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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

PSICOLOGIA

MATERIAL INSTRUCIONAL ESPECÍFICO

Tomo III
Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

Questão 3
Questão 31
Paulo, bancário, 21 anos, procura um serviço de saúde mental, encaminhado pelo
médico do banco. Na entrevista de triagem, relata que, em seu trabalho, os
colegas estão sempre olhando para ele, fazendo comentários jocosos a seu
respeito, o que ele percebe pelo jeito como eles olham e dão risadas às vezes.
Não sabe o porquê desta atitude deles, pois antes eram amigos e até costumavam
sair todos juntos. Suspeita que, talvez, tenha sido pelas mensagens que andou
recebendo pelos jornais e pelo rádio. Eram mensagens cifradas a respeito de sua
pessoa que só ele conseguia entender. Outro dia, no banco, estava tentando ouvir
a notícia no rádio, mas ninguém conseguia ouvir nada. Aí foi levado ao médico do
banco que achou que ele estaria estressado e o encaminhou para este hospital.
Se você estivesse fazendo essa entrevista de triagem, qual seria a hipótese
diagnóstica e o encaminhamento mais coerente, de acordo com os critérios
propostos pelo DSM−IV?

A. Transtorno de personalidade borderline e psicoterapia individual.


B. Transtorno depressivo maior recorrente e internação psiquiátrica.
C. Transtorno obsessivo-compulsivo e psicanálise.
D. Transtorno psicótico e avaliação psiquiátrica.
E. Transtorno narcisista de personalidade e psicoterapia em grupo.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência

DSM-IV e a classificação das perturbações mentais

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Questão 22 – Enade 2006.

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O termo DSM IV (ou DSM-IV) é a abreviatura de Diagnostic and Statistical


Manual of Mental Disorders - Fourth Edition (Manual Diagnóstico e Estatístico de
Doenças Mentais - Quarta Edição), publicado pela Associação Psiquiátrica
Americana (APA) em Washington (1994). Correspondendo à quarta versão do
DSM, é a principal referência de diagnóstico para os profissionais de saúde mental
de diversos países, entre os quais o Brasil.

Recortamos para descrição os seguintes transtornos: (1) de personalidade


borderline; (2) depressivo maior recorrente; (3) obsessivo-compulsivo; (4)
psicótico; e (5) narcisista de personalidade.

Transtorno de Personalidade Borderline


Esse transtorno é identificável a partir de um padrão de instabilidade nos
relacionamentos interpessoais, na autoimagem e nos afetos, e acentuada
impulsividade. Os indivíduos que apresentam esse transtorno fazem esforços
frenéticos para evitar um abandono real ou imaginado. Ao perceberem uma
separação ou rejeição iminente, ou uma perda da estrutura externa, ficam sujeitos
a profundas alterações de autoimagem, de afeto, cognição e comportamento.
Podem supor que o "abandono" ou a “rejeição” advém do fato de serem "maus".
Seus esforços frenéticos para evitar tais situações podem incluir ações impulsivas,
tais como comportamentos suicidas e de automutilação.

Transtorno Depressivo Maior Recorrente – Episódio Depressivo Maior


A principal característica de um episódio dessa natureza é o humor
deprimido ou uma perda generalizada de interesse por período não inferior a duas
semanas. Em crianças e adolescentes a irritabilidade pode substituir a tristeza. A
confirmação desse diagnóstico é feita a partir da identificação de pelo menos
quatro sintomas adicionais dentre os seguintes: alterações de apetite ou peso;
perturbações do sono e da atividade psicomotora; redução da energia;
sentimentos de menos valia e culpa; dificuldade para pensar, concentrar-se, tomar
decisões; pensamentos recorrentes sobre morte; ideação suicida, planos ou
tentativas de suicídio.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo
As principais características desse transtorno são obsessões e compulsões
suficientemente severas para causar sofrimento e prejuízos: a pessoa reconhece

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que elas são excessivas e irracionais. Obsessões são ideias, pensamentos,


impulsos ou imagens persistentes, vivenciados como intrusivos e inadequados,
causadores de ansiedade e sofrimento. Compulsões manifestam-se através de
comportamentos repetitivos, como por exemplo lavar as mãos continuamente;
ordenar, verificar, orar, contar, repetir palavras em silêncio, com o objetivo de
prevenir ou reduzir a ansiedade e o sofrimento.

Transtorno Psicótico
Trata-se de um transtorno com sintomas psicóticos que, no entanto, não
satisfaz os critérios de diagnóstico de um transtorno psicótico específico. Em
outras palavras, essa categoria inclui uma sintomatologia psicótica - delírios,
alucinações, discurso e comportamento desorganizados, catatonia, sem, no
entanto, reunir informações suficientes para a realização de um diagnóstico
específico. Por exemplo, o paciente pode estar sofrendo, na ausência de quaisquer
outros sinais de psicose, alucinações auditivas persistentes ou delírios não-bizarros
persistentes com períodos de episódios de humor sobrepostos.

Transtorno de Personalidade Narcisista


A característica principal desse transtorno é o padrão de grandiosidade que
se estabelece gerando necessidade de admiração e dificuldade para estabelecer
empatia. Os indivíduos com esse transtorno experimentam um sentimento
grandioso a respeito da própria importância: superestimam as próprias
capacidades e exageram as próprias realizações. Frequentemente parecem
presunçosos e arrogantes. Podem presumir que os outros atribuem o mesmo valor
a seus esforços e se surpreendem ao não receberem o louvor que esperam e
julgam merecer. Essas pessoas tecem fantasias de sucesso ilimitado, poder,
inteligência, beleza e amor ideal.

2. Indicações bibliográficas

• DSM-IV Online. Manual de Diagnóstico e Estatística das perturbações Mentais.


Disponível em: <http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid/>;
<http://www.psicologia.com.pt/instrumentos/dsm_cid/dsm.php. Acesso em:
05 de mai. 2010.

