Professional Documents
Culture Documents
Contradições na
História
Copyright © 2017, ANPUH-ES.
Copyright © 2017, Editora Milfontes.
Rua Santa Catarina, 282, Serra - ES, 29160-104.
http://editoramilfontes.com.br
editor@editoramilfontes.com.br
Brasil
Editor Chefe:
Bruno César Nascimento
Conselho Editorial
Prof. Dr. Hans Ulrich Gumbrecht (Stanford University)
Profª. Drª. Verónica Tozzi (Universidad de Buenos Aires)
Prof. Dr. Alexandre de Sá Avelar (UFU)
Prof. Dr. Arthur Lima de Ávila (UFRGS)
Cilmar Franceschetto (Arquivo Público do Estado do Espírito Santo)
Prof. Dr. Cristiano P. Alencar Arrais (UFG)
Prof. Dr. Josemar Machado de Oliveira (UFES)
Prof. Dr. Júlio Bentivoglio (UFES)
Profª. Drª. Karina Anhezini (UNESP)
Profª. Drª. Rebeca Gontijo (UFRRJ)
Prof. Dr. Thiago Lima Nicodemo (UERJ)
Prof. Dr. Ueber José de Oliveira (UFES)
Prof. Dr. Valdei Lopes de Araújo (UFOP)
Conflitos e
Contradições na
História:
Anais do XI Encontro de História
Editora Milfontes
Todos os direitos reservados. Nenhuma parte desta obra poderá ser
reproduzida ou transmitida por qualquer forma e/ou quaisquer meios
(eletrônico ou mecânico, incluindo fotocópia e gravação digital) sem a
permissão prévia da editora.
Revisão
Sob Responsabilidade do Autor
Capa (Aspectos)
Bruno César Nascimento
ISBN: 978-85-94353-02-3
CDU: 981
SUMÁRIO
Apresentação............................................................................7
O Direito como matriz esclarecedora...............................9
Alexandre de Oliveira Bazilio de Souza
7
Conflitos e Contradições na História
8
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Apresentação
Estamos trazendo a público os Anais do XI Encontro Regional
da Associação Nacional de História, Seção Espírito Santo (ANPUH-
ES), que ocorreu em novembro de 2016, na Universidade Federal
do Espírito Santo. O tema do evento foi Conflitos e Contradições
na História. Além das comunicações livres e coordenadas, tivemos
a oportunidade de contar com três minicursos: sobre a redação de
textos científicos, pelo prof. Dr. Julio Bentivoglio (UFES); sobre
Cinema, História e Televisão, pela profa. Dra. Rossana Gomes
Britto (UFES); e sobre o controle social na Antiguidade bíblica e
no Medievo, pelo prof. Dr. Sergio Alberto Feldman (UFES) e pela
mestranda Anny Mazioli.
A ANPUH-ES se articulou com o Laboratório de Estudos
de História Política e das Ideias da UFES (LEHPI/UFES), que
trouxe, com recursos do Programa de Pós-Graduação em História
(PPGHIS/UFES), a profa. Dra. Regina Crespo, da Universidade
Nacional Autônoma do México (UNAM), para um debate com o
prof. Dr. Antonio Carlos Amador Gil (UFES) sobre as resistências
na América Latina, materializando uma das atividades do convênio
UFES/LEHPI com a UNAM/CIALC.
Em que pese a variedade de abordagens e questões trazidas
à baila em todas as atividades desenvolvidas, como é, aliás, padrão
nas ações da ANPUH-ES, todas, de alguma forma, tocaram no tema
central, que reflete não só uma das feições da pesquisa em História
como também salta aos olhos na conjuntura de alta polarização
ideológica na qual nos encontramos na atualidade. Neste sentido,
a abertura do Encontro contou com a “prata da casa”, os professores
Drs. Ueber José de Oliveira, Vitor Amorim de Angelo e André R. V.
V. Pereira, debatendo a questão: Houve golpe no Brasil em 2016? E,
a conferência de encerramento, proferida pelo prof. Dr. Francisco
9
Conflitos e Contradições na História
10
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
11
Conflitos e Contradições na História
12
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
13
Conflitos e Contradições na História
14
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
15
Conflitos e Contradições na História
16
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
17
Conflitos e Contradições na História
18
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
19
Conflitos e Contradições na História
20
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
17 Nessa perspectiva, a Justiça de Paz não teria uma história, mas seria em si
uma história.
21
Conflitos e Contradições na História
22
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Conclusão
Como forma de conclusão deste trabalho, gostaria de explicar
a escolha do título O Direito como matriz esclarecedora. O que
quero dizer com a firmação de que o Direito pode ser usado como
matriz esclarecedora? É justamente nesse ponto que as abordagens
utilizadas para a definição dos dois conceitos apresentados de juiz
de paz se tocam. Isso porque as duas usam o Direito como fonte
para responder às perguntas propostas, sob a perspectiva de uma
história-problema. É exatamente nisso que consiste o uso do Direito
como matriz esclarecedora.
Em relação ao juízo de paz imperial, pude observar que esse
instituto revela muitos elementos do momento histórico em que
surgiu no início da nação brasileira: a busca pelo significado da
cidadania por meio dos direitos políticos, a crença em uma Justiça
eficiente acessível a todos e, principalmente, as dúvidas sobre as
escolhas políticas. Afinal, seria o juiz de paz uma faceta da disputa
de poder na nação nascente ou um órgão genuíno de jurisdição
popular? São opções-limite de uma resposta que, para ser alcançada,
necessita de pesquisa mais profunda. Seu resultado, provavelmente,
indicará algum ponto entre esses dois extremos.
Referências
ANAIS DO SENADO. Discursos. Volume 11. 1871.
23
Conflitos e Contradições na História
24
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
25
Conflitos e Contradições na História
26
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
27
Conflitos e Contradições na História
política local.
Apesar do golpe de 1964 ter sido legitimado, entre outras
coisas, pela crítica à corrupção e aos desvios na administração
pública promovidos pelas classes políticas, na Ditadura Militar, o
objetivo de realizar uma reforma administrativa no Espírito Santo,
fundamentada na “estrita observância do mérito”, como estava
contido no programa da Arena (GRINBERG, 2009, p. 67), não
alcançou a organização da Polícia Civil capixaba. Dessa forma, a
modernização econômica do Espírito Santo se fez acompanhar
de uma reforma administrativa promovida pelos governadores
Christiano Dias Lopes e Arthur Carlos Gerthardt que ao contrário
de superar o clientelismo da política tradicional capixaba manteve
condições para que ela assumisse o controle político local ao mesmo
tempo em que funcionava como “correia de transmissão” das
necessidades dos centros de poder.
Assim, observa-se que a ordem econômica do Governo
Christiano Dias Lopes seguiu as diretrizes formuladas pela
Federação das Indústrias do Espírito Santo – FINDES – e contidas
no Diagnóstico para o Planejamento Econômico do Espírito Santo.
Mais do que um estudo, para a esfera econômica, esse documento
passou a ser “o próprio plano de Governo de Dias Lopes, embora
este levantasse duras críticas à exportação de minério pelo porto
capixaba.” (VILASCHI, 2011, p. 65). Os incentivos criados com o
Fundo de Recuperação Econômica do Espírito Santo (FUNRES) e o
Fundo de Desenvolvimento das Atividades Portuárias (FUNDAP)
compensaram as elites locais e o “dirigismo econômico do Governo
Federal, em circunstâncias do Regime Autoritário, teve boa aceitação
no Espírito Santo, vindo a repercutir de forma positiva sobre as
estratégias traçadas pelo grupo de poder local” (VILLASCHI, 2011,
p. 75).
Vale ressaltar que a criação de incentivos fiscais e do
FUNDAP para promover a modernização econômica do Espírito
Santo se fez a partir de uma negociação com o Governo Federal que
somente concordou com a criação desses mecanismos utilizados
28
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Clientelismo e degeneração
Diante da crise instalada em 1989, com a presença de Policiais
Federais investigando a polícia capixaba, a Associação de Polícia Civil
do Estado do Espírito Santo (Apcees), por meio do seu presidente
Custódio Serrati Castelani, anunciou a mobilização realizada pela
entidade para acionar o poder judiciário contra o Executivo estadual
requerendo a anulação de “nomeações irregulares”, pois segundo
a associação haviam ocorrido “207 nomeações ilegais, sendo que
189 dos beneficiados sequer pertencem aos quadros da Polícia de
carreira.” Estariam regularizadas, segundo ele, somente 11 das 218
nomeações para cargos comissionados. Castelani, em sua denúncia,
ainda “chama à atenção para o fato de que essa ilegalidade está
29
Conflitos e Contradições na História
30
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
31
Conflitos e Contradições na História
32
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
33
Conflitos e Contradições na História
34
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
35
Conflitos e Contradições na História
9 PELAES diz que Max protege bandidos na PC. A Gazeta: Vitória, p.11, 02
out. 1989.
10 MAX anuncia que vai reestruturar a Polícia Civil. A Gazeta: Vitória, p.13,
21 out. 1989.
36
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
37
Conflitos e Contradições na História
Considerações finais
Em 10 de novembro de 1989, em defesa do delegado Cláudio
Guerra, quando ainda era possível defendê-lo publicamente, a
Associação dos Delegados de Polícia do Espírito Santo (ADEPOL)
publicou no jornal A Gazeta uma nota de repúdio contra o
“tratamento descortês e impróprio dispensado ao Delegado”, cujo
nome foi escrito em letras garrafais. Tentando evitar a continuidade
das investigações realizadas pela Polícia Federal no combate ao
crime organizado no Espírito Santo, a ADEPOL defendia que a
apreciação das acusações contra Guerra devia ser realizada no
Espírito Santo, pela polícia local. Tal estratégia visava obviamente
manter a impunidade à qual seus membros estavam acostumados.
Dos indiciados no processo de 1969, julgados no Espírito Santo, não
houve nenhuma condenação para os réus arrolados no inquérito.14
13 MAX anuncia que vai reestruturar a Polícia Civil. A Gazeta: Vitória, p.13,
21 out. 1989.
14 CEMITÉRIO clandestino na Serra pode ser uma farsa. A Gazeta: Vitória.
30 abr. 1989, p. 19.
38
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
39
Conflitos e Contradições na História
Referências
BADENES, Francisco. Império da Lei: Justiça Federal decreta
a dissolução judicial da Scuderie Detetive Le Cocq. In: Revista
Phoenix Magazine, disponível no site <http://www.sindepolbrasil.
com.br/sindepol07/segurança1.html>. Acesso em: 15 jul. 2016.
GUERRA, C.; MEDEIROS, R.; NETTO, M. Memórias de
uma Guerra Suja. Rio de Janeiro: Topbooks editora, 2012.
GRINBERG, Lúcia. Partido político ou bode expiatório:
16 PROMOTOR denuncia impunidade de policiais militares. A Gazeta:
Vitória. 26 out. 1989, p. 16.
40
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
41
Conflitos e Contradições na História
42
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
43
Conflitos e Contradições na História
44
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
45
Conflitos e Contradições na História
6 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
7 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
46
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
47
Conflitos e Contradições na História
48
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
49
Conflitos e Contradições na História
50
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
51
Conflitos e Contradições na História
10 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
11 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
12 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
13 CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01, doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007,
cx. 01, doc. 04.
52
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
53
Conflitos e Contradições na História
54
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
55
Conflitos e Contradições na História
56
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
57
Conflitos e Contradições na História
Referências
Documentação primária
Carta de Lei (treslado) do Rei [Felipe II], ao Capitão-
Mor da Capitania do Espírito Santo, Gaspar Alves de Siqueira, a
ordenar a devassa nos descaminhos da alfândega, e constando dos
procedimentos dos culpados, apontou escrivão de confiança para
levar essa diligência na alfândega da dita capitania. Anexo: auto de
testemunhas (01 doc. 60 fls.) CTA: AHU-ESPÍRITO SANTO, cx. 01,
doc. 04, 05. CT: AHU-ACL-CU-007, cx. 01, doc. 04.
Obras de apoio
58
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
59
Conflitos e Contradições na História
60
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Institucionalização do indigenismo no
México: O congresso de Pátzcuaro e o
fortalecimento da antropologia
Caroline Faria Gomes1
61
Conflitos e Contradições na História
62
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
63
Conflitos e Contradições na História
64
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
65
Conflitos e Contradições na História
66
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
67
Conflitos e Contradições na História
68
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
69
Conflitos e Contradições na História
70
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
71
Conflitos e Contradições na História
Referências
BÁEZ-JORGE, Félix. Antropología e Indigenismo en
Latinoamérica Señas de Identidad. In Miguel León Portilla (Coord.).
Motivos de la Antropología Americanista. México: FCE, 2002.
BARRE, Marie-Chantal. Ideologías indigenistas y
movimientos indios. México: Siglo XXI, 1985.
BONFIL BATALLA, Guillermo. Do indigenismo da
Revolução à antropologia Crítica. In: JUNQUEIRA, Carmen;
CARVALHO, Edgard de A. (Orgs.). Antropologia e indigenismo
na América Latina. São Paulo: Cortez Editora, 1981.
CASAS MENDONZA, Carlos Alberto. Nos olhos do outro:
nacionalismo, agências indigenistas, educação e desenvolvimento.
Brasil-México (1940-1970). Campinas, 2005. Tese (Doutorado) –
Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, Universidade Estadual
72
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
de Campinas.
CASO, Alfonso apud NÚÑES LOYO, Verónica. Crisis y
redefinición del indigenismo en México. México: Instituto Mora,
2000.
DÍAZ-POLANCO, Héctor. Indigenismo, populismo y
marxismo. Nueva Antropología, vol 9, p. 7-32, 1978
FAVRE, Henry. El indigenismo. México: Fondo de Cultura
Económico, 1998.
GIL, Antonio Carlos Amador Gil. As ciências sociais ao serviço
do colonialismo? A Antropologia aplicada, o auge do indigenismo e
sua crise no México da segunda metade do século XX. Dimensões,
vol. 29, p. 309-332, 2012.
