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SousaARTIGO

AMOP &DEAlves RRN et al.


REVISÃO

A neurociência na formação
dos educadores e sua contribuição
no processo de aprendizagem
Anne Madeliny Oliveira Pereira de Sousa; Ricardo Rilton Nogueira Alves

RESUMO - O artigo apresenta-se como forma de investigar como se


processa a aprendizagem no cérebro, haja vista a necessidade de mé­todos
didáticos que criam condições para que o aluno avance no seu pro­cesso
de aprendizagem. Essa pesquisa teve a finalidade de aprofundar co­nhe­
cimentos teóricos e práticos da neurociência com relação aos processos
mentais na formação do sujeito. Buscando explorar sua compreensão para
que assim possa proporcionar aos professores capacitação, esta possibilita­rá
de forma qualitativa a inserção de seus alunos na cultura letrada. Já que
essa cultura não acontece de modo espontâneo, exigindo a mediação com
intencionalidade pedagógica do professor, proporcionando a interação
constante e significativa dos alunos com os diferentes suportes e práticas
de oralidade de leitura e escrita. Portanto, esse estudo desenvolveu uma
re­visão de literatura científica em artigos publicados entre janeiro de 2004
a janeiro de 2014, na base de dados Bireme (Biblioteca Virtual em Saúde),
além de livros, para a estruturação conceitual e referencial teórico do artigo.
O período do estudo transcorreu de dezembro de 2013 a fevereiro de 2014.
Dessa forma, a pesquisa buscou verificar a interferência do co­nhecimento
da neurociência na formação dos educadores do sistema de en­sino da
educação básica. O artigo trouxe a compreensão que esse estudo por
parte dos educadores faz-se necessário, pois a neurociência considera o
conhecimento das funções cerebrais como peça chave para o estímulo de
um desenvolvimento cognitivo saudável.

UNITERMOS: Neurociência. Neuropsicologia. Associação. Educadores.


Formação Continuada. Capacitação de Professores. Estratégia de Adaptação.

Anne Madeliny Oliveira Pereira de Sousa – Pedagoga, Correspondência


psicopedagoga e especializando em Neuropsicolo­ Anne Madeliny Oliveira Pereira de Sousa
gia – Unichristus, Fortaleza, CE, Brasil. Rua Leda Porto Freire, 455 – Bloco A, apto 1412 – Parque
Ricardo Rilton Nogueira Alves – Psicólogo. Especialista Iracema – Fortaleza, CE, Brasil – CEP 60824-020
em Neuropsicologia pelo Centro Universitário Christus, E-mail: annemadeliny@gmail.com
Fortaleza, CE, Brasil.

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Neurociência no processo de aprendizagem

INTRODUÇÃO velha concepção instrucionista (métodos tradi-


A Neurociência é conceituada como uma área cionais) da docência. Necessitam de profundas
que estuda o sistema nervoso central (SNC) e mudanças.
suas ações no corpo humano1. Está presente em A sociedade atual está diretamente relaciona-
diferentes campos do conhecimento e interfere da aos avanços tecnológicos quanto ao acesso às
em diferentes áreas como a Linguística e Medi- informações, seja de fatos, seja de conhecimentos
cina, entre outras. Segundo Malloy-Diniz et al.2, a e técnicas, o que gera a necessidade de uma edu-
Neuropsicologia é um dos ramos da Neurociência cação que vise uma cultura de aprendizagem que
que se preocupa com a complexa organização propicie uma formação adequada a essa nova rea­
cerebral, que trata da relação entre cognição e lidade. O principal desafio da educação é a com-
comportamento e a atividade do SNC em con­­ plexidade do processo de ensino-aprendizagem,
dições normais e patológicas; sendo assim, a pois para seu desenvolvimento e aperfeiçoamento
Neu­­­ropsicologia é de natureza multidisciplinar, faz-se necessário um sistema educacional demo-
e que permite a elaboração de um estudo prático crático e atualizado que assuma o compromisso
do cérebro, contribuindo para diagnósticos pre- de fomentar um cenário real de aprendizagem,
coces e precisos das patologias e de alterações atendendo as exigências da sociedade moderna.
das funções cerebrais superiores. A partir desse aspecto é essencial definir obje-
Compreendendo que, na educação, a Neuro- tivos, metas estratégicas e o plano de ação que
ciência busca entender como o cérebro aprende tal sistema deve possuir para alcançá-los. Já
e como o mesmo se comporta no processo de que garantir o desenvolvimento do potencial
aprendizagem, são definidos métodos para iden- cog­nitivo de cada educando é um requisito para
tificar como os estímulos do aprendizado podem certificarmos o desenvolvimento de capacidades
chegar neste órgão central. Sabe-se que os estados e habilidades necessárias para a participação
mentais são provenientes de padrões de ativida- efetiva do mesmo na sociedade.
de neural, então, a aprendizagem é alcançada O Plano Nacional da Educação5, projeto de
por meio da estimulação das conexões neurais, lei aprovado em 2010, apresenta dez diretrizes
que podem ser fortalecidas dependendo da objetivas e 20 metas. Uma destas, a de número
qualidade da intervenção pedagógica1. 15.7, visa “Promover a reforma curricular dos
Segundo Pantano & Zorzi3, o estudo da Neu- cursos de licenciatura de forma a assegurar o foco
rociência considera o conhecimento das funções no aprendizado do estudante, dividindo a carga
cerebrais como peça chave para o estímulo de um horária em formação geral, formação na área do
desenvolvimento cognitivo saudável. Sabendo saber e didática específica” (p. 44).
que o cérebro se reorganiza constantemente, em Mediante novas diretrizes, observa-se a afirma-
acordo com os estímulos externos, o desafio é fa­ ção de Freire6, em que o educador é um profissio-
cilitar a absorção do estímulo correto e positivo. nal da aprendizagem, um profissional do sentido,
Os autores comentam que os primeiros mecanis- um organizador da aquisição do co­­nhecimento
mos para tal absorção são a atenção e a memória. e não uma máquina reprodutiva instrucionista.
Em razão dessas concepções neuropsicológi- As mudanças de ordem estruturais propõem,
cas, faz-se necessário verificar a visão de Gadotti4; dentre muitos aspectos, novos métodos de ensino
este afirma que a qualificação do professor é es- centrados na aprendizagem do aluno; uma nova
tratégica quando se refere à educação de qualida- concepção de trabalho docente com capacidade
de. Contudo, encontrar os parâmetros adequados para fomentar, provocar no aluno aprendizagem
para essa qualificação é algo complexo. Visto significativa, habilidades de pensamento refle-
que tanto os conteúdos quanto a metodologia xivo e crítico.
dos cursos de formação dos professores são Nesse sentido, os estudos científicos sobre
geralmente ultrapassados, são baseados numa o cérebro, que avançam de forma acelerada,