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3. Análise das alternativas

A. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A característica essencial do Transtorno da Personalidade
Borderline é um padrão invasivo de instabilidade dos relacionamentos
interpessoais, da autoimagem e dos afetos, além de acentuada impulsividade. Os
indivíduos portadores desse transtorno fazem esforços frenéticos para evitar um
abandono real ou imaginado. Paulo não está realizando um movimento para evitar
o abandono dos colegas, nem tampouco se sente abandonado. Ao contrário:
considera a si mesmo como alvo da atenção dos amigos, quando eles riem e
fazem comentários jocosos a seu respeito.

B. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A característica essencial de um Episódio Depressivo Maior é um
período mínimo de duas semanas, durante as quais se observa humor deprimido e
perda de interesse por quase todas as atividades. Tal transtorno inclui outros
sintomas: delírios, alucinações, catatonia, discurso e comportamento
desorganizados. Não é o que ocorre com Paulo.

C. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. As características essenciais do Transtorno Obsessivo-Compulsivo
são as obsessões e compulsões recorrentes. As obsessões são ideias,
pensamentos, impulsos ou imagens persistentes, vivenciados como intrusivos e
inadequados, causadores de ansiedade e sofrimento e as compulsões manifestam-
se através de comportamentos repetitivos. Nenhuma destas características se
aplica à situação de Paulo, de acordo com seu relato.

D. Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. Essa categoria inclui uma sintomatologia psicótica: delírios,
alucinações, discurso e comportamento desorganizados. Quando Paulo relata ouvir
no rádio mensagens cifradas dirigidas a ele e perceber nos colegas sorrisos de
escárnio e comentários jocosos, ele está provavelmente sofrendo uma

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perturbação delirante. A avaliação psiquiátrica é importante para que se possa


avaliar e tratar o transtorno, evitando uma evolução do quadro.

E. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A característica essencial do Transtorno da Personalidade
Narcisista é o estabelecimento de um padrão de grandiosidade, que gera a
necessidade de admiração e a dificuldade para estabelecer empatia. Os indivíduos
com esse transtorno experimentam um sentimento grandioso a respeito da
própria importância: superestimam as próprias capacidades e exageram as
próprias realizações. Paulo não se coloca dessa forma: refere-se a si mesmo como
objeto de escárnio dos colegas, ou seja, coloca-se em posição de inferioridade em
relação aos demais.

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Questão 4
Questão 42
Uma paciente de 20 anos de idade, em uma entrevista inicial, relata um quadro
diagnosticado como Transtorno de Pânico Sem Agorafobia (DSM IV 300.01):
“Doutora, não sei o que eu tenho... estava na minha casa sozinha. Quando fui à
cozinha, comecei a sentir mal! Senti como se algo horrível fosse acontecer. Senti
como se estivesse morrendo... Minhas mãos começaram a formigar. Meu coração
disparou, mal conseguia respirar. Nada estava acontecendo e eu não sabia o que
me acontecia. Achei que meu coração ia parar! Comecei a chorar! O médico me
disse que eu não tinha nada. Me receitou um ansiolítico e me mandou para casa.
Isso foi há um ano. Isso ocorreu mais de uma vez e sempre de repente! Às vezes,
quando menos espero. Eu estou apavorada! Não sei o que acontece, nem quando
vai acontecer! Tenho medo de enlouquecer ou de ter um ataque cardíaco! E eu
sou atleta! Sei que não tem nada a ver! Nunca tive nada disso! Nunca usei
drogas! E o médico me disse que minha saúde está bem. Meus pais estão bem!
Minha relação com eles é boa! Tenho namorado! Agora não consigo nem ir à aula
na faculdade sem ter medo! Mesmo em casa fico preocupada! O que é que eu
tenho? Tem tratamento?” Considerando-se a diversidade de abordagens em
psicologia para compreender os quadros psicopatológicos e seu diagnóstico, são
feitas as seguintes afirmativas:

I. Para a psicanálise, os sintomas relatados são reveladores de complexos


inconscientes relacionados à repressão cultural do corpo e do gênero,
levando a um estado regressivo, cujo principal mecanismo de defesa é a
projeção; portanto, a psicanálise tem validada sua descrição da
psicopatologia no DSM IV.
II. A abordagem comportamental procura, por meio da análise funcional,
descrever, neste caso, as relações complexas entre os comportamentos,
seus reforçamentos e condicionamentos, considerando que descrições de
categorias nosológicas não são úteis, pois não revelam as relações entre
variáveis de controle do comportamento.

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Questão 22 – Enade 2009.

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III. Na perspectiva da abordagem sistêmica, a complexidade dos quadros


psicológicos não pode ser reduzida a classificações nosológicas, pois elas
ocultam a relação complementar entre o sistema e o sintoma; logo, uma
descrição centrada na psicopatologia não revela aspectos de recursividade
e de circularidade sistêmicas.
IV. Em uma perspectiva fenomenológica existencial, a classificação de quadros
psicopatológicos elucida as vivências subjetivas, pois a classificação explica
o sintoma e valida o relato do paciente. Assim, a descrição das vivências da
paciente é objetivada.

Estão corretas somente as afirmativas

A. I e II.
B. I e III.
C. II e III.
D. II e IV.
E. III e IV.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência.

Psicologia e o diagnóstico de quadros psicopatológicos

O primeiro Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais (DSM)


surgiu no âmbito da Medicina somente em 1952, elaborado pela Associação
Psiquiátrica Americana. A essa primeira edição seguiram-se outras: DSM-II (1968),
DSM-III (1980), DSM-III-R (1987) e DSM-IV (1994), atualmente em uso. O DSM
apresenta a descrição de transtornos, relaciona sintomas e fornece dados sobre a
prevalência de um quadro psicopatológico na população e atribui códigos
numéricos aos diferentes quadros para possibilitar a comunicação entre os
profissionais que fazem uso dele.

