You are on page 1of 34

FROMKIN, Victoria; RODMAN, Robert. Morfologia: as palavras da língua. ln: ___.

Introdução à Linguagem. Coimbra: Livraria Almedina, 1993. p. 119- 152.

Capítulo 4

Morfologia: As Palavras
da Língua
B.C. JohnnyHart
Evaporo Oprimeiro poro

.-::...::=.......:...:.:.::.:.::..::::::..........1.------ -
~...e

Autorizado por Johnny Hart and Field Enterprises, Inc.

A word is dead
When it is said,
Some say.
I say itjust
Begins to live
That day.
Emily Dickinson, "A Word"

Todos os falantes de uma língua conhecem milhares, ou mesmo


dezenas de milhares, de palavras. Conhecer uma palavra significa conhecer
o som e o significado dessa palavra. Quem não soubesse inglês não saberia
onde começa ou acaba cada palavra de uma frase como [õdkhretetõdrret].
Nem sequer seria capaz de saber quantas palavras tinham sido ditas. No
entanto, qualquer falante de inglês não teria a mínima dificuldade em seg-
mentar os sons de modo a formar as palavras the cat ate the rat. Também
alguém que não fale potawatomi não poderá saber se [kwapmuknauk] (qu~
significa "Eles vêm-nos") é constituído por uma, duas ou mais palavras. E
de facto uma só palavra como qualquer falante de potawatomi saberia dizer.
Os sons (pronúncia) e o significado de uma palavra são inseparáveis.
O linguista suiço do século XIX, Ferdinand de Saussure, deixou esta noção
bem clara ao analisar a união arbitrária entre os sons (forma) e o signifi-
cado (conceito) do signo linguístico. Neste sentido toda a palavra constitui
um signo linguístico.
120 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Vimos já que os falantes de uma língua sabem, em virtude do seu


conhecimento fonológico, se uma cadeia de sons poderia ser uma palavra
da sua língua. Se não conhecessem o significado da palavra plarm con-
cluiriam que era uma palavra que não conheciam ou que não era uma
palavra em inglês. Saberiam, porém, que era uma palavra inglesa possível.
Se alguém lhes dissesse que um plarm era uma espécie de ratazana, plarm
passaria a ser uma unidade som-significado, um signo linguístico, uma
palavra.
Assim como determinada cadeia de sons deve ser unida a um signifi-
cado para constituir uma palavra, também o conceito ou significado deve
unir-se a sons específicos. Antes de 1955 a palavra googol [gug;}l] não exis-
tia como palavra inglesa. Agora, pelo menos entre matemáticos e cientistas,
constitui uma palavra. A palavra foi "cunhada" pelo sobrinho de nove anos
do matemático americano Dr. Edward Kasner passando a significar "o
número 1 seguido de 100 zeros", um número igual a 10100 • O número existia
já antes de a palavra ser inventada mas nenhuma palavra representava este
conceito numérico específico. Quando o conceito e os sons se uniram,
nasceu uma palavra. Na realidade, a partir desta palavra formou-se outra
palavra - googolplex - para significar " 1 seguido de um googol de zeros".
As palavras que conhecemos fazem parte do nosso conhecimento lin-
guístico, parte das nossas gramáticas interiorizadas. Uma vez que cada
palavra constitui uma unidade som-significado, cada palavra arquivada nos
nossos dicionários mentais deverá ser arquivada com a sua representação
fonológica única (que determinará a sua pronúncia ao serem aplicadas as
regras fonológicas) e com o seu significado.
Cada palavra deverá também incluir outras informações. A represen-
tação de uma palavra no dicionário deverá dizer-nos se se trata de um subs-
tantivo, um verbo, um adjectivo, um advérbio, uma preposição, uma con-
junção. Isto é, deverá especificar qual a categoria gramatical ou classe sin-
táctica a que pertence. Algumas palavras, como love, podem ser um subs-
tantivo ou um verbo, como mostram as frases I [ove you e You are the lave
of my life. As classes de palavras, as categorias sintácticas - tal como subs-
tantivos, verbos, adjectivos, etc. - serão desenvolvidas com mais pormenor
no Capítulo 7. As propriedades semânticas das palavras, que representam o
seu significado, serão analisadas no Capítulo 6.

Classes Abertas e Classes Fechadas


de Palavras
Em inglês, os substantivos, verbos, adjectivos e advér-
bios constituem a maior parte do vocabulário. São classes "abertas" uma
vez que podemos (e fazêmo-lo regularmente) acrescentar novas palavras a
essas classes. Googol, por exemplo, foi acrescentada à classe dos substan-
tivos ingleses. Durante os escândalos políticos dos anos 70 entrou no inglês
americano um novo verbo, stonewall, significando "ser obstrutivo". Novos
advérbios como weatherwise e saleswise e novos adjectivos como biode-
structible juntaram-se também.
Morfologia: As Palavras da Língua 121

As outras categorias sintácticas constituem, na sua maior parte, con-


juntos "fechados". Não é fácil pensarmos em novas conjunções ou
preposições ou pronomes que tenham entrado recentemente na língua.
Existe um pequeno conjunto de pronomes pessoais corno !, me, mine, he,
she, etc. Com o incremento do movimento femininista têm surgido algumas
propostas no sentido de se criar um novo pronome singular neutro, que não
seria nem feminino nem masculino e que pudesse ser usado como forma
geral ou genérica. Se um tal pronome existisse talvez tivesse evitado a afir-
mação incongruente do chefe de departamento de urna grande universidade:
"We will hire the best person for the job regardless of bis sex". O psicólogo
da UCLA, Donald MacKay sugeriu que usássemos "e" [i] para esse
pronome com várias formas alternativas; outros salientam que they está já a
ser usado como uma terceira pessoa singular neutra, como sucede na frase:
"Anyone can do it if they try hard enough". Devido à natureza "fechada" do
conjunto de pronomes podemos prever que they tem mais hipóteses de
preencher esta falta do que um pronome completamente novo.
A distinção entre classes " abertas" e "fechadas" tem validade psi-
cológica e neurológica. Alguns grupos de doentes com lesões cerebrais têm
mais dificuldade em usar, ler ou compreender palavras pertencentes a
classes fechadas do que palavras de classes abertas. Alguns chegam a inter-
pretar a palavra in como significando inn ou a palavra which como signifi-
cando witch quando se lhes pede que leiam ou empreguem essas palavras
em frases. Outros doentes fazem precisamente o contrário. Tais efeitos de
lesões cerebrais sobre a linguagem serão discutidos no Capítulo 12. Apenas
os mencionamos aqui para mostrar que a análise linguística das palavras é
confirmada por investigadores de outras áreas da ciência.

CONJUNTOS DE PALAVRAS

Outro aspecto interessante das palavras que conhecemos é que algu-


m as palavras parecem relacionar-se urnas com as outras de uma forma
muito especial. O escritor O. Henry disse uma vez: "O mais maravilhoso
são as palavras e corno elas fazem amizade umas com as outras . .. " Talvez
ele estivesse a pensar em palavras como:

phone phonic
phonetic phoneme
phonetician phonemic
phonetics allophone
phonology telephone
phonologist telephonic
phonological euphonious

Todas estas palavras se relacionam quanto à forma e quanto ao signifi-


cado. Todas incluem a mesma forma fonológica como um significado idên-
tico ao da primeira palavra, phone. Phone parece ser uma forma mínima
uma vez que não pode ser dividida em mais elementos estruturais: ph é
desprovido de significado e pho [fo] não tem qualquer relação de signifi-
cado com os mesmos sons da palavra foe, e -one /on/ não está relacionada
122 Aspectos Gramaticais da Linguagem

com a unidade sonora /on/, significando "own". Mas todas as outras pala-
vras da lista contêm esta mesma palavra como parte da sua estrutura. As
regras fonológicas do inglês "dizem-nos" que em phonetic, phonetics,
phonology, phonologist, phonemic a pronúncia é [fün] em vez de fõn] ,
estando, porém, o mesmo elemento phone /fon/ presente em todas estas
palavras com o mesmo significado: "que diz respeito ao som".
Note-se também que nos seguintes pares de palavras os significados de
todas as palavras da coluna B são constituídos pelos significados das pala-
vras da coluna A mais o significado "não":

A B
desirable undesirable
likely unlikely
inspired uninspired
happy unhappy
developed undeveloped
sophisticated unsophisticated

O Webster '.s Third New International Dictionary apresenta cerca de


2700 adjectivos começados por un-, cujo significado os falantes do inglês
compreenderiam se conhecessem a palavra sem un-.
A banda desenhada de Broom Hilda reflecte o conhecimento que os
falantes têm do significado da negativa:

BROOMHILDA

Reprodução autorizada por Tribune Company Syndicate, Inc.

Se se considerasse que as unidades mais elementares de significado, os


signos linguísticos básicos, eram as palavras seria uma coincidência que un
tivesse o mesmo significado em todas as palavras da lista que apresentámos.
Mas é evidente que não se trata de uma coincidência. As palavras undesirable,
unlikely, uninspired, unhappy e todas as outras da coluna B são formadas pelo
meno~por duas unidades significativas: un + desirable, un + likely, etc.
E também um facto que as palavras inglesas estão sujeitas a regras.
Assim, uneaten, unadmired, ungrammatical são palavras inglesas, mas
*eatenun, *admiredun, *grammaticalun (para significar "não comido", "não
admirado", "não gramatical") não são possíveis, uma vez que não formamos
um significado negativo de uma palavra acrescentando o sufixo un (isto é,
acrescentando-o no fim da palavra) mas acrescentando o prefixo un (isto é,
acrescentando-o no início).
Morfologia: As Palavras da Língua l23

O estudo da estrutura interna das palavras, assim como das regras que
determinam a formação das palavras, chama-se morfologia. O conheci -
mento de uma língua implica o conhecimento não só da fonologia como
também da morfologia.
Neste capítulo analisaremos a formação das palavras em inglês e
noutras línguas e o que os falantes de uma língua sabem sobre a morfologia
da sua língua.

Morfemas. As Unidades Mínimas


de Significado
"Deram-mo", continuou Humpty Dumpty.. . , "como presente
de in-aniversário".
"Desculpe?" disse Alice com um .ar espantado.
"Não estou ofendido", disse Humpty Dumpty.
"Quero eu dizer, o que é um presente de in-aniversário?"
"Um presente que nos dão quando não fazemos anos, claro".
Lewis Carroll, Através do Espelho

LUTHER Brumsic Brandon, Jr.