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podem contribuir para a renovação teórica na pensa e se expressa pelo corpo não é levada em
formação docente, ampliando seus conhecimen- consideração pela escola. Desse modo, nota-se a
tos com informações científicas fundamentais ideologia que separa corpo e mente, enfatizan-
para compreender a complexidade do processo do os aspectos cognitivos distanciados em sua
de ensino-aprendizagem. O estudo da Neuro- complexidade. Em função da pouca contestação,
ciência considera o conhecimento das funções a escola não está habituada a considerar as re­
cerebrais como peça chave para o estímulo de lações entre o corpo e os processos que envolvem
um desenvolvimento cognitivo saudável. o aprender e o ensinar.
Fundamentada na obra de Fonseca7, a educa- A intervenção pedagógica se faz necessária
ção cognitiva tem como finalidade proporcionar para o desenvolvimento do sujeito, já que con-
ferramentas psicológicas que permitam maxi- duzir uma sala de aula requer competências
mizar a capacidade de aprender a aprender, básicas que não podem ser desconsideradas. Ser
aprender a pensar e refletir, aprender a transferir educador exige saber, saber fazer, e, sobretudo,
e generalizar conhecimentos, aprender a estudar saber ser. A competitividade do mundo contem-
e a comunicar-se. Todo aluno tem o direito de porâneo, as novas tecnologias que surgem em
desenvolver cada vez mais seu potencial cog- espaços curtos de tempo, provocam a busca por
nitivo. Esta obra contempla a proposta do russo uma aprendizagem contínua e satisfatória10.
Luria, que enfatiza a organização neuropsicoló- Numa concepção vygotskiana, a atividade men-
gica da cognição. tal madura envolve uma autorregulação adapta-
Na concepção de Luria (1903-1978), o cérebro tiva, que se desenvolve por meio de interações
é um sistema biológico que está em constante in- sociais. Nessa ótica, a escola desempenha um
teração com o meio, ou seja, as funções mentais papel central para ajudar o educando a descobrir
superiores são desenvolvidas durante a evolução como prestar atenção, se concentrar e aprender
da espécie, da história social, e do desenvolvi- satisfatoriamente11.
mento de cada indivíduo. Pode-se dizer que se A aprendizagem começa com o processo neu­
tem aqui o conceito de plasticidade cerebral. r­omaturacional e, portanto, o aprendizado escolar
Compreendendo-se que o cérebro humano faz parte da evolução normal do ato de aprender.
possa revitalizar (neuroplasticidade), têm-se O avanço dos estudos da Neurociência é de suma
outras possibilidades para trabalhar o processo importância para o entendimento das funções
de ensino e aprendizagem, já que o cérebro é corticais superiores envolvidas no processo da
di­nâmico, tem a capacidade de mudar em res- aprendizagem, haja vista que o sujeito aprende
posta aos desafios da sociedade moderna. Essa por meio de modificações funcionais do SNC12.
visão permite mudanças nas ações dos educa- Diante das colocações acima e do reconhe-
dores compreendendo que nada é determinante, cimento das implicações do funcionamento do
podendo-se obter resultados cada vez melhores cérebro, com suas estruturas e regiões como
a partir de novas práticas pedagógicas. lo­­bos e sulcos no processo de aprendizagem, que
A atividade docente é prática social comple- ainda não são levadas em consideração em muitos
xa, que combina conhecimentos, habilidades, estudos de formações para educadores, é que se
atitudes, expectativas e visões de mundo condi- ressalta a importância de desenvolver um estudo
cionadas pelas diferentes histórias de vida dos que contribua para a capacitação dos profissionais
professores. É, também, bastante influenciada da educação. Tal proposta tem o intuito de for-
pela cultura das instituições onde se realiza8. talecer e enriquecer o conhecimento de como a
Gonçalves9 alerta sobre o discurso do pro- aprendizagem se processa no cérebro, e assim
fessor que prima por uma aprendizagem sem o colaborar de forma participativa numa formação
corpo, em que o conhecimento se dá de forma de qualidade, principalmente para os educadores
descontextualizada. A maneira como a criança do sistema de ensino da educação básica.

