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EXMO. SR. DR.

JUIZ DE DIREITO DO JUIZADO ESPECIAL CÍVEL DE


NOVA FRIBURGO – RJ

Processo: 0006113-24.2018.8.19.0037

SELMA DA CONCEIÇÃO MACHADO, brasileira,


solteira, professora, residente e domiciliada na Estrada Friburgo Teresópolis, Km
06, Córrego Dantas, Nova Friburgo, RJ, por meio de sua advogada constituída, na
presente AÇÃO DE OBRIGAÇÃO DE FAZER C/C REPETIÇÃO DE
INDÉBITO, NEGATIVA DE DÉBITO E DANOS MORAIS COM PEDIDO
LIMINAR DE ANTECIPAÇÃO DE TUTELA, em face de BANCO DO
BRASIL S/A, vem interpor o presente RECURSO INOMINADO, em face da
douta Sentença de 1º grau que julgou improcedente a presente Ação, com as
razões anexas, Requerendo que as mesmas sejam remetidas à TURMA
RECURSAL.
Requer, para tanto, o deferimento da gratuidade de justiça
nos termos da Lei nº 1.060/50, afirmando, sob as penas da lei, não possuir
condições financeiras para arcar com as custas processuais, sem prejuízo do
sustento próprio e de sua família, conforme Declaração de Hipossuficiência
anexa.
Requer, ainda, V. Exa. receba e determine seu
prosseguimento, remetendo-o oportunamente, para apreciação da referida Turma,
tudo segundo a exposição das cotrarrazões que seguem anexas.

Aguardo Deferimento.
Nova Friburgo, 01 de fevereiro de 2019
Janice Rocha do Couto
OAB/RJ 93.318