DISSE-LHE QUE TINHA
ESTEREONUClEOSE:I

© 1982, Los Angeles Times Syndicate, reprodução autorizada

Quando Samuel Goldwyn, o pioneiro do cinema, anun-


ciou: "Em duas palavras: f,;;: possible" ele reflectia a perspectiva comum de
que as palavras são os elementos básicos de significado numa língua. Vimos
já que tal não é verdade uma vez que algumas palavras são formadas pela
combinação de unidades distintas de significado. O termo tradicional para a
unidade mais elementar de forma gramatical é morfema. A palavra é
derivada da palavra grega morphe, que significa "forma". Linguísticamente
falando, Goldwyn deveria, pois, ter dito: "Em dois morfemas: im-possible".
Uma palavra pode ser formada por um ou mais morfemas:

um morfema boy, desire


dois morfemas boy + ish, desire + able
três morfemas boy + ish + ness, desire + able + ity
quatro morfemas gentle + man + li + ness, un + desire + able + ity
mais de quatro morfemas un +gentle + man + li + ness
anti + dis + establish + ment + ari + an + ism 1

1
Alguns falantes da língua inglesa podem mesmo apresentar mais morfemas.
124 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Poderemos definir como um signo linguístico mínimo uma unidade


gramatical em que se verifica uma união arbitrária de um som com um sig-
nificado não podendo essa unidade ser analisada em segmentos menores.
Como vamos ver, esta definição pode ser demasiado simplista mas servirá
os nossos objectivos de momento. Todas as.palavras de todas as línguas são
formadas por um ou mais morfemas.

MORFEMAS PRESOS E LIVRES

·Se observarmos os exemplos acima mencionados veremos que alguns


morfemas como boy, desire, gentle e man podem, por si sós, constituir
palavras. Outros morfemas, como -ish, -able, un-, -ness e -li nunca formam
palavras, constituindo apenas partes de palavras. Assim,· un- assemelha-;se a
pre- (prefix, predeterminate, prejudge, prearrange) adis- (disallow, disobey,
disapprove, dislike) e a bi- (bipolar, bisexual, bivalved) ocorrendo sempre
antes de outros morfemas. Esses morfemas denominam-se prefixos. Outros
morfemas ocorrem apenas como sufixos, seguindo-se a outros morfemas.
Exemplos ingleses desses morfemas são -er (singer, performer, reader,
beautifier), -ist (typist, copyist, pianist, novelist, collaborationist, Marxist) e
-ly (manly, bastardly, sickly, orderly, friendly) para apenas mencionarmos
alguns.
Os sufixos e os prefixos têm tradicionalmente sido designados por
morfemas presos, uma vez que não podem ocorrer "desligados", distin-
guindo-se gos morfemas livres como man, bastard, sick, prove, allow,
judge, etc. E claro que ao falarmos só muito raramente usamos apenas mor-
femas livres.
Em todas as línguas os morfemas constituem os signos linguísticos
mínimos. Em turco, se acrescentarmos -ak a um verbo, fazemos derivar um
substantivo. É o caso de:

dur, "parar" dur + ak, "local de paragem"


bat, "afundar" bat + ak, "local de afundamento" ou "pântano".

Em inglês, para referirmos uma acção recíproca recorremos à estrutura


each other como em understand each other, tove each other. Em turco, apenas
se junta um morfema ao verbo: anta, corresponde ao inglês "understand'', anta
+ s, "understand each other", sev, "love", sev +is, "lave each other".
Em piro, língua araucana falada no Peru, basta acrescentar um simples
morfema, kaka, ao verbo para referir o significado de "causar": cokoruha,
" arpoar''., cokoruha + kaka, "causar o arpoar", salwa, "visitar", salwa +
kaka, "causar o visitar". ·
Em karok, língua dos índios americanos falada na costa noroeste do
Pacífico, se juntarmos -ak a um substantivo formamos o adverbial locativo
significando "dentro de, em cima de, ou em": ikrivra:m, "casa'', ikrivra:mak,
"numa casa", 2a:s, "água'', 2a:sak, "na água". Note-se que é por mero acaso
que o turco e o karok têm um sufixo -ak. Apesar da semelhança da forma,
os dois significados são diferentes.
Também em karok, o sufixo -ara tem o mesmo significado do sufixo
inglês -y, isto é, "caracterizado por", como em 2a:x, "blood"; apti:k, "branch",
aptikara, "branchy".
Morfologia: As Palavras da Língua 125

Os exemplos que apresentámos ilustram morfemas livres como boy


em inglês, dur em turco, salwa em piro e ?.a:s em karok. Apresentámos
também exemplos de prefixos e sufixos. Algumas línguas também têm
infixos, morfemas que se juntam a outros morfemas inserindo-se dentro do
morfema. Bontoque, uma língua falada nas Filipinas, é uma dessas línguas,
como poderemos ver nos exemplos seguintes:
SUBSTANTIVOS/ .
ADJECTIVOS VERBOS
fikas, "forte" fumikas, "ser forte"
kilad, "vermelho" kumilad, "ser vermelho"
fusul, "inimigo" fumusul, "ser inimigo"

Nesta língua, o infixo -um- insere-se depois da primeira consoante do


substantivo ou adjectivo. Sabendo que pusi significa "pobre", qual será o
significado mais provável de pumusi? E se umitad significa "ser escuro"
qual será a palavra bontoque para o adjectivo "escuro"?

Crans e Huckles e outros Morfemas


que Tais
Definimos já o morfema como sendo o elemento básico
do significado, como uma forma fonológica arbitrariamente associada a um
significado específico que não pode ser analisada em elementos mais sim-
ples. Esta definição tem vindo, já há vários anos, a levantar problemas para
a análise linguística, embora se mantenha de facto válida para a maior parte
dos morfemas de uma língua. Consideremos palavras como cranberry,
huckleberry e boysenberry. O elemento berry não constitui problema, mas
huckle e boysen apenas ocorrem com berry, tal como acontecia com cran
até a bebida cranapple em sumo surgir no mercado.
Para descrevermos formas como huckle, boysen, cran, teremos de voltar
a definir o conceito de "morfema". Alguns morfemas não são significativos
quando isolados mas adquirem significado quando associados a outros morfe-
mas formando palavras. Assim, o morfema huckle quando associado a berry
tem o significado de um pequeno fruto redondo, azul-arroxeado, etc.
Tal como parece haver alguns morfemas que apenas ocorrem numa
palavra (isto é, combinados com outro morfema), outros morfemas há que
ocorrem em muitas palavras, combinando-se com vários morfemas mas
para os quais é difícil encontrar um significado constante. Como definiría-
mos o -ceive em receive, perceive, conceive ou o mit em remit, permit, com-
mit, submit? Há também palavras que parecem ser formadas por um prefixo
+ radical em que o radical como cran nunca ocorre sozinho. Assim, encon-
tramos inept mas não *ept, inane mas não *ane, incest mas não *cest, inert
mas não *ert, disgusted mas não *gusted, lukewarm mas não *luke.
Para complicar ainda um pouco mais as coisas, há palavras como
strawberry em que straw não tem qualquer relação com a outra forma
straw, gooseberry que se não relaciona com goose, e blackberries que
podem ser roxas ou vermelhas.
126 Aspe,ctos Gramaticais da Linguagem

Não pretendemos resolver aqui esta questão. Diversos linguistas pro-


puseram já diversas soluções ao longo dos anos. Trataremos estas formas
"esquisitas" como morfemas, reconhecendo que certos morfemas apenas
adquirem significação quando associados aos morfemas das palavras em
que ocorrem.
Embora os linguistas não tenham chegado a acordo quanto à solução
do problema, os falantes não se deixam perturbar. A dificuldade está no
facto de o nosso conhecimento linguístico ser um conhecimento incons-
ciente e de, como aprendentes e falantes, sermos melhores a formular
gramáticas (sem saber que o fazemos) do que os linguistas a descobrir em
que consistem essas gramáticas.

Regras Morfológicas de Formação


de Palavras

EVIDENTE<! PODE SER EVIDENTE ANEVIDENTE7 EXEVIDENTE7


PARA TI MAIS É COM CERTEZA ANTI-EVIDENTE? INEVIDENTE?
DESEVIDENTE PARA MIM! SUBEVIDENTE? NÃO-EVIDENTE?

© 1974 United Feature Syndicate, lnc.

Quando a tartaruga indicou a Alice os quatro ramos dife-


rentes da aritmética como sendo a "Ambição, Distracção, Enfeiamento e
Ridículo'', Alice ficou confusa:

"Nunca ouvi falar em 'Enfeiamento"' aventurou-se Alice a dizer. "O que é?"
O grifo levantou as patas surpreendido. "Nunca ouviste falar em enfeiar!",
exclamou. " Sabes o que é embelezar, suponho?"
" Sim", disse Alice hesitante: "significa - tornar - uma coisa - mais bela".
"Bom" - continuou o - grifo, "se não sabes o que é enfeiar, então és uma pateta".

Alice não era assim tão pateta, uma vez que enfeiamento não era
palavra corrente antes de Lewis Carroll a usar. Chamámos já a atenção para
a existência de lacunas no léxico, palavras que não existem mas poderiam
existir. Algumas lacunas devem-se ao facto de determinada sequênci a
Morfologia: As Palavras da Língua 127

sonora possível não estar associada a qualquer significado (como blick ou


slarm ou krobe). Outras lacunas devem-se ao facto de combinações possíveis
de morfemas não terem ainda sido feitas (como ugly + fy ou possivelmente
linguistic + ism). A razão pela qual os morfemas se podem combinar desta
forma está no facto de existirem, em todas as línguas, regras que dizem
respeito à formação de palavras, regras morfológicas, que determinam o
modo como os morfemas se combinam para formarem novas palavras.
A tartaruga acrescentou -ify ao adjectivo ugly e formou um verbo.
Muitos verbos ingleses se formaram assim: purify, amplify, simplify, falsify;
-ify pode também juntar-se a substantivos formando verbos: objectify,
glorify, personify. Note-se que a tartaruga foi ainda mais longe: acrescentou
um sufixo e formou um substantivo; criou em inglês uglification como em
glorification, simplification, falsification ou purification.

