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ARTIGOS

Autoria e cultura na
pós-modernidade

Irati Antonio Quem é cada um de nós senão uma avaliação científica. É possível identifi-
combinatória de experiências, car nesses aspectos os ideais da mo-
de informações, de leituras, de dernidade, como universalidade, harmo-
imaginações? nia, a idéia da existência de idéias úni-
cas, a verdade e a razão.
Italo Calvino
A construção desse autor está ligada
ao interesse principalmente religioso
1. A noção de autor exerce um papel (da igreja cristã) de conferir um deter-
importante na produção cultural em todo minado valor e uma ordem particular a
o período da modernidade, uma heran- um discurso, com o propósito de insti-
ça que começou a ser forjada desde a tucionalizá-lo, transformando-o em um
invenção da escrita, passando pelo de- discurso competente, na forma usada
senvolvimento das técnicas de impres- por Marilena Chauí3, quer dizer, aquele
são tipográfica e pelo estabelecimento que é permitido ou autorizado segundo
de um mercado editorial. O projeto da determinados cânones. Dessa forma, o
modernidade cobre pelo menos 200 nome do autor outorga um certo estatu-
anos da cultura ocidental, aparecendo to ao discurso, à obra, conferindo-lhe
no século XVIII e firmando-se no século autenticidade (o discurso é real, verda-
XIX, momento em que a divisão social deiro), distinção (o discurso tem valor,
do trabalho e a especialização da é especial, importante) e permanência
ciência e da arte levam à segmenta- (o discurso conservar-se, fixa-se para a
ção de atividades que antes podiam ser eternidade), assegurando “uma função
exercidas por uma mesma pessoa. classificativa; um tal nome permite rea-
“Essa diversidade num só homem, essa grupar um certo número de textos, deli-
uni-versidade, torna-se cada vez mais mitá-los, selecioná-los, opô-los a outros
árdua“, na medida em que o projeto dos textos”(Foucault2, p. 44-5).
iluministas “firma os campos distintos
em que o pensamento e a ação po- Outro aspecto importante da autoria
deriam exercitar-se: a fé de um lado, a está ligado à questão econômica e so-
verdade (da ciência) de outro”(Coelho1, cial, principalmente a partir do século
p. 20). XIX, quando “o autor se converte em um
produtor para o mercado”(Beiguelman4).
É nesse período que “a noção de autor E é a esse aspecto que se relaciona o
constitui o momento forte da individuali- direito de autor, ou seja, protegendo os
zação na história das idéias, dos co- seus interesses econômicos. Para tan-
nhecimentos, das literaturas, na histó- to, através do Estado, estabeleceu-se
ria da filosofia também, e na das ciên- um contrato jurídico que pudesse regu-
cias”(Foucault2, p. 33). O autor, assim, lar tais interesses e os conflitos advin-
representa a realização do projeto da dos deles.
Resumo modernidade por meio da unicidade do
sujeito e da sua obra, da sua unidade Direito autoral diz respeito, portanto, à
Trata da noção de autor, abordando a estilística, da sua coerência conceitual propriedade intelectual ou artística so-
formação e as funções que a autoria e até mesmo por sua originalidade. Es- bre obras ou produtos. Basicamente, é
desempenha na modernidade e na ses aspectos servem para comprovar a o direito legal do autor ou criador de uma
pós-modernidade.
autenticidade do discurso, e foram tão obra a controlar a reprodução e a distri-
Palavras-chave solidamente estabelecidos na cultura buição dessa obra. Esse direito pode
que ainda hoje são aplicados em gran- ser exclusivamente do autor, que pode
Autoria; Direito autoral; Cultura de medida tanto pela crítica literária, também vendê-lo ou licenciá-lo a edito-
pós-moderna. como, sobretudo, pelas instâncias de res ou outros. É desse aspecto que tra-

