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Kant a Os PengadoréS Kant “Confesio francamente: a lem- branga de David Hume fot justamente ‘0 que hd muitos anos interrompeu pe- fa pe vez meu sono dogmaticn e dey 3s minhas pesquisas no Campo da flosofia especulativa uma dires3o completamente nove.” KANT. Prolegémenos “Toda arte falsa, toda va sabedo- fa, tem sua época: pals finalmente ela mesma se destr6l, eo apogeu de sua cultura € a0 mesmo tempo @ inicio de sus devadéncia, Que, no que diz res peito 2 metalisica, tenha chegada este momento, demonstra o estado a que ela, com ardor com que saa trabatha- das todas as demais ci€ncias, decaiy fem toclos os powas culos.” KANT: Frolegdimenos “© imperative categérico é sé um nico, que é este: Age apenas segun- do uma maxima tal que passas ao mes- mo tempo querer que ola se tore lei universal,” KANT: Fundememacdo da Meiatisica dos Costumes “No pode haver nenhuma regra de gnsto objetiva que determine por conceitos © que € belo. Pois todo jul- 20 desta fonte 6 estético: iste 6 0 senti- mento do sujeito, € nde um conceito de um objeto, seu fundamento-desée- terminagio. Pracurar um principio. do gosta, que famecesse 0 critério univer- sal do belo por conceltos devermina- das, & um empenho inutil, porque 0 que & procurado @ impossivel e em si mesmo contradit6rio.” KANT: Anaiitica de Belo Os Pensadorés CIP-Brasil, Cacalogacaio-na-Publicagio Cimara Brasileira do Livro, SP K25¢ Led, Kant, Immanuel, 1724-1804, Textos selecionados / Immanuel Kast ; selegio de soxt0s de Maile: a de Souza Chaui ; tradugées de Tania Maria Bemkop{. Paalo Quimtela, Rubens Rodrigues Tomes Filho, — 2, ed, — Sio Paulo Abril Cultural, 1983, (Gs pensadores) |. Canhecimento - Teoria 2. Critica (Filosofia) 3. Estética 4. tien $, Filosofia alemi 1. Chau, Maritena de Sousa, Ul, Rerukopf, Tania Maria, Quintela, Paulo, 1905 - IV. Tones Filho, Rubees Rodnigues, 142. 4" ‘Titulo, VI. Série. CDD-193 “LLL BS “12 “142.3 0 {dices para eatlogo sistemético: mahecimento Teoma : Filosofia 121 . Criticismo kantiano : Filosofia 142.3 . Estética = Filosofia 111,85 Etica : Filosofia 270 . Filosofia alemi 193 - Teoria do conhecimento ; Filosofia 121 eRe ae IMMANUEL KANT TEXTOS SELECIONADOS Marilena de Souza Chaui nia Maria Bernkopt, Rubens Rodrigues Torres Filho 1984 EDITOR: VICTOR CIVITA ‘Titutas originats: Protegomena 2u einer jeden kinfigen Metapkysik, dic als Wissenschat wird eyfreten komen Grundiegieng zur Mewphysik der Sitven Erne Fassung der Einicituree in de Krk der Urtileérafe Kittle der Unieitskrapi Die Religion trmerhalh dey Grencen der blossen Vernunft © Copyright desea edigao, Abril §.A, Cultura, Sto Paulo, 1980 —3.*egigto, toed, ‘Tradusio pobliceda sob licenga le Auintics Féthona, ‘Colmbes (Funciamentacaa da Metatsiea dos Castumes). Dircito exclusivus sobre as demuis undugies deste volume, ‘AbnI S.A. Cultural, Sig Paula PROLEGOMENOS Tradugdo de Tania Maria Bernkopt * Traduzido do original alemir: Prolegomena zu einer jeden Aainftigen Metaphysik die als Wissenschaft wird anftreten kSnnen, von Immanuel Kant. Riga, bey Jokenn Hartknock, 1783, Estes Prolegdmenas nfio sfo para serem utilizados por aprendizes, mas por futuros mestres c a estes devem servir. niio para ordenar a exposigao de uma cin cia j4 existente, mas para, antes de mais nada, inventarem cles mesmos esta ciéncia. Ha eruditos para os quais a histérja da filosofia (tanto da antiga como da moderna) é a sua propria flosofia; os presentes Prolegémenos nao foram escritos para eles. Bles devem esperar até que aqueles, que estao empenhados em sorver das fontes da raz’o, tenham levado a cabo sva tarefa: sé entio tera chegado a sua vez de dar a conhecer ao mundo © seu trabalho, Na opiniao deles. entretanto, nada que ja nao tenha side dite pode vir a sé-lo, 0 que de fato pode