MORFEMAS DERIVACIONAIS

Existem outros morfemas em inglês que mudam a categoria, ou classe


gramatical, das palavras. São por vezes chamados morfemas derivacionais
pois quando associados a outros morfemas (ou palavras) é derivada, ou for-
mada, uma nova palavra. E, como já vimos, a palavra derivada pode inserir-
-se numa classe gramatical diferente da palavra não derivada. Assim, quando
a um verbo se associa o sufixo -able, o resultado é um adjectivo, como em
desire + able ou adore + able. Vejamos outros exemplos:

SUBSTANTIVO VERBO ADJECTIVO


AADJECTIVO A SUBSTANTIVO A ADVÉRBIO
boy + ish acquitt + al exact + ly
virtu + ous clear + ance quiet + ly
Elizabeth + an accus + ation
pictur + esque confer + ence SUBSTANTIVO A VERBO
affection + ate sing + er moral+ ize
health +fui conform + ist vaccin +ate
alcohol + ic predict + ion brand + ish
life + Iike free +dom

Existem também outros morfemas derivacionais que não geram mu-


dança na classe gramatical. Pertencem a esta categoria muitos prefixos:

a+ moral mono + theism


auto + biography re + print
ex+ wife semi + annual
super + human sub + minimal

O mesmo se verifica com alguns sufixos:

vicar +age Trotsky + ite


long + er Commun + ist
short + est music + ian
Americ + an pun + ster
128 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Novas palavras podem entrar desta forma no dicionário, criadas pela apli-
cação de regras morfológicas. Acontece frequentemente que embora uma
palavra como, por exemplo, Commun + ist entre para a língua, outras formas
complexas também possíveis, como Commun + ite (como em Trotsky+ ite) ou
Commun + ian (como em grammar + ian) não entram. Poderão, no entanto,
existir formas alternativas: Marxian/Marxist. A redundância dessas formas
alternativas, todas elas de acordo com as regras gerais de formação de
palavras, pode explicar algumas lacunas acidentais que o léxico representa.
Isto mostra que as palavras que na realidade existem numa língua constituem
apenas um subconjunto de palavras possíveis.
Algumas regras morfológicas são muito produtivas no sentido em que
podem ser utilizadas bastante livremente para formar novas palavras da lista de
morfemas livres e presos. O sufixo -able parece ser um morfema que pode
combinar-se livremente para derivar um adjectivo com o significado do verbo
e o significado de -able, que significa algo como "capaz de ser", como acon-
tece em accept + able, blam(e) + able, pass + able, change + able, breath +
able, adapt + able, etc. O significado de -able tem por vezes sido expresso
como "pronto para fazer" ou "pronto para ser feito".
Poderíamos explicitar esta regra do seguinte modo:
(1) VERBO + able ="capaz de ser VERBO + part. pass."
accept + able ="capaz de ser aceite"
A produtividade desta regra está bem patente no facto de encontrarmos
-able em palavras morfologicamente complexas como un + speakabl(e) + y
e un + come· + at + able.
Vimos já existir um morfema em inglês que significa "não": tem a
forma un- e quando combinado com adjectivos como afraid, fit, free, smooth,
American e British forma o antónimo, ou negativa, desses adjectivos; por
exemplo, unafraid, unfit, unfree, unsmooth, unAmerican, unBritish.
Podemos também acrescentar o prefixo un- para fazer derivar palavras
que haviam sido formadas por regras morfológicas:
un + believe + able
un + accept + able
un + talk + about + able
un + keep + off + able
un + speak + able
A regra que forma estas palavras pode ser expressa do seguinte modo:
(2) un + ADJECTIVO ="não - ADJECTIVO"
Esta regra parece explicar todos os exemplos apresentados. No entan-
to, embora encontremos happy e unhappy, cowardly e uncowardly, não
encontramos sad e *unsad ou brave e *unbrave.
Estas formas não gramaticais podem, é certo, constituir meras lacunas no
léxico. Certamente que se alguém se referir a uma pessoa dizendo que está
*unsad saberíamos que essa pessoa estava "not sad" e que uma pessoa
*unbrave seria "not brave". Mas como salienta a linguista Sandra Thompson 2,
2
S. A Thompson, "On the Issue of Productivity in the Lexicon'', Kritikon Litterarum
4 (1975): 332-349.
Morfologia: As Palavras da Língua 129

pode ac~ntecer que a regra "un-" não seja tão produtiva para adjectivos for-
mados por um só morfema como para adjectivos derivados de verbos. A
regra parece aplicar-se livremente às formas adjectivais derivadas de ver-
bos, como acontece com unenlightened, unsimplified, uncharacterized,
unaut~orized, undistinguished, etc.
E verdade, porém, que nem sempre podemos saber o significado das
palavras derivadas de morfemas livres e derivacionais com base apenas nos
próprios morfemas. Thompson chama a atenção para os significados impre-
visíveis das seguintes formas un-:
unloosen " loosen, let loose"
unrip " rip, undo by ripping"
undo "reverse doing"
untread "go back through in the sarne steps"
unearth " dig up"
unfrock " deprive (a cleric) of ecclesiastic rank"
unnerve " fluster"
Assim, embora as palavras de um língua não sejam as unidades som-
-significado mais elementares, deverão Quntamente com os morfemas) fazer
parte dos nossos dicionários. As regras morfológicas fazem parte da gra-
mática apontando as relações entre as palavras e fornecendo os meios de
formação de novas palavras.
As regras morfológicas podem ser mais produtivas (podem muitas
vezes ser usadas para formar novas palavras) ou menos produtivas. A regra
que acrescenta -er aos verbos ingleses para representar o significado nomi-
nal de aquele que pratica uma acção (uma vez ou habitualmente)" parece ser
uma regra morfológica muito produtiva; a maior parte dos verbos ingleses
aceitam este sufixo: lover, hunter, predictor (note-se que -or e -er têm a
mesma pronúncia), examiner, examtaker, analyzer, etc.
Consideremos agora o seguinte:
sincerity de sincere
warmth de warm
moisten de moist
O sufixo -ity encontra-se em muitas outras palavras inglesas, como
chastity, scarcity, curiosity. E -th ocorre em health, wealth, depth, width,
growth. Encontramos -en em sadden, ripen, redden, weaken, deepen.
No entanto, o segmento *The fiercity of the lion soa-nos estranho, tal como
a frase *I'm going to thinnen the sauce. Poder-se-á usar a palavra coolth, mas,
como Thompson refere, quando se usam palavras como fiercity, thinnen, fullen
ou coolth, trata-se ou de um erro de fala ou o falante está a tentar fazer humor.
Talvez se trate de uma regra morfológica que já foi produtiva (como
mostram os pares do tipo scarce/scarcity) mas deixou de o ser. O nosso
conhecimento de pares que se relacionam poderá, no entanto, permitir-nos a
utilização destes exemplos para formarmos novas palavras com base na
analogia com elementos já existentes.

"PULLET SURPRISES"
O conhecimento que os falantes têm dos morfemas da sua língua e das
130 Aspectos Gramaticais da Linguagem

regras de formação de palavras está bem patente quer nos "erros" que fazem
quer nas formas correctas que produzem. Os morfemas combinam-se para
formarem palavras. Essas palavras formam os nossos dicionários interiores.
Nenhum falante de uma língua conhece todas as palavras. Considerando o
nosso conhecimento dos morfemas da língua e das regras morfológicas,
conseguimos muitas vezes adivinhar o significado de uma palavra que não
conhecemos. Muitas vezes, como é evidente, adivinhamos mal. Amsel
Greene anotou erros feitos pelos seus alunos em aulas de vocabulário e
publicou-os num livro encantador intitulado Pullet Surprises 3 • O título é
tirado de uma frase escrita por um aluno do ensino secundário: "Em 1957
Eugene O'Neill won a Pullet Surprise". O mais interessante destes erros é o
que revelam do conhecimento que os alunos têm da morfologia do inglês.
Consideremos a criatividade desses alunos nos exemplos seguintes.
PAIAVRA DEFINIÇÃO DO ALUNO
deciduous "able to make up one's rnind"
longevity "being very tall"
fortuitous "well protected"
gubematorial "to do with peanuts"
bibliography "holy geography"
adamant "pertaining to original sin"
diatribe "food for the whole clan"
polyglot "more than one glot"
gullible "to do with sea birds"
homogeneous "devoted to home life"

O aluno que usou a palavra indefatigable na frase She tried many


reducing diets, but remained indefatigable mostra claramente um conheci-
mento morfológico; in significando "não" como em ineffective; de signifi-
cando "privação", "separação" como em decapitate; fat como em fat, "gor-
dura"; able como em "able", ser capaz; e a soma dos significados deu "não
capaz de tirar a gordura".

Criação de Palavras
Como já vimos, novas palavras podem juntar-se ao
vocabulário ou léxico de uma língua através de processos derivacionais.
Mas novas palavrás podem também entrar numa língua de muitas outras
maneiras. Algumas são criadas directamente par~ servir um objectivo. A
Madison Avenue deu já ao inglês muitas palavras novas como Kodak,
nylon, Orlon e Dracon. Nomes de marcas comerciais como Xerox, Kleenex,
Jell-o, Frigidaire, Brillo e Vaseline surgem frequentemente nos nossos dias
como o nome genérico para marcas diferentes desses mesmos produtos.
Note-se que algumas destas palavras foram criadas a partir de palavras já
existentes: kleenex vem da palavra clean eJell-o de gel, por exemplo.

· 3 Amsel Green, 1969. Pullet Surprises, Scott, Foresman & Co. Glenview, Ill.
Morfologia: As Palavras da Língua 131

COMPOSTOS
... os Houyhnhnms não têm na sua Língua Palavra para
exprimir algo mau, excepto a que vão buscar aos Defeitos ou
às más Qualidades dos Yahoos. Assim, mostram .a Loucura de
um Criado, uma Omissão de uma Criança, uma Pedra que
lhes corta os Pés, a Continuação de Tempo mau ou indese-
jável, etc., acrescentando a cada Palavra o Epíteto Yahoo. Por
exemplo, Hhnm Yahoo, Whnaholm Yahoo, Ynholmhnmrohlnw
Yahoo.
Jonathan Swift, Viagens de Gulliver

She played upon her music-box a fancy air by chance,


And straightway all her polka-dots began a lively dance.
"A milkweed anda buttercup, and cowslip," said sweet Mary,
"Are growing in my garden-plot, and this I cal! my dairy. "
Peter Newell, Pictures and Rhymes

Os pastores criam
Este relatório é sobre carneiros donde comemos
criadores de gado costeletas de carneiro

Também criam gado


donde comemos as
costeletas de gado.

© 1972 United Feature Syndicate, Inc.

