You are on page 1of 14
ABSTRACT: The aestheies, as philosophy ofthe ‘emotions that we received, should leave place, t0 is “se, forthe pola, a8 science and as pilosopty of the creative conduct. losophy of the reponsabila- de, the polétia isan ethics ofthe creation. KEY WORDS: Aesthetic fealngs. centve conduits, work todo, responsibilty. RESUMO: A estética, como flosoia das emortes ‘que nés recebemos, deve delar lugar, a seu Indo, [para a poiéca, como ciéncla e como Alosofia a ‘conduta ericora. Filosofia da reponsabildlade, 2 pokética uma éica da eriagao. PALAVRAS-CHAVE: Sentimentos eséics, con- utes ciadoras, obra a fazer, esponsabldade. 104 El _kené Passeron Ao € 56 para agradecer ao Prof. Ales Erjavec por ter concedido um es- aco a poiética em um Congresso de Estética que ele tio bem organizou, que vou abrir minha intervengao por um elogio da estética, mas para melhor destacar, em ultima anilise, a oposicéo entre a estética € a poiética. E esse elo- gio da estética nao precisaré demorar- se na definiggo de uma especialidade clentifica e filoséfica t&0 freqilente- mente definida em sua diversidade, do Abbé du Bos a Baumgarten e Kant, de Hegel a Croce e Monroe Beardsley, de Marx a Lucaks e Adorno, de Robert Wischer a Victor Basch, de Taine a Charles Lalo, de Platao a Jouffroy, para chegar em Thomas Munro, Arthur Danto, George Dickie, Mikel Dufrenne, Etienne Souriau e seus alunos, mais tantos apreciadores de arte, tantos cri cos apalxonados por teorlas, tantos amadores de beleza, inclusive os este- tas de profissdo e os cirurgides ditos estéticos. Souriau considerava ao que a estética se ocupa especificamente das formas e que ela €, a0 mesmo tempo, uma “Arvore” de galhos frondosos. So- bre este titimo ponto, como nao Ihe dar razéo? Todas as definigoes da estética, das mais amplas, aquelas que fazem dela mais do que uma “filosofia da arte”, uma filosofia geral e uma metafi- sica dos afetos, em todos os dominios do sensivel, as mais estritas como aquelas que a limitam a sociologia do gosto, até mesmo a psicofisiologia ex- perimental dos érgaos dos senticos, todas essas me convém, uma vez que tém como centro de interesse a cncénars (isthesis) O que € a cioénorc , na verda- de, senao uma sensacao que se contém nos prazeres da ndovn (hedone), mas dialeticamente suscita 0 pensamento, enriquece a psiqué da a cada um sua vido do mundo. Nao ha af uma exten- so considerdvel? E eu sublinho que toda colsa, natural ou cultural, artistica ‘ou centifica, corporal ou espiritual, pode desencadear em n6s sensacdes ‘emocionais, dignas de se integrarem a uma meditagao estética. Contra os re- dutores que limitariam a estética a co- mentérios sobre arte, Lalo por exemplo, considerando “inestética” toca emo¢4o vinda da natureza, eu acho que a natu- reza as vezes € tdo bela que desespera ista, a ponto de que um pouco de sensibilidade a luz do real arrebataria de vocé toda pretensao paisagistica, fosse esta apoiad. no génio de um Turner ou de um Claude Monet. Contra os teéri cos que reduzem a estética a uma ela- boragao filoséfica da “racionalidade da arte”- esta racionalidade, a dar-lhes ou- vidos, nao tendo mais razio do que a arte, ndo tem unidade possivel - enten- oar Porto Arte, Porto Alegre, v.8, n.15, p.103-116, nov. 1997. do que a estética viva despreza a sujei ‘so que suas categorias conceituais com- puseram com tanta sutileza, devendo toda categoria, na minha opiniao, softer os ultrajes da ambigiidade. Reger a arte por uma ordem filos6fica é ainda mals duvidoso do que reger a ciéncia, a ‘economia ou a moral. Guardemos para a estética sua preciosa meditagdo sobre © qualitative para que ela elucide as grandes estruturas do sentir: a ad ‘40, 0 6dio, 0 amor, a esperanga, luto, sentimentos todos que dao um sentido a vida e tantas vezes condicionam a conduta criaclora, objeto tépico da poié- tica... Contra os formalistas (ainda que se defendam de sé-lo, como Souriau), contesto que se possa reconduzir a es- tética, a fim de que seja superada a oposigao entre arte © natureza, a uma ciéncia filosofica das formas. Primeiro, porque intimeras riquezas informais s40 alimentos da sensibilidade estética; se- gundo, porque forma e contetido nem sempre sdo distinguivels e por fim, porque grande nGmero de formas nada tém a ver com a estética. O formal e as formalidades juridicas, mateméticas, 16- gicas, logisticas, morals, éticas e deon- tolégicas tém sua especificidade irre- dutivel. Porque, se eu aceito perfeita- mente que a afetividade se infiltra por toda parte a ponto de se poder até falar do primado da afetividade em uma filo- sofia dos a priori, recuso que se con- fundam as formas que por si mesmas so comoventes e expressivas com as Dacstéticaapoietica Mi) 105 formalidades administrativas ou fis- cals, que no aceito possam suscitar uma visio do mundo. A menos, claro, que repercutam na vida quotidiana para Ihe trazer tragos derrisérios ou cémicos, ou tragicos, como em Kaf- ka... Contra Etienne Souriau, que cha- ma estético 0 estudo das atividades instauradoras, com Mikel Dufrenne, para quem “O Objeto da estética € primeiro a irresistivel e magnifica presenga do sensivel."', com Bachelard que ultra- passa a reflexao estética na direg4o de uma meditagdo sobre a imaginacao material, com André Breton para quem “A beleza convulsiva sera erético- velada, explosivo-fixa, magico-circuns- tancial, ou no ser4,"? e sustenta que “s6 0 maravilhoso € belo”, eu posso proclamar que a estética tem por ob- jeto de consciéncia e de reflexao todo © universo que chega a nés pelos sentidos, os sentimentos, a lingua- gem afetiva, em suma, a totalidade do mundo recebido pelo Dasein, nos trés niveis de sua situacdo: pes-soal, histérico e fundamental. E aqueles que desconfiam da estética, os surrealistas especialmente, ter’o essa consciéncia do mundo para fazer dela, nas fantasias do amor (Breton) e no tragico da crueldade (Artaud), 0 “modelo interior” em que sua con- duta criadora, menos automatica do que se diz, sera diretamente enraiza- da. interiorizado Porto Arte, Porto Alegre, v.8, n.15, p.103-116, nov. 1997

You might also like