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Resumo
Esta o relato de pesquisa prática e qualitativa realizada com professores e alunos de
escolas públicas de Caicó (região do Seridó, estado do Rio Grande do Norte, Brasil) para a
prática de educação ambiental através da produção de programas de rádio, o “Escolas no
Ar”. O desenvolvimento desta pesquisa ocorreu a partir da concepção e gestão de um
sistema de educação e comunicação, aqui denominado “Escolas em Comunicação com o
Meio Ambiente”, que compreendeu um conjunto de condições e disposições teóricas e
metodológicas balizares para a gestão e ação colaborativas entre docentes e discentes na
organização e expressão de suas opiniões sobre o meio ambiente e sua adaptação a
linguagem radiofônica.
Palavras-Chave
Educação, Comunicação, Gestão
Introdução
Ao lado da educação para a comunicação, mediação tecnológica da educação e
investigação epistemológica, a gestão de sistemas comunicativos é uma das áreas de
intervenção social em educomunicação apontadas como por pesquisa coordenada por Ismar
de Oliveira Soares. A gestão designa toda ação voltada para o planejamento, execução e
avaliação de planos, programas e projetos de intervenção social no espaço da inter-relação
Comunicação, Cultura e Educação, criando ecossistemas comunicativos (SOARES, 1999).
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Trabalho apresentado ao NP 11 – Comunicação Educativa, do IV Encontro de Núcleos de Pesquisa da
Intercom.
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Doutora em Educação, linha de pesquisa educação e comunicação, pela Universidade Federal do Rio Grande
do Norte.
Professora Adjunto I, Departamento de Geografia, Universidade Federal de Rondônia.
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1- A Trajetória da Concepção
Escola Estadual Joaquim Apolinar, Escola Estadual Antônio Aladim, Escola Estadual Rosa de
Lima, Escola Estadual Vilagran Cabrita, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos
Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) e da Reserva Particular do Patrimônio Natural
Stoessel de Brito.
A partir de uma Agenda previamente estabelecida, a Oficina foi desenvolvida
buscando definir etapas fundamentais para a organização de uma ação integrada entre as
escolas participantes, tais como: apresentação dos participantes e levantamento inicial de
expectativas, diagnóstico dos projetos ou atividades de educação ambiental desenvolvidas e
potencialidades, definição de tema articulador dos projetos e das atividades indicadas,
problemática a ser superada e, por fim, definição do objetivo comum a todo o projeto e
cronograma de ação.
Para o cumprimento do planejamento, perguntas foram formuladas ao grupo e as
respostas coletadas constituíram os primeiros registros para compor o código de situação.
rádio e suas possibilidades de uso pela escola. Para tanto, fizemos uso das estratégias de
planejamento do ZOPP (Planejamento Participativo Orientado por Objetivo): a partir de uma
questão inicial, os participantes opinam sobre o tema objeto da oficina para compor um
quadro base de compreensão sobre o mesmo. É o que chamamos de diagnóstico de situação.
Esta etapa do planejamento foi fundamental para identificar as expectativas iniciais dos
participantes acerca dos temas educação ambiental e rádio.
3- Códigos de Conceito
conceitos que o grupo apresentou sobre o tema que articularia todas as atividades
desenvolvidas durante a execução do projeto.
Ainda nesta fase de definição dos temas, uma segunda pergunta foi formulada
com objetivo de definir o tema articulador das atividades propostas: Qual o tema articulador
das atividades sugeridas pelas escolas? O tema escolhido foi Conhecer para preservar: o meio
ambiente no centro das atenções. Outros temas sugeridos foram: “a sustentabilidade”; “a
desertificação do Seridó – uma questão política”; “melhoria da qualidade de vida”; “educar
para a sustentabilidade do Seridó”; “não deixe desaparecer o que é vida para você – água”;
“proteger o meio ambiente para ter saúde”; “preservação do meio ambiente”; “preservar o
meio ambiente é contribuir para a qualidade de vida no planeta”; “educar para a
sustentabilidade dos elementos naturais do planeta”.
A seguir, tratamos da definição do problema central a que nos reportamos no
projeto a partir da seguinte pergunta orientadora: Qual a problemática se pretende superar? A
resposta foi: Falta de conhecimento, posição e ação sobre a problemática ambiental. Outros
problemas identificados foram: “falta de educação ambiental”; “falta de educação e de
compromisso sócio-econômico e político”; “falta do processo de continuidade no dia a dia do
aluno”; “descontinuidade do trabalho sobre a questão ambiental”; “falta de cidadania”;
“desvalorização do meio em que está inserido, partindo de um compromisso das ações
educativas e políticas”; “pouca sensibilidade e ações políticas para melhorar a educação
ambiental”; “falta de conhecimento e de sensibilidade”; “não ter conhecimento de como
preservar para não agredir mais o meio ambiente”; “não estabelecer uma ação continuada
quanto à preservação do meio ambiente”; “falta de conhecimento como empecilho para a
sensibilização”; “desinformação técnico-científica”; “falta de conscientização e
sensibilização”; “desconhecimento a respeito da problemática”; “conhecimento não
sistematizado da questão ambiental”.
