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LITERATURA

CAPÍTULO

1 Walla
ce Collec
tion, Londres
, Inglater
ra
Francesca da Rimini
(1835), de Ary Scheffer.

a linguagem
do romantismo
Apesar de ser, do ponto de vista ideológico, uma arte revolucionária,
o Arcadismo era, do ponto de vista estético, uma arte conservadora,
pois se limitava fundamentalmente a eliminar os exageros do Barroco
e a retomar os modelos do Classicismo do século XVI. Criar uma
linguagem verdadeiramente nova, identificada com os padrões mais
simples de vida do novo público consumidor, a burguesia, foi tarefa
que coube ao Romantismo.

A fim de conhecer a linguagem literária do Romantismo, você vai realizar um estudo da


poesia romântica.

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LeiTURA
O texto que segue é um dos poemas mais conhecidos da literatura brasileira. Gonçalves Dias es-
creveu-o em 1843, quando estava em Coimbra, onde fazia seus estudos universitários. O poeta vivia,
então, uma situação de exílio, porém voluntário, e não político. Leia o poema a seguir.

Can•‹o do ex’lio
Kennst du das Land, wo die Citronen blühn,
Im dunkeln Laub die Gold-Orangen Glühn,
Kennst du es wohl? — Dahin, dahin!
Möcht ich… ziehn.*

(Goethe)

Minha terra tem palmeiras,

Johann Moritz Rugendas. Vista tomada da costa, perto da Bahia. Coleção particular
Onde canta o Sabiá;
As aves, que aqui gorjeiam,
Não gorjeiam como lá.

Nosso Céu tem mais estrelas,


Nossas várzeas têm mais flores,
Nossos bosques têm mais vida,
Nossa vida mais amores.

Em cismar, sozinho, à noite,


Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Minha terra tem primores,


Que tais não encontro eu cá;
Em cismar — sozinho, à noite —
Mais prazer encontro eu lá;
Minha terra tem palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

Não permita Deus que eu morra


Sem que eu volte para lá;
Sem que desfrute os primores
Que não encontro por cá;
Sem qu’inda aviste as palmeiras,
Onde canta o Sabiá.

(In: Gonçalves Dias. São Paulo: Abril Educação, 1982. p. 11-2. Literatura Comentada.)

*
“Conheces o país onde florescem as laranjeiras? Ardem na escura fronde os frutos de ouro. Conhece-lo? — Para lá quisera eu ir!” (Tradução de Manuel Bandeira.)