GIRAUDO, Laura. Anular las distancias: los gobiernos
posrevolucionarios en México y la transformación cultural de
indios y campesinos. Madri: Cientro de Estudios Políticos y
Constitucionales, 2008.
JESUS, Graziela Menezes. Considerações sobre o indigenismo
no México e Peru: a construção da identidade nacional na perspectiva
política e intelectual. Revista Eletrônica da ANPHLAC, n.12, p.
176-196, jan./jun. 2012.
MARIA MARZAL, Manuel. Historia de la antropologia
indigenista: México y Perú. Peru: Anthropos Editorial, 1993.
MARROQUÍN, Alejandro D. Balance del indigenismo:
informe sobre la política indigenista en América. México: Instituto
Indigenista Interamericano, 1972.
NOLASCO ARMAS, Margarita. A antropología aplicada
e seu destino final: o indigenismo. In: JUNQUEIRA, Carmen;
CARVALHO, Edgard de A. (Orgs.). Antropologia e indigenismo
na América Latina. São Paulo: Cortez Editora, 1981.
NÚÑES LOYO, Verónica. Crisis y redefinición del
indigenismo en México. México: Instituto Mora, 2000.
PUIG, André Fábregas. De La Teoría de la Aculturación
73
Conflitos e Contradições na História
74
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
O presente trabalho teve como objetivo analisar os jornais
Imprensa Popular e Última Hora para abordar a estatização da
Estrada de Ferro Leopoldina sob a ótica do movimento sindical
de 1951-1953. Ao analisar, o jornal Imprensa Popular, o qual era
o jornal do PCB, Partido Comunista do Brasil, concluí-se que o
projeto do partido era posto em prática organizando a base dos
trabalhadores da Empresa. As denuncias feitas, pelo jornal, tinha
como foco, que os trabalhadores tomassem consciência da sua
realidade e direcionassem as lutas para a direção da Empresa.
Durante a pesquisa ao Jornal, nota-se que essas lutas são ampliadas,
a partir das reivindicações pelo aumento de salário passa para o
âmbito de outras instituições, exemplo quando os funcionários da
Leopoldina brigam para se enquadrarem como servidores públicos
e autárquicos na comissão que existia. A postura do Jornal Última
Hora era de corroborar com o trabalhismo empregado por Getúlio
Vargas. A forma de apoiar as reivindicações do Sindicato pela JCJ era
a forma legal e sempre evitar ao máximo o conflito, no qual Vargas
seria o mediador desse conflito. Os temas tratados serão condição de
trabalho, sindicato, sindicalismo num sentido mais amplo, o PCB na
Leopoldina, a empresa Estrada de ferro Leopoldina e a política num
sentido mais amplo. Para analise metodológica foi utilizado Adam
Przeworsky e E. P. Thompson, os quais nos trazem uma concepção
da formação da classe trabalhadora que será debatida.
A Estrada de Ferro Leopoldina foi construída a partir de 1873
e inaugurada em 1886, incorporou diversas empresas de menor
porte, espalhando-se por vastas extensões territoriais dos estados
75
Conflitos e Contradições na História
76
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
77
Conflitos e Contradições na História
esterlinas pela estrada de ferro, com todo seu material fixo e rodante,
instalações auxiliares, bem como todas as propriedades imobiliárias
da Companhia do Brasil, estranhas à via férrea. Combinou-se que
o material do almoxarifado e dos armazéns de abastecimento seria
pago pelo preço de custo. O Governo desobrigava a Empresa de
ônus.
78
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
79
Conflitos e Contradições na História
80
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
81
Conflitos e Contradições na História
82
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
83
Conflitos e Contradições na História
84
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
85
Conflitos e Contradições na História
86
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
87
Conflitos e Contradições na História
88
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
89
Conflitos e Contradições na História
90
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
91
Conflitos e Contradições na História
Conclusões
A finalidade desse trabalho foi a de estudar o processo
de estatização da E. F. Leopoldina, a partir da analise dos jornais
Imprensa Popular e Última Hora. Pode-se concluir que o primeiro,
sendo uma ferramenta de divulgação do projeto do PCB, se mostrou
fiel ao seu projeto. Pouco depois dos eventos aqui narrados, uma
chapa liderada pelo partido venceu a eleição para o sindicato dos
ferroviários, mas não foi reconhecida pelo Ministério do Trabalho,
92
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
AMARAL, Maísa M. B. P. Quando o camarada era mau:
hierarquização e disciplinarização do trabalho na CVRD. In: GIL,
Antonio C. A.; JESUS, Graziela M.; PEREIRA, André R. V. V.
(Orgs.). Estudos de história política e das ideias, v.1. Vitória (ES):
LEHPI/UFES, 2014, p. 7-36.
D’ARAÚJO, Maria C. O segundo governo Vargas, 1951-
1954: democracia, partidos e crise política. 2. ed. São Paulo: Ática,
1992.
FERREIRA, Jorge. Trabalhadores do Brasil: o imaginário
popular, 1930-1945. 2. ed. Rio de Janeiro: Sete Letras, 2011.
93
Conflitos e Contradições na História
94
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
2007.
SIQUEIRA, Edmundo. Resumo histórico de The Leopoldina
Railway Company Limited. Rio de Janeiro: Gráfica Editora Carioca,
1938.
THOMPSON, E. P. A formação da classe operária inglesa.
Trad. Denise Bottmann. 3. ed. Paz e Terra, Rio de Janeiro, 1987.
95
Conflitos e Contradições na História
96
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Na época de eleições, o tipo de pesquisa mais divulgado é a
quantitativa. Através dela a população descobre quem está na frente
nas disputas pelos cargos públicos. Elas são importantes e cumprem
bem o seu papel. Entretanto, o grande público não sabe que de forma
efetiva as pesquisas fundamentais para as campanhas eleitorais
são as de cunho qualitativo. É através deste tipo de pesquisa que
candidatos e grupos políticos montam estratégias para as campanhas
eleitorais. Para a construção de um trabalho profissionalizado, seja
em campanha ou mandato parlamentar, é imprescindível o uso
de técnicas de coleta de dados qualitativas e quantitativas. Desde a
campanha eleitoral dos governantes à divulgação de suas realizações,
depois de eleitos, as ações são pensadas de maneira estruturada,
planejada e profissional.
Neste trabalho, o foco está no entendimento de como
as pesquisas são utilizadas durante as campanhas eleitorais e a
importância delas na construção das estratégias. A utilização de
pesquisas esclarece sobre determinado assunto e dá à comunicação
mais subsídios para o desenvolvimento assertivo de seus objetivos.
Para Mendonça, (2001) as pesquisas eleitorais levam a todos
as mais recentes percepções da população sobre um determina do
fato. Funcionam como indicadores para medir o grau de aceitação
dos candidatos em relação aos eleitores revelando as avaliações que
as pessoas fazem dos políticos. Elas funcionam como uma fotografia
da realidade em um dado momento e demonstram a dinâmica de
toda a sociedade.
Na visão de Santa Rita (2002), as pesquisas são utilizadas
1 Pós-graduado em História. Diretor Executivo da República Marketing Político
(http://republicamarketingpolitico.com.br/), analista de pesquisas eleitorais do
Instituto Brand Pesquisas. E-mail: darlan.campos@gmail.com
97
Conflitos e Contradições na História
Marketing Político
Cid Pacheco (1994) considera que o marketing político ainda
é cercado de desinformação, e controvérsia quanto à sua natureza e
abrangência. Segundo ele, por ser uma atividade ainda relativamente
recente no campo da política. Antes de tudo é necessário fazer a
diferença entre o marketing político e o eleitoral. O marketing
eleitoral é um fato não-político que se tornou um dos fatos políticos
mais relevantes da política contemporânea, isto porque o marketing
vem de fora da política e diz respeito ao mercado. Surge do mercado
para o mercado. Mas, sua presença na política não deve ser vista
como estranha ao mundo contemporâneo. Da mesma forma que
o marketing foi uma necessidade para os mercados complexos
da sociedade de consumo de massas, tornou-se necessário para
a atuação política em eleitorados massivos, como os das atuais
democracias liberais. Pacheco chama a atenção que “é assim que
o marketing se associa à política: para atender a uma necessidade
histórico-social. É chamado, não por intromissão”.
Para Ney Figueiredo (1994), a atividade de marketing
político na América Latina é relativamente nova, em parte pela
falta da prática de eleições. O Brasil tem se destacado nas técnicas
do marketing político, estando muito mais próximo dos Estados
Unidos do que da própria América Latina, sendo que as técnicas
se aprimoraram a partir de 1982 com a redemocratização do país
e a prática de eleições quase que de dois em dois anos, para cargos
proporcionais e majoritários.
O marketing político é geralmente associado à propaganda
98
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
99
Conflitos e Contradições na História
100
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
101
Conflitos e Contradições na História
Grupos de Foco
O grupo focal ou grupo de discussão, como técnica de pesquisa
qualitativa, apresenta-se como uma possibilidade para compreender
a construção das percepções, atitudes e representações sociais de
102
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
103
Conflitos e Contradições na História
Entrevistas em profundidade
A entrevista em profundidade é uma entrevista não-
estruturada, direta, pessoal, em que um único respondente é
questionado por um entrevistador altamente treinado, para
descobrir motivações, crenças, atitudes e sentimentos a respeito de
um determinado assunto.
Neste processo o entrevistador inicia com uma pergunta
genérica, e posteriormente incentiva o entrevistado a falar livremente
sobre o tema. Por sua vez a duração pode variar de 30 a 60 minutos,
embora existam casos especiais que podem levar até mesmo
horas, dada a natureza do problema Quando aplicada, a entrevista
individual pode ser classificada em três categorias distintas, em
função do grau de estruturação do guia de entrevista utilizado
pelo entrevistador (MARCHETTI, 1995). A saber: entrevista não-
estruturada; entrevista semi-estruturada e entrevista estruturada.
104
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
105
Conflitos e Contradições na História
Conclusões
A consolidação da democracia e os avanços tecnológicos
traçaram novos rumos para a vida social e modelaram novos
moldes para as disputas eleitorais. Se a própria disputa por si
mesma é vulnerável a acontecimentos que fogem ao controle e à
previsibilidade, a dinâmica das campanhas exige, a cada pleito, mais
profissionalismo, planejamento e estratégias mais seguras e com
menor risco. A pesquisa qualitativa veio consolidando-se ao longo da
história científica como prática que possibilita o desvendamento de
objetos subjetivos que, por sua complexidade, exigem compreensão
mais aprofundada dos fenômenos que os envolvem. Em alguns
casos, de nada adianta uma pesquisa quantitativa sem antes se ter as
qualidades para serem quantificadas.
O eleitor comum é capaz de opinar sobre questões que o
afetam diretamente; seu grau de compreensão é maior, quanto mais
próximas de sua realidade forem às questões abordadas. Ele também
traz consigo a informação, tanto cultural como proveniente da
mídia televisiva, de que os políticos deveriam ser os garantidores da
funcionalidade da coisa pública, entendida, principalmente, como
serviços básicos, habitação, segurança pública, transporte, saúde e
educação de qualidade.
Os atores políticos mantêm sua autonomia e constroem
suas estratégias ao buscarem visibilidade na mídia, de maneira a
se favorecerem e a obterem mais vantagens que seus concorrentes.
Este fato obriga os atores políticos a construírem um novo discurso
no qual cada vez mais, se vê o declínio dos partidos políticos e o
crescente personalismo das campanhas, revelando o despontar de
novas formas de fazer política.
As técnicas de pesquisa qualitativa, que fornecem ao eleitor a
106
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
DIAS, Cláudia Augusto. Grupo Focal: técnica de cole ta de
dados em pesquisas qualitativas. 2000. Disponível em: <http://www.
ies.ufpb.br/ojs2/index.php/ies/article/viewFile/330/252> Acesso
em: 13 out. 2016.
FIGUEIREDO, N. L. Jogando para ganhar: marketing
político, verdade e mito. São Paulo: Geração Editorial, 1994.
107
Conflitos e Contradições na História
108
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Debate teórico
O “chão” que dá base a esse trabalho tem origem de dois
autores, um filósofo e o outro sociólogo, Habermas e Bourdieu. Suas
leituras atentas às estruturas permitem ao pesquisador observar e
captar as nuances históricas da conformação da realidade segundo
seus conceitos, que são de esfera pública e campus. Desse modo, para
estudar a realidade capixaba, ficou entendido que era necessário
observar, num plano mais amplo, a esfera pública, que, como será
observado, constitui o espaço de debates privados sobre o estado e
suas atribuições; e em um plano intermediário, o campo intelectual,
especificamente, aquele dos escritores e colunistas de jornal, por
vezes médicos ou políticos. A esfera pública e campo intelectual
dão acesso ao campo político estabelecido com o processo de
redemocratização brasileira em 1945, após o Estado Novo. Dentro
do sistema de trocas simbólicas, a linguagem predominante foi
aquela estabelecida pela elite, representada pelo PSD e pela UDN,
partidos que tiveram maior peso na Constituinte. Para além disso,
uma concepção geral direcionou os discursos dos mais diversos
atores, a ideia de equilíbrio, pautada na efetividade das instituições,
caso os atores cumprissem suas obrigações.
O período em questão, a década de 40 capixaba, ainda muito
marcada pela agricultura e com a maioria da população no campo,
é marcada por uma esfera pública restrita, a qual o debate sobre o
estado foi monopolizado pela elite dominante, e, principalmente,
debatendo temas nacionais fragmentários, haja vista seu reduzido
tamanho. Ou seja, os temas amplos da sociedade debatidos nos
grandes centros chegavam no Espírito Santo redimensionados,
109
Conflitos e Contradições na História
110
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
111
Conflitos e Contradições na História
112
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
113
Conflitos e Contradições na História
114
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
115
Conflitos e Contradições na História
A Central Brasileira
Um tema fez as mais diversas posições políticas se
manifestarem. Foi a Central Brasileira. O setor energético capixaba,
assim como na maioria dos estados brasileiros na década e 40, era
provido pelo setor privado. A Light e a Amforp dividiam o mercado,
em 70% e 30% respectivamente. A segunda empresa chegou mais
tarde, em 1927, enquanto aquela estava instalada nos principais
centros desde 1895 (JOELSONS, 2014). Dentro de um contexto
de internacionalização do capital norte americano, a Amforp foi
criada para atuar especificamente no mercado latino americano.