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As considerações a respeito dos quadros psicopatológicos apresentados no


DSM variam de uma abordagem teórica para outra. O enunciado da questão
considera apenas algumas das abordagens que integram o conjunto de
possibilidades do saber psicológico: as abordagens comportamental e sistêmica, a
Psicanálise e a perspectiva fenomenológico-existencial.
Para a Psicanálise os sintomas, ao revelarem dinamismos inconscientes,
atuam como porta-vozes do sistema psíquico e, por isso, não podem ser
submetidos a classificações generalizantes, nem a uma apreciação crítica com
vistas a sua classificação. Assim, segundo essa abordagem, as descrições e
classificações do DSM não apresentam utilidade. Para a abordagem
comportamental as categorias nosológicas também não se mostram úteis, dado
que objetiva identificar as variáveis presentes nos comportamentos e as relações
estabelecidas entre elas. A abordagem sistêmica, por sua vez, dispensa totalmente
o uso do DSM, pois, visando a identificar a relação complementar entre o sintoma
e o sistema no qual ele se manifesta, considera que as classificações nosológicas
prestam um desserviço, na medida em que contribuem para ocultar dinâmicas do
sistema, ao atribuir as causas do sintoma a um único indivíduo, desconsiderando o
contexto em que ele está inserido. Finalmente, a perspectiva fenomenológico-
existencial também dispensa o uso do DSM por considerar que a classificação de
quadros psicopatológicos em nada contribui para elucidar vivências subjetivas, que
devem ser compreendidas e acolhidas, ao invés de serem rotuladas.

2. Indicações bibliográficas

• BICALHO, C. F. S. Síndrome do pânico: angústia avassaladora? Quadro


nosológico? Estud. psicanal., Belo Horizonte, n. 32, nov. 2009. Disponível em:
<http://pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0100-3437200
9000100006&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 10 de jun. 2011.
• FIRST, M. B.; WILLIAMS, J. B. W.; SPITZER, R. L. DSM-IV: Casos clínicos.
Porto Alegre: Artmed, 2007, v. 2.
• GOMES DE MATOS, E.; GOMES DE MATOS, T. M.; GOMES DE MATTOS, G. M.
A importância e as limitações do uso do DSM-IV na prática clínica. Rev.
psiquiatr. Rio Gd. Sul, Porto Alegre, v. 27, n. 3, dez. 2005. Disponível em:

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<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S010181082005000
300010&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 10 de jun. 2011.
• LOPES, E. J.; LOPES, R. F. F.; LOBATO, G. R. Algumas considerações sobre o
uso do diagnóstico classificatório nas abordagens comportamental, cognitiva e
sistêmica. Psicol. estud., Maringá, v. 11, n. 1, abr. 2006. Disponível em: <http:
//www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S1413-73722006000100006
&lng=en&nrm=iso>. Acesso em: 22 de jun. 2011.
• SIEBERT, G. Transtorno de pânico: investigação sobre alterações de relato em
terapia analítico comportamental. 2006. Dissertação (Mestrado). PUC-CAMP,
Campinas, SP, 2006.
• TENÓRIO, C. M. D. A psicopatologia e o diagnóstico numa abordagem
fenomenológico-existencial. Universitas ciências da saúde, Brasília, v. 1, n. 1,
p. 31-44, 2003. Disponível em: http://www.publicacoesacademicas.uniceub.
br/index.php/cienciasaude/article/view/493/315. Acesso em: 20 de jun. 2011.

2. Análise das afirmativas

I. Afirmativa incorreta
JUSTIFICATIVA. A afirmativa I é, de fato, constituída de três afirmativas: (1) para
a Psicanálise os sintomas relatados revelam complexos inconscientes relacionados
à repressão cultural do corpo e do gênero; (2) esses complexos inconscientes
produzem um estado regressivo, cujo principal mecanismo de defesa é a projeção;
com base nessas duas afirmativas, chega-se à uma conclusão: (3) a Psicanálise,
portanto, tem validada sua descrição da psicopatologia no DSM IV. Os sintomas
descritos no enunciado não caracterizam repressão cultural do corpo ou do gênero
(a paciente é atleta e tem namorado). O encaminhamento descrito não caracteriza
um processo de projeção. A terceira afirmativa, por sua vez, é incorreta, entre
outras razões, por sua falha lógica: trata-se de uma conclusão indevida, pois não
há relação lógica entre essa afirmativa e as outras duas que a antecedem.

II. Afirmativa correta


JUSTIFICATIVA. De acordo com a abordagem comportamental, isto é aquela que
se reporta ao Behaviorismo Radical de Skinner, todo e qualquer comportamento
(inclusive os relacionados à linguagem, ao pensamento e à cognição) deve ser
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compreendido a partir das relações funcionais que estabelece com eventos


ambientais. Segundo essa concepção teórica, o Transtorno do Pânico (TP) é
compreendido como um conjunto de respostas psicofisiológicas associadas a
certas condições ambientais. Como outros transtornos de ansiedade, o TP envolve
a relação entre eventos ambientais com funções de estímulo e respostas
organísmicas. Assim, diante de uma queixa de TP, o psicoterapeuta
comportamental fará uma análise funcional do comportamento para identificar as
variáveis ambientais a serem manipuladas com o objetivo de eliminar ou reduzir a
frequência do comportamento alvo, no caso as crises de pânico. Vê-se, portanto,
que uma atuação profissional orientada por essa abordagem teórica prescinde do
DSM, por considerar que ele não auxilia na identificação das variáveis ambientais
envolvidas no quadro, nem contribui para o planejamento da intervenção.

