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3.

Redução de Dados: Precisão e Fontes de Erros

Em levantamentos terrestres as duas principais fontes de erros na


determinação de anomalias gravimétricas, além dos erros instrumentais, são as
incertezas na altitude e posição das estações ou local de medida, como será
detalhado na seção de cálculo das anomalias. Para se obter uma precisão de ±0.1
mGal, a latitude da estação deve ser conhecida com uma precisão de ±150 m e a
altitude com precisão de ±20 cm em regiões de latitude média. Precisão em
altitude ortométrica melhor do que 1 m só pode ser obtida com nivelamento
geométrico. Atualmente, receptores GPS com 12 canais permitem a obtenção da
posição horizontal da estação com precisão de ±10 m.
Nos levantamentos aéreos e marinhos, como foi anteriormente discutido,
devido a problemas de navegação do sistema móvel, dependendo da época do
levantamento quando o sistema GPS ainda não era disponível, em levantamentos
marinhos, uma precisão entre ±5 e ±10 mGal era o melhor que se poderia estimar.
Atualmente, com a combinação de medidas de aceleração de gravidade derivadas
de altimetria por satélite, e com a introdução do sistema GPS de navegação, a
precisão pode estar alcançando valores inferiores a ±5 mGal e resolução lateral de
5 km.

4. Anomalias gravimétricas

A aplicação do método gravimétrico em exploração e geodinâmica requer


que sejam eliminadas das medidas gravimétricas, as variações do campo
gravitacional terrestre que não sejam causadas por diferenças de densidade no
interior da Terra. São as chamadas “correções” gravimétricas, sendo que os
valores resultantes são denominados “anomalias” gravimétricas uma vez que
estas resultam, dentre diversas causas, do afastamento do campo de gravidade
causado por diferentes corpos geológicos do campo gravitacional devido a um
modelo de Terra com distribuição de densidade homogênea. Apesar da
consagração do termo “correção” na literatura geofísica, rigorosamente o termo a
ser utilizado seria “separação do efeito devido a diversos efeitos”. A medida
gravimétrica na superfície terrestre é a soma de várias componentes, sendo que
as correções a elas associadas levam o nome entre parênteses:
Figura 4.1 – Representação das principais fontes de anomalias
gravimétricas no interior da crosta terrestre. De Blakely (1996).
Em exploração e geodinâmica, estamos interessados nas componentes da
aceleração de gravidade que tenham origem no interior da Terra, que são muito
inferiores do que o efeito da correção de latitude. A seguir são apresentadas as
principais correções para se isolar a componente da aceleração de gravidade
devido a heterogeneidades de massa no interior da Terra.

4.1 Correção de Latitude


4.2 Correção de Marés

4.3 Correção de Eötvös

Onde v é a velocidade do veículo em nós, α é o rumo azimute e λ é a latitude de


observação.
4.4 Correção Ar-Livre

De Blakely (1996)

As medidas gravimétricas sobre a superfície física e real da Terra,


apresentam afastamento ou proximidade do centro de massa da Terra,
introduzindo uma componente gravitacional que depende desta variação
topográfica, esta última referida a uma superfície equipotencial denominada de
“geóide”. Desta forma, reduzem-se os dados a uma superfície de referência
denominada “geóide” que nos oceanos coincide com a superfície média dos
mares. As altitudes utilizadas na correção ar-livre são as altitudes ortométricas,
normais à superfície do geóide. O nível de precisão requerida para a altitude
dependerá da precisão final da anomalia ar-livre e Bouguer.
Figura 4.2 – Esquema de correção adaptado de Blakely (1996).

4.5 Correção Bouguer

Figura 4.3 – O efeito gravitacional da correção Bouguer é obtido a partir


da fórmula teórica de uma camada infinita na horizontal e
com espessura finita h igual a altitude ortométrica da esta-
ção gravimétrica no ponto de medida. De Blakely (1996).
Figura 4.6 – A anomalia Bouguer (gB) é obtida a partir da anomalia ar-livre
(ga) menos a correção Bouguer. Esquema de Blakely (1996).

A anomalia Bouguer completa é aquela em que as variações do terreno em


torno da estação gravimétrica são consideradas (vales e montanhas) e corrigidas.
Para efetuar esta correção utilizam-se técnicas numéricas, a partir da digitalização
da topografia para regiões próximas e mais distantes da estação gravimétrica, ver
por exemplo Godson & Plouff (1988).

Na Figura 4.7 são mostrados os mapas topográficos, ar-livre e Bouguer


para o Brasil, com resolução de 0,5 grau (~ 50 km x 50 km).
Figura 4.7 – Mapas gravimétricos e topográfico do Brasil continental.

5. Separação Regional-Residual

Uma vez obtidas as anomalias Bouguer, o próximo passo é tentar separar


as anomalias gravimétricas com diversas profundidades de origem. De um modo
geral, excetuando-se áreas onde intrusões magmáticas são observadas em
grande escala ou em grande volume, são duas as principais fontes de anomalias
no interior da crosta: aquelas próximas à superfície terrestre cujo interesse é de
prospecção, portanto localizadas até 10 km de profundidade, e outra fonte
importante localizada na interface crosta-manto, onde existe uma mudança
importante na composição e conseqüentemente na densidade do meio. Desta
forma, torna-se relativamente simples efetuar a separação das fontes.
Deve-se ressaltar que o conceito de regional e residual é relativo, sendo
que mesmo em levantamentos locais o conceito de regional-residual também se
aplica. Por exemplo, separar as fontes localizadas no embasamento de uma bacia
sedimentar daquelas localizadas mais próximas da superfície, como um corpo
mineralizado ou intrusão magmática. Entende-se por residual, a anomalia objeto
final da investigação e estudo final quantitativo, alvo principal de prospecção no
caso de exploração de recursos naturais.