Sua chegada ao Brasil seguiu, segundo Joelsons (2014), as cidades
litorâneas não atendidas pela Light. No Espírito Santo e em
Cachoeiro de Itapemirim ela era a Companhia Central Brasileira
de Força Elétrica. Em todos os estados, a razão social da empresa
era distinta, o que se configurava em uma maneira de se esquivar
da fiscalização tributária (FERREIRA, 2012). A empresa assumia
os serviços de bondes, lanchas, telefone, produção e distribuição de
energia elétrica.
Gabriel Bittencourt (2011) apontou para o fato de que, no
Espírito Santo a empresa passou a ter deficiências no atendimento
de seus serviços. Concessionária desde o governo Florentino Avidos
(1924 – 1928), a empresa havia atendido a demanda de energia
elétrica e até estimulado o consumo de seus produtos e serviços, o
que se alterou na década de 40. Isso foi notável através da publicidade
da empresa, o Sr./ ”Seu”3 Kilowatt. Esse personagem foi identificado
em vários estados da federação, segundo os trabalhos de Moraes &
Araújo (2011), Arruda (2014), Felduhes (2008), Castro (2014), Ávila
(2014) e Cadena (2016), em empresas da Amforp. Mas não era um
personagem exclusivo a empresa, pois era outra empresa que fornecia
os direitos de imagem, e também era norte-americana, Tratava-se da
Reddy Kilowatt Inc. Esse personagem, um simpático boneco com
corpo em formato de raio, nariz de lâmpada e mãos e pés encapados
3 O Sr. Kilowatt era assim chamado até 1941, quando passou a ser chamado de
“Seu” Kilowatt. Se antes o slogan era: “Sr. Kilowatt, seu criado elétrico”, passou a ser
chamado de “’Seu’ Kilowatt, o criado elétrico”.
116
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
117
Conflitos e Contradições na História
118
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
119
Conflitos e Contradições na História
120
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
121
Conflitos e Contradições na História
122
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Conclusão
A política capixaba teve uma contradição fundamental em
sua esfera pública. A energia elétrica, transporte, telefonia estava
deficitários, sendo acusados de assim estarem por culpa da Central
Brasileira, por políticos, sindicalistas e sociedade civil (RIBEIRO,
2002). O cotidiano da população de Vitória era marcado pelo (des)
atendimento da empresa, que nem a suas novelas no rádio conseguia
escutar, haja vista que o horário crítico de fornecimento de energia,
nos quais aconteciam os apagões, eram de 18:00 até as 22:00, hora de
lazer da população. Não houve, porém, a identificação da empresa
com sua origem estrangeira, através da inclusão do tema em um
debate nacionalista. O PCB o fez, mas estava acossado pela repressão.
Mas o fez com a Campanha do petróleo. Esta era uma campanha que
emanou do Clube Militar e teve protagonismo do PCB. Na ainda
abstração de que havia petróleo em solo brasileiro, sem muitas provas
concretas disso, houve uma total identificação do nacionalismo,
gerando em solo capixaba, uma grande politização acerca desse tema.
A suspeita é de que, essa campanha ganhou relevância por causa do
papel dos militares nesse debate, o que gerava legitimidade para a
população. Assim, os comunistas, atacados pelo regime, juntaram
seu nacionalismo com o etapismo, linha política do partido. Mesmo
em confronto com o regime, a Campanha do Petróleo teve uma
participação decisiva do comunismo. A contradição é: enquanto
um conjunto de fatos concretos ligados a uma empresa estrangeira
concreta não gerou uma campanha nacionalista, uma ideia ou a
convicção de que havia petróleo no Brasil levou ao surgimento de
uma, se não a mais, importante campanha popular do país. Isso
em acusação dos trustes estrangeiros. De fato, tanto nas faltas de
energia, quanto no medo de serem espoliados os trustes estavam no
123
Conflitos e Contradições na História
Referências
BENEVIDES, Maria Victória Mesquita Benevides. A UDN
e o udenismo: Ambiguidades do liberalismo brasileiro. São Paulo:
Paz e Terra, 1984.
BOURDIEU, Pierre. O poder simbólico. Rio de Janeiro:
Bertrand Brasil, 2011.
CARONE, Edgard. O PCB. 1943 a 1964. Vol.II. São Paulo:
Difel, 1982.
CASTRO, Maria Helena Steffens. Os modernos criados
elétricos. Porto Alegre: UFRGS, 2014.
FELDUHES, Paulo Raphael. Imprensa e propaganda política:
Caminhos do espaço público no Estado Novo pernambucano.
Revista Eletrônica Cadernos de História: publicação do corpo
discente do Departamento de História da UFOP, 2008.
FERREIRA, Ângela; Silva, Alexandro Ferreira Cardoso;
Simonini, Yuri. Os donos da luz: Sistemas de gestão e redes técnicas
no território brasileiro. O caso da Amforp (1927 – 1939). Universidad
Barcelona, Faculdad de Geografia e História, 2012.
GOMES, Angela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo.
Rio de Janeiro: FGV, 2005.
HABERMAS, Jürgen. Mudança estrutural da esfera pública.
Rio de Janeiro: Tempo Brasileiro, 1984.
HECKER, Alexandre. Socialismo sociável. História da
esquerda democrática em São Paulo. São Paulo: Editora da Unesp,
1998.
JOELSONS, Paula. Amforp em Porto Alegre. Multinacional
norte americana de eletricidade e o papel do gerente geral J.E.L.
Millender. Dissertação de mestrado. Porto Alegre, 2014.
MANTEGA, Guido. A Economia política brasileira.
Petrópolis: Vozes, 1984.
124
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
125
Conflitos e Contradições na História
Fontes
Autógrafos das atas da Assembleia legislativa do Espírito
Santo (1947 – 1948). Arquivo da Assembleia Legislativa do Espírito
Santo.
Dossiê Dops 1935. Fundo Dops/ Cxa 01 N° 6. Investigação
acerca das atividades da Aliança Liberal e do partido comunista do
Espírito Santo.
Jornal A Época. (1946 – 1949). Hemeroteca digital da
Biblioteca Nacional.
Jornal A Gazeta (1936 – 1949). Arquivo Público do Espírito
Santo.
Jornal A Tribuna (1948 – 1949). Arquivo municipal de
Vitória.
Jornal Diário da Manhã (1927). Hemeroteca digital da
Biblioteca Nacional.
Jornal Folha Capichaba. 1945. Hemeroteca digital da
Biblioteca Nacional.
Revista Vida Capichaba. (1935/ 1945 – 49). Hemeroteca
digital da Biblioteca Nacional/ Arquivo Público do Espírito Santo.
126
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Esta comunicação tem como objetivo analisar as
demonstrações de nacionalismo no cotidiano japonês observado pelo
escritor greco-irlandês Lafcadio Hearn nas cidades de Kumamoto e
Kobe durante a primeira Guerra Sino-Japonesa (1894-1895).
Os problemas que norteiam esse texto são: Como foram as
demonstrações de nacionalismo testemunhadas por Hearn e porque
surgiram? E sobretudo quais foram as conclusões que o autor
registrou em seus escritos após observar tal cenário?
As observações de Lafcadio Hearn são relevantes porque mais
do que uma testemunha de época, foi um autor renomado do campo
dos estudos japoneses, ou japonologia, ramo do orientalismo que
lida com o estudo da cultura japonesa.
As fontes principais dessa pesquisa são os ensaios A Wish
Fulfilled (Um Desejo Realizado) contido no livro Out of the East(Do
Oriente) (1895), escrito por Hearn enquanto vivia em Kumamoto, e
After the War (Depois da Guerra) e China and the Western World2
(A China e o Mundo Ocidental), componentes respectivamente dos
livros Kokoro(Coração) (1896) e Karma (1918) textos escritos dessa
vez enquanto o autor morava na cidade de Kobe. O primeiro texto
contém observações de Hearn sobre o período de início da guerra,
o segundo sobre o momento imediatamente posterior ao final do
conflito, e o terceiro contém reflexões do autor feitas no ano seguinte
a guerra. Além disso também consultaremos algumas cartas da
1 Doutorando em História Social das Relações Políticas pela Universidade
Federal do Espírito Santo. Bolsista pela Fundação de Amparo à Pesquisa e Inovação
do Espírito Santo (FAPES).
2 Originalmente publicado pela revista Atlantic Monthly de abril de 1896.
127
Conflitos e Contradições na História
128
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
129
Conflitos e Contradições na História
130
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
131
Conflitos e Contradições na História
132
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
133
Conflitos e Contradições na História
134
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
135
Conflitos e Contradições na História
136
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Considerações Finais
Comentando os resultados da Guerra Sino-Japonesa em um
ensaio do livro Out of the East, Lafcadio Hearn (1895, p. 234) afirma
que a autonomia do Japão “está praticamente restaurada, [e] seu
lugar entre as nações civilizadas parece estar assegurado” afirmando
que isso foi conseguido “pela primeira verdadeira exibição de seus
novos poderes científicos de agressão e de destruição”.
Essas observações de Hearn atestam os resultados positivos
obtidos pelo governo Meiji ao abandonar o projeto de modernização
ocidentalizante que marcou seu início e abraçar um projeto
nacionalista e imperialista. O nacionalismo (de fato a primeira
grande onda de nacionalismo do Japão Imperial) foi notável nas
observações cotidianas feitas pelo autor desde o período anterior à
guerra, até o início do conflito e sua posteridade. Essas observações
mostram o sucesso da samuraização dos valores nacionais levada a
cabo no final do século XIX.
Assim para Hearn o saldo desse novo projeto do governo
japonês foi o sucesso, assegurando pela força seu lugar entre as
nações civilizadas, e criando uma promissora perspectiva de futuro,
por isso o dia da vitória sobre a China foi “O verdadeiro dia de
nascimento do novo Japão”.
Referências
BURUMA, Ian. Behind The Mask: On Sexual Demons, Sacred
Mothers, Transvestites, Gangsters and Other Japanese Cultural
Heroes. Nova York: Meridian, 1984.
BURUMA, Ian. Inventing Japan: 1853-1964. Nova York:
Modern Library, 2003.
DURANT, Will. Our Oriental Heritage. Nova York: Simon
and Schuster, 1954.
GORDON, Andrew. A Modern History of Japan: From
Tokugawa Times to The Present. Oxford: Oxford University Press,
2003.
137
Conflitos e Contradições na História
138
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Apesar do Correio da Victoria (1849-1872) ter sido
frequentemente mencionado na reconstituição e análise da
sociedade capixaba (Bastos, 2007; Ferreira, 2010; Campos, 2006),
ainda está por se fazer uma análise mais pormenorizada que enfatize
o impacto desse periódico como o primeiro jornal a introduzir novas
ideias e valores nos embates políticos que se travarão no período. O
objetivo dessa comunicação é analisara atuação e o impacto desse
jornal no cotidiano da política.Em termos mais amplos, a pesquisa
visa contribuir para a historiografia do oitocentos, enfatizando a
especificidade do Espírito Santo no conjunto das províncias que
constituíam o Brasil no século XIX, em momento importante da
constituição do Estado e da sociedade civil.
O tema proposto insere-se no campo da história política,
com ênfase nas articulações entre política, cultura e sociedade. Tais
relações ganharam destaque, principalmente, com a literatura que
utilizou o conceito de “espaço público” de Habermas (1984). O
espaço público, nessa literatura, é caracterizado como o surgimento
de um domínio entre o Estado e sociedade onde inicialmente
literários e jornalistas e, posteriormente, grupos diversos do povo,
ajudaram a moldar uma “opinião pública” que contrabalançava
o poder absolutista dos Estados e influenciava a configuração da
política. Partindo dos insights iniciais de Habermas, muitos autores
têm chamado atenção para as conexões entre política e cultura,
enfatizando as formas de manifestação do privado no espaço público
e, dessa forma, enriquecendo o conceito com questões referentes à
139
Conflitos e Contradições na História
140
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
141
Conflitos e Contradições na História
142
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
143
Conflitos e Contradições na História
144
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
145
Conflitos e Contradições na História
146
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BASTOS, Fabíola Martins. Sociabilidades e espaço urbano:
imprensa, injúria e escravidão no Espírito Santo. Anais do XXIV
Simpósio Nacional de História da ANPUH. São Leopoldo (RS),
2007, p.1-7.
BITTENCOURT, Gabriel. A imprensa no Espírito Santo.
Dimensões, Vitória (ES), n.3, p.34-42, 1992.
147
Conflitos e Contradições na História
148
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
149
Conflitos e Contradições na História
150
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Em 19 de junho de 1951 o então Presidente da República
Getúlio Vargas envia mensagem ao Congresso Nacional propondo
a criação do Serviço Social Rural. A alegação apresentada na época
pautava-se no crescente fluxo migratório da população trabalhadora
da zona rural para os grandes centros urbanos.
O Serviço Social Rural foi alvo de constantes debates dentro
e fora da Câmara dos Deputados. Vários argumentos foram dados.
Dentre eles destacamos os deputados federais Galeno Paranhos do
Partido Social Democrático (PSD), Novelli Júnior (PSD), Celso
Peçanha do Partido Trabalhista Brasileiro (PTB) e Ruy Santos da
União Democrática Nacional (UDN), os três últimos, no dia 22
de junho de 1951, apenas três dias após o envio da mensagem por
Vargas, debateram o projeto em sessão plenária.
Dentro desta problemática, este trabalho tem por objetivo
analisar os discursos em torno da criação dessa política de contenção
do êxodo rural da época, bem como compreender as disputas de
poder que provocava a saída em massa dos camponeses e o quanto
interferiam nas interpretações dos parlamentares no que diz respeito
à abrangência do Serviço Social Rural.