servir para uma segura previsao do futuro, pois, tendo o conhecimento humano divagado durante séculos de tal mancira sobre inumeraveis assuntos, nao deve ser dificil encontrar para cada obra nova uma antiga, que tenha algumas semelhangas com ela. Minha intensiio é a de convencer a todos aqueles que consideram valer a pena ccupar-se com a metafisica: € absolutamente necessario abandonar por enquanto seu trabalho, considerar tudo o que ja aconteceu até agora como inexis- tente ¢ antes de mais nada langar a questao: “Sera que algo como a metafisica é realmente possivel?” Se ela é uma ciéncia, como é que nao obtém, como as outras ciéncias, aplau- so unanime e duradouro? Se ela nfio é uma ciéncia, como explicar que se vanglo- rie incessantemente sob o brilho de uma ciéncia ¢ iluda o entendimento humano com esperangas nunca saciadas ¢ nunca realizadas? E necessixio, portanto, che- gar-se a.uma conclusdo segura a respeito da natureza desta pretensa ciéncia, quer isto demonstre saber ou ignorincia, pois ela nio pode permanecer por mais tempo no pé em que esta. Parece quase ridiculo que cada eigncia progrida sem Sessar, enquanto que esta, que pretende ser a propria sabedoria, cujo ordculo cada homem consulta, continue girando num mesmo circulo, sem dar um passo adiante. Também seus adeptos sz perderam ¢ nem se nota que aqueles, que se sen- tem suficientemente fortes para brilhar em outras ciéncias, queiram arriscar sua fama nesta, onde cada um, mesmo ignorante em tudo o mais, pretende ter o direi- to de formular um julgamento decisive, porque na verdade ainda nao existem neste pais medida e peso seguros para distinguir profundidade de palavreado superficial. 8 KANT Nao ¢, pois, de se admirar que, depois de ter claborado longamente uma ciéncia ¢ esteja surpreendide com os resultados, ocorra a alguém perguntar-se: & Possivel tal ciéncia e de que modo? Pois a razio humana gosta tanto de construir ue jé por indmeras vezes edificou a torre, derrubando-a depois. para verificar o bom estado de seu fundamento. Nunca ¢ tarde demais Para tornar-se racional ¢ Sibio: mas € dificil, em qualquer circunstincia, pér em ago o discernimento, se ele chega tarde. Chegar a perguntar-se se uma ciéncia & possivel pressupde que se duvide da realidade da mesma. Tal divida, porém, ofende a tados aqueles cuja riqueza con- Siste talvez justamente neste pretenso tesourg; assi Se explica que aquele que deixa transparecer esta diivida sb encontre resisténcia & sua volta. Alguns, Orgulhosamente cOnscior de seus bens, adquiridos hé muite tempo, ¢ por isso mesmo considcrados legitimos, irao, com seus compéndios metafisicos na mio, olh-lo com desdém; outros, que nunca conseguem ver algo que nao seja idéntico ao ja visto em outra parte, nao irda compreendé-lo; ¢ tudo permanecerd assim durante algum tempo, como se nada houvesse ocorrido capaz de acarrctar ou de fazer esperar uma transformagiio préxima, Do mesmo modo atrevo-me a predizer que o leitor, capaz de pensar por si Proprio. ira. a0 ler estes Profegémenos, néio x duvidar da ciéneia que possuiu até agora, mas de ficar por conseqiiéncia totalmente convencido de que tal ciéncia nao poderia ter existido sem que as exigéncias aqui expressas, ¢ nas quais se ba- seia sua possibilidade, sejam atendidas, como isto até agora nunca aconteceu, nio ha ainda uma verdadcira metafisica, Mas como a procura por ele nunca pode Ser Fenlunciada' porque o interesse da razio humana universal esta intimanente snirelagado com cla, deverd o leitor admitir que estd prestes a acontecer uma reforma completa e inevitavel, ou, mais ainda, um renascimento da metafisica segundo um plano até agora desconhecido, mesmo que se queira resistir a isto por algum tempo. Desde as tentativas de Locke ¢ Leibni ou, mais ainda, desde a criagio da metafisica, por