As palavras podem juntar-se umas às outras formando novas


palavras: as palavras compostas. Não existe praticamente limite quanto às combi-
nações que podem ocorrer em inglês, como poderemos ver nos exemplos que fazem
parte da lista de compostos que se segue:

-ADJECTIVO -SUBSTANTIVO -VERBO


ADJECTIVO- bittersweet poorhouse highbom
SUBSTANTIVO- headstrong rainbow spoonfeed
VERBO- carryall pickpocket sleepwalk

Note-se que Frigidaire é uma palavra composta formada pela combi-


nação do adjectivo frigid com o substantivo air.
Quando as duas palavras fazem parte da mesma categoria gramati-
cal, a palavra composta pertence a essa categoria: substantivo + substantivo
- girlfriend, fighter-bomber, paper clip, elevator-operator, landlord,
132 Aspecros Gramaticais da Linguagem

mailman; adjectivo + adjectivo - icycold, red-hot, wordly-wise. Em muitos


casos, quando as duas palavras pertencem a categorias diferentes, é a classe
da segunda palavra (ou palavra final) que determina a categoria gramatical
da palavra composta: substantivo + adjectivo - headstrong, watertight,
lifelong; verbo + substantivo - pickpocket, pinchpenny, daredevil,
sawbones. Tal, porém, não sucede sempre; os compostos formados com prepo-
sição pertencem à categoria da parte não preposicional da palavra composta:
overtake, hanger-on, undertake, backdown, afterbirth, downfal~ uplift.
Embora os compostos de duas palavras sejam os mais usuais, difícil
seria estabelecer um limite máximo: three-time laser, four-dimensional
space time, sergeant-at-arms, mother-of-pearl, man about town, master of
ceremonies, daughter-in-law.
A ortografia nada nos diz sobre a sequência que forma o composto,
uma vez que alguns compostos se escrevem com um espaço entre as duas
palavras, outros com um hífen e outros ainda sem qualquer sepração: por
exemplo, blackbird, gold-tail, smoke screen.
Acontece muitas vezes os compostos terem modelos de acentuação
diferentes das sequências de palavras não compostas, como vimos no
Capítulo 3. Assim, Rédcoat, gréenhouse, líghthouse keeper têm o acento
principal na primeira parte do composto, enquanto red cót, green hóuse,
light hóusekeeper não têm. Verificam-se, porém, algumas excepções: Fífth
Street e Fifth A venue, máilmán e póstman, entre outras. Mesmo em compos-
tos complexos co mo síx-corned hen house annex door encontramos o
acento próprio do composto.
Um dos aspectos interessantes dos compostos é que nem sempre pode-
mos determinar o seu significado a partir das palavras que o constituem. O sig-
nificado de um composto não é sempre a soma dos significados das partes.
Nem toda a gente que veste um red coat é um Redcoat. Existe uma
grande diferença entre ~s frases She has a red coat in her closet e She has a
Redcoat in her closet. E verdade, como já vimos, que as frases soam dife-
rentemente. Mas em bedchamber, bedclothes, bedside e bedtime, bed é
acentuado em todos os compostos; no entan to, bedchamber é um quarto
onde existe urna cama, bedclothes são lençóis e cobertores para uma cama,
bedside não diz respeito ao lado material de uma cama mas sim ao lugar
perto da cama, e bedtime é a hora a que se vai para a cama .
Outros compostos criados de forma semelhante mostram que dife-
rentes relações gramaticais estão subjacentes à justaposição de palavras:
houseboat é um barco que é uma casa, mas housecat não é um gato que é
uma casa; boathouse é uma casa para barcos, mas cathouse não é uma casa
para gatos; jumping bean é um feijão que salta, falling star é uma estrela
que "cai" e magnifying glass é um espelho que aumenta. Mas looking glass
não é um espelho que vê, eating apple não é uma maçã que come, nem
laughing gas é um gás que ri.
Em todos os exemplos que apresentámos, o significado de cada com-
posto inclui, pelo menos em certa medida, os significados das partes.
Existem, porém, outros compostos que não parecem estar nada relacionados
com os s ignificados das partes: jack-in-a-box é urna árvore tropical e
turncoat é um traidor. Um highbrow não tem necessariamente sobrancelhas
altas, um bigwig não te m necessariamente cabeleira grande, nem um
egghead uma cabeça com forma de ovo.
Morfologia: As Palavras da Língua 133

Como referimos quando analisámos o prefixo un-, o significado de


muitos compostos deve ser aprendido como se fossem palavras mínimas.
Alguns significados poderão ser adivinhados, mas nem todos. Assim, se
nunca tivermos ouvido a palavra hunchback talvez sejamos capazes de
inferir o seu significado. Mas se nunca tivermos ouvido a palavra flatfoot é
duvidoso que descobríssemos que a palavra significa "detective" ou "polí-
cia" embora, agora que conhecemos a palavra, se compreenda a sua origem.
Por tudo o que foi dito facilmente se compreende que embora as
palavras de uma língua não sejam as unidades de som e significado mais
elementares, todas as palavras Guntamente com os morfemas) deverão cons-
tar dos nossos dicionários. As regras morfológicas deverão também fazer
parte da gramática, explicando as relações entre palavras e fornecendo os
meios para formar novas palavras.
O facto de essas regras existirem permite-nos cunhar novas palavras,
como teach-in e space-walk. O Dr. Seuss recorre às regras de composição
ao explicar que" ... quando os besouros (tweetle beetles) lutam (battle) com
as patas (paddles) num charco (puddle) chama-se a isso uma 'tweetle beetle
puddle paddle battle"'.4
Não é só o inglês que tem regras para a formação dos compostos: em
francês cure-dent, "palito"; em alemão Panzerkraftwagen, "carro blindado";
em russo cetyrexetainyi, " de quatro histórias"; em espanhol tocadiscos,
"gira-discos". Na língua papago dos índios americanos, a palavra que sig-
nifica "coisa" é ha2ichu, e quando combinada com doakam, "seres vivos'', o
composto ha2ichu doakam significa "vida animal".
Em twi, se combinarmos a palavra que significa "filho" ou "criança"
-:Jba, com a palavra que significa "chefe'', -:Jhene, formaremos o composto
-:Jheneba que significa "príncipe". Ou, se juntarmos a -:Jhene a palavra que
significa "casa", ofi, obteremos a palavra que significa "palácio", ahemfi.
As outras modificações que ocorrem nos compostos desta língua devem-se
às regras fonológicas e morfológicas da própria língua.

ACRÓNIMOS
-
A.C.R.O.N.Í.M.l.A.
A.!.~tlt:CA!i05iv.t051)l!
OfXi.Mit5MO$NM))toWS
~L.tlosHO~.tf'U·
J;ACQrW. A!ITÔM:MO


-
Desenhado por D. Fradon; © 1974 The New Yorker Magazine, lnc.

4
T. S. Geisel, 1965. Fox in Sox. Random House. Nova Iorque, p. 5 1.
134 Aspectos Gramaticais da Linguagem

Em Tai a palavra que significa "gato" é mecw, a palavra que significa


"guardar" (no sentido de "tomar conta") é fâw e a palavra que significa
"casa" é bâan. A palavra para "gato de guarda" (como cão de guarda) é o
composto mecwfâwbâan - literalmente, "gato de guarda casa".
A composição é, como pudemos verificar, um processo muito comum
e frequente de alargamento do vocabulário de todas as línguas.

ACRÓNIMOS
Acrónimos são palavras derivadas das iniciais de várias palavras. Essas
palavras pronunciam-se como se escrevem: NASA lê-se [nresg], UNESCO
[yunEsko] e CARE [kher]. Radar, de "Radio Detecting and Ranging'', laser, de
"Light Amplification by Stimulated Emission of Radiation" e Scuba, de
"Self-Contained Underwater Breathing Apparatus'', exemplos dos esforços
criadores dos que inventam palavras, tal como acontece com snafu que é
conhecido em círculos bem frequentados como "situation normal, all fouled up".

PALAVRAS ENTRECRUZADAS

THE WIZARD OF ID Brant Parker and Johnny Hart

É UMA COMBINAÇÃO DE
BANQUETE E JANTAR

Autorizado por Johnny Hart e Field Enterprises, Une.

As palavras entrecruzadas constituem compostos que são na realidade


"menos" compostos. Smog, de smoke + fog; motel de motor + hotel; urinalysis
de urine + analysis são exemplos de palavras entrecruzadas que adquiriram em
inglês valor lexical pleno. A palavra cranapple pode de facto resultar do cruza-
mento de cranberry e apple. Broasted, de broiled + roasted, é um exemplo que
mereceu algumas reservas quanto à sua aceitação na língua, tal como sucedeu
com a palavra chortle, de chuckle + snort, criada por Lewis Carroll. Carroll é
famoso pela criação e combinação de palavras. Em Through the Looking-
Glass, descreveu os "significados" das palavras inventadas que utilizou em
"Jabberwocky:

... "Brillig" means four o' clock in the afternoon - the time when you begin
broiling things for dinner.... "Slithy" means "lithe and slimy." ... You see it's like
a portmanteau - there are two meanings packed up into one word .... "Toves" are
something like badgers - they're something like lizards - and thery're something
like corkscrews ... also they make their nests under sun-dials - also they live on
cheese .... To "gyre" is to go round and round like a gyroscope. To "gimble" is to
make holes like a gimlet. And "the wabe" is the grass-plot round a sun-dial. .. It 's
Morfologia: A s Palavras da Língua 135

called "wabe" ... because it goes a long way before it and a long way before it and
a long way behind it. ... " Mimsy" is "flimsy and miserable" (there's another port-
manteau for you).

Os " portmanteaus" de Carrol são aquilo a que chamámos palavras


entrecruzadas e essas palavras fazem parte do nosso léxico regular.

FORMAÇÃO REGRESSIVA
Podem formar-se novas palavras a partir de palavras já existentes
"subtraindo" um afixo considerado como parte da palavra primitiva. Assim,
peddle derivou de peddler com base no pressuposto errado de que er era um
sufixo de "agente". Tais palavras dizem-se de derivação regressiva. Os
verbos hawk, stoker, swindle e edit entraram todos para a língua por for-
mação regressiva - de hawker, stoker, swindler e editor. Pea derivou de
uma palavra singular, pease, devido à leitura que alguns falantes faziam de
pease como plural. Os puristas da língua queixam-se por vezes das palavras
formadas regressivamente e citam enthuse (de enthusiasm) e ept (de inept)
como exemplos de corrupção linguística. No entanto, muitas palavras hoje
aceites fizeram assim a sua entrada na língua.

REGRASALARGADASDEFORMAÇÃODEPALAVRAS
Podem também formar-se novas palavras a partir de palavras já
existentes que parecem ser analisáveis - isto é, compostas de mais de um
morfema.
A palavra bikini, por exemplo, teve a sua origem do atol Bikini das
Ilhas Marshall. Uma vez que a primeira sílaba bi- significa em muitos casos,
como bi-polar, "dois", algum indivíduo esperto lembrou-se de chamar
monokini a um fato de banho só com a parte de baixo. Historicamente
entraram desta forma muitas palavras no léxico inglês. Por analogia com
pares como act/action, exempt/exemption, revise/revision, formaram-se as
novas palavras resurrect, preempt, televise com base nas palavras já exis-
tentes resurrection, preemtion e television.

