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FÁBIO HENRIQUE GULO

SEXUALIDADE, GRAVIDEZ ENTRE JOVENS E EDUCAÇÃO

ESCOLAR: UMA INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE ESTUDOS

ACADÊMICOS

PRESIDENTE PRUDENTE
2007

2
UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA – UNESP
FACULDADE DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

FÁBIO HENRIQUE GULO

SEXUALIDADE, GRAVIDEZ ENTRE JOVENS E EDUCAÇÃO

ESCOLAR: UMA INTRODUÇÃO À ANÁLISE DE ESTUDOS

ACADÊMICOS

Monografia apresentada ao Programa de


Pós Graduação em Educação Especial
“Formação de professores para
potencializar a inclusão” da Faculdade de
Ciências e Tecnologia da Universidade
Estadual Paulista “Júlio de Mesquita Filho”
– UNESP – Campus de Presidente
Prudente, sob a orientação da Profª Drª
Maria de Fátima Salum Moreira, como
exigência para a obtenção de título de
especialista.

PRESIDENTE PRUDENTE
2007

“Geralmente, o(a)s professor(a)es não são


preparados para voltar-se criticamente para as
suas próprias práticas e perceber o quanto os
seus “simples” olhares, desaprovadores ou
aprovadores, são ações que também formam
sujeitos e ajudam a promover as classificações
sociais, legitimando e reafirmando modos
essencialistas de explicar as relações entre as
pessoas, de sorte que sejam negados, a uma
parte delas, os seus direitos sociais e
humanos.”

(Maria de Fátima Salum Moreira)

ii
A Deus, pela elaboração e concessão do
magnífico projeto que perpassa os caminhos
de tantas maravilhosas personagens nessa
obra grandiosa chamada vida.

iii
AGRADECIMENTOS

Aos meus amigos, principalmente àqueles que me ajudaram a


ultrapassar os limites que a vida acadêmica antes me impunha,
tecendo ao meu lado caminhos de ‘embriagues’, afeto e
companheirismo, e àqueles que souberam suportar a longa
espera pelos raros momentos de atenção que lhes pude dedicar.

Aos meus pais, que dedicaram suas vidas à luta que a vida impõe
àqueles que almejam realizar seus anseios, ultrapassando, com
muito labor, as barreiras encontradas nesse caminho entre a
realidade humilde imposta por um mundo desigual e à realização
do sonho de garantir a sua descendência, através da
oportunidade rara da educação, uma vida mais justa e digna.

A profª Dª Ana Archangelo, pelo incentivo à elaboração desse


projeto e apoio na busca de orientação no inicio do
desenvolvimento da pesquisa.

A Profª Drª Maria de Fátima Salum Moreira, pelo auxílio,


orientação, dedicação e importantes sugestões e intervenções na
elaboração deste trabalho, pelas palavras de incentivo e
principalmente pela compreensão no tocante aos vários
obstáculos que ameaçaram prejudicar o bom andamento desta
pesquisa.

iv
A Taluana Laiz Martins Torres, pelo auxílio na busca e pela
concessão de parte da bibliografia necessária à realização desta
monografia.

A todos os Professores e funcionários da Faculdade de Ciências e


Tecnologia (FCT) da Universidade Estadual Paulista (UNESP),
principalmente aos que tive a honra de conviver nesses dois
últimos anos, compartilhando momentos de sabedoria, docência,
responsabilidade, descontração e amizade, profissionais esses
que me transmitiram conceitos, conhecimento e maturidade ou
me auxiliaram de alguma outra forma na realização deste
trabalho.

Aos funcionários da biblioteca da FCT-UNESP, pelo empenho na


busca de conteúdos pesquisados e presteza nas solicitações de
volumes de outras bibliotecas.

A Deus, principalmente, por interceder em favor de minha plena


realização pessoal, acadêmica e profissional, disponibilizando os
amigos, os pais, os professores, os profissionais e todas as
pessoas que, de alguma forma, tiveram participação na realização
deste trabalho e na minha vida, direta ou indiretamente.

v
SUMÁRIO

Apresentação ........................................................................................................... 01
Introdução ................................................................................................................. 04
1. Objeto, objetivo e relevância do tema ...................................................... 06
2. Seleção das fontes, metodologia de análise e apresentação das obras
selecionadas ............................................................................................. 07
Capítulo I – Sexualidade e adolescência.................................................................. 12
Capítulo II – A gravidez na adolescência: um problema social? .............................. 18
Capítulo III – Sexualidade, gravidez na adolescência e suas relações com a escola
pública ................................................................................................................
...... 34
Considerações finais ............................................................................................... 44
Apêndices ................................................................................................................ 46
Referências .............................................................................................................. 55

vi
RESUMO

GULO, F. H. Sexualidade, gravidez entre jovens e educação escolar: uma


introdução à análise de estudos acadêmicos. [Sexuality, adolescents pregnancy and
school education: an introduction to the analisis of academic studies] 2007. 57 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Educação Especial) –
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente, 2007.