mais longe que remonte. a sua histéria, nio houve acontecimento algum gue fosse mais decisivo em relagdo ao destino desta ciéneia do que a ok siva levada a efeito por David Hume contra ela, Ele nio trouxe luz a esta espécie de conhecimento, mas despertou uma centelha, na qual se poderia ter acendido uma luz, se ele tivesse encontrado uma mecha inflamavel, cujo arder fosse cuida- dosamente mantido e aumentado. Hume tomou como ponte de partida um Gnico mas importante conceito da metafisica, ou seja, 0 da conexdo entre causa ¢ efeito (c, por conseguinte, os con- ceitos dai derivados, de forga ¢ de aco, etc.): desafiou a razio, que pretende ter Berada este conceito em seu seio, a responder-Ihe precisamente com que dircito ela pensa que uma coisa possa ter sido criada de tal maneira que, uma vez posta, Possa-se depreender dai que outra coisa qualquer também deva ser posta; pois * Rusticus exspeotm, dum deMuat uni do A) * O.camponés aguarda, enquantiy presa a torrente: lle Labitur e¢ labecur ia omae valubilis acvum* Horieio. (N, arént, resvala rolando por wea a vida. (N. do E,) PROLEGOMENOS: 9 isso € 0 que afirma o conceito de causa. Demonstrou de mancira irrefutavel ser totalmente impossivel 4 razao pensar esta conexio w priori a partir de conceltos, pois cla encerra necessidade; nao é, pois, possivel conceber que, pelo fato de uma voisa ser, Outta coisa deva ser necessariaments ¢ como séja passivel introduzir a priori o conceito de tal conexao. A partir dai concluiu que a razZo se engana completamente com este conceito a0 considers-lo sua propria criagao, ja que cle ndo passa de um bastardo da imaginagéo, a qual, fecundada pela experiéncia, colocou certas representagdes sob a lei da associagao, fazendo passar a necessi- dade subjetiva que dai deriva, ou seja. um habito. por uma necessidade objetiva baseada no conhecimento, A partir dai concluiu que a razdo nao tem a faculdade dé pensar em tais conexdes, mesmo de um mado geral, porque seus conceitos no passariam entéo de simples ficgGes ¢ tados os seus pretensos conhecimentos a priori nao seriam mais do que experiéneias camuns mal rotuladas, o que equivale a afirmar: ndo ha em parte alguma ¢ nem pode haver uma metafisica.? Por mais precipitada ¢ incorreta que fosse sua conclusdo. haseave-se pelo menos numa investigagao, ¢ esta investigagio merecia certamente que os bons e¢- rebros de sua época se tivessem unido para dar ao problema, exposto por Hume, uma solugao talvez mais feliz, 0 que teria propiciado uma reforma total da cién- cia. Mas o destino, desde ha muito desfavoravel & metafisica, nao permitiu que Hume fosse compreendido por alguém. Nao se pode deixar de sentir uma certa pena ao verificar como seus adversirios Reid. Oswald, Beattie ¢ finalmente Pris- tley nao haviam percebido nem de longe 0 ponto crucial da questio, pois toma- vam como ponto pacifico justamente aquilo de que ele duvidava, procurando demonstrar, 20 contrario, com urdor ¢ muitas vezes com grande arrogancia, qui- Fo que Hume jamais pensara em por em divida, ignorando de tal mancira o seu aceno pura uma renovagae que tudo permaneceu no antigo estigio, como se nada tivesse ucontecido, A questdo nao era see conceito de causa era certo, util ¢ indispensavel a todo 0 conhecimento da natureza, pois isso Hume nunca colocara em davida; mas se era concebide @ priori pela rézio, tendo desta maneira uma verdade interior independente de toda experiéncia e, por conseguinte, uma utili dade mais ampla ndo limitada simplesmente aos objetos da experiéneia: a res- peito disso, esperava Hume um esclarecimento, Estava em cogitagio apenas a origem deste conceito ¢ nao sua utilidade indispensdvel; uma vez determinada esta origem, apresentar-se-iam espontaneamente as condigdes de sua utilizagdo bem como o Ambito de sua aplicagao. Mas