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O PAPEL DA ESCOLA PARA O ENFRENTAMENTO DO ABUSO SEXUAL

INFANTO-JUVENIL

Maria Laryssa Cordeiro Bezerra¹; Thaylâne Creusa Rogério Silva²; Betânia Maria Oliveira de
Amorim³

¹ Universidade Federal de Campina Grande, laryssa_bzerra@hotmail.com

² Universidade Federal de Campina Grande, thay.rogerio@gmail.com

³ Docente da Universidade Federal de Campina Grande, betania_maria@yahoo.com.br

RESUMO: Este trabalho se propõe a discutir sobre o abuso sexual infanto-juvenil e o importante papel da
escola frente a esta problemática. Para tanto, realizamos uma pesquisa exploratória, que possui caráter
teórico, de leituras de guias, artigos e documentos que fundamentam a temática do abuso sexual e suas
implicações com o ambiente escolar. Sabemos que na maioria dos casos de abuso sexual o violentador faz
parte do âmbito familiar da criança/adolescente, o que dificulta o rompimento do silêncio e,
consequentemente, que o agressor seja punido e que a vítima seja encaminhada para os devidos meios de
tratamento. As consequências do abuso sexual são diversas e, não havendo uma intervenção precoce, estas
podem ser intensificadas. É necessário que as escolas, nas quais crianças e adolescentes passam boa parte do
tempo, sejam atuantes na luta para a prevenção, identificação e intervenção nos casos de abuso sexual. Para
isso, compreendemos a necessidade de preparo dos profissionais da educação sobre esta problemática, que,
de acordo com diversos autores, não é trabalhada nos cursos de formação. Com profissionais capacitados, a
escola poderá exercer mais efetivamente seu dever como formadora de cidadãos, garantindo os direitos das
crianças e adolescentes e lhes possibilitando maior proteção contra o abuso sexual.
Palavras-chave: Escola, Abuso sexual, Capacitação de educadores.

INTRODUÇÃO O abuso sexual contra crianças e


adolescentes constitui-se numa forma de
De acordo com Faleiros e Faleiros
violência que acarreta inúmeros efeitos
(2008), a escola é um local privilegiado para a
negativos, podendo perdurar por toda a vida.
construção da cidadania, no qual o convívio
Como na maior parte dos casos o abuso é
harmonioso deve ser capaz de garantir o
incestuoso, a estrutura familiar, bem como a
respeito aos Direitos Humanos, bem como a
comunicação entre seus membros fica
educação de todos no sentido de atalhar as
comprometida.
manifestações de violência.

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A escola, por consistir em um espaço Adolescente (ECA) e o sistema de garantia de
de convivência diária de crianças e direitos da criança e adolescente, bem como o
adolescentes, pode desempenhar a função de papel da escola na interrupção do ciclo do
dar assistência, acolhimento e segurança para abuso sexual.
as vítimas de abuso sexual, quando sua
família não o faz. Para isso, deve estar atenta O abuso sexual

às demandas apresentadas e ser capaz de dar o O abuso sexual, segundo Santos e Ippolito
suporte necessário a essas crianças e (2009, p. 28), é toda circunstância na qual
adolescentes, buscando, além de sua tarefa uma criança ou um adolescente é utilizado
educativa, o comprometimento com a para gratificação sexual de pessoas com
proteção e cuidado dos alunos. idade, no geral, mais avançada. O abusador,

Para que isso seja possível, é de acordo com Abrapia, citado pelos mesmos

necessária a capacitação dos profissionais, autores, “se aproveita do fato de a criança ter

para que, com o conhecimento sobre o abuso sua sexualidade despertada para consolidar a

sexual, bem como sobre as leis que amparam situação de acobertamento. A criança se sente

a vítima e sobre os direitos da criança e do culpada por sentir prazer e isso é usado pelo

adolescente, sejam capazes de prevenir, abusador para conseguir o seu consentimento”

identificar e intervir sobre a violência (ABRAPIA, 2002 apud SANTOS;

ocorrida. IPPOLITO, 2009, p. 28).

