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Manejo e condição corporal em ruminantes

ÍNDICE
1 Introdução........................................................................................................... 6
1.1 Importância da condição corporal em ruminantes .......................................... 7
1.2 Qual o significado de condição corporal? ....................................................... 7
1.3 O ciclo produtivo e a condição corporal .......................................................... 8
2 Condição corporal em pequenos ruminantes ............................................... 12
2.1 O ciclo de produção e o escore recomendado.............................................. 12
2.2 O ciclo de produção e o escore recomendado.............................................. 14
2.3 O Flushing..................................................................................................... 20
3 Manejo e condição corporal em vacas leiteiras ............................................ 24
3.1 O balanço de energia em vacas leiteiras ...................................................... 24
3.2 O Período seco ............................................................................................. 26
3.3 O início da lactação ...................................................................................... 27
3.4 Alterações metabólicas e funções reprodutivas............................................ 28
3.5 O período de serviço..................................................................................... 29
3.6 O método de avaliação da condição corporal............................................... 30
3.7 Literatura....................................................................................................... 33
4 Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras........................... 36
4.1 O sistema de escore de condição corporal na prática .................................. 36
4.2 Avaliação de vacas com escore de condição corporal inferior a 3................ 40
4.3 Avaliação de vacas com escore de condição corporal acima de 3 ............... 44
4.4 Esquemas explicativos para avaliar o ECC .................................................. 46
5 Manejo e condição corporal em vacas de corte ............................................ 50
5.1 Introdução ..................................................................................................... 50
5.2 O ciclo de produção ...................................................................................... 50
5.3 Fatores que afetam as exigências de vacas de corte ................................... 52
5.4 Condição corporal da vaca ........................................................................... 53
5.5 A orientação dos resultados de pesquisa ..................................................... 57
5.6 Literatura....................................................................................................... 60
6 Avaliação visual da condição corporal em vacas de .................................... 63
6.1 A avaliação da condição corporal em gado de corte .................................... 63
6.2 A condução do processo de avaliação ao longo do ano............................... 69

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Manejo e condição corporal em ruminantes

LISTA DE FIGURAS
Figura 1 - Estágio do ciclo de produção ......................................................................8
Figura 2 - Prioridade de nutrientes no corpo ...............................................................9
Figura 3 - Como avaliar o ECC..................................................................................10
Figura 4 - Prática de manejo com uso da mão. .........................................................12
Figura 5 - Condição 1 (Emaciado). ............................................................................15
Figura 6 - Condição 2 (Magra)...................................................................................16
Figura 7 - Condição 3 (Média). ..................................................................................17
Figura 8 - Condição 4 (Gorda)...................................................................................17
Figura 9 - Escore 3. ...................................................................................................18
Figura 10 - Escore 1. .................................................................................................19
Figura 11 - Escore 5. .................................................................................................19
Figura 12 - Escore 2. .................................................................................................20
Figura 13 - Escore 4. .................................................................................................20
Figura 14 - Exigências energéticas, consumo de energia, balanço energético,
variação no ECC e fertilidade em vacas leiteiras ao longo do ciclo de produção......25
Figura 15 - Restrição de energia na dieta e modulação da função reprodutiva em
vacas. ........................................................................................................................29
Figura 16 - Áreas específicas de avaliação. ..............................................................36
Figura 17 - Demais áreas específicas de avaliação. .................................................37
Figura 18 - Formação de V pelo ângulo formado entre as extremidades dos ossos. 37
Figura 19 - Destaque para a formação do V pelo ângulo formado entre as
extremidades dos ossos. ...........................................................................................38
Figura 20 - Formação de U pelo ângulo formado entre as extremidades dos ossos.38
Figura 21 - Destaque para a formação do U pelo ângulo formado entre as
extremidades dos ossos. ...........................................................................................39
Figura 22 - Vaca angular V........................................................................................39
Figura 23 - Vaca arredondada U. ..............................................................................40
Figura 24 - Tuberosidade ilíaca arredondada ECC=3. ..............................................40
Figura 25 - Tuberosidade ilíaca angular ECC≤2,75...................................................41
Figura 26 - Tuberosidade isquiática arredondada ECC<2,75....................................41
Figura 27 - Ísquio angular ECC<2,75. .......................................................................42
Figura 28 - Avaliação da cobertura de gordura. ........................................................42
Figura 29 - Avaliação da cobertura de gordura. ........................................................43
Figura 30 - Avaliação da visibilidade dos processos transversos..............................43
Figura 31 - Avaliação da visibilidade dos processos transversos..............................44
Figura 32 - Visibilidade dos ligamentos. ....................................................................45
Figura 33 - Visibilidade dos ligamentos. ....................................................................45
Figura 34 - Visibilidade dos ligamentos. ....................................................................46
Figura 35 - Esquema do corte transversal.................................................................47
Figura 36 - Resumo dos 5 pontos auxiliadores ao escore. Edmonson ET AL. (1989).
...................................................................................................................................48
Figura 37 - Exigência de energia da vaca. ................................................................51
Figura 38 - Exigência de energia da vaca. ................................................................53
Figura 39 - Sistema de produção de gado de corte...................................................56

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Manejo e condição corporal em ruminantes

Figura 40 - Efeito dos dias para o parto na produção de alimentos necessários para
atingir o ganho diário desejado para uma vaca com 500kg de peso vivo saindo de
ECC4 para ECC5. Adaptado de Buskirket Al. (1992).Ganho diário desejado (kg/dia).
...................................................................................................................................59
Figura 41 - O que olhar? Onde olhar?. ......................................................................63
Figura 42 - Vaca emaciada........................................................................................64
Figura 43 - Vaca muito magra. ..................................................................................64
Figura 44 - Vaca magra. ............................................................................................65
Figura 45 - Vaca magra para condição moderada. ...................................................66
Figura 46 - Vaca em condição moderada..................................................................66
Figura 47 - Vaca em condição boa. ...........................................................................67
Figura 48 - Vaca em condição muito boa. .................................................................68
Figura 49 - Vaca obesa. ............................................................................................68
Figura 50 - Vaca muito obesa....................................................................................69

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Manejo e condição corporal em ruminantes

LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Escore ideal para cada fase do ciclo produtivo de ovelhas e cabras. ......13
Tabela 2 - Concentração de gordura, proteína e energia no vazio de ovinos em
diferentes escores de condição corporal. ..................................................................15
Tabela 3 - Período de flushing necessário em função do ECC. ................................21
Tabela 4 - Energia líquida de lactação perdida ou depositada, para vacas em
diferentes ECC e com diferentes pesos, quando perdem ou ganham peso..............28
Tabela 5 - Relação entre perda de ECC nas primeiras 5 semanas após o parto e
reprodução. ...............................................................................................................30
Tabela 6 - Recomendações do escore corporal para cada estágio da lactação
(Pennsylvania State University). ................................................................................31
Tabela 7 - Composição do peso corporal vazio (PCVz), PCVz em relação ao ECC 3,
e EL de lactação depositada ou perdida, para cada kg de ganho ou perda de peso.
...................................................................................................................................32
Tabela 8 - Prioridades no uso da energia pela vaca de corte....................................50
Tabela 9 - Condição corporal da vaca. ......................................................................54
Tabela 10 - Composição corporal do PCVz à diferentes escores corporais..............55
Tabela 11 - Reservas de energia para vacas com diferentes tamanhos e condições
corporais....................................................................................................................57
Tabela 12 - Padrão para avaliação de escore corporal em vacas de corte. ..............57
Tabela 13 - Escore de condição corporal e taxa de gestação. ..................................58
Tabela 14 - Efeito do ECC no parto sobre o intervalo pós parto. ..............................58
Tabela 15 - Efeito da alteração do ECC pós-parto sobre a taxa de prenhes.............59
Tabela 16 - Efeito do ECC durante a estação de reprodução sobre a taxa de
prenhes......................................................................................................................70

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Manejo e condição corporal em ruminantes Introdução

1 Introdução

1.1 Importância da condição corporal em ruminantes

Técnicos e produtores rurais envolvidos com a produção de ruminantes estão


inseridos num universo complexo, que contempla inúmeras inter-relações entre a
vida do reino animal e do reino vegetal, além, obviamente, do ambiente físico em
que estes reinos estão inseridos. A produção animal é decorrente da existência de
vários sistemas que interagem e, assim, o conhecimento destes sistemas é uma
exigência primária para aqueles que pretendem tomar decisões sobre como interferir
de forma racional, buscando sempre a melhor alternativa. É importante destacar,
que muitos problemas apresentam apenas uma solução, mas na maior parte das
vezes os problemas que enfrentamos na pecuária podem ter várias soluções. E
quando falamos em sistemas pecuários, é importante não se esquecer que o animal
é apenas parte do todo. É fundamental não perder de vista, o papel do homem, das
plantas, neste caso, as forrageiras, do ambiente com todos os seus elementos, além
de todas as práticas adotadas, ou seja, o manejo. Dentre estas práticas de manejo
destacamos o manejo alimentar e o manejo sanitário, que vão se combinar de forma
a permitir ao animal bem alimentado e sadio, a expressão de toda sua herança
genética. Nosso tema neste curso será “Condição Corporal e Eficiência Reprodutiva
e Produtiva”, e desta forma, nosso principal alvo são as matrizes, ou seja, os
animais que vão manter nossos rebanhos de pé.