os adversérios deste homem célebre deveriam ter penetrado, para que sua tarefa fosse satisfavoriamente cumprida, profundamente na natureza da razao enquanto ela se ccupa apenas com 0 pensameato puro, o que lhes era muito peno- 2 Mio obsjante, Hume denominou ita meima Gloss desrutiva de Mietalisiéw ¢ atrihuiu-lhe wm grande valor, “Metatisiea ¢ moral”, dix ele (Versuede, 4, parte. p. 214 dx tradugio alema}, “0 oy ramox mais importantes da clencia: a matemiaica ea clencin da naturezé no tw nem-a metade do seu valor.” Este romem perspickz viu agai apenas 4 wtilidade negative que lesin a. limitagdo dax exigenelas exageradas da ratio especulativa para sliminar controvérsias inlermindveis ¢ inoperiumis que confundem o gétero lama 189; mas perdex de vista © prejuico positive que cesuita Ge tomar Ua radio as mais importance, bayeada nas unis ela pode impor A-voniade a mais alto ojetivo ge vodas.0= suns aspiragiies, (N, do A.) 10 KANT 80. Inventaram ento um meio mais.cémodo para nao ir contra todo o conheci- mento, ou seja, apelar para o entendimenta humano comum. E de. fata uma gran- de dadiva do céu possuir uma entendimento reto (on, como recentemente o deno- minaram entendimento sadio). Mas ele deve ser provado por fatos, pelo que se pensa © se diz de refictido e racional, ¢ nao quando ¢ utilizado como ordculo, quando no se sabe dizer nada inteligente para se justificar, Apelar para o enten- dimento comum somente quando eonhecimento ¢ ciéncia chegam a seu fim,e nao antes, é uma das sutis invengdes da época moderna, com o que © mais insipido tagarela chega a afrontar, confiadamente, a mais penetrante cabeca ¢ resistir-lhe. ‘Mas enquanto houver uma parcela minima de conhecimento, ¢ oportuao resguar- dar-se de recorrer a este expediente desesperada, E visto que este apelo clara mente nada mais é do que um apelo ao ju'zo das massas: um aplauso, que faz enrubescer o filisofo, mas € objeto de orgutho ¢ triunfo para o charlatio popular, Mas eu deveria pensar, na yerdade, que Hume podia ter tanto direito de pretender Possuir sadio entendimento quanto Beattie, e além disso, algo mais, que este cer- tunente nao possuia, ou seja, uma razio critica, que delimite o entendimento comum para que ele nao se perea em altas especulagSes, ou, quando se trata ape. as destas, nilo aspire a decidir nada, porque néo consegue justificar se perante seus proprios principio: pois somente assim permanecerd um entendimento sadio. Cinzel ¢ malho podem muito bem servir para trabalhar um pedago de madeira, mas para gravar no cobre é preciso utilizar o buril. Assim slo ambos titeis, tanto 0 sadio entendimento como o entendimento especulativo, mas cada um 4 sua mancira; aquele, quando se tratam de juizos imediatamente aplicdveis a experiencia, este, porém, quando se trata de julgar de mancira geral e a partir de simples conceitos, por exemplo na metafisica, onde o sadio entendimento, como se denomina a si mesmo, muitas vezes por aritiphrasin,* nao possni absolu- tamente nenhum juizo, Confesso francamente: a lembranga de David Hume foi justamente © que h& muitos anos interrompeu pela primeira vez meu sono dogmatico e deu ais minhas Pesquisas no campo da filosofia especulativa uma diregao completamente nova, Eu estava bem Jonge de dar ouvidos a suas conclusées, que resultavam simples- mente do fato de ele nao se ter proposto sua tarefa em toda a sua amplitude, mas de ter visto apenas uma de suas partes, que, sem levar em consideragao o todo, nao pode dar informagiio alguma. Quando se parte de um pensamento ja funda- mentado, apesar de nao mais ter sido deseavolvido, que um outro nos deixou, Pode-se esperar ser possivel levé-lo, através da reflexdio, mais além do que o pers. picaz homem, a quem se deve a primeira centetha desta luz, 0 levau, Examinei em primeiro