Propomos também como maneira De acordo com o Guia Escolar (2004,

possível de prevenção contra o abuso sexual p. 37), há diferentes tipos de abuso sexual,

infanto-juvenil – que está diretamente sendo eles o intrafamiliar, que ocorre quando

relacionada à formação dos profissionais que entre o abusador e a criança ou adolescente há

atuam no âmbito escolar sobre esta um laço familiar ou relação de

problemática –, uma educação sexual responsabilidade; o abuso sexual

desenvolvida para os alunos desde os extrafamiliar, que ocorre fora do campo

primeiros anos do ensino fundamental. familiar e no qual o abusador é, sobretudo,


conhecido da criança e detentor de sua
Neste trabalho iremos apresentar
confiança, podendo ocorrer também de o
alguns apontamentos e conceituações acerca
autor da agressão ser totalmente
do abuso sexual infanto-juvenil, breve
desconhecido. Já o abuso sexual em
menção ao Estatuto da Criança e do
instituições de atendimento à criança e ao

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adolescente ocorre no interior de instituições órgãos genitais, tentativas de relações sexuais,
governamentais e não governamentais cuja masturbação, sexo oral, penetração vaginal e
função seria proteger, defender, zelar por eles anal” (BRASIL, 2004, p.39).
e fazer a aplicação de medidas Diversos mitos permeiam o contexto
socioeducativas. do abuso sexual e este é encarado por pais,
Segundo Santos e Ippolito (2009, p. professores e pela maioria das pessoas com
29) muito distanciamento da realidade. Há a
noção de o abuso ser de fácil identificação, o
Na maioria dos casos, o autor da que não ocorre, por em muitos casos não
agressão é uma pessoa que a haver indícios físicos na criança/adolescente
criança conhece, em quem confia abusada. Tem-se a ideia do reconhecimento
e a quem, frequentemente, ama. O
do autor do abuso poder ocorrer facilmente,
abusador quase sempre tem uma
pois este teria características de um psicopata,
relação de parentesco com a
tarado, depravado sexual, o que na verdade
vítima e dispõe de certo poder
não ocorre, pois na maioria das vezes o
sobre ela, tanto do ponto de vista
abusador é reconhecido pela comunidade
hierárquico e econômico (pai,
padrasto e menos eventualmente como boa pessoa e também mantém vínculos
mãe), quanto do ponto de vista afetivos e sexuais com adultos (BRASIL,
afetivo (irmãos, primos, tios e 2004, p. 56).
avós). Outra noção equivocada seria a de o
abuso sexual estar relacionado apenas a lesões
Conforme aponta o Guia Escolar corporais, o que não é verdade, já que o
(2004, p. 38), o abuso sexual intra e/ou abusador pode utilizar-se de meios onde o
extrafamiliar pode ocorrer de duas formas contato corporal não ocorra. É comum
distintas: O abuso sexual sem contato físico também a concepção de que as vítimas de
consiste, como o próprio nome sugere, em abuso sexual pertencem a famílias de baixo
práticas sexuais onde não ocorre o contato nível socioeconômico, porém esta violência
corporal, como por exemplo o assédio sexual, atinge a todas as classes sociais; outros mitos
o abuso sexual verbal, telefonemas obscenos, são de que a maior parte dos casos é
o exibicionismo e o voyeurismo. Já no abuso denunciada e de que a maioria de pais e
sexual com contato físico ocorrem “atos professores é bem informada sobre o assunto,
físico-genitais que incluem carícias nos que o abuso sexual ocorre com pouca

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frequência e de que não há possibilidades de 18 de maio é reconhecido como o Dia
preveni-lo (BRASIL, 2004, p. 56,57). Nacional de Combate ao Abuso e a
Muitas são as consequências do abuso Exploração Sexual de Crianças e
sexual para a vítima, estas podem ser mais ou Adolescentes, instituído no ano de 2000 e
menos drásticas de acordo com a idade do decretado pela Lei Federal 9.970/2000, com o
início do abuso, com a diferença de idade objetivo de mobilizar a sociedade brasileira e
entre abusador e vítima, bem como com o convocá-la para seu empenho em prol do
grau de proximidade entre ambos, com a combate ao problema. A data foi escolhida
duração do abuso, com o grau de violência ou por ser o dia em que a menina Araceli
ameaça de violência, com a percepção da Cabrera Crespo veio a óbito, vítima de
criança em relação aos atos sexuais realizados sequestro, estupro e assassinato em Vitória,
contra ela, com a existência de serviços, sua Espírito Santo, no ano de 1973. Seus
organização em rede, o grau de eficiência e assassinos continuam impunes (FERRARI,
eficácia dessa rede, entre outros (BRASIL, 2011 apud MIRANDA; LIMA; MAIO, 2013).
2004, p. 53,54). Segundo Maio e Ferrari (2011, apud
As crianças e adolescentes vítimas do MARTELLI, 2013, p.6)
abuso sexual podem apresentar sequelas dos
problemas físicos gerados pela violência A estimativa é que, no Brasil, 165
sexual, dificuldade de estabelecerem vínculos crianças ou adolescentes sofrem