1.2 Qual o significado de condição corporal?

Em sistemas pecuários onde a fêmea é o sustentáculo para obtermos a máxima


eficiência, é fundamental termos em mente que a condição orgânica das mesmas
deve ser mantida sempre próxima do desejável para cada fase do ciclo produtivo.
Para vacas de corte, de leite, ovelhas ou cabras, o plano nutricional é que vai ditar
os limites da produção. E neste sentido aparece a importância daquilo que
denominamos de condição corporal. A condição corporal é uma ferramenta de
manejo, através da qual podemos corrigir deficiências decorrentes do plano
nutricional. A condição corporal é obtida através da realização de avaliações destes
animais em épocas estratégicas do ciclo produtivo, no sentido de permitirmos que as
prioridades de demanda de nutrientes sejam atendidas a contento. Estas avaliações
seguem determinados sistemas, nos quais se adota vários escores, procedimentos e
fichas de acompanhamento, sendo feitas visualmente em bovinos e pela avaliação
visual e manual em ovinos e caprinos. As matrizes têm exigências para diferentes
funções durante um ciclo de produção, ou seja, exigências para manutenção,
gestação e lactação, sendo que, em qualquer fase do ciclo produtivo devem atender
mais de uma função, pois as exigências de manutenção são constantes. Além disso,
nas primeiras gestações todas as matrizes têm exigências de crescimento, pois
ainda não atingiram o peso à maturidade, que em vacas normalmente ocorre no
quarto parto. Assim, se a demanda de nutrientes e o fornecimento de nutrientes não
forem casados, podemos ter uma condição orgânica abaixo ou acima do desejável,
sendo que, o primeiro caso é o de maior ocorrência.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Introdução

1.3 O ciclo produtivo e a condição corporal

As matrizes apresentam grande variação no escore de condição corporal nas


diferentes fases do ciclo produtivo (Figura 1) , sendo que após o parto observa-se a
maior perda de escore, ou seja, mobilização de reservas. Como já dito
anteriormente, a avaliação da condição corporal através de escores é uma
ferramenta de manejo e, portanto, deve ser utilizada de forma constante e como
rotina pelos produtores e técnicos. Estas avaliações, principalmente em bovinos, são
subjetivas, mas, no entanto, são bastante acuradas, e para o sucesso das mesmas
é importante o treino do avaliador. Apesar de serem subjetivas, com a aplicação
correta das avaliações e aplicação das correções necessárias quanto à nutrição,
com certeza aumentaremos de forma significativa a eficiência do uso dos recursos
alimentares da fazenda, bem como daqueles adquiridos fora, e isto se traduzirá em
aumentos no desempenho reprodutivo de nossos rebanhos de bovinos, ovinos e
caprinos.

Figura 1 - Estágio do ciclo de produção

Através dos processos fisiológicos que ocorrem em cada fase do ciclo de produção
das matrizes, o organismo determina quais as prioridades para atender as diferentes
funções, e a partir disto, define a partição biológica e o uso dos nutrientes
absorvidos através do trato digestório. Esta prioridade tem em um extremo as
exigências para manutenção como função primordial, e no outro, o acúmulo de
reservas corporais, como de baixa prioridade (Figura 2).

Como dito anteriormente, a avaliação de condição corporal através da aplicação de


escores deve ser feita de forma consistente, periódica, e seguindo a metodologia
recomendada, pois os procedimentos para cada espécie são universalmente
aceitos.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Introdução

Figura 2 - Prioridade de nutrientes no corpo

A avaliação do escore de condição corporal deve levar em conta a observação de


diferentes pontos do corpo animal e deve ser aplicada a todos os animais da mesma
forma. Pontos importantes a serem observados são os processos transversos
(Figura 3) e espinhosos, a gordura de cobertura, os espaços intercostais, a região do
ombro, a inserção da cauda, a região do vazio, da garupa e do peito.

Durante a avaliação deve-se considerar que alguns fatos podem nos levar a cometer
erros, e entre estes destacamos o enchimento do trato digestório, a gestação, a
quantidade de pelo ou lã e a quantidade de músculo.

Após a introdução no assunto, na próxima aula teremos uma ampla abordagem da


avaliação de escore de condição corporal em gado de corte.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Introdução

Figura 3 - Como avaliar o ECC

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

2 Condição corporal em pequenos ruminantes

A avaliação do escore de condição corporal em ovinos e caprinos é uma prática de


manejo em que se usa a avaliação visual e as mãos (Figura 4), para determinar o
grau de deposição de gordura e músculo na região do dorso-lombo dos animais. O
escore deve ser dado usando as mãos para evitar erros que podem ocorrer em
função de um excesso do enchimento do trato digestório ou de lã, que podem
distorcer a verdadeira condição.

Em ovinos, o peso corporal é tido como uma medida indireta e pouco sensível para
se avaliar o estado nutricional. Nessa espécie, os aspectos de presença ou não de
lã, diferentes raças, estado e gestações simples, duplas ou triplas, limitam o uso do
peso para estimar o estado nutricional. Por outro lado, inúmeros trabalhos têm
sugerido a avaliação do escore de condição corporal (ECC) como um método
preciso e prático do nível nutricional de um rebanho (DUCKER & BOYD,1977;
GUNN et al., 1984).

Figura 4 - Prática de manejo com uso da mão.

A avaliação do escore de condição corporal é uma prática que busca estimar a


composição corporal do animal em termos de percentual de gordura e de proteína.
O método de avaliação do ECC em ovinos foi desenvolvido na Inglaterra por
RUSSEL et al. (1969) e baseia-se na palpação da região dorsal e lombar da coluna
vertebral, verificando a quantidade de gordura e músculo encontrada no ângulo
formado pelos processos espinhosos e transversos. Em ovinos e caprinos a
pontuação de escore vai de 1 a 5, sendo que o ECC igual a 1 representa um animal
caquético, ou seja, muito magro, e o ECC igual a 5 um animal obeso.Tanto as
extremidades dos processos transversos como as extremidades dos processos
espinhosos das vértebras são usados na avaliação, e nos permitem dizer qual a
condição de cada animal. Ovelhas e cabras não devem se apresentar magras, nem
gordas, mas, não podemos nos esquecer que em determinados períodos do ciclo
produtivo o escore pode ser mais baixo e, em outros, mais alto.

2.1 O ciclo de produção e o escore recomendado

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

A Tabela 1 mostra quais são os escores de condição corporal ideais para cada fase
do ciclo produtivo de ovelhas e cabras, para sistema de avaliação com escore
variando em 5 pontos. Observa-se que a fase na qual o ECC deve estar mais alto é
aquela que precede a parição. E na fase de desmama pode atingir 2 sem maiores
problemas, pois haverá tempo para recuperação dos animais.

Tabela 1 - Escore ideal para cada fase do ciclo produtivo de ovelhas e cabras.

O escore de condição corporal é usado para monitorar a ovelha e a cabra nas


diferentes fases de produção ao longo do ano, e é utilizada para definir quais
animais necessitam de maior atenção quanto ao manejo nutricional.

A avaliação da condição corporal das ovelhas e das cabras do rebanho deve ser
feita em pelo menos três períodos críticos durante o ano, ou seja, 4-6 semanas
antes do parto, no desmame, e 4-6 semanas antes da época de reprodução. Estas
avaliações permitirão detectar problemas e solucioná-los a tempo. É importante
frisar que os produtores devem manter os registros da avaliação para que possam
acompanhar o que ocorre com cada indivíduo.

Ovelhas e cabras quando magras não ovulam e quando ovulam, não produzem o
número de óvulos desejado. Assim, é importante avaliar a possibilidade de se utilizar
o flushing, ou seja, o fornecimento de uma quantidade adicional de ração, 2-3
semanas antes do início da estação de reprodução, o que permitirá a recuperação
do escore de condição corporal para níveis desejados.

Após a parição, o escore de condição corporal das ovelhas e das cabras se tornará
crítico, e o melhor escore de condição corporal deve ocorrer nesta ocasião (parição),
pois estes animais estão entrando no período de maior demanda de nutrientes, ou
seja, a lactação. No caso de ovelhas e cabras que parem mais de uma cria, a
ingestão voluntária de matéria seca é insuficiente para atender as exigências de
energia no pico de produção de leite. Assim, é normal que as ovelhas e as cabras
percam peso de forma mais significativa nas primeiras seis semanas após o parto,
pois as reservas de gordura corporal são usadas para atender a demanda de
energia para a produção de leite. Ovelhas e cabras que parem magras produzirão

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

crias mais leves, menor quantidade de colostro e menor quantidade de leite, e este
fato levará à maior mortalidade da prole e menor peso ao desmame.