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Autoria e cultura na pós-modernidade

ta a legislação da área, no Brasil, a Lei pesquisa de uma equipe, no qual a au- reza (iluminismo, racionalismo) e o apro-
9 610 de 19 de fevereiro de 1998. Re- toria e as citações têm a função de per- ximam da concepção do sujeito ético
produzir uma obra de qualquer nature- mitir que seja traçada a genealogia do capaz de fazer suas escolhas, de uma
za (inclusive em formato eletrônico) próprio texto e de seus autores, ou seja, maneira em que a própria vida pode se
sem a permissão do dententor do di- permitem a verificação e a validação dos tornar uma forma de expressão e de
reitor autoral é um ato ilegal, passível métodos empregados e dos resultados conhecimento, ou como diz Michel Ma-
de sanções. alcançados. ffesoli7, uma obra de arte (estetização
da vida), em que prevalece o desejo, o
A autoria também está relacionada à 2. Os conceitos de autoria e dos instru- sentimento, a vontade de experimenta-
questão ética, que vai da criação em si mentos que regem os seus direitos fun- ção – inconciliáveis na modernidade.
de uma obra ao direito inalienável “do damentam-se na idéia da individualida-
reconhecimento dos direitos morais do de e na identidade formalizada do autor Pensando a função do autor diante des-
autor (ter seu nome associado à sua e na sua (suposta) objetividade, assim sas questões, é admissível propor, en-
obra)”, ou seja, o direito a receber cré- como na concepção de que a obra ou a tão, “retirar do sujeito o papel de funda-
dito por sua produção, que se aplica a produção intelectual e artística é única, mento originário”, analisando-o como
qualquer forma de expressão, inclusive original, íntegra e permanente; na se- uma variável do discurso. Assim, o au-
à Internet. “Esses são conceitos con- paração entre autor e obra (sujeito ver- tor “é com certeza apenas uma das es-
sagrados em nosso ordenamento jurí- sus objeto); na institucionalização das pecificações possíveis da função sujei-
dico, seja pela Constituição Federal, relações com o Estado e com o merca- to. Possível ou necessária?”(Foucault2,
seja pela lei ordinária, convenções, tra- do; na aceitação e na obediência aos p. 70). A desconstrução da identidade
tados internacionais e até mesmo pela contratos éticos, sociais e jurídicos per- do sujeito, que é estática e imutável na
Declaração dos Direitos do Homem” tinentes. modernidade, sugere a constituição da
(Bannitz5). idéia de identificação, como o processo
Essa herança do modo de pensar da de distinguir os diferentes papéis que
Além da instauração da idéia de pro- modernidade encontra hoje muitas difi- um mesmo sujeito pode desempenhar.
priedade, para Michel Foucault2, “os tex- culdades e incongruências para a sua
tos, os livros, os discursos começaram manifestação, uma vez que a própria Na Internet, por exemplo, cada indivíduo
efetivamente a ter autores (outros que atividade autoral passa por transforma- pode assumir várias identificações ao
não personagens míticas ou figuras sa- ções que questionam o próprio concei- mesmo tempo: todos podem ser auto-
cralizadas e sacralizantes) na medida to de autoria. É possível observar es- res, agentes, produtores, editores, lei-
em que o autor se tornou passível de sas mudanças especialmente no cine- tores, consumidores, de um modo em