Neste sentido entendemos que a discussão empreendida
e que levou anos para culminar em 1955 na aprovação da lei
definitiva do Serviço Social Rural, entre 1951 e 1952, teve uma forte
concepção autoritária e conservadora como discurso hegemônico,
o que permaneceu posteriormente nas discussões da política
151
Conflitos e Contradições na História
152
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
153
Conflitos e Contradições na História
154
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
155
Conflitos e Contradições na História
156
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
157
Conflitos e Contradições na História
158
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
159
Conflitos e Contradições na História
compensadores.
Sem habitação higiênica, sub-nutrido, mal vestido, sem instrução,
sem assistência médica, mal remunerado, enfim, vivendo esquecido
de todos, o que lhe resta a fazer é abandonar a gleba e procurar
a cidade, onde a falta de preparo técnico e de melhor adaptação,
contribuirá para agravar a crise urbana, perambulando pelas
favelas. Desta vida sem objetivos passa para a vadiagem, para a faina
dos expedientes e, finalmente, para o crime, gerando esse estado
de permanente alarma em que vivem as famílias ameaçadas na sua
tranquilidade pela ação ininterrupta dos malfeitores [...]. Por outro
lado, a produção agrícola vai decrescendo devido à falta de braços
para o trabalho (BRASIL, Diário do Congresso Nacional, 10. Abr.
1951).
O parlamentar ainda ressalta que nem mesmo os estrangeiros
que vêm trabalhar no campo resolveriam a problemática do êxodo
rural, sendo assim de extrema importância a aprovação do SSR,
um projeto que tem por objetivo melhorar a vida do homem no
campo, por meio do assistencialismo, visando à permanência desses
trabalhadores na zona rural.
Aqui temos o problema do êxodo rural e as possíveis
explicações para a ocorrência do fenômeno que Paranhos deu.
Destacamos a forma pela qual o deputado qualifica os trabalhadores
rurais como esquecidos e sem os serviços considerados básicos
para o homem, apontando esta carência como o motivo pelo qual
o camponês deixa a gleba para tentar a vida na cidade. A tentativa
dessa explicação apesar de evocar a vida difícil no campo, cala sobre
as relações de trabalho, bem como a forma pela qual o trabalho
no campo era estruturado4. Este discurso esconde as diversas
formas de trabalho no campo. E deixa implícita a ideia de que
esses trabalhadores são vítimas da omissão do Estado, que além de
esquecer esta gente, também perde a oportunidade de fazer investir
neste tipo de negócio.
Paranhos ainda cita o artigo 156 da Constituição Federal de
1946:
A lei facilitará a fixação do homem no campo, estabelecendo planos
160
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
161
Conflitos e Contradições na História
162
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
163
Conflitos e Contradições na História
Considerações finais
Como podemos observar, ao longo deste trabalho nosso
esforço em tentar compreender como os discursos em torno do
Serviço Social Rural foram concebidos nos revela que a pauta rural
6 Cada cidade seria dividida conforme seu grau de progresso: as cidades
decadentes são aquelas que no passado já foram desenvolvidas. O trabalho exercido
nelas seria o de recuperação. As primitivas seriam as que não tenham acompanhado
o desenvolvimento das suas vizinhas e, portanto estariam atrasadas. Seriam regiões
sub-desenvolvidas ou atrasadas. O trabalho seria de desenvolvimento econômico-
social. O terceiro grupo trata-se das regiões emergentes, em pleno desenvolvimento,
mas que pelas circunstâncias tenderam a um crescimento desordenado. Estas
seriam objeto de trabalho de orientação. “A escolha, para início do Serviço Social
Rural, poderia recair sobre um ou outro desses três tipos de zonas rurais ou sobre
mais de um, simultaneamente, conforme fosse revelado de maior interesse do
ponto de vista nacional” (BRASIL, 1952, p. 192).
164
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
ALVES, Ana Rodrigues Cavalcanti. O Conceito de
Hegemonia: de Gramsci a Laclau e Mouffe. Lua Nova. São Paulo,
p. 71-96, 2010.
BRASIL. CONSTITUIÇÃO FEDERAL DE 1946. Disponível
em: <http://www.jusbrasil.com.br/topicos/10614490/artigo-156-
da-constituicao-federal-de-18-de-setembro-de-1946>. Acesso em:
28 set. 2016.
BRASIL. Discurso sobre a vida da gente da zona rural
e defende o PL do Serviço Social Rural. Diário do Congresso
Nacional. 22 de Junho de 1951.
165
Conflitos e Contradições na História
166
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
167
Conflitos e Contradições na História
168
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
169
Conflitos e Contradições na História
170
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
171
Conflitos e Contradições na História
172
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
173
Conflitos e Contradições na História
174
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
175
Conflitos e Contradições na História
176
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
177
Conflitos e Contradições na História
178
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
179
Conflitos e Contradições na História
180
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
181
Conflitos e Contradições na História
182
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BASILE, Marcello Otávio N. de C. O Império Brasileiro:
Panorama Político In: LINHARES, Maria Yedda (Org.). História
Geral do Brasil. 9. ed. Rio de Janeiro: Elsevier, 2000.
BERSTEIN, Serge. A cultura Política. In: RIOX, Jean-Pierre;
SIRINELLI, Jean-François. (Orgs.). Para uma história cultural.
Lisboa: Estampa, 1998.
183
Conflitos e Contradições na História
184
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
185
Conflitos e Contradições na História
186
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
187
Conflitos e Contradições na História
188
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
189
Conflitos e Contradições na História
190
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
191
Conflitos e Contradições na História
192
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
193
Conflitos e Contradições na História
194
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
195
Conflitos e Contradições na História
Conclusão
196
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
CHALLOUB, Sidney. Cidade febril: cortiços e epidemias na
Corte imperial. Rio de Janeiro: Companhia das Letras, 1996.
DAEMON, Basílio Carvalho. Província do Espírito Santo:
sua descoberta, história cronológica, sinopse e estatística. 2. ed.
Vitória: Secretaria de Estado da Cultura, Arquivo Público Estadual
197
Conflitos e Contradições na História
198
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
O Tribunal do Júri surge no Brasil no século XIX, conseguindo,
num determinado ápice, atingir uma competência de julgamento
em matéria criminal muito ampla, quase irrestrita. Isso abrange o
que hoje se tem pela expressão “crimes eleitorais” (terminologia
anacrônica para a época em questão, por isso sendo utilizada entre
aspas).
Nesse trabalho, tratar-se-á brevemente sobre a instituição
do Tribunal Popular no Brasil oitocentista, bem como o momento
histórico em que ela obteve maior relevância jurídica e abarcou
os crimes políticos, relacionados à estabilidade e independência
do Império e, por conseguinte, crimes advindos do processo
eleitoral vigente. Isso serviu de resistência liberal às forças imperais
centrífugas, causando grande incômodo às elites, que, até então,
detinham o monopólio do direito de dizer o direito.
199
Conflitos e Contradições na História
200
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Independência
Com o retorno de D. João VI a Portugal, em 26/04/1821, fica
no comando do Brasil, agora na categoria de Reino Unido a Portugal,
o seu herdeiro e então príncipe regente, D. Pedro. Este, atendendo
ao requerimento do Conselho dos Procuradores das Províncias,
convoca uma “Assembleia Geral Constituinte e Legislativa do
Brasil”, em 03/06/1822. A partir de então, testemunhou-se uma
sucessão de acontecimentos que culminariam na Independência do
Brasil, em setembro daquele ano (GONÇALVES; SILVA, 2012).
A ebulição de ideias liberais, é claro, foi um fator determinante
nesse processo. As novidades, porém, chocavam-se com as
antiguidades, ainda muito remanescentes. Apesar de estremecida
a tradição do absolutismo português, a Independência de 1822 foi
uma fase pacífica e muito mais reformista do que propriamente
revolucionária na História do Brasil.
Isso não significa, contudo, que todo o processo de
201
Conflitos e Contradições na História
202
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
203
Conflitos e Contradições na História
Constituição de 1824
Antes mesmo da Independência, D. Pedro, então príncipe
regente, a fim de conferir uma estrutura jurídico-administrativa ao
Reino Unido do Brasil (nessa época, pertencente ao Reino Unido
204
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
205
Conflitos e Contradições na História
206
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
207
Conflitos e Contradições na História
208
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
209
Conflitos e Contradições na História
210
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
211
Conflitos e Contradições na História
212
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
213
Conflitos e Contradições na História
Conclusão
Foi em meio a uma conjuntura de conflitos entre forças
políticas divergentes e entre entendimentos variados de calorosos
debates que, em 1822, o Júri foi instituído no Brasil pelas Cortes
Portuguesas. Em 1832, o Código de Processo Criminal concedeu
ao sistema de Jurados atribuições amplíssimas, que incluíam
a apreciação de crimes atinentes às eleições, transformando o
instituto em instrumento de ataque à elite judicial togada, sendo-lhe
admitidos como membros até mesmo analfabetos, o que colocava
o Brasil como uma das nações de legislação mais liberal do mundo.
No Brasil, o Tribunal popular ameaçou diretamente o judiciário
profissional, desde muito enleado a jogos escusos de poder com
a coroa, colocando o cidadão como protagonista das batalhas
judicializadas.
214
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BETZEL, Viviani Dal Piero; CAMPOS, Adriana Pereira. A
justiça e o júri oitocentistas no Brasil. Disponível em: <https://
www.tjrs.jus.br/export/poder_judiciario/historia/memorial_do_
poder_judiciario/memorial_judiciario_gaucho/revista_justica_e_
historia/issn_1677-065x/v6n12/Microsoft_Word_-ARTIGO_A_
JUSTIxA_E_O_JxRI_OITOCENTISTAS..._Adriana_Campos.pdf>.
Acesso em: 15 out. 2016.
BRAZIL. Constituição (1824). Constituição Politica [do]
Imperio do Brazil. Rio de Janeiro:1824. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/Constituicao/Constituicao24.htm>.
Acesso em: 28 set. 2016.
BRAZIL. Lei de 15 de outubro de 1827. Rio de Janeiro, 1827.
Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-
1899/lei-38396-15-outubro-1827-566688-publicacaooriginal-
90219-pl.html>. Acesso em: 19 out. 2016.
BRAZIL. Lei de 20 de setembro de 1830. Rio de Janeiro, 1830.
Disponível em: < http://www2.camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-
1899/lei-37987-20-setembro-1830-565654-publicacaooriginal-
89402-pl.html>. Acesso em: 13 out. 2016.
BRAZIL. Lei de 29 de novembro de 1832. Rio de Janeiro,
1832. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/
LIM/LIM-29-11-1832.htm>. Acesso em: 13 out. 2016.
CAMPOS, Adriana Pereira. Tribunal do júri: a participação
leiga na administração da justiça brasileira do oitocentos. In:
FERREIRA, Maria de Fátima Cunha Moura; NEVES, Edson Alvisi;
RIBEIRO, Gladys Sabina (Orgs). Diálogos entre Direito e História:
cidadania e justiça. Niterói: EdUFF, 2009, p. 218-236.
CLAVERO, Bartolomé. Happy Constitution: cultura e
lengua constitucionales. Madrid: Editorial Trotta, 1997.
COLLECÇÃO DAS LEIS DO IMPERIO DO BRAZIL. Parte
Primeira. Rio de Janeiro: Typhografia Nacional, 1878.
FAORO, Raymundo. Os donos do poder. 6. ed. Porto Alegre:
215
Conflitos e Contradições na História
Globo, 1984.
FLORY, Thomas. El juez de paz y el jurado en el Brasil
Imperial, 1808-1871. México: Fondo de Cultura Economica, 1986.
GARRIGA, Carlos; SLEMIAN, Andréa. “Em trajes brasileiros”:
justiça e constituição na América Ibérica (c. 1750-1850). Revista de
História, São Paulo, n. 169, p. 181-221, julho/dezembro, 2013.
GONÇALVES, João Fábio; SILVA, Bruno Miola da. Breves
estudos sobre a constituição imperial (1824). In: GOMES, Júlio
de Souza; ZAMARIAN, Lívia Pitelli (Orgs). Constituições do
Brasil: análise histórica das constituições e de temas relevantes ao
constitucionalismo pátrio. Birigüi, São Paulo: Boreal Editora, 2012.
HOSTETTLER, John. The criminal jury old and new: jury
power from early times to the present day. Winchester: Waterside
Press, 2004.
LOPES, José Reinaldo de Lima. O direito na história: lições
introdutórias. 3. ed. São Paulo: Atlas, 2011.
MARQUES, José Frederico. A instituição do júri. Campinas:
Bookseller, 1997.
NEQUETE, Lenine. O poder judiciário no Brasil após a
Independência. Porto Alegre: Sulina, 1973.
NEVES, Lúcia Maria Bastos P. Liberalismo político no Brasil:
ideias, representações e práticas (1820-1823). In: GUIMARÃES,
Lucia Maria Paschoal; PRADO, Maria Emilia (Orgs). O liberalismo
no Brasil imperial: origens, conceitos e prática. Rio de Janeiro:
Revan: UERJ, 2013, p. 73-100.
PARREIRA, Tâmara. Polêmica: a instituição do Júri no
Brasil. In: CAMPOS, Adriana Pereira (Org). Velhos temas, novas
abordagens: História e Direito no Brasil. Coleção Rumos da
História. Vol. II. Vitória: PPGHis, 2005, p. 63-78.
SLEMIAN, Andréa. A administração da justiça nas primeiras
décadas do Império do Brasil: instituições, conflitos de jurisdições e
ordem pública (c. 1823-1850). Almanack Revista Eletrônica, n. 3,
p. 225-272, mai. 2012.
216
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
As leituras teóricas e interpretativas sobre os partidos como
organizações servem como base e ponto de partida para se estudar
o PTB e o trabalhismo no Espírito Santo. A partir destas, propõe-se
um trabalho revelador, porque parte para o debate sobre trabalhismo
presente na literatura que ora versa sobre o plano nacional, ora
em estados como Rio de Janeiro, São Paulo e Rio Grande do Sul.