Esta monografia trata da gravidez entre adolescentes e sua relação com a


educação escolar e baseia-se na análise de como essa discussão é abordada em
quatro trabalhos acadêmicos, provenientes de diferentes instâncias e campos de
pesquisa acadêmicos. São eles: a dissertação de mestrado em Psicologia Social de
Calazans (2000); a dissertação de mestrado em Educação de Quintana (2004); a
monografia de conclusão de curso de especialização em Saúde de Belentani (2002) e
a monografia de especialização em Ensino de Ciências de Barbosa, Montanari e
Alves (2001). Trata-se de um estudo comparativo entre as obras citadas, realizado a
partir do critério de análise de conteúdo de Bardin e da teoria da linguagem de
Bakhtin. Procura-se analisar os saberes e conceitos presentes nos discursos
acadêmicos, tratando dos modos como a “gravidez na adolescência” é avaliada pelos
pesquisadores, bem como quais são as suas interpretações acerca do papel e das
ações que caberiam às escolas, diante da sexualidade e da gravidez, nessa fase da
vida das alunas.

Palavras-chave: gravidez na adolescência, educação escolar, sexualidade

vii
ABSTRACT

GULO, F. H. Sexuality, adolescents pregnancy and school education: an


introduction to the analisis of academic studies. [Sexualidade, gravidez entre
jovens e educação escolar: uma introdução à análise de estudos acadêmicos]. 2007.
57 f. Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Educação Especial) –
Faculdade de Ciências e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista, Presidente
Prudente, 2007.

This monograph deals with the adolescents pregnancy in respect to the school
education and is based on the analysis of how this topic of discussion is broached in
four academic works proceeding from different instances and academic fields of
research. They are: The social psychology master’s degree dissertation of Calazans
(2000); the education master’s degree dissertation of Quintana (2004); the
conclusion of health specialization course monograph of Belentani (2002) and the
conclusion of specialization in sciences education monograph of Barbosa, Montanari
and Alves (2001). It is about a comparative study between the cited workmanships,
carried through from the Bardin’s analysis of content criterion and the Bakhtin’s
language theory. It is looked to analyze the knowledge and concepts present int the
academic speeches, deal whit the ways how the “adolescents pregnancy” is
evaluated by the researchers, as well as which are their interpretations about the
schools functions and actions, regarding to the sexualitty and the pregnancy in this
phase of the students life.

Key-words: adolescents pregnance, school education, sexuality.

viii
APRESENTAÇÃO

O presente trabalho é fruto de um estudo que visa, através de levantamento,


seleção e análise de estudos acadêmicos, apreender quais são os tipos de
abordagem do trabalho de educação escolar em pesquisas que versam sobre
sexualidade e gravidez entre jovens.
Meu interesse em trabalhar com o público jovem, entretanto, não é recente.
Em outro trabalho de caráter monográfico que realizei, constatei a importância da
mídia, principalmente a televisiva, na formação dos processos de comunicação e
formação do léxico entre eles (GULO, 2004).1 Mais recentemente, esses foram
novamente o alvo de um trabalho acadêmico que realizei, com o objetivo de analisar
o amparo legal aos jovens assistidos pelo programa de regime domiciliar e o papel
do docente no processo de avaliação desses jovens, sejam eles portadores de
afecções congênitas ou adquiridas, infecções, traumatismo ou outras condições
mórbidas, ou jovens gestantes.2
A exclusividade da análise bibliográfica, porém, não fazia parte do projeto
apresentado inicialmente para o estudo. O projeto inicial sugeria o levantamento do
número de jovens gestantes e a proporção de evasão escolar entre essas jovens na
cidade de Presidente Prudente, comparando cada setor da cidade, através de dados
estatísticos e estudo empírico, com a finalidade de tentar identificar as causas e
conseqüências desse processo de abandono, mesmo que temporário, das
atividades discentes. Sugeria, ainda, uma análise social das localidades, na cidade,
com maior incidência de evasão escolar entre as jovens, através de levantamento de
quantidade de famílias sem a figura paterna ou materna da gestante e ausência da
figura paterna do recém-nascido, número de creches e outras instituições que
amparem psicológica e socialmente as jovens mães que trabalham, além das redes