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Neurociência no processo de aprendizagem

Considerando as concepções acima, perce- tes, em que o mesmo valoriza a ação pedagógica
be-se a importância do conhecimento por parte e a intervenção, além de considerar que é a
dos educadores de como se processa a cons- aprendizagem que promove o desenvolvimento10.
trução da aprendizagem no cérebro, já que tais Na visão de Vygotsky13, autor russo de funda­
co­nhe­cimentos poderão proporcionar estratégias mentação marxista, o aprendizado é um aspecto
e metodologias eficazes para uma aprendizagem necessário e fundamental para que as funções
satisfatória. Frente às novas concepções do tra- psi­cológicas superiores se estabeleçam. O indiví-
balho docente, surge a necessidade de respostas duo desenvolve-se, em parte, graças à maturação
a novos desafios. O saber fazer na área de atuação
do organismo individual, mas é o aprendizado
do educador fala da habilidade da comunicação:
que provoca a interiorização da função psíquica.
Qual a linguagem de acesso para facilitar a com-
Portanto, entender o porquê da criança não apren-
preensão dos conteúdos? Que recursos podem
der implica em analisar como se dá o processo
ser mobilizados para fazer do conteúdo uma
aprendizagem significativa? inverso, ou seja, como ela aprende. A obtenção de
A partir desses questionamentos, foi desen­ sucesso no processo de aprendizagem está ligada
volvida uma revisão de literatura científica em à integração do objeto e material a ser aprendido
artigos publicados entre janeiro de 2004 e janeiro em uma atividade que faça sentido para a criança
de 2014, com base em dados de Bireme (Biblio- e que envolva objetos que ela possa perceber.
teca Virtual em Saúde), além de livros, para a É também importante que ela se sinta atraída
es­truturação conceitual e referencial teó­rico do para os elementos que precisam ser assimilados.
artigo. Dessa forma, o estudo buscou verificar a É pouco provável a existência de sucesso median-
interferência do conhecimento da Neurociência te metodologias que envolvem apenas o pedir
na formação dos educadores do sistema de en- que se preste atenção, que se concentre, estude
sino da educação básica. O período do estudo ou lembre. Crianças pequenas podem se concen-
transcorreu de dezembro 2013 a fevereiro de trar e lembrar-se de ações das quais elas foram
2014, restringindo-se a busca a artigos escritos protagonistas, mas precisarão com frequência do
na língua portuguesa, sendo utilizados como suporte de um assistente com mais conhecimento
palavras-chave os termos “neurociência”, “neu- e destreza intelectual11.
ropsicologia”, “aprendizagem significativa”, Para idealização de métodos eficazes de instru-
individualmente e associados.
ção das crianças em idade escolar, relacionados
ao conhecimento sistemático, faz-se necessário
RESULTADOS E DISCUSSÃO
entender o desenvolvimento dos conhecimen­tos
Foram identificados 593 artigos. Destes, 558
científicos no interior da criança, assim como
foram excluídos por não atenderem aos critérios
compreender o que acontece no cérebro infantil e
de inclusão. Na realidade 35 foram selecionados
os conceitos científicos que lhe ensinam na escola,
por tema e resumo, sendo que apenas 24 foram
lidos na íntegra e analisados. A maioria das pu- além da relação entre assimilação da in­formação
blicações científicas selecionadas foi publicada e o desenvolvimento interno de um conceito cien-
em 2010. Essa pesquisa desencadeou em uma tífico na consciência da criança13.
subdivisão do tema proposto a ser revisado. O Segundo Vygotsky13, um conceito é algo mais
pre­sente artigo ficou dividido em três subtópicos, do que a soma de certas ligações associativas
que seguem abaixo. formadas pela memória; é mais do que um sim-
ples hábito mental: é um complexo e genuíno
1. A TEORIA VYGOTSKIANA E A NEURO­ ato de pensamento que não pode ser ensinado
CIÊNCIA COMO FERRAMENTA DA APREN- apenas pela repetição permanente. Na verdade,
DIZAGEM. só pode ser realizado quando o próprio desen-
Na teoria de Vygotsky, as relações entre de­sen­ volvimento mental da criança tiver atingido o
volvimento e aprendizagem são pontos importan- nível necessário.

