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A colonização do Brasil foi economicamente baseada no cultivo da cana-de-açúcar. O açúcar, originário da Ásia, foi trazido para a Europa pelos
árabes e pelos participantes das Cruzadas. Durante a Idade Média, o açúcar era considerado um bem de luxo e seu preço era, conseqüentemente, bastante alto.
Em razão de suas grandes navegações, Portugal povoou algumas ilhas do Atlântico e iniciou, nas ilhas de Madeira, Açores e Cabo Verde, a cultura da
cana-de-açúcar. Portugal tinha o objetivo de comercializar a cana em grande escala. Já no século XV, a produção de açúcar no arquipélago da Madeira tornara-
se bastante lucrativa para Portugal e para seus sócios - os comerciantes e banqueiros de Flandres.
A experiência nessas ilhas levou os portugueses a tomar a decisão de criar uma lavoura canavieira no Brasil. Existiam, porém, outras e mais
importantes razões para os portugueses fazerem do açúcar o ponto-chave de sua colonização do Brasil. Uma dessas razões era o clima quente e úmido e o solo
de massapé do litoral nordestino que era ideal para o plantio da cana-de-açúcar. Outra razão era que os portugueses estavam interessados apenas em cultivar
um produto que fosse bastante consumido na Europa. O açúcar estava em grande demanda na Europa. Isso foi o fator decisivo que levou os portugueses a
implantarem a cultura de cana-de-açúcar no Brasil.
Quando as nações européias exploravam novas colônias, elas buscavam regiões que eram ricas em recursos naturais. Elas instalavam uma feitoria e
adquiriam bens a baixos preços. No Brasil, porém, esse sistema não poderia funcionar.
Os problemas da colonização
A montagem de um sistema produtor de bens numa área tão afastada de Portugal implicaria a necessidade de enormes recursos financeiros para a
implantação, aqui, de tecnologia, populações e implementos necessários para criar um fluxo permanente de bens destinados ao consumo do Velho Continente.
Portugal, na época, ou não detinha tais recursos, ou não conhecia meios efetivos de canalizar a poupança interna para uma tão ousada iniciativa. Isso
pressupunha, portanto, a vinda de investimentos internacionais, que deveriam ser atraídos para uma área - o Brasil - amplamente desconhecida e de alto risco
para o investidor. Em suma:
O primeiro problema para a colonização do Brasil: Investimento inicial - destituído de poupança interna, Portugal precisava atrair a poupança
externa.
Para interessar os investidores estrangeiros, o Reino português teria de escolher um produto que satisfizesse às seguintes condições: a existência de
mercado para ele na Europa; capacidade de ampliar mercados; relativa experiência de Portugal em sua produção e comercialização e, por fim, que fosse um
gênero adequado às condições ambientais do Brasil.
O segundo problema para a colonização do Brasil:
A escolha do produto - o gênero a ser escolhido deveria: ter mercados na Europa; ampliar mercados; ser produzido e comercializado por Portugal; ser
adaptado à ecologia americana.
Outro obstáculo à colonização do Brasil era a questão do transporte. De fato, a marinha lusitana, em função do grande número de perdas de
embarcações na “rota oriental”, encontrava-se bastante abalada. Além disso, era crescente o número de navegadores e construtores navais portugueses que,
famosos por seus conhecimentos técnicos, eram atraídos para outros países europeus em função dos elevados salários que a eles eram oferecidos. Impunha-se,
por conseguinte, o apoio de uma frota estrangeira.
O terceiro problema para a colonização do Brasil:
A questão do transporte - o relativo enfraquecimento da marinha portuguesa demandava o suporte de navios estrangeiros.
Por fim, outro problema a ser resolvido era o da mão-de-obra, já que a colonização não poderia se apoiar no trabalho assalariado, pelo alto custo
que acarretaria à produção e por total incompatibilidade do regime de trabalho livre com as normas mercantilistas de exploração colonial. Com efeito, a
existência de um regime de trabalho assalariado no Brasil implicaria a criação de um mercado consumidor local, gerador de produção interna, o que provocaria
o enriquecimento da própria colônia, desviando capitais que deveriam ser acumulados na Metrópole.
O quarto problema para a colonização do Brasil:
A mão-de-obra - as necessidades de exploração econômica da área colonial por parte da metrópole impossibilitavam o trabalho assalariado, pelo seu alto
custo e pelo fato de provocar a prosperidade da própria colônia.
Todos os problemas que obstavam a colonização tiveram uma solução açucareira.
No início do século XVI, nenhum gênero agrícola extra-europeu conhecia ampla comercialização
no interior do Velho Mundo. O principal produto da terra – o trigo – era abundante no próprio continente, o que tornava sua importação desnecessária.