ser punido, isto é, na medida em que ma, no hipertexto e nas redes de comu- que a subjetividade de cada papel pre-
os discursos se tornaram transgresso- nicação eletrônicas, nos quais as obras valece de acordo com o instante. Nes-
res”. Antes disso, “o discurso não era são o resultado do trabalho de grupos se sentido, os papéis se misturam e se
um produto, uma coisa, um bem; era de criadores, escritores, produtores, confundem, distanciando-se de suas
essencialmente um ato”. Por isso, a artistas, músicos, fotógrafos, todos au- caracterizações tradicionais e colocan-
autoria não é universal, nem está pre- tores de um filme, de textos eletrôni- do em discussão a reorganização des-
sente ou é necessária em todos os dis- cos, de conexões entre discursos. E ses temas. “A questão da autoria e da
cursos. “Houve um tempo em que tex- mais: nessas formas de expressão, subjetividade se apresenta de maneira
tos literários [...] eram recebidos, pos- nem a produção, nem a leitura dessas diferente em cada uma dessas esferas.
tos em circulação e valorizados sem obras ocorrem de maneira linear, um Esse aspecto multifuncional é um dos
que se pusesse a questão da autoria; aspecto que se evidencia mais clara- dados da especificidade do ciberespa-
o seu anonimato não levantava dificul- mente na produção cultural contempo- ço”(Beiguelman4).
dades”(p. 47-8). rânea.
A obra intelectual e artística na Internet
Menos para os textos científicos, que Enquanto na modernidade, o racionalis- não mais se apresenta exclusivamente
eram aceitos “na Idade Média como mo impõe formas de pensar duras, na como a produção íntegra e perene de
portadores do valor de verdade apenas tentativa da “redução do todo ao uno autores que se pode reconhecer, mas
na condição de serem assinalados com mediante a eliminação das singularida- também como obra coletiva, múltipla e,
o nome do autor”(Foucault2, p. 48-9). des” (Coelho6, p. 311), na sociedade freqüentemente, anônima, fragmentada,
Essa situação modificou-se nos sécu- contemporânea há uma aceitação da incompleta, mutante e, muitas vezes,
los XVII e XVIII, quando os discursos heterogeneidade e da relatividade cul- fugaz. Aqui “prevalece uma perspectiva
científicos passaram a ser reconheci- tural, com seus pluralismos, ambigüi- combinatória que, no limite, pode levar
dos se resultassem de verdades já es- dades, localismo, simultaneidade, infor- a uma certa letargia esquizofrênica e à
tabelecidas e sistematicamente de- malidade, subjetividade, suas verdades institucionalização da barbárie intelec-
monstradas, ou ainda, quando se inse- múltiplas. O racionalismo de Kant e o tual”, mas que também “pode estar
riam em sistemas teóricos e metodoló- absoluto de Hegel cedem, assim, lugar apontando para uma renovação cultural
gicos organizados. Hoje, o papel do a formas de pensar mais livres e à flexi- em que a criação artística, intelectual e
autor é preponderante nas obras literá- bilização dos enunciados, que afastam científica se insere em um outro jogo
rias, enquanto na ciência, o texto, mui- o ser humano da idéia de transcedên- de articulações”, o que “exigiria uma
tas vezes, já é produto do trabalho de cia e superioridade em relação à natu- reflexão sobre o resguardo do patrimô-

