Professional Documents
Culture Documents
E DIFICULDADES ENCONTRADAS
Resumo
1
Mestranda em Educação pela Universidade Estadual de Ponta Grossa. Integrante do GEPTRADO e membro da
RIPEFOR.
2
Doutora em Educação pela UNESP/ARARAQUARA/SP e docente associada da UEPG/ Departamento de
Educação e do PPGE/mestrado e doutorado. Líder do GEPTRADO e membro da RIPEFOR.
ISSN 2176-1396
2380
Introdução
chamada de ciclos, os mesmos não seguem necessariamente uma ordem ou que todos os
elementos de um ciclo sejam vivenciados. O autor, apresenta estudo sobre os ciclos de vida
profissional docente indicando as tendências gerais de cada fase. Ao apresentar a primeira fase,
a entrada na carreira, o autor indica dois momentos vividos pelo professor iniciante: o estágio
de sobrevivência e o estágio de descoberta. Ao primeiro momento atribui como características
gerais o confronto com a realidade, as dificuldades reais da prática. Ao segundo momento, o
estágio de descoberta, o professor iniciante vivência um momento de descoberta e
responsabilidade da realidade da escola. Na sequência, apresenta as demais fases: de
estabilização, de diversificação, de serenidade e de desinvestimento.
Segundo Huberman (2013, p. 37), supostamente se verificam no início de carreira as
sequências ditas de exploração que “consiste em fazer uma opção provisória, em proceder a
uma investigação dos contornos da profissão, experimentando um ou mais papéis”. A
estabilização, “na qual as pessoas centram a sua atenção no domínio das diversas características
do trabalho, na procura de um setor de focalização ou de especialização”. Essa sequência na
carreira acontece de maneira diversificada, segundo Huberman (2013) alguns professores
podem ter uma estabilização mais rápida, já outros podem se estabilizar e em seguida se
desestabilizar. O autor aponta que o desenvolvimento de uma carreira é um processo e não uma
série de acontecimentos, esse processo pode ser linear ou não, ou seja, vai depender da
subjetividade do sujeito.
A primeira fase da carreira do professor Huberman (2013) nomeia de sobrevivência que
é caracterizada pela fase do choque de realidade, pois, o professor idealiza o seu trabalho e, ao
entrar em contato com a realidade da escola percebe que esta é diferente daquilo que ele
pensava. Já a descoberta consiste em um momento de exploração do ambiente, de tentativas e
de exaltação por passar de aluno para professor. Esses dois aspectos são vividos paralelamente,
no qual um dará suporte para o outro criando uma identidade docente, ou seja, através das
experiências cada professor irá formar o seu perfil.
A segunda fase de estabilização consiste no sentimento de competência, uma vez que
os professores já trazem uma bagagem de experiência. Nesse sentido, os professores se
preocupam mais com os objetivos pedagógicos, tendo uma flexibilidade de diferentes turmas,
uma confiança por ter um estilo próprio de ensino.
Já a fase de diversificação se caracteriza pela experimentação. Segundo Huberman
(2013, p. 41), “as pessoas lançam-se, então, numa pequena série de experiências pessoais,
2384
Assim, pretende-se analisar o contexto das mensagens emitidas nos questionários, bem
como as condições que induziram ou produziram as mensagens. Para tanto, a análise foi
organizada em torno dos três polos indicados por Bardin (2004, p. 89): “a pré-análise, a
exploração do material e o tratamento dos resultados, a inferência e a interpretação”.
As professoras foram indagadas sobre a recepção ao ingressar na escola, e se houve
alguma ação por parte da escola para acompanhá-las no início de suas atividades. Esse período
de inserção na docência gera preocupações nos professores iniciantes, “es um período de
tensiones y aprendizajes intensivos em contextos generalmente desconocidos [...]”
(MARCELO; VAILLANT, 2009, p. 49). Os autores ainda afirmam que os professores
iniciantes devem manter um equilíbrio pessoal, o que exige apoio e acolhida dos membros de
toda a comunidade escolar.
Dentre as respostas obtidas, quinze (15) professoras descrevem que a acolhida foi boa e
positiva, indicando que receberam apoio da equipe pedagógica e dos demais professores da
escola.
A escola como um todo me acolheu muito bem. A equipe de gestão me apoia e faz
um trabalho conjunto muito bom (Questionário – P 1).
Fui bem recebida e sempre que tinha alguma dúvida era auxiliada (Questionário – P
2).
Fui bem recebida! Mas no decorrer do movimento cotidiano escolar sempre nos
deparamos com “contradições”. O universo subjetivo do indivíduo carrega muito da
cultura social, que nem sempre agrada a todos (Questionário – P 8).
2388
Fui recebida de braços abertos. A escola estava precisando de professor para aquele
2º ano que os outros professores tinham rejeitado (Questionário – P 9).
Cabe ressaltarmos a resposta da professora P8, que mesmo sendo bem acolhida, sentiu
que poderia não estar agradando. Aqui, nota-se que os elementos que constituem uma
determinada cultura escolar são incorporados no contato com a escola (BOURDIEU, 2009), em
seu cotidiano e nas relações interpessoais que ali se constituem. Portanto, aparece no contexto
das respostas das professoras que, apesar de uma acolhida positiva, enfrentam uma condição de
isolamento na escola. Para Marcelo e Vaillant (2009, p. 31), esse isolamento está relacionado
pela forma como a escola está organizada, como o tempo e os espaços são distribuídos,
funcionando como norma e cultura profissional.
