benefícios decorrentes dessa teoria. Faz-se um estudo sobre o instituto da coisa julgada no
processo civil de tutela cognitiva e sobre sua eventual mitigação, bem como sobre sua importância
para o ordenamento jurídico pátrio. Em outros termos, o estudo objetiva analisar o instituto da coisa
julgada, e algumas propostas de relativização apresentadas pela doutrina e observar ao final se tal
teoria deve prosperar no meio jurídico ou não. Para isso, utiliza-se um referencial teórico baseado em
alguns artigos e textos mais recentes que servem para subsidiar o encaminhamento do estudo a
respeito da relativização da coisa julgada. Conclui-se por fim, que a relativização da coisa julgada, nos
moldes apresentados pela doutrina, carece de melhor justificativa e, em que pese chegar à conclusão
de que em alguns casos é necessária a relativização da coisa julgada, exige-se que tal hipótese seja
regulada por lei e não deixada ao bel prazer dos operadores do direito, sob pena de se estabelecer o
caos no ordenamento jurídico.
ABSTRACT
The relativization of res judicata in the legal community is regarded by many as a very controversial
subject, and away from peaceful position. Thus, this work is highly relevant in the field of law by
allowing for lawyers and operators in this area to tell whether or not there are benefits form this
theory. Carry out study on the institution of res judicata in civil proceedings or guardianship over their
possible cognitive and mitigation, as well analyzes the institute of res judicata e some proposals made
by the doctrine os relativism and watch the end if this theory is to prosper in the legal or not. For this,
we use a theoretical framework based on some recent articles and texts that serve to subsidize the
delivery of the study concerning the relativization of res judicata. We conclude finally that the
relativization of res judicata, along the lines presented by the doctrine, requires better justification and,
despite reaching the conclusion that in some cases it is necessary to relativize the res judicata requires
that such a hypothesis be regulated by law and not left to the whim of law enforcemente officers,
failing to create chaos in the legal system.
_______________
*
Acadêmico de Direito da Universidade do Norte do Paraná, aprovado no exame de ordem.
Revista Eletrônica do Direito Privado da UEL, Londrina, v. 3, n. 2, maio/ago 2010, p. 92-107
www.uel.br/revistas/direitoprivado
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1 INTRODUÇÃO
2 COISA JULGADA
É sabido que o Estado é detentor da jurisdição cabendo somente a ele dizer o direito
em substituição às vontades das partes. Quando o Estado é provocado por uma das partes
através do direito de ação, ele tem o dever de se pronunciar.
O pronunciamento do Estado pode se dar através de uma sentença que segundo o
Código de Processo Civil faz lei entre as partes, sendo assim, este pronunciamento deve
acabar com um período de incerteza das partes fazendo necessário que esta decisão torna-se
imutável.
Sobre a coisa julgada a Artigo 6.°, § 3.°, Lei de Introdução ao Código Civil, lhe dá a
seguinte definição: "chama-se coisa julgada ou caso julgado a decisão judicial de que já não
caiba mais recurso”.
Por sua vez, o artigo 467, do Código de Processo Civil, apresenta a seguinte
definição: "denomina-se coisa julgada material a eficácia, que torna imutável e indiscutível a
sentença, não mais sujeita a recurso ordinário ou extraordinário”.
Sendo um elemento imunizador dos efeitos que a sentença projeta para fora do
processo e sobre a via exterior dos litigantes, sua utilidade consiste em assegurar
estabilidade a esses efeitos, impedindo que voltem a ser questionados depois de
definitivamente estabelecidos por sentença não mais sujeita a recurso. A garantia
constitucional e a disciplina legal da coisa julgada recebem legitimidade política e
social da capacidade, que têm de conferir segurança as relações jurídicas atingidas
pelos efeitos da sentença.
Nota-se que a coisa julgada é necessária para encerrar um período de incertezas entre
as partes; a estabilidade gerada pela coisa julgada, traz às partes e à sociedade segurança.
A estabilidade dos atos judiciais somente é alcançada pela coisa julgada que, por sua
vez, pode ser definida como a imutabilidade das decisões.
A res judicata é um atributo da jurisdição que tem duas funções especificas, a
imutabilidade do ato sentencial e sua coercibilidade. Assim, a res judicata torna a decisão
absoluta, indiscutível, mesmo que tal seja injusta.
Desse modo, as decisões que decretam a extinção do processo por algum defeito
processual meramente formal ou instrumental, sem analisar o mérito, são acobertadas pela
coisa julgada formal.