5.1 Aproximação do regional por uma superfície polinomial

e outros polinômios de graus mais elevados. O problema aqui se resume em


determinar os coeficientes do polinômio, no sentido dos mínimos quadrados. Ver
Dobrin (1976) para discussão mais detalhada sobre a determinação do ajuste
polinomial. Esta técnica é comumente utilizada em trabalhos de gravimetria de
escala local, onde o regional é geralmente aproximado por superfícies polinomiais
de grau baixo. No caso de dispormos apenas de perfis, o ajuste da curva é
efetuada com funções de apenas uma variável.

Um exemplo de ajuste polinomial a dados gravimétricos de escala regional é


mostrado na Figura 5.1.
Figura 5.1 - Campo gravimétrico regional obtido ajustando um polinômio de grau 3
aos dados de anomalias Bouguer do Cráton S. Francisco (Molina et al., 2000)

5.2 Regional Isostático

Esta técnica pode ser utilizada em levantamentos de escala regional, onde


a variação topográfica é significativa e importante. Neste caso, considera-se que
essas massas topográficas estejam “compensadas ou sustentadas” por algum dos
modelos de compensação isostática clássicos (Airy ou Pratt, Fig. 5.2).
Cada um desses modelos produz uma distribuição de massas que satisfaz
a condição mecânica de que as massas topográficas são compensadas. No caso
do modelo de Airy, existe uma oscilação na base da crosta (interface crosta-
manto) e dependendo da profundidade média desta interface, um campo
gravitacional é observado na superfície. Tal campo pode ser previsto a partir da
topografia da interface crosta-manto, para um contraste de densidade constante
(Simpson et al., 1986; Ussami et al., 1993).
Figura 5.2 – Modelos de Compensação Isostáticos. Blakely (1996).

A diferença entre as anomalias Bouguer e o regional isostático produz as


anomalias residuais isostáticas (Fig. 5.3).
Figura 5.3 – Diagrama mostrando as anomalias residuais isostáticas obtidas
a partir da remoção do regional isostático (modelo Airy) das
anomalias Bouguer observadas e mostradas na Figura 4.1.
De Blakely (1996).

Um modelo alternativo de compensação isostática, denominada


compensação regional, leva em conta a rigidez da litosfera, onde parte dos
esforços produzidos pelas cargas topográficas é sustentada pela placa. No caso
de um modelo de placa elástica e contínua (Banks et al., 1977), a deformação da
placa é descrita por uma equação diferencial de quarta ordem cuja solução nos dá
a deformação da interface crosta-manto, a partir da qual o efeito gravitacional
(regional) é estimado. Na Fig. 5.4 são mostrados os campos regional e residual
para o caso do cálculo da componente regional do campo gravitacional previsto
pela deformação da interface crosta-manto de uma placa elástica de espessura
elástica 40 km, para o Cráton São Francisco (Molina et al., 2000). O residual é
calculado subtraindo-se o campo regional flexural das anomalias Bouguer
observadas.
Mapa Bouguer do Cráton S. Francisco, escala em mGal (Molina et. Al., 2000)

Figura 5.4a – Campo gravimétrico regional previsto pela deformação de uma


Placa elástica fina com espessura efetiva de 40 km.
Figura 5.4b – Anomalias Bouguer residuais subtraindo-se o regional flexural
da Figura 5.4a do mapas de anomalias Bouguer do Cráton
S.Francisco (Molina et al., 2000).

Referências:

Banks, R.J., Parker, R.L., Huestis, S.P., 1977, Isostatic compensation on a


continental scale: local x regional mechanisms, Geophys. J. R. astr. Soc., 51, 431-
452.

Beltrão, J.F., Silva, J.B.C.; Costa, J.,1990, ????

Blakely, R.J., 1996, Potential Theory in Gravity and Magnetic Applications.


Cambridge University Press, 441.

Dobrin, H.B.,1976, Introduction to Geophysical Prospecting, McGraw Hill Co., 630


pp.

Godson, R.H.; Plouff, D., 1988, BOUGUER version 1.0 a Microcomputer Gravity-
Terrain-Correction Program, Open-File Report 88-644, U.S. Geological Survey.

Harlan, R.B., 1968, Airborne correction for airborne gravimetry, Journal of


Geophys. Res., 73, 4675-4679.
Molina, E.C., Ussami, N., Marangoni, Y.R., 2000, Digital Maps of the São
Francisco Cráton, its marginal fold/thrust belts, continental margins and oceanic
basins. CD-ROM, IAG-USP.

Sá, N.C. de; Ussami, N.; Molina, E.C., 1993, Gravity Map of Brazil I:
Representation of Free-air and Bouguer anomalies. J. Geophys. Res., 98, 2187-
2197.

Simpson, R. et al., 1986, A new isostatic residual gravity map of the conterminous
United States with a discussion on the significance of isostatic residual anomalies,
J. Geophys. Res., 91, 8348-8372.

Ussami, N.; Sá, N.C. de; Molina, E.C., 1993, Gravity Map of Brazil II: Isostatic
residual anomalies and their correlation with major tectonic provinces. J. Geophys.
Res., 98, 2199-2208.

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