III. Afirmativa correta


JUSTIFICATIVA. Segundo a abordagem sistêmica a compreensão de uma queixa
demanda a ampliação do foco de análise e considera os indivíduos como
integrantes de uma rede de sistemas e subsistemas, isto é, de um conjunto de
elementos interligados, cada qual com suas peculiaridades. Nos sistemas, a
interdependência das partes determina que qualquer mudança em um dos
elementos afete o todo e cada uma das outras partes. O homem, considerado um
sistema aberto, só pode ser compreendido como inserido em determinado
contexto. Assim, as disfunções indicam um desequilíbrio de relações no interior do
sistema. O paciente, considerado como o membro sintomático de um grupo, é
compreendido como aquele que denuncia a disfunção do sistema, estando,
portanto, todos os demais membros implicados no fenômeno. O processo
psicoterápico – seja individual, seja de grupos familiares – busca identificar o
padrão de funcionamento do sistema e a função desempenhada pelo sintoma
nesse contexto. A utilização de um sistema classificatório como o DSM em nada
contribuiria para a compreensão sistêmica do fenômeno.

IV. Afirmativa incorreta


JUSTIFICATIVA. A concepção fenomenológico-existencial não busca explicar
sintomas ou validar relatos, objetivando-os. Sua abordagem é compreensiva, e
não explicativa. Procura elucidar os significados da experiência dos pacientes,

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favorecendo o autoconhecimento e a autonomia. Por essa razão, não recorre a


quadros psicopatológicos por considerá-los estáticos e genéricos, incapazes,
portanto, de contemplar as especificidades de cada caso.

Alternativa correta: C – apenas as afirmativas II e III estão certas, conforme as


justificativas apresentadas.

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Questão 5
Questão 53
Uma das dimensões atuais da realidade brasileira é a questão da inclusão no
mercado de trabalho de pessoas com deficiência, segundo a lei no 8.213/91
(Decreto Lei no 3298/99) que tem trazido à tona situações de convívio com a
diferença, bem como episódios de violência e segregação contra aqueles
percebidos como diferentes.

A partir do texto são feitas duas afirmativas:

O mecanismo de ação do preconceito estabelece uma diferenciação e uma


desvalorização social entre as pessoas, e os estereótipos tendem a homogeneizar
os grupos percebidos como diferentes.

PORQUE

O estabelecimento de cotas para pessoas com deficiência pode reforçar a


discriminação.

Pode-se afirmar que

A. as duas afirmativas são verdadeiras e a segunda justifica a primeira.


B. as duas afirmativas são verdadeiras e a segunda não justifica a primeira.
C. a primeira afirmativa é verdadeira e a segunda é falsa.
D. a primeira afirmativa é falsa e a segunda é verdadeira.
E. as duas afirmativas são falsas.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência

A inclusão da pessoa com deficiência no mercado de trabalho

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Questão 24 – Enade 2006. Esta questão foi anulada devido ao fato de haver erro em seu enunciado.
Embora não faça sentido identificarmos a alternativa correta, temos aqui um bom exercício de
reflexão.

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A legislação brasileira determina que uma parcela dos cargos das empresas
com cem (100) ou mais empregados deve ser preenchida por pessoas com
deficiência. A reserva legal de cargos é também conhecida como Lei de Cotas (art.
93 da Lei nº 8.213/91).
Para efeitos da lei, adotando-se a perspectiva do Ministério do Trabalho e
Emprego (MTE), entende-se por deficiência

uma limitação física, mental, sensorial ou múltipla, que incapacite


a pessoa para o exercício de atividades normais da vida e que, em
consequência da incapacitação, a pessoa tenha dificuldades de
inserção social. (MTE, 2007).

A ação afirmativa proposta pela Lei no 8.213/91 busca sedimentar o


princípio da igualdade a partir de uma perspectiva sensível do direito à diferença.
Justifica-se essa determinação legal pela constatação de que pessoas com
deficiência não eram aceitas no mercado de trabalho em função da presença de
barreiras atitudinais nas empresas e de preconceitos por parte dos empregadores.
Partindo do pressuposto de que a convivência entre pessoas com deficiência e
pessoas comuns beneficia a todos, o incentivo à convivência entre diferentes visa
a favorecer a desconstrução de estereótipos e minimizar efeitos da
estigmatização.
O termo “estigma” refere-se a um atributo que diferencia um indivíduo do
padrão socialmente estabelecido como normal. Esse atributo, considerado um
sinal de desvantagem, perpassa todas as relações sociais estabelecendo barreiras
atitudinais. Ou seja, há “anteparos” colocados na relação entre as pessoas
consideradas “normais” e os portadores do atributo, que resultam em uma
predisposição desfavorável, de um lado, e uma característica desvalorizada
socialmente, de outro. A predisposição desfavorável caracteriza o preconceito.
Ao analisar as propostas de ação afirmativa, o MTE considerou a
possibilidade de essa lei vir a fomentar a desigualdade e produzir uma espécie de
“discriminação reversa” ao dar destaque às diferenças. Apesar desse risco, há
indicadores de aumento de participação das pessoas com deficiência no mercado
de trabalho a partir de sua formulação. Inicialmente, de um total de cerca de 820
mil vagas destinadas a pessoas com deficiência, apenas 125 mil foram
devidamente ocupadas, mas esse quadro sofreu alterações ao longo do tempo.

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Em São Paulo, por exemplo, ocorreu um aumento no número de pessoas com


deficiência empregadas: em 2008 eram cerca de 90 mil, e em 2009 cerca de 100
mil. No entanto, ainda não foram realizadas pesquisas para avaliar os efeitos da
lei de cotas nas relações entre pessoas com deficiência e pessoas comuns.