Como preleciona Misael Montenegro Filho (2010, p. 534):
Por conta dessa circunstância, o autor pode dirigir nova pretensão contra o réu, com
idêntica causa de pedir e pedido, desde que afaste a mácula que impôs a extinção
prematura da causa. Construída a premissa, podemos em consequência concluir que
a coisa julgada formal - própria das sentenças terminativas impede a rediscussão dos
elementos do (partes, causa de pedir e pedido) e da parte dispositiva do
pronunciamento judicial no âmbito da própria ação instaurada, não impedindo,
contudo, que o autor rediscuta essas questões no curso de outro processo.
Nota-se que as diferenças entre a coisa julgada formal e material consistem em que,
enquanto a coisa julgada material se relaciona com às decisões de mérito e tem seus efeitos
além do processo, à coisa julgada formal é típica das decisões sem análise de mérito, e seus
efeitos são restritos ao processo no qual foi prolatada.
È fácil perceber que, para essa corrente, a coisa julgada deve ser relativizada quando
se sobrepuser a outros princípios do direito, tão ou mais importantes que o princípio da
segurança jurídica, como por exemplo, a dignidade da pessoa humana, a moralidade, a justiça
entre outros.
Entende-se por relativização da coisa julgada a possibilidade de rediscutir a matéria
já transitada e julgada. Tal encaminhamento pode ocorrer mesmo fora das possibilidades
permitidas pelo ordenamento jurídico, assim como após o prazo decadencial de 02 anos da
ação rescisória, ou seja, essa teoria visa criar a relativização da coisa julgada atípica.
Desse modo, a relativização da coisa julgada caracteriza-se por em considerar que
questões já julgadas outrora e que não mais admitem recursos possam voltar a ser
representadas em juízo.
Em suma, relativizar a coisa julgada significa dar um valor relativo a uma decisão de
mérito já transitada em julgado.
Assim sendo, a OAB por intermédio de seu Conselho Federal, impugnou tais
dispositivos movendo a Adin. 3.740 que tem como ministro relator Gilmar Mendes, e está
dependendo de julgamento pelo STF, Mas vale frisar que o argumento usado pela OAB para
que seja declarada a inconstitucionalidade dos dispositivos fundamenta-se no princípio da
segurança jurídica e também que o único meio para se desconstituir a coisa julgada é a ação
rescisória.
Porém, o maior argumento utilizado por esta corrente consiste em que uma decisão
que viola a constituição é nula. Outros defendem que a sentença inconstitucional é inexistente
e, sendo assim, deve ser relativizada. Entretanto, tal assunto, por ser muito debatido, será
explanado com mais profundidade adiante.
Na formula constitucional da garantia da coisa julgada está dito apenas que a lei não
prejudicará (art. 5°. XXXVI), mas é notório que o constituinte ‘minus dixit quem
voluit’, tendo essa garantia uma amplitude, mais ampla do que as palavras poderiam
fazer pensar. Por força da coisa julgada, não só o legislador carece de poderes para
dar nova disciplina a uma situação concreta já definitivamente regrada em sentença
irrecorrível, como também os juizes são proibidos de exercer jurisdição outra vez
sobre o caso e as partes já não dispõem do direito de ação ou de defesa como meios
de voltar a veicular em juízo matéria já decidida.
Nota-se pelo exposto que, havendo qualquer conflito de princípios, deve-se optar
pela segurança jurídica, não importando se até mesmo a justiça seja sacrificada.
Isso porque, na visão dos doutrinadores contrários à relativização a coisa julgada e a
segurança jurídica formam um casamento perfeito. A coisa julgada foi instituída para garantir
a segurança dos julgados e não a justiça. Logo, não há que se falar da flexibilização da coisa
julgada por injustiça ou inconstitucionalidade, pois estaria havendo confronto com o principio
da segurança jurídica.
A segurança jurídica vem para trazer às partes sossego em seu direito, visto que, a
partir do pronunciamento do Poder Judiciário a parte necessita da certeza de que não veria
incomodado o bem da vida ora tutelado.
Os defensores contrários à relativização da coisa julgada usam o princípio da
segurança jurídica para atacá-la, ou seja, para eles uma vez permitida a relativização da coisa
julgada, pode implantar-se grande insegurança na sociedade.
Em razão disso surge a seguinte indagação: A relativização da coisa julgada ofende o
principio da segurança jurídica?
