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15/02/2019 A Ergonomia aplicada ao Violão Erudito – Bruno Polidoro – Medium

A Ergonomia aplicada ao
Violão Erudito
Como o estudo sobre o bem-estar e conforto do músico
acompanhou a evolução do instrumento

Bruno Polidoro Follow


Oct 1, 2017 · 6 min read

The Old Guitarist (1903–1904) - Pablo Picasso

O que é ergonomia?
Em busca do conforto e saúde física, a ergonomia é a ciência que estuda
a interação Homem x Objeto visando otimizar o bem-estar humano. A
ergonomia atua na avaliação de tarefas, sistemas e ambientes a m de
torná-los compatíveis com as necessidades, habilidades e limitações das
pessoas. É uma ciência complexa e também pode ser compreendida no
universo da música, mais especi camente no uso efetivo de
instrumentos musicais.

Muitos instrumentos foram projetados ou adaptados há séculos, não


foram projetados com os recursos que temos hoje, com o auxílio de um
designer que compreende a disciplina da ergonomia. O Luthier era e
continua sendo o pro ssional responsável em projetar e atender as
necessidades do músico.

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O violão é um instrumento de origem popular que passou por


transformações e hoje está presente no repertório clássico e nas salas
de concerto. Durante sua evolução, estudos, métodos e contribuições
exclusivas de renomados compositores ajudaram em sua formação.

A partir do Alaúde, é possível acompanhar a evolução do instrumento


até Violão Erudito/Clássico Moderno através de documentos e
registros. As artes plásticas também ajudam a ilustrar a utilização do
instrumento e como a ergonomia ou a postura do músico compreende
as variações do objeto ao longo da história.

Do Alaúde ao Violão Moderno


O Alaúde é um instrumento Árabe, é levado a Península Ibérica
através das invasões muçulmanas e o instrumento se adapta às
atividades culturais da época.

Ele possui o braço dobrado e a caixa de ressonância em forma de pêra


ou de gota com a nação em cordas duplas, se torna muito popular pelo
tamanho e por ser fácil seu manuseio e transporte.

O Alaúde

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Há registros nas artes plásticas onde é possível ver a utilização do


instrumento e a postura adotada na época, grandes pintores retrataram
o Alaúde como: 
Frans Halz (The Lute Player)
Theodor Rombouts (Musical company with Bacchus)
Hendrik ter Brugghen (Lute Player)
Michelangelo Caravaggio (The Lute Player)

O Tocador de Alaúde (1594) — Caravaggio

Os Mouros dominaram a Península Ibérica durante séculos, a invasão


tem início em 711 e se encerra de nitivamente apenas em 1492.

Durante a ocupação, o Alaúde se torna um dos símbolos da cultura


moura. Quando os nobres espanhóis decidem extinguir tudo que
lembrasse a tradição moura, resolvem transformar o instrumento,
modi cando a forma do Alaúde que passa a ter a forma de um oito. Sua
a nação, o número de cordas e a forma de tocar sobrevivem,
basicamente é o mesmo instrumento camu ado com novo design, esse
instrumento é a Vihuela.

Tanto o Alaúde quanto a Vihuela não exigem uma postura rígida e


formal do músico, são tocados livremente na altura do tórax, porém o
forma de oito é um indício da intenção de um design anatômico, há
uma preocupação em acomodar o instrumento na perna do músico.

O instrumento segue evoluindo e passando por transformações até


chegar a uma forma simpli cada, o que conhecemos como o violão,

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guitarra espanhola ou clássica.

Postura Clássica
Como sugerem as pinturas de Caravaggio (O Tocador de Alaúde) e de
Vermeer (Mulher Tocando Guitarra), o Alaúde e a Vihuela eram
instrumentos populares e eram tocados livremente, sem uma postura
rígida.

Quando o repertório violonístico se aproxima da música clássica e das


salas de concerto, começa a se estudar posturas que proporcionassem
e ciência técnica e conforto ao músico. Os compositores começam a
incluir estudos de posturas em seus métodos de ensino.