Além disso, os fretes marítimos eram bastante elevados, em virtude dos riscos que envolviam o transporte à longa distância: somente bens manufaturados e as
caras e exóticas especiarias orientais podiam comportá-los. Inúmeros eram, pois, os obstáculos e custos do empreendimento agrícola em território americano,
fato que não era ignorado por nenhum empresário europeu.
A colonização do Brasil, em seus momentos iniciais, consistiu basicamente, na montagem de um sistema produtor de açúcar. Os portugueses, nessa
época, já eram os maiores produtores mundiais dessa apreciada especiaria. Assim, aproveitando sua experiência açucareira nas ilhas atlânticas, Portugal
implantou em nosso país uma solução semelhante, o que, além de propiciar a solução de inúmeros problemas técnicos relacionados com a produção de açúcar,
fomentou o desenvolvimento em Portugal de uma indústria de equipamentos para os engenhos.
Contudo, a maior vantagem do empreendimento açucareiro português ocorreu no campo comercial. Numa primeira fase, o açúcar lusitano entrou nos
tradicionais canais de troca, controlados pelos mercadores das cidades italianas. Nas últimas décadas do século XV, porém, o produto sofreu uma sensível
baixa de preço, indicando que as redes comerciais dominadas pela burguesia da orla mediterrânea não se ampliaram na medida requerida pela expansão da
produção açucareira. Por outro lado, houve também nesse período uma crise de superprodução, pois dentro dos estreitos limites mercantis estabelecidos pelos
negociantes da Península Itálica, o açúcar não podia ser absorvido senão em escala relativamente limitada.
Mas, sem dúvida, a principal conseqüência da entrada da produção portuguesa no mercado foi a ruptura do monopólio de acesso às fontes de produção,
mantido até então pelos venezianos. Assim, desde cedo, o açúcar lusitano passou também a ser encaminhado para Flandres, e, em 1496, quando a coroa
portuguesa, em função da baixa do preço, decidiu restringir a produção, quase metade desta já era enviada para os portos flamengos.
O capital mercantil e financeiro holandês foi fator fundamental para o êxito da colonização do Brasil. De fato, os flamengos, acostumados ao comércio
intra-europeu, possuíam recursos e uma sofisticada organização comercial, o que possibilitou criar um mercado de grandes dimensões para o açúcar brasileiro.
Até o século XVI, época em que o açúcar de nosso país começou a surgir nos mercados mundiais, este gênero ainda apresentava características de especiaria.
Pequeno volume, peso reduzido, alto valor unitário e consumo diminuto. Enquanto o açúcar estivera nas mãos de produtores árabes e comerciantes italianos,
ele foi um “presente de reis”. Com efeito, tal era seu preço que príncipes, quando se casavam, recebiam açúcar como parte do dote matrimonial. Pessoas de
alto poder aquisitivo utilizavam-no como remédio, quando acometidas por doenças graves, já que o açúcar é um poderoso energético. Como já observamos, foi
a produção lusitana nas ilhas atlânticas que permitiu, simultaneamente, uma relativa ampliação do mercado e uma queda no preço açucareiro. No final do
século XV, a Europa Ocidental já estava bem abastecida do produto, o que começava a provocar crises de superprodução e uma política de desestímulo aos
novos plantios. Por conseguinte, a implantação da cana-de-açúcar no Brasil só seria possível se novos mercados fossem criados. Essa foi a grande tarefa do
capital comercial holandês, que, além de ampliar o consumo no oeste da Europa, levou o gênero para a Europa Central e Oriental. Pode-se dizer, portanto, que
o açúcar perdeu sua condição de especiaria e se tornou um gênero de consumo corrente graças aos esforços flamengos.
A contribuição holandesa para a colonização brasileira não se limitou apenas ao aspecto mercantil: os capitalistas holandeses financiaram, em grande
parte, a implantação do sistema produtor em nosso país, além de tomar parte no tráfico negreiro. Realmente, a experiência técnica dos portugueses na
produção de açúcar não era suficiente para levar adiante a colonização do Brasil: a capacidade comercial e o poder financeiro dos holandeses tornaram viável o
empreendimento. Em suma, o papel holandês para criar a realidade agrícola brasileira consistiu em:
O capital holandês na colonização do Brasil:. financiamento dos sistemas produtores implantados em nosso território;2. montagem de uma grande rede de
distribuição comercial açucareira em todo continente europeu;3. suporte naval - ajudando a trazer escravos e, pouco a pouco, assumindo o monopólio do
transporte açucareiro para a Europa, os navios holandeses, graças aos lucros dos fretes, ajudaram ainda mais a acumulação de capital gerado pelo açúcar
brasileiro nos Países Baixos, descapitalizando Portugal.