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A expansão dos conceitos pressupõe o de­ tências cognitivas, mediante a formação de con-
sen­volvimento de muitas funções intelectuais: ceitos e desenvolvimento do pensamento teórico,
atenção deliberada, memória lógica, abstração, como também os meios pelos quais os alunos po-
capacidade para comparar e diferenciar, entre dem melhorar e potencializar sua aprendizagem.
outras. Esses processos psicológicos complexos Refere-se ao saber como fazer, para estimular as
não podem ser dominados somente através da capacidades investigadoras dos alunos, ajudan-
aprendizagem inicial. A experiência prática do-os a desenvolver competências e habilidades
mostra que é impossível ensinar os conceitos de mentais. Portanto, uma prática docente a serviço
uma forma direta13. de uma pedagogia voltada para a formação de
A instituição escolar tem como função traba- sujeitos pensantes e críticos deverá enfatizar em
lhar com os conceitos científicos, sistematizando suas investigações as estratégias pelas quais os
e organizando os conteúdos, pois a apropriação alunos aprendem a internalizar conceitos, com-
destes conceitos por parte do educando prepara petências e habilidades do pensar, postura para
para a formação dos seus processos psicológi- lidar com a realidade, resolver problemas, tomar
cos superiores. É um dever da escola socializar decisões e formular estratégias de ação16.
os conteúdos já elaborados pela humanidade, A concentração é um bom indicador de inte-
de forma que os alunos possam participar do resse e potencial17. O poder de concentração das
processo de humanização. Nesse processo, con- crianças é influenciado por diversos fatores, e
forme menciona Facci14, o professor tem papel apresenta um papel importante sobre o quanto as
primordial. Ele é o mediador entre o aluno e crianças aprendem e a rapidez com que o fazem.
o conhecimento, por isso, lhe cabe intervir na A capacidade de se manter em uma atividade e
zona de desenvolvimento proximal dos alunos ignorar distrações são, de fato, um sintoma da
e conduzir a prática pedagógica considerando a estrutura do intelecto da criança, e mudanças
potencialidade de cada educando. A mediação no tempo de concentração relacionam-se ao
do professor implica, necessariamente, ensinar15. desenvolvimento intelectual11.
Considerando a zona de desenvolvimento pro­ Na ótica de Blank et al.18, alguns profissionais
ximal da teoria vygotskiana, compreende-se que da educação afirmam que as perguntas dos pro-
ao chamar a atenção do educando para o que ele fessores são ferramentas poderosas para incen­
fez antes e lembrar-lhe de qual é seu objetivo tivar os alunos, crianças ou adolescentes, a ouvir
final, o educador estará ajudando a manter seu e a pensar. Contudo, para serem efetivadas, faz-se
lugar na tarefa e evitando sua submersão total necessário que sejam de caráter apropriado e no
na atividade imediata. Sendo assim, mostrar, nível de exigência correto para que os alunos se
lembrar, sugerir e elogiar serve para orquestrar beneficiem delas. Os autores18 apresentam um
e estruturar as atividades do educando sob a esquema para classificar perguntas, analisando
orientação de alguém que seja mais perito. e avaliando a fala do professor com crianças
Ao ajudar a criança a estruturar suas atividades, pré-escolares e de ensino fundamental.
nós estamos auxiliando a fazer coisas que ela não Blank et al.18 expõem a análise de algumas
pode fazer sozinha até chegar o momento em per­­guntas, por exemplo: “como isto se chama?”.
que se torne tão familiarizada com as exigências Uma pergunta relacionada a um objeto comum
da tarefa a ponto de desenvolver perícia local e implica exigências de nível relativamente “baixo”
experimentar as coisas por si só. Vygotsky afir- e permite uma faixa de respostas bastante restrita,
ma que essas atividades externas e sociais são talvez apenas uma única palavra. Outras, como:
gradual­mente internalizadas pela criança, con- “por que isso aconteceu?”, podem exigir mais
forme ela passa a regular sua própria atividade reflexão e explicação. Outras ainda, como: “o
intelectual11. que você pensa a respeito de...?”, podem não ter
É importante compreender como o ensino nenhuma resposta óbvia ou correta, mas exigir
pode impulsionar o desenvolvimento das compe- raciocínio analítico e julgamento informado.

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Sigel & McGillicuddy-Delisi19 afirmam que 2. O CONHECIMENTO DA NEUROPSI-


