You are on page 1of 9

1º Ano

O cultivo da cana-de-açúcar no Brasil colonial

A colonização do Brasil foi economicamente baseada no cultivo da cana-de-açúcar. O açúcar, originário da Ásia, foi trazido para a Europa pelos
árabes e pelos participantes das Cruzadas. Durante a Idade Média, o açúcar era considerado um bem de luxo e seu preço era, conseqüentemente, bastante alto.

Em razão de suas grandes navegações, Portugal povoou algumas ilhas do Atlântico e iniciou, nas ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, a cultura da
cana-de-açúcar. Portugal tinha o objetivo de comercializar a cana em grande escala. Já no século XV, a produção de açúcar no arquipélago da Madeira tornara-
se bastante lucrativa para Portugal e para seus sócios - os comerciantes e banqueiros de Flandres.

A experiência nessas ilhas levou os portugueses a tomar a decisão de criar uma lavoura canavieira no Brasil. Existiam, porém, outras e mais
importantes razões para os portugueses fazerem do açúcar o ponto-chave de sua colonização do Brasil. Uma dessas razões era o clima quente e úmido e o solo
de massapé do litoral nordestino que era ideal para o plantio da cana-de-açúcar. Outra razão era que os portugueses estavam interessados apenas em cultivar
um produto que fosse bastante consumido na Europa. O açúcar estava em grande demanda na Europa. Isso foi o fator decisivo que levou os portugueses a
implantarem a cultura de cana-de-açúcar no Brasil.

Os problemas da colonização e o papel da Holanda

Quando as nações européias exploravam novas colônias, elas buscavam regiões que eram ricas em recursos naturais. Elas instalavam uma feitoria e
adquiriam bens a baixos preços. No Brasil, porém, esse sistema não poderia funcionar.

Os problemas da colonização

A montagem de um sistema produtor de bens numa área tão afastada de Portugal implicaria a necessidade de enormes recursos financeiros para a
implantação, aqui, de tecnologia, populações e implementos necessários para criar um fluxo permanente de bens destinados ao consumo do Velho Continente.
Portugal, na época, ou não detinha tais recursos, ou não conhecia meios efetivos de canalizar a poupança interna para uma tão ousada iniciativa. Isso
pressupunha, portanto, a vinda de investimentos internacionais, que deveriam ser atraídos para uma área - o Brasil - amplamente desconhecida e de alto risco
para o investidor. Em suma:

O primeiro problema para a colonização do Brasil: Investimento inicial - destituído de poupança interna, Portugal precisava atrair a poupança
externa.

Para interessar os investidores estrangeiros, o Reino português teria de escolher um produto que satisfizesse às seguintes condições: a existência de
mercado para ele na Europa; capacidade de ampliar mercados; relativa experiência de Portugal em sua produção e comercialização e, por fim, que fosse um
gênero adequado às condições ambientais do Brasil.
O segundo problema para a colonização do Brasil:
A escolha do produto - o gênero a ser escolhido deveria: ter mercados na Europa; ampliar mercados; ser produzido e comercializado por Portugal; ser
adaptado à ecologia americana.
Outro obstáculo à colonização do Brasil era a questão do transporte. De fato, a marinha lusitana, em função do grande número de perdas de
embarcações na “rota oriental”, encontrava-se bastante abalada. Além disso, era crescente o número de navegadores e construtores navais portugueses que,
famosos por seus conhecimentos técnicos, eram atraídos para outros países europeus em função dos elevados salários que a eles eram oferecidos. Impunha-se,
por conseguinte, o apoio de uma frota estrangeira.
O terceiro problema para a colonização do Brasil:
A questão do transporte - o relativo enfraquecimento da marinha portuguesa demandava o suporte de navios estrangeiros.
Por fim, outro problema a ser resolvido era o da mão-de-obra, já que a colonização não poderia se apoiar no trabalho assalariado, pelo alto custo
que acarretaria à produção e por total incompatibilidade do regime de trabalho livre com as normas mercantilistas de exploração colonial. Com efeito, a
existência de um regime de trabalho assalariado no Brasil implicaria a criação de um mercado consumidor local, gerador de produção interna, o que provocaria
o enriquecimento da própria colônia, desviando capitais que deveriam ser acumulados na Metrópole.
O quarto problema para a colonização do Brasil:
A mão-de-obra - as necessidades de exploração econômica da área colonial por parte da metrópole impossibilitavam o trabalho assalariado, pelo seu alto
custo e pelo fato de provocar a prosperidade da própria colônia.
Todos os problemas que obstavam a colonização tiveram uma solução açucareira.

O problema da colonização – uma solução açucareira


A Solução: O Açúcar

No início do século XVI, nenhum gênero agrícola extra-europeu conhecia ampla comercialização

no interior do Velho Mundo. O principal produto da terra – o trigo – era abundante no próprio continente, o que tornava sua importação desnecessária.
Além disso, os fretes marítimos eram bastante elevados, em virtude dos riscos que envolviam o transporte à longa distância: somente bens manufaturados e as
caras e exóticas especiarias orientais podiam comportá-los. Inúmeros eram, pois, os obstáculos e custos do empreendimento agrícola em território americano,
fato que não era ignorado por nenhum empresário europeu.
A colonização do Brasil, em seus momentos iniciais, consistiu basicamente, na montagem de um sistema produtor de açúcar. Os portugueses, nessa
época, já eram os maiores produtores mundiais dessa apreciada especiaria. Assim, aproveitando sua experiência açucareira nas ilhas atlânticas, Portugal
implantou em nosso país uma solução semelhante, o que, além de propiciar a solução de inúmeros problemas técnicos relacionados com a produção de açúcar,
fomentou o desenvolvimento em Portugal de uma indústria de equipamentos para os engenhos.

Contudo, a maior vantagem do empreendimento açucareiro português ocorreu no campo comercial. Numa primeira fase, o açúcar lusitano entrou nos
tradicionais canais de troca, controlados pelos mercadores das cidades italianas. Nas últimas décadas do século XV, porém, o produto sofreu uma sensível
baixa de preço, indicando que as redes comerciais dominadas pela burguesia da orla mediterrânea não se ampliaram na medida requerida pela expansão da
produção açucareira. Por outro lado, houve também nesse período uma crise de superprodução, pois dentro dos estreitos limites mercantis estabelecidos pelos
negociantes da Península Itálica, o açúcar não podia ser absorvido senão em escala relativamente limitada.

Mas, sem dúvida, a principal conseqüência da entrada da produção portuguesa no mercado foi a ruptura do monopólio de acesso às fontes de produção,
mantido até então pelos venezianos. Assim, desde cedo, o açúcar lusitano passou também a ser encaminhado para Flandres, e, em 1496, quando a coroa
portuguesa, em função da baixa do preço, decidiu restringir a produção, quase metade desta já era enviada para os portos flamengos.

A rota do açúcar brasileiro

O capital mercantil e financeiro holandês

O capital mercantil e financeiro holandês foi fator fundamental para o êxito da colonização do Brasil. De fato, os flamengos, acostumados ao comércio
intra-europeu, possuíam recursos e uma sofisticada organização comercial, o que possibilitou criar um mercado de grandes dimensões para o açúcar brasileiro.
Até o século XVI, época em que o açúcar de nosso país começou a surgir nos mercados mundiais, este gênero ainda apresentava características de especiaria.
Pequeno volume, peso reduzido, alto valor unitário e consumo diminuto. Enquanto o açúcar estivera nas mãos de produtores árabes e comerciantes italianos,
ele foi um “presente de reis”. Com efeito, tal era seu preço que príncipes, quando se casavam, recebiam açúcar como parte do dote matrimonial. Pessoas de
alto poder aquisitivo utilizavam-no como remédio, quando acometidas por doenças graves, já que o açúcar é um poderoso energético. Como já observamos, foi
a produção lusitana nas ilhas atlânticas que permitiu, simultaneamente, uma relativa ampliação do mercado e uma queda no preço açucareiro. No final do
século XV, a Europa Ocidental já estava bem abastecida do produto, o que começava a provocar crises de superprodução e uma política de desestímulo aos
novos plantios. Por conseguinte, a implantação da cana-de-açúcar no Brasil só seria possível se novos mercados fossem criados. Essa foi a grande tarefa do
capital comercial holandês, que, além de ampliar o consumo no oeste da Europa, levou o gênero para a Europa Central e Oriental. Pode-se dizer, portanto, que
o açúcar perdeu sua condição de especiaria e se tornou um gênero de consumo corrente graças aos esforços flamengos.