Justificativa para a anulação da presente questão

Na introdução da questão, lê-se que a Lei de Cotas “tem trazido (....)


episódios de violência e segregação contra aqueles percebidos como diferentes”.
Essa afirmativa não encontra respaldo na bibliografia de referência desse tema.
Desde a década de 1970, a tônica das políticas públicas tem sido a inclusão social
da pessoa com deficiência e a convivência entre diferentes. Nesse contexto foram
criadas as leis de cotas.
Embora a inclusão social da pessoa com deficiência tenha alcançado algum
êxito, o fato é que a discriminação não foi superada. Pesquisas mostram que a
intensidade da discriminação depende do grau e do tipo de deficiência e, no
contexto geral das deficiências, a mental inclui-se entre as que geram maior
preocupação. Ao mesmo tempo, não há indicadores de que a Lei tenha favorecido
uma regressão do comportamento segregacionista a estágios anteriores. Também
não há dados de que a reserva de vagas no mercado de trabalho para pessoas
com deficiência tenha levado a um recrudescimento da violência dirigida contra
elas.
Acrescente-se a isso o fato de que a violência contra pessoas com
deficiência ocorre também no ambiente doméstico e em outros contextos não
afetados pela Lei de Cotas.
Pelo exposto acima se justifica a anulação da questão.

2. Indicações bibliográficas

• AMARAL L. A. Conhecendo a deficiência. Em companhia de Hércules. São


Paulo: Robe, 1995.

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• BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. A inclusão das pessoas com


deficiência no mercado de trabalho. Brasília: Secretaria de Inspeção do Trabalho
(SIT), 2007.
• GOFFMAN, E. Estigma: Notas sobre a manipulação da identidade deteriorada.
4. ed. Rio de Janeiro: Guanabara. 1998.
• JODELET, D. Os processos psicossociais da exclusão. In SAWAIA, B. (Org.). As
artimanhas da exclusão: análise psicossocial e ética da desigualdade social.
Petrópolis: Vozes, 1999.
• SASSAKI, R. Terminologia sobre deficiência na era da inclusão. Disponível em:
<http://saci.org.br>. Acesso em: 07 de abr. 2010.

3. Análise das alternativas

1ª. Afirmativa: correta.


JUSTIFICATIVA. Os estereótipos concretizam preconceitos: a partir de uma
peculiaridade pessoal o indivíduo é visto como pertencente a determinada
categoria, para a qual se cria um “tipo” fixo e imutável. Esse mecanismo cumpre
importante função na comunicação social, pois simplifica situações complexas e
oferece uma saída cômoda para situações que não compreendemos ou não
queremos compreender. Os estereótipos nos levam a pensar que todas as pessoas
incluídas em dada categoria, pelo simples fato de compartilharem determinada
característica, sentem, pensam e agem do mesmo modo. As pessoas com
deficiência consideram que as barreiras atitudinais e os estereótipos constituem
fatores incapacitantes e são mais difíceis de superar do que as limitações
associadas à própria deficiência.

2ª. Afirmativa: correta.


JUSTIFICATIVA. A afirmativa trata de modo genérico da hipótese de ocorrência de
um fortalecimento da discriminação a partir da implementação da Lei de Cotas: o
tratamento diferenciado, ao colocar em destaque a diferença poderia promover ou
incrementar, em maior ou menor medida, a desigualdade, produzindo uma
“discriminação reversa”. No entanto, ainda não temos pesquisas que avaliem os
efeitos da Lei.

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Alternativa correta: B – embora as duas afirmativas estejam corretas, a segunda


não justifica a primeira.

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Questão 6
Questão 64
Leia as afirmativas:

A contemporaneidade é o cenário no qual novos elementos despontam e


convocam posicionamentos subjetivos. É nesse palco que a homossexualidade e a
homofobia devem ser vistas e focalizadas, tanto teórica quanto pragmaticamente.

PORQUE

Autores como Bauman (1998) e Jameson (1997) voltam-se para as


transformações sociais como deflagradoras de mudanças subjetivas:
fragmentação, superficialidade, heterogeneidade discursiva e espacialização do
tempo e fim da unidade e da centralidade típicos da organização subjetiva da
modernidade. (Adaptado de CREMASCO et al, 2009).

Analisando-se essas afirmativas, é CORRETO afirmar que

A. a primeira afirmativa é falsa, e a segunda é verdadeira.


B. a primeira afirmativa é verdadeira, e a segunda é falsa.
C. as duas afirmativas são falsas.
D. as duas afirmativas são verdadeiras, e a segunda é uma justificativa correta
da primeira.
E. as duas afirmativas são verdadeiras, mas a segunda não é uma justificativa
correta da primeira.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência

Psicologia diante da homossexualidade e homofobia

Na atualidade configura-se um universo de novidades, graças às múltiplas


formas de expressão social, econômica e cultural, que implicam na necessidade de

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Questão 24 – Enade 2009.

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adoção de novas maneiras de compreender e de novas atitudes, ou seja, implicam


na necessidade de adoção de posicionamentos pessoais diante da nova realidade.
Os “novos elementos teóricos e culturais tornam mais complexos os
posicionamentos e inquietam antigas crenças” (CREMASCO, 2009, p. 71). Então,
segundo essa perspectiva, a homossexualidade e a homofobia também
demandam compreensão a partir de padrões contemporâneos, que supõem o
afastamento de concepções tradicionais, fixas e estereotipadas.
Bauman e Jameson, entre outros autores atuais, consideram as
transformações sociais como motores de modificações subjetivas. Enfatizam que
os conceitos típicos de organização subjetiva da modernidade foram sendo
desconstruídos e gradualmente substituídos, conduzindo a uma ampliação de
conceitos de saúde e de potencial humano.

2. Indicações bibliográficas

• BAUMAN, Z. O mal-estar na pós-modernidade. Rio de Janeiro: Zahar, 1998.