O escore de condição corporal deve ser avaliado com cuidado no período de


desmame, e tal fato decorre de que muitas ovelhas e cabras têm mais de uma cria e
produzem quantidades elevadas de leite, o que pode levar a um escore muito baixo.
Assim, será necessário um plano de suplementação adequado para correção desta
situação em cada grupo. Na prática, a maioria dos criadores não consegue colocar
½ escore de condição corporal nas cabras durante o período seco. O que leva à
necessidade de recuperar a condição corporal das ovelhas e cabras ainda durante o
período de lactação. É importante destacar que ovelhas e cabras de primeira parição
necessitam de maior atenção e maiores cuidados.

É importante destacar que nenhuma ovelha ou cabra estará em escore de condição


corporal abaixo do recomendado sem uma boa razão. Algumas razões para isto são:
1) alta produção de leite, e estas são suas melhores ovelhas, cuide delas; 2) carga
parasitária excessiva, o que exige um plano de utilização de vermífugos; 3) baixo
mérito genético da ovelha, que deverá ser descartada; 4) problemas na dentição,
que muitas vezes é ignorado pelo produtor; 5) a idade da ovelha, e neste caso
normalmente os maiores problemas são com os animais mais jovens e os mais
velhos; 6) doenças.

DUCKER & BOYD (1977) observaram que ao mesmo peso corporal, ovelhas de
tamanho pequeno e alto ECC tiveram maior taxa de ovulação do que ovelhas
grandes com baixo ECC. Por outro lado, GUNN et al. (1984) encontraram pouca
influência do estado nutricional na taxa de ovulação, durante o período de
encarneiramento, quando o ECC média das ovelhas foi de 2,5, sugerindo, assim, ser
esse o escore crítico mínimo para se obter taxas de ovulação aceitáveis.

Da mesma forma como ocorre com a ovulação, a taxa de concepção parece ser
maior nas ovelhas com moderado ECC quando comparadas com ovelhas com baixo
ECC, no entanto, a diferença não é significativa quando o ECC médio das ovelhas é
superior a 2,5 (GUNN et al., 1991). No mesmo trabalho, foi verificado que ovelhas
com ECC < 2,5 no encarneiramento e mantidas com baixa oferta alimentar foram
incapazes de manifestar sua capacidade reprodutiva, mostrando uma baixa taxa de
natalidade.

2.2 O ciclo de produção e o escore recomendado

O escore de condição corporal é usado para monitorar a ovelha e a cabra nas


diferentes fases de produção ao longo do ano, e é utilizada para definir quais
animais necessitam de maior atenção quanto ao manejo nutricional.

A avaliação da condição corporal das ovelhas e das cabras do rebanho deve ser
feita em Na Tabela 2 encontramos a concentração de gordura, proteína e energia no
corpo vazio de ovinos em diferentes escores de condição corporal. Estes dados
foram obtidos pelos autores Sanson et al. (1993) e Cannas et al. (2004) e publicados
no NRC (2007). Observa-se que a concentração de proteína no corpo vazio sofre

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

pouca alteração, mas a de gordura e conseqüentemente a de energia, são afetadas


de maneira expressiva com as mudanças do escore de condição corporal.

Tabela 2 - Concentração de gordura, proteína e energia no vazio de ovinos em diferentes


escores de condição corporal.

Em seguida vamos descrever como fazer a avaliação em ovinos e caprinos. A


abordagem será para cada escore.

Escore 1

Os processos espinhosos são proeminentes e agudos ao toque, e muitas vezes com


os espaços intervertebrais visíveis. Na região lombar os processos transversos são
agudos ao toque e podemos passar os dedos através dos espaços entre os
mesmos. A região do músculo do olho do lombo é desprovida de cobertura de
gordura.

Figura 5 - Condição 1 (Emaciado).

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

Escore 2

Os processos espinhosos são proeminentes e agudos ao toque, e muitas vezes com


os espaços intervertebrais visíveis. Na região lombar os processos transversos são
um pouco menos agudos ao toque e podemos passar os dedos através dos espaços
entre os mesmos se aplicarmos alguma pressão. A região do músculo do olho do
lombo apresenta pouca cobertura de gordura.

Figura 6 - Condição 2 (Magra).

Escore 3

Os processos espinhosos se apresentam mais lisos e arredondados e podemos


sentir suas extremidades apenas colocando pressão durante o toque. Na região
lombar os processos transversos são lisos e bem cobertos, e apenas colocando
bastante pressão é possível sentir as extremidades dos mesmos. A região do
músculo do olho do lombo apresenta mais ampla e maior cobertura de gordura.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

Figura 7 - Condição 3 (Média).

Escore 4

Os processos espinhosos podem ser sentidos apenas com forte pressão. Os


processos transversos não podem ser sentidos. A região do músculo do olho do
lombo apresenta ampla e grande cobertura de gordura.

Figura 8 - Condição 4 (Gorda).

Escore 5

Os processos espinhosos não são detectados. Há uma depressão de gordura onde


normalmente sentimos as extremidades dos processos espinhosos. Os processos

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

transversos não podem ser sentidos. A região do músculo do olho do lombo


apresenta ampla e excessiva cobertura de gordura.

Em rebanhos bem manejados mais de 90% dos animais devem apresentar escore
entre 2 e 4. Para facilitar o manejo é recomendado atribuir escores intermediários,
como 2,5. Os escores intermediários são úteis e importantes quando a condição do
animal não é muito clara. A exatidão é difícil, e podemos afirmar que se errarmos ao
atribuir os escore como 3 ao invés de 3,5 não temos grandes problemas, mas se
atribuirmos escores errados como 2 ao invés de 3,5 o problema será grande.

No site http://www2.luresext.edu/goats/research/bcs.html podemos observar


algumas orientações práticas sobre a avaliação do escore de condição de caprinos.
O escore de condição corporal também é importante para avaliarmos animais que
estão sendo criados para o abate. O grau de acabamento do animal que está
relacionado com a carcaça que será obtida após o abate está diretamente
relacionado ao ECC do animal vivo. Tanto na indústria de ovinos como na de
caprinos, o ECC 3 (Figura 9) é o mais desejável, pois serão obtidas carcaças bem
terminadas mas sem excesso de gordura. Animais com ECC igual a 1 (Figura 10)
não estão terminados, e o desenvolvimento muscular é precário. Animais com ECC
igual a 5 (Figura 11) têm excessiva gordura depositada. O escore 5 é encontrado
com mais facilidade em ovinos e raramente visto em caprinos. Podemos observar
ainda os ECC 2 (Figura 12) e 4 (Figura 13).

Figura 9 - Escore 3.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

Figura 10 - Escore 1.

Figura 11 - Escore 5.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

Figura 12 - Escore 2.

Figura 13 - Escore 4.

2.3 O Flushing

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

Muitas vezes, quando as matrizes não atingem o ECC ideal antes da parição, será
necessária a intervenção do homem de forma a assegurar a rápida recuperação da
condição corporal. Tal necessidade decorre da necessidade de termos as ovelhas e
as cabras ciclando normalmente, e atingindo alta percentagem de concepção, o que
será possível apenas com a condição corporal ideal para a fase de reprodução.
Dessa forma, o objetivo é aumentar a ingestão de nutrientes e melhorar a condição
corporal antes e durante o período de reprodução, e o manejo nutricional adotado é
chamado de flushing. O objetivo desta prática é aumentar a taxa de ovulação e,
conseqüentemente, a taxa de concepção.

A resposta à prática do flushing é influenciada por:

• Idade da ovelha (ovelhas mais velhas respondem mais);


• Raça (raças mais prolíficas são mais responsivas);
• Condição corporal (ovelhas mais magras respondem mais);
• Etapa da estação de reprodução (maiores respostas são observadas no início
e final da estação).

O flushing tem uma resposta muito positiva quando aplicado às ovelhas com ECC
entre 2 e 2,5 no sentido de elevar para 3 a 3,5. Ovelhas num plano nutricional
crescente têm melhores taxas de ovulação. Normalmente uma pastagem de boa
qualidade pode colocar 1 escore de condição corporal num período de 6 semanas.

A Tabela 3 mostra o tempo em semanas para que ovelhas em diferentes ECC


possam atingir o escore ideal para o período de reprodução.

Tabela 3 - Período de flushing necessário em função do ECC.

Para ovelhas que já se encontram em boa condição corporal, a atenção em relação


à alimentação deve se iniciar 2 semanas antes da estação de reprodução e durar
pelo menos de 2 a 4 semanas durante a estação. A razão para continuar este plano
de nutrição após a cobertura é diminuir as perdas por morte embrionária. A
alimentação adicional assegura que os óvulos fertilizados, agora ovos, tenham
maiores chances de aderir à parede do útero, e não sejam reabsorvidos por falta de
energia à ovelha ou cabra. Após a estação de reprodução a suplementação será
desnecessária, a partir daqui mantenha níveis moderados de alimentação.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em pequenos ruminantes

É importante destacar, que no início da lactação as ovelhas e cabras não comem o


suficiente para suportar a elevada produção de leite e, assim, mobilizam
naturalmente as reservas corporais, perdendo peso de forma acentuada, o que leva
à queda drástica no ECC.