Trata-se, portanto, sob o julgo de um passado específico, analisar os
conceitos e teses da literatura sobre os partidos em um caso particular,
entendendo as idiossincrasias do cenário político capixaba e sua
interação e inter-relação com a esfera nacional da política.
217
Conflitos e Contradições na História
218
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
219
Conflitos e Contradições na História
220
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
221
Conflitos e Contradições na História
222
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
223
Conflitos e Contradições na História
224
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
225
Conflitos e Contradições na História
226
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
2 O livro foi fruto de pesquisas de grupo coordenadas pelo Prof. Dr. André
Ricardo Valle Vasco Pereira (UFES), sendo formado por Charles Torres Bertochi,
Júlia Ott Dutra, Lucian Rodrigues Cardoso e Rodrigo Lima. Apesar de concluído, o
trabalho final ainda não foi publicado pelo referido sindicato.
227
Conflitos e Contradições na História
228
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
classe laboral.
Na hipótese de Sukman (2014), a relação de Jango com os
trabalhadores perpassa por três faces distintas: ministro do Trabalho;
presidente de um partido político; e amigo dos trabalhadores. Assim,
o ator se mostrou um aliado e tornou-se uma referência de liderança
popular. O período de ascensão de Goulart no cenário político
nacional é identificado com o processo concomitante de rotinização
do carisma depositado em Vargas. Neste, Vargas tratou de transferir
seu poder excepcional para uma agremiação política, qual seja o
PTB, tendo como herdeiro de seu legado à pessoa de Goulart.
Tal processo, segundo Sukman (2014), seria dividido em
dois momentos. O primeiro diz respeito a formação de uma
organização ainda incipiente, através do protagonismo de líderes
secundários na sociedade e movimento sindical. Em seguida, a
rotinização se efetivaria através da dispersão do carisma, ou seja,
tais lideranças secundárias ganhariam uma espécie de legitimidade,
tendo independência e autonomia junto ao eleitorado, mas que,
entretanto, se apresentaria como herdeiras políticas do então chefe.
Entretanto, o processo de herança do carisma de Vargas
não fora algo tranquilo e fácil, posto que contou com oposições e
resistências dentro do partido, passou - no caso de Goulart - por
uma derrota eleitoral para o senado por Rio Grande do Sul em 1954.
Porém, contou também com os louros de sua eleição para a vice-
presidência do país em 1955.
Destarte, o trabalho do autor torna-se referência para se
investigar como foi assimilada e recebida pela seção capixaba a
entrada de Jango e novos atores, tal como Brizola, no leme do
trabalhismo. Cumpre analisar se este processo de rotinização do
carisma do chefe adquiriu profundidades suficientes para afetar o
partido num cenário político periférico, com atores comprometidos
com as elites agrárias e mercantis. Além disso, tornar-se-á relevante
perceber como foi a assimilação desse novo discurso reformista,
nacionalista e mobilizante imbuídos nas novas bandeiras do
PTB nacional, porém em um estado com as forças produtivas do
229
Conflitos e Contradições na História
Conclusão
Em suma, as leituras teóricas e interpretativas fornecem
subsídios para se estudar o projeto político e prática trabalhista no
Espírito Santo, com vistas a investigar e analisar as congruências e
especificidades do trabalhismo e ambiente sociopolítico capixaba
em relação ao plano nacional.
Numa época em que o tradicionalismo figurava na sociedade
predominantemente agrária do Espírito Santo cumpre elucidar em
que medida um estado com as forças produtivas do capitalismo
ainda pouco desenvolvidas oferecia condições para assimilação e
desenvolvimento de um programa mais progressista de um partido
trabalhista, em especial, o PTB, que ocorreu durante o processo de
institucionalização do partido.
O PTB capixaba enquanto agremiação representante do
trabalhismo, num cenário de disparidades regionais e retórica
de nacionalismo no país, reforçou os aspectos tradicionais e a
instabilidade de projetos no Espírito Santo. Aventa-se, assim, que,
mesmo num período em que, em contexto nacional, os reformistas
esquerdizantes já mostravam seu vigor para hegemonia partidária
a partir da década de 50, a ideologia influenciava muito pouco nas
dissensões e debates entre as lideranças do trabalhismo capixaba,
fazendo com que bandeiras e agenda desta corrente política fossem
relegadas a segundo plano em solo capixaba.
Pensando nisto, partiremos da premissa de um Partido
Trabalhista Brasileiro assentado nacionalmente em bases urbanas.
Porém, abordaremos este partido em um estado marcadamente
agrário, em que as cisões e disputas facciosas giravam em torno
de questões muito mais pragmáticas e de cunho tradicional, que
em termos ideológicos, algo tributário a uma democracia que
230
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BENEVIDES, Maria Victoria. O PTB e o trabalhismo: partido
e sindicato em São Paulo (1945-1964). São Paulo: Brasiliense, 1989.
BODEA, Miguel. Trabalhismo e populismo no Rio Grande
do Sul. Porto Alegre: Ed. da Universidade/UFRGS, 1992.
CAPELATO, Maria Helena Rolim. Populismo latino-
americano em discussão.In: FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo
e sua história: debate e crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira,
2001, p. 167-203.
CARDOSO, Lucian Rodrigues. Entre a raia miúda e o black
tié: a administração de Mario Gurgel na Prefeitura de Vitória (1957
– 1958). 2013. Monografia (Graduação em História) – Universidade
Federal do Espírito Santo, Vitória, 2013.
CARDOSO, Lucian Rodrigues. Aos amigos, a política! A
administração de Mario Gurgel na Prefeitura de Vitória (1957-
1958) sob a visão do petebista Luiz Buaiz. In: X Encontro Regional
de História da ANPUH-ES, 2014, Vitória. Anais do X Encontro
Regional de História da ANPUH-ES, 2014.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. PTB: do getulismo ao
reformismo (1945-1964). São Paulo: Marco Zero, 1989.
DELGADO, Lucilia de Almeida Neves. Trabalhismo,
nacionalismo e desenvolvimentismo: um projeto para o Brasil. In:
FERREIRA, Jorge (Org.). O populismo e sua história: debate e
crítica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2001, p. 167-203.
FERREIRA, Jorge. O imaginário trabalhista: getulismo, PTB
e cultura política popular, 1945-1964. Rio de Janeiro: Civilização
Brasileira, 2005.
GOMES, Angela Maria de Castro. A invenção do trabalhismo.
231
Conflitos e Contradições na História
232
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
233
Conflitos e Contradições na História
234
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
235
Conflitos e Contradições na História
236
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
237
Conflitos e Contradições na História
238
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
do governo.
I) Observações sobre a franqueza de indústria e estabelecimento
de fábricas no Brasil: os comerciantes portugueses e brasileiros
sabiam que com a abertura dos portos haveria uma diminuição dos
lucros. Assim, tentaram “[...] manter e obter privilégios que lhes
garantisse a posição de proeminência no Brasil” (FARIA JÚNIOR,
208, p. 290). Nessa obra, Silva Lisboa critica esses privilégios. E o
fim desses proporciona, de acordo com Cairu, o desenvolvimento
e riqueza da nação. O brasileiro escreveu esta obra Cairu quando
gozava de sua condição como estadista e interventor da política
econômica do Brasil. Na citada obra, o escritor enobrece o governo
na seguinte passagem:
Como é plausível e nobre o pensamento de se mostrar o Governo
sempre liberal e generoso em adiantar a indústria do povo, e
favorecer com especialidade aos que pretendem empreender tarefas
difíceis, e dispendiosas (LISBOA, 1999, p. 37).
II) Observações sobre o comércio franco do Brasil: nesta
obra Cairu desenvolve a ideia de que o governo francês resultado
da Revolução Francesa age de forma irracional frente a assuntos
econômicos tomando como base as reformas estatais. Observando
o Brasil e dada a concorrência com produtos estrangeiros (leia-
se ingleses), os comerciantes que antes da abertura já atuavam no
Brasil, deveriam abaixar seus preços para se manterem no mercado.
Procurava desmistificar a ideia de que a abertura traria prejuízos ao
mesmo tempo que reafirmava que os interesses do Estado deveriam
se sobrepor aos interesses individuais.
A figura do Rei foi amplamente elevada como pode-se notar
na seguinte passagem:
Por isso suplico a V.A.R. a graça de publicar, sob o Amparo de
seu Augusto Nome, as presentes Observações sobre a primeira, e
magnífica obra com que V.A.R. Foi servido honrar a minha Pátria
(que tem nome fausto, e alusivo a tão grande sucessos). Pondo aí o
sólido, e profundo alicerce, ou, para melhor dizer, a Pedra Angular
do Edifício da Civilização, e Novo Império, que declarou vir criar,
pois estou convencido, que a franqueza do Comércio, regulada
pela Moral, Retidão, e Bem Comum, é o princípio vivificante da
ordem social, e o mais natural, e seguro meio da prosperidade
239
Conflitos e Contradições na História
240
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BURKE, Edmund. Reflexões sobre a revolução em França.
Brasília: Ed. Universidade de Brasília, 1982.
241
Conflitos e Contradições na História
242
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
243
Conflitos e Contradições na História
244
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
245
Conflitos e Contradições na História
Para piorar ainda mais sua situação Eurico Rezende não atendeu a
principal reivindicação feita pelos professores: o reajuste salarial.
Segundo (SOARES, 2005, p. 183), a manutenção do tratamento
dado ao magistério pelo Poder Público fez a UPES trilhar o mesmo
caminho da Confederação dos Professores do Brasil (CPB), ou seja,
afastar-se dos governos militares devido ao não cumprimento das
promessas feitas aos docentes. A presidente da entidade nacional,
Telma Cançado, apontava que a greve, além dos resultados
financeiros e sociais, traria benefícios à sociedade. Portanto, as
paralisações dos professores seriam ”justas e necessárias”.
No caso do Espírito Santo, essa movimentação dos
trabalhadores em educação, e seu consequente afastamento do
Governo, acabaram levando o magistério a ficar em Assembleia Geral
Permanente em 1978, uma forma mais incisiva de cobrar os direitos
que já vinham sendo negados há vários anos. Essa movimentação,
somada à ameaça de greve, colocou o Poder Executivo numa
“saia-justa”, visto que a luta dos professores capixabas extrapolou
as fronteiras do Estado. Mantendo o nível da tensão, o magistério
continuou se reunindo em assembleias, contudo não mais a
permanente, mais as realizadas no Colégio do Carmo. Todo esse
processo de luta chamou a atenção das autoridades e o magistério
passou a ser vigiado pela Polícia Política Capixaba.
246
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
247
Conflitos e Contradições na História
248
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
249
Conflitos e Contradições na História
250
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
251
Conflitos e Contradições na História
252
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
253
Conflitos e Contradições na História
254
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
255
Conflitos e Contradições na História
256
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
257
Conflitos e Contradições na História
linha política da qual a UPES fazia parte era apoiada pelos comunistas
ligados ao PCB (Partido Comunista Brasileiro), PC do B (Partido
Comunista do Brasil) e MR-8 (Movimento Revolucionário 8 de
outubro). Do outro lado atuava o grupo chamado “esquerdistas”,
que acreditavam na luta de forma mais incisiva, não aceitando
diálogo com os governos militares.
A partir desse primeiro encontro foram reiniciados os
contatos entre os diversos estados, resultando em reuniões
realizadas durante o ano de 1980. Contudo, até chegarmos a julho
desse ano a divergência de concepção na construção do movimento
dos professores mostrou-se bastante presente no Espírito Santo, e
mereceu a vigilância do DOPS.
258
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
259
Conflitos e Contradições na História
260
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
261
Conflitos e Contradições na História
262
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
263
Conflitos e Contradições na História
Referências
FAGUNDES, Pedro Ernesto. Memórias silenciadas: catálogo
seletivo dos panfletos, cartazes e publicações confiscadas pela
Delegacia de Ordem Política e Social do Estado do Espírito Santo.
DOPS/ES (1930-1985). Vitória: GM Editora / APEES, 2012.
HORTON, Paul B.; HUNT, Chester L. Sociologia. São Paulo:
McGraw-Hill do Brasil, 1980.
JÚNIOR, Amarílio. F. de professores e as organizações de
esquerda durante a ditadura militar transdisciplinar. In: ROSSO, S.
D. (Ed.). Associativismo e sindicalismo em educação - Organização
e lutas. Brasília: Paralelo 15, 2011.
SOARES, Renato Viana. Retrato Escrito: a reconstrução
da imagem das(os) professoras(es) através da mídia impressa
(1945/1995) . Vitória: ITB, 2005.
Fundos Documentais
264
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Jornais e Periódicos
A Posição. Vitória. 12 a 19 de maio/1979
A Posição. Vitória. set./ 1979.
O Diário. Vitória.8 de Nov./1979
Entrevistas
Joaquim Silva
Júlio Carlos de Oliveira
265
Conflitos e Contradições na História
266
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
O interesse em discutir nação e identidade nacional nas duas
primeiras décadas do século XX no Brasil é justificado pela força que
a questão tinha à época. Como destaca Tânia Regina de Luca em seu
livro A revista do Brasil: Um diagnóstico para a (N)ação, os intelectuais
brasileiros de início do século XX refletiram obstinadamente o Brasil
a fim de abarcar sua especificidade. Sublinhavam os problemas,
propunham soluções e defendiam diferentes sonhos e projetos de
futuro. Esse, para a autora, é um movimento comum de momentos
de crise, transformação ou ruptura, e se torna quase uma compulsão.
A busca dos elementos fundadores e de originalidade da nação, a
construção de uma identidade capaz de diferenciá-la no confronto
com o outro e o esforço para compreender sua atuação no contexto
mundial parecem ganhar um novo sentido em momentos de “crise”.
Lilia Moritz Schwarcz (1993) sublinha que o período de transição
do século XIX para o XX foi de bastante ebulição social, política e
intelectual e a Guerra do Paraguai acelera as contradições do sistema.
A desmontagem do sistema escravista, preocupação com a questão
da mão de obra, o fim do Império, a convivência entre os antigos e
novos centros econômicos do país.