o uso de perguntas abertas por parte dos pais COLOGIA PARA FORMAÇÃO DOS EDU-
aos seus filhos facilita o desenvolvimento da CADORES.
educabilidade em crianças, por convidarem-nas Os educadores, ao conhecerem o funciona-
a se distanciar das consequências imediatas, de mento do sistema nervoso, podem desenvolver
curto prazo, de suas experiências. Ao desenvolver melhor seu trabalho e fundamentar sua prática
essas ações, a criança é forçada a descentralizar diária com reflexos no desempenho e na evolu­
o pensamento e a refletir sobre suas próprias ção dos educandos. Podem intervir de forma mais
atividades; em consequência, torna-se mais ana- efetiva nos processos de ensino e aprendizagem,
lítica, menos impulsiva e consegue um controle sabendo que esse conhecimento precisa ser criti-
mais efetivo de sua própria aprendizagem. camente avaliado antes de ser aplicado de forma
Para Vygotsky13, a instrução formal ou infor- eficiente no cotidiano escolar. Os conhecimentos
mal constitui o principal veículo para a transmis- agregados pela Neuropsicologia podem contri-
são cultural do conhecimento. Apenas por meio buir para um avanço na educação em busca de
da interação com os representantes vivos da melhor qualidade e resultados eficientes na vida
cultura é que uma criança pode vir a adquirir, do indivíduo e na sociedade1.
incorporar e desenvolver ainda mais esse conhe- Hardiman & Denckla21 comentam a relevân-
cimento11. As habilidades cognitivas e as formas cia do que denominaram a ciência da educação,
de estruturar o pensamento do indivíduo são re- trazendo à tona uma abordagem que vem se
sultado das atividades praticadas de acordo com consolidando nos últimos anos, especialmente
os hábitos sociais da cultura em que o indivíduo nos Estados Unidos, através de um novo campo
se desenvolve. Consequentemente, a história da multidisciplinar de conhecimento e de atuação
sociedade na qual a criança se desenvolve e a profissional nas áreas da docência e da pesquisa
história pessoal dessa criança são fatores cruciais educacional: A Neuroeducação. Para estas au-
que vão determinar sua forma de pensar13. toras, a nova geração de educadores, impreteri-
Fundamentando-se na obra de Cosenza & velmente, necessitará levar em conta o conheci-
Guerra1, as estratégias de aprendizagem que têm mento gerado por pesquisas das neurociências
mais chances de obter sucesso são aquelas que ao articular, planejar e desenvolver seus projetos
levam em conta a forma do cérebro de aprender, de ensino e de aprendizagem.
sendo importante respeitar os processos de repe- Quando se trata da aprendizagem, existem
tição, elaboração e consolidação. Como também alguns princípios e padrões comuns que podem
faz diferença utilizar diferentes canais de acesso ser adequados para todos, mas existem também
ao cérebro e de processamento da informação. situações que são específicas (individuais, resul­
A comunicação entre a comunidade de edu­ tantes da experiência vivida por cada um) e que,
cadores e a de neurocientistas precisa ser uma portanto, o educador precisa conhecer para po­der
via de mão dupla, pois estes necessitam ser relativizar ou tratar de maneira diferenciada.
envolvidos nos conflitos reais do cotidiano es- Não conseguiremos, de um momento para outro,
colar. A interação dos mesmos possibilitará o romper com uma longa tradição centrada em
surgimento de estudos e pesquisas que venham ensinar e avaliar de uma única maneira e de
avaliar o sucesso ou não de determinadas práti- forma padronizada22.
cas pedagógicas em relação ao funcionamento A formação de educadores não se limita a
neural. Sternberg & Grigorenko20 afirmam que as um aprendizado de técnicas educativas, mas
pessoas podem ser inteligentes e criativas e ainda avança no sentido de constituição dos sujeitos, o
assim agir de forma tola quando não conseguem que torna essencial a criação de modos de ser e
interagir com aspectos práticos do ambiente que fazer23. É fundamental que educadores conhe-
as cerca. çam as estruturas cerebrais como interfaces da

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aprendizagem, já que os estudos da biologia mapas corticais (representações cognitivas) que