Ao encerrar mais este capítulo sobre a importância do escore de condição corporal


em animais ruminantes, neste caso, em ovinos e caprinos, queremos destacar que
muitas vezes podemos produzir mais eficientemente com adoção de práticas
simples e muito eficientes, como é o caso desta avaliação corporal. A adoção
freqüente e criteriosa desta avaliação dará a técnicos e produtores condições de
ajustar o plano nutricional do rebanho, a atividade mais rentável e o sistema de
produção sustentável.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em gado leiteiro

3 Manejo e condição corporal em vacas leiteiras

3.1 O balanço de energia em vacas leiteiras

As taxas de concepção em vacas leiteiras são baixas e têm diminuído por diversas
décadas. As pesquisas com vacas leiteiras têm demonstrado que a condição
corporal influencia a produtividade, a reprodução, a saúde e a longevidade das
vacas.

A condição corporal é resultado do balanço de energia no organismo da vaca, o qual


é obtido pela diferença entre a energia consumida (Eco) pelo animal e a energia que
o animal necessita para atender suas exigências diárias para as diferentes funções.
As funções que devem ser contabilizadas para determinação destas exigências são:
manutenção (Em), crescimento (Ec), recuperação de peso (Erp), produção de leite
(Epl), e crescimento fetal (Ecf). Por exemplo, se uma vaca adulta estiver no período
seco, seu balanço de energia será obtido assim: BE = Eco – (Em + Ecf). As
exigências de energia para crescimento da glândula mamária não são incluídas em
face dos poucos dados existentes, mas existe, e pode ser superior a 3 Mcal ELl/dia.

Se o BE é negativo (BNE), ou seja, a ingestão de energia é menor que as


exigências, as vacas utilizam os depósitos de gordura do organismo como fonte de
energia em complementação ao fornecido pela dieta e perdem peso. Se o BE é
positivo (BPE), ou seja, o consumo de energia é maior que as exigências, as vacas
armazenam o excesso de energia consumida através da dieta, na forma de gordura
e ganham peso. Em média as exigências de energia para manutenção de uma vaca
adulta são de aproximadamente 10 Mcal de ELl/dia, e a manutenção mais o
crescimento, no caso de uma novilha, antes do primeiro parto, são de
aproximadamente 12 Mcal ELl/dia. Exigências adicionais para crescimento do feto e
tecidos anexos são de aproximadamente 2,9; 3,4 e 3,7 Mcal de ELl/ dia nos dias 60º,
21º e 1º antes da parição. É recomendado que vacas em transição tenham um
consumo adicional de concentrado durante as 3 últimas semanas de gestação para
atender a demanda do crescimento fetal.

Quando falamos em balanço de energia algumas considerações são importantes, e


se explorarmos a Figura 14 pode-se entender bem:

a) O pico de produção de leite ocorre por volta de 8 semanas, e as vacas ainda


estão em balanço negativo;
b) A maioria das vacas entra em balanço negativo de energia após a parição e
este fato é uma adaptação normal no ciclo reprodutivo em mamíferos;
c) O balanço se torna negativo porque a ingestão de energia através da dieta é
menor que a exigência de energia para atender a produção de leite e a
manutenção da vaca;
d) Até aproximadamente 4 semanas aumenta o balanço negativo;
e) Após 4 semanas o balanço negativo vai diminuindo e com bom manejo o
balanço se torna positivo após 8 semanas, mas em geral isto acontece após
12 semanas, ou seja, após 80 dias de parição;

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f) O escore de condição corporal cai até aproximadamente 50 dias em lactação


e após este período volta a subir;
g) A fertilidade da vaca começa melhorar após 50 dias e atinge o ápice quando
inicia o balanço positivo, ou seja, após 8 – 12 semanas.

Figura 14 - Exigências energéticas, consumo de energia, balanço energético, variação no ECC


e fertilidade em vacas leiteiras ao longo do ciclo de produção.

Os efeitos do Balanço Negativo de Energia (BNE):

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a) A influência da nutrição na fertilidade é multifatorial e pode ocorrer em


diversos estágios do ciclo reprodutivo. Um suprimento inadequado de
nutrientes normalmente produz:

• Atraso no estro/ovulação após o parto;


• Baixa taxa de gestação no início da lactação;
• E atraso na puberdade em novilhas.

b) De forma mais específica, a nutrição afeta:

• A concentração de progesterona é menor em vacas com BNE, o que está


associado com a queda no desempenho reprodutivo;
• Em relação ao crescimento folicular é constatado que vacas em BNE
apresentam folículos grandes e poucos folículos ovulam;
• Em relação à função do corpo lúteo observa-se que vacas em BNE têm
menor concentração de hormônio luteinizante e redução da resposta ao LH;
• Piora a qualidade do ovócito.

c) Vacas em BNE têm um aumento significativo de:

• Metrite;
• Cistos no ovário;
• Mastite;
• Laminite.

d) Vacas em alto BNE apresentam:

• Alta concentração de ácidos graxos não esterificados no sangue (> 600


µmol/L);
• Aumento da concentração de beta hidroxibutirato, com concentração > que
0,9 mmol/L;
• Queda significativa da concentração sangüínea de IGF-1.

3.2 O Período seco

A pesquisa com gado leiteiro já tem claro que a partição de nutrientes e os


metabólitos circulantes no plasma são alterados drasticamente após a parição e
durante o primeiro mês de lactação. Vacas em início de lactação apresentam
balanço negativo de energia, mas é importante destacar que a intensidade e a
duração deste balanço dependem da condição corporal da vaca no parto, da
alimentação pós-parto e da produção de leite.

O plano nutricional e o manejo alimentar incorretos antes do parto podem causar


vários efeitos deletérios na vaca após o parto, incluindo doenças metabólicas,
infertilidade e queda na produção de leite. Algumas semanas antes do parto, devido
uma redução de 30-35% na ingestão de matéria seca pela vaca, o balanço de

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energia diminui, e após o parto, as vacas permanecem em balanço negativo por pelo
menos 5-7 semanas, ou seja, 35 a 42 dias.

O escore de condição corporal abaixo do recomendado no período seco antes do


parto está associado com ovários inativos e um maior período para voltar ao ciclo
estral normal. Vacas com baixo ECC no período entre 7 e 10 semanas (50 a 70 dias)
pós-parto levam um longo tempo para conceber.

Por outro lado, vacas com excesso de condição corporal no período seco, ou seja,
gordas, quando parem também apresentam problemas, pois têm menor ingestão de
matéria seca após o parto, maior mobilização de tecido adiposo e maior incidência
de doenças metabólicas e infecciosas, o que produzirá um impacto negativo sobre o
desempenho reprodutivo das vacas. Uma causa comum para o excesso de condição
corporal são os prolongados períodos secos ou o excesso de alimentação neste
período.

3.3 O início da lactação

A intensidade e a duração da mobilização de tecido adiposo e em última instância, o


balanço de energia até o primeiro serviço, dependem de uma complexa interação
entre o suprimento de energia pós-parto e o mérito genético da vaca, independente
do escore de condição corporal no parto, o que pode explicar parcialmente os
resultados controversos descritos em diferentes pesquisas.

Vários fatores estão envolvidos na duração do balanço negativo de energia após o


parto. Em vacas de primeira cria (primíparas), a idade e a condição corporal antes
do parto são importantes. Em vacas mais velhas, com alto potencial de produção de
leite, um adequado escore de condição corporal no início do período de serviço é
essencial, e isto é afetado pelo potencial genético da vaca em mobilizar tecido e
atingir uma alta produção no pico da lactação.

Se as vacas entrarem no período de serviço em severo balanço negativo de energia,


será muito difícil remediar a situação durante a lactação, e o processo de
recuperação levará algumas semanas. As alterações metabólicas associadas com a
mobilização de tecido após o parto podem provocar danos aos ovócitos de forma
direta ou por alterações no ambiente folicular. O manejo nutricional da vaca no
período pré-parto é, portanto, crucial para prevenir doenças metabólicas e
dificuldade no parto.

É importante destacar, que é muito mais difícil manejar as vacas de alto mérito
genético. Assim, é fundamental a avaliação de cada rebanho, no sentido de definir
as estratégias mais adequadas para atender a demanda de nutrientes imposta pela
genética, mantendo a saúde e a fertilidade das vacas.

O balanço negativo de energia mais severo ocorre no período de 1 a 2 semanas


após o parto, e a literatura mostra que em 90% dos casos, as vacas atingem
balanço positivo apenas 60 dias após o parto, com um período médio de 45 dias. Os
dados da Tabela 4 mostram o total de EL de lactação perdida ou depositada,
quando vacas de diferentes pesos e ECC perdem ou ganham um ECC,

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respectivamente. A literatura mostra também que a correlação entre o número de


dias para atingir o pico e o balanço positivo é baixa, indicando que outros fatores
além da energia contribuem para a variabilidade na extensão do tempo para a vaca
atingir o balanço positivo.

Tabela 4 - Energia líquida de lactação perdida ou depositada, para vacas em diferentes ECC e
com diferentes pesos, quando perdem ou ganham peso.