Por fim, tratamos da definição do objetivo do projeto a partir da seguinte pergunta
orientadora: qual o objetivo principal que se pretende alcançar? O pressuposto que nos
orientava é que os sujeitos só interagem criativamente mediante a ação, a práxis, quando
assumem problemas ou conflitos que se tornam desafios comuns. Assim, o grupo indicou
como objetivo a ser alcançado - conhecer, se posicionar e agir para transformar a
problemática ambiental.
4- Códigos de Estratégias
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4.1- Escolas no Ar
3
Série publicada sob a coordenação da Associação Latino Americana de Educação Radiofônica (ALER),
em 1986, destinada a movimentos de base, sindicatos, associações de bairro, igrejas e pessoas que
desenvolvem experiências alternativas de Comunicação, especialmente no campo do rádio (ALER, 1987,
p.3).
4
Manual publicado pelo Centro de Estudos da Mulher (CEMINA) com objetivo “de unir uma abordagem
nova das questões de gênero/meio ambiente a técnicas de acesso simples aos meios rádio e vídeo
(CEMINA, 1996, p. 3).
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Este projeto compreende uma fase da implantação da Rede de Comunicadores pela Educação do
Ministério da Educação iniciada em 1997.
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Relatórios publicados pelo INPE, em 1974, resultantes do Programa de Tecnologia Educacional,
desenvolvido no período de 1971 a 1974.
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4.2- A Locução
A locução dos programas foi feita por Eugênia Kelly de Araújo, aluna do curso de
Pedagogia da Universidade Federal do Rio Grande do Norte e por Jonas Linhares, aluno do
curso de Filosofia da Universidade Estadual do Rio Grande do Norte. Suas participações não
se limitaram à locução. Revisavam os roteiros elaborados nas escolas, sugerindo, aqui e ali,
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adaptações ao formato radiofônico, bem como participavam das reuniões para a produção dos
programas.
Entre professoras, alunos e entrevistados dezenas de pessoas participaram
diretamente da composição dos 25 programas transmitidos. Esta profusão de vozes dificultava
a definição de uma “marca” dos programas. Deste modo, a participação permanente dos
locutores imprimia uma identidade sonora aos “Escolas no Ar”. Também exerciam a função
de animadores – saudavam os ouvintes, introduziam os quadros7 e estabeleciam ligações entre
os quadros que compunham os programas, garantindo sua coerência.
4.3- Gracinha
5- Códigos de Processo
7
Quadro: cada uma das sessões que compõe um programa de rádio ou televisão (RADAÇA e BARBOSA,
2001, p. 609).
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.5.2- Coordenação
Considerações Finais
tem o que comunicar? Ou seja, havia uma intencionalidade formal ou informal em estabelecer
ligações com o entorno?
Na gênese, o problema a ser superado foi a falta de conhecimento, ação e posição
sobre o meio ambiente. Como a escola vinha combatendo-o?
A transformação de informações em conhecimento é uma tarefa óbvia da escola.
É certo que os programas de rádio tornariam pública a produção da escola, seus problemas,
suas limitações, suas possibilidades, sua leitura de mundo – segredos guardados nos limites na
escola. Isso explica a ausência ou o recuo de algumas escolas na produção do “Escolas no
Ar”?
Durante a realização das oficinas de planejamento em que o “Escolas no Ar” era
concebido, os participantes identificaram a “falta de conhecimento, posição e ação” como a
principal causa dos problemas ambientais na região. Ao fazerem isso, estabeleceram relação
entre o problema a ser abordado e sua competência profissional. Explicitaram a compreensão
da proximidade entre conhecer e intervir, porque conhecer é pressuposto a uma forma
competente de intervenção. Àquele era o campo de sua atuação docente, de sua ação
pedagógica. O conhecimento é a matéria-prima de sua prática social. Ele (o conhecimento) é
inerente a sua responsabilidade pedagógica, sua competência profissional.
Entretanto, o problema identificado “a falta de conhecimento, posição e ação
frente a problemática ambiental”, provocou dois conjuntos de disposições entre as escolas
que aderiram ao sistema: o primeiro estava relacionado a inserção de escolas no
funcionamento do sistema e, portanto, na produção dos programas “Escolas no Ar”. O
segundo, referia-se ao recuo ou ausência de escolas na operacionalização do sistema. No
primeiro conjunto, professores e alunos se lançaram no desafio de produzir conhecimento
ou a conferir-lhe novo significado, conhecimentos úteis ao processo de intervenção sobre
os problemas ambientais locais. Neste processo, interferiam em realidades próximas,
concretas de suas vidas cotidianas convictos de que naquele era o espaço temático e social
de sua competência. Através de seu trabalho cotidiano e em sua inter-relação com seus
alunos produziriam conhecimento base para a tomada de posições e, assim, agir com
relação à problemática ambiental. Como disse o mestre Paulo Freire (1985, p. 27)
conhecer [...] não é um ato através do qual um sujeito, transformado pelo objeto, recebe,
dócil e passivamente, os conteúdos que o outro lhe dá ou impõe. O conhecimento, pelo
contrário, exige uma presença curiosa no mundo. Requer sua ação transformadora sobre a
realidade.
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Referências Bibliográficas