cerebral vêm contribuindo para a práxis em sala sofrem alterações neste processo, decorrentes
de aula, para o entendimento das dimensões das experiências vivenciadas pelo sujeito.
cognitivas, motoras, afetivas e sociais, no redi- Morris & Fillenz27 relatam que a eficácia da
mensionamento do educando e suas formas de aprendizagem é influenciada pelo nosso estado
interferir nos ambientes pelos quais perpassam. emocional, já que apresentamos tendências
É importante compreender que a dificuldade para lembrarmos melhor os acontecimentos
de aprender não é uma situação isolada e que associados a experiências particularmente feli-
diversas vezes apresenta a necessidade de uma zes, tristes ou angustiantes. Como também nos
avaliação diagnóstica de especialistas para o recordamos melhor dos acontecimentos quando
tratamento das desordens do aprender. É impres- estamos atentos.
cindível entender que tal processo é sinalizado e, O cérebro mostra plasticidade neuronal (sinap-
por isso, torna-se indispensável o conhecimento togênese), entretanto, maior densidade sináptica
do educador com o objetivo de discernir os sinais não determina maior capacidade generalizada
que constantemente são manifestados em sala de aprender. Estudantes precisam sentir-se “de-
de aula12. tentores” das atividades e temas que são relevan-
O aprendizado é um processo complexo e di- tes para suas vidas. O ambiente escolar precisa de
nâmico que resulta em modificações estruturais
atividades pré-selecionadas como possibilidade
e funcionais do SNC. As alterações ocorrem a
de escolha de tarefas, que aumenta a respon­
partir de um ato motor e perceptivo, que, elabo-
sabilidade do aluno no seu aprendizado.
rado no córtex cerebral, dá início à cognição. No
Segundo De-Nardin & Sordi28, faz-se neces-
processo neuropsicológico do ato de aprender, a
sário analisar a prática pedagógica, levando a
atenção, a memória e as funções executivas as­
conscientização aos educadores da necessidade
sumem um papel de fundamental importância.
de liberar espaço na instituição escolar para
Os distúrbios atencionais e das funções corticais
vi­ven­ciar momentos que proporcionem a proble-
de percepção, planejamento, organização e ini-
matização e interações com o meio, levantamento
bição comportamental também têm sua impor-
tância no processo neuropsicológico, visto que de hipóteses, como também experiências práticas,
a memória é essencial em todos os processos de que envolvam situações de elaboração do conhe-
aprendizagem, e seus distúrbios não permitem cimento próprio do educando. O educador é me-
reter as informações24. diador e colaborador da produção da consciência
É essencial compreender que o SNC coorde- e memória, trocando a dispersão pela atenção
na as tarefas internas e externas do organismo, consciente. Para Tunes et al.29, é importante
construindo uma integração e procurando man- ressaltar que a vivência na escola perpassa por
ter o equilíbrio do sujeito com o mundo externo12. um processo significativo, despertando o de-
A ativação de uma área cortical, determinada por senvolvimento integral do indivíduo.
um estímulo, provoca modificações também em As múltiplas inteligências implicam novos
outras áreas, pois o cérebro não funciona como paradigmas para a educação, pois afirmam que
regiões isoladas. O acontecimento se dá em os alunos são construtores do seu conhecimento.
vir­tude da existência de um grande número de Nessa compreensão, o aluno deve ser conside-
vias de associações, precisamente organizadas rado em seu contexto geral, e este possui outras
atuando nas duas direções25. inteligências. O educador é o facilitador do pro-
Segundo Oliveira et al.26, o processo de apren- cesso de aprendizagem, e não um transmissor de
dizagem promove a plasticidade no momento em informações prontas. A teoria das inteligências
que ocorrem modificações estruturais e fun­cionais múltiplas afirma que existem habilidades para
nas células neurais e suas conexões. Tais modifi- compor atividades diversificadas, produzidas
cações também aparecem na representação dos por tipos diferentes de inteligência. O professor

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Neurociência no processo de aprendizagem

precisa conhecê-las para compreender a singula- candos o desenvolvimento de suas habilidades


ridade de seus alunos. Segundo Gardner30, cada de estudo, e os educadores devem se posicionar
inteligência atua por meio de sistemas neurais como mediadores e facilitadores desse proces-
distintos e independentes. so, explicando as regras do jogo, ou seja, que é
Na concepção de Cosenza & Guerra1, a edu- necessário utilizar métodos específicos para que
cação pode se beneficiar dos conhecimentos haja resultados mais eficazes.
neurocientíficos para o planejamento de suas Pode-se definir o aprendizado como a modi­
práticas pedagógicas, desenvolvendo atividades ficação de um comportamento que surge em
que fortaleçam os circuitos neuronais. Também res­­posta a uma imposição exercida pelo meio. A
pode permitir a exploração das potencialidades principal característica do aprendizado é a aquisi-
do SNC de forma criativa e autônoma, além de ção de uma determinada informação. Em animais,
sugerir intervenções significativas para melhoria essa aquisição é determinada pela intensidade
do aprendizado de seus educandos. Os conheci- dos estímulos e nos seres humanos ela também
mentos científicos agregados à educação podem está relacionada a fatores motivacionais31.
interferir de maneira mais efetiva nos processos A amígdala é um centro nervoso regulador
de ensino e aprendizagem. dos processos emocionais. Esses processos estão
envolvidos no fenômeno da motivação, que é
3. A CONTRIBUIÇÃO DA NEUROCIÊNCIA importante para a aquisição do conhecimento. As
NO PROCESSO DE ENSINO E APRENDI- emoções podem facilitar a aprendizagem, mas o
ZAGEM. estresse tem efeito contrário. O ambiente escolar
A Neurociência proporciona para os educado- bem planejado pode facilitar as emoções positivas
res novas estratégias de ensino e aprendizagem. e evitar as emoções negativas1.
Sendo assim, quando os estudantes são estimu- A motivação para a aprendizagem pode ser
lados e valorizados em sala de aula por meio de verificada por meio de observações diretas de
um método dinâmico e prazeroso, surgem alte- comportamentos, pelo julgamento de outros e por
rações na quantidade e qualidade de conexões relatos e autoavaliações. As observações diretas
sinápticas, resultando em um processo cerebral estão associadas à análise dos comportamentos
positivo, que aumenta as suas possibilidades de um estudante que poderiam ser indicativos de
de resultados eficazes. No desenvolvimento de aspectos motivacionais. Como exemplo, pode-se
ações dinâmicas relacionadas à aprendizagem, colocar o estudante de frente a algumas opções
existem diferentes maneiras de implementar de atividades e averiguar como este escolhe a
inovações de ensino, como o uso de jogos peda- tarefa, seu esforço na manutenção e realização
gógicos e didáticos, métodos de associação de da ação e a persistência frente às dificuldades
informações e imagens e atividades envolvendo ou obstáculos.
os cinco sentidos1. Algumas definições de motivação apresen-
Cosenza & Guerra1 afirmam ainda que não tadas por Pfromm32 e Pintrich & Schunk33 consi-
aprendemos tudo o que estudamos de um dia deram a importância da motivação para que uma
para o outro e muito menos o que apenas presen­ ação seja iniciada e sustentada. O envolvimento e
ciamos na sala de aula. É importante que assuntos a persistência nas tarefas escolares são essenciais
estudados possam ser examinados em diferentes e mostram adequadamente esta característica
contextos, pois a consolidação, resultante de da motivação relacionada à iniciação e à susten-
novas conexões entre as células nervosas e do tação de um comportamento33. O envolvimento
re­forço de suas ligações, demanda tempo e nu- também possibilita a aquisição de novos conheci-
trientes e, portanto, não ocorre de imediato. Com- mentos e habilidades, o que atinge a motivação,
preendendo que estudar é uma ação aprendida, aumentando o valor da atividade no futuro. Além
considera-se necessário proporcionar aos edu- disso, alunos motivados demonstram interesse