Dados de literatura indicam que há uma forte correlação entre a densidade


energética da dieta e balanço positivo, maior do que pico de produção. Estes dados
provêm evidência de que a ingestão de energia pode ser o fator mais importante
afetando o retorno ao balanço positivo do que a produção de leite, porque a ingestão
de energia líquida de lactação é uma função da IMS e da concentração de ELl da
dieta.

3.4 Alterações metabólicas e funções reprodutivas

Alterações adaptativas no eixo GH-IGF reduzem a concentração de IGF-I na


circulação (Figura 15). Este parece ser um mediador chave dos efeitos do balanço
de energia na função reprodutiva, aumentando o tempo para o primeiro serviço,
ovulação e reduzindo as taxas de concepção, possivelmente através de ações no
ambiente do oviduto e do útero. Concentrações elevadas de uréia no plasma no
início do período de serviço também estão associadas com redução da fertilidade,
mas, remanesce incerto se este é um fato direto ou outro sintoma do balanço de
energia.

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Figura 15 - Restrição de energia na dieta e modulação da função reprodutiva em vacas.

A melhoria no balanço de energia das vacas no início da lactação resultará numa


melhoria do desempenho reprodutivo. No entanto, uma melhoria no balanço de
energia nesta fase é muito difícil de ser atingido, e a modificação da dieta no sentido
de aumentar a concentração de energia parece não resultar em mudanças
significativas. As pesquisas mostram que mudanças no manejo das vacas podem ter
maior influência sobre o balanço energético. Alguns estudos mais recentes têm
mostrado que a redução do período seco pode ser uma estratégia viável para
favorecer a obtenção de um balanço energético mais favorável. Esta prática pode
melhorar a ingestão de matéria seca durante o período de transição. Nesta situação,
parte da melhoria no balanço energético pode ser contabilizada como perda para a
produção de leite na lactação seguinte, mas, esta perda na produção de leite pode
ser minimizada pela maior duração da lactação anterior. Contudo, ainda não está
comprovado se o balanço energético mais favorável em período seco mais curto é o
responsável pela melhoria no desempenho reprodutivo.

3.5 O período de serviço

Condição entre parição e primeira inseminação:

• O ECC na primeira inseminação deve estar entre 2 e 2,5;

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• Vacas muito magras tendem a ter longos períodos entre o parto e a retomada
da atividade ovariana, e assim, aumenta o período entre parto e concepção;
• Vacas muito magras apresentam picos reduzidos de LH;
• A condição corporal deve ser estável ou estar em processo de melhora
durante o período de inseminação;
• Mudanças na condição corporal geralmente são mais críticas do que o ECC
em si mesmo;
• As mudanças no ECC durante as primeiras 10 semanas de lactação é uma
referência para avaliar a fertilidade do rebanho;
• A perda de mais de 1 ponto no escore (ou mais de 10% do peso vivo) no
início da lactação está associado com fertilidade reduzida, baixas taxas de
gestação e uma alta incidência de doenças metabólicas (Tabela 5);
• Vacas que continuam perdendo ECC ou peso (> 1%/semana) no período da
inseminação têm reduzida taxa de prenhes;
• O efeito da perda de ECC sobre a fertilidade parece ter maior impacto em
vacas mais velhas, multíparas, quando comparado à novilhas de primeira
lactação.

Tabela 5 - Relação entre perda de ECC nas primeiras 5 semanas após o parto e reprodução.

O impacto do balanço energético nos parâmetros reprodutivos é sempre mais crítico


em sistemas de produção à pasto, quando a oferta de forragem é restrita, e os
padrões de parição devem coincidir com a disponibilidade de forragem para manter
a sustentabilidade da fazenda. As tentativas para reduzir o BNE normalmente
envolvem aumento na concentração de energia da dieta através do aumento do
concentrado ou da adoção de suplementação lipídica. No entanto, a eficiência
destas estratégias é freqüentemente inconsistente e esta associada com acidose e
redução na IMS.

3.6 O método de avaliação da condição corporal

A literatura descreve vários métodos para avaliar o escore de condição corporal de


vacas leiteiras, mas a escala visual de 5 pontos com incrementos de 0,25 é a mais

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usada. Na Tabela 6 são mostrados os ECC ideais para cada fase do ciclo produtivo
das vacas, e na Tabela 7 pode-se ver a composição corporal das vacas nos
diferentes ECC. Além disso, na Tabela 4 são mostrados o peso corporal vazio em
diferentes ECC em relação ao ECC 3, bem como a quantidade de EL de lactação
perdida ou exigida para cada kg ganho ou perdido, respectivamente. Atualmente há
um substancial interesse em usar o escore de condição corporal inclusive em
avaliações para programas de melhoramento animal.

Manejo da Condição Corporal:

• Não permita perda de ECC durante o período seco;


• Evite super condicionamento. Vaca leiteira não pode ser gorda;
• Monitore a condição corporal de vacas secas;
• Maximize a ingestão de MS de vacas próximas do parto e vacas recém
paridas para diminuir o balanço energético negativo.

Melhorando o ECC após o pico de produção até final da lactação:

• Esta é a fase de maior eficiência de uso da energia pelas vacas;


• 5 a 10% das vacas talvez não respondam e 5 a 10% das vacas talvez
ganhem mais que o desejado;
• Monitorar o ECC das vacas em lactação para identificar vacas magras e
gordas o mais cedo possível e fazer ajustes.

Tabela 6 - Recomendações do escore corporal para cada estágio da lactação (Pennsylvania


State University).

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Tabela 7 - Composição do peso corporal vazio (PCVz), PCVz em relação ao ECC 3, e EL de


lactação depositada ou perdida, para cada kg de ganho ou perda de peso.

Vamos considerar aspectos da nutrição em cada fase do ciclo:

No parto:

1) Afeta o desempenho da vaca em toda a lactação;


2) Devemos ter vacas paridas com adequada, mas não excessiva reserva de
gordura corporal;
3) Se muito magra: produção de leite no pico será baixa e o retorno ao cio será
tardio;
4) Se muito gorda: ocorrência de doenças metabólicas.

Do início da lactação até o pico de produção:

1) Perda de peso auxilia na manutenção da produção de leite;


2) Perda de peso acima da desejado atrasa retorno ao cio;
3) Maximizar a ingestão de dietas ricas em energia;
4) Minimizar o balanço negativo de energia e a perda de condição corporal;
5) Dieta com proteína suficiente para suportar altas produções, principalmente
suprimento de proteína metabolizável.

No meio da lactação:

1) Proporcionar ganho de condição corporal para máxima produção de leite;


2) Evitar ganho de peso excessivo.

No final da lactação:

1) Atingir o escore desejado;


2) Evitar excesso de condição corporal.

No período seco:

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1) Preparar a vaca para a próxima lactação;


2) Manter a condição corporal adquirida evitando perda de peso principalmente
em vacas que estão acima do desejado;
3) Evitar ganho de peso acima do desejado.

As avaliações do ECC devem ser realizadas periodicamente ao parto, 30 dias após


o parto, na primeira inseminação, 60 dias antes da secagem e no período seco.

3.7 Literatura

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fertility. In: Proceedings of the Annual American Association of Bovine
Practitioners Convention, p.39–43, 1992.

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1989.

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157–70.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Condição corporal em gado leiteiro

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

4 Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

4.1 O sistema de escore de condição corporal na prática

O sistema ensina a avaliação através da análise de áreas específicas do dorso, do


lombo e da pelve. A avaliação dos ílios, dos ísquios, dos processos transversos
(costelas curtas), do ligamento sacral, do ligamento da cauda, da inserção da cauda
e da coxa é fundamental para dar o ECC para uma determinada vaca.

Os escores variam de 1 a 5 com incrementos de 0,25.

O sistema é mais acurado para escores entre 2,5 e 4 .

Figura 16 - Áreas específicas de avaliação.

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Figura 17 - Demais áreas específicas de avaliação.

O primeiro passo é avaliar o ângulo entre as tuberosidades ou extremidades dos


ílios e dos ísquios. A partir desta primeira avaliação tomamos a decisão de dividir as
vacas em dois grupos: As vacas com ECC menor ou igual a 3 e aquelas com ECC
maior do que 3.

Se o ângulo formado entre as extremidades destes ossos forma um V o ECC da


vaca será ≤ 3.

Figura 18 - Formação de V pelo ângulo formado entre as extremidades dos ossos.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 19 - Destaque para a formação do V pelo ângulo formado entre as extremidades dos
ossos.

Se o ângulo formado entre as extremidades destes ossos forma um U o ECC da


vaca será > 3.

Figura 20 - Formação de U pelo ângulo formado entre as extremidades dos ossos.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 21 - Destaque para a formação do U pelo ângulo formado entre as extremidades dos
ossos.

Esta decisão poderá ser difícil, especialmente se o ECC for próximo de 3 ou 3,25.
Se a diferença entre um U e um V não é clara, vá para trás do animal e observe o
mesmo ângulo. Avalie o ângulo entre as tuberosidades. Vacas com ângulo agudo,
em V, terão ECC menor ou igual a 3. Vacas com tuberosidades arredondadas e
cobertas de gordura, em U, terão ECC acima de 3.

Vaca com ângulo em V ≤ 3.