As autoras põem em relevância a geração de intelectuais da
década de 1870, caracterizada pela diversidade no que se refere à
origem social e à área de atuação em relação às gerações anteriores.
Esses intelectuais denunciam o imobilismo do Império, a escravidão,
o atraso econômico do país. Mas, apesar da esperança frente os
eventos de fins do século, Abolição e República, predominou nos
primeiros anos do século XX um sentimento de desilusão em relação
à recém-proclamada República, como ressaltam Pécaut (1990),
1 Mestranda do Programa de Pós Graduação em História da Universidade
Federal do Espírito Santo.
267
Conflitos e Contradições na História
268
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
269
Conflitos e Contradições na História
270
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
271
Conflitos e Contradições na História
272
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
273
Conflitos e Contradições na História
274
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
275
Conflitos e Contradições na História
276
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
277
Conflitos e Contradições na História
278
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Propostas e ação
Como afirmamos anteriormente, Roquette-Pinto acreditava
que o problema do atraso brasileiro não estava na questão racial em
si, o problema não era a deficiência ou falta de capacidade intrínseca
aos mestiços brasileiros. A inferioridade não estava na raça, mas na
falta de uma proposta de integração desses homens ao Brasil. Eles
sequer sabiam o que era o Brasil ou reconheciam os símbolos do país,
viviam na miséria e, segundo o diagnóstico da época, à mercê das
doenças. O grande símbolo desse movimento é o personagem “Jeca
Tatu” de Monteiro Lobato. A história desse personagem representa
de maneira exemplar a influência do movimento sanitarista no meio
intelectual da época. Inicialmente, “Jeca Tatu era pobre, ignorante,
sujo e mestiço (STEPAN, 2005, p. 167)”. Mas, por volta de 1918,
ano da fundação da Liga Pró-Saneamento, Monteiro Lobato muda
sua opinião sobre “Jeca Tatu”. Ele não é preguiçoso e indolente por
pertencer a “um tipo degenerado” ou a “uma raça degenerada”. O
problema de seu personagem, que representava o homem do sertão
brasileiro, era a falta de alimentação; as doenças, especialmente a
ancilostomose; e a falta de saneamento (STEPAN, 2005). O Jeca
Tatu, que representa o sertanejo, não é inerentemente inferior ou
ruim, mas está improdutivo e indolente devido às condições em que
vive. E, desta maneira a responsabilidade por esse comportamento
dos “Jecas” do Brasil é da República Oligárquica, que não soube
integrar esses homens ao país.
A crença de que o atraso brasileiro não era fruto de uma
inferioridade racial intrínseca norteia toda sua obra, tanto em
seus primeiros anos de carreira, marcados por sua produção
antropológica, quanto em sua maturidade, mais caracteristicamente
marcada por sua atuação enquanto divulgador da ciência. È com o
intuito de educar essas populações alijadas da civilização e, por isso,
279
Conflitos e Contradições na História
280
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Conclusão
De acordo com a concepção de Anderson sobre nação, como
uma comunidade imaginada na qual um grupo de indivíduos se sente
ligado entre si por um mesmo vínculo. Consideramos que Roquette-
Pinto e seus pares não viam o Brasil como uma nação formada, mas
como uma nação em construção. O Brasil precisava ser construído
e, por isso, Roquette-Pinto defendia tão arduamente suas visões,
propostas e ações sobre o Brasil. Além do mais, Roquette-Pinto foi
notável por refutar as visões que negavam a possibilidade de o Brasil
formar uma nação dada à sua configuração racial peculiar e mestiça.
Ele acreditava na viabilidade de formação de uma nação brasileira a
partir da integração dos elementos excluídos da nação por meio da
educação e de uma reforma dos costumes a partir da ciência e dos
princípios da higiene.
Referências
ARANHA, Jaime; Massarani, Luiza; Moreira, Ildeu de Castro.
Roquette-Pinto e a divulgação científica. In: DE SÁ, Dominichi
Miranda; Lima, Nísia Trindade (Org.). Antropologia Brasiliana:
Ciência e educação na obra de Roquette-Pinto. Belo Horizonte:
Editora UFMG; Rio de Janeiro: Ed. Fiocruz, 2008.
ANDERSON, Benedict. Comunidades imaginadas: reflexões
sobre a origem e a difusão do nacionalismo. São Paulo: Companhia
das Letras, 2008.
CARVALHO, José Murilo de. Pontos e bordados: escritos de
281
Conflitos e Contradições na História
282
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
283
Conflitos e Contradições na História
284
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Esta pesquisa, como parte do Programa Institucional de
Iniciação Científica, financiada pela Fundação de Amparo à Pesquisa
e Inovação do Espírito Santo (FAPES), nasceu após conversa com
meu professor e orientador, André Ricardo Valle Vasco Pereira,
que me acolheu em seu grupo de pesquisa “Formação da Classe
Trabalhadora Capixaba” (http://lehpi.ufes.br/grupos-de-estudos),
que faz parte do Laboratório de Estudos de História Política e das
Ideias da Universidade Federal do Espírito Santo (LEHPI/UFES).
Utilizei como fonte primária, o periódico do Espírito Santo
Folha Capixaba - digitalizado e disponibilizado para a comunidade,
por meio da Hemeroteca Digital da Biblioteca Nacional, sediada no
Rio de Janeiro. Jornal este no qual integrantes do Partido Comunista
do Brasil (PCB) tratavam de assuntos essencialmente trabalhistas,
teciam discursos contra o imperialismo norte-americano e traziam
um apanhado global das realizações dos partidos comunistas
nacional e internacionais, especialmente os da União das Repúblicas
Socialistas Soviéticas (URSS). Desta forma, com fito de fazer
um levantamento e análise de como a categoria dos portuários
mobilizou-se, entre os anos de 1954 a 1961, em termos de lutas
por melhoria nas condições de trabalho, de representação política,
visibilidade em geral, esta pesquisa nasceu. O marco temporal se
deveu ao fato de que o arquivo do jornal cobre apenas este período,
apesar dele ter sido publicado desde 1945, na base média de uma
edição por semana.
Na década de 1950, o país estava em plena transição de
um modelo agrário-exportador-coronelista e, sob a égide de um
Estado interventor, para o Capitalismo, o que se deu mediante
285
Conflitos e Contradições na História
286
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
287
Conflitos e Contradições na História
288
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
289
Conflitos e Contradições na História
290
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
291
Conflitos e Contradições na História
292
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
293
Conflitos e Contradições na História
294
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
295
Conflitos e Contradições na História
296
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
297
Conflitos e Contradições na História
298
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
todo o lucro obtido pela companhia, estes não recebem mais que um
salário mínimo. A diferença residia no fato de, por serem marítimos,
fazerem jus a direitos como salário-família, abonos pagos pelo
governo federal etc.
Mais tarde, foi sugerido pelas autoridades que os catraieiros
subissem a passagem para Cr$ 2,00, o que foi rechaçado. Enxergou-
se aí uma tentativa de fazer migrar os passageiros para as lanchas,
que estavam com menor valor de passagem. Em 1959, os catraieiros
buscaram legalizar este valor, lutando pelo aumento da passagem
junto à Comissão de Marinha Mercante. A precariedade do Cais
dos botes em Vitória, necessitando de urgentes reparos, também foi
salientada. No mesmo ano, os catraieiros denunciaram perseguição
da Capitania dos Portos junto à Central Brasileira, dispostos,
segundo eles, a “liquidarem a catraia”, meio de transporte utilizado
por grande parte da população. Com tal medida, cerca de 150
catraieiros, à época, perderiam seu meio de sustento. Os catraieiros
se viam em completa desvantagem com relação às lanchas. Com
piores condições de trabalho, sendo autônomos, viviam em
condições insalubres, em “habitações miseráveis e anti-higiênicas”,
com numerosas famílias, ainda que atendessem uma demanda de
passageiros muito superior ao da Central Brasileira. Os catraieiros
foram inclinados a conviver com os grandes projetos industriais,
promovidos ao longo do tempo pelas empresas interessadas,
juntamente ao governo estadual (MORAES, 2015).
No caso das catraias é importante verificar que, até a década
de 1960, estas, juntamente com as lanchas da Companhia Central
Brasileira de Força Elétrica (CCBFE), eram basicamente o meio de
transporte utilizado pela população entre a Capital e região de Paul
e arredores, em Vila Velha, para atravessar a baía de Vitória. Sua
decadência se deveu à expansão do sistema rodoviário. Os ônibus,
juntamente com as pontes erguidas ligando as ilhas, terminam por
suplantar sua utilização, até praticamente seu desaparecimento.
Em 7 de setembro de 1957, foi levantada a questão dos
trabalhadores do Portos não saberem se estavam enquadrados como
299
Conflitos e Contradições na História
300
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
301
Conflitos e Contradições na História
Conclusão
Estudar a formação da classe trabalhadora capixaba, em um
contexto, dentro de uma sociedade historicamente conservadora, não
deixa de ser um desafio. A própria pesquisa só foi possível por contar
com um periódico que, a duras penas, sobrevivia graças à publicidade
– como todos os outros; entretanto, no caso de Folha Capixaba, a
presença dos chamados reclames, chega a ocupar praticamente
metade das edições. Este periódico consistia em um instrumento
da esquerda, essencialmente tratando de assuntos concernentes às
reivindicações trabalhistas, atuando como ferramenta de denúncias
de abusos, não cumprimento de acordos entre Estado x trabalhador,
patrão x trabalhador etc, além de conclamar as classes à união, à
“unidade”.
Graças ao que foi preservado deste jornal, conseguimos traçar
um panorama de como os trabalhadores portuários se portavam
em meio as mais diversas intempéries e conquistas. É possível
302
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
ANDRÉ, Marlene M. A organização do trabalho portuário:
o cotidiano de vida e trabalho dos portuários avulsos. Espírito Santo:
EDUFES, 1998.
CARDOSO, Lucian R. Entre a raia miúda e o blacktie: a
303
Conflitos e Contradições na História
304
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
A presente comunicação, tendo como área de pesquisa a
História do Direito no Brasil Império, empreende investigação
acerca do processo judicial de treze oficiais envolvidos na Sabinada,
reconhecidos pelas autoridades legais como os principais militares
atuantes na rebelião.
O processo, iniciado no Conselho Militar, foi posteriormente
submetido à Junta Militar de Justiça da Bahia, cuja sentença fora
recorrida ao Supremo Tribunal de Justiça, revista, e encaminhada
para o Tribunal da Relação do Rio de Janeiro. Neste longo percurso,
os embates decorrentes suscitarão uma série de questões no que
tange tanto ao sistema jurídico do Império quanto à própria natureza
da revolta.
Desta forma, a investigação buscou elucidar o panorama geral
da revolução dos sabinos, determinar o funcionamento básico dos
tribunais responsáveis pelo processo e problematizar a aplicação
das leis no caso concreto dos réus. Para tanto, além de apoiar-se
em bibliografia especializada no objeto de estudo, sendo o livro
“A Sabinada” de Paulo César de Souza a mais recorrida, a pesquisa
focou nas fontes em jornais de época, com maior ênfase no “Correio
Official” (RJ).
A Rebelião
A Sabinada foi uma dentre várias rebeliões ocorridas durante
o período regencial do Império brasileiro, mais precisamente, o
evento ocorreu entre 7 de novembro de 1837 e 16 de março de 1838,
tendo como epicentro a cidade de Salvador.
305
Conflitos e Contradições na História
306
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
307
Conflitos e Contradições na História
O contexto do julgamento
A repressão decorrente da vitória legalista pode ser sintetizada
pela Lei de 30 de abril de1838, constante na edição de número 129
do “Diário do Rio de Janeiro” (1838, p. 1):
Thomaz Xavier Garcia d’Almeida, presidente da província da
Bahia. Faço saber à todos os seos habitantes, que a assembléia
geral legislativa provincial decreton [sic], e eu sanccionei a lei
seguinte:Art. 1º Ficão suspensas, por espaço de dois mezes, as
garantias dos §§ 6, 7 e 8 do artigo 179 da constituição, para o
fim de serem removidos d’esta para qualquer outra província, os
indivíduos suspeitos à segurança publica; bem como para que a
respectiva autoridade possa, dia, ou noite, entrar na casa, que lhe
fôr suspeita, sem lhe obstarem as formalidades das leis, e mesmo
prender, sem culpa formada, os comprehendidos na revolução de
7 de novembro de 1837, podendo formar-lhes a culpa, quando
possível seja [...].
Suspendia-se, desta forma, alguns dos direitos individuais
básicos garantidos pela Constituição de 1824. Nessas condições,
iniciava-se o processo dos treze principais líderes militares da
Sabinada, dentre tantos outros militares e civis que aguardavam
308
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Os réus
Conforme já salientado, as fontes falam de 13 militares
considerados os “cabeças” da Revolução, os quais partilharam o
mesmo processo. O jornal fluminense “Correio Official” (1840, pp.
49-50), em sua edição de número 13, aponta nomes e as respectivas
patentes de 12 destes réus. Infelizmente, não foi possível descobrir a
identidade, muito menos a patente do 13º réu. Assim, doravante, o
mesmo será referido como “Oficial desconhecido”. São eles:
I) Tenente Coronel Ignacio Joaquim Pitombo, elevado pelos
rebeldes ao posto de Coronel, e comandante de um dos pontos por
eles fortificados;
II) Tenente Coronel Manoel Marques Cardoso, Ajudante General
dos rebeldes;
III) Major de artilharia Sérgio José Velloso, General em chefe dos
rebeldes;
IV) Major de artilharia Inocêncio Eustáquio Ferreira de Araujo,
General de divisão dos rebeldes;
V) Major reformado José Joaquim Leite, Coronel comandante de
divisão dos rebeldes;
VI) Tenente Manoel José de Azeredo Coutinho, Tenente Coronel
comandante da terceira brigada dos rebeldes;
VII) Capitão Manoel de S. Boaventura Ferraz, Coronel e diretor do
arsenal de guerra dos rebeldes;
VIII) Tenente de Caçadores Pedro Barbosa Leal, Major e
comandante da polícia dos rebeldes;
IX) Tenente Alexandre Ferreira do Carmo Sucupira, Major
comandante de um dos batalhões dos rebeldes;
X) Alferes João da Paixão, Capitão e comandante de um corpo dos
rebeldes;
XI) Alferes Ajudante Rodrigo Xavier de Figueiredo Ardignhac,
Major e secretário do comando das armas dos rebeldes;
XII) Alferes Manoel Florêncio do Nascimento, Tenente e secretário
309
Conflitos e Contradições na História
310
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
311
Conflitos e Contradições na História
312
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
313
Conflitos e Contradições na História
314
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
315
Conflitos e Contradições na História
Conclusão
316
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Referências
BRASIL. Constituição (1824). Constituição Politica do
Império do Brazil. Rio de Janeiro, 1824. Disponível em: <http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao 24.htm>.