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LITERATURA
1. Durante a Era Clássica (compreendida pelo Clas-
Mi/nha/ter/ra/tem/pal/mei/ras
sicismo, pelo Barroco e pelo Arcadismo), foram
3ª 7ª
bastante utilizados o soneto e o verso decassí-
labo, considerados recursos de expressão refina-
dos. No Romantismo, passou a existir um inte-
Como se dá o ritmo nos demais versos da mesma
resse muito grande pela cultura popular e suas
estrofe? Também pela acentuação da 3ª e 7ª sílabas, inclusive no
tradições. Por força desse interesse, os poetas 3º verso: As/a/ves/que a/qui/gor/jei/am
românticos começaram a buscar outras formas
de expressão.
o romantismo e a fala brasileira
a) Faça a escansão destes versos de uma canti-
ga de roda: Manuel Bandeira, poeta modernista do sé-
culo XX, notou que a “Canção do exílio” é um dos
primeiros poemas brasileiros a apresentar uma
Sete e sete são quatorze, prosódia (um jeito de falar) brasileira. Segundo
Com mais sete, vinte e um ele, trata-se de “uma poesia cujo encanto verbal
Tenho sete namorados desaparece quando traduzida para outra língua.
Só posso casar com um Desaparece mesmo quando dita com a pronún-
Namorei um garotinho cia portuguesa”.
Do colégio militar Também vale lembrar que, antes do Roman-
O diabo do garoto tismo, quase não havia poemas com rimas entre
Só queria me beijar palavras oxítonas. A “Canção do exílio” repre-
São redondilhas maiores (7 sílabas poéticas). Professor: Pergunte aos alunos se senta, portanto, uma ruptura com os modelos
conhecem quadrinhas populares ou canções de roda. Faça a escansão de alguns
De que tipo são os versos, quanto ao número de clássicos de sonoridade poética.
sílabas? versos dos textos citados por eles e mostre que, geralmente,
essas canções compõem-se de redondilhas, maiores ou
menores (5 sílabas).
b) Agora faça a escansão de alguns versos do
4. O poema de Gonçalves Dias tem como epígrafe
poema de Gonçalves Dias. De que tipo eles
alguns versos do escritor romântico alemão
são, também quanto à métrica?
São redondilhas maiores (também apresentam 7 sílabas poéticas). Goethe. Epígrafe é uma frase ou um trecho de
obra de outro autor no qual o escritor se inspira
2. A linguagem empregada nos textos do Barroco e para escrever seu próprio texto.
do Arcadismo ainda guardava forte influência do
português literário lusitano: o vocabulário era Leia a nota de tradução dos versos de Goethe
culto, a sintaxe apresentava inversões e não se e compare os versos do escritor alemão aos do
empregavam palavras de origem tupi ou africa- escritor brasileiro. Em ambos os textos, o eu lírico
manifesta o desejo de ir para
na. Observe a linguagem da “Canção do exílio” e a) Em que se assemelham? outro país, para outro lugar, cuja
natureza é generosa.
responda: b) Gonçalves Dias fala de uma natureza genero-
a) A linguagem do poema, escrito há mais de sa, como nos versos de Goethe, mas substitui
170 anos, se mostra acessível ou inacessível as laranjeiras dos versos do escritor alemão
Espera-se que os alunos percebam por palmeiras. Por que você acha que isso
para o leitor de hoje? que a linguagem do poema é bem
mais simples que a dos movimentos literários anteriores. acontece? Porque as palmeiras são mais representativas da
b) Faça uma pesquisa no dicionário: entre as pa- natureza brasileira do que as laranjeiras.
lavras terra, palmeiras, sabiá, gorjeiam, qual 5. Todo o poema se articula em torno da oposição
delas tem origem indígena? A palavra sabiá. entre dois espaços: a pátria (o Brasil) e o exílio
(Portugal).
3. O poema apresenta um jeito de falar brasileiro a) Que palavras do texto evidenciam essa
(leia o boxe “O Romantismo e a fala brasileira”) antítese? Lá e cá, respectivamente.
e uma forte musicalidade, associada ao emprego b) Ao descrever o Brasil, o eu lírico destaca que
de recursos como rimas e ritmo. espécie de elementos: culturais, naturais ou
Principalmente as
a) Que palavras rimam entre si? palavras cá, lá e sabiá. sociais? Justifique sua resposta com elemen-
b) No 1º verso, o ritmo decorre do fato de se- tos do texto. Destaca elementos naturais, como as palmeiras, o
sabiá, o céu, as estrelas.
rem acentuadas (pronunciadas de maneira c) Que sentimento a distância da pátria provoca
forte) a 3ª e a 7ª sílabas. Observe: no eu lírico? Saudade.

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6. A natureza, nos textos árcades, não apresenta- 7. É comum, nos textos românticos, o eu lírico ou
va vida; com um papel secundário, servia ape- a personagem apresentar um estado de alma
nas como pano de fundo para o idílio amoroso. melancólico, triste e reflexivo, voltado para seu
Além disso, a presença de alguns elementos da mundo interior. Identifique no texto ao menos
paisagem nacional (principalmente mineira) era uma situação em que isso ocorre.
indício de nativismo, e não de nacionalismo. Na 3ª e na 4ª estrofes: “Em cismar — sozinho, à noite —”.

a) No poema romântico de Gonçalves Dias, a 8. Um escritor, ao tratar de temas como a pátria,


natureza brasileira também assume um papel a mulher, a natureza, etc., pode fazê-lo de di-
secundário? Não. ferentes modos. Por exemplo, de modo pessoal
b) Levante hipóteses e troque ideias com os co- ou impessoal, objetivo ou subjetivo, sentimental
legas: Qual é a diferença entre sentimento ou racional, em diferentes graus. Como o eu lí-
Sentimento nativista
nativista e sentimento nacionalista?é amor pelo lugar em rico do poema vê a pátria e a natureza brasilei-
que se nasceu (pode ser uma vila, uma cidade); nacionalismo é o amor pela pátria.
c) No poema de Gonçalves Dias, a natureza bra- ra: de modo pessoal ou impessoal? Objetivo ou
sileira é expressão de sentimento nativista ou subjetivo? Racional ou sentimental? Realista ou
de sentimento nacionalista? De um sentimento idealizado?
nacionalista. Professor: Lembre aos alunos que, na época do Barroco e do Ele vê a pátria e a natureza de modo pessoal, subjetivo, sentimental e idealizado.
Arcadismo, o Brasil era colônia de Portugal, e os brasileiros ainda não se viam
como nação.