lugar, pertanto, se a objegdo de Hume nao poderia ser tomada como geral e logo descabri que © coneeito de conexfo entre causa e efeito nio ¢ de modo algum o Unico pelo qual o entendimento pensa a priori as conexdes entre as coisas, mas, muito mais do que isto, a metafisica é totalmente Constituida disso. Procurei assegurar-me de seu mimero, ¢ como isto me foi possi- * Por antiirase, ironia. (N, do E.) vel realizar conforme meu desejo, ou seja, a partir de um Gnico principio, passei a tratar da dedugao desses conceitos, 05 quais, agora tinha certeza, nao haviam sido deduzidos da experiéncia, como pensava Hume, mas originavam-se do entendimento puro. Esta dedugio, que parecia impossivel ao meu perspicaz predecessor ¢ que a ninguém ocorrera antes dele, apesar de cada um ter se servido desses conceitos com seguranga, sem nem sequer perguntar-se onde se baseava ade objetiva, esta dedugio foi, portanto, a tarefa mais ardua que jamais se empreendeu a favor da metafisica; o pior nisso foi, entretanto, que a metafisica, ou © quanto existe dela sob este nome, no podia trazer-me o minimo auxilio. pois a possibilidade de uma metafisica 85 se faz presente justamente por tal dedu- a0. Por ter conseguido solucionar o p..' ‘>ma de Hume, niio apenas em um caso Particular, mas tendo em vista todo o poder da razdo pura, s6 assim, entdo, pude avangar a passos firmes, ainda que lentos, no sentido de determinar completa- mente ¢ de acorde com principios universais o ambito da razao pura, tanto em seus limites como em seu contatido, pois isso ere a Ginica coisa da qual necessi- tava a metafisica para executar seu sistema segunde um plano seguro, Receio. porém, que acontega a exposiedo do problema de Hume, apresen- tada da mancira mais extensa possivel (a saber, 4 Crifea da Razdo Pura), o mesmo que aconteceu ao préprio problema como foi apresentado pela primi vez. Sera julgada incorretamente, porque néo & compreendida: nao sera compreendida, porque se tem prazer em folhear o livro, mas no em meditar sobre ele; nao se querera dispender tal esforgo, porque a obra é arida, obscura, Porque & contréria a todos os conccitos costumeiros e por demais pormenorizada, Confesso que no esperava ouvir de um filésofo queixas quanto 4 falta de popula- ridade, entretenimento e comodidade, quando se trata justamente da existéncia de um canhecimento de alta relevancia, indispensavel i humanidade que nao pode ser estabelecido a no ser segundo as mais estritas regras de uma exatidao justa, 4 qual se seguir, com o tempo, a popularidade, mas jamais logo de inicio. A Queixa s6 é justa no que se refere a uma certa obscuridade, causada em parte pela extensdo do plano, que ndo permite que se deixem de lado as Pontos principais, dos quais depende a investigagia ropus-me entdo a sanar esta queixa com es- tes Proleg6menos. A referica obra, que apresenta o poder dit razio pura em todo o seu Ambito ¢ limites, continua sendo sempre o fundamento ao qual estes Prulegdmenos se referem como meros exercicios preliminares; pois aquela Critica deve ser, enquanto ciéncia, sistematica © completa até os minimos detathes, antes de se pensar ¢m permitir que surja a metafisica ou ter disso a mais remota esperanga. 34 se esti hd muito tempo habituade a ver surgir como novos velhos e gastos conhecimentos, retirados de suas relagdes anteriores, ¢ dar-lhes uma indumen- taria sistemitica, sceundo um corte qualquer, mas sob novos titulos; a maioria dos leitores niio estard esperando, antecipadamente, nada além disso daquela Cf- lca. Estes Prolegcmenos, entretanto, levi-los-do a ver que esta é uma ciéncia totalmente noya, na qual ninguém antes havia pensado, da qual a simples idéia era desconhecida ¢ para a qual nada até agora pode ser de utilidade, a no ser 0

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