Acesso em: 30 out. 2016.
BRASIL. Lei de 18 de Agosto de 1831. Crêa as Guardas
Nacionaes e extingue os corpos de milicias, guardas municipaes e
ordenanças. Rio de Janeiro: 1824. Disponível em: <http:/ /www2.
camara.leg.br/legin/fed/lei_sn/1824-1899/lei-37497-18-agosto-
1831-564307-publicacaooriginal-88297-pl.html>. Acesso em: 31out.
2016.
CORREIO OFFICIAL. Rio de Janeiro: Typographia Nacional,
ed. 78, ano 6, 6 de abril de 1838, 4 p. Disponível em: <http://memoria.
bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib =749 443&pasta=ano%20
183&pesq=>. Acesso em: 27 out. 2016.
CORREIO OFFICIAL. Rio de Janeiro: Typographia
Nacional, ed. 103, ano 7, 8 de maio de 1839, 4 p. Disponível em:
<http://memoria.bn.br/DocReader/docreader.aspx?bib= 749
317
Conflitos e Contradições na História
318
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
319
Conflitos e Contradições na História
320
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
321
Conflitos e Contradições na História
322
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
323
Conflitos e Contradições na História
324
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
325
Conflitos e Contradições na História
Referências
AGUIAR, Ronaldo. Manoel Bomfim, intérprete do Brasil. In:
BOMFIM, Manoel: O Brasil na História: deturpações das tradições.
Degradação política. 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 2013. p. 15-26.
AGUIAR, Ronaldo. O rebelde esquecido: tempo, vida e obra
de Manoel Bomfim. Rio de Janeiro: Topbooks, 2000.
BAGGIO, Kátia. A “outra” América: a América Latina na
visão dos intelectuais brasileiros das primeiras décadas republicanas.
1998. Tese (Doutorado em História) – Universidade de São Paulo,
São Paulo, 1998.
BOMFIM, Manoel. O Brasil Nação: realidade da soberania
brasileira. 2. ed. Rio de Janeiro: Topbooks, 1996.
FILGUEIRA, André. A utopia nacionalista em Manoel
Bomfim. Revista Em Tempo de Histórias – Publicação do Programa
de Pós-Graduação em História da Universidade de Brasília, Brasília,
n. 20, p. 153-163, 2012.
GONTIJO, Rebeca. Manoel Bomfim, “pensador da História”
na Primeira República. Revista Brasileira de História – On-line
version, São Paulo, v. 23, n.45, 2003. Disponível em: <http://www.
scielo.br/scielo.php?pid=S010201882003000100006&script=sci_
arttext&tlng=es>. Acesso em: 23 jun. 2014.
MARTINS, Wilson. Profeta da quinta revolução. In: BOMFIM,
326
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
327
Conflitos e Contradições na História
328
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Esta apresentação faz parte do desenvolvimento de minha
pesquisa de doutorado, que pretende compreender o longo
processo de expropriação das terras indígenas e integração da mão
de obra nativa na província do Espírito Santo. O recorte espacial
se delimitará na análise das vilas de Santa Cruz e Nova Almeida,
antigos aldeamentos jesuíticos daquela província. A escolha de
iniciar a pesquisa no ano de 1850 é importante pois acreditamos
ter sido a partir da segunda metade do século XIX que os conflitos
agrários, envolvendo as terras indígenas, se intensificaram naquela
região, desenrolando-se até o final do regime monárquico. Não
que as disputas pelas terras indígenas tenham se encerrado naquele
contexto, pelo contrário, elas tomaram formas variadas até os dias
atuais. No entanto, nos interessa neste momento entender esse
processo à guisa da lei de Terras de 1850 e seus desdobramentos na
experiência espírito-santense ao longo do oitocentos.
Nova Almeida, hoje distrito do Município da Serra, foi
uma antiga missão jesuítica, denominada Reis Magos, que após a
expulsão dos padres se elevou à categoria de vila, em 1759-1760. A
freguesia de Aldeia Velha era um povoado pertencente ao município
de Nova Almeida, que deste se desmembrou em 1848, tornando-
se vila com a denominação de Santa Cruz. Aos descendentes dos
Tupiniquim e Terminó aldeados na antiga missão jesuítica “foi
concedida uma vasta sesmaria e assegurados os privilégios do Alvará
de 8/5/1758. Por essa lei estendiam-se a todos os índios do Brasil
os mesmos direitos primeiramente concedidos aos índios do Grão-
Pará e Maranhão”. (MOREIRA, 2002, p. 152). A sesmaria conferida
1 Doutoranda do Programa de Pós Graduação em História pela Universidade
Federal Rural do Rio de Janeiro.
329
Conflitos e Contradições na História
aos índios de Nova Almeida foi dada quando estes ainda estavam
sob a tutela dos jesuítas, tendo sido demarcada no livro de Tombo
da vila após a expulsão dos missionários.
Em seu artigo intitulado “Nem selvagens nem cidadãos: os
índios da vila de Nova Almeida e a usurpação de suas terras durante
o século XIX”, Vânia M. Losada Moreira (2002) analisa o processo
de expropriação das terras indígenas daquela vila a partir de duas
questões que, segundo ela, marcaram a história da comunidade
indígena da vila de Nova Almeida, a saber, o processo de perda
territorial e a condição “controversa” dos índios considerados
“civilizados”.
A Câmara municipal de Nova Almeida e os índios entrariam
em conflito pela posse da sesmaria doada. Os representantes do
poder político local utilizariam de vários estratagemas para justificar
a contínua usurpação daquelas terras. Vânia Moreira nos dá um
bom exemplo dessa situação, quando nos relata o caso envolvendo
os índios Manoel Francisco de Almeida e Inácio Pereira Samora,
que no ano de 1846 entraram com representação ao presidente da
província, acusando a perda de suas terras para a Câmara de Nova
Almeida. Em resposta às acusações, a Câmara alegaria serem os
índios apenas “usufrutuários” da sesmaria por eles ocupada e que
não exerciam sobre elas nenhum direito de domínio (MOREIRA,
2002).
No entanto, Moreira questiona essa afirmação, pois a
sesmaria concedida aos índios lhes dava título de posse sobre a
mesma baseando-se no direito originário. No entanto, esse direito
seria negado e o avanço sobre as terras indígenas continuariam
e com ele as estratégias da Câmara para deslegitimar a posse dos
índios. “Na opinião dos membros da câmara, até mesmo a simples
ausência temporária da terra tornava o índio desprovido do direito
de continuar na condição de ‘usufrutuário’”. (MOREIRA, 2002, p.
155). O que era muito oportuno para aquela vila, uma vez que de
lá eram recrutados muitos índios para o trabalho dentro e fora da
província.
330
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
331
Conflitos e Contradições na História
332
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
333
Conflitos e Contradições na História
334
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
335
Conflitos e Contradições na História
336
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
337
Conflitos e Contradições na História
338
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
339
Conflitos e Contradições na História
340
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Considerações finais
Retomemos as considerações do historiador francês Paul
Veyne, que em sua reflexão sobre a escrita historiográfica, nos faz
lembrar, contra qualquer reducionismo cultural, ou ambição de
uma história total, que o trabalho do historiador é fazer escolhas, é
recortar e delimitar sua escrita. Nesse processo, o que é importante
ser lembrado e por outro lado, esquecido, faz parte da operação de
escrita da narrativa histórica, logo, não é algo natural. As escolhas
que organizam os fatos e que os dá inteligibilidade estão ligadas
diretamente as nossas preocupações no presente.
Dito de outro modo, como escrever uma história das
sociedades indígenas a partir de documentos deixados por homens
que tinham interesses em perpetuar imagens estereotipadas,
preconceituosas desses sujeitos? Pensando nessa tarefa, o
historiador John Monteiro procurou refletir sobre as dificuldades
que os historiadores apontavam para não estudar a história dos
índios. Para ele, o principal obstáculo não estava nas fontes, uma
vez que pela desconstrução do discurso, pela comparação de fontes,
pelo crivo do trabalho historiográfico, juntamente com o auxílio
de outras disciplinas, como a Antropologia, é possível analisar
esses documentos com o rigor necessário para se pensar os índios
na história. Mas o problema era o recorte escolhido, o objeto, as
escolhas que por muito tempo, pelo menos até a década de 80,
não se interessavam em pensar os índios para além da “teoria do
extermínio”, o que condenou estes a uma eterna derrota, tanto no
passado, como no presente (MONTEIRO, 2001).
Hoje podemos afirmar que tem se consolidado uma
historiografia preocupada em inserir os povos indígenas na história
e romper com o velho paradigma da “extinção”. É importante que
mais trabalhos vasculhem esse passado fragmentado e dinâmico
da atuação dos povos indígenas na formação do Brasil. Para isso, é
341
Conflitos e Contradições na História
Referências
ALMEIDA, Maria Regina C. de. ; MOREIRA, Vânia Maria
Losada . Índios, Moradores e Câmaras Municipais: etnicidade e
conflitos agrários no Rio de Janeiro e no Espírito Santo (séculos
XVIII e XIX). Mundo Agrario (La Plata), v. 13, 2012.
ALMEIDA, Maria Regina C. de. Política Indigenista e
Etnicidade: estratégias indígenas no processo de extinção das
aldeias do Rio de Janeiro- século XIX. In: ESCOBAR, Ohmstede A;
MANDRINI, R.; ORTELLI, S. (Eds). Sociedades em Movimiento
- Los pueblos indígenas na America Latina em el siglo XIX.
Argentina: Instituto de Estudios Históricos - Sociales-UNCPBA,
2007, p. 219-233.
BURKE, Peter. O que é história cultural?. Tradução de Sergio
Goes de Paula. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2005.
CHARTIER, Roger. À beira da falésia: a história entre
incertezas e inquietude. Tradução de Patrícia Chittoni Ramos. Porto
Alegre: Ed. Universidade/UFRGS, 2002.
CERTEAU, M. A invenção do cotidiano I: as artes do fazer.
3. ed. Petrópolis: Vozes, 1998.
CUNHA, M. C. da. Política indigenista no século XIX. In:
CUNHA, M. C. da (Org.). História dos índios no Brasil. São Paulo:
Companhia das Letras: Secretaria Municipal de Cultura: FAPESP,
1992.
Klítia Loureiro. O processo de modernização autoritária
da agricultura no Espírito Santo: os índios Tupiniquim e Guarani
Mbya e a empresa Aracruz Celulose S/A, 1967-1983. Dissertação
de Mestrado em História - Universidade Federal do Espírito Santo,
342
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
2006.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Terras indígenas do Espírito
Santo sob o regime territorial de 1850. Revista Brasileira de História
(Impresso), São Paulo, v. 22, n.43, p. 153-169, 2002.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Nem selvagens nem
cidadãos: os índios da vila de Nova Almeida e a usurpação de suas
terras durante o século XIX. Revista de História (UFES), Vitória,
ES, v. 14, n.14, p. 151-168, 2002.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. A serviço do Império e
da nação: trabalho indígena e fronteiras étnicas no Espírito Santo
(1822-1860). Anos 90 (UFRGS. Impresso), v. 17, p. 13-54, 2010.
MOREIRA, Vânia Maria Losada. Deslegitimação das
diferenças étnica, ‘cidanização’ e desamortização das terras de
índios: notas sobre liberalismo, indigenismo e leis agrária no Brasil
e no México na década de 1850. Revista Mundos do Trabalho, v. 4,
p. 68-85, 2012.
MONTEIRO, John. Tupis, Tapuias e Historiadores. Estudos
de História Indígena e do Indigenismo. Tese de livre docência,
Unicamp 2001.
MONTEIRO, John. Negros da Terra: índios e bandeirantes
nas origens de São Paulo. São Paulo: Companhia das Letras, 1994.
MOTTA, M. M. M. A Lei de Terras e seus significados. In:
MOTTA, M. M. M. Nas fronteiras do poder. Conflito e direito
à terra no Brasil do século XIX. Rio de Janeiro: Vício de Leitura/
Arquivo Público do Estado do Rio de Janeiro, 1998.
NETO, Jaime Bernardo. Pequenas propriedades rurais
e estrutura fundiária no Espírito Santo: uma tentativa de
entendimento das particularidades. Monografia- Departamento
de Geografia do Centro de Ciências Humanas e Naturais da
Universidade Federal do Espírito Santo UFES, 2009.
RESENDE, Maria Leônia Chaves de. Mundos nativos:
culturas e história dos povos indígenas / organização Maria Leônia
Chaves de Resende. Belo Horizonte, MG: Fino Traço, 2015.
343
Conflitos e Contradições na História
344
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Introdução
Ao levantar o problema em torno da interferência do Estado
nas relações escravistas recorreu-se ao estudo das autoridades
governamentais da capitania do Espírito Santo entre 1781 a 1821. A
partir da análise das correspondências administrativas trocadas entre
os diversos níveis de poder na capitania verificou-se os principais
assuntos da agenda política local e imperial. Dentre os assuntos,
identificou-se aqueles que se tratavam da escravidão, no qual se teve
acesso às demandas que chegavam aos governadores da capitania.