Como síntese do estudo feito até aqui, compare as características do Romantismo com as do
Arcadismo: Professor: É possível que os alunos desconheçam a extensão de alguns desses conceitos, como o de subjetividade, por exemplo. Sugerimos comentar
cada um deles e exemplificar; faça-os notar que o Brasil retratado no poema não é nem nunca foi como é descrito. O eu lírico faz um recorte idealizado da
realidade brasileira, deixando de lado os problemas. Um exemplo claro disso é a existência da escravidão no Brasil da época.

ROMANTISMO ARCADISMO

Predomínio da emoção Predomínio da razão

Subjetivismo Objetivismo

Nacionalismo Universalismo; nativismo

Maior liberdade formal Maior contenção formal

Vocabulário e sintaxe mais brasileiros Vocabulário e sintaxe com influência lusitana

Gosto pelas redondilhas Gosto pelo decassílabo e pelo soneto

Valorização da cultura popular Imitação da cultura clássica greco-latina

Natureza mais real, que interage com o eu lírico Natureza como pano de fundo para os idílios amorosos

Sentimentalismo; estados de alma tristes e melancólicos Busca de equilíbrio, racionalismo

On the road: o escapismo do século XX?


Editora L&PM

O livro On the road ou Pé na estrada, como foi traduzido no Brasil, é a


obra do escritor americano Jack Kerouac (1922-1969), que influenciou a
geração beatnik nos anos 1960.
Partindo da experiência pessoal do autor, que cruzou os EUA em via-
gens de carona e trem à procura de novas experiências, a obra de Kerouac
é um verdadeiro hino à liberdade e há mais de 50 anos vem influenciando
gerações de jovens.

John Lennon, fã das ideias beat desde a fase


estudantil, dá o nome “Beatles” à sua banda
como clara influência de Kerouac.

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LITERATURA
o teXto e o conteXto em perspectiVa multidisciplinar
Leia, a seguir, o infográfico e um painel de textos interdisciplinares que relacionam a produção
literária do Romantismo ao contexto histórico, social e cultural em que o movimento floresceu.
Pintura de Os fuzilamentos de 3 de
Pintura de O naufrágio, de William Turner maio de 1808, de Goya

Tate Gallery, Londres, Inglaterra

Museu do Prado, Madri, Espanha


Publicação de
Publicação de Os sofrimentos Peregrinação de Childe
do jovem Werther, de Goethe Harold, de Lord Byron

1774 1805 1814 1818

1789 1793 1807 1808

Julgamento e
Coleção particular

Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ


Album/akg-images/Latinstock

Jean Baptiste Debret. Desembarque de


D. Leopoldina no Brasil, 1819.
decapitação, na
França, de Luís
XVI

Adesão de
Portugal ao
Bloqueio
Continental,
por imposição
de Napoleão
Revolução Francesa Bonaparte Transferência da corte de D. João VI para o Brasil

liberdade, paixão e emoção


O romantismo foi mais que um programa de ação de um grupo de poetas, romancistas, filósofos ou
músicos. Tratou-se de um vasto movimento onde se abrigaram o conservadorismo e o desejo libertário, a
inovação formal e a repetição de fórmulas consagradas, o namoro com o poder e a revolta radical: enfim,
um conjunto tão díspar de tendências que seria uma ociosa
National Gallery of Art, Washington, EUA

bobagem inconsequente pretender mascarar através de gene-


ralizações apresentadas a riqueza e a diversidade que nortea-
ram o movimento romântico. Talvez fosse possível pensar, num
esforço didático, que o romantismo foi marcado por algumas
preocupações recorrentes, às quais poderíamos aliar um certo
anticlassicismo, uma visão individualista, um desejo de romper
com a normatividade e com os excessos do racionalismo. Li-
berdade, paixão e emoção constituem um tripé sobre o qual se
assenta boa parte do romantismo.
A atmosfera romântica na tela Veneza vista
(Adilson Citelli. Romantismo. São Paulo: Ática, 2007. p. 9.) do “Europa” (1843), de J. M. W. Turner.