1
Monografia de conclusão do curso de graduação em Letras, orientada pelo Prof. Ms. José Carlos
Damasceno.
2
Trata-se de um artigo produzido juntamente com os alunos Philipe Thadeo Lima Ferreira de
Albuquerque e Sílvia Gonçalves, exigido no módulo “Avaliação – uma Prática Inclusiva” ministrado
pela Profª Drª Ana Maria dos Santos Costa Menin, desse curso de especialização que finalizo com
este trabalho monográfico.

1
de apoio montadas entre a própria comunidade. Entretanto, a percepção do campo
extremamente amplo das propostas de análise presentes nesse projeto levou-me a
substituí-lo por essa análise bibliográfica devido, especialmente, ao fato de o prazo
para entrega desse trabalho, assim como as condições de trabalho desse
pesquisador, ser incompatível com o que fora proposto inicialmente.
Proponho-me, entretanto, a analisar os discursos acadêmicos sobre o tema
em questão, em um estudo exclusivamente bibliográfico, considerando-se, para fins
metodológicos, que os significados desses discursos podem se fazer mais explícitos
justamente a partir de uma análise transversal que permita observar os pontos em
que eles se cruzam e interpenetram. Entende-se que, nestes pontos, é possível
levantar quais são os centros organizadores do conjunto dos enunciados,
pressupondo-se, como afirma Bakhtin (1990 apud MOREIRA, 1999), que tais
“centros” correspondem e “falam”, exatamente, do meio social que envolve os
indivíduos. “O centro organizador de toda enunciação, de toda expressão, não é
interior, mas exterior, está situado no meio social que envolve o indivíduo”
(BAKHTIN, 1990, p.121).
Também são utilizadas as referências para os procedimentos de análise,
segundo as orientações propostas por Bardin (1977), que apresenta uma proposta
de “análise de conteúdo”3, da qual destaco o aspecto em que ele sugere a produção
de uma análise transversal dos conteúdos de modo que possam ser constituídas
categorias temáticas da análise, com base em recortes e cruzamentos do material
coletado e de sua separação por temas.
Este estudo se baseia na análise de como as questões sobre a gravidez na
adolescência e sua relação com a educação escolar são abordadas em quatro
trabalhos acadêmicos, definidos como fontes básicas após trabalho de análise e
seleção das referências bibliográficas levantadas, provenientes de diferentes
instâncias e campos de pesquisa acadêmicos. São eles: a dissertação de mestrado
em Psicologia Social, de Calazans (2000), intitulada “O discurso acadêmico sobre
gravidez na adolescência: uma produção ideológica?”; a dissertação de mestrado
em Quintana (2004), intitulada “A gravidez na adolescência e sua relação com a
escola pública: visibilidade ou exclusão?”; a monografia de conclusão de curso de

3
BARDIN, 1977 apud LIBÓRIO, 2003.

2
Especialização em Ensino de Ciências, de Barbosa, Montanari e Alves (2001),
intitulada “Reflexões na escola sobre as causas da gravidez na adolescência” e a
monografia de conclusão de curso de Especialização em Saúde Pública, de
Belentani (2000), cujo título é “Grávidas e desinformadas? Estudo sobre as falhas da
educação na prevenção da gravidez entre adolescentes de Taquaritinga – SP”.
Através dessas obras, procurarei analisar os saberes e conceitos presentes nos
discursos acadêmicos, tratando dos modos como a “gravidez na adolescência” é
avaliada pelos pesquisadores, bem como quais são as suas interpretações acerca
do papel e das ações que caberiam às escolas, diante da sexualidade e da
gravidez, nesta fase de vida das alunas.
A redação desta monografia está organizada da seguinte forma: a introdução,
que apresenta o objetivo deste trabalho, as obras selecionadas e o tema proposto,
reafirmando a importância desse no meio acadêmico; o capítulo I, que trata das
discussões teóricas envolvidas com os conceitos de sexualidade e adolescência /
juventude, buscando definições adotadas pelos autores nas quatro obras analisadas
neste estudo e também em outros estudos bibliográficos; o capítulo II, que aborda o
tema gravidez na adolescência através da óptica dos autores das obras analisadas,
buscando identificar os que tratam o tema como problema social e os que criticam
essa visão e propõem compreensões diferentes para o tema objeto deste estudo; e
o capítulo III, onde trato das relações entre a educação escolar, a sexualidade e a
gravidez na adolescência na perspectiva adotada pelos autores das obras
analisadas. A seguir são apresentadas as “considerações finais”, seguidas por dois
apêndices e as referências bibliográficas finais.