afetivos e amorosos, dificuldade de manterem abuso sexual diariamente, isso


equivale a 7 a cada hora. A
uma vida sexual saudável ou tendência de
maioria de crianças abusadas é de
supersexualizarem os relacionamentos
meninas, na faixa etária de 7 a 14
sociais, além de haver maior propensão ao
anos, sendo que 1 a cada 3 ou 4
engajamento em trabalho sexual (prostituição)
meninas continua sendo abusada
e viciação em substâncias lícitas e ilícitas sexualmente até os 18 anos.
(BRASIL, 2004, p. 52,53).

A implantação do Estatuto da Criança


O Brasil na luta pelos direitos de crianças e e do Adolescente (ECA) consistiu em um
adolescentes e contra o abuso sexual: O dia marco para a afirmação de crianças e
18 de maio e o Estatuto da Criança e do adolescentes como sujeitos detentores de
Adolescente (ECA) direitos. De acordo com o Art. 3º da Lei 8.069

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de 13 de julho de 1990, que dispõe sobre o Como exposto anteriormente, os
Estatuto (BRASIL, 1990): dispositivos contidos no ECA
responsabilizam a sociedade a denunciar a
A criança e o adolescente gozam ocorrência de abuso sexual. Para que isso seja
de todos os direitos fundamentais bem-sucedido, é necessário haver maior
inerentes à pessoa humana, sem disseminação do tema, maior mobilização e
prejuízo da proteção integral de
preparo a respeito do assunto para que os pais
que trata esta Lei, assegurando-se-
e profissionais atuantes em escolas,
lhes, por lei ou por outros meios,
instituições de saúde, conselhos tutelares,
todas as oportunidades e
entre outros órgãos, desenvolvam
facilidades, a fim de lhes facultar
o desenvolvimento físico, mental,
corretamente as ações em prol da redução da

moral, espiritual e social, em ocorrência de abuso sexual contra crianças e


condições de liberdade e de adolescentes.
dignidade.
A escola e o enfrentamento do abuso sexual
O ECA adotou medidas concretas para infanto-juvenil
a proteção das crianças e adolescentes e para a
punição dos responsáveis por crimes sexuais. Diante dos efeitos negativos que o
Dentre as medidas instituídas, há a obrigação abuso sexual causa às vítimas, que podem ser
de se notificar os casos de abuso sexual aos vivenciados ao longo de sua vida, o âmbito
conselhos tutelares, o afastamento do escolar, por ocupar um lugar privilegiado na
violentador da moradia comum, a proibição rede de atenção à criança e ao adolescente,
de uso de crianças e adolescentes em produtos deve assumir o papel de protagonista na
relacionados à pornografia, a criminalização prevenção, identificação e intervenção dessa
de pessoas e serviços que sujeitarem crianças violência, “que extrapola as paredes
e adolescentes à prostituição e exploração familiares e chega às escolas” (MARTELLI,
sexual e o agravamento das penas do Código 2013, p. 7). De acordo com o Guia Escolar
Penal para crimes de atentado violento ao (2004, p. 27)
pudor, maus-tratos e estupro, quando
cometidos contra menores de 14 anos As ações a ser desenvolvidas
(BRASIL, 2004, 65). nessa área devem priorizar o
imediato encaminhamento da
criança/adolescente ao serviço