A contribuição holandesa para a colonização brasileira não se limitou apenas ao aspecto mercantil: os capitalistas holandeses financiaram, em grande
parte, a implantação do sistema produtor em nosso país, além de tomar parte no tráfico negreiro. Realmente, a experiência técnica dos portugueses na
produção de açúcar não era suficiente para levar adiante a colonização do Brasil: a capacidade comercial e o poder financeiro dos holandeses tornaram viável o
empreendimento. Em suma, o papel holandês para criar a realidade agrícola brasileira consistiu em:

O capital holandês na colonização do Brasil:. financiamento dos sistemas produtores implantados em nosso território;2. montagem de uma grande rede de
distribuição comercial açucareira em todo continente europeu;3. suporte naval - ajudando a trazer escravos e, pouco a pouco, assumindo o monopólio do
transporte açucareiro para a Europa, os navios holandeses, graças aos lucros dos fretes, ajudaram ainda mais a acumulação de capital gerado pelo açúcar
brasileiro nos Países Baixos, descapitalizando Portugal.
À luz de tudo que dissemos, pode-se afirmar que o negócio açucareiro do Brasil, no século XVI e início do XVII, não foi brasileiro e nem
português; foi fundamentalmente holandês.
Porém, essa aliança econômica de Portugal com a Holanda promoveu o povoamento do Brasil e permitiu que Portugal garantisse seu controle sobre
todo o território brasileiro. Além disso, todos os navios que partiam para o Brasil eram obrigados a partir de portos portugueses e todos os navios que vinham
do Brasil tinham que fazer uma escala em Portugal. O governo português cobrava imposto sobre qualquer transação comercial feita com o Brasil. Os
portugueses não lucraram tanto quanto os holandeses, que comercializavam o açúcar, mas essa aliança econômica ajudou a aliviar os problemas econômicos
de Portugal.
A produção açucareira no Brasil Colonial

O sistema produtor açucareiro implantado no Brasil foi juridicamente baseado no regime de concessão de sesmarias. Interessado em excluir camadas
médias e populares da colonização brasileira, já que o interesse era a grande produção destinada ao mercado europeu, Portugal só concedia terras às pessoas
detentoras de grandes capitais, quer próprios, quer obtidos em bancos holandeses. De fato, pela “Lei das Sesmarias”, só podia obter propriedade fundiária
quem tivesse posses para cultivá-las. O caráter aristocrático da posse agrária no Brasil data do início da colonização. É por esse motivo que, até hoje,
conhecemos problemas agrários em nosso país. Na realidade, o “movimento dos sem-terras” não é recente, data dos primórdios da colonização. Efetivamente,
nos momentos iniciais do processo colonizatório, a pequena propriedade – o minifúndio, apoiado no trabalho individual ou familiar de pequenos agricultores –
não teve condições para se desenvolver. Inúmeros obstáculos impediram a formação, em nosso país, de uma comunidade de pequenos e médios proprietários.

As razões da inexistência da pequena propriedade no período colonial

1. O trabalho livre de pequenos agricultores autônomos, cultivando suas próprias terras, não possibilitava o desbravamento de um território
virgem e de penetração extremamente difícil.

2. A existência de minifúndios entrava em contradição com o caráter mercantilista da empresa colonizatória (o propósito real do esforço de
colonização era a montagem de zonas produtoras de gêneros primários para os mercados externos. A pequena propriedade, em função de seus
recursos limitados, acarretaria, inevitavelmente, uma produção orientada para a subsistência dos próprios lavradores. Isto significaria a negação
radical da finalidade do antigo sistema colonial: a acumulação de capital das economias centrais e metropolitanas).

3. Os pequenos proprietários não dispunham de recursos suficientes (a instalação de um engenho de açúcar – equipamento técnico
indispensável ao sucesso da colonização – exigia um volume de capital inacessível ao pequeno lavrador).

4. Não havia mercados para o pequeno produtor (o simples lavrador não atingia o mercado externo, ao qual se destinava a produção açucareira;
o mercado interno no Brasil Colônia quase não existia, principalmente porque o latifúndio, a grande unidade econômica dos tempos coloniais,
produzia o necessário para seu consumo interno, pouco dependendo de fornecimentos exteriores).

5. As tribos indígenas eram hostis (o latifúndio dispunha de recursos para formar um forte contingente de homens armados que o defendessem
contra os ataques dos selvagens; a pequena propriedade, ao contrário, era presa fácil para os índios).
A lógica da colonização mercantilista abafou o pequeno lavrador; na realidade, a pequena propriedade foi esmagada pelo latifúndio. Fundamentalmente,
os minifundiários foram vítimas de uma pressão real por parte do latifúndio, além de discriminados por uma legislação opressora. Inúmeros obstáculos
jurídicos impediram os lavradores independentes de se dedicarem para produtos ao alcance de seus pequenos recursos. Um bom exemplo disso: a fabricação
de aguardente exigiria, somente, engenhos de baixo custo. Como tal produção desfalcava os grandes engenhos da cana de que necessitavam, Portugal, pelo
Alvará de 1570, proibiu a fabricação de “pinga”. Como bem observa o historiador Caio Prado Júnior, o “aristocrático açúcar matou a democrática aguardente”.
Dessa maneira, o latifúndio, ao eliminar a pequena propriedade, tornou-se a base da colonização do Brasil. No primeiro século da ocupação e valorização do
Brasil, praticamente inexistiu qualquer tipo de produção urbana. A indústria e o comércio, atividades características das economias citadinas, dependiam da
exploração do solo. Modestos mascates ambulantes, que percorriam os latifúndios e as poucas vilas em busca de escassos fregueses, efetuavam as diminutas
transações comerciais. Olarias, carpintarias e serrarias estavam concentradas, em escalas muito reduzidas, às áreas das grandes fazendas. No século XVI e
XVII, as vilas brasileiras não podiam ser chamadas de realidades urbanas.

Ao instalar uma área produtora açucareira no Brasil, o mercantilismo – que inicialmente pretendera a mera circulação mercantil – desdobrou-se numa
nova fase de seu desenvolvimento. Nesse contexto, o capital mercantil assumiu uma dupla função: a de produtor, mantendo, contudo, seu caráter de
controlador da circulação de mercadorias e capitais. Em resumo, a colonização do Brasil teve um sentido mercantilista. E essa lógica impôs a “plantation”
como modo de produção típico das áreas periféricas submetidas aos ditames do antigo sistema colonial.