RAZÕES DO RECURSO
EGRÉGIA TURMA RECURSAL

A Respeitável Sentença merece ser reformada pelos fatos que


abaixo seguem.
A recorrente possui um cartão de crédito da instituição financeira,
ora ré, com vencimento sempre no dia 05 de cada mês. Entretanto, a fatura de
dezembro de 2017 foi paga com atraso, em 27/12/2017 (doc. anexo). Devido à
doença de sua irmã, a recorrente foi para a cidade de Nova Iguaçú, onde esta
última morava, em 06/12/2017, para fazer acompanhamento no hospital e ajudar a
cuidar da mãe, que já é bastante idosa e debilitada. Ela permaneceu na cidade até
o início de janeiro de 2018. Mas infelizmente sua irmã veio a óbito em
23/12/2017.
Com esta situação de aflição e sofrimento, a recorrente esqueceu
completamente de pagar a fatura do cartão. Mas pagou-a em 27/12/2017 (doc.
anexo). Ela efetuou um pagamento no valor de R$ 600,00, restando R$ 296,86
para entrar no rotativo do cartão (demonstrado na fatura de janeiro de 2018 em
anexo).
A fatura de janeiro chegou no valor de R$ 1.403,11.
Na fatura de fevereiro de 2018 há um pagamento efetuado no valor
de R$ 1.903,11, QUITANDO TODOS OS DÉBITOS. Mas mesmo assim foi
feito um parcelamento sem a ciência da autora. O PRIMEIRO
PARCELAMENTO.
A fatura de março no valor de R$ 494,22 fora paga na sua
totalidade em 12/03/2018.
A fatura de abril veio no valor de R$ 779,61. Esta, a recorrente
pagou com atraso em 24/04/2018, no valor de R$ 500,00, ficando um saldo
devedor de R$ 279,61, para entrar no rotativo.
EM MAIO/ 2018 A FATURA DO SEU CARTÃO CHEGA
COM UM VALOR DE R$ 1.413,48, PORQUE O BANCO ENTENDEU QUE
A FATURA DE ABRIL NÃO HAVIA SIDO PAGA E JUNTOU COM A DE
MAIO. MAS COMO JÁ HAVIA SIDO FEITO UM PAGAMENTO DE R$
500,00, O BANCO A INFORMOU QUE ELA DEVIA UM TOTAL DE R$
913,48. ENTÃO A AUTORA EFETUOU O PAGAMENTO TOTAL DESTE
VALOR (DOC ANEXO NA FATURA DE 06/2018).
A INSTITUIÇÃO FINANCEIRA RÉ A INFORMOU QUE
ELA TINHA UM CRÉDITO DE R$ 400,00 PARA A FATURA DE JUNHO
DE 2018.
Não conseguindo entender o que estava acontecendo, a recorrente
ligou para o SAC do Banco do Brasil, e informou que havia 2 meses que não
recebia a sua fatura do cartão, e por isso ela não sabia o que estava sendo cobrado.
Informou que pagou com atraso a fatura de abril no valor de R$ 500,00. NO MÊS
SEGUINTE A FATURA VEIO O VALOR DE R$ 1.413,48, PORQUE
JUNTOU COM A DE ABRIL QUE O BANCO CONSIDEROU “NÃO
PAGA”.
Após isto, a recorrente dirigiu-se ao banco e foi informada que
haviam sido descontados estes R$ 500,00 e que só devia R$ 913,48.
QUANDO A AUTORA RETORNOU NOVAMENTE AO
BANCO PARA EFETUAR O PAGAMENTO DESTE VALOR, FOI
INFORMADA QUE TINHA, NA VERDADE, EM VEZ DE DÉBITO, UM
CRÉDITO NO VALOR DE R$ 400,00 (FATURA DE JULHO DE 2018 EM
ANEXO).
Então a recorrente ligou para o SAC do banco e ficou sabendo que
o banco havia contratado, SEM A SUA REQUISIÇÃO, OU MESMO
ANUÊNCIA OU CONSENTIMENTO, um FINANCIAMENTO DE CARTÃO.
Eles realizaram “às escuras”, um parcelamento de fatura em 24
vezes de R$ 92,88. Na verdade, ESTE SERIA UM SEGUNDO
PARCELAMENTO. Já que um anterior havia sido feito, TAMBÉM SEM A
SUA CIÊNCIA OU CONSENTIMENTO EM 24 VEZES DE R$ 83,81, da fatura
de janeiro de 2018. Esta, a recorrente já estava pagando e não sabia. Foi alertada
pela sua advogada ao analisar seus documentos, que havia mais este
parcelamento. A recorrente pensava que estava pagando uma compra feita a
prazo, em 3 parcelas de R$ 83,33 de “Fernada Bair”, chegando a se confundir na
conversa gravada com o atendente, quando este a perguntou sobre as parcelas de
“oitenta e poucos reais”.
Segundo o atendente, a recorrente poderia antecipar o pagamento
das parcelas.
O recorrido apresentou contestação na qual arguiu preliminar de
inépcia da inicial. No mérito, invocou as teses de inexistência de defeito e de
culpa exclusiva do consumidor como excludentes de responsabilidade. Esclareceu
que o parcelamento decorreu do inadimplemento, nos termos da Resolução do
BACEN 4549/2017. Informou que atuou em exercício regular de um direito.
O atendente do banco recorrido, em síntese lhe falou que no 5º dia
útil após o vencimento da fatura, segundo as novas regas do rotativo - que a
autora desconhece absolutamente - o sistema do banco verifica se houve a
contratação de algum parcelamento por parte do cliente. E quando não há
nenhum parcelamento por parte do cliente, mas este pagou um valor maior que o
mínimo ou menor ou igual ao equivalente à primeira parcela de um financiamento
(que vem descrito na boleta), o sistema faz um parcelamento automático.