Fernando Sor (1778–1839) foi um célebre compositor espanhol do


século XIX, suas composições e partituras são interpretadas e gravadas
até hoje por grandes violonistas modernos. Sor publica seu “Método
para Guitarra” em 1830, onde demonstra com detalhes sua técnica
através de gravuras e recomenda o que para hoje seria impensável,
suspender o violão por três pontos de apoio: a perna direita, a mão
esquerda elevando o braço do instrumento e uma mesa colocada sobre
a perna esquerda.

A Mesa de Fernando Sor

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Outro exímio violonista, Dionísio Aguado (1784–1849), surge com a


proposta que se torna conhecida como “A máquina de Aguado. “El
Trípode”, um apoio para o violão que permitia o músico tocar de pé ou
sentado, onde o violão não era acomodado em nenhuma das pernas do
músico. Aguado argumentava que o pouco contato do instrumento com
o corpo fazia com que o som ressoasse melhor.

“El Trípode” de Dionísio Aguado

Era o primeiro acessório exclusivo de auxílio a postura do músico.


Dionísio contribui também com “Escuela de Guitarra” (1825). Método
em que ele o cializa a a nação do violão moderno.

Durante certo período o violão perde espaço nas salas de concerto


devido a sua baixa ressonância e volume de som, os pianos substituem
os cravos, as orquestram são compostas por mais integrantes, as salas
cada vez maiores e com mais volume.

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Francisco Tárrega (1852–1909), violonista espanhol surge como o


nome que inovaria e criaria um novo caminho para o instrumento
trazendo o violão para um retorno no cenário da música clássica com
inovações em diferentes áreas. Na composição, em transcrições de
peças originais para outros instrumentos como o piano, obras de
Beethoven, Chopin e Albeniz. Tárrega também cria métodos de estudo
e peças didáticas para o instrumento e documenta a postura clássica
do violão.

Francisco Tárrega e a Postura Clássica

1. O banco deve ser plano e rígido, evitando acentos inclinados e


acolchoados demais para evitar danos na postura e na coluna.

2. Braço direito repousa sobre o violão com a mão inclinada em 90


graus.

3. Violão sobre a perna esquerda com o braço em um ângulo onde a


altura da mão do instrumento que alinhada com o ombro.

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4. Apoio para o pé esquerdo elevando a perna para auxiliar na altura


do instrumento com relação ao corpo.

5. Perna direita levemente aberta e inclinada como ponto de apoio


para o violão.

O legado de Tárrega ressoa até os dias de hoje e essa é a postura o cial


do Violão Erudito/Clássico. A postura rígida e pré-estabelecida entra
em con ito com a ergonomia, a posição ao se tocar violão depende
muito mais da busca por saúde e e ciência técnica do que por gênero
musical.

Felizmente, hoje existem outras alternativas como o apoio ergonômico


que possibilita ao músico manter sua postura natural, com os dois pés
no chão sem a necessidade da rotação do tronco, o que é inevitável com
o apoio do pé.

O músico se adapta ao instrumento


O violão é um instrumento musical mas também um objeto de design, a
guitarra elétrica é resultado de uma evolução onde houve
transformação tanto em sua forma quanto em sua função, o violão
acústico se torna um instrumento completamente diferente, tanto em
seu design quanto em sua forma de tocar.

A tradição e a carga histórica presentes no instrumento impede que o


violão clássico sofra alterações, restando aos músicos a utilização de
acessórios que melhorem sua postura e preservem sua saúde física.

O músico também se adapta ao instrumento, iniciativas como a de Paul


Galbraith, violonista escocês que inovou tanto na forma de tocar o
instrumento quanto na própria composição de cordas (oito cordas).

Galbraith utiliza acessórios que possibilitam tocar o instrumento na


vertical, como um violoncelo.

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Paul Galbraith

Postura precisa ser pensada em função da saúde, acima de tudo.


Existem diferentes proporções corporais de indivíduos, um músico de
1,90m de altura provavelmente não irá tocar na mesma posição que
alguém de 1,50m.

A postura continua viva e conta com a ergonomia para auxiliar no bem


estar dos músicos.

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