3
INTRODUÇÃO

A expectativa da escola deveria ser trabalhar


a questão da construção do conhecimento. Então
eu acho que essa questão da gravidez na
adolescência não é uma questão pra escola
enfrentar, eu acho que isso é uma questão social,
como outras questões que interferem na escola
[...] então que não cabe a escola estabelecer
estratégias de enfrentamento.4

A crescente discussão acerca do que cabe à escola no processo de formação


do indivíduo é cada vez mais relacionada ao precário acompanhamento das famílias
nesse processo, ao perfil das crianças e jovens que ingressam na vida escolar, ao
meio social em esses estão inseridos e, principalmente, às expectativas criadas
sobre essa instituição de ensino.
As conquistas do movimento feminista, que possibilitaram às mulheres maior
participação em diversas esferas da vida social, acesso aos direitos políticos e ao
mercado de trabalho, são as mesmas conquistas que lhes reduziram o
acompanhamento na formação dos filhos.5 A total dedicação ao lar viu-se substituída
pela oportunidade de complementação da renda da família, ou até mesmo pela
necessidade de tornar-se, a mulher, a única responsável por essa fonte de renda. A
partir dessas alterações no seio dessa instituição, a organização familiar vem se
modificando continuamente e as figuras paterna e materna têm cada vez mais seus
conceitos e atribuições transformados em uma sociedade em que se pode dispensar
ou substituir essas figuras ou até mesmo seus papéis na composição estrutural da
família.
Segundo Barbosa, Montanari, e Alves (2001, p. 08):

4
ROSÂNGELA, In: QUINTANA 2004, p 64.
5
BOZON, 2004.

4
A independência da mulher e a necessidade cada vez maior
dela participar do orçamento familiar fizeram com que a mãe
saísse de seu lar em direção ao mercado de trabalho, vindo a
somar-se à força de trabalho masculina e “terceirizar” a
educação dos filhos. Isto quando a condição sócio-econômica
permite, senão ficam abandonados à própria sorte.

Em depoimento registrado na dissertação de mestrado de Quintana (2004, p.


70), uma das professoras entrevistadas afirma:

Eu acho que não é só falta de orientação familiar não. É falta


de educação social, eu acho que o problema é social. Porque a
gente culpa a família de uma maneira muito pontual. Essa a
mãe que não ajudou... Mas essa mãe que não está em casa,
ela precisa trabalhar porque ela precisa sustentar essa família,
ela tem que trazer a comida para casa. Então realmente a
juventude fica solta, fica mesmo.

Como conseqüência dessa alteração da ordem familiar mais tradicional e de


seus valores, crianças e jovens permanecem cada vez mais tempo na escola se
comparado ao período em que passam com seus genitores, principalmente aqueles
jovens que dividem seu tempo entre escola e trabalho e/ou outra atividade, e que
acabam reservando mais tempo às atividades escolares que ao convívio familiar.
Na mesma proporção em que a escola se torna mais presente na vida das
crianças e jovens cresce a responsabilidade dessa na formação dos mesmos. A
sociedade passou a exigir cada vez mais das instituições de ensino, em substituição
ao papel que outrora fora da família.
Toda essa mudança nas expectativas em relação à escola não foi, no
entanto, acompanhada pela instituição. Os docentes ainda são formados visando-se
o conteúdo inerente a cada disciplina que irão lecionar, e raras vezes sentem-se
preparados para assumir sozinhos as responsabilidades que até então eram
compartilhadas com a instituição familiar.
Algumas das principais discussões sobre o que é realmente responsabilidade
das instituições de ensino, e principalmente do corpo docente, na formação dos

5
jovens são sobre as questões relativas à sexualidade e à reprodução. Mesmo
sabendo-se que são indicadas pelos Parâmetros Curriculares Nacionais – temas
transversais (PCNs), as aulas que contemplam temas como sexualidade, gravidez,
contracepção e DSTs muitas vezes são exclusividades de algumas disciplinas, como
ciências e biologia, e mesmo assim esses temas são tratados apenas de forma
conteudista e não paralelamente a seu caráter social. Não afirmo aqui que não
houvesse estratégias com finalidades moralizantes implícitas no contexto