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Pintura de A Liberdade guiando o Publicação de Os miseráveis, de
povo, de Delacroix Victor Hugo

Jules Cheret. Poster of ‘Les Misérables’, 1886/


Archives Charmet/The Bridgeman Art Library/
Grupo Keystone/Coleção particular
Museu do Louvre, Paris, França
Início do
Romantismo em
Portugal, com
a publicação
de Camões, de
Almeida Garrett
Introdução do Romantismo no
Publicação de O navio
Brasil, com a publicação de
negreiro, de Castro Alves
Suspiros poéticos e saudades, de
Gonçalves de Magalhães
1825 1830 1836 1862 1869

1820 1822 1850 Abolição da escravatura 1888 1889

Revolução Liberal do Porto Proclamação da República

Johann Moritz Rugendas. Navio Negreiro.


c.1835/Coleção particular
Pedro Américo. Independência ou Morte,
1888/Museu Paulista/USP, São Paulo

Proclamação da independência política do Brasil Proibição do tráfico de escravos para o Brasil

o romantismo e a busca de referências


O olhar voltado para o passado cultivado pelos românticos talvez significasse a busca de um referencial
perdido com a industrialização e a Revolução Francesa. Os cenários campestres eram idilicamente represen-
tados em oposição à vida agitada e artificial que se levava nas cidades. O Oriente Próximo também exercia
um poder de sedução sobre os românticos, fascinados por seu “aspecto selvagem”, contrastante com as
regras civilizatórias do Ocidente.
O romantismo negava a racionalidade sistematizada do Iluminismo e valorizava a imaginação e a sen-
sibilidade. O filósofo Jean-Jacques Rousseau, apesar de suas ligações com o Iluminismo, é considerado um
dos primeiros românticos.
“Para nós, existir é sentir, e nossa sensibilidade é incontestavelmente mais importante do que a nossa
razão”, dizia ele. Rousseau defendia que o homem era essencialmente bom, sendo corrompido pelo meio
civilizado. Por isso, a proximidade com a natureza era evocada como a possibilidade de escapar à corrupção
da vida moderna. Nesse sentido, a Idade Média representava para os românticos um período de predomínio
das tradições e do heroísmo, no qual a razão não havia sobrepujado o sentimento e a fé humana.

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LITERATURA
No campo estético da definição do belo,

Museu do Louvre, Paris, França


a liberdade de criação artística norteou os ro-
mânticos. Dando vazão à imaginação, a pintura
do período destacou-se por apresentar motivos
exóticos, dramáticos, melancólicos ou, ainda,
experiências aterradoras.
Embora seja considerado um movimento
artístico, o romantismo permeou todo o
pensamento europeu nas primeiras décadas
do século XIX. Escritores como Victor Hugo
e Goethe, poetas como Shelley, Keats e
Byron, filósofos como Schiller e Schelling e
compositores como Beethoven, Schubert,
Chopin e Wagner expressaram em suas obras
a diversidade de termos e formas presente no
romantismo.
(Antônio P. Rezende e Maria T. Didier. Rumos da História.
São Paulo: Atual, 2001. p. 405-6.)

Detalhe de A morte de Sardanapalo (1827),


do pintor romântico Eugène Delacroix.

a revolução Francesa e o sentimento romântico de desagregação


O poeta romântico é um estranho entre os homens; é melancólico, extremamente sensível, ama a
solidão e as efusões do sentimento, sobretudo as de um vago desespero no seio da Natureza. Trata-se
de uma atitude e de um estado de alma que foram, se não criados, pelo menos poderosamente desen-
volvidos pela influência de Rousseau. [...] A história da Revolução e da época subsequente contribuiu em
muito para fazer os homens idealistas abandonarem o lado prático e reformador do movimento inau-
gurado por Rousseau, e os levou a se aferrar a seu lirismo solitário [...]. Esperava-se, antes da Revolu-
ção, e mesmo no decurso de seu desenvolvimento, poder
Hippolyte Delaroche. Napoleon Crossing the Alps. 1850/The Bridgeman Art Library/
Grupo Keystone/Walker Art Gallery, National Museums Liverpool, Inglaterra

criar um mundo inteiramente novo, conforme à Nature-


za, desembaraçado de todos os entraves que, segundo se
acreditava, o fardo das tradições históricas era o único a
opor à felicidade dos homens; e uma profunda decepção,
vizinha do desespero, se apoderou das almas delicadas e
idealistas quando se viu que, após tantos horrores e san-
gue derramado, embora fosse verdade que tudo tivesse
mudado, o que saíra de todas as catástrofes da Revolução
e da época napoleônica não era em absoluto um retorno
à Natureza virtuosa e pura, mas novamente uma situação
inteiramente históri-
ca, bem mais gros- aferrar: prender, segurar.
seira, mais brutal e efusão: saída, derramamento,
expansão dos sentimentos.
mais feia que a que entrave: obstáculo, impedimento.
desaparecera.

