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Avaliar as teorias éticas: um exemplo prático para concluir

A Laura reparou que Edmundo, que saía da sala


de aula, deixou cair, sem se aperceber, uma
nota de 20 €. A Laura vem de uma família de
classe alta, mas Edmundo vive numa família
pobre, com poucos recursos financeiros.

A Laura apanhou a nota e está a ponderar


seguir um destes cursos de ação*:

(A) Ficar com os 20 €.


(B) Devolver os 20 € para ficar bem vista e
ganhar reputação de honesta.
(C) Devolver os 20 € porque considera que isso
é correto.

Qual é a ação moralmente correta? Como avaliar, a partir da ética utilitarista de Mill e deontológica de Kant,
as três decisões possíveis da Laura?

Para um utilitarista como Mill:

A ação (A) seria incorreta, pois não está a promover a felicidade geral de uma forma imparcial. A Laura está
a olhar só para o seu interesse pessoal (está a agir segundo o egoísmo ético).
Neste caso, visto de uma forma imparcial, o maior benefício e felicidade seria a Laura dar os 20 € ao
Edmundo, pois os 20 € são dele e é ele que realmente precisa desse dinheiro.
Por isso, para um utilitarista, as ações (B) e (C) são corretas, pois têm consequências mais valiosas e
benéficas, ainda que seja uma ação que tenha como motivo a Laura ganhar reputação e ser bem vista por
todos, como na ação (B).

Para um deontológico como Kant:

A ação (A) é imoral porque é em tudo contrária ao dever. A máxima da ação (A) poderia enunciar-se assim:
“Se isso servir os teus interesses, não devolvas o dinheiro ao seu dono”. Passaria esta máxima no teste do
imperativo categórico segundo a fórmula da lei universal? Não, porque a obediência universal a tal regra
criaria um estado de coisas terrível em que mesmo os seus interesses acabariam por ser lesados. Para além
disso, em (A), Laura usou o Edmundo como um simples meio, como se o Edmundo fosse uma coisa ou
instrumento, para o aumento direto da sua fortuna.
A ação (B) está em conformidade com o dever, porque a Laura fez o que deveria ter feito, mas foi feita por
interesse e não por dever. Não podemos esquecer que o que interessa na moral kantiana são os motivos e
não as consequências da ação. E em (B) os motivos são errados. Do mesmo modo, em (B), a Laura usou o
Edmundo como um mero meio de “marketing” e propaganda para ela ganhar reputação e ser bem vista por
todos na escola. Não lhe deu o dinheiro pelo simples facto de isso ser correto, mas sim para servir fins
ditados pelo seu interesse.
Segundo a teoria de Kant, só a ação (C) é moralmente correta, já que a Laura ultrapassou os seus interesses
e agiu de forma desinteressada. É, portanto, uma ação feita por dever. E será que a ação (C) passa no teste
do imperativo categórico segundo a fórmula da lei universal? Sim, pois podemos querer que todos cumpram
a máxima “devolve sempre o dinheiro ao seu dono”. Do mesmo modo, em (C) a Laura não tratou o Edmundo
como meio, tratou-o como sendo um fim. Se a devolução dos 20 € não visou servir qualquer interesse, então
cumpriu o dever pelo dever. Assim, a Laura respeita o Edmundo, tratando-o como um fim.

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