À luz de tudo que dissemos, pode-se afirmar que o negócio açucareiro do Brasil, no século XVI e início do XVII, não foi brasileiro e nem
português; foi fundamentalmente holandês.
Porém, essa aliança econômica de Portugal com a Holanda promoveu o povoamento do Brasil e permitiu que Portugal garantisse seu controle sobre
todo o território brasileiro. Além disso, todos os navios que partiam para o Brasil eram obrigados a partir de portos portugueses e todos os navios que vinham
do Brasil tinham que fazer uma escala em Portugal. O governo português cobrava imposto sobre qualquer transação comercial feita com o Brasil. Os
portugueses não lucraram tanto quanto os holandeses, que comercializavam o açúcar, mas essa aliança econômica ajudou a aliviar os problemas econômicos
de Portugal.
A produção açucareira no Brasil Colonial
O sistema produtor açucareiro implantado no Brasil foi juridicamente baseado no regime de concessão de sesmarias. Interessado em excluir camadas
médias e populares da colonização brasileira, já que o interesse era a grande produção destinada ao mercado europeu, Portugal só concedia terras às pessoas
detentoras de grandes capitais, quer próprios, quer obtidos em bancos holandeses. De fato, pela “Lei das Sesmarias”, só podia obter propriedade fundiária
quem tivesse posses para cultivá-las. O caráter aristocrático da posse agrária no Brasil data do início da colonização. É por esse motivo que, até hoje,
conhecemos problemas agrários em nosso país. Na realidade, o “movimento dos sem-terras” não é recente, data dos primórdios da colonização. Efetivamente,
nos momentos iniciais do processo colonizatório, a pequena propriedade – o minifúndio, apoiado no trabalho individual ou familiar de pequenos agricultores –
não teve condições para se desenvolver. Inúmeros obstáculos impediram a formação, em nosso país, de uma comunidade de pequenos e médios proprietários.
1. O trabalho livre de pequenos agricultores autônomos, cultivando suas próprias terras, não possibilitava o desbravamento de um território
virgem e de penetração extremamente difícil.
2. A existência de minifúndios entrava em contradição com o caráter mercantilista da empresa colonizatória (o propósito real do esforço de
colonização era a montagem de zonas produtoras de gêneros primários para os mercados externos. A pequena propriedade, em função de seus
recursos limitados, acarretaria, inevitavelmente, uma produção orientada para a subsistência dos próprios lavradores. Isto significaria a negação
radical da finalidade do antigo sistema colonial: a acumulação de capital das economias centrais e metropolitanas).
3. Os pequenos proprietários não dispunham de recursos suficientes (a instalação de um engenho de açúcar – equipamento técnico
indispensável ao sucesso da colonização – exigia um volume de capital inacessível ao pequeno lavrador).
4. Não havia mercados para o pequeno produtor (o simples lavrador não atingia o mercado externo, ao qual se destinava a produção açucareira;
o mercado interno no Brasil Colônia quase não existia, principalmente porque o latifúndio, a grande unidade econômica dos tempos coloniais,
produzia o necessário para seu consumo interno, pouco dependendo de fornecimentos exteriores).
5. As tribos indígenas eram hostis (o latifúndio dispunha de recursos para formar um forte contingente de homens armados que o defendessem
contra os ataques dos selvagens; a pequena propriedade, ao contrário, era presa fácil para os índios).
A lógica da colonização mercantilista abafou o pequeno lavrador; na realidade, a pequena propriedade foi esmagada pelo latifúndio. Fundamentalmente,
os minifundiários foram vítimas de uma pressão real por parte do latifúndio, além de discriminados por uma legislação opressora. Inúmeros obstáculos
jurídicos impediram os lavradores independentes de se dedicarem para produtos ao alcance de seus pequenos recursos. Um bom exemplo disso: a fabricação
de aguardente exigiria, somente, engenhos de baixo custo. Como tal produção desfalcava os grandes engenhos da cana de que necessitavam, Portugal, pelo
Alvará de 1570, proibiu a fabricação de “pinga”. Como bem observa o historiador Caio Prado Júnior, o “aristocrático açúcar matou a democrática aguardente”.