• CREMASCO, M. V. F.; THIELEN, I. P. Brokeback Mountain e o segredo de
todos nós: subjetividades na contemporaneidade. Cadernos de Pesquisa
Interdisciplinar em Ciências Humanas. Curitiba, v. 10, n. 96, p. 68-81, 1 de jan.
2009. Disponível em:<http://www.periodicos.ufsc.br/index.php/cadernosdepesqui
sa/article/viewFile/10150/10352>. Acesso em: 04 de ago. 2010.
• JAMESON, F. Pós-modernismo: a lógica cultural do capitalismo tardio. São
Paulo: Ática, 1997.

3. Análise das alternativas

A. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ver justificativa da alternativa E.

B. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ver justificativa da alternativa E.

C. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ver justificativa da alternativa E.

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

D. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Ver justificativa da alternativa E.

E. Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA: A primeira afirmativa propõe que sejam revistos posicionamentos
anteriormente assumidos, à luz do cenário atual e das novas ocorrências. Como as
transformações sociais impelem à adoção de novas posturas e os modelos
tradicionais de compreensão da realidade são abalados, dada a introdução de
novos elementos, é preciso adotar novas perspectivas, distintas das tradicionais,
em relação inclusive à homossexualidade e à homofobia. A segunda afirmativa
ressalta o interesse de autores atuais por essa temática e seu desejo de
compreender como novas formas de compreensão e posicionamentos subjetivos
resultam das transformações sociais, tomando como exemplo os estudos de
Bauman (1998) e Jameson (1997).
As duas afirmativas podem ser consideradas verdadeiras, mas a segunda não
justifica a primeira. Bauman e Jameson tratam das transformações sociais de
forma ampla, sem referirem-se à contemporaneidade e, nela, à
homossexualidade. As duas afirmativas são complementares.

20
Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

Questão 7

Questão 75
A psicanálise não tem nenhum motivo para ter medo do formidável avanço atual
da neurociência. Ela o espera com impaciência, na medida em que esses novos
dados nos servirão como novas portas de entrada em nosso modelo −
necessariamente multifatorial − de qualquer situação psicopatológica.
(LEBOVICI, S.).

I. Do ponto de vista da neurociência, a frase de Lebovici não é verdadeira, na


medida em que a psicopatologia não é multifatorial, mas determinada
exclusivamente pela biologia.
II. Do ponto de vista da psicanálise, a frase de Lebovici não é verdadeira,
porque o avanço da neurociência poderá provocar o fim da psicanálise.
III. Na atualidade, há psicanalistas e neurocientistas trabalhando em conjunto
por acreditarem na colaboração das pesquisas nessas áreas.
IV. Do ponto de vista da psicanálise, não há convergência possível entre a
pesquisa psicanalítica e a da neurociência porque ambas partem de
pressupostos teórico-epistemológicos absolutamente diversos.

É correto APENAS o que se afirma em:

A. I e II.
B. I e IV.
C. III.
D. IV.
E. III e IV.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência.

5
Questão 26 – Enade 2006.

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

Psicanálise e Neurociência

Silva Filho (2003) identifica motivos pelos quais a Psicanálise não teme o
avanço da Neurociência e procura mostrar que é falso o suposto antagonismo
entre a teoria psicanalítica e os conhecimentos sobre o cérebro. Considera que
esses conhecimentos se complementam na medida em que o conceito
neurocientífico de plasticidade cerebral oferece base orgânica para a teoria
psicanalítica. Pesquisas sobre funções cerebrais ampliaram as possibilidades de
compreensão do psiquismo e vêm subsidiando alguns postulados da Psicanálise,
como por exemplo o reconhecimento de que a liberação de sinapses se faz
necessária para a ocorrência de lapsos de linguagem e para o sonhar. Essa
evidência não elimina a função da Psicanálise de compreender os significados da
dinâmica intrapsíquica, como por exemplo, o significado dos lapsos e dos sonhos.
Soussumi (2004) publicou no site da Sociedade Brasileira para o Progresso
da Ciência um trabalho cujo objetivo foi tratar da Neuropsicanálise, um novo
método científico que consiste em combinar dois métodos já existentes – o da
Psicanálise e o da Neurociência – evidenciando articulações entre esses dois
campos do saber. Considerando as diferenças entre os pressupostos teórico-
metodológicos dessas duas áreas, o diálogo interdisciplinar estabelecido apresenta
convergências e divergências.
As principais concepções contemporâneas da Psicopatologia a consideram
multifatorial, e não determinada exclusivamente pela Biologia. As instâncias
psicológicas e sociais são consideradas fundamentais para a compreensão, o
diagnóstico e o tratamento de distúrbios psicopatológicos, por conceberem o
homem como um ser biopsicossocial. A Neurociência também admite que fatores
biológicos, psicológicos e sociais interagem na determinação de fenômenos
psicopatológicos.

2. Indicações bibliográficas

• FAVERET, B. M. S. Neurociências e psicanálise: há possibilidade de articulação?


Psicol. Clin., Rio de Janeiro, v. 1, n. 18, p. 1-1, 2006. Disponível em:

22
Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

<http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0103-56652006000
100002&lng=pt&nrm=iso>. Acesso em: 5 de mai. 2010.
• MATURANA, H. R.; VARELA, F. Autopoiesis and cognition. Dordrecht: D. Reidel,
1980.
• MATURANA, H. R.; VARELA, F. El arbol del conocimiento. Santiago:
Universitaria, 1990.
• SILVA FILHO, A. C. P. Psicanálise e Neurociências. Revista de Psiquiatria
Clínica, São Paulo, v. 3, n. 30, p. 1-1, 1 de jan. 2003. Disponível em:
<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S010160832003000300010&script=sci_
arttext>. Acesso em: 5 de mai. 2010.
• SOUSSUMI, Y. O que é Neuro-Psicanálise. Ciência e Cultura, São Paulo, v. 4, n.
56, p. 1-1, 2006. Disponível em:<http://cienciaecultura.bvs.br/scielo.php?pid
=S0009-67252004000400019&script=sci_arttext.>. Acesso em: 5 de mai.
2010.