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pelas tarefas e geralmente trabalham com mais reúnem para ensinar e aprender. As interações
vontade33,34. do sujeito com o ambiente levam a modificações
Cosenza & Guerra1 alertam a respeito do uso sinápticas e ao surgimento de novas sinapses
destes conhecimentos em soluções simplistas: por reforço das conexões neurais com atividades
“Embora muitas vezes se observe certa euforia úteis. Do contrário, as ligações sinápticas pouco
em relação às contribuições das neurociências usadas tornam-se mais fracas ou desaparecem.
para a educação, é importante esclarecer que As escolhas das conexões que serão preservadas
elas não propõem uma nova pedagogia nem pro- e potencializadas dependerão dos estímulos que
metem soluções definitivas para as dificuldades o cérebro recebe27.
da aprendizagem.”. Então, estes conhecimentos Compreende-se que é importante ser seletivo
representam uma reorientação de direção e um com as informações que devemos ou gostaríamos
acréscimo para romper com os conceitos con- de processar, pois a memória de curto prazo,
servadores, historicamente cultivados sobre o muitas vezes, não consegue processar tudo que
aprender e ensinar. é exigido dela. Em alguns momentos, torna-se
Segundo a teoria de Ausubel, os conhecimen- ne­cessário limitar os estímulos e privilegiar a
tos prévios dos alunos devem ser valorizados para informação que deve ser aprendida. Lembrando
construir estruturas mentais, utilizando como que o cérebro se dedica a aprender aquilo que
meio mapas conceituais que permitem descobrir ele entende como significante1.
e redescobrir outros conhecimentos22. A melhor maneira de desenvolver aprendi-
Os pesquisadores Fenker & Schütze35 atentam zagem é fazer com que o conhecimento novo
para a importância da apresentação de novos esteja de acordo com as expectativas, e que tenha
conteúdos aos alunos, antes da exploração e le- ligações com o que já é conhecido e considerado
vantamento de conhecimentos prévios. Segundo como importante para o educando. Sabe-se que
estes pesquisadores, os conhecimentos prévios essa memória é transitória, caso não haja novas
podem e devem ser trabalhados, mas não nos ativações da mesma experiência, o aprendizado
momentos iniciais das aulas. Tais dinâmicas não é consolidado. Vale ressaltar que a apren-
podem favorecer a dispersão diante de temas já dizagem consolidada só se fará com a formação
conhecidos pelos alunos. Saberes desconhecidos e estabilidade de novas conexões sinápticas, o
ativam áreas cerebrais que melhoram significa- que requer tempo e esforço pessoal1.
tivamente a memória. Estudos indicaram que as A repetição é imprescindível no processo de
“novidades” potencializam as atividades no hi- aprendizagem, pois leva à proficiência, fazendo
pocampo, favorecendo o aprendizado e a memó- com que o sujeito torne-se fluente em determi-
ria, além de sua duração. Essas descobertas são nada área de conhecimento, além de refinar
de grande importância para a área educacional. ha­bilidades básicas e reduzir o esquecimento.
Os educadores podem utilizar tais desco- Contudo, repetir leva à desmotivação, neces­
bertas para estruturar suas aulas de forma mais si­tan­do de estratégia que disfarce sua prática e
eficaz, desenvolvendo aulas nas quais serão pro­­duza motivação para seu desenvolvimento.
apre­sentadas novas informações e, posteriormen- O educador pode trabalhar o mesmo conteúdo
te, revendo os conteúdos anteriores, em que os em contextos diferenciados, tais como: textos
alunos podem vivenciar situações que reflitam o de diversos gêneros, filmes, brincadeiras, entre
contexto da vida real, de forma que a informação outras ações. A repetição também pode ser exe-
nova se “ancore” na compreensão anterior35. cutada em tarefas avançadas e desafiadoras, da
Aprendizagem, cognição, memória e ensino qual necessitará reforçar o conteúdo anterior para
estão correlacionados e correspondem às ativi- solucionar o desafio proposto. Dessa forma, estará
dades fundamentais que ocorrem na escola. A contribuindo para o armazenamento de informa-
escola é, sobretudo, um lugar onde pessoas se ções na memória de longo prazo ou consolidando