Se o cliente pagar depois deste 5º dia útil, ele deverá ir ao banco e
pedir a antecipação destas parcelas com o abate dos juros e fazer o pagamento
total, mas não abate os das parcelas já pagas.
Entretanto, nas novas regras do Banco Central não há
qualquer referência ao prazo de 05 (cinco) dias. O artigo 1º da referida
Resolução, prevê o parcelamento em caso de não pagamento do valor integral do
saldo até o vencimento da fatura do próximo mês.
Senão, vejamos:
“Art. 1º O saldo devedor da fatura de cartão de crédito e de demais
instrumentos de pagamento pós-pagos, quando não liquidado integralmente no
vencimento, somente pode ser objeto de financiamento na modalidade de crédito
rotativo até o vencimento da fatura subsequente..” (grifo nosso).
A resolução 4.549 do Banco Central estabelece que os bancos
devem oferecer condições “mais vantajosas” (com juros menores) de
parcelamento da dívida que permanecer no crédito rotativo por 30 dias.
Entretanto, o texto não determina que o banco faça
automaticamente o financiamento dos valores não quitados no prazo de um mês.
Não houve o vencimento de fatura subsequente. Ademais, o banco
parcelou não só uma, mas duas vezes o cartão de crédito da recorrente,
gerando uma dívida monstruosa e imoral, não apenas ilegal pois sendo mesmo
vedado, conforme preceitua o artigo 2º, § 2º da resolução 4.549/17 do Banco
Central.
O projeto de sentença da Sra. Juíza Leiga, homologado pela Douta
Juíza Togada, deve ser totalmente reformado por esta Turma Recursal por tudo
que abaixo segue em justificativa a esta reforma.
A respeitável sentença foi inobservante quanto ao direito basilar do
consumidor, qual seja, o direito à informação. Também fere o Princípio da livre
contratação.
O banco recorrido descumpre todas as regas impostas pelo Banco
Central. Ele cria sua própria lei quando interpreta de uma maneira absolutamente
injusta e equivocada a Resolução 4.549 do Banco Central.
Também a Juíza Leiga do Juizado Especial da Comarca a quo, faz
uma interpretação totalmente equivocada das regras estabelecidas pelo Banco
Central.
E a consequência dessa sequência de interpretações errôneas, é o
prejuízo do consumidor, que desde há, muito tempo vem sendo a parte
hipossuficiente da relação de consumo e, como tal, vem sendo diuturnamente,
massacrada por instituições financeiras que apenas se preocupam com a sua
lucratividade exorbitante.
O Poder Judiciário, respeitado ainda neste país de desigualdades,
não pode, de forma alguma, ser conivente com esta situação lamentável de
desrespeito aos direitos básicos do consumidor e ao Princípio da dignidade
humana que, a cada violação de qualquer outro direito, também é violado e
ignorado.
Estas imagens foram copiadas do Site do Banco do Brasil, ora
recorrido. Elas demonstram que o Banco não segue as regras do Banco Central.
As novas regras do Banco Central não recomendam o parcelamento desta forma.
A resolução 4.549 do Banco Central estabelece que os bancos
devem oferecer condições “mais vantajosas” (com juros menores) de
parcelamento da dívida que permanecer no crédito rotativo por 30 dias.
Entretanto, o texto não determina que o banco faça
automaticamente o financiamento dos valores não quitados no prazo de um mês.
Tornaram-se frequentes reclamações feitas sobre a nova regra do
rotativo em locais como o site Reclame Aqui. como por exemplo: “Faltando
quatro dias para vencer a fatura, a Riachuelo [a Midway Financeira administra o
cartão da loja], na data de 21/04, fez o parcelamento automático do restante da
fatura no valor de R$ 1.108,27 em 10x de R$ 192,73 sem nenhuma autorização da
minha parte e sem prévia comunicação”, escreveu Marina Cataneo no site.
Outra consumidora: “Recebi minha última fatura do Bradescard e
fiz um pagamento por esta, deixando o saldo restante para pagamento na próxima
fatura. Porém, nesta fatura aberta consta que contratei o parcelamento de faturas
em cinco vezes, o que eu não solicitei. Também bloquearam o cartão, mesmo
tendo saldo suficiente para compras até próxima fatura”.
A coordenadora do Procon-SP, Renata Reis, afirma que muitos
clientes de cartão de crédito têm procurado o órgão para tirar dúvidas,
especialmente sobre parcelamento automático. Segundo a coordenadora, esse
parcelamento automático vai contra um direito básico do consumidor que é a
liberdade de contratação. Ela acrescenta que as empresas de cartão de crédito
justificam que o parcelamento é feito quando o cliente não opta por alguma
modalidade de pagamento descrita na fatura.
Mas não foi o que ocorreu com a consumidora ora recorrente.