Figura 22 - Vaca angular V.

Vaca com ângulo em U > 3.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 23 - Vaca arredondada U.

4.2 Avaliação de vacas com escore de condição corporal inferior a 3

Na avaliação de vacas com ECC £ 3 podemos refinar nossa avaliação.


Para refinar a avaliação devemos começar pela tuberosidade ilíaca.
São elas arredondadas ou angulares?

Vaca com tuberosidade ilíaca arredondada = 3.

Figura 24 - Tuberosidade ilíaca arredondada ECC=3.

Vaca com tuberosidade ilíaca angular ≤ 2,75 .

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 25 - Tuberosidade ilíaca angular ECC≤2,75.

Agora vamos refinar o ECC ≤ 2,75. Neste momento devemos avaliar a tuberosidade
isquiática e verificar se é arredondada ou angular.

Se as extremidades dos ísquios forem arredondadas então o ECC = 2,75.

Figura 26 - Tuberosidade isquiática arredondada ECC<2,75.

Se as extremidades dos ísquios forem angulares então o ECC < 2,75.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 27 - Ísquio angular ECC<2,75.

Após a avaliação visual das extremidades dos ísquios, devemos avaliar se há


alguma cobertura de gordura. A pergunta que devemos responder é a seguinte:
Sentimos cobertura de gordura nos ísquios?

Se houver cobertura de gordura o ECC = 2,5.

Figura 28 - Avaliação da cobertura de gordura.

Se não houver cobertura de gordura o ECC < 2,5.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 29 - Avaliação da cobertura de gordura.

Em seguida, avalie a visibilidade dos processos transversos na região lombar. Para


definirmos se o escore é < do que 2,5 temos que olhar os processos transversos e
espinhosos. Verifique a distância da extremidade dos processos transversos no
sentido da coluna vertebral. Os processos são visíveis até a metade apenas ou até
¾ de sua extensão?

Se forem visíveis até a metade o ECC = 2,25 .

Figura 30 - Avaliação da visibilidade dos processos transversos.

Se forem visíveis até ¾ o ECC = 2.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 31 - Avaliação da visibilidade dos processos transversos.

Vacas com processos espinhosos agudos, visível espaço intervertebral, costelas


proeminentes, espaço intercostal visível e profundo, e ílio proeminente o ECC < 2.
Vacas nestas condições devem ser manejadas da mesma maneira, independente do
exato escore.

4.3 Avaliação de vacas com escore de condição corporal acima de 3

Vamos agora passar ao refinamento dos ECC maiores que 3, ou seja, vacas em U.
Inicie a avaliação pela inserção da cauda e pelos ligamentos sacrais. O ligamento
entre a inserção da cauda e o ísquio é visto? O ligamento sacral localizado entre a
coluna vertebral e o ílio é visto? A visibilidade destes ligamentos auxiliará na
definição de ECC destas vacas. Devemos verificar quais ligamentos são vistos.

Se ambos são vistos, ou seja, os ligamentos sacrais e os da inserção da cauda


então o ECC = 3,25.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 32 - Visibilidade dos ligamentos.

Os ligamentos sacrais são visíveis, mas os ligamentos da inserção da cauda são


pouco visíveis e parcialmente cobertos por gordura, então o ECC = 3,5.

Figura 33 - Visibilidade dos ligamentos.

Se os ligamentos sacrais são pouco visíveis e os da inserção da cauda não são


visíveis, então o ECC = 3,75.

Se tanto os ligamentos sacrais como os da inserção da cauda não são visíveis,


então o ECC ≥ 4.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 34 - Visibilidade dos ligamentos.

Para ECC superior a 4 temos algumas orientações. Avalie os ílios, os ísqueos, os


processos transversos e a coxa. O ECC será mais elevado à medida que estas
áreas tenham mais cobertura de gordura.

Quando a área entre as extremidades dos ílios e dos ísquios estiver preenchida por
gordura, mas as pontas dos processos transversos forem visíveis o ECC = 4.

Quando a área entre as extremidades dos ílios e ísquios estiver preenchida por
gordura e as pontas dos processos transversos forem muito pouco visíveis o ECC =
4,25.

Quando a área entre as extremidades dos ílios e dos ísquios for preenchida por
gordura, as pontas dos processos transversos não forem visíveis e as extremidades
dos ísquios também não, então o ECC = 4,5.

Quando a área entre as extremidades dos ílios e dos ísquios for preenchida por
gordura, as pontas dos processos transversos não forem visíveis e as extremidades
dos ílios e dos ísquios também não, então o ECC = 4,75.

Quando a vaca apresentar uma estrutura óssea não visível então o ECC = 5.

4.4 Esquemas explicativos para avaliar o ECC

No primeiro esquema podemos ver num corte transversal a cobertura sobre o


ângulo formado pelos processos espinhosos e transversos. No ECC = 1 ocorre uma
grande depressão e não há cobertura. No ECC = 2 ocorre uma depressão menor e
temos mais cobertura nesta área. No ECC = 3 a concavidade vista anteriormente
praticamente desaparece e a cobertura é bem mais pronunciada. No ECC = 4 não
temos mais concavidade, a cobertura é bem pronunciada, e não sentimos mais os

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

processos espinhosos e transversos, somente com forte pressão. No ECC = 5


aparece uma convexidade nesta área e nem com forte pressão conseguimos sentir
os processos espinhosos e transversos.

Figura 35 - Esquema do corte transversal.

No segundo esquema , adaptado de Edmonson et al. (1989 ) vemos 5 pontos


importantes da vaca que nos auxiliam a dar os escores de condição corporal. O
primeiro ponto mostra a cobertura sobre o ângulo formado pelos processos
espinhosos e transversos. O segundo ponto mostra a cobertura entre os processos
espinhosos e as extremidades dos ílios. O terceiro ponto mostra a cobertura entre as
extremidades dos ílios e dos ísquios. O quarto ponto mostra a inserção da cauda e
como se apresentam os ligamentos de inserção da cauda. O quinto ponto mostra a
exposição da vulva.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas leiteiras

Figura 36 - Resumo dos 5 pontos auxiliadores ao escore. Edmonson ET AL. (1989).

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

5 Manejo e condição corporal em vacas de corte

5.1 Introdução

A alimentação de vacas de corte, representada basicamente pela pastagem ou


suplementos, não é apenas o item mais oneroso no sistema de produção como
também é que mais influencia o desempenho reprodutivo desses animais. Na Tabela
1 podemos observar como as vacas de corte estabelecem as prioridades em termos
de utilização da energia disponível através da alimentação, que em nosso caso é
basicamente dada pela pastagem. É importante destacar que independente daquilo
que é fornecido através da dieta, as exigências de nutrientes para uma dada função
produtiva não mudam. As vacas só conseguirão avançar nas prioridades se as
exigências para a prioridade anterior forem atendidas, e verificamos que para que as
vacas possam apresentar ciclo estral normalmente e conceber, é necessário que
ocorra acúmulo de reservas. O estado nutricional ou balanço nutricional de um
animal, como já abordado anteriormente, é avaliado pelo escore de condição
corporal, pois o mesmo reflete como as reservas energéticas do corpo estarão
disponíveis para metabolismo, crescimento, lactação e atividade.

Tabela 8 - Prioridades no uso da energia pela vaca de corte.

5.2 O ciclo de produção

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

As exigências nutricionais de vacas de corte não são constantes ao longo do ciclo


produtivo e, portanto, é fundamental conhecermos como isto ocorre. Uma forma
muito simples de divisão destas exigências é mostrada a seguir:

Período 1 - Pós-parto

Conforme pode ser observado na Figura 37, este é o período mais crítico do ciclo
produtivo das vacas em termos de produção e eficiência reprodutiva. Após o parto,
em um período muito curto, não superior a 90 dias, a vaca deverá estar pronta para
uma nova gestação. Assim, uma nutrição inadequada nesta fase leva a menor
produção de leite, menor peso do bezerro ao desmame e menor porcentagem de
animais apresentando cio.

Período 2 – Lactação e gestação

Esta fase poderá ser atendida com pastagem de boa qualidade, boa oferta de massa
de forragem e suplementação mineral. Como em vacas de corte o desmame
normalmente é feito com aproximadamente 210 dias (7 meses), se considerarmos
uma prenhes com 90 dias após o parto, teremos apenas 120 dias de gestação
conjuntamente com a lactação, e desta forma as exigências de gestação são
desconsideradas pelo fato de serem de pequena monta.

Figura 37 - Exigência de energia da vaca.

Período 3 - Pós-desmama e meio da gestação

Durante esta fase a vaca não produz mais leite e as exigências para crescimento
fetal ainda não são elevadas. Portanto, é o período em que se podem utilizar as

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pastagens de qualidade inferior, além de resíduos da agroindústria. No entanto, as


vacas não podem perder condição corporal.

Período 4 - Pré-parto

Este período que começa aproximadamente de 90 a 60 dias antes do próximo parto


é outro período crucial para o desempenho reprodutivo das vacas. Dois terços do
crescimento fetal ocorrem no terço final da gestação conforme pode ser observado
na Figura 37.