3. Análise das afirmativas

I – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA.
Conforme afirma Lebovici, a Psicanálise acompanha os avanços da Neurociência e
considera que os conhecimentos dela advindos contribuem para a compreensão
de quadros psicopatológicos, dado o seu caráter multifatorial. Sendo a
Psicopatologia multifatorial, e não determinada exclusivamente pela Biologia, é
incorreto afirmar que do ponto de vista da Neurociência a frase de Lebovici não é
verdadeira.

II – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. O avanço da Neurociência “vem confirmando inúmeros
postulados psicanalíticos modernos, no estudo das funções cerebrais mais
diferenciadas” e, por outro lado, também “contribui cada vez mais para
compreensão da mente humana, seus distúrbios e seu tratamento” (SILVA FILHO,
2003, p. 1). Assim, a Psicanálise é beneficiada pelo desenvolvimento das
Neurociências.

23
Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

III – Afirmativa correta.


JUSTIFICATIVA. Como aponta Soussumi (2004), em 1994 o Grupo de Estudos de
Neurociência e Psicanálise do Instituto de Psicanálise de Nova York já reunia
psicanalistas e neurocientistas voltados para a busca de correlações entre suas
áreas. Atualmente são de fácil acesso as informações advindas de pesquisas e
debates baseados no diálogo interdisciplinar que visa à compreensão dos
fenômenos psíquicos. No Brasil identifica-se a presença de grupos interessados
por essa temática.

IV – Afirmativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Conforme afirma Faveret (2006), ainda que os pressupostos
teórico-epistemológicos da Psicanálise e das Neurociências sejam distintos, a
articulação entre esses dois campos do saber é possível, desde que se promova
um trabalho interdisciplinar que, além dos conhecimentos próprios desses campos
do saber, possa ser enriquecido por contribuições advindas da Filosofia, da
Sociologia e das Ciências Naturais.

Alternativa correta: C – apenas a afirmativa III está certa, conforme as


justificativas apresentadas.

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

Questão 9
6
Questão 9
O trânsito é um fenômeno coletivo que explicita o conflito entre desejos
individuais e prescrições sociais de condutas. O resultado das ações dos indivíduos
tem sido considerado pela Organização Mundial da Saúde como um problema de
saúde pública. Há mortos parcialmente contabilizados, mutilados desconhecidos e
sofrimento numa dimensão gigantesca. Constitui-se em fenômenos evitáveis, a
partir das ações do indivíduo que toma as decisões. Para a tomada de decisões,
concorrem diversos fatores conhecidos da psicologia, entre eles, a percepção de
risco, que se constitui a partir de fatores sociais, grupais e ideológicos, de fatores
intrapessoais e de fatores interpessoais.
Qual das afirmativas articula a tensão entre o indivíduo e a sociedade expressa no
trânsito?
A. As perspectivas individualistas devem incorporar a dimensão coletiva do
comportamento individual, e as perspectivas sociais devem considerar o indivíduo
como ator.
B. As práticas sociais no trânsito interferem nas relações entre classes,
demarcando grupos expostos a riscos.
C. O aspecto da desigualdade social da relação de gênero determina a interação
dos fatores individuais e sociais que se expressam em conflitos no trânsito.
D. O estudo do papel social do motorista revela a interação característica do
principal ator do trânsito, permitindo intervir na regulação do sistema, a partir do
acordo social.
E. Perspectivas individualistas focalizam características pessoais que seriam
determinantes na harmonia do sistema, subsidiando novos instrumentos de
avaliação psicológica.

1. Introdução teórica

Fenômenos, processos e construtos psicológicos, entre os quais, processos básicos


(cognição, motivação e aprendizagem), processos do desenvolvimento, interações
sociais, saúde psicológica e psicopatológica, personalidade e inteligência
6
Questão 28 – Enade 2009.

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Psicologia do trânsito e percepção de risco

Estudos mostram que no Brasil e no mundo os acidentes de trânsito vêm


apresentando uma taxa de crescimento acentuada. O número de vítimas fatais e
não fatais tem aumentado ano após ano, como apontam estatísticas do
Departamento Nacional de Trânsito – DENATRAN.
Na avaliação das causas de tais acidentes três fatores devem ser levados
em conta: o motorista, o veículo e a via. Considerar as variáveis humanas,
apontadas nas estatísticas mundiais como a principal causa de acidentes, implica
em considerar não apenas as condições físicas e o despreparo do condutor, mas
uma série de fatores relacionados aos processos psicológicos e sociais envolvidos
na condução do veículo. Em muitos casos identifica-se, entre os condutores que
sofreram acidente, um padrão de comportamento de risco, com registro de erros,
lapsos e infrações recorrentes.
No trânsito, como em outras atividades humanas, os indivíduos se
comportam a partir de avaliações pessoais de riscos e benefícios associados às
suas ações. Wilde (2005) afirma que ao realizarem determinada atividade os
indivíduos estabelecem certo nível de risco, considerado aceitável por eles. Esse
nível resulta da interação de fatores tais como a experiência passada, a avaliação
da possibilidade de ocorrência de acidente em dada situação e a confiança na
própria habilidade para tomar decisões e controlar o veículo. Durante o processo
de decisão, a estimativa de vantagens e desvantagens resultante de
comportamentos arriscados se contrapõe à avaliação de vantagens e
desvantagens resultante de alternativas comportamentais comparativamente
seguras. Nessas avaliações estão envolvidos valores e crenças e, assim, o estilo
adotado para a condução de um veículo é mediado por experiências individuais e
interações sociais.
Num estudo sobre percepção de risco e excesso de velocidade, Thielen,
Hartmann e Soares (2008) identificaram haver, entre os motoristas, uma
reinterpretação pessoal do nível de velocidade considerado adequado para uma
via, independentemente do limite estabelecido pela legislação. Os dados
corroboram a hipótese de haver percepções individuais de fenômenos coletivos.