Dessa maneira, o latifúndio, ao eliminar a pequena propriedade, tornou-se a base da colonização do Brasil. No primeiro século da ocupação e valorização do
Brasil, praticamente inexistiu qualquer tipo de produção urbana. A indústria e o comércio, atividades características das economias citadinas, dependiam da
exploração do solo. Modestos mascates ambulantes, que percorriam os latifúndios e as poucas vilas em busca de escassos fregueses, efetuavam as diminutas
transações comerciais. Olarias, carpintarias e serrarias estavam concentradas, em escalas muito reduzidas, às áreas das grandes fazendas. No século XVI e
XVII, as vilas brasileiras não podiam ser chamadas de realidades urbanas.
Ao instalar uma área produtora açucareira no Brasil, o mercantilismo – que inicialmente pretendera a mera circulação mercantil – desdobrou-se numa
nova fase de seu desenvolvimento. Nesse contexto, o capital mercantil assumiu uma dupla função: a de produtor, mantendo, contudo, seu caráter de
controlador da circulação de mercadorias e capitais. Em resumo, a colonização do Brasil teve um sentido mercantilista. E essa lógica impôs a “plantation”
como modo de produção típico das áreas periféricas submetidas aos ditames do antigo sistema colonial.
As características da plantation:
Conceito de plantation
Objetivo explorador - a produção colonial, voltada para os mercados europeus, buscava complementar as economias metropolitanas e acelerar a
acumulação primitiva de capital em mãos da burguesia mercantil européia.
Carência do mercado interno - a lógica mercantilista e os entraves jurídicos à pequena propriedade impediram o desenvolvimento da produção e
do comércio internos.
Produção latifundiária - como a meta básica da produção colonial era suprir a demanda externa, só interessava ao capital comercial a exploração
agrícola em grande escala.
Monocultura - as zonas produtoras coloniais dedicavam-se à elaboração de um só produto. Como o capital comercial se interessava, no Brasil,
apenas pela venda de açúcar em grandes quantidades, os investimentos realizados na colônia não podiam fomentar, de maneira dispersiva, várias
atividades agrícolas. Dessa forma, o mercantilismo, no início dos Tempos Modernos, criou uma verdadeira divisão mundial do trabalho, reservando a
cada área periférica a exclusividade na produção de um determinado gênero.
Produção em dois eixos - um eixo dinâmico gerador de renda – o exportador (no caso do Brasil, o açucareiro) – e um outro voltado à produção
básica de subsistência (em nosso país, fundamentalmente a pecuária).
Mão-de-obra escrava - a adoção do trabalho escravo impedia a formação de um mercado interno e, conseqüentemente, o surgimento de um setor
da população colonial voltado para a produção de artigos de consumo estritamente local. Assim, o escravismo vedava a possibilidade de as rendas
geradas pelo aparelho produtor periférico permanecerem na própria colônia. Impedindo o processo de acumulação de capital no interior das regiões
coloniais, as burguesias metropolitanas asseguraram-se a exclusividade dos lucros. Além disso, também se optou pela implantação do escravismo
negro na América, devido à existência do tráfico de africanos, empreendimento comercial de alta rentabilidade. Os setores da camada mercantil
européia, ligados ao comércio escravista, pressionavam para que se impusessem formas compulsórias de trabalho em todas as áreas coloniais: assim,
eles continuariam desfrutando dos lucros exorbitantes proporcionados pelo tráfico negreiro. Os altos preços que o produtor colonial pagava pela
“mercadoria” africana sangravam ainda mais os parcos capitais retidos na colônia, desviando-os para a Europa. O tráfico negreiro estava, assim,
inserido na própria lógica do mercantilismo, que preconizava o fortalecimento das economias metropolitanas.
Transferência de capital gerado pela produção para a esfera da circulação - durante o capitalismo mercantil, todo e qualquer sistema produtor,
quer europeu, quer colonial, tinha função precípua de se inserir na órbita da circulação de mercadorias. Nessa fase inicial do capitalismo, a circulação
comandava a produção.
Funções tripartites - no Brasil colônia, o capital comercial holandês investiu na produção e cuidou da circulação; o latifúndio se especializou na
produção açucareira e a Metrópole Lusitana se ocupou da administração, da tributação e, em termos econômicos, do tráfico negreiro, com relativo
apoio flamengo.
Sociedade colonial - basicamente bipolarizada: senhores de engenho e latifundiários, de um lado, e escravos, na base da sociedade. A lógica
mercantilista de colonização praticamente excluiu camadas médias, que dependeriam da eventual existência de um mercado interno colonial.
2º Ano
D.Pedro I voltou para a Europa onde faleceu em 1834. Sua renúncia encerrou o período que é conhecido como o Primeiro Reinado (1822-1831).
3º Ano
Aula 34 - A República Oligárquica – Parte I
A Guerra de Canudos