Na presente comunicação apresentamos, três casos encontrados na
documentação que se referem basicamente a demandas envolvendo
escravos, em que as autoridades da capitania eram reconhecidas
como árbitros desses conflitos. Em face do número reduzido,
buscou-se na historiografia as interpretações mais pertinentes para a
compreensão dos casos analisados.
Através da documentação analisada observou-se que a
resolução dos embates referentes à escravidão, limitava-se às
autoridades locais e governamentais da capitania, diante do
baixo percentual de correspondências trocadas com o Conselho
Ultramarino sobre o tema. Além disso, as correspondências
referentes às demandas foram todas confeccionadas no âmbito
interno da capitania, pelos agentes da governança ou elementos
da sociedade capixaba. Esses registros encontram-se no livro de
Correspondências recebidas pelo Governo da Capitania, que parece
ter funcionado como importante canal de comunicação entre a
população, as autoridades locais e o governo.
1 Mestre em História.
345
Conflitos e Contradições na História
As demandas
Em certa contenda entre vizinhos sobre a questão dos
limites de suas propriedades, em Campo de Minas, distrito da
vila de Victoria, no ano de 1800, encontramos alguns escravos
solidários às ações criminosas de seu senhor. A falta de demarcação
judicialmente definida dos limites territoriais das propriedades,
nomeados de “indivisos”, parece ter motivado conflitos entre os
habitantes da capitania, ao longo do período colonial.2 Os escravos
aparecem na acusação como capangas de seu senhor, o padre João
Gomes de Aguiar, responsabilizados por coagir os suplicantes e
causar prejuízos à vizinhança por matarem algum gado. A denúncia
fora feita por morador daquele lugar e para averiguar a situação fora
designado o coronel da Companhia de Caçadores, José Furtado. O
oficial observou ser procedente estar “alguns vizinhos queixosos” de
um escravo que pertencia ao pároco. Mas, ao perguntá-los se sabiam
se era o padre quem “mandava fazer o dito malefício” não souberam
responder (APEES, 004, doc. 01).
Diante da incompletude da documentação, não se sabe o
desfecho da contenda. No entanto, as palavras utilizadas pelo coronel
são representativas da sua compreensão acerca da contestação. Ao
utilizar-se do vocábulo “queixoso”, o coronel esclarecia a gravidade
da situação, haja vista que estes vizinhos se encontravam ofendidos e,
por isso, lançaram mão da querela ao governador a fim de resolverem
a demanda. Ao passo que o emprego do termo “malefício” era
indicativo do “dano que se faz a alguém” e aplicado em referência
a crimes, sendo passíveis de punição e até prisão (SILVA, 1789, p.
251). Não se pode afirmar que as ações criminosas do religioso e seus
cativos tenham sido punidas. Mas, na sentença expressa, o oficial
não parecia condescendente com os procedimentos denunciados.
Ao estudar a região de Campos de Goitacazes, entre 1750 e
1808, Silvia Lara detectou a ocorrência de conflitos fundiários que
contaram com a participação de escravos. Os cativos constituíam
346
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
347
Conflitos e Contradições na História
348
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
349
Conflitos e Contradições na História
350
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
fora avisado para ir ver a sua vaca e a “cria fêmea” que havia parido
(APEES, 004, doc. 287).
Com a morte de Manoel, no entanto, a situação tomou
contornos diferentes. Este declarara “a seus herdeiros que não só era
aquela vaca e cria do suplicante como também a conservassem no
cercado”, e assim “o fizeram, e passando esta a parir segunda cria logo
o testamenteiro e herdeiro que é Joaquim de Santa Anna fez aviso na
mesma forma que o seu pai” ao suplicante. Mas, desta vez, lhe fora
pedido que levasse os seus animais para outro lugar. A providência
tomada por Paulo fora pedir a seu senhor a permissão para alocar
seu gado na fazenda em que vivia. Com a concessão da licença, fora
até a propriedade de Joaquim de Sant’Anna, mas, chegando ao local
o testamenteiro e herdeiro tentara burlar o acordo e não quisera dar
“o que lhe pertencia, mas antes o desenganou que nada tinha, e que
lá não tornasse nestes termos” (APEES, 004, doc. 287).
Diante disso, o suplicante, por ser pobre e cativo, recorreu à
respeitável presença do governador para que lhe fosse entregue a sua
vaca e cria. Alegando ter como prova o próprio testamento deixado
pelo pai do suplicado. A ação do governador fora despachar uma
ordem ao Comandante do distrito miliciano para que sem perda de
tempo examinasse o alegado, entregando ao suplicante o que ele diz
ser seu. Após a averiguação, Ignácio Francisco Meirelles informou ao
governador Francisco Alberto Rubim, em 2 de novembro de 1814, a
veracidade do exposto pelo escravo e a resolução da altercação entre
as partes mediante o pagamento de nove mil réis, valor referente ao
gado(APEES, 004, doc. 288).
A concessão de um pedaço de terra aos escravos e a
oportunidade de comercializarem o excedente da sua produção
exemplifica um dos direitos consentidos aos cativos. Esse costume
parece ter sido arraigado na capitania, haja vista o reconhecimento
dessas relações por parte do governador, Francisco Alberto Rubim,
representante do poder central em terras capixabas. Conhecida
como “brecha camponesa”, essa relação fora identificada por
Ciro Flamarion Cardoso (1987), que empregou a expressão para
351
Conflitos e Contradições na História
352
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Considerações finais
O contato com a documentação permitiu observar que as
relações cotidianas entre senhores e escravos foram marcadas “pela
tolerância de algumas práticas dos cativos” (FERREIRA, 2011, p. 36).
Verificou-se também, que as demandas aos governadores, além de
variadas, partiram de escravos que sentiam lesados em seus acordos,
da população livre, de elementos que configuravam a camada dos
homens pobres da capitania do Espírito Santo. Não se encontrou
na documentação, nenhum homem abastado requisitando o
auxílio das autoridades governamentais. Essa constatação um
tanto singular coloca em questão o fato de que, geralmente, o
poder político caminhava de mãos dadas com o poder econômico.
Ademais, reforça a natureza mais privada das relações escravistas
que se apresentam bastantes seguras para os dirigentes, que apenas
arbitraram as demandas, quando solicitados, na maioria das vezes,
por aqueles que não tinham condições de sustentar uma demanda
judicial.
Em vista do caráter mais privado da escravidão brasileira, o
recurso às autoridades por homens livres pobres, índios ou cativos
chama atenção para a proximidade dessas pessoas para com as
instituições coloniais. O que, segundo António Manuel Hespanha,
seria a “politicidade” da vida cotidiana (HESPANHA, 2012, p.
125). A proximidade entre a política e o cotidiano era decorrente
do próprio caráter microscópico das unidades políticas coloniais. O
acesso da população menos abastada, livre ou escrava, aos agentes
do poder central na capitania aparece mais expressiva quando se
353
Conflitos e Contradições na História
Referências
ARQUIVO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO.
Série Accioly. Correspondências recebidas pelo governo do Reino.
Cartas manuscritas avulsas, livro 004 (1787-1814).
354
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
355
Conflitos e Contradições na História
356
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
A trajetória do artista
Thomas Mann foi o segundo filho em uma família de cinco
irmãos. Heinrich Mann, o irmão mais velho de Thomas foi outro
conhecido escritor alemão, com quem por vezes manteve uma
relação amistosa, e por outras conflituosa como durante o período
da Primeira Guerra Mundial (1914 – 1918), quando Heinrich
adotou um posicionamento crítico quanto à postura alemã, ao passo
que Thomas foi um ferrenho defensor da causa germânica, como é
possível observar em seus escritos do período como Pensamentos na
Guerra e Considerações de um Apolítico. No primeiro texto, Thomas
afirma, por exemplo, que os alemães lutavam pelo próprio direito
de existirem enquanto alemães, e exaltava a guerra afirmando que:
Toda a beleza e virtude da Alemanha – nós o pudemos ver agora –
na paz se poderia por vezes esquecer o quanto ela é bela. Há quem
tema que a luta solene em que ela combate pelo seu grande direito à
vida a pudesse fazer regredir em sua moralidade, em sua cultura? Ela
sairá dela mais livre e melhor do que era. Mas não vemos também
que a guerra torna maus e miseráveis os outros, os que portam
as insígnias de povos civilizados? Onde está agora a dignidade da
Inglaterra? Ela mente tanto que nós nos envergonhamos por ela.
E a França? Sua generosidade não afunda numa embriaguez de
raiva e histeria vergonhosa? Enquanto para o senso do soldado a
guerra aparece como uma esfera de moralidade e honradez, quase
como uma operação científica – quanta indecorosidade, quanta
devassidão a civil França não considera protegida pelo seu “c’est la
guerre” que deita tudo por terra? (MANN, 2010, p. 153- 154).
Posteriormente, com o fim da Primeira Guerra Mundial, o
pensamento político dos dois irmãos se aproximou novamente.
Ambos foram críticos do movimento nacional-socialista e obrigados
depois a se exilarem na década de trinta e durante a Segunda Guerra
Mundial.
357
Conflitos e Contradições na História
358
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
Os Primeiros Anos
Como já fora comentado, a família de Thomas Mann era de
grande importância e influência em Lübeck. Além da direção da firma
J. S. Mann, seu pai, senador da cidade, assumiu em 1885 a presidência
dos comitês de comércio, navegação e impostos do Senado. Seu
sucesso cada vez maior com a firma e política tomavam seu tempo
e acabavam por afastá-lo da rotina de seus filhos. Os dois filhos
mais velhos não teriam nenhum interesse em dar prosseguimento
aos negócios da família, e tanto Thomas, quanto Heinrich dariam
sinais bastante cedo ao pai de que o caminho percorrido por ambos
seria bem distante da trajetória traçada por ele, ao passo que o
senador não dava crédito ao talento literário dos dois. “Seu poder e
autoridade na pequena cidade hanseática aumentaram e o futuro de
Lübeck começou a ficar em suas mãos. Infortunadamente, o futuro
de seus filhos não” (HAMILTON, 1985, p. 37).
Enquanto criança, Thomas tinha seus primeiros contatos com
a música por influência de sua mãe, que lia para ele contos e tocava
sempre o piano. A casa dos Mann também era o centro de uma vida
social, com a realização de bailes e festas. Desse modo, a tendência
artística de Thomas Mann originava-se em seu lado materno. Seu
irmão, Heinrich, ao demonstrar ao pai que não o sucederia na firma
da família, fazia com que a responsabilidade recaísse sobre Thomas,
que também não aspirava tal herança. Tudo isso ocorria, para a
tristeza do senador, em um momento quando a firma completava
o seu primeiro centenário. Thomas Johann Heinrich Mann e Julia
da Silva Bruhns tiveram também duas filhas, Julia Elisabeth e
Carla Augusta, além de um filho temporão, Carl Viktor Mann, o
qual poderia ter sido uma opção para os planos do senador, com a
359
Conflitos e Contradições na História
360
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
361
Conflitos e Contradições na História
362
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
363
Conflitos e Contradições na História
364
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
contato com Thomas Mann foi Erico Verissimo. Em uma viagem aos
Estados Unidos, fruto de uma política de boa vizinha entre os dois
países quando aumentava a pressão para que o Brasil se juntasse aos
Aliados na guerra, os dois teriam se encontrado. Verissimo relatou:
“Tomei cerveja, burguesmente, em Denver, com Thomas Mann”
(VERÍSSIMO apud KUSCHEL, 2013, p. 125). O brasileiro não levou
boas impressões de Katia, esposa de Thomas, ao que parece, pelo
fato de frau Mann ter expresso uma certa desconfiança relacionada
aos direitos autorais das obras de Thomas Mann no Brasil. Inspirado
em sua viagem aos Estados Unidos, Erico criou uma obra chamada
Gato Preto em Campo de Neve (1941) o qual possui um capítulo
intitulado “Thomas Mann”.
A consciência de sua origem brasileira parecia acentuar-se
cada vez mais em Thomas, principalmente em seus tempos de exílio.
Esse era, provavelmente, mais um ponto que permitia a Mann opor-
se cada vez mais às ideias nazistas de pureza racial que tomavam
conta da Alemanha. O escritor, que anteriormente em seu período
pré-republicano, se não escondia sua veia brasileira, pelo menos não
falava tão abertamente assim no assunto.
Enquanto Adorno observava que os olhos de Mann eram
“negros e brasileiros” (ADORNO apud KUSCHEL, 2013, p. 72), por
suas raízes sul-americanas, Thomas também fora considerado de
origem judaica, já que sua mãe descendia de portugueses, o que para
um certo Adolf Bartels o tornava a “‘mistura de sangue árabe, judeu,
indiano e negro.’ De qualquer modo, os portugueses seriam ‘o pior de
todos os povos europeus, do ponto de vista racial’, segundo Bartels
em um artigo para o jornal antissemita berlinense Staatsbürger-
Zeitung” (KURZKE apud KUSCHEL, 2013, p. 74).Thomas Mann
buscava amenizar tais origens. Consta em seus diários:
Se eu fosse judeu, eu esperaria ter consciência suficiente para não
me envergonhar de minha ascendência; como não sou judeu – e isso
em nenhuma gota sequer de meu sangue -, não posso desejar que
alguém me tome por judeu. Eu descendo de uma família hanseática
nobre; meu pai fazia parte do Senado da cidade de Lübeck. (MANN
apud KUSCHEL, 2013, p. 74).
365
Conflitos e Contradições na História
366
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
367
Conflitos e Contradições na História
368
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
369
Conflitos e Contradições na História
Referências
GAY. Peter. A Cultura de Weimar. Tradução de Laura Lúcia
da Costa Braga. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1978.
HAMILTON, Nigel. Os irmãos Mann: as vidas de Heinrich e
Thomas Mann. Tradução de Raimundo Araújo. Rio de Janeiro: Paz
e Terra, 1985.
HOLANDA, Sérgio Buarque de. Thomas Mann e o Brasil. In:
O Espírito e a Letra: Estudos de Crítica Literária I (1920 – 1947).
370
André Ricardo V. V. Pereira [et. al.]
371
Conflitos e Contradições na História
372