ABREVIAÇÕES
Abreviações de palavras ou segmentos frásicos longos podem também
ser "lexicalizadas" : nark para narcotics agent; tec (ou dick) para detective;
telly, a palavra inglesa para television; prof para professor; teach para
teacher; e doe para doctor são apenas alguns exemplos de formas abrevi-
adas que são agora utilizadas como palavras plenas. Outros exemplos são
ad, bike, math, gas, gym, phone, bus, van. Este processo é muitas vezes
referido como clipping.

PALAVRAS DE NOMES
A produtividade da criação de novas palavras (ou expansão vocabular)
revela-se curiosamente pelo número de palavras do vocabulário inglês que
136 Aspectos Gramaticais da Linguagem

derivam de nomes de pessoas e lugares. Willard R. Espy 5 compilou um


livro com 1500 palavras dessas, incluindo algumas bem conhecidas como:

sandwich: designada segundo o quarto .Conde de Sandwich, que punha a


comida entre duas fatias de pão para poder comer enquanto jogava;
robot: segundo as criaturas mecânicas da peça do escritor checo Karel
Capek, R.U.R. (as iniciais significam "Robots Universais de
Rossum";
gargantuan: designação para a criatura de imenso apetite criada por Rabelais;
jumbo: segundo um elefante trazido para os E.U. por P.T. Barnum. (No
entanto, as azeitonas "jumbo" não precisam de ser grandes como
um elefante).

Epsy admite desconhecer Susan, a criada esquecida, de quem fizemos


derivar o composto lazy susan, ou Betty ou Charlotte ou Chuck que deram
origem a Brown B etty, Charlotte Russe ou Chuck Wagon. No entanto, chama
a atenção para a palavra denim que designava o tecido utilizado para fatos de
macaco e carpetes que originariamente era importado "de Nimes" em França
e argyle do tipo de meias usadas pelos chefes de Argyll do clã Campbell na
Escócia.

Morfologia e Sintaxe:
Morfologia Flexional
"... e até ... o patriótico arcebispo de Canterbury o achou
aconselhável-"
"A chou o quê?" disse o Pato.
"Achou-o, " respondeu o Rato já zangado: "é claro que sabes
o que significa 'o '."
"Sei muito bem o que significa 'o ', quando acho algo," disse
o Pato: "é quase sempre uma rã ou uma minhoca. A questão
é, o que é que o arcebisp o achou?"
Lewis Carrol!, Alice no País das Maravilhas.

Tradicionalmente, os linguistas fizeram uma distinção entre


morfo logia, o estudo da combinação dos morfemas em palavras, e sintaxe, o
estudo da combinação das palavras em frases. Ao estudarmos a morfologia da
derivação e composição, vimos que alguns aspectos da morfologia têm impli-
cações sintácticas uma vez que substantivos podem derivar de verbos, verbos de
adjectivcis, adjectivos de substantivos, etc. A morfologia pode também depender
da sintaxe noutros sentidos, como veremos ao estudarmos a flexão.
Vimos j á também que a definição de morfema como unidade mínima
de significação era demasiado simplista, uma vez que os morfemas têm
forma constante m as tomam-se significativos apenas quando combinados
com outros morfemas. Isto é, o morfema -ceive ou -mit não pode ser con-
siderado como tendo significado intrínseco, embora como falantes de inglês
o reconheçamos como uma unidade gramatical à parte. Ao combinamos

5
W. R. Espy. 1978. O Thou lmproper, Thou Uncommon Noun: An Etymology of
Words That Once Were Names. Clarkson N. Potter, Inc. Nova Iorque
Morfologia: As Palavras da Língua 137

"Meu menino, o Avô não é a pessoa indicada para responder a essas coisas. Há oitenta e sete anos que
vivo calmo e f eliz em Montoire-sur-le-Loir sem a forma verbal do p assé antérieur "

Drawing by Opie; © 1973 The New Yorker Magazine, Inc.

palavras para formarmos frases, essas frases são combinações de morfemas.


No entanto, nem sempre é possível atribuir um significado a alguns desses
morfemas. Por exemplo, qual é o significado de it na frase lt's hot in July
ou The Archbishop found it advisable?
Qual é o significado de to em He wanted her togo? To tem um "sig-
nificado" gramatical de infinitivo e it é um morfema exigido pelas regras
sintácticas de formação de frases.
Do mesmo modo, existem morfemas "presos" que, como to, são na
maior parte indicadores meramente gramaticais, representando conceitos
como "tempo'', "número", "género'', "caso", etc.
Estes morfemas gramaticais "presos" denominam-se morfemas Oe-
xionais: nunca alteram a categoria sintáctica das palavras ou dos morfemas
a que se prendem. Além disso, prendem-se sempre a palavras completas.
Consideremos as formas verbais das seguintes frases:

a. 1 sail the ocean blue.


b. He sails the ocean blue.
e. John sailed the ocean blue.
d. John has sailed the ocean blue.
e. John is sailing the ocean blue.

Na frase bosque se encontra no fim da forma verbal é uma marca de


"concordância"; significa que o sujeito do verbo é uma "terceira pessoa", é
"singular" e que o verbo está no "presente do indicativo". Não acrescenta
qualquer "significado lexical". As terminações -ed e -ing constituem morfe-
138 Aspectos Gramaticais da Linguagem

mas cuja presença é exigida pelas regras sintácticas da língua para assinalaI
o "tempo" ou o "aspecto".
O inglês deixou de ser uma língua altamente flectida. Mas temos ou-
tras terminações flexionais. A pluralidade de um substantivo comum 6 , por
exemplo, como em boy/boys, cat/cats, etc.
Um aspecto interessante dos morfemas flexionais em inglês é que
geralmente "rodeiam" morfemas derivacionais. Assim, à palavra deriva-
cionalmente complexa un + like + ly + hood podemos acrescentar a termi-
nação plural e formaremos un + like + ly + hood + s mas não *unlikesly-
hood.
Algumas relações gramaticais podem ser expressas quer flexional-
mente (morfologicamente) quer sintacticamente. Observemos as seguintes
frases:

The boy's book is blue. The bÇ>ok ofthe boy is blue.


He loves books. He is a lover of books.
The planes which fly are red. The flying planes are red.
He is hungrier than she. He is more hungry than she.

É possível que alguns falantes de inglês formem o comparativo de


beastly acrescentando apenas -er. Beastlier é muitas vezes usado como alter-
nativa a more beastly. Alguns falantes utilizam mesmo as duas formas.
Conhecemos a regra que determina quando ambas as formas de compara-
tivo podem ser usadas ou apenas uma é possível. O mesmo acontece com
Alice: "'Curiouser and curiouser!' cried Alice (she was so much surprised,
that for the moment she quite forgot how to speak good·English)".
Algumas línguas são altamente flectidas. O substantivo em finlandês ;'
por exemplo, apresenta muitas terminações flexionais diferentes, como
poderemos ver no exemplo que se segue (não se preocupe se não souber o
que significam estas terminações de caso):

mantere nominativo singular (sg.)


mantereen genitivo (possessivo) sg.
manteretta partitivo s.g.
mantereena essivo sg.
mantereeseen ilativo sg.
mantereita partitivo plural (pi.)
mantereisiin ilativo pi.
mantereiden genitivo plural

Estas formas do substantivo que significa "continente" constituem apenas


algumas das formas flectidas deste substantivo.
Ao analisarmos a morfologia da derivação e composição verificámos que
saber o significado dos diferentes morfemas nem sempre permite saber o signifi-
cado da palavra morfologicamente complexa. Essas palavras, tal como os morfe-
mas, deverão juntamente com os seus significados incluir-se nos nossos dicionários.

6
Os substantivos comuns pQdem co.ntar-se: one boy, two boys, etc. Os substantivos
não comuns não podem contar-se: *one rice, *two rices, etc.
7
Exemplos de L. Campbell, "Generative Phonology vs. Finnish Phonology: Retros-
pect and Prospect, "Texas Linguist Forum 5 (1977); 21-58.
Morfologia: As Palavras da Língua 139

O mesmo já não acontece com as palavras formadas por flexão. Se soubermos o


significado de linguist, saberemos também o significado de linguists; se soubermos
o significado de analyze, saberemos também os significados de analyzed, analyzes
e analyzing. Poderíamos então sugerir que a diferença entre morfologia flexional e
derivacional consiste no facto de as palavras flectidas serem determinadas pela sin-
taxe enquanto as palavras derivadas fazem parte do léxico ou dicionário.

A Pronúncia dos Morfemas


No Capítulo 3 apresentámos alguns exemplos de que um
morfema pode ter diferentes pronúncias, isto é, diferentes formas fonéticas,
em diferentes contextos. Assim, write /rayt/ pronuncia-se [rayt] mas pro-
nunciar-se-á [ráyDgr] ou [ráy:D::lr] se lhe acrescentarmos o sufixo -er.
Do mesmo modo, as vogais articulam-se de maneiras diferentes se
forem ou não acentuadas. As formas fonéticas específicas de alguns morfe-
mas são determinadas por regras fonológicas que dizem apenas respeito ao
contexto fonológico, tal como acontece com as formas das vogais que alter-
nam nos seguintes conjuntos:

m[É]l[~]dy m[e]l[ó]dious m[~]l[á]dic


h[á]rm[~]ny h[à]rm[ó ]nious h[à]rm[á]nic
s[í]mph[~]ny s[i]mph[ ó]nious s[i]mph[á]nic

As regras vocálicas que determinam estas pronúnias são bastante com-


plicadas e ultrapassam o âmbito deste livro. Apresentamos apenas estes
exemplos para mostrar que os morfemas em "melody ", "harmony " e
"symphony" variam foneticamente nestas palavras.
Outro exemplo de um morfema em inglês com diferentes formas
fonéticas é o morfema de plural. Consideremos os seguintes substantivos:

1 II III IV
cab cap buss child
cad cat bush ox
bag back buzz mo use
love cuff garage sheep
lathe faith match criterion
cam badge
can
bang
call
bar
spa
boy

Todos os substantivos da Coluna 1 terminam em som sonoro não sibi-


lante e formam o plural acrescentando o som sonoro [z]. Todas as palavras
da Coluna II terminam em som surdo não sibilante e formam o plural acres-
centando o surdo [s]. As palavras em III terminam em sibilante surda ou
sonora e formam o plural com a inserção de um schwa seguido de [z].
l~ Aspectos Gramaticais da Linguagem