As características da plantation:

Conceito de plantation
Objetivo explorador - a produção colonial, voltada para os mercados europeus, buscava complementar as economias metropolitanas e acelerar a
acumulação primitiva de capital em mãos da burguesia mercantil européia.
Carência do mercado interno - a lógica mercantilista e os entraves jurídicos à pequena propriedade impediram o desenvolvimento da produção e
do comércio internos.
Produção latifundiária - como a meta básica da produção colonial era suprir a demanda externa, só interessava ao capital comercial a exploração
agrícola em grande escala.
Monocultura - as zonas produtoras coloniais dedicavam-se à elaboração de um só produto. Como o capital comercial se interessava, no Brasil,
apenas pela venda de açúcar em grandes quantidades, os investimentos realizados na colônia não podiam fomentar, de maneira dispersiva, várias
atividades agrícolas. Dessa forma, o mercantilismo, no início dos Tempos Modernos, criou uma verdadeira divisão mundial do trabalho, reservando a
cada área periférica a exclusividade na produção de um determinado gênero.
Produção em dois eixos - um eixo dinâmico gerador de renda – o exportador (no caso do Brasil, o açucareiro) – e um outro voltado à produção
básica de subsistência (em nosso país, fundamentalmente a pecuária).
Mão-de-obra escrava - a adoção do trabalho escravo impedia a formação de um mercado interno e, conseqüentemente, o surgimento de um setor
da população colonial voltado para a produção de artigos de consumo estritamente local. Assim, o escravismo vedava a possibilidade de as rendas
geradas pelo aparelho produtor periférico permanecerem na própria colônia. Impedindo o processo de acumulação de capital no interior das regiões
coloniais, as burguesias metropolitanas asseguraram-se a exclusividade dos lucros. Além disso, também se optou pela implantação do escravismo
negro na América, devido à existência do tráfico de africanos, empreendimento comercial de alta rentabilidade. Os setores da camada mercantil
européia, ligados ao comércio escravista, pressionavam para que se impusessem formas compulsórias de trabalho em todas as áreas coloniais: assim,
eles continuariam desfrutando dos lucros exorbitantes proporcionados pelo tráfico negreiro. Os altos preços que o produtor colonial pagava pela
“mercadoria” africana sangravam ainda mais os parcos capitais retidos na colônia, desviando-os para a Europa. O tráfico negreiro estava, assim,
inserido na própria lógica do mercantilismo, que preconizava o fortalecimento das economias metropolitanas.
Transferência de capital gerado pela produção para a esfera da circulação - durante o capitalismo mercantil, todo e qualquer sistema produtor,
quer europeu, quer colonial, tinha função precípua de se inserir na órbita da circulação de mercadorias. Nessa fase inicial do capitalismo, a circulação
comandava a produção.
Funções tripartites - no Brasil colônia, o capital comercial holandês investiu na produção e cuidou da circulação; o latifúndio se especializou na
produção açucareira e a Metrópole Lusitana se ocupou da administração, da tributação e, em termos econômicos, do tráfico negreiro, com relativo
apoio flamengo.
Sociedade colonial - basicamente bipolarizada: senhores de engenho e latifundiários, de um lado, e escravos, na base da sociedade. A lógica
mercantilista de colonização praticamente excluiu camadas médias, que dependeriam da eventual existência de um mercado interno colonial.
2º Ano