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Autoria e cultura na pós-modernidade

nio intelectual numa formação cultural “mundos impossíveis”. Também na rede Em geral, os princípios e padrões edi-
que pode prescindir da noção de auto- emalhada de Abraham Moles, há espa- toriais nesse campo têm sido mantidos
ria”(Beiguelman4). ços de criação artística, imagética, nas versões eletrônicas das revistas
científica e pessoal (Antonio9, p. 77-8). científicas. É esse o caso da SciELO –
Somam-se a isso outras características A imagem da rede é bastante esclare- Scientific Electronic Library Online
da produção intelectual gerada através cedora a respeito da natureza da Inter- (http://www.scielo.br), em que cada re-
de meios eletrônicos, como a informali- net, um sistema interativo de comuni- vista que integra essa coleção virtual
dade das relações ali estabelecidas e cação humana, tornando possível que a mantém sua política editorial e seu es-
experimentadas (diferentemente da ins- criação, a publicação, a distribuição e tilo individual, bem como os procedimen-
titucionalização estatal, por exemplo); o uso das produções culturais, científi- tos de avaliação dos artigos e de outras
a antinomia, especialmente, a contes- cas e artísticas ocorram de forma inte- matérias que publica. A repetição des-
tação de valores; a desobediência a re- grada, ao mesmo tempo, independen- ses aspectos tradicionais no formato
gras predeterminadas e a invenção de temente do espaço, e aproximando eletrônico dessas publicações é impor-
novos códigos de conduta e de comuni- autores, produtores e consumidores. tante no momento em que a publicação
cação (o indivíduo que é excluído pelo Os seus recursos favorecem a amplia- eletrônica se desenvolve, procurando
macrossistema ou pelos mais variados ção das possibilidades da própria pro- assegurar a sua confiabilidade ética e
sistemas de produção sente-se deso- dução. científica. Isso não significa, entretan-
brigado a cumprir qualquer compromis- to, que permanecerão os mesmos ou
so ou contrato social predefinido). A ten- Em outras palavras, essas são possibi- que não sofrerão transformações, visan-
dência é não haver mais modos hege- lidades de conversa (no sentido her- do a incorporar uma multiplicidade de
mônicos de pensamento, mas tensões, menêutico, forma de conhecimento), métodos, padrões, estilos de apresen-
conexões. O conjunto dessas manifes- meios de favorecer as capacidades do tação e expressão etc.
tações indica que o fenômeno da pro- cidadão para além da fruição, para além
dução cultural frente aos meios eletrô- do consumo, em direção a uma prática Assim como as noções de autor e leitor
nicos de comunicação não está assen- cultural, envolvendo também o fazer, o se aproximam, e suas funções se mo-
tado apenas em novas tecnologias, mas contato, o uso, o refletir, a experimenta- dificam, a noção tradicional de documen-
principalmente em um novo modo de ção compartilhada. As mudanças são mui- to também está em transformação.
pensar e viver, em uma nova sensibili- tas e profundas: mudanças de meios, de Com o meio eletrônico e o hipertexto, a
dade. métodos, de comportamento, de pen- distinção entre revista e artigo, por exem-
samento. Mudanças que geram trans- plo, torna-se menos perceptível. As re-
O fenômeno do hipertexto é especial- formações importantes no modo de vida des textuais permitem conectar textos
mente relevante aqui. Compreendido das pessoas, alguns aspectos sofren- ou partes de textos, de forma indepen-
como redes textuais sobre um tema, ou do total inversão de valores. dente, sem necessariamente ter de
ainda como redes de sistemas de tex- encontrar primeiro a revista ou o livro que
tos, o hipertexto é uma forma de expres- “Olhando para as modificações históri- os contêm. As implicações que advêm
são particular, “a organização de seg- cas ocorridas, não parece indispensá- dessa possibilidade são um desafio e
mentos de textos eletronicamente co- vel, longe disso, que a função autor per- uma oportunidade para transformações
nectados em uma rede, de tal forma que maneça constante na sua forma, na sua enriquecedoras no processo de comu-
o leitor possa ter liberdade de movimen- complexidade e mesmo na sua existên- nicação científica.
to”(Gaggi8, p. 103). Ou, em outras pa- cia. Podemos imaginar uma cultura em
lavras, possibilidades de escolha. Ao que os discursos circulassem e fossem Ao lado do fracionamento do papel do
determinar seu caminho, ao fazer suas recebidos sem que a função autor ja- autor e do enfraquecimento da autoria
escolhas, o leitor enfatiza o seu papel mais aparecesse”(Foucault2, p. 70). individual, na pós-modernidade emerge
de sujeito, papel que pertencia sobretu- também a fragmentação das leituras e
do ao autor. 3. A produção científica também pode es- das vivências, em contraposição à li-
tar sujeita a essas mudanças, embora nearidade dominante na modernidade.
A imagem simbólica da rede expressa, seja um pouco mais complexo perce- O hipertexto e também a literatura
talvez de forma utópica, a multiplicida- bê-las. Tradicionalmente, a publicação contemporânea, por exemplo, constituem o
de e a diversidade de produções, de lei- de literatura científica obedece a regras que Italo Calvino10 chamou de romance
turas e de escolhas possíveis para o ser de conduta ética, a padrões de qualida- enciclopédia, em que a “rede de cone-
humano. Para Umberto Eco, a rede é de, a métodos científicos de pesquisa e xões entre os fatos, entre as pessoas,
“todo ponto que pode ser conectado com a procedimentos editoriais reconhecidos entre as coisas do mundo”expressa “a
todos os outros pontos e onde as cone- no meio, por exemplo, os padrões inter- presença simultânea dos elementos mais
xões ainda não estão definidas [...]. nacionais para a publicação de revistas heterogêneos que concorrem para a de-
Uma rede é um território ilimitado”. Na e a avaliação dos pares (peer review). terminação de cada evento”(p. 121).
expressão de Foucault, “além da sua A aplicação de todos esses instrumen-
configuração interna e sua forma autô- tos objetiva qualificar e validar o discur- Na cultura contemporânea, assim, o que
noma”, o texto pode ser capturado em so científico, de forma que ele possa ser antes era um centro claramente defini-
um sistema de referências com outros aceito e reconhecido como confiável por do, um núcleo a partir do qual resultava
textos dentro de uma rede, na qual exis- sua comunidade. toda a produção cultural considerada
te um número infinito de espaços e relevante e no qual essa produção