Diante da questão foram obtidas duas respostas diferentes, sendo que para três (3)
professoras a acolhida foi neutra e indiferente e para outras três (3) foi negativa.
Não recebi nenhum apoio pedagógico, primeiro dia fui orientada apenas a ir para a
turma, mas não recebi orientação sobre a turma ou escola (Questionário – P 12).
Me receberam com educação e respeito, mas com um olhar de indiferença por causa
de minha idade e pouca experiência (Questionário – P 14).
Na primeira escola que entrei fui bem recepcionada pela equipe gestora. Porém os
professores tinham um pouco de receio, pelo fato de sermos recém-formadas
(Questionário – P 19).
Foi muito difícil me adaptar [...] competição na pele, o deboche porque era “novata”,
a ausência dá Pedagoga que estava de licença, a fala de troca de experiências, de
comprometimento das colegas, falta de ética, chegar em uma escola pequena, as
pessoas já são amigas e não aceitarem sua presença. Confesso que minha vontade era
voltar correndo para a escola privada [...] foram dias difíceis. (Questionário – P 18).
(BRUNET, 1992, p. 125). Entende-se o termo rendimento como a condição para a consolidação
de uma prática pedagógica transformadora.
Sobre as ações realizadas na escola para acompanhamento no início da atividade
profissional, metade das professoras afirma que sim, que houve um acompanhamento.
Entretanto, pelas angustias e dificuldades relatadas pelas professoras, observa-se que a
receptividade e as orientações básicas recebidas ao ingressarem na escola, foram apontadas
como ações de acompanhamento.
Tive orientações sobre a sala de aula com a pedagoga. Houve uma organização do
trabalho pedagógico para a socialização e possíveis dúvidas (Questionário – P 3).
Uma resposta nos chamou atenção, já que poderia ser uma das possibilidades de
inserção à docência como indica Marcelo (1999) e Vaillant e Marcelo (2012).
Eu acompanhei professoras nas turmas para depois ser inserida em outras sozinha
(Questionário – P 15).
Me mandaram escolher um projeto qualquer e fui pega de surpresa, mas fiz o meu
melhor sem apoio nenhum, e no meio do ano ouvi da equipe gestora que o meu projeto
era só para tampar buraco (Questionário – P 14).
Era uma turma muito difícil de trabalhar, pouco apoio e muita crítica (Questionário –
P 9).
A escola estava sem Pedagoga, já era março e nenhuma professora dava conta da
indisciplina da turma. Quando cheguei, a diretora disse: “tomara que você seja a
resposta das minhas orações”. E me deu a turma, tive que ser minha própria
orientadora. Depois vieram as formações continuadas, mas com nada muito novo.
Apenas reforçando aquilo que já aprendi nas cadeiras da universidade (Questionário
– P 18).
A maior dificuldade tem sido alfabetizar, em turma de 31 alunos, tendo uma aluna
inclusa. Primeiro, porque é minha primeira experiência com o Ens. Fundamental.
Segundo, porque a turma é grande, agitada, são alunos imaturos e dependentes e
muitos casos sérios de indisciplina. E, terceiro, que para pensar em inclusão em turma
de alfabetização (principalmente), teria que ter um número menor de alunos. Digo,
uma inclusão com mais “êxito”, não seria bem esse termo, mas espero que tenha
ficado claro (Questionário – P 1).
2391
Atualmente nessa escola a maior dificuldade está sendo trabalhar com as seis turmas
da escola no período de 45 min ou 1 hora de aula, não conseguindo estabelecer vínculo
e rotina com os alunos, como também não conseguindo promover um ensino e
aprendizagem de qualidade (Questionário – P 14).
A equipe pedagógica é sempre a quem recorro primeiro, pois é quem mais conhece a
realidade da escola e as dificuldades encontradas na mesma (Questionário – P 16)
Em segundo plano ficam os colegas mais próximos, com quem trocam experiências e
se sentem mais à vontade para compartilhar suas angustias. Em alguns casos, os colegas atuam
na mesma turma e o planejamento é realizado em conjunto, o que facilita um contato maior
entre os pares.
2392
A escolha da maior parte das professoras tem relação direta com as dificuldades
apontadas por elas no trabalho com alunos inclusos ou com dificuldades de aprendizagem. E
também pela oferta abundante desse curso nas instituições de ensino superior na região. Sendo
assim, foi recorrente na escrita das professoras os termos “inclusão”, “diversidade”,
“dificuldade de aprendizagem” e “educação especial”.
Em síntese, destaca-se que as dificuldades encontradas no início da docência causam
impacto na trajetória profissional dos professores iniciantes. Também fica evidente que o apoio
que recebem por parte da equipe pedagógica não é suficiente, assim recorrem a cursos de pós-
graduação procurando respostas para suas angústias e situações desafiadoras, como a inclusão.
2393
Reflexões possíveis
que as discussões sobre o início da docência e a inserção profissional são recentes no campo da
investigação sobre formação de professores e trabalho docente. Não obstante, tal fato não
justifica a ausência de ações que favoreçam a inserção das professoras participantes da pesquisa
REFERÊNCIAS
HUBERMAN, M. O ciclo de vida profissional dos professores. In: NÓVOA, A. (Org.). Vidas
de professores. 2.ed. Lisboa: Porto Editora, 2013.
NONO, M.A. Casos de ensino e professoras iniciantes. 2005, 238 f. Tese (Doutorado em
Educação) – Universidade Federal de São Carlos, São Carlos, 2005.
RICHARDSON, R.J. Pesquisa Social: métodos e técnicas. 3.ed. São Paulo: Atlas, 2009.