As crianças não precisam de aprender a regra do plural memorizando


quais os sons específicos que requerem [z], [s] ou [n] um vez que esses
sons formam classes naturais, como vimos no Capítulo 3. Uma gramática
que incluísse listas destes sons não revelaria as regularidades da língua e
não conseguiria mostrar o que um falante sabe da regra de formação do plu-
ral regular.
A regra do plural regular não funciona para uma palavra como child,
que forma o plural children, ou para ox, que se transforma em oxen, ou para
sheep, que no plural se não altera fonologicamente. Child, ox e sheep cons-
tituem excepções à regra geral. Aprendemos estes plurais excepcionais ao
aprendermos a língua. Se a gramática representasse todas as palavras regu-
lares, isto é, que não constituem excepções, nas suas formas de singular e
plural - por exemplo, cat /kret/, cats /krets/; cap /krep/, caps /kreps/, etc. -
implicaria muito simplesmente que os plurais de cat e cap eram tão irregu-
lares como os plurais de child e ox. Porém, tal não acontece. Se aparecesse
no mercado um novo brinquedo chamado glick /ghk/, uma criança que
quisesse dois pediria dois glicks /glrks/ e nunca dois glicken, mesmo que
não tivesse ouvido ninguém mencionar essa palavra no plural. Isto acontece
porque a criança conhece a regra geral de formação dos plurais. Uma
gramática que descreva esse conhecimento (a gramática mental interiori-
zada) deverá, pois, incluir a regra geral.
Note-se que esta regra que determina a representação fonética ou a
pronúncia do morfema de plural é de certa forma diferente de algumas das
regras fonológicas que já referimos. A "regra da aspiração" em inglês
aplica-se a uma palavra sempre que se verifica a descrição fonológica; não é
o caso, por exemplo, de um /ti ser aspirado apenas se fizer parte de um mor-
fema específico. A regra que altera as formas fonéticas dos morfemas write
e ride quando se acrescenta um sufixo é também completamente auto-
mática, dependendo apenas do contexto fonológico. Mas a regra do plural
aplica-se apenas ao morfema do plural. Para vermos que não é de natureza
"puramente" fonológica consideremos as seguintes palavras:

race [res] ray [re] ray + pl. [rez] *[res]


souse [saws] sow [saw] sow + pl. [sawz] *[saws)
rice [rays] rye [ray] rye + pl. [rayz] *[rays]

Os exemplos mostram que o [z] do plural não é determinado pelo con-


texto fonológico uma vez que o [s] ocorre em contexto idêntico.

FRANK AND ERNEST BobThaves


APRIMEIRA PALAVRA...
MORFOFONÉMICA
\

Reprodução autorizada. © 1981 NEA, Inc.


Morfologia: A s Palavras da Língua 141

MORFONÉMICA

A regra que determina a forma fonética do morfema de plural tem sido


tradicionalmente designada por regra morfofonémica uma vez que a sua
aplicação é determinada pela morfologia e pela fonologia. Quando um
fonema apresenta diversas formas fonéticas, essas formas denominam-se
alomorfes. Assim, [z], [s] e [n] serão alomorfes do morfema de plural
regular e serão também determinados por uma regra.
Suponhamos, por exemplo, que o morfema de plural regular, produ-
tivo, apresenta a forma fonológica /z/ com o significado "plural". A "regra
do plural" regular pode ser definida simplisticamente como:

(3) a. Introduza um [g] antes da terminação de plural sempre que um substantivo


regular termine em sibilante (/s/, /z/, /si, /z/, /e/ ou /j/).
b. Substitua o som sonoro /z/ por um surdo [s] sempre que seja precedido de
um som surdo.

Se nem (3a) nem (3b) se aplicar, então /z/ realizar-se-á [z]; não se acrescen-
tarão quaisquer segmentos nem se alterarão quaisquer traços.
A "regra do plural" fará derivar as formas fonéticas de plural para
todos os substantivos regulares (recordemos que se trata aqui do plural /zl):

REPRESENTAÇÃO bus+ pl. bat + pl. bag+pl.


FONÉMICA /bAS + z/ /bret + z/ /breg + z

regra (3a)
regra (3b) NA
!
g NN i
s
NA
NA
REPRESENTAÇÃO
FONÉTICA (bAsgz] (brets] (bregz]
ª NA significa "Não Aplicável".

Tal como formulámos estas regras, (3a) deverá ser aplicada antes de
(3b). Se aplicássemos as duas partes desta regra por outra ordem, iríamos
dar origem a formas fonéticas incorrectas:

REPRESENTAÇÃO FONÉMICA /bAS + Z/


regra (3b)
regra (3a) g
ll
REPRESENTAÇÃO FONÉTICA

A regra da formação do plural revela mais uma vez que as regras fono-
lógicas podem introduzir segmentos completos na cadeia fonémica: um [g] é
acrescentado pela primeira regra. Revela também a importância da ordem
das regras em fonologia.
Se observarmos as regras da formação do tempo passado nos verbos
ingleses notaremos um interessante paralelismo com a formação do plural
dos substantivos:
142 Aspectos Gramaticais da Linguagem

1 II m IV
grab reap state is
hug pea.k cloud run
seethe unearth sing
love huff have
buzz làss go
rouge wish bit
judge pitch
fan
ram
long
kill
care
tie
bow
hoe

O morfema produtivo regular do past tense em inglês é /d/, fonemica-


mente, mas é foneticamente [d] (Coluna 1), [t] (Coluna 11) ou [;)d] (Coluna
III), dependendo mais uma vez do fonema final do verbo a que o afixo se
prende.
A regra do past tense em inglês, tal como a regra da formação do plu-
ral, deverá incluir informação morfológica. Note-se que depois de vogal ou
ditongo a forma do past tense é sempre [d], embora seja possível um [t]
ocorrer a seguir a uma vogal ou ditongo, como em tight, bout, rote. No
entanto, quando a palavra é um verbo e quando a alveolar final representa o
morfema de past tense, encontraremos a consoante sonora [d] e não a con-
soante surda [t]. .
Existe uma explicação plausível para a introdução de um [;)] no past
tense dos verbos regulares que terminam em oclusiva alveolar (e substan-
tivos terminados em sibilante). Urna vez que em inglês não existe contraste
entre consoantes longas e breves, torna-se difícil apercebermo-nos de dife-
renças na duração das consoantes. Se acrescentássemos um [z] a squeeze
obterámos [skwizz] que os falantes do inglês teriam dificuldade em distin-
guir de [skiz]; da mesma forma, se acrescentássemos [d] a load a forma
fonética do past tense seria [lodd] e a do presente [lod] e teríamos grande
dificuldade em as distinguir.
Tal como não há regras que permitam determinar as formas de plural
de substantivos excepcionais como child/children, man/men, sheep/sheep,
criterion/criteria, também não há regras gerais que especifiquem o past
tense dos v~rbos da coluna IV
Quando, em criança, os falantes de inglês adquiriram (ou construiram)
a sua gramática, tiveram de aprender, especificamente que o plural de man é
men e que o passado de go é went . E por isso que ouvimos frequentemente
as crianças dizerem mans e goed ; primeiro aprendem as regras gerais e
antes de aprenderem as excepções a essas regras as crianças aplicam a regra
genericamente a todos os substantivos e verbos. Estes erros que as crianças
cometem servem, na realidade, para apoiar a nossa defesa de que existem
regras gerais.
As formas irregulares deverão, pois, ser discriminadas ~eparadamente
nos nossos dicionários mentais como formas supletivas. E interessante
Morfologia: A s Palavras da Língua 143

observar que quando uma nova palavra entra para a língua se aplicam as
regras regulares de flexão. O plural de Bic será, pois, Bics e não *Bicken.
O past tense do verbo hit , como em Yesterday, John hit the roo/, e o
plural do substantivo sheep, como em The sheep are in the meadow, mos-
tram-nos que alguns morfemas parecem não ter nenhuma forma fonológica.
Sabemos que hit na frase mencionada é hit + past por causa do advérbio
temporal yesterday e sabemos também que sheep é a forma fonética de
sheep + plural devido à forma plural do verbo are. Há milhares de anos os
gramáticos de hindu sugeriram que alguns morfemas tinham a forma zero;
isto é, podem não ter qualquer representação fonológica. Do nosso ponto de
vista, porém, e porque defendemos uma definição de morfema como uma
forma constante de som-significado, sugerimos que o morfema hit está mar-
cado quer como presente, quer como passado, no nosso dicionário e o mor-
fema sheep está ·marcado como singular e plural. Outros linguistas, porém,
analisarão estas palavras diferentemente.
Algumas das limitações nas associações de fonemas que analisámos
no Capítulo 3 poderão apresentar-se como regras fonológicas e morfo-
fonémicas. A limitação da nasal homorgânica inglesa aplica-se entre alguns
morfemas assim como dentro do próprio morfema. O prefixo negativo in-
que, como un-, significa "não" em palavras como inexcusable, inattentive e
inorganic, apresenta três alomorfes: [ln] antes de vogais como nos exemplos
apresentados e ainda antes de alveolares como intolerant, indefinable,
insurmoutable, [lm] antes de labiaias em palavras como impossable ou
imbalance; e [i!J] antes de velares em palavras como incomplete ou inglori-
ous. A pronúncia deste morfema revela-se muitas vezes na grafia, com im-
quando apenso a morfemas começados por /p/ ou /b/. E porque não temos a
letra"!) " no nosso alfabeto (embora exista em alfabetos de outras línguas) a
valer [!J) escreve-se n em palavras como incomplete. Talvez não tenham
reparado que se pronuncia o n de incomplete, inglorious, incongruous e
outras como [IJ] pois a regra inglesa da nasal homorgânica é tão incons-
ciente como outras regras da gramática. Compete aos linguistas e foneticis-
tas tornar essas regras conscientes ou revelá-las como parte da gramática. Se
articularmos estas palavras em tempo normal sem fazermos pausa a seguir
ao in- sentiremos a parte posterior da língua erguer-se e tocar no véu
pala til)O.
E interessante notar que em akan o morfema negativo apresenta tam-
bém três alomorfes nasais: [m] antes de /p/, [n] antes de /t/ e [IJ] antes de /kJ
como poderemos ver nos exemplos seguintes:

m1 pe "Eu gosto" m1 mpe "Eu não gosto"


m1 tI "Eu falo" m1 nt1 "Eu não falo"
m1 k:) "Eu vou" m1 l)k::> "Eu não vou"

Vemos, pois, que um morfema pode apresentar diferentes formas


fonéticas ou alomorfes. Vimos também que numa língua podem ocorrer
mais de um morfema com mesmo significado mas,com formas diferentes -
como in-, un- e not (todos significando "não"). E impossível prever qual
destes morfemas ocorrerá e como tal são morfemas sinónimos distintos. Só
quando a forma fonética é previsível por regra geral é que estamos perante
diferentes formas fonéticas de um só morfema.
144 Aspectos Gramaticais da Linguagem

As regras de formação do plural e do past tense alteram os valores dos


traços dos segmentos (por exemplo, os sons sonoros /z/ e /d/ que passam aos
sons surdos [s] e [t] depois de sons surdos) e levam à introdução de um [g]
em certos contextos. A regra da nasal hormogânica é também uma regra que
altera os traços. Uma vez que o alomorfe[in] ocorre antes de vogais não
seguidas de consoante que possa determinar o ponto dos traços articu-
latórios, a representação fonémica deste morfema é /m/ e a regra assimilará
o ln/ à consoante seguinte alterando os valores do traço do ln/.
Em alguns casos, poderão diferentes formas fonéticas do mesmo mor-
fema derivar de regras de supressão de segmentos como nos seguintes
exemplos:

A B
sign [sã:Yn J signature [sígnoc~r]
design [dnã:Yn] designate [dÉz~gnet]
paradigm [ph;frgdà)im] paradigmatic [phà:rndigmreD~k]

Em nenhuma das palavras da coluna A se encontra um [g] fonético,


mas ocorre um [g] em cada uma das palavras correspondentes na coluna B.
O nosso conhecimento da fonologia inglesa explica essas diferenças fonéti-
cas. A alternância " [g]-não [g]" é regular e aplica-se a palavras que talvez
nunca tenhamos ouvido. Suponhamos que alguém dizia:

He was a salignant [SQhgn~nt] man.