(Erich Auerbach. Introdução aos estudos literários. São Paulo: Cultrix,


1972. p. 228-9.)

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o romantismo no Brasil
Museu Nacional de Belas Artes, Rio de Janeiro, RJ
Na verdade, o Romantismo teve aqui

Rodolfo Amoedo. O último tamoio. 1883.


[no Brasil] uma significação bastante di-
versa da que teve na Europa. Enquanto
visão de mundo, ele viverá um processo
de ajuste e adaptação. Os nossos auto-
res, os melhores, souberam aproveitar
dele os elementos que serviam mais bem
aos seus propósitos e deixaram outros de
lado. Essa era a primeira tarefa dos nossos
estudantes que iam formar-se na Europa
e tomavam contato com o que chamavam
de “a nova poesia” ou “a poesia moderna”.
Para nós, o fato político mais candente
foi a Independência, que mobilizou os ho-
mens livres e fez todos se sentirem em-
penhados na organização da nova nação.
Ela isolou os portugueses estabelecidos no Brasil no comércio e na burocracia do Estado, considerados
“restauradores” e “absolutistas”. Ao mesmo tempo, uniu os que passaram a se considerar “brasileiros” e
dispostos a organizar uma nação “livre” e “autônoma” [...]. O Romantismo, na medida em que rejeitava
o mundo urbano-burguês e, pela imaginação, idealizava o mundo da natureza e do indígena, deu aos
brasileiros os elementos com os quais podiam identificar-se e que era lícito transformar em símbolos
da nacionalidade: as matas, os índios, a fauna e a flora. Quem éramos nós senão aqueles que tinham
também sangue indígena, que cresceram acostumados às matas e florestas, que se temperaram ouvindo
os sabiás e as jandaias, à sombra das mangueiras e palmeiras? Éramos, portanto, muito distintos dos
portugueses, até na língua, pois o português falado no Brasil e por brasileiros sofria modificações e não
podia ser igual ao que se falava em Portugal. Assim perguntava José de Alencar: “O povo que chupa o
caju, a manga, o cambucá e a jabuticaba, pode falar uma língua com igual pronúncia e o mesmo espírito
do povo que sorve o figo, a pera, o damasco e a nêspera?”.
(Luiz Roncari. Literatura brasileira – Dos primeiros cronistas aos candente: que está ardendo em brasa.
últimos românticos. 2. ed. São Paulo: Edusp/FDE, 1995. p. 288-9.)

roteiro de estudo Professor: Como sugestão, você poderá organizar a classe em grupos
e propor aos alunos a discussão do roteiro. Ao final de um tempo
Ao final da leitura dos textos, você deverá saber: combinado (por exemplo, 20 minutos), poderá solicitar respostas

• Explicar
orais aos grupos e finalizar com uma discussão geral.
por que é difícil pretender generalizar e uniformizar as várias tendências existentes
no interior do Romantismo; além disso, apontar os três elementos básicos sobre os quais se
Porque há no interior do Romantismo tendências contraditórias, como
assenta grande parte das obras românticas. conservadorismo e desejo libertário, por exemplo. Apesar disso, boa parte das obras

• Comentar
se assenta no tripé liberdade, paixão e emoção.
por que a natureza e a Idade Média eram supervalorizadas pelos artistas român-
ticos, em contraposição ao mundo europeu urbano do século XIX.
• Explicar por que a arte romântica, embora seja a expressão artística da burguesia, faz críti-
cas à sociedade burguesa. Porque os artistas românticos se decepcionaram com o novo tipo de vida trazido pela Revolução Francesa e

• Comentar
pela Revolução Industrial: medíocre, rotineira, materialista, injusta socialmente.
por que o Romantismo brasileiro apresenta especificidades que o diferenciam do
O espírito revolucionário europeu correspondeu, no Brasil, ao nacionalismo trazido pela Independência; a valorização
Romantismo europeu. do mundo primitivo e natural e o mito do “bom selvagem” sofreram adaptação, transformando-se em valorização das
florestas brasileiras e do índio.

O homem romântico estava decepcionado com o mundo civilizado pós-Revolução Francesa. A natureza era vista como meio de escapar da corrupção da vida moderna
e urbana. A Idade Média era vista como um estágio primitivo da civilização, ainda não assolado pela razão e pelo individualismo modernos.

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LITERATURA

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