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

Considerando os aspectos sociais relacionados à percepção de risco, Spink


(2001) salienta as acepções positivas que o discurso de busca e enfrentamento de
risco assume na contemporaneidade. A autora apresenta as conexões, presentes
nos discursos contemporâneos, entre as ideias de “correr riscos” e “engajar-se em
aventuras”, ou a concepção de enfrentamento de risco como recurso para “forjar
o caráter”.
Assim, qualquer iniciativa empreendida no sentido de reduzir os custos
humanos envolvidos no trânsito deve levar em conta aspectos individuais e
coletivos do fenômeno.

2. Indicações bibliográficas

• DENATRAN – Departamento Nacional de Trânsito. Registro de Acidentes de


Trânsito. Disponível em: <http://www.infoseg.gov.br/renaest/inicio>. Acesso em:
21 de out. 2010.
• HOFFMANN, M. H. Comportamento do condutor e fenômenos psicológicos.
Psicol. pesqu. Transito 1 (1): Belo Horizonte. Disponível em: <http://www.
pepsic.bvsalud.org/scielo.php?script=sci_arttext>. Acesso em: 21 de out. 2010.
• HOFFMANN, M. H.; GONZALEZ, L. Acidentes de trânsito e fator humano. In
HOFFMANN, M. H. (Org.). Comportamento humano no trânsito. São Paulo: Casa
do Psicólogo, 2003.
• NAVARRO, M. B. M. A.; CARDOSO, T. A. O. Percepção de risco e cognição:
reflexões sobre a sociedade de risco. Ciências & Cognição, 6 (2), 2005. Disponível
em: <http://www.cienciaecognicao.org.>. Acesso em: 15 de out. 2010.
• MIRANDA, A. R. A. et al. Uma proposta teórico-reflexiva acerca dos paradoxos
presentes nos modelos de gestão da qualidade. Revista de Administração da
UNIMEP, Piracicaba, v. 8, n. 1, p. 62-83, fev.-abr. 2000.
Disponível em:<http://www.raunimep.com.br/ojs/index.php/regen/article/viewFil
e/118/418>. Acesso em: 21 de out. 2010.
• SPINK, M. J. Os contornos do risco na modernidade reflexiva: considerações a
partir da Psicologia Social. Psicologia e Sociedade, 2001, 12: 156-174.
• THIELLEN, I. P.; HARTMANN, R. C.; SOARES, D. P. Percepção de risco e
excesso de velocidade. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, 24 (1). jan.

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

2008. Disponível em: <http://www.scielosp.org/scielo.php?script=sci_arttext>.


Acesso em: 21 de out. 2010.
• WILDE, G. J. S. O limite aceitável de risco: uma nova Psicologia de segurança
e saúde. São Paulo: Casa do Psicólogo, 2005.

3. Análise das alternativas

A. Alternativa correta.
JUSTIFICATIVA. O enunciado refere-se à articulação entre fatores individuais e
coletivos, tensionados no fenômeno do trânsito. Para compreender essa
articulação é preciso que as concepções que privilegiam aspectos individuais
sejam complementadas por algumas outras, que conferem relevância a aspectos
sociais.

B. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Uma concepção que privilegia os determinantes e os efeitos
socioculturais relacionados às práticas sociais no trânsito, em detrimento de
aspectos individuais, contraria o enunciado da questão, que contempla tanto a
dimensão social quanto a individual.

C. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Como em outros fenômenos sociais, o trânsito é permeado por
questões mais abrangentes, referentes às representações e pré-concepções a
respeito da conduta própria de distintos segmentos sociais. Isso é verdadeiro
particularmente no caso dos grupos “marginais”, particularmente sujeitos a
preconceitos e estigmas. As questões de gênero, presentes em nossas relações
interpessoais, acham-se presentes também no trânsito. Porém, o enunciado da
questão não faz referência a essa variável: apenas afirma a necessidade de que
também sejam considerados aspectos individuais e culturais na avaliação da
conduta de motoristas.

D. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. Pesquisas que objetivam investigar o comportamento do
motorista considerando-o como ator principal do trânsito, reúnem informações

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Material Específico – Psicologia – Tomo III – CQA/UNIP

que apontam para a existência de uma certa “lógica privada”, que rege a ação do
motorista, em detrimento de uma concepção de corresponsabilidade pela
preservação do bem coletivo e na obediência às leis. Os resultados indicam que,
de modo geral, o motorista reinterpreta os limites estabelecidos pelas leis e age,
no trânsito, a partir de uma definição pessoal do que seja admissível – ou não –
na condução segura do veículo. Apesar da relevância dos resultados dessas
pesquisas relativas ao papel social do motorista, eles não são suficientes para
subsidiar a definição de estratégias de regulação do sistema de trânsito.

E. Alternativa incorreta.
JUSTIFICATIVA. A inserção da Psicologia no âmbito do Trânsito ocorreu na
década de 1950, em função da proposta de avaliar e selecionar pessoas aptas a
receberem a Carteira Nacional de Habilitação. Partia-se da ideia de ser possível
estabelecer um perfil de “bom motorista”, que poderia ser contraposto a
características individuais obtidas por meio de testes psicométricos. Assim, traços
como impulsividade e agressividade estariam indicando a tendência a uma direção
imprudente e não receberiam a Carteira Nacional de Habilitação os indivíduos
cujos testes evidenciassem níveis elevados dessas características. Apesar da
importância dos fatores de ordem pessoal, que contribuem para a harmonia do
trânsito enquanto sistema, poderem subsidiar a construção de novos instrumentos
de avaliação psicológica, as perspectivas individuais são insuficientes para articular
a tensão entre o indivíduo e a sociedade expressa no trânsito. Portanto, a
afirmativa realizada nessa alternativa não responde à questão proposta no
enunciado.

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