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educacional, médico, psicológico, com isso a criança, desde seus primeiros anos,
jurídico-social. Isso é fundamental saberá identificar atos violentos e se
para diminuir as sequelas do autoproteger, negando as investidas do
abuso sexual no cotidiano da
abusador e também revelando a alguém de
criança e do adolescente e evitar
sua confiança o ocorrido. As autoras apontam
que se tornem abusadores quando
maneiras de inserir a educação sexual desde a
adultos.
faixa etária infantil, por meio da leitura de
livros infantis que apresentem essa temática,
Podemos elencar maneiras para que os
apresentação de filmes, teatro ou
profissionais da educação possam prevenir,
dramatização sobre o tema.
identificar e intervir, fazendo os devidos
Piva et al. (2013, p. 3) consideram que
encaminhamentos e denúncias em casos de
informando sobre a violência sexual, os
abuso sexual. De acordo com Martelli (2013,
educadores podem ensinar as crianças e
p. 13), a prevenção do abuso sexual é a forma
adolescentes a se preservarem de possíveis
mais eficiente para contribuir no
abusos, porém, para que seja bem sucedido,
enfrentamento do problema, reunindo-se, para
esses educadores precisam ter acesso “a
isso, informação, conhecimento,
capacitação continuada sobre o fenômeno da
problematização da sexualidade e a educação
violência sexual”, sendo preparados tanto para
sexual, como maneira de proteger as crianças
exercer um bom trabalho de prevenção, como
e adolescentes.
também de identificação de possíveis vítimas
Ainda segundo Martelli (2013, p. 4),
e de encaminhamento aos órgãos
“desde seu nascimento, a escola organiza-se
competentes.
de forma a silenciar as manifestações de
Ainda no contexto da prevenção, a
sexualidade de professores, professoras,
escola deve fornecer informações à
alunos, alunas, pais, mães e daí por diante.” A
comunidade escolar sobre aquilo que existe
autora defende uma educação sexual que
efetivamente no contexto da violência sexual,
ultrapasse as barreiras “biologizantes,
bem como possibilitar debates e estudos sobre
naturalizadas, reprodutivas, higiênicas em
temas que envolvam a sexualidade e suas
torno dessa temática” (MARTELLI, 2013, p.
manifestações, dirigidos tanto aos
4).
professores, como aos alunos e famílias
Spaziani e Maia (2015, p. 62) afirmam
(MARTELLI, 2013, p. 12).
que educar para a sexualidade constitui uma
maneira de prevenção do abuso sexual e que

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Como maneiras possíveis para a sua pretensão em ajudá-la, propiciar, no
identificação no âmbito escolar de vítimas de momento da conversa, um ambiente tranquilo
abuso sexual, há certos indícios na conduta da e seguro, ouvi-la individualmente,
criança/adolescente, sinais corporais ou preservando sua privacidade, estar atento a
provas materiais e/ou sinais no seu discurso, evitar interrupções, para não
comportamento ou provas imateriais – comprometer o processo de descontração e
comportamento/sentimento, sexualidade, confiança já adquirido, levar a sério tudo que
hábitos, cuidados corporais e higiênicos, for dito, sem criticar nem duvidar da
frequência e desempenho escolar, criança/adolescente, utilizar linguagem
relacionamento social e indicadores na simples e clara, dizer a ela que relatando o
conduta dos pais ou responsáveis (BRASIL, fato, agiu corretamente, entre outros
2004, p. 47,48). (SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 67,68).
Para Azevedo e Guerra (1995 apud Há que se ter cuidado em relação à
MIRANDA; LIMA; MAIO, 2013, p; 9), as identidade da criança/adolescente abusado,
vítimas do abuso também apresentam como expõe o Guia Escolar (2004, p. 122),
dificuldades de aprendizagem, causadas por
múltiplos fatores, dentre eles o aspecto Para que a identificação de alunos
emocional. e alunas que sofreram violência

Uma resistência que se impõe em não se torne instrumento de


exclusão desses sujeitos da escola
grande parte dos casos é o silenciamento da
por meio de mecanismos de
criança diante do abuso sexual, que ocorre por
rotulação, de silenciamento, de
diversos fatores, dentre eles as ameaças do
sujeição do educando a situações
abusador, que muitas vezes envolvem as
vexatórias ou de constrangimento
pessoas amadas, o temor de não acreditarem que o leve a se evadir da escola ou
em seu relato, entre outros (LIBORIO, a estabelecer determinadas
CAMARGO, 2006, p. 9). relações que contribuem para seu
Para abordar corretamente a fracasso escolar e, por
criança/adolescente e romper com o pacto de conseguinte, social.
silêncio, que não se constitui numa tarefa
simples, o educador deve tomar vários Segundo Brino e Willians (2003, p. 2),
cuidados, como demonstrar confiança e em pesquisa feita por estudiosos do assunto, o
proteção, assegurar a criança/adolescente de professor, em 44 % dos casos de abuso