Sergio Gilberto Porto (2006, p. 115) não obstante favorável à relativização, pondera:
Com isso, pode-se perceber que a coisa julgada é um instituto que visa garantir
estabilidade aos julgados, tendo sua previsão na constituição, de modo que não se permite
repetir uma atividade jurisdicional visando refazer um julgamento sobre a mesma questão.
Contrários ao entendimento de que a coisa julgada é instituto processual e
infraconstitucional, essa corrente defende a tese de que a coisa julgada é garantia
constitucional, e tem sua base no princípio da segurança jurídica.
tornarão intermináveis”.
Ao se permitir a mitigação da coisa julgada, a justiça se tornará mais morosa, a
máquina judiciária sobrecarregar-se-á mais ainda, a segurança jurídica será abalada, e
processos tramitaram ad eternum, pois é difícil definir de o que é justo ou injusto, podendo a
nova sentença também ser considerada injusta, e assim por diante.
Para Nelson Nery Júnior (2004, p. 49) não há que se falar em ponderação de
princípios, de acordo com ele, sempre se deve optar pela segurança jurídica, assim ele se
expressa:
A sentença justa é o ideal – utópico - - maior do processo. Outro valor não menos
importante para essa busca é a segurança das relações sociais e jurídicas. Havendo
choque entre esses dois valores (justiça da sentença e segurança das relações sociais
e jurídicas), o sistema constitucional brasileiro resolve o choque, optando pelo valor
segurança (coisa julgada), que deve prevalecer em relação à justiça, que será
sacrificada (Veropferungstheorie). Essa é a razão pela qual, por exemplo, não se
admite ação rescisória para corrigir injustiça da sentença. A opção é política: O
Estado brasileiro é democrático de direito fundado no respeito à segurança jurídica
pela observância da coisa julgada.
Para Nelson Nery Junior (2004, p. 48) não há nos casos de sentença um controle de
constitucionalidade como ocorre com as leis.
O autor conclui:
De nada adianta a doutrina que defende essa tese pregar que seria de aplicação
excepcional, pois uma vez aceita, a cultura jurídica brasileira vai, seguramente,
alargar seus espectros [...] de sorte que amanhã poderemos ter como regra a não
existência da coisa julgada e como exceção, para os pobres e não poderosos a
intangibilidade da coisa julgada.
Partilha do mesmo ponto de vista Aldo Ferreira Silva Junior (2009, p. 137):
[...] não nos parece aconselhável partir da premissa de que a coisa julgada
inconstitucional pode ser questionada perpetuamente, pois mesmo observando a
supremacia da constituição sobre todos os atos estatais, inclusive jurisdicionais, há
em contrapartida limites e freios que o próprio sistema dispõe para a sua distinta
aplicação como é o prazo decadencial da ação rescisória, ou mesmo o artigo 27 da
Lei 9.868/99 [...].
O ordenamento pátrio tem previsão legal de meios processuais típicos para mitigação
da coisa julgada em excepcionais casos. Não seria razoável permitir meios atípicos e em casos
6 CONCLUSÃO
REFERÊNCIAS
BRASIL. Supremo Tribunal Federal. 2ª Turma. Recurso Extraordinário nº. 594.350. Rel.
Min. Celso de Mello. União e Nina Beatriz Jardim Mylius e Outro(a/s). Brasília, 11 de junho
de 2010. Disponível em: <http://www.stf.com.br>. Acesso em 17 de jan 2011.
______. Relativizar a coisa julgada material. Revista da Escola Paulista da Magistratura, São
Paulo, n. 2, 2003, p. 7-45.
GRECO FILHO, Vicente. Direito processual civil brasileiro. 12. ed. São Paulo: Saraiva,
1997, v. 2.
MONTENEGRO FILHO, Misael. Curso de direito processual civil. São Paulo: Atlas, 2010.
NASCIMENTO, Carlos Valder do. Coisa julgada inconstitucional. 5. ed. Rio de Janeiro:
América Jurídica, 2005.
NERY JUNIOR, Nelson. Princípios do processo civil na constituição federal. 8. ed. São
Paulo: Revista dos Tribunais, 2004.
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SILVA JUNIOR, Aldo Ferreira. Novas linhas da coisa julgada civil. Campo Grande MS:
Futura, 2009.
TALAMINI, Eduardo. Coisa julgada e sua revisão. São Paulo: Editora: Revista dos
Tribunais. 2005.