Nesta fatura a recorrente págou 91,63 de encargos do rotativo, mais


17,72 de multa e 9,26 de juros de mora. então todos os encargos foram cobrados,
e mesmo assim o BB fez o parcelamento compulsório, esta fatura foi paga em
17/01, portanto, antes do vencimento da fatura subsequente. de acordo com a
portaria do BC, não haveria ainda como incidir a regra do parcelamento
automático ou compulsório. o parcelamento de R$ 791,72 em 24 x 83,81, dá um
total de 2.011,44. de acordo com as norma do BC, isto não é, nem de longe, mais
vantajoso para o consumidor. a vantagem apenas abraça/abarca a instituição
financeira.
A resdolução diz que remanescente PODE ser parcelado, e não
DEVE ser parcelado. In verbis:
“Parágrafo único. O financiamento do saldo devedor por meio de
outras modalidades de crédito em condições mais vantajosas para o cliente,
inclusive no que diz respeito à cobrança de encargos financeiros, pode ser
concedido, a qualquer tempo, antes do vencimento da fatura subsequente.
Art. 2º Após decorrido o prazo previsto no caput do art. 1º, o saldo
remanescente do crédito rotativo pode ser financiado mediante linha de crédito
para pagamento parcelado, desde que em condições mais vantajosas para o cliente
em relação àquelas praticadas na modalidade de crédito rotativo, inclusive no que
diz respeito à cobrança de encargos financeiros.”
A soma dos parcelamentos em muito onera o consumidor, que já
havia pago os encargos financeiros do rotativo.
Além disso houve um novo financiamento, violando outra
determinação da Portaria do BB.
No art. 5º, da Resolução consta que o Banco Central do Brasil
monitorará a implementação do disposto nesta Resolução, podendo propor ao
Conselho Monetário Nacional, caso julgue necessário, o adequado tratamento
normativo de situações excepcionais, observando-se, em qualquer caso, a diretriz
de oferecimento de condições mais vantajosas para o cliente, inclusive no que diz
respeito à cobrança de encargos financeiros.
Em momento algum a RESOLUÇÃO Nº 4.549, DE 26 DE
JANEIRO DE 2017 diz que o parcelamento deve ser imposto sem a anuência do
consumidor. Esta regra foi criada para beneficiar o consumidor já tão onerado por
encargos financeiros que sequer conseguem entender. Entretanto, como em várias
outras práticas abusivas daqueles que detêm o poder econômico sobre os mais
fracos, as instituições financeiras, no caso o Banco do Brasil, se utiliza das normas
legais para ainda mais, sugar/usurpar/explorar.
No caso em tela, a “aplicação” da resolução em nada beneficiou a
recorrente. A recorrente pagou a fatura de abril em 24/04 500,00 e já havia o
segundo parcelamento automático: 896,11 em 24 x de 92,88 total de..........., sendo
que novamente o recorrente já havia pago os encargos da fatura e não foi
consultado sobre o novo parcelamento.
Além do mais, a resolução diz que os limites do crédito devem
ficar afetados pelo parcelamento. logo, o consumidor seria impedido pela falta de
limite, de realizar novas compras. isto também o BB ignorou.
O rotativo é usado quando o titular do cartão não paga a fatura
integral. O saldo restante, entre o mínimo e o total, é jogado para o mês seguinte.
Caso não seja pago na próxima fatura, deverá ser parcelado, mas não
automaticamente, segundo Renata, coordenadora do Procon-SP.
No começo de abril, o R7 mostrou que, dependendo do número de
meses, o parcelamento poderá se tornar um peso para muitos consumidores. O
Banco do Brasil, por exemplo, parcela em 24 meses.
1 - o primeiro parcelamento do valor de R$ 791,72 em 24 vezes
de R$ 83,81, soma um total de R$ 2.011,44, ou seja, R$ 1.219,72 a mais do que
os gastos reais da autora.
2 - o segundo parcelamento do valor de R$ 896,11 em 24 vezes
de R$ 92,88, perfazendo um total e R$ 2.229,12, sendo R$1.333,01 a mais.
Este parcelamento está longe de ser mais vantajoso para o
consumidor. Cálculo feito pela Anefac (Associação Nacional dos Executivos de
Finanças, Administração e Contabilidade) mostra que uma dívida de R$ 1.000
parcelada em 24 vezes de R$ 94,98 (com juros de 8% ao mês — a média do
mercado hoje) chegaria ao fim desse período em R$ 2.279,52.
Em nota, o Procon de São Paulo afirma considerar as regras
complexas. Reforça que “impor o parcelamento é prática considerada abusiva, por
ferir o direito básico do consumidor de liberdade nas contratações”.

