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MODELO RELATÓRIO FINAL -

RELATÓRIO

Inquérito Policial nº.:

Infração Penal........: FURTO ( ART. 155 DO CP )


Autor...........: XXXXXXXXXXXXXXXXXXXX

Vítima................: XXXXXXXXXXXXXXXXX

Ínclito Magistrado,

A POLÍCIA CIVIL DO ESTADO DE GOIÁS, representada neste ato pelo Delegado


de Polícia subscritor, que no uso de suas atribuições legais e regulamentares conferidas
pelo artigo 144, §4º, da Constituição Federal, artigo 4º e seguintes do Código de
Processo Penal Brasileiro e demais dispositivos legais correlatos, respeitosamente
reporta-se a Vossa Excelência ofertando o presente

RELATÓRIO FINAL DE INQUÉRITO POLICIAL

Expondo, para tanto, os seus substratos fáticos e jurídicos e as providências de polícia


judiciária adotadas no caso em epígrafe.

I-) DOS FATOS

O presente Inquérito Policial foi instaurado mediante notícia crime imediata por meio
de Portaria, devido ao fato de haver chegado ao conhecimento desta Autoridade de
Polícia Judiciária os fatos abaixo relatados.

Foi apresentada nesta Distrital uma ocorrência em que a Polícia Militar deteve X, ora
autor, pela prática do delito previsto no artigo 155, caput do Código Penal. Segundo o
condutor da ocorrência, o policial Y, ele estava efetuando patrulhamento de rotina pela
circunscrição desta Delegacia de Polícia, quando foi abordado por um cidadão pedindo
apoio devido a uma suposta prática do crime de furto.

Ato contínuo, os milicianos dirigiram-se até o estabelecimento onde os fatos haviam


ocorrido e lá se depararam com o autor do furto. Sem perder tempo, os policiais
abordaram o suspeito e efetuaram sua revista pessoal. Com ele foram encontrados dois
relógios e uma carteira.

O condutor informou, outrossim, que o suspeito não ofereceu qualquer resistência e


apenas se defendeu dizendo que havia, de fato, furtado um relógio e uma carteira, pois o
outro relógio já era de sua propriedade. Diante disso, foi-lhe dada “voz de prisão” e
todos foram conduzidos até esta Unidade Policial.

O funcionário do estabelecimento comercial onde se deram os fatos também foi ouvido


por esta Autoridade e informou que estava efetuando seu trabalho atendendo os clientes
da loja, inclusive o senhor Leonildo, quando se distraiu ao atender uma ligação
telefônica. A testemunha afirma que, nesse momento, o autor aproveitou de seu
descuido e subtraiu dois relógios e uma carteira de seu estabelecimento.

Assim que a testemunha percebeu a falta dos relógios, ela passou a indagar o autor
sobre o fato. Diante de suas indagações, o autor devolveu um dos relógios e os dois
começaram a discutir. Tal imbróglio fez com que a testemunha chamasse os policiais
militares que passavam pela rua. Já com o apoio dos agentes da lei, eles encontraram
outro relógio e uma carteira em posse do autor, Leonildo. Por derradeiro, a testemunha
salientou que os objetos subtraídos não perfazem a quantia de cinqüenta reais.

Após, foi ouvida a vítima, A. Ele informou que é proprietário do estabelecimento onde
se deram os fatos, mas que não se encontrava no local no momento do ocorrido. A
vítima afirma que os objetos subtraídos pelo autor perfazem, no máximo, a quantia de
cinqüenta reais. Ademais, a vítima fez questão de salientar que nem tinha o interesse de
acionar a polícia, pois conhece o autor dos fatos e sabe que se trata de uma pessoa boa,
mas com deficiência mental.