Mesmo sem sabermos o que a palavra significa, poderíamos perguntar


(talvez para escondermos a nossa ignorância):

Why, did he salign [~lã:Yn] somebody?

É muito pouco provável que pronunciássemos a forma verbal dei-


xando cair o -ant como em [sglrgn]. O nosso conhecimento das regras
fonológicas do inglês "suprimiria" o /g/ quando ocorresse neste contexto.
Poderíamos definir a regra como:

(4) Suprima um /g/ sempre que este ocorra antes de consoante nasal final 8 .

Dada esta regra, a representação fonológica dos radicais em sign/


/signature, design/designation, resign/resignation, repugn/repugnant,
phlegm/phlegmatic, paradigm/paradigmatic, diaphragm/diaphragmatic
incluirá um /g/ fonémico que será suprimido pela regra geral caso não se
acrescente nenhum sufixo. Ao estabelecermos a classe de sons que se
seguem ao /g/ (consoantes nasais) em vez de especificarmos qualquer con-
soante nasal determinada, a regra suprime o /g/ antes de /m/ ou /n/.
As regras fonológicas que suprimem segmentos inteiros, assim como as
que acrescentam segmentos e tr'!ços e alteram traços, também predizem as for-
mas fonéticas dos morfemas. E o que acontece com as seguintes palavras:

8
O /g/ pode também ser suprimido noutras ci~cunstâncias, como nos mostra a sua
ausência em signing e signer.
Morfologia: As Palavras da Língua 145

A B
bomb /bamb/ [bãm] bombardier /bombadir/ (bãmoodir]
iamb /ayremb/ [ayrem] iambic /ayrembik/ [ayrembrk]
crumb /kr/\lllb/ [krAm] crumble /kr/\llloo li [krÃIIlool]

O falante do inglês sabe quando deve ou não pronunciar o /b/ final. A


relação entre a pronúncia das palavras do grupo A e as correspondentes do
grupo B é regular e pode ser explicada pela Regra (5):

(5) Suprima o /b/ final sempre que este ocorra depois de um /m/.

Note-se que a representação fonémica dos radicais subjacente às pala-


vras das colunas A e B é a mesma.

REPRESENTAÇÃO FONÉMICA /bamb/ /bamb + adir/ /bAlb/


regra da supressão do b
regra da vogal não-acentuada schwa NA
~
4> NA i
;)
NA
NA
REPRESENTAÇÃO FONÉTICA [bãm] [bãmb;)dir] (bAlb]

Estas regras que suprimem os segmentos mencionados são regras


fonológicas gerais mas a sua aplicação a representações fonológicas resulta
na derivação de formas fonéticas diferentes do mesmo morfema. Encontran-
-se também morfemas diferentes com a mesma forma fonológica mas sig-
nificados diferentes. Isto resulta do conceito de morfema como unidade de
som-significado. O morfema -er significa "aquele que faz"em palavras
como singer, painter, lover, worker. Os mesmos sons representam o mor-
fema de "comparativo", significando "mais" em nicer, prettier, ta/ler. Note-
-se, porém, que em butcher os sons -er não representam qualquer morfema
uma vez que butcher não é aquele que *butches. (Numa forma anterior do
inglês a palavra butcher dizia-se bucker, "aquele que cria bucks". O -er
nesta palavra era então um morfema diferente). O mesmo acontece com o
-er de water que não constitui uma terminação de um morfema distinto:
butcher e water são morfemas únicos a que chamaremos palavras mono-
morfémicas.
Poderemos então resumir o que temos vindo a estudar sobre o mor-
fema como unidade som-significado:
1. Um morfema pode ser representado por um simples som, como o
morfema a- que significa "sem" em amoral e asexual.
2. Um morfema pode ser representado por uma sílaba, como em child
e -ish em child +ish.
3. Um morfema pode ser repesentado por mais de uma sílaba:por duas
sílabas como em aardvark, lady, water; ou por três sílabas, como
em Hackensack ou crocodile; ou por quatro ou mais sílabas, como
em salamander.
4. Dois morfemas diferentes podem ter a mesma representação fono-
lógica: -er como em singer e -er como em skinner.
5. Um morfema pode apresentar formas fonéticas alternativas;o plural
de /z/ pode apresentar-se como [z], [s] ou [;)z]; sign em sign [sayn]
e signature [s1gn]; ou as pronúncias diferentes dos morfemas
146 Aspectos Gramaticais da Linguagem

harmony, melody, symphony em harmonic/harmonious, simphonic/


/symphonious, melodie/ melodious.
6. Em relação à maior parte do léxico é possível prever as diferentes
pronúncias com base nas regras fonológicas gerais da língua.
A gramática da língua que o aprendente intemaliza inclui os morfemas
e as palavras derivadas dessa língua. As regras morfológicas da língua per-
mitem-nos utilizar e compreender os morfemas e as palavras para a for-
maçãd e compreensão de frases e novas palavras.

RESUMO

Conhecer uma língua significa conhecer as palavras dessa língua.


Quando conhecemos uma palavra conhecemos o som e o seu significado;
estes constituem partes inseparáveis do signo linguístico. Cada palavra é
armazenada nos nossos dicionários mentais com a sua representação fono-
lógica, significado (propriedades semânticas) e a sua classe sintáctica, ou
categoria.
As palavras não constituem as unidades mais elementares de som-sig-
nificado; algumas palavras são estruturalmente complexas. As unidades gra-
maticais mais elementares da língua são os morfemas.. Assim, moralizers é
uma palavra inglesa composta de quatro morfemas: moral +ize +er +s.
O estudo da formação das palavras e da estrutura interna das palavras
chama-se morfologia. Parte da nossa competência linguística inclui o
conhecimento dos morfemas, palavras, sua pronúncia e significados, e como
se combinam. Os morfemas combinam-se segundo as regras morfológicas
da língua.
Alguns morfemas são presos, uma vez que se ligam necessariamente a
outros morfemas, fazem sempre parte de palavras e nunca constituem
palavras por si sós. Outros morfemas são livres, uma vez que não precisam
de se associar a outros morfemas. Free, king, serf e bore são morfemas
livres; -dom, como em freedom, kingdom, serfdom e boredom, é um mor-
fema preso. Os morfemas presos podem ser prefixos, sufixos ou infixos.
Alguns morfemas, como huckle em huckleberry e -ceive em perceive
ou receive, apresentam forma fonológica constante mas os seus significados
são determinados apenas pelas palavras em que ocorrem.
Os morfemas podem também ser classificados de derivacionais ou
flexionais. As regras de morfologia derivacional são regras lexicais de
formação· de palavras. Os morfemas flexionais es~ão intimamente ligados às
regras da sintaxe. Contrariamente aos morfemas derivacionais, os morfemas
flexionais associam-se apenas a palavras completas; nunca alteram a catego-
tia sintáctica de uma palavra. Um morfema gramatical de "classe fechada"
podem também ser introduzido por uma regra sintáctica e funciona muitas
vezes como um mofema flexional; é o caso, por exemplo, de of em the hat
of the boy que desempenha a mesma função do morfema flexional 's em the
boy's hat.
As gramáticas incluem também outros meios de alargamento do
vocabulário, de introdução de novas paiavras no léxico. As palavras podem
ser criadas de forma a que as palavras sem significado ou palavras possíveis
Morfologia: As Palavras da Língua 147

mas não são existentes se tomem reais. As regras de composição morfológ-


ica combinam dois ou mais morfemas ou palavras para formarem compos-
tos complexos, como lamb chop, deep-sea diver, ne'er-do-well. Muitas
vezes os significados dos compostos não podem ser previstos a partir do
significado dos morfemas individuais que os compõem. Acrónimos são
palavras derivadas das iniciais de várias palavras como UCLA, muitas vezes
pronunciada [yukl~] ou [yusiEle]. Palavras entrecruzadas são compostos
semelhantes mas geralmente constituídos por formas abreviadas de dois ou
mais morfemas ou palavras. Carpeteria é uma loja que vende carpetes e o
seu nome deriva de carpet mais a terminação de cafeteria. Formação
regressiva, abreviações e palavras formadas a partir de nomes própios
podem também juntar-se ao nosso armazém de palavras.
Um morfema pode ter diferentes representações fonéticas; estas são
determinadas· pelas regras morfonémicas e fonológicas da língua. O morfema
regular de plural é foneticamente [z], [s] ou [~z], dependendo do fonema final
do substantivo ao qual se prende. Em alguns casos as formas alternativas não
são previsíveis por regras genéricas; essas formas chamam-se supletivas e
encontramo-las, por exemplo, em man/men, datum/data ou go/went,
bring/brought. Estas constituem um conjunto muito pequeno dos itens lexicais
de uma língua; a maior parte dos morfemas obedece a regras genéricas.
Embora os morfemas particulares e as regras morfológicas específicas
sejam dependentes da língua, os mesmos processos genéricos ocorrem em
todas as línguas.