Esta informação se encontra no verso das faturas dos cartões, sem


nenhum destaque para chamar a atenção do cliente. E as novas regras não são
claras para aquele que não é “expert” no assunto.
Na Resolução nº 4.549, a previsão da linha de crédito de que trata o
caput pode constar no próprio contrato de cartão de crédito e de demais
instrumentos de pagamento pós-pagos.
Esta informação está no site do Banco do Brasil. É fácil concluir que, na
prática, eles não seguem as próprias orientações e “enganam” os clientes de forma
descarada e absurda.
Não sendo desta forma, todo consumidor, que é parte vulnerável
da relação consumerista, será lesado em seus direitos sem a possibilidade de
defesa. Conforme anota-se o Principio da Vulnerabilidade, assim ensina o jurista
Fábio Konder Comparatto:
“(...) o consumidor, certamente, é aquele que não dispõe de controle
sobre os bens de produção e, por conseguinte, consumidor é, de modo geral, aquele que
se submete ao poder de controle dos titulares de bens de produção, isto é, os
empresários.”

A Doutrina é clara como luz solar em relação ao respectivo direito


supracitado. O direito à informação, previsto no inciso III, do art. 6º, obriga o
fornecedor a explicar, de forma clara e pormenorizada, ao consumidor a
quantidade, as características, a composição e a qualidade dos produtos ou
serviços, bem como os tributos incidentes e o respectivo preço. Além disso, deve
expor sobre os riscos que o produto ou serviço apresentem.
A respeito do direito de informação do consumidor, já se
pronunciou a jurisprudência do STJ, orientando no sentido de que o Código
do Consumidor é norteado principalmente pelo reconhecimento da
vulnerabilidade do consumidor e pela necessidade de que o Estado atue no
mercado para minimizar essa hipossuficiência, garantindo, assim, a
igualdade material entre as partes. Sendo assim, estabelece serem direitos
básicos do consumidor o de ter a informação adequada e clara sobre os
diferentes produtos e serviços (CDC, art. 6º, III) e o de receber proteção
contra a publicidade enganosa ou abusiva (CDC, art. 6º, IV).
Derivação próxima ou direta dos princípios da transparência, da
confiança e da boa-fé objetiva, e, remota dos princípios da solidariedade e da
vulnerabilidade do consumidor, bem como do princípio da concorrência leal, o
dever de informação adequada incide nas fases pré-contratual, contratual e pós-
contratual, e vincula tanto o fornecedor privado como o fornecedor público.

Em consonância e por consequência do que fora citado acima, a


empresa recorrida praticou o ilícito configurado como prática abusiva. O que,
segundo a doutrina dominante pode ocorrer em três momentos: Antes da
celebração do contrato; durante o contrato; e por fim após o término do contrato.
Mas, qualquer que seja o momento de sua manifestação, o abuso
estará relacionado com a situação de inferioridade técnica, econômica,
jurídica/científica ou informacional do consumidor.

Por todo o exposto, a R. Sentença deverá ser eformada in


totum, porque, em suma, ocorreu que a douta sentença julgou improcedentes os
pedidos alegando não haver provas de que a recorrida cometeu as
irregularidades descritas na inicial.
Evocou ainda a resolução do BACEN nº 4549/2017 para justificar
tal decisão.
Absurdo tal sentença.
Senão vejamos, os fatos alegados na inicial constituem ofensa ao
consumidor em se tratando da LIBERDADE DE CONTRATAR.
Um parcelamento automático, sem consulta ao consumidor
constitui prática abusiva, pois há ainda a possibilidade de o consumidor escolher
levar a dívida para outra instituição financeira.
No entanto, tal prerrogativa consumerista não foi sequer
analisada, pela digníssima Juíza leiga, estando a mesma afeita apenas a análise
do débito em si.
OUTRO FATO NÃO ANALISADO PELO PROJETO DE
SENTENÇA HOMOLOGADO:
Houve parcelamento de dívida já parcelada, o que é
expressamente VEDADA segundo a própria resolução referida. Assim vejamos
o artigo 2º, parágrafo 2º:
“Art. 2º Após decorrido o prazo previsto no caput do art. 1º, o saldo
remanescente do crédito rotativo pode ser financiado mediante linha de crédito
para pagamento parcelado, desde que em condições mais vantajosas para o cliente
em relação àquelas praticadas na modalidade de crédito rotativo, inclusive no que
diz respeito à cobrança de encargos financeiros
§ 2º É vedado o financiamento do saldo devedor da fatura de cartão
de crédito e de demais instrumentos de pagamento pós-pagos na modalidade de
crédito rotativo de valores já parcelados na forma descrita no caput.” (grifo nosso)