A nutrição inadequada neste período leva à:

• Bezerros mais leves ao nascer


• Menor sobrevivência de bezerros
• Menor produção de leite e crescimento da cria
• Atraso no reaparecimento do cio após o parto

5.3 Fatores que afetam as exigências de vacas de corte

Tamanho da vaca

O aumento do tamanho da vaca, ou seja, seu peso à maturidade, também eleva as


exigências nutricionais. É importante destacar que este peso deve sempre ser
considerado no escore 5. Como regra geral em gado de corte, para cada 50 kg de
peso adicional no peso à maturidade, ocorre um aumento nas exigências de energia
líquida para manutenção da ordem de aproximadamente 0,57 Mcal/dia e 0,1% em
proteína bruta. Verificamos, portanto, que os maiores problemas ocorrerão no
suprimento de energia.

Produção de Leite

A produção de leite demanda uma quantidade de nutrientes elevada. O pico de


produção de leite ocorre entre 60 e 80 dias após o parto, antecedendo a fase de
reprodução, e conforme visto na Tabela 1, a produção de leite tem prioridade
nutricional sobre a reprodução.

Idade da Vaca

A idade das matrizes é importante, pois animais jovens como fêmeas de 1ª, 2ª e 3ª
crias podem ainda estar em crescimento, e principalmente após o parto, demandam
nutrientes para manutenção, lactação e crescimento. E não podemos esquecer que
as exigências para crescimento ocupam o segundo lugar na lista de prioridades.
Muitos pecuaristas dizem que a maioria das matrizes vazias são vacas de 3 a 4
anos, mostrando que houve erro no manejo de novilhas. É muito comum as vacas
continuarem o crescimento até a quarta parição, e desde que os pesos a cada parto
estejam dentro dos limites considerados normais para a raça não há nada de
anormal. O problema é que normalmente isto não é considerado, e estes animais
são tratados após o primeiro parto, como vacas adultas, mas, no entanto, devem
receber uma atenção especial em função destas observações.

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Atividade Física

A demanda de nutrientes para atividade física é considerada como exigência de


manutenção. Algumas características da propriedade contribuem para maior ou
menor exigência. Entre estas características podemos destacar a topografia do
terreno, os condicionadores de pastejo, o tamanho dos pastos, a oferta de forragem,
a qualidade da forragem, entre outros. Em muitas situações a atividade física pode
representar uma quantidade adicional de 50% em relação às exigências de energia
para manutenção.

5.4 Condição corporal da vaca

A condição corporal das vacas é mais um dos fatores que afetam as exigências de
nutrientes, e aqui será abordado separadamente. O ECC é um indicativo do
percentual de gordura corporal que os animais apresentam. Na Figura 38 vemos os
locais onde devemos concentrar nossa avaliação visual para obtermos o ECC destas
vacas, os quais são os mesmos que adotamos para vacas leiteiras. Para avaliar as
vacas de corte quanto a este parâmetro utilizamos uma graduação que vai de 1 a 9.
O alvo do manejo adequado é manter as vacas numa condição corporal entre 5 e 6.

Figura 38 - Exigência de energia da vaca.

A porcentagem de gordura corporal das vacas nos diferentes estágios do ciclo


produtivo é um fator determinante para o desempenho reprodutivo e a produtividade
da fazenda. Na Tabela 9 são mostrados os ECC de 1 a 9, os teores aproximados de
gordura corporal e a condição corporal que as vacas apresentam em cada escore.
Estas orientações de aparência da vaca são as que devem ser consideradas ao
atribuir o ECC. O ganho ou perda de condição corporal envolve mudanças na
proteína, na água e na gordura corporal, sendo que as maiores modificações
ocorrem no teor de gordura do corpo, conforme pode ser observado na Tabela 10. A

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

raça, a condição corporal em determinado momento, e a taxa de mudança nesta


condição afetam o valor energético do ganho ou perda de peso. Na Tabela 10 é
mostrado a composição corporal nos diferentes escores, bem como o peso corporal
em jejum (PCJ) em cada escore relativo ao ECC igual a 5.

Tabela 9 - Condição corporal da vaca.

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Tabela 10 - Composição corporal do PCVz à diferentes escores corporais.

A adoção de determinadas práticas na fazenda podem auxiliar no manejo e na


obtenção de melhores condições para as vacas. Entre estas podemos destacar a
estação de monta e a divisão do plantel em categorias, ou grupos de manejo. Uma
sugestão praticável seria dividir nos seguintes grupos: novilhas de reposição, vacas
magras, vacas adultas secas, vacas em lactação (bezerro ao pé), novilhas
desmamadas, reprodutores servindo e touros jovens.

Quando consideramos os sistemas de cria, conforme pode ser visto na Figura 39, é
importante destacar que durante o período de reprodução devemos adotar
avaliações que permitam de forma eficiente, o descarte das vacas improdutivas. Nas
fazendas que fazem o ciclo completo, além dos animais em recria, ou seja, as
novilhas que não foram selecionadas para repor as matrizes, e os machos, ambos
seguindo para a terminação, também teremos anualmente o abate das vacas
descarte.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

Figura 39 - Sistema de produção de gado de corte.

Os dados da Tabela 11 mostram o total de EL de ganho perdida ou necessária,


quando vacas de diferentes pesos e ECC, perdem ou ganham um ponto de ECC. A
Tabela deve ser interpretada assim: se uma vaca de 450 kg está no ECC igual a 5 e
perde um escore caindo para 4, perderá 186 Mcal. Para esta mesma vaca subir de 5
para 6 precisará de depositar 186 Mcal. Na Tabela 12 apresentamos 8 pontos de
referência e seus aspectos, de forma a facilitar a avaliação do ECC na prática. O
usuário pode até desenvolver uma planilha de forma a fazer uma avaliação individual
e de cada grupo, tendo assim boas estatísticas e informações que serão úteis na
definição de estratégias de suplementação, do planejamento forrageiro e aquisição
de alimentos e suplementos ao longo do ano.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

Tabela 11 - Reservas de energia para vacas com diferentes tamanhos e condições corporais.

Tabela 12 - Padrão para avaliação de escore corporal em vacas de corte.

5.5 A orientação dos resultados de pesquisa

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Bowman e Sowel (1998) trabalhando com dados de condição corporal de mais de


440 mil vacas (Tabela 13) verificaram que os melhores resultados em relação ao
percentual de vacas gestantes são os ECC iguais a 5 e 6. Vacas que criam no
escore 5 devem ser manejadas no sentido de manter este escore após o parto para
que alcancem bons índices reprodutivos. A busca por condições de escore superior
a 7 não é recomendada, pois os trabalhos científicos mostram que isto poderá
inclusive prejudicar a reprodução, sendo portanto, anti-econômico.

Tabela 13 - Escore de condição corporal e taxa de gestação.

O ECC no momento do parto é fundamental para que possamos reduzir


significativamente o intervalo pós-parto e aumentar a taxa de gestação, conforme foi
constatado por Houghton e colaboradores em 1990 (Tabela 14, Tabela 15). Se as
vacas parirem com ECC pouco abaixo de 5 devemos lançar mão de recursos
alimentares que promovam aumento do ECC após o parto, e se parirem em ECC
acima de 5 é possível até perda de ECC baixando para 5 que não haverá prejuízos
da taxa de prenhes.

Tabela 14 - Efeito do ECC no parto sobre o intervalo pós parto.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

Tabela 15 - Efeito da alteração do ECC pós-parto sobre a taxa de prenhes.

Outro aspecto ligado ao manejo de vacas de cria é que quando mais próximo do
parto, mais difícil será a recuperação para atingir o ECC ideal. Os ganhos de peso
diários deverão ser maiores, e dependermos de alimentos de melhor qualidade em
maiores quantidades. Este fato é evidenciado na Figura 40 em trabalho publicado
em 1992 por Buskirk e colaboradores .

Figura 40 - Efeito dos dias para o parto na produção de alimentos necessários para atingir o
ganho diário desejado para uma vaca com 500kg de peso vivo saindo de ECC4 para ECC5.
Adaptado de Buskirket Al. (1992).Ganho diário desejado (kg/dia).

Em 2005 Hess e colaboradores publicaram uma revisão que teve como base os
últimos 15 anos de publicações no Journal Animal Science, e constataram que: a) a
nutrição pré-parto é mais importante que após o parto para determinar a extensão do
anestro pós-parto; b) a energia da dieta inadequada durante o final da gestação
prejudica a fertilidade, mesmo que esta seja ajustada durante a lactação; c) um

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

escore de condição corporal de 5 pontos (1 a 9) assegura ao corpo reservas


adequadas para a reprodução no pós-parto e d) maior declínio na atividade
reprodutiva ocorre quando vacas de corte lactando estão em equilíbrio energético
negativo.

A viabilidade econômica da atividade de cria é altamente dependente do intervalo de


partos. Quanto maior o número de vacas que parem em doze meses, mais rentável
será a atividade. Várias razões podem contribuir para o aumento do número de
falhas, e entre estas estão problemas de doenças, condições climáticas e fertilidade
dos touros. Mas, muitos pecuaristas e técnicos não levam em conta que grande
parte das falhas na reprodução é resultado do baixo escore de condição corporal, ou
seja, sem reserva de gordura as vacas não se reproduzem a taxas satisfatórias.