Por fim, o autor dos fatos foi ouvido por esta Autoridade Policial e afirmou que estava
na loja para tentar trocar um relógio que havia comprado lá anteriormente e que, no
momento em que o vendedor se distraiu, ele se apossou de dois relógios e uma carteira,
sendo que um dos relógios foi devolvido incontinenti. Em seguida, ele informou que o
vendedor passou a indagá-lo sobre o outro relógio, ocasião em que o policial militar
interveio e o abordou, encontrando os demais objetos subtraídos. Ele salientou, por
derradeiro, que sofre de epilepsia em vem recebendo cuidados médicos devido a esta
doença.

Em estreita síntese, foram estes os fatos ocorridos e apresentados nesta Delegacia de


Polícia. Passamos agora a fundamentação do nosso convencimento.

II-) DO DIREITO

Como é cediço, na teoria do delito há duas correntes que se destacam ao definir o


crime. Conforme a teoria tripartida do crime, a qual nos filiamos, o delito se configura
com a ocorrência de um fato típico, ilícito e culpável. Assim, sempre que se constatar a
ausência de um desses requisitos, não haverá crime.

Nesse ponto, devemos destacar que, seja qual for a teoria adotada, o fato típico,
primeiro elemento do delito, deve ser analisado para que se possa constatar a ocorrência
de uma infração penal. Configurando-se a existência de um fato típico, passa-se
posteriormente a análise de sua ilicitude. Caso contrário, se restar comprovada a
ausência de tipicidade da conduta, o fato não poderá ser acoimado de criminoso,
dispensando-se, de pronto, a análise da ilicitude.

O fato típico, por sua vez, possui os seguintes elementos: conduta, resultado, nexo de
causalidade e tipicidade. Com relação a este último elemento do fato típico, qual seja, a
tipicidade, a doutrina nos ensina que ela se divide em tipicidade formal ou legal e
tipicidade material.

A tipicidade formal seria apenas a subsunção de um fato a um tipo previsto no Código


Penal. Por outro lado, a tipicidade material se caracteriza naquelas condutas
consideradas mais graves pelo Direito e que ferem os bens jurídicos mais importantes.

O Direito Penal tem por finalidade a proteção dos bens tidos como mais importantes
dentro de uma sociedade, sendo que o princípio da intervenção mínima assevera que
nem todo bem é passível de proteção por parte do estado, assim como nem toda lesão a
um bem jurídico é significante a ponto de merecer a repressão penal. Em síntese, a
tipicidade material defende que apenas as lesões mais graves aos bens jurídicos mais
importantes é que merecem a proteção do Direito Penal.

Dito isto, devemos salientar, outrossim, a importância do princípio da insignificância


dentro do Direito. O referido princípio só demanda a força repressora do Direito Penal
naquelas lesões mais graves aos bens jurídicos mais importantes. Assim, não podemos
falar em crime quando se tratar de infrações de bagatela, pois, nesses casos, não é
possível se constatar a presença da tipicidade material, essencial para o conceito
moderno de crime.

O professor Luiz Flávio Gomes nos dá o conceito de crime insignificante: “infração


bagatelar ou delito de bagatela ou crime insignificante expressa o fato de ninharia, de
pouca relevância. Em outras palavras, é uma conduta ou um ataque ao bem jurídico tão
irrelevante que não requer a (ou não necessita da) intervenção penal. Resulta
desproporcional a intervenção penal nesse caso. O fato insignificante, destarte, deve
ficar reservado para outras áreas do Direito” (GOMES, Luiz Flávio. Princípio da
Insignificância e outras excludentes de tipicidade. pág. 15).

Não podemos olvidar que a aplicação do princípio da insignificância é defendida pelo


próprio Supremo Tribunal Federal sempre que presentes os seguintes vetores: ausência
de periculosidade social da ação; mínima ofensividade da conduta do agente;
inexpressividade da lesão jurídica causada; e a falta de reprovabilidade da conduta.