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sexual, era a primeira pessoa a ter recebida. No entanto, muitos educadores não
conhecimento do fato, e, em 52%, o primeiro notificam às autoridades as suspeitas ou
adulto a saber, o que evidencia o importante ocorrências de abuso sexual, mesmo sabendo
papel do educador na identificação e denúncia ser tarefa sua (BRASIL, 2004, p. 66, 67).
de casos de abuso sexual, já que, em grande Esse fato se dá por diversos motivos,
parte destes, ele é o indivíduo que primeiro por exemplo, a resistência psicológica e
poderia ajudar a romper com o círculo de emocional, já que muitos educadores também
silêncio que ronda a situação de abuso sexual. passaram por situações de abuso e relembrar
Nos casos de identificação ou suspeita esses momentos causa sofrimento; a atenção
de abuso sexual, a escola deve partir para a de muitos educadores pode não estar voltada à
intervenção, entrando imediatamente em detecção de manifestação do abuso, às vezes
contato com a família, a não ser nos casos em há a suspeita, porém não sabem como se
que o agressor seja alguém próximo, o que dirigirem à criança, como fazer a denúncia ou
pode interferir negativamente na investigação a quem recorrer. Muitos educadores se
e causar riscos à criança, podendo esta sofrer omitem a protegerem a criança e a
ameaças para desmentir seu relato (BRASIL, responsabilizarem o abusador, alegando falta
2004, p. 71). A notificação às autoridades, de tempo; outros têm receio em se envolver
pela instituição escolar, dará subsídios para a em complicações com as famílias da vítima
interrupção do ciclo da violência sexual ou abusador e há também os que não
contra a criança e o adolescente. Não acreditam na efetivação da proteção da
denunciando, a escola mantém em risco a vida criança/adolescente e culpabilização do
da criança ou adolescente, visto que, abusador por meio da notificação (BRASIL,
dependendo de seu nível de sofrimento, este 2004, p. 67,68).
pode até recorrer ao suicídio (BRASIL, 2004, É importante que aqueles educadores
p. 66). que passaram por situação se abuso sexual,
Em suma, deve-se denunciar para que mesmo tendo dificuldade em lidarem
a criança ou o adolescente não torne a ser novamente com o problema, denunciem e
violentado pelo abusador, para que outras evitem que outras pessoas sofram assim como
crianças e adolescentes não sejam eles. É dever dos profissionais que atuam no
sexualmente abusados pelo mesmo e para âmbito escolar e de toda a comunidade
que, quando adultos, crianças e adolescentes denunciarem e estarem atentos aos sinais de
sexualmente abusados não repitam a violência ocorrência de abuso sexual, omitirem esse

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dever é crime. Aos profissionais que temem A análise de Gagliotto e Vagliati
complicações com a família da vítima ou do (2014, p. 1, 8,9) tornou clara a dificuldade dos
agressor, vale a ressalva de que a escola pode professores em lidarem com as questões da
denunciar de maneira anônima e também sexualidade e da violência sexual presentes
pedir proteção policial caso sofra ameaças. em seu dia a dia, e a inexistência de formação
Para aqueles que desacreditam da atuação da inicial e/ou continuada em educação sexual, o
justiça, há de ser destacado o aumento que se constituiria numa potencial ajuda ao
significativo de denúncias, que vêm se enfrentamento dessa forma de violação de
transformando em inquérito. O número de direitos. Há, portanto, o despreparo desses
agressores responsabilizados penalmente por profissionais.
seus atos também cresceu, bem como houve, De acordo com Rocha, Lemos e Lírio
desde a década de 90, o aumento de (2011, p.280) é necessário, para que a escola
programas de atendimento a crianças assuma plenamente seu papel na rede de
(SANTOS; IPPOLITO, 2009, p. 66,67). enfrentamento da violência sexual contra
Em se tratando da preparação dos crianças e adolescentes, garantir a
profissionais para lidarem com a problemática qualificação dos sujeitos sociais que a
do abuso sexual contra crianças e integram. Em sua pesquisa, Rocha (2010 apud
adolescentes, Martelli (2013, p. 13,14) ROCHA, LEMOS e LÍRIO, 2011, p.281)
defende que, para lidar corretamente com a
problemática do abuso sexual, os educadores Concluiu que as escolas não
precisam ser formados, seja na formação promovem ações específicas de

inicial ou na continuada, com disciplinas que enfrentamento, nem mesmo


adotam medidas preventivas que
tratem sobre a sexualidade humana para além
contribuam para um efetivo
de seu caráter puramente biológico ou
combate a este tipo de violência,
psicológico. De acordo com a autora, para que
tais como a informação da
as escolas e universidades cumpram com sua
comunidade escolar sobre a
responsabilidade na prevenção e denúncia do realidade da violência Sexual, a
abuso sexual, há que se fazer uma criação de ambiente que
ressignificação do espaço ocupado pela verdadeiramente inclua a criança
sexualidade e pela educação sexual na diferente, ou mesmo trabalhar
formação dos docentes. com membros das famílias
responsáveis pela educação das
crianças.

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parte de seus alunos” (LIBORIO;
Através de informações sobre a CAMARGO, 2006, p. 16).
violência sexual, os educadores podem
orientar e ensinar as crianças e adolescentes a CONSIDERAÇÕES FINAIS
se defenderem de possíveis abusos. Para isso,
é preciso que tenham acesso a capacitação De acordo com o exposto, a escola,
continuada sobre o fenômeno da violência para desenvolver um trabalho mais ativo de
sexual, desenvolvendo o olhar para identificar proteção contra o abuso sexual infanto-
possíveis sinais de abuso sexual e estando juvenil, precisa contar com profissionais
preparados para acolher adequadamente as capacitados, que tenham subsídios tanto para
vítimas e encaminhar corretamente a denúncia desenvolver uma educação sexual com os
às autoridades competentes (PIVA ET ALL, alunos, como maneira preventiva para o
2013, p. 3). problema, como também para identificar
Em pesquisa feita por Liborio e alunos vitimados e romperem com o pacto de
Camargo (2006, p. 8) com profissionais da silêncio recorrente no abuso sexual, tendo voz
educação, foi objetivado acolher as ativa na denúncia contra o abusador,
informações destes sobre o abuso sexual protegendo outras crianças e adolescentes e,
contra crianças e adolescentes – como enfim, exercendo com excelência o ser dever,
atuariam diante da confirmação de um abuso, previsto por lei.
como percebem o papel da educação frente a Muitos autores destacam a escassez
esta temática, etc. De acordo com os em cursos superiores e de formação
resultados obtidos, foi constatado que, na continuada, de disciplinas que abordem
formação inicial das participantes, a consistentemente a problemática do abuso
problemática da violência sexual não havia sexual. É necessário, portanto, que esta
sido abordada em momento algum realidade seja modificada e que,
(LIBORIO; CAMARGO, 2006, p. 13), fato consequentemente, os profissionais da
que torna relevante a proposição de educação tenham maiores oportunidades para
programas de formação inicial e continuada a aquisição deste conhecimento, que é
que enfoquem essa temática, “por fornecer fundamental para o trabalho bem-sucedido
elementos indispensáveis ao preparo do das instituições de ensino, na prevenção,
professor para que este possa contribuir mais identificação e intervenção nos casos de abuso
diretamente para a vivência de cidadania por sexual infanto-juvenil.

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LIBÓRIO, Renata Maria Coimbra;
REFERÊNCIAS CAMARGO, Luciene dos Santos. A
violência sexual contra crianças e
adolescentes na perspectiva de
BRASIL. Estatuto da Criança e do profissionais da educação das escolas
Adolescente. Lei 8.069 de 1990. públicas municipais de Presidente
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Escolar: Métodos para identificação de sinais 2006.

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adolescentes. Brasília: MARTELLI, Andréa Cristina. Abuso sexual

Secretaria Especial dos Direitos Humanos, contra crianças e adolescentes: O que a


2004. escola tem a ver com isso? Paraná: Anais do
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BRINO, Rachel de Faria; Williams, Lúcia 2013.

Cavalcanti de Albuquerque. Capacitação do


educador acerca do abuso sexual infantil. MIRANDA, A.C.T.; LIMA, E.S.; MAIO,

Curitiba: Interação em Psicologia, v. 7, n. 2, E.R. Articulação escola e CREAS:

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FALEIROS, V. P.; FALEIROS, E. S. Escola Simpósio Internacional de Educação Sexual,

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Diversidade, 2. ed., 2008. REDIVI - Revista de Divulgação

GAGLIOTTO, Giseli Monteiro; VAGLIATI, Interdisciplinar do Núcleo das Licenciaturas,

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SPAZIANI, Raquel Baptista; MAIA, Ana
SANTOS, B.R.; Ippolito, R. Guia de Cláudia Bortolozzi. Educação para a
referência: construindo uma cultura de sexualidade e prevenção da violência sexual
prevenção à violência sexual. São Paulo: na infância: concepções de professoras. São
Childhood – Instituto WCF-Brasil: Prefeitura Paulo: Rev. Psicopedagogia, v.32, n.97, p. 61-
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