O intervalo que vai do parto até o primeiro estro, e a taxa de gestação, em vacas de
corte expostas a touros férteis são influenciados pela nutrição antes do parto,
nutrição após o parto, condição corporal e presença do bezerro. Os efeitos da
presença do bezerro sobre o anestro têm maior magnitude em primíparas e em
vacas magras. Estes fatores afetam as atividades hipotalâmicas, da hipófise, e
atividade ovariana e, assim, inibem o desenvolvimento folicular. Durante o anestro, a
ovulação não ocorre a despeito do desenvolvimento folicular ovariano, porque o
folículo em crescimento não amadurece. O escore de condição corporal das vacas
tem muitas implicações práticas, e a condição ao parto está associada com duração
deste intervalo, e também com a produção de leite, saúde e vigor da cria e incidência
de problemas no parto. O escore de condição corporal das vacas na estação de
reprodução afeta o número de serviços, intervalo de partos, e porcentagem de vacas
vazias.

O intervalo entre o parto e uma nova gestação geralmente é mais longo para
primíparas do que para multíparas, contribuindo assim, para menores taxas de
gestação em novilhas. Este intervalo é ainda maior quando as matrizes se
apresentam com baixo escore de condição corporal, ou quando antes do parto a
ingestão de nutrientes é limitante. Para primíparas em balanço negativo de energia
antes do parto, a variação no escore de condição corporal no parto, é o principal
fator determinante da duração do período de anestro após o parto. Uma redução
mínima no intervalo pós-parto é conseguida pelo incremento de peso e condição
corporal no início da lactação. Normalmente quando as novilhas parem com ECC
igual ou inferior a quatro, nem mesmo o aumento para ECC igual a 6 trará benefício
significativo.

Períodos longos para reprodução não são a solução para o problema de baixo
escore de condição corporal. Não é o tempo longo após o parto que definirá as taxas
de prenhes e sim a condição corporal das vacas. Vacas com baixa condição corporal
podem levar até 200 dias para apresentarem condições de reprodução. Assim,
podemos concluir que com uma rotina de avaliação de ECC e planos nutricionais
adequados podemos contornar estes problemas e atingir altos índices de
desempenho repdrodutivo.

5.6 Literatura

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Manejo e condição corporal em ruminantes Manejo e condição corporal em vacas de corte

Houghton, P.L., Lemenager, R.P., Horstman, A., Hendrix, K.S., Moss, G.E. Effects of
body composition, pre- and postpartum energy level and early weaning on
reproductive performance of beef cows and preweaning calf gain. Journal of
Animal Science, 68: 1438, 1990.

Buskirk, D.D., Lemenager, R.P., Horstmant, L.A. Estimation of Net Energy


Requirements (NE, and NEA] of Lactating Beef Cows. J. Anim. Sci. 1992.
70:3867-3876.

Bowman, J., Sowell, B. Feeding the beef cow herd. In: Kellems, R.O., Church, D.C.
(Ed.) Livestock Feeds and Feeding (4th Ed.) p. 243, 1998. Prentice-Hall, Upper
Saddle River, N.J.

Short, R.E., Bellows, R.A., Staigmiller, R.B., Berardinelli, J.G., Custer, E.E.
Physiological mechanisms controlling anestrus and infertility in postpartum beef
cattle. Journal of Animal Science, 68:799-816, 1990.

National Research Council. 1996. Nutrient Requirements of Beef Cattle, 7th rev. ed.
Washington, D.C.: National Academy Press.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas de corte

6 Avaliação visual da condição corporal em vacas de

6.1 A avaliação da condição corporal em gado de corte

Ao realizarmos a avaliação da condição corporal em gado de corte é fundamental


observarmos 3 pontos em relação aos animais: a estrutura óssea, a musculosidade
e a cobertura de gordura.

Figura 41 - O que olhar? Onde olhar?.

Os locais mais importantes de serem avaliados são: a região da paleta, das costelas,
da 12ª e 13ª costelas, das pontas dos ísquios e dos ílios, a fossa de inserção da
cauda, os processos transversos e espinhosos, e os membros posteriores.

Escore de condição corporal = 1

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas de corte

Figura 42 - Vaca emaciada.

Vaca emaciada.

Estrutura óssea da paleta, costelas, dorso, espinha dorsal e processos espinhosos e


transversos agudos ao toque, e facilmente visíveis. Pequena evidência de depósitos
de gordura e musculatura.

Escore de condição corporal = 2

Figura 43 - Vaca muito magra.

Vaca muito magra.

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas de corte

Pequena evidência de depósitos de gordura, mas alguma musculatura no quarto


traseiro. Os processos espinhosos são agudos ao toque e facilmente visíveis, com
espaço entre os mesmos.

Escore de condição corporal = 3

Figura 44 - Vaca magra.

Vaca magra.

Começando a cobertura de gordura sobre o lombo, dorso e costelas craniais (peito).


Ossatura do dorso/lombo ainda bem visível. Os processos da espinha podem ser
identificados individualmente através do toque e ainda são visíveis. Os espaços
entre os processos são menos pronunciados. Aparente musculosidade. Iniciando a
cobertura de gordura no dorso, lombo e costelas.

Escore de condição corporal = 4

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas de corte

Figura 45 - Vaca magra para condição moderada.

Vaca magra para condição moderada.

Costelas craniais (peito) não visíveis e, 12ª e 13ª costelas ainda de fácil observação.
Processos espinhosos e transversos são identificados individualmente apenas com
palpação, mas ao tato sente-se uma superfície arredondada. Quarto posterior com
musculatura cheia, mas sem estar lisa.

Escore de condição corporal = 5

Figura 46 - Vaca em condição moderada.

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Vaca em condição moderada.

As costelas, 12ª e 13ª, não são mais visíveis ao olho, mas apenas com o animal em
jejum. Os processos transversos não são mais vistos e podem ser sentidos apenas
com firme pressão, através da qual sentimos a superfície arredondada. Os espaços
entre eles também não são vistos, e são distinguidos apenas com firme pressão. A
área de inserção da cauda apresenta discreta incidência de gordura.

Escore de condição corporal = 6

Figura 47 - Vaca em condição boa.

Vaca em condição boa.

Aparência geral lisa e homogênea. Costelas completamente cobertas, não visíveis.


Quarto posterior liso e cheio. Visível deposição de gordura no peito e inserção da
cauda. Para sentirmos os processos transversos há necessidade de forte pressão.

Escore de condição corporal = 7

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Manejo e condição corporal em ruminantes Avaliação visual da condição corporal em vacas de corte

Figura 48 - Vaca em condição muito boa.

Vaca em condição muito boa.

Extremidades dos processos espinhosos são sentidas apenas com forte pressão. Os
espaços entre os processos são distinguidos ligeiramente e com dificuldade.
Abundante gordura de cobertura ao redor da inserção da cauda. Costelas lisas.

Escore de condição corporal = 8

Figura 49 - Vaca obesa.

Vaca obesa.

Vaca apresenta aparência de um bloco liso e a estrutura óssea praticamente


desaparece devido ao excessivo acúmulo de gordura. Camada mais densa e macia
de gordura de cobertura. Pescoço grosso e curto.

Escore de condição corporal = 9

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Figura 50 - Vaca muito obesa.

Vaca muito obesa.

A estrutura óssea não é vista ou facilmente sentida. Inserção da cauda imersa em


depósito de gordura. A mobilidade do animal nestas condições é prejudicada pelo
excesso de gordura. Vaca raramente vista.

6.2 A condução do processo de avaliação ao longo do ano

Épocas

As avaliações são mais viáveis de serem realizadas quando a fazenda adota a


estação de monta. No entanto, mesmo naquelas que não adotam, se as vacas forem
manejadas em lotes por mês de parição é possível fazermos uma avaliação bastante
razoável.

As avaliações devem ser periódicas e realizadas 100 dias antes do período de


parição, no período de parição, e no período de desmame.

A avaliação 100 dias antes do período de parição é fundamental, pois as decisões


tomadas neste momento afetarão significativamente a produção de bezerros no ano
seguinte. Além disso, é mais fácil recuperar o ECC antes do parto.

A avaliação no período de parição será decisiva para a tomada de decisões em


relação ao programa nutricional no sentido de assegurar as melhores condições para
a estação de reprodução que logo se iniciará. O ECC ao parto, afeta de forma
significativa a fertilidade das vacas, e terá reflexos durante a estação de reprodução,
fato que pode ser observado a partir dos dados obtidos por Sprott (1985)
apresentados na Tabela 16.

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Tabela 16 - Efeito do ECC durante a estação de reprodução sobre a taxa de prenhes.

Além de ser a época de maior facilidade para recuperação do ECC, a avaliação na


época de desmame dos bezerros permitirá a formação de grupos de vacas de maior
ou menor ECC, e assim, quando necessário, a suplementação será implementada
apenas para aqueles que estão abaixo de ECC 4.

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