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Autoria e cultura na pós-modernidade

podia ser percebida como unívoca, co- Penso que a sensibilidade pós-moder- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
meça a se dividir, a se tornar difuso. O na é uma forma de ver, de viver e de co-
1. COELHO, Teixeira. Moderno, pós-moderno:
centro parece dar lugar aos nós de uma nhecer o mundo que coloca em cons- modos & versões. 3. ed. rev. aum. São
rede. Nos dias atuais, entretanto, o úni- tante confronto valores culturais e so- Paulo: Iluminuras, [1995]. 227 p.
co princípio “que pode ser defendido em ciais diferentes, ao estabelecer relações
todas as circunstâncias e em todos os entre concepções distintas e até mes- 2. FOUCAULT, Michel. O que é um autor? 2. ed.
estágios do desenvolvimento humano é: mo contraditórias. Isso não quer dizer [Portugal]: Vega, Passagens, [199-]. 160
p.
tudo vale”(Feyerabend11, p. 34). que a diversidade e a relativização da
cultura e das formas de expressão pro- 3. CHAUÍ, Marilena. Cultura e democracia. 4.
A idéia é interessante e desafiadora. põem a rejeição absoluta dos valores ed. São Paulo: Cortez, 1989.
Não impõe, não restringe, mas abre modernos. Em vez disso, parece-me que
possibilidades para a experiência do a forma de relacionar a diferença está 4. BEIGUELMAN, Giselle. Autoria é fenômeno
conhecimento. Nem todos os valores histórico. Itaú Cultural Revista [on-line], 18
em pensá-la junto com o seu duplo, seu
dez. 1997. Disponível em WWW: [http://
são os mesmos para todos, ou as sen- contrário, seu avesso. Assim, a diferen- www.ici.org.br/revista/index.html].
sibilidades, idênticas. “Ninguém deixa ça e o modo de relacionar valores dife-
de ser autor, ou perde a proteção da lei, rentes podem desenvolver uma nova 5. BANNITZ, Luiz Carlos. Não se perde a prote-
a cada nova forma de comunicação sensibilidade humana (ou gosto, como ção legal a cada nova mídia que surge.
Itaú Cultural Revista [on-line], 18 dez. 1997.
criada ou mídia explorada”(Bannitz5). denominada na modernidade), entendi- Disponível em WWW: [http://
Por outro lado, formas de expressão dis- da como a faculdade de experimentar, www.ici.org.br/revista/index.html].
tintas requerem uma abordagem e so- na forma proposta por Montesquieu
luções igualmente diferenciadas. A di- (Coelho6, p. 340), da qual emergem o 6. COELHO, Teixeira. Dicionário crítico de po-
versidade (de meios, formas de expres- sujeito ético e as escolhas. É assim que lítica cultural: cultura e imaginário. São
Paulo: Iluminuras, 1997. 383 p.
são, culturas) pode ser um caminho para o cidadão pode definir as suas conexões
o caos e a desorganização, entretanto, e escolher o seu mundo impossível. 7. MAFFESOLI, Michel. No fundo das aparên-
“sem caos, não há conhecimento. Sem cias. Petrópolis: Vozes, 1996. 350 p.
freqüente renúncia à razão, não há pro- Por isso, no mundo contemporâneo,
gresso. [...] Não há uma só regra que mais que em outro tempo, a cultura é 8. GAGGI, Silvio. From text to hypertext :
seja válida em todas as circunstâncias, importante politicamente na medida em decentering the subject in fiction, film, the
visual arts, and electronic media.
nem uma instância a que se possa ape- que possibilita um repertório de opções Philadelphia: University of Pennsylvania
lar em todas as situações”(Feyerabend, para o sujeito ético. A cultura contem- Press, 1997. 169 p.
p. 279). porânea (pós-moderna) parte de uma
diversidade de valores e oferece ao indi- 9. ANTONIO, Irati. Informação e música no Bra-
sil: memória, história e poder. São Paulo,
víduo, em conseqüência, várias esco-
1994. 285 p. Dissertação (Mestrado em
lhas. Sem escolha, não pode haver li- Ciências da Comunicação) – Escola de
berdade. Comunicações e Artes, Universidade de
São Paulo.

10. CALVINO, Italo. Seis propostas para o pró-


ximo milênio: lições americanas. São Paulo:
Companhia das Letras, 1997. 141 p.

11. FEYERABEND, Paul. Contra o método: es-


boço de uma teoria anárquica da teoria do
conhecimento. 3. ed. Rio de Janeiro: Fran-
cisco Alves, 1989. 487 p.

Authorship and postmodern culture

Abstract

The article discusses the conception of


authorship, including its formation and Irati Antonio
functions both in the modern and
postmodern cultures. Consultora, SciELO – Scientific Electronic
Library On-line.
Keywords
irati@bireme.br
Authorship; Copyright; Postmodern culture.

192 Ci. Inf., Brasília, v. 27, n. 2, p. 189-192, maio/ago. 1998

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