Desse modo, vislumbramos clara a aplicação do referido princípio no presente caso,


senão vejamos. A conduta do agente apresentou ausência de periculosidade, uma vez
que se trata de um crime em que não há violência ou grave ameaça a vítima nem à
sociedade. A ofensividade da conduta foi mínima, pois não causou maiores danos a
vítima. A lesão ao bem jurídico (patrimônio) foi inexpressiva, tanto que a vítima nem
queria acionar a polícia, pois seu prejuízo foi irrelevante, o que comprova também a
falta de reprovabilidade da conduta.

Nesse diapasão, encontramos amparo na jurisprudência:


EMENTA: PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. IDENTIFICAÇÃO DOS
VETORES CUJA PRESENÇA LEGITIMA O RECONHECIMENTO DESSE
POSTULADO DEPOLÍTICA CRIMINAL. CONSEQÜENTE
DESCARACTERIZAÇÃO DA TIPICIDADEPENAL, EM SEU ASPECTO
MATERIAL. DELITO DE FURTO. CONDENAÇÃOIMPOSTA A JOVEM
DESEMPREGADO, COM APENAS 19 ANOS DE IDADE. “RESFURTIVA” NO
VALOR DE R$ 25,00 (EQUIVALENTE A 9,61% DO SALÁRIOMÍNIMO
ATUALMENTE EM VIGOR). DOUTRINA. CONSIDERAÇÕES EM TORNO

DA JURISPRUDÊNCIA DO STF. CUMULATIVA OCORRÊNCIA, NA ESPÉCIE,


DOSREQUISITOS PERTINENTES À PLAUSIBILIDADE JURÍDICA DO
PEDIDO E AO“PERICULUM IN MORA”. MEDIDA LIMINAR CONCEDIDA.
(HC 84412 MC/SP)

HABEAS CORPUS. TENTATIVA DE FURTO SIMPLES. PRETENSÃO DE APLICAÇÃO DO


PRINCÍPIO DA INSIGNIFICÂNCIA. INCIDÊNCIA. AUSÊNCIA DE TIPICIDADE
MATERIAL. TEORIA CONSTITUCIONALISTA DO DELITO.
1- Reconhece-se a aplicação do princípio da insignificância quando
verificadas a mínima ofensividade da conduta do agente, a nenhuma
periculosidade social da ação, o reduzidíssimo grau de reprovabilidade
do comportamento e a inexpressividade da lesão jurídica provocada.
2- No caso, não há como deixar de reconhecer a mínima ofensividade do
comportamento do paciente, que tentou subtrair 6 (seis) pacotes de
chocolate e 17 (dezessete) barras de chocolates, avaliados globalmente
em R$ 94,19 (noventa e quatro reais e dezenove centavos), sendo rigor
o reconhecimento da atipicidade da conduta
3- Segundo a jurisprudência consolidada nesta Corte e também nos
Supremo Tribunal, a existência de condições pessoais desfavoráveis,
tais como maus antecedentes, reincidência ou ações penais em curso,
não impedem a aplicação do princípio da insignificância.
4- Ordem concedida a fim de, aplicando o princípio da insignificância,
absolver o paciente do crime de que cuida a ação penal nº
050.05.091434-0 que tramitou perante a 21ª Vara Criminal da Comarca de
São Paulo/SP.
III-) CONCLUSÃO
Frente ao exposto, em razão da oitiva de todas as testemunhas, bem
como pela declaração da vítima e do autor dos fatos, esta Autoridade
Policial formou seu convencimento no sentido de não ratificar a “voz
de prisão” dada pelo policial militar, por entender que o delito do
artigo 155 do Código Penal não se configurou em virtude da aplicação
do princípio da insignificância, que exclui a tipicidade material do
fato e afasta o próprio crime.
É mister destacar que os objetos subtraídos foram apreendidos por
esta Autoridade de Polícia Judiciária e serão submetidos a exame
pericial.
Por fim, em não havendo outras diligências essenciais à comprovação
dos fatos e de suas circunstâncias, dou por encerrado este Inquérito
Policial, remetendo-o, tempestivamente, a este douto Magistrado para
sua apreciação.

É o relatório.

Goiânia, 28 de julho de 2014.


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Delegado de Polícia

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