O Primeiro Reinado – Parte I


Como estudamos na aula anterior, os maiores beneficiados pela independência foram os grandes proprietários de terra brasileiros e a Inglaterra. A elite
brasileira participou do processo de independência, pois desejava um sistema de governo que fosse autônomo e não mais sujeito às imposições e restrições
comerciais impostas por Portugal. Mas essa elite brasileira não queria mudar a estrutura econômica do Brasil, que era baseada na monocultura, latifúndio e
escravismo.
Nem todos no Brasil aceitaram a independência imediatamente. Governadores de algumas províncias brasileiras, apoiados por forças militares
portuguesas, resistiram à decisão de D. Pedro. Ocorreram lutas em quase todo o território brasileiro, principalmente na Bahia e Grão-Pará, onde o número de
comerciantes que queria manter o vínculo com Portugal era grande.
O Brasil não tinha um exército bem treinado que pudesse enfrentar as tropas portuguesas. Coube ao povo se armar e enfrentar as guarnições portuguesas
que se opunham à libertação do país. De fato, essas milícias civis brasileiras desempenharam um papel fundamental na luta de independência do Brasil.
As duas facções do Partido Brasileiro
Após o rompimento com Portugal, o Estado brasileiro foi obrigado a se organizar rapidamente. O Partido Brasileiro estava dividido em duas facções: a
conservadora e a liberal. A facção conservadora, liderada pelos irmãos Andrada (José Bonifácio, Martim Francisco e Antônio Carlos), objetivava formar um
governo fortemente centralizado com uma monarquia de amplos poderes que fosse auxiliada por um ministério.
Os liberais queriam a formação de uma monarquia constitucional que limitasse o poder do monarca. Os liberais favoreciam a liberdade de expressão e
de iniciativa privada e defendiam a descentralização administrativa e a autonomia das províncias.
José Bonifácio foi o principal ministro no período que antecedeu a coroação de D. Pedro. Sua liderança prejudicou as ambições dos liberais. A imprensa
liberal mais atuante foi censurada e a maçonaria foi fechada. Em dezembro de 1822, D. Pedro foi coroado imperador e eleito “defensor perpétuo” do Brasil
O Partido Português no Brasil defendia o retorno ao colonialismo. Este partido representava uma pequena minoria e era rejeitado pela grande maioria da
população brasileira. Os portugueses tentavam obter o apoio de D. Pedro e incentivando suas tendências absolutistas. A divisão entre os brasileiros facilitava
os planos dos portugueses.
A Constituição de 1823
A Assembléia Constituinte havia sido convocada em junho de 1822 – antes da independência. Mas ela só se reuniu em 3 de maio de 1823. Advogados,
juízes, religiosos, proprietários de terra, militares, funcionários públicos e outros se reuniram para redigir a primeira Constituição do Brasil independente. Uma
Constituição é o conjunto de leis maiores que governam o país; nenhuma outra lei pode contrariar o que está escrito na Constituição.
A Assembléia Constituinte estava basicamente dividida em dois grupos. Um deles – o grupo mais fraco – era o dos democratas, que eram a favor da
diminuição do poder Executivo, exercido pelo imperador; os democratas queriam que o imperador jurasse obediência à Constituição, sendo obrigado a
respeitá-la. Os democratas queriam que o Poder Legislativo (o Parlamento), que representava a vontade da maioria da população brasileira, fosse o poder
principal. Mas alguns importantes membros do grupo democrata, como Gonçalves Ledo e José Clemente Pereira, que participaram ativamente do movimento
de independência brasileira, estavam presos ou exilados na época.
O outro grupo – mais forte e mais bem organizado – era liderado por José Bonifácio. Esse grupo temia a democracia, pois acreditava que o Poder
Legislativo, formado por deputados eleitos nas suas respectivas províncias, não teria o poder de garantir a unidade do território brasileiro. Eles acreditavam
que era necessário que o poder se concentrasse nas mãos do imperador, pois o País precisava de um único líder forte para que uma nação formada por
diferentes raças e grupos sócio-econômicos fosse bem governada.
Os conflitos políticos resultaram no afastamento dos liberais mais zelosos da constituinte. Isso praticamente garantiu que a Constituição seria elaborada
por uma maioria conservadora.
D. Pedro iniciou os trabalhos da Assembléia Nacional com as seguintes palavras: “Quero uma Constituição digna do Brasil e de mim”. Em seus discursos
e declarações públicas, D. Pedro proferia palavras e expressões que davam a entender que ele não permitiria que a Constituição que fosse elaborada limitasse
seu poder.
As desavenças entre a Assembléia Constituinte e o imperador foram crescendo progressivamente. Os deputados tentavam reduzir as atribuições de D.
Pedro I, pois não aceitavam que ele tivesse um poder praticamente absoluto. O imperador poderia, por exemplo, dissolver a Câmara dos Deputados quando
quisesse. Nesse ponto, até José Bonifácio rompeu com o imperador, que se aproximou mais do meio militar, onde os portugueses tinham bastante influência.
Em setembro de 1823, Antônio Carlos Andrada apresentou um projeto de Constituição que limitava os poderes do imperador, determinava a
inelegibilidade de estrangeiros, garantia a liberalização da economia e mantinha a escravidão. O voto seria censitário; isso quer dizer que apenas pessoas que
tivessem um determinado nível de renda poderiam votar ou se candidatar a cargos políticos.
O elitismo do projeto constitucional era claro: para votar na eleição de deputados, um cidadão precisaria ter um rendimento anual equivalente a 150
alqueires de mandioca; para votar na eleição de senadores, 250. Para candidatar-se a deputado, precisaria ter 500 alqueires; para candidatar-se a senador,
precisava ter 1000.
Esse projeto passou a ser conhecido pelo nome de Constituição da Mandioca – o produto que era usado como base para medir a riqueza das pessoas que
participariam da vida política brasileira. Os requerimentos mínimos para isso eram tão altos que a maioria da população permaneceu politicamente inativa.
A Constituição outorgada de 1824
O projeto de Antônio Carlos estava sendo debatido quando D. Pedro determinou que a Assembléia Nacional Constituinte seria dissolvida. D. Pedro
tomou essa resolução por causa da decisão dos deputados de negar o poder de veto do imperador sobre leis que fossem criadas pela Assembléia.
Na tentativa de impedir a dissolução da Assembléia, os deputados mantiveram-se reunidos durante a noite de 11 para 12 de novembro. Mas após essa
Noite da Agonia, a guarda de honra de D. Pedro desalojou os deputados; aqueles que resistiram foram presos.
Após ter dissolvido a Assembléia Constituinte, D. Pedro convocou dez pessoas para formarem o Conselho de Estado, que seria incumbido de elaborar
uma nova Constituição. O principal responsável pela realização da nova Constituição foi Carneiro de Campos, que era ligado à Corte portuguesa no Brasil. D.
Pedro se aproximava do Partido Português, que apoiava suas tendências absolutistas. Ao mesmo tempo, o imperador se afastava da oligarquia rural brasileira
que apoiava uma Constituição mais liberal.
Em 1824, o texto da Constituição foi finalizado. O documento afirmava que o Brasil havia se tornado uma monarquia hereditária e constitucional. Isso
quer dizer que o imperador, que deveria governar de acordo com a Constituição, passaria o trono do País a seu filho mais velho. A Constituição também incluía
ideais franceses e ingleses. O documento estabelecia uma rígida centralização do poder, um governo monárquico e hereditário, o poder do Estado sobre a
Igreja, o catolicismo como religião oficial, o voto censitário e não-secreto e eleições indiretas.
A Constituição também estabeleceu os quatro poderes. O Poder Legislativo, formado por deputados e senadores, era eleito para representar o povo e criar
as leis do país. A Constituição de 1824 determinou que a Câmara dos Deputados fosse formada por representantes eleitos nas províncias para um mandato que
duraria quatro anos. O número de deputados eleitos por província variaria conforme a sua população – quanto mais populosa fosse a província, mais deputados
elegeria. Já a composição do Senado era diferente. O número de senadores de cada província seria a metade do número de deputados daquela mesma
província. O cargo de senador era vitalício; isto significa que o cargo era exercido até o seu falecimento. Quando algum senador falecia, ocorria uma nova
eleição. Os nomes dos três candidatos mais votados eram levados ao imperador, que escolhia um deles para assumir a posição no Senado. Nas províncias, o
Poder Legislativo era exercido pelos Conselhos Provinciais.
O Poder Executivo era exercido pelo imperador, pelos ministros que ele apontava e pelo Conselho de Estado. Nas províncias, o Poder Executivo era
exercido pelo presidente da província (um cargo equivalente ao de governador), que era nomeado pelo imperador.
O Poder Judiciário era formado pelos tribunais e juízes.
Foi formado também o Poder Moderador que estava acima dos outros poderes. O Poder Moderador era um poder pessoal do rei ou do imperador que lhe
permitia intervir em assuntos sérios de “interesse nacional”.
No Brasil imperial, quem é que elegia os deputados e senadores? E quem podia ser eleito? A Constituição de 1824 estabeleceu que escravos, índios,
mulheres, menores de 25 anos e todos aqueles que tivessem uma renda anual menor que 100 mil-réis não podiam votar nas eleições primárias, quando eram
escolhidos aqueles que teriam o direito de eleger os deputados e senadores. Para se candidatar nas eleições primárias, era necessário ter uma renda de 200 mil-
réis e não ser um ex-escravo. Para ser candidato na segunda etapa – para conseguir ser deputado ou senador – era necessário ter uma renda de 400 mil-réis, ser
brasileiro e católico. No Império, o direito à cidadania política era bastante restrito; a grande maioria da população não podia votar.
No Brasil imperial, direitos individuais – de liberdade, propriedade e livre expressão – eram garantidos pela Constituição. Mas o Brasil era um país
escravista e a maioria da sua população era analfabeta ou pouco alfabetizada e vivia no campo. Como conseqüência disso, os direitos individuais eram pouco
respeitados.
A Constituição de 1824 não contentou nenhum segmento da sociedade brasileira. Apenas o Partido Português se satisfez com a Constituição, pois ela
marcava o distanciamento entre o imperador e o povo brasileiro.
O Primeiro Reinado – Parte II
A Confederação do Equador
O profundo descontentamento com a Constituição de 1824 tornou-se bastante aparente em Pernambuco, onde sentimentos revolucionários floresciam.
Esses sentimentos de revolta eram semelhantes aos do ano de 1817, quando ocorreu a Insurreição Pernambucana.
Sete anos após a Insurreição Pernambucana, o setor açucareiro de Pernambuco continuava passando por dificuldades econômicas. Desde a Insurreição
Pernambucana, idéias liberais como as da república, do federalismo e da abolição da escravidão eram fomentadas na província.
O clima de revolta em Pernambuco vinha crescendo desde 1822 quando a Junta Democrática e Independente que governava a província foi destituída. A
decisão havia sido tomada pelo então ministro José Bonifácio, que considerava o governo de Pernambuco radical e quase autônomo. A junta foi substituída por
um outro governo que era claramente de caráter conservador.
Mas essa nova junta não foi bem aceita pela população. Pais de Andrade, o antigo governador que havia sido eleito pelo povo, foi mantido no cargo com
o apoio da população local. Isso significava o rompimento de Pernambuco com o poder central. Os liberais, liderados por Cipriato Barata e pelo frei Joaquim