EXERCÍCIOS

1. Divida as seguintes palavras nos morfemas que as constituem colocando


um + entre cada morfema e seguinte:
a. retroactive e. psychology i. tourists
b. befriended f. unpalatable j. holiday
c. televise g. grandmother k. Massachusetts
d. endearment h. morphemic 1. basically
2. Considere os seguintes dados de ewe, uma língua da África Ocidental.
(Ewe é uma língua tonal mas os tons não se encontram marcados nestes
exemplos uma vez que não são relevantes para este problema.)
EWE ENGLISH
uwa ye xa amu "O chefe olhou para uma criança".
uwa ye xa ufi "O chefe olhou para uma árvore" .
uwa xa ina ye "Um chefe olhou para o desenho".
amu xa ina "Uma criança olhou para o desenho".
amu ye vo ele ye "A criança queria a cadeira".
amu xa ele ye "Uma criança olhou para a cadeira".
ika vo ina ye "Uma mulher queria o desenho".
A. O morfema que representa o artigo definido é - - -
B. O morfema que representa o artigo indefinido é: (escolha um)
a. xa b. amu c. ye d. nenhum dos apontados
148 Aspectos Gramaticais da Linguagem

C. Faça uma lista de todos os morfemas que ocorrem nas frases de ewe
que apontámos (faça o "glossário" dos morfemas.)
D. Como diria em ewe "A mulher olhou para a árvore"?
E. Se oge de abo significa "Um homem bebeu vinho" como diria em
ewe "Um homem queria o vinho"?

3. Observe os seguintes dados de samoan:


manao "ele quer" mananao "eles querem"
matua "ele é velho" ma tu tua "eles são velhos"
malosi "ele é forte" malolosi "eles são fortes"
punou "ele dobra-se" punonou "eles dobram-se"
atamaki "ele é sábio" atamanaki "eles são sábios"
savali "ele viaja" pepese "eles cantam"
laga "ele tece"
A Como se diz em samoan:
a. eles tecem - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -
b. eles viajam
c. ele canta
B. Apresente uma definição genérica (uma regra morfológica) que per-
mita a formação do plural do verbo a partir do singular.
4. A seguir se transcreve uma lista de palavras acompanhadas das de-
finições incorretas de alunos do ensino secundário. (Todos estes erros
foram retirados da obra Pullet Surprises de Amsel Greene ).
PALAVRA DEFINIÇÃO DO ALUNO
Stalemate "husband or wife no longer interesting"
effusive "able to be merged"
tenet "a group of ten singers"
dermatology "study of derms"
ingenious "not very smart"
finesse "a female fish"
Tente justificar as razões que levaram os alunos a propor tais definições.
Sempre que puder exemplifique recorrendo a outras palavras ou morfe-
mas e dizendo qual seu significado.
5. Na língua africana manika, o sufixo -li tem mais de uma pronúncia (tal
como o -ed da determinação past tense dos verbos ingleses reaped, robbed
e raided, por exemplo). Este sufixo tem semelhanças com o sufixo deriva-
cional -ing, que acrescentado ao verbo cook o transforma em substantivo
("Her cooking was great"), ou com o sufixo -ion, que também transforma
verbos em substantivos, como em create +ion tornando possíveis frases
como "The creation of the world."
Observe os seguintes dados de manika:
bugo "hit" bugoli "the hitting"
dila "repair" dilali "the repairing"
don "come in" donni "the coming in"
dumu "eat" dum uni "the eating"
gwen "chase" gwenm "the chasing
Morfologia: As Palavras da Língua 149

Quais são as duas formas do morfema que significa "the --ing?"


Poderemos prever a sua actualização fonética? Ca.so seja possível for-
mule a regra. Quais serão as formas "-ing" para os seguintes verbos?:
da "lie down"
famu "understand"
men "hear"
sunogo "sleep"
6. Observe as seguintes frases em suaili:
mtoto amefika "A criança chegou"
mtoto anafika "A criança está a chegar"
mtoto atafika "A criança chegará"
watoto wamefika "As crianças chegaram"
watoto wanafika "As crianças estão a chegar"
watoto watafika "As crianças chegarão"
mtu amelala "O homem dormiu"
mtu analada "O homem está a dormir"
mtu atalaia "O homem dormirá"
watu wamelada "Os homens dormiram"
watu wanalala "Os homens estão a dormir"
watu watalala "Os homens dormirão"
kisu kimeanguka "A faca caiu"
kisu kinanguka "A faca está a cair"
kisu kitaanguka "A faca cairá"
visu vimeanguka "As facas cairam"
visu vinaanguka "As facas estão a cair"
visu vitaanguka "As facas cairão"
kikapu kimeanguka "O cesto caiu"
kikapu kinaanguka "O cesto está a cair"
kikapu kitaanguka "O cesto cairá"
vikapu vimeanguka "Os cestos caíram"
vikapu vinaanguka "Os cestos estão a cair"
vikapu vitaanguka "Os cestos cairão"
Um dos traços característicos do suaili (e das línguas bântus em geral) é
a existência de classes nominais. Existem prefixos específicos de singu-
lar e plural que ocorrem com os substantivos em cada classe. Estes pre-
fixos são também utilizados na concordância entre o sujeito-substantivo
e o verbo. Nas frases apresentadas incluímos duas dessas classes (a lín-
gua tem muitas mais).
A. Identifique todos os morfemas que encontrar (e indique os seus sig-
nificados). Exemplo:
-toto "criança"
m- prefixo nominal que se prende aos substantivos singulares de
Classe 1
a- prefixo que se prende aos verbos quando o sujeito é um sub-
stantivo singular de Classe 1.
Não se esqueça de procurar outros indicadores de substantivo e verbo,
incluindo indicadores de tempo.
150 Aspectos Gramaticais da Linguagem

B. Como se constrói o "verbo"? Isto é, que tipo de morfemas se asso-


ciam e por que ordem?
C. Como diria em suaili?:
a. A criança está a cair - - - -- - - - - - - -- - - - -
b. Os cestos chegaram
c. O homem cairá

7. Considere os seguintes dados fonéticos da língua bântu luganda (Os da-


dos foram ligeiramente alterados com o objectivo de simplificar o pro-
blema). Em cada linha, as colunas A e B apresentam o mesmo radical
mas na coluna A encontra-se um prefixo que significa "um" ou "uma" e
na coluna B outro prefixo que significa "pequeno" ou "pequena".
A B
[enato] "uma canoa" [akaato] "pequena canoa"
[enapo] "uma casa" [akaapo] "pequena casa"
[enoobi] "um animal" [akaoobi] "pequeno animal"
[empipi] "um rim" [akapipi] "pequeno rim"
[eukoosa) "uma pena" [akakossa] "pequena pena"
[emmããmmo] "uma estaca" [akabããmmo] "pequena estaca"
[euuõõmme) "um chifre" [akagõõmme] "pequeno chifre"
[ennimiro] "um jardim" [akadimiro] "pequeno jardim"
[enugeni] "um estranho" [akatabi] "pequeno ramo"
(Uma sugestão: a representação fonémica do morfema que significa
"pequeno" ou "pequena" é /aka/.)
Ao responder às perguntas seguintes tome apenas em consideração estas
formas, isto é, deverá partir do princípio de que todas as palavras desta
língua seguem as regularidades aqui expressas.
A. As vogais nasais em luganda são fonémicas, ou serão previsíveis?
B. A representação fonémica do morfe ma que significa "jardim" é
/dimiro/?
C. Qual a representação fonémica do morfema que significa "canoa"?

D. São [p] e [b] alofones de um fonema?


E. Se /am/ representa num morfema prefixo em luganda, poderemos
concluir que [ãmdãno] constitui uma forma fonética possível para
uma palavra iniciada por este prefixo?
F. Existe regra nasal homorgânica fonológica em luganda?
G. Se a representação fonética da palavra que significa "pequeno rapaz"
é [akapoobe], qual será a representação fonética para " um rapaz"? E
a representação fonémica para "um rapaz"?
H. Das formas seguintes qual a representação fonémica para o prefixo
que significa "um" ou "uma"?
a. /en/ b. /en/ e. /em/ d. /em/ e. /eu/
1. Qual a representação fonética da palavra que significa "um ramo"?
J. Qual a representação fonémica da palavra que significa "pequeno
estranho"?
Morfologia: As Palavras da Língua 151

K. Formule em termos gerais as regras fonológicas que estes dados de


luganda revelam.
8. Escolha cinco sufixos ingleses. Explique o seu significado, a que tipos de
radicais se podem prender e apresente pelo menos dois exemplos de
cada.
Exemplo:
-er significa: aquele que pratica a acção - "doer of';
cria cubstantivos agentivos
tipo de radical: prende-se a verbos
exemplos: rider, "one who rides"
teacher, "one who teaches"

9. Escolha cinco prefixos ingleses. Explique o seu significado, a que tipo de


radicais se podem prender e apresente pelo menos dois exemplos de
cada.
Exemplo:
a- significa: ausência de qualidade - "lacking the quality"
tipo de radical: prende-se a adjectivos
exemplos: amoral, "lacking morais"
asymmetric, "lacking symmetry"

10. Observe as seguintes formas verbais japonesas que poderá considerar


transcrições fonéticas. Representam dois estilos diferentes (informal e
formal) de verbos no tempo presente.
INFORMAL (presente) FORMAL (presente)
"chamar" yobu yobimasu
"escrever" kaku kakimasu
"comer" taberu tabemasu
"ver" mim mimasu
"emprestar" kasu kashimasu
"esperar" matsu machimasu
"partir" deru demasu
"sair" dekakeru dekakemasu
"ler" yomu yomimasu
"morrer" shinu shinimasu
"fechar" shimeru shimemasu
"usar" kiru kimasu
A. Indique os radicais subjacentes a cada uma destas formas verbais
japonesas.
B. Indique a regra que permite formar o tempo presente informal a par-
tir dos radicais subjacentes.
C. Indique a regra que permite formar o tempo presente formal a partir
dos radicais subjacentes.
D. Poderá apresentar a regra que permite fazer derivar as variantes for-
mais a partir das variantes informais? (Esta regra poderia ser útil se
estivéssemos a aprender japonês e já conhecêssemos a conjugação
informal).
152 Aspectos Gramaticais da linguagem

REFERÊNCIAS
Aronoff, Mark. 1976. Word Formation in Generative Grammar. Ling uistic Inqci.~ .
Monograph 1. M.I.T. Press. Cambridge, Mass.
Greene, Arnsel. 1969. Pullet Surprises. Scott, Foresman & Co. Glenview, Ili.
Marchand, Hans, 1969. The Categories and Types of Present-Day English íl'Onf-
Formation, 2nd ed. C. H. Beck'sche Verlagsbuchhandlung. Munique.
Matthews, P. H. 1976. Morphology: An Jntroduction to the Theory of Word Smu:-
ture, Cambridge U niversity Press. Cambridge, Inglaterra.

You might also like