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Neurociência no processo de aprendizagem

conhecimentos, assim como aquisições de novas algumas abordagens são mais eficientes do que
aprendizagens36. outras. Explorar as bases da aprendizagem a par-
tir da Neurociência poderá contribuir de forma
CONCLUSÃO satisfatória para responder algumas questões,
Baseado nas pesquisas e no desenvolvimento tais como: Garantir o sucesso de um currículo
do artigo, verifica-se que o pensar em “educação com­patível com o desenvolvimento cerebral;
de qualidade” faz necessária a compreensão Converter o conhecimento obtido em pesquisas
de como se dá o processo de aprendizagem no e métodos instrucionais efetivos com cenários
cérebro e a importância desse conhecimento reais; Melhorar a instrução nas disciplinas;
por parte dos educadores, pois o objetivo da Impacto de novas tecnologias no desempenho
edu­cação só é atingido se houver aprendiza­gem, escolar. O educador é o profissional que maior
e esse processo se dá em todos os ambientes impacto pode causar no sistema atual da edu-
sociais. Entretanto, é na escola que o conheci- cação e do qual muito se espera.
mento acadêmico é desenvolvido, tendo como De acordo com a Neurociência, o aprendi­
mediador desse processo o professor. Estudar zado e a memória são fases diferentes do mesmo
é um comportamento aprendido, pois não é so- mecanismo progressivo e contínuo. Sem me­
mente entender uma informação, mas, antes de mória, o aprendizado se torna impossível e, sem
tudo, saber organizá-la. Quando o educando lê aprendizado, não existe memória. Aprendiza-
para estudar, faz-se necessária a utilização das gem, memória e emoção ficam interligadas,
estratégias de aprendizagem, que são técnicas quando ativadas pelo processo de aquisição do
ou métodos que os alunos usam para adquirir a conhecimento. O desafio para a educação não
informação. Sendo assim, o educador pode im- é apenas saber como ensinar ou como avaliar,
plementar ações inovadoras, o que proporciona mas apresentar o conhecimento em um formato
ao educando o desenvolvimento de suas próprias que o cérebro aprenda melhor. Salienta-se que,
habilidades de estudo, facilitando assim a aqui- na aprendizagem, sendo esta uma atividade so-
sição de conhecimentos. cial, os alunos precisam de oportunidades para
É imprescindível que educadores conhe- discutir tópicos em um ambiente tranquilo, que
çam as estruturas cerebrais como interfaces da possibilita o encorajamento à exposição de seus
apren­dizagem e que seja sempre um campo sentimentos e ideias.
a ser explorado. Os professores conhecedores O educador tem papel fundamental na forma-
dessa realidade transformam a informação em ção do sujeito; em razão disso, é indispensável
conhecimento e o conhecimento em experiên- uma atualização contínua, uma revisão crítica de
cia. Sa­be-se que a experiência é registrada de sua atuação e de sua proposta pedagógica. No
maneira privilegiada nos solos da memória, desenvolvimento da revisão científica, percebe-se
capazes de transformar a personalidade. Por a necessidade de mais investimentos que aliem os
isso, é fundamental envolver as informações que conhecimentos da educação com as Neurociên-
transmitem para a experiên­cia de vida. cias, visto que os educadores também precisam
A Neurociência por si só não introduz novas conhecer e compreender a influência dos as-
estratégias educacionais. Ela fornece razões pectos biológicos e sociais que repercutem na
importantes e concretas, demonstrando porque aprendizagem dos seus educandos.

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Sousa AMOP & Alves RRN et al.

SUMMARY
The formation of educators in neuroscience and
their contribution in learning process

The article is presented as a way to investigate how learning processes


in the brain, given the need for teaching methods that create conditions
for the student to advance in their learning process. This research aimed to
deepen theoretical and practical knowledge of neuroscience in relation to
mental processes in the formation of the subject. Seeking to explore their
understanding so that it can provide teachers with training, this will enable a
qualitative way to enter their students in literacy. Since this culture does not
happen spontaneously, requiring mediation with pedagogical intentions of
the teacher, providing constant and meaningful interaction of learners with
different media and practices of oral reading and writing. Therefore, this
study developed a scientific literature review of articles published between
January 2004 and January 2014, in the database Bireme (Virtual Health
Library), as well as books for the conceptual and theoretical framework
structuring the article. The study period was uneventful December 2013
to February 2014. Accordingly, the research analyzes the interference of
neuroscience knowledge in teacher training in the educational system of
basic education. Article brought to understand that the study of the educators
is necessary because neuroscience considers knowledge of brain functions
as key to stimulating a healthy cognitive development.

KEYWORDS: Neuroscience. Neuropsychology. Association. Faculty.


Education, Continuing. Teacher Training. Adaptation, Psychological.

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Trabalho realizado no Centro Universitário Christus, Artigo recebido: 1/9/2017


Fortaleza, CE, Brasil. Aprovado: 12/9/2017

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