É de se ressaltar que a douta Juíza, ao homologa tal Projeto de


sentença, considerou o parcelamento legal e FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR.
(????)
Nenhum parcelamento será favorável ao consumidor quando NÃO
HOUVER COMUNICAÇÃO PRETÉRITA. O BANCO JAMAIS PODE
DEFINIR O QUE É MAIS FAVORÁVEL AO CONSUMIDOR
UNILATERALMENTE.
Portanto, assiste razão à recorrente em seu pleito, tanto requerendo
a anulação dos parcelamentos, quanto ao requerer a repetição de indébito e os
danos morais, tendo em vista a falha na prestação do serviço ser incontroversa.
O fornecedor do serviço só não será responsabilizado quando
provar fato extintivo, modificativo ou impeditivo do direito do autor, a teor do art.
373, II, do CPC, ou, de acordo com o § 3º do art. 14 do CDC, demonstrar a
inexistência do defeito ou culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, o que, no
caso, não ocorreu, restando patente o dever de indenizar.
O dano moral é in re ipsa, não podendo ser minimizado pela
definição de mero aborrecimento, como salienta o eminente civilista SERGIO
CAVALIERI FILHO em sua obra Programa de Responsabilidade Civil, 8ª edição,
na página 86, ao ensinar que o dano moral se configura pela "... dor, vexame,
sofrimento ou humilhação que, fugindo à normalidade, interfira intensamente no
comportamento psicológico do indivíduo, causando-lhe aflições, angústias e
desequilíbrio em seu bem-estar".
Se por um lado nos deparamos com os deveres principais da
relação de consumo, como os deveres do consumidor de pagar o prestador de um
serviço e o do fornecedor de prestá-lo, existem também os deveres anexos,
laterais ou secundários, relacionados basicamente aos deveres: de informação.
É importante frisar que não compete ao consumidor o dever de
fiscalizar os atos praticados pelos funcionários das agências em que pagam suas
faturas. À própria instituição cabe a responsabilidade exclusiva pela execução
eficiente e correta das tarefas que compõem a atividade bancária.
A apreciação do caso demonstra cabalmente, que ocorreram vários
ilícitos consumeristas, pois não houve transparência nem respeito aos direitos
básicos do consumidor.
Por todo exposto requer a recorrente que a R. Sentença de 1º grau
seja reformada na sua totalidade, para que seja configurado o dano moral derivado
da má prestação de serviço ao consumidor pelo engodo sofrido diante da má fé
contratual.
E, como requerido na Petição inicial, que a Reforma da sentença
conceda o cancelamento dos parcelamentos do cartão de crédito, oficiando a
empresa ré a fazê-lo em 48 horas sob pena de multa diária.
Requer a devolução das parcelas pagas, em dobro, como repetição
de indébito na forma legal, dos valores já quitados, mais os vincendos até o
momento do efetivo pagamento.
Requer, por fim, na reforma, que julgado procedente “in totum” o
seu pedido, para ser declarada inexistente a dívida cobrada indevidamente da
recorrente através dos parcelamentos, a repetição dos valores pagos
indevidamente e danos morais nos valores anteriormente requeridos em R$
20.000,00 (vinte mil reais).
Aguarda deferimento.

Nova Friburgo, 06 de fevereiro de 2019.

Janice Rocha do Couto


OAB/RJ 93.318

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