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INTERPRETAÇÃO DE TEXTO

O BAILE

Levei um monte de tempo me vestindo. Não tinha roupa que servisse. Não gosto de festas, bailes
menos ainda. A Morecy faz 13 anos. Eu não sei que roupa a gente tem que pôr quando a melhor amiga da
gente faz 13 anos. Pra falar a verdade, preferia ter pego uma gripe e curtido febre na cama. Não pus o
vestido verde porque fico com cara de defunto. O amarelo ficou dançando, acho que emagreci. Como
sempre, acabei indo com o xadrezinho, que é meio manjado, mas me sinto bem.
Não consegui entrar em acordo com a minha cara no espelho. Não gosto do meu cabelo liso e
muito fino. Nem da minha cara sem pó de arroz. Mas também de pó de arroz não fico bem.
Acho que levei umas duas horas me aprontando. Cheguei tarde, todo mundo já estava lá. Tinha luz
negra, um montão de gente dançando e eu encabulei vendo o Luiz do outro lado do salão, conversando
com os amigos.
Fiquei de pé também, falando com Maria Luíza, aquela bem alta que todo mundo tia sempre pra
dançar porque é linda, parece Dominique Sanda. Pegamos uns copos com guaraná e ficamos bebendo,
enquanto ela me contava a briga que tinha tido com a D. Rita. Depois nós fomos dançar sozinhas mesmo.
E na quarta música o Luiz veio falar comigo.
Foi daí que a gente saiu pro terraço e ele perguntou se eu gostava mesmo dele. Disse que sim. E é
verdade, eu gosto um pouco dele. Então ele disse que se eu gostava mesmo era pra eu dar um beijo nele.
Eu dei, no rosto. Ele disse que ali não valia, tinha que ser na boca. Ele falava e sorria, mas eu percebi que
ele estava um pouco sem jeito, porque toda hora olhava pros lados, pra ver se não vinha ninguém.
Daí ele pegou na minha mão e depois me abraçou e ficou falando que gostava muito de mim, que
eu tinha um cabelo bem macio, e eu pensei que poderia ser macio, mas era fino e liso demais. Daí ele
disse que não gostava de menina que usava pintura, que ficava com cara de palhaço e que eu era bem
natural. Foi bem essa palavra que ele usou: natural. Achei engraçado falar assim, mas também achei
legal ele falar desse jeito. Aí ele foi chegando, me beijando o cabelo, a testa, descendo pelo nariz e eu
deixando porque vinha subindo em mim um calor gostoso, uma espécie de moleza que eu nunca tinha
sentido antes...
(Mirna Pinsky. Iniciação. Belo Horizonte, Comunicação, 1980)

I – Compreensão e Interpretação do Texto


1) Quem é a principal personagem do texto? Dê duas características dela.

2) Como essa personagem se sente em relação à festa?

3) Por que a narradora demora “umas duas horas” para se arrumar para a festa?

4) Marque a alternativa correta em relação ao(s) sentimento(s) que a narradora precisou vencer para ir
ao baile.
I – Medo a) Apenas a I está correta.
II – Angústia b) Apenas a II e III estão corretas.
III – Pânico c) Apenas A I e IV estão corretas.
IV – Insegurança d) Apenas a II e V estão corretas.
V – Euforia e) Todas as alternativas estão corretas.

5) Muitas vezes o texto nos dá pista do tempo e do espaço da narração. Em sua opinião em que época
este tipo de “paquera” ocorreu? Justifique sua resposta com elementos do texto.

6) Leia as frases abaixo, depois diga a quem os pronomes grifados se referem:

a) “Achei engraçado falar assim, mas também achei legal ele fala desse jeito.”
b) “(...) aquela bem alta que todo mundo tia sempre pra dançar porque é linda”
c) “Depois nós fomos dançar sozinhas mesmo”

7) Crie um final para esse texto contando o que pode ter acontecido depois.

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