do Amor Divino Rabelo, conhecido como frei Caneca, veteranos de 1817, exigiam o federalismo e a república. Frei Caneca era crítico do governo de Pedro I e
considerava “autoritária” e “centralizadora” a Constituição imperial outorgada em fevereiro de 1824. “Autoritária” pois dava poder demasiado ao imperador e
“centralizadora”, pois negava autonomia às províncias, tornando-as dependentes do poder central. Frei Caneca afirmava que os pernambucanos continuavam
sofrendo “exploração” e “opressão” - não mais de Portugal, mas do Rio de Janeiro, que ele chamava de “nova Lisboa”.
No dia 2 de julho de 1824, o governador Pais de Andrade proclamou a Confederação do Equador. O nome derivava do fato de Pernambuco estar próximo
à linha do Equador. Um manifesto foi publicado, convidando outras províncias do Norte e Nordeste do Brasil a aderir ao movimento. Três províncias – Ceará,
Rio Grande do Norte e Paraíba – aderiram à causa oficialmente. Em outras províncias, no Piauí, por exemplo, governos paralelos formados pelos rebeldes
manifestaram sua adesão aos confederados. Para os revolucionários da Confederação do Equador, a independência ainda não havia sido conquistada. Para eles,
a verdadeira independência seria uma república federativa, conforme o modelo norte-americano. Segundo esse modelo, o Brasil seria liderado por um
presidente eleito para um mandato determinado: o sistema político que vigora hoje em dia em nosso País.
Mas o Brasil independente era governado por uma monarquia unitária, com o poder centralizado no Rio de Janeiro. O imperador representava a garantia
da preservação da integridade de todo o território brasileiro. A elite política brasileira temia que acontecesse no Brasil o que havia acontecido com a América
Espanhola independente: a criação de uma republicana, porém dividida. Mas a Confederação do Equador, ignorando essa preocupação, adotou o regime
republicano e utilizou a Constituição da Colômbia.
No início, a aristocracia rural apoiava o movimento dos confederados. Mas esse segmento da sociedade brasileira deixou de apoiar o movimento devido à
decisão dos rebeldes de abolir o tráfico de escravos. Divisões internas como essa permitiram que a repressão organizada pelo poder central fosse bem-
sucedida. A revolução não foi duradoura.
D. Pedro obteve dos ingleses um empréstimo de um milhão de libras e usou esse dinheiro para contratar mercenários para reprimir a revolução. Os
mercenários eram comandados por Cochrane e Taylor. As tropas brasileiras foram lideradas pelo brigadeiro Francisco de Lima e Silva. Os rebeldes foram
derrotados e Pais de Andrade foi obrigado a fugir. Frei Caneca foi preso e condenado à morte. Ele foi executado em 1825.
A violenta repressão revelava claramente o absolutismo empregado por D. Pedro. Isso resultou numa perda de prestígio do imperador que acabou
abdicando em 1831.
Os países reconhecem a independência do Brasil
Era de importância fundamental para o Brasil ser reconhecido internacionalmente como nação independente. A necessidade disso não era apenas política,
mas econômica também.
Os Estados Unidos foram o primeiro país a oficialmente reconhecer a independência brasileira. Esse reconhecimento deveu-se, em grande parte, à
Doutrina Monroe, que foi formulada em 1823. James Monroe, presidente dos Estados Unidos, defendia o direito à soberania dos países das Américas. O lema
da Doutrina Monroe “A América para os americanos” simbolizava o apoio dos Estados Unidos aos princípios da não-intervenção e da não-colonização dos
países do Novo Mundo.
James Monroe
Na Europa, após a queda de Napoleão, foi constituída a Santa Aliança, que foi um acordo entre alguns países europeus que se opunham ao
reconhecimento da independência de qualquer ex-colônia. Ao mesmo tempo, as recém-independentes repúblicas da América não queriam reconhecer a
independência do Brasil, pois se opunham à forma monárquica do governo brasileiro.
A Inglaterra interessava-se na manutenção dos tratados comerciais de 1808 e 1810, assinados por D. João VI, e que eram extremamente vantajosos para
os ingleses. Porém, a questão que mais incomodava a Inglaterra era a escravidão que continuava a existir no Brasil. Os ingleses se opunham à escravidão no
Brasil porque o trabalho escravo tornava a cana-de-açúcar brasileira mais barata que a produzida nas Antilhas inglesas por trabalhadores assalariados. O
mercado internacional preferia a cana brasileira – por ser mais barata – e isso prejudicava a produção das colônias inglesas. Portanto, desde 1810, os ingleses
tentavam eliminar o tráfico de escravos.
A Inglaterra, que foi a mediadora nas negociações pelo reconhecimento da independência brasileira, utilizou-se dessa sua posição para obter vantagens
comerciais e políticas. Portugal, encontrando-se em difícil situação econômica e dependendo do apoio econômico e político da Inglaterra, logo reconheceu a
independência brasileira no ano de 1825. Ao abrir mão do Brasil, Portugal recebeu uma indenização de dois milhões de libras.
O Brasil não possuía dois milhões de libras para compensar Portugal por sua independência. Mas Portugal tinha uma dívida alta com os ingleses. A
Inglaterra emprestaria dinheiro ao Brasil para pagar Portugal, e este saldaria parte de sua dívida com os ingleses. O Brasil pagaria a dívida e os juros
decorrentes dela, o que atrelou o Brasil à Inglaterra durante o século XIX.
A Inglaterra procurou preservar os privilégios comerciais que havia conseguido em 1810. Em 1827, foi assinado um tratado que estabelecia que o tráfico
de escravos no Brasil seria extinto até o fim do ano de 1830. O tratado também estabelecia taxas alfandegárias preferenciais para os ingleses. No entanto, a
entrada de artigos brasileiros similares aos produzidos nas colônias inglesas não seria permitida no mercado interno inglês. De todas as clausas do acordo, essa
foi a que mais prejudicou a economia brasileira.
Esse tratado agravou a situação econômica no Brasil, o que resultou numa queda ainda maior no apoio da população a D. Pedro I.
A decadência do Primeiro Reinado
Os três séculos de colonização portuguesa resultaram numa grave crise econômica no Brasil que se agravou após a independência. Os lucros de
investimentos estrangeiros realizados no Brasil não permaneciam no país.
Em 1825, a Inglaterra exportava para o Brasil a mesma quantidade de mercadorias que exportava para todas as suas outras colônias americanas juntas. A
indústria brasileira não tinha como se desenvolver, uma vez que os importados da Inglaterra eram mais baratos e de melhor qualidade que os produtos
manufaturados no Brasil. A concorrência estrangeira arruinou as poucas indústrias existentes no Brasil.
No início do século XIX, a beterraba passou a substituir a cana na produção de açúcar. O Brasil perdeu parte de seu mercado açucareiro por causa disso.
Os grandes senhores de terra no Brasil foram muito prejudicados.
Paralelamente, o Brasil perdia mercado para as exportações de arroz e algodão dos Estados Unidos. O comércio de couro do Brasil foi também
prejudicado pela exportação do mesmo pelos países da bacia do Prata.
A crise econômica brasileira tornava-se ainda mais grave devido à cobrança de altos juros sobre os empréstimos estrangeiros que eram pagos com novos
empréstimos. A baixa taxa alfandegária praticada no Brasil não resultava em arrecadações suficientes para cobrir o déficit da nação. D. Pedro não conseguia
tirar o país da grave situação econômica e foi perdendo prestígio por causa disso.
Além de motivos econômicos, a perda de parte de terras brasileiras ao sul contribuiu para o declínio do Primeiro Reinado. A Província Cisplatina, que
havia sido anexada ao Brasil durante o período joanino, sempre lutava para obter sua independência. No ano de 1825, Lavalleja, líder revolucionário uruguaio
que contava com o apoio da população local, declarou a Cisplatina incorporada à atual Argentina.
Em dezembro de 1825, o Brasil enviou tropas para defender a sua posse da Cisplatina. O conflito durou três anos. Em 1828, a Cisplatina conquistou a sua
independência e tornou-se a República Oriental do Uruguai. Esse episódio tornou-se conhecido como a Questão Cisplatina.
A derrota na Cisplatina aumentou a crise financeira do Império e fomentou a insatisfação dos brasileiros em relação a D. Pedro I - o “imperador
português”. Os brasileiros estavam descontentes com os privilégios dispensados aos interesses portugueses no Brasil, principalmente no comércio externo. Os
proprietários de terra estavam preocupados com o acordo com D. Pedro havia feito com a Inglaterra, concordando em abolir o tráfico de escravos para o
Brasil.
A abdicação de D. Pedro
Foram vários os motivos que causaram a abdicação de D. Pedro: a dissolução da Assembléia Nacional Constituinte, que se opusera às suas tendências
absolutistas, a aproximação do imperador com os portugueses, a violenta repressão à Confederação do Equador, a grave crise econômica e a Questão
Cisplatina.
Em 1826, faleceu D. João VI. O herdeiro natural do trono era seu filho, D. Pedro, que em Portugal seria D. Pedro IV. D. Pedro não sabia se devia
permanecer no Brasil ou voltar a Portugal e assumir o trono. A dúvida do imperador preocupava os brasileiros. Se D. Pedro se tornasse rei de Portugal, era
possível que ele tentaria recolonizar o Brasil. D. Pedro finalmente decidiu abdicar da Coroa portuguesa e sua filha Maria da Glória, de sete anos, foi indicada
por ele como a sucessora ao trono português.
D. Miguel, irmão de D. Pedro, que reivindicava o trono para si, deu um golpe que resultou numa guerra civil em Portugal. D. Pedro passou a utilizar
dinheiro brasileiro para manter sua filha no trono português. O Brasil, que já atravessa uma difícil fase econômica, era obrigado a enviar fundos para uma luta
que ocorria na antiga metrópole. Todos os jornais de oposição da época criticaram essa atitude de D. Pedro.
Essa oposição da imprensa foi duramente reprimida. Em 1830, o jornalista Líbero Badaró foi assassinado. Não foi comprovada a participação do
imperador no assassinado do jornalista, mas ele se omitiu em apurar os responsáveis pelo crime e foi duramente criticado por isso.
A província de Minas Gerais era um núcleo de oposição a D. Pedro. Uma revolta na província parecia ser iminente e D. Pedro resolveu viajar até lá para
tentar recuperar o apoio dos mineiros. Mas D. Pedro foi muito mal recebido pela população de Minas Gerais. O povo não foi às ruas para receber o imperador
e as ruas vazias continham inúmeras faixas de luto pela morte do jornalista Líbero Badaró. D. Pedro antecipou sua volta.
Para tentar compensar pelo fiasco da visita de D. Pedro a Minas Gerais, os portugueses do Rio de Janeiro decidiram organizar uma grande recepção para
ele. A festa foi organizada pela sociedade secreta absolutista Colunas do Trono, que era formada por portugueses que apoiavam a re-colonização do Brasil. Os
brasileiros, descontentes com as honrarias dispensadas a D. Pedro, saíram às ruas e se confrontaram com os portugueses. Esse episódio, ocorrido em 12 de
março de 1831, passou a ser chamado de Noite das Garrafadas.
Pressionado por tantas manifestações de revolta, D. Pedro criou o Ministério dos Brasileiros. Mas no dia 5 de abril, o novo ministério foi demitido por ter
se recusado a reprimir manifestações populares. O monarca criou então o Ministério dos Marqueses, que foi integrado por membros do Partido Português. O
povo brasileiro, enfurecido com essa decisão do imperador, reuniu-se no Campo de Aclamação, atual Campo de Santana. Até mesmo a guarda pessoal de D.
Pedro aderiu à manifestação.
D. Pedro não tinha outra escolha a não ser abdicar. No dia 7 de abril de 1831, ele abandonou o trono brasileiro, deixando-o para seu filho Pedro que,
tendo apenas cinco anos de idade, foi entregue aos cuidados de José Bonifácio.

D.Pedro I voltou para a Europa onde faleceu em 1834. Sua renúncia encerrou o período que é conhecido como o Primeiro Reinado (1822-1831).
3º Ano
Aula 34 - A República Oligárquica – Parte I

Presidente Prudente de Morais


O governo de Prudente de Morais (1894-1898)
A oligarquia cafeeira não controlava a presidência do Brasil, que era ocupada pelos militares, mas ocupava os mais importantes cargos legislativos pelo
Partido Republicano Paulista. No ano de 1893, os cafeicultores paulistas fundaram o Partido Republicano Federal (PRF), de âmbito nacional, com o objetivo
de lançar a candidatura de um político civil para a presidência.
Havia dois principais grupos rivais entre os republicanos: os representantes da oligarquia cafeeira e os florianistas. Apesar de suas diferenças, ambos
pertenciam ao Partido Republicano Federal.
Para a insatisfação dos florianistas, Prudente de Morais concorreu à presidência pelo Partido Republicano Federal, e venceu. O primeiro civil a ser eleito
presidente tomou posse no Palácio do Itamarati; porém, apenas um representante do governo anterior foi recebê-lo.
A administração do novo governo foi bastante cuidadosa e favorecia medidas políticas que pudessem trazer a paz e unificar os diferentes grupos
republicanos. O novo presidente aceitou homens de confiança do Marechal Floriano para ocupar cargos importantes dentro do governo. Todavia, estava claro
que o governo favorecia os interesses da oligarquia, especialmente da burguesia cafeeira paulista.

Incentivando a indústria no Brasil


No final do século XIX, o governo brasileiro passou a incentivar a expansão industrial nacional e fez isso ao conceder crédito para a importação de
maquinário. Foram estabelecidas tarifas para proteger a indústria local dos bens industrializados importados de países estrangeiros.
Esse incentivo à industrialização não agradou as oligarquias rurais, que desejavam que os recursos do governo fossem utilizados para seu benefício. Além
disso, eles exportaram bens agrícolas e utilizaram os rendimentos para comprar produtos manufaturados que eram importados para o Brasil. Os impostos
adicionais tornavam a aquisição desses produtos importados ainda mais difícil.
Enquanto o preço do café no mercado internacional caía, a oligarquia cafeeira brasileira tentava fazer o governo tomar medidas que protegeriam seus
interesses.
As desavenças entre os florianistas e as oligarquias rurais agravaram-se durante os dois últimos anos de governo de Prudente de Morais. A pacificação
conquistada na Revolução Federalista no Rio Grande do Sul ajudou o presidente no início de seu governo, mas Prudente adoeceu exatamente quando a
situação em geral no Brasil – incluindo a econômica – começou a melhorar.
Prudente de Morais deixou a presidência e foi substituído por seu vice, Manuel Vitorino, que era um representante dos florianistas. Pouco antes de
Prudente de Morais deixar a presidência, irrompeu a Revolta de Canudos. O fracasso de Vitorino em solucionar o conflito permitiu o retorno de Prudente de
Morais ao poder.
As medidas econômicas que haviam sido adotadas para solucionar as dificuldades do país somaram-se a essa crise. As desavenças entre os florianistas e a
oligarquia cafeeira ficaram mais nítidas: era evidente que o Partido Republicano Federal não poderia mais conter ambas facções.
A crise foi solucionada nos últimos meses de 1897, graças a alguns fatores. Prudente de Morais sofreu um atentado: um suboficial do exército atirou
contra ele quando inspecionava suas tropas vitoriosas em Canudos. O tiro atingiu fatalmente o Ministro da Guerra, Marechal Bittencourt.
Este atentado à vida do presidente permitiu com que ele declarasse um estado de sítio. E assim, com total poder, Prudente voltou-se contra seus
adversários e assegurou o controle absoluto da oligarquia cafeeira sobre o país. Em 17 de dezembro de 1897, ele promulgou um decreto que aboliu as políticas
protecionistas, reduzindo tarifas em 25%. Algumas tarifas chegaram a sofrer reduções de até 80%.

A Guerra de Canudos

Cena do filme – “Guerra de Canudos”


No final do século XIX, o latifúndio e a monocultura caracterizavam a estrutura rural brasileira, especialmente no Nordeste. Quando as usinas açucareiras
foram abertas no Nordeste, milhares de camponeses foram expulsos de suas terras. Ao mesmo tempo, uma grande seca e o crescimento significativo na
exploração da borracha resultaram em uma grande migração do Nordeste para a Amazônia.
Para enfrentar a miséria, a fome e a exploração resultantes da estrutura latifundiária, os nordestinos formavam grupos de cangaceiros e jagunços, ou
seguiam líderes religiosos. Primeiramente, os cangaceiros e jagunços haviam protegido os coronéis, mas muitos se uniram para lutar contra os donos do poder,
ameaçando poderosos latifundiários.
As seitas religiosas fundadas na época eram uma forma de consolo muito procurada pelos nordestinos. Os líderes religiosos pregavam que as pessoas
deveriam dar mais importância às suas almas que ao seu bem-estar físico; seus ensinamentos místicos apelavam àqueles que achavam os ideais do catolicismo
espiritualmente insatisfatórios.
Em 1893, no arraial de Canudos, no sertão da Bahia, no Vale do Rio Vaza-Barris, formava-se uma comunidade de fiéis seguidores do beato Antônio
Conselheiro, que pregava a salvação. Circulando desde 1876 pelo sertão do Nordeste, rezando, pregando e liderando grupos de pessoas para consertar igrejas e
cemitérios, o beato atraiu uma multidão de fiéis que, em 1893, se assentou no vilarejo abandonado. Em pouco mais de dois anos, cerca de 20 mil
desafortunados de todo tipo passaram a habitar o local.
Os moradores do arraial mantinham pequenas plantações e criações de animais. A maior parte do que produziam era consumido ali, e o restante era
vendido para as cidades vizinhas; desta forma conseguiam dinheiro para adquirir bens que não eram produzidos pelo arraial. Eles organizaram grupos armados
para proteger a sua comunidade; um dos comandantes de destaque da comunidade foi Pajerú, que liderou duas vitórias sobre as forças do governo.
À medida que Canudos crescia, a Igreja perdia fiéis e os latifundiários perdiam trabalhadores. Em 1896, um incidente deu início ao fim trágico de
Canudos. Antônio Conselheiro mandou seus adeptos comprarem tábuas na cidade de Juazeiro, para cobrir uma nova igreja, mas os comerciantes locais
recusaram-se a entregar a madeira. O beato ordenou que um grupo de fiéis fosse buscá-las. Temerosos, os comerciantes se dirigiram ao destacamento militar
de Juazeiro e acusaram o pregador de monarquismo, pois ele, acostumado ao antigo regime – onde não havia separação entre Estado e Igreja – não aceitava
que os cemitérios deixassem de ser locais sagrados e fossem administrados pelas autoridades civis, como previa a nova Constituição republicana.
O governo da Bahia organizou duas expedições para destruir o núcleo de Canudos. A primeira foi liderada pelo Tenente Manuel Pires Ferreira, com 100
homens. Esta expedição foi derrotada em grande parte devido à estratégia de Pajerú e João Abade, que organizaram o movimento de resistência dos sertanejos.
A segunda expedição, liderada pelo Major Febrôncio de Brito e composta por 550 homens, também foi derrotada. Os jagunços jogavam-se contra as tropas
invasoras e tomaram suas armas.
Na capital do Rio de Janeiro e em outras cidades, espalhavam-se as notícias sobre Canudos, que eram contadas de acordo com a visão dos latifundiários.
Para justificar o fracasso, os derrotados exageraram a força do inimigo, caracterizando-o como ameaça à República.
Uma terceira expedição foi organizada, sob liderança do Coronel Moreira César, que morreu em combate e cujos homens foram derrotados. O problema
foi passado para o Ministro da Guerra, Carlos Bittencourt, que preparou uma quarta expedição consistindo de 10 mil homens fortemente armados. Após três
meses de cercos e equipados com canhões, os soldados invadiram o arraial.
Canudos resistiu, mas toda a população foi dominada e morta pelas tropas do governo. Sem água e sem comida, os moradores de Canudos foram abatidos
a tiros de canhão e fuzil. Milhares de pessoas no arraial foram executadas, inclusive mulheres e crianças; não foi levado nenhum prisioneiro. O Conselheiro
morreu de fome, poucos dias antes do ataque final, durante o qual foram fuziladas as últimas quatro pessoas vivas da vila arrasada. Enquanto isso, no Rio de
Janeiro, o presidente organizava celebrações para a sua vitória sobre Canudos.
Entretanto, a opinião pública sobre Canudos começou a mudar, principalmente devido à heróica resistência do povo do arraial. Os alunos da Faculdade de
Direito da Bahia recusaram-se a celebrar a vitória do governo e exigiram explicações pelo fato de não ter sido feito nenhum prisioneiro. Rui Barbosa criticou o
governo no Senado, e posteriormente, Euclides da Cunha denunciou em seu livre, Os Sertões, o grande massacre realizado em Canudos.
O governo de Campos Sales (1898-1902)

Presidente Campos Salles


O presidente que sucedeu Prudente de Morais foi Manuel Ferraz de Campos Sales, um republicano que havia sido governador de São Paulo. Sua vitória
nas eleições agradou a oligarquia rural, principalmente a oligarquia cafeeira paulista.
Campos Sales não concordava com os ministros da Fazenda dos governos da República da Espada. Ele afirmava que as tentativas de industrialização
nacional resultaram em conflitos sociais e econômicos, e em caos. Campos Sales declarou que o país deveria importar todos os bens que eram produzidos
melhor pelos estrangeiros do que tentar produzi-los no Brasil. Sua intenção era claramente a de que o Brasil se especializasse na exportação de produtos
agrícolas e minerais: algodão, açúcar, cacau, borracha e, principalmente, o café. Ao mesmo tempo, o país importaria bens manufaturados, assim como
maquinário e ferramentas.
Este objetivo econômico obviamente foi saudado pelos países industrializados. Campos Sales e seu Ministro da Fazenda, Joaquim Murtinho,
suspenderam a ajuda à indústria nacional e, novamente, o Brasil abriu suas portas aos bens manufaturados estrangeiros. O país permaneceu uma nação
agrícola, o que agradava aos outros poderes estrangeiros da época.
Quando Campos Sales foi eleito presidente, a situação econômica brasileira era crítica: a inflação crescia enormemente, enquanto o preço do café decaía
muito no mercado internacional. A economia brasileira beirava a falência, e parecia impossível que o país pudesse pagar sua enorme dívida externa.
O Ministro da Fazenda Joaquim Murtinho acreditava que só era possível solucionar os problemas econômicos do Brasil através de medidas drásticas,
incluindo cortar os créditos para a indústria, não emitir mais papel-moeda, aumentar os impostos existentes e criar novos impostos. Para diminuir a inflação,
ele também planejou reduzir os gastos públicos, incluindo o salário de funcionários. Entretanto, essas medidas antiinflacionárias resultaram nos assalariados
perdendo seu poder de aquisição. Nem mesmo os cafeicultores ficaram satisfeitos com essas medidas. Até então, eles haviam compensado as baixas de preço
do café no mercado internacional (que era calculado em libras inglesas) por meio da desvalorização da moeda nacional no mercado interno. Com a nova
política econômica do governo, essa estratégia inflacionária passou a ser controlada.
Mesmo antes de assumir a presidência, Campos Sales havia viajado para a Europa para negociar com os credores do Brasil. Ele fez um acordo com
banqueiros ingleses que ficou conhecido como o funding-loan, segundo o qual o Brasil poderia tomar um empréstimo de 10 milhões libras esterlinas dos
britânicos; os juros somente começariam a ser amortizados dentro de 3 anos e a dívida só começaria a ser paga 13 anos após assinado o acordo, com um prazo
de 63 anos para ser liquidada. Ao mesmo tempo, o governo tiraria de circulação da economia brasileira a mesma quantia em dinheiro que havia sido
emprestada, para diminuir a quantidade de dinheiro em circulação e, assim, diminuir a inflação.
Que garantias o Brasil oferecia em troca pelos empréstimos? Toda a renda da alfândega do Rio de Janeiro e, se necessário, das outras alfândegas também,
assim como as receitas da Estrada de Ferro do Brasil e do serviço de abastecimento de água do Rio de Janeiro.
As medidas econômicas passadas por Campos Sales beneficiaram algumas regiões do Brasil, enquanto prejudicava outras. Estes conflitos foram
refletidos politicamente. Campos Sales não tinha intenções de governar com um Congresso hostil ou com a insubordinação dos governos estaduais. O
presidente conseguiu levar adiante seu governo impopular – impedindo a subida dos militares ao poder e os conflitos entre os estados – graças a um esquema
de troca de favores entre os políticos municipais, estaduais e federais.
No Brasil agrário, os latifundiários mantinham o poder político; eram eles, com seus agregados e dependentes, que organizavam grupos armados e
resolviam conflitos locais pelo uso de força. Esses coronéis interferiam na escolha dos governadores estaduais, pois o voto, na época, não era secreto. Em
troca, o governador eleito utilizava o dinheiro público conforme a vontade dos coronéis: escolas, pontes e estradas eram construídas exatamente nas regiões em
que esses latifundiários exerciam poder.
Nos estados de São Paulo, Minas Gerais, Rio Grande do Sul e Bahia, os fazendeiros mais poderosos articulavam-se para controlar o respectivo partido.
Os dois partidos mais poderosos eram o Partido Republicano Paulista (PRP) e o Partido Republicano Mineiro (PRM), de onde eram indicados os candidatos à
presidência da República. Esse arranjo político – um jogo de cartas marcadas – entrou para a história com o nome de “política dos governadores”. Campos
Sales foi eleito conforme esse esquema. Por isso, seu governo favoreceu as oligarquias que o elegeram. Em contrapartida, o presidente exigiu que as
oligarquias formassem um Congresso Nacional submisso.
Os grandes proprietários rurais de São Paulo e Minas Gerais foram os que mais se beneficiaram com a política dos governadores. Eles monopolizaram o
poder; eles se revezavam na presidência – um presidente era paulista, o próximo mineiro, e assim por diante. Este sistema ficou conhecido como a política do
café-com-leite.
Em assuntos de política externa, Campos Sales solucionou a questão de fronteira do estado do Amapá. Desde a Era Colonial, a França reivindicava
aproximadamente 26 mil km² na região Norte, na fronteira com a Guiana Francesa. A disputa foi mediada pelo governo suíço, e sua decisão favoreceu o Brasil,
que era representado pelo Barão do Rio Branco. A maioria do curso do Rio Oiapoque foi estabelecida como limite natural entre o Amapá e a Guiana Francesa.
O governo de Rodrigues Alves (1902-1906)

Presidente Rodrigues Alves


Graças ao café, São Paulo havia se tornado o estado mais rico do Brasil; era o único que tinha uma economia diversificada em atividades industriais e
comerciais. Entretanto, os paulistas não tinham poder suficiente para governar o país sozinhos.
Os cafeicultores paulistas se aliaram aos fazendeiros mineiros – produtores de leite – com quem tinham inclusive laços de parentesco, para dividir a
administração governamental do Brasil. Esse acordo político, conhecido como a política do café-com-leite, consolidou-se na gestão do presidente paulista
Rodrigues Alves, cujo vice foi o mineiro Afonso Pena.
Francisco de Paula Rodrigues Alves foi nomeado pelo presidente Campos Sales. Como seu antecessor, o presidente Alves era um grande proprietário de
terras de São Paulo e havia sido Ministro da Fazenda durante o governo de Prudente de Morais. Ao controlar as oligarquias regionais, Campos Sales não teve
dificuldades em eleger seu candidato, que contou com o apoio do Partido Republicano Paulista e pelo Partido Republicano Mineiro.
Rodrigues Alves governou o Brasil durante o ciclo da borracha. Lucros resultantes da exportação deste produto, assim como os empréstimos estrangeiros
– resultado da política econômica de seu antecessor – ajudaram-no a investir no setor público. Enquanto isso, o prefeito do Rio de Janeiro, Pereira Passos,
apoiado pelos planos do presidente, decidiu fazer do Rio a mais bela e impressionante cidade do país. Porém, ele executou tudo de forma irresponsável e mal-
planejada: desapropriou terras, derrubou casas para alargar as ruas e construiu praças, tornando a cidade num caos cheio de desabrigados. O prefeito recebeu o
apelido de “Bota-Abaixo”.
Enquanto Pereira Passos demolia casas, o médico sanitarista Osvaldo Cruz tentava sanear a cidade, e instituir a vacinação obrigatória para combater a
varíola e a febre amarela. O povo, já revoltado com a perda de suas casas devido à ambição de Pereira Passos, demonstrou insatisfação com a política de
vacinação obrigatória.
Durante quatro dias, os populares do Rio de Janeiro enfrentaram a polícia: enquanto gritavam “abaixo a vacina”, eles cometiam atos de vandalismo e
revidaram os disparos da polícia. A Revolta da Vacina refletia a insatisfação geral do povo do Rio com as diversas medidas que haviam sido instituídas pelo
governo e que eles julgavam ser prejudiciais. Mas nem mesmo a Revolta da Vacina comprometeu o programa de obras da cidade, que atingiu seu apogeu nas
décadas de 1920 e 1930.
Os militares que favoreciam o florianismo e se opunham a Rodrigues Alves tentaram usar esta insatisfação popular para organizar um golpe, que foi
liderado por Lauro Sodré. O governo reagiu ao declarar um estado de sítio. Apoiado pelas tropas de São Paulo e Minas Gerais, reprimiu violentamente a
revolta. A vacinação passou a ser opcional.
Durante o governo de Rodrigues Alves, foi implantada a política de valorização do café. Reagindo à queda no preço do produto no mercado
internacional, São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro firmaram o Convênio de Taubaté, segundo o qual o governo compraria café para reduzir sua oferta no
mercado (e assim aumentar os preços). O governo iria manter este café, e vendê-lo apenas quando surgisse uma oportunidade vantajosa.
O presidente Rodrigues Alves não concordou com as propostas do Convênio de Taubaté, pois, se fossem implementadas, causariam com que a dívida
externa brasileira aumentasse e toda a nação seria obrigada a pagar os prejuízos dos cafeicultores. Mas o vice-presidente Afonso Pena prometeu sustentar o
preço do café se fosse eleito. De fato, ele foi eleito, tornando-se presidente da República ainda em 1906.
Quanto à política externa do governo de Rodrigues Alves, o Barão de Rio Branco, que havia negociado com sucesso as fronteiras do Amapá, trabalhou
para anexar o Acre ao território brasileiro.
O Acre era uma província boliviana, porém muitos nordestinos viviam lá e trabalhavam na extração de látex. O Brasil começou a reivindicar a região. Em
1903, foi assinado o Tratado de Petrópolis, segundo o qual a Bolívia receberia dois milhões de libras esterlinas em troca pelo Acre. Além disso, o governo
brasileiro concordaria em construir a Estrada de Ferro Madeira-Mamoré, permitindo que a Bolívia tivesse uma saída para o Oceano Atlântico, pela Bacia do
Amazonas.
O governo de Afonso Pena (1906-1909)
Presidente Afonso Pena
Rodrigues Alves foi sucedido pelo conselheiro Afonso Augusto Moreira Pena, sob indicação do Partido Republicano Mineiro. Os paulistas, que haviam
indicado Bernardino de Campos, foram derrotados.
Durante o mandato de Afonso Pena, o governo federal implementou a política de valorização do café. O governo comprou toda a safra do produto para
armazená-lo e vendê-lo quando terminasse a crise, a preços mais altos. Para prosseguir com o plano, a administração de Afonso Pena tomou mais empréstimos
da Inglaterra. Ainda assim, estava claro que a burguesia cafeeira usava seu poder para fazer com que o governo federal agisse segundo seus desejos.
O novo presidente também procurou desenvolver a indústria e autorizou o início da imigração japonesa.
Em 14 de junho de 1909, o presidente Afonso Pena faleceu e o vice-presidente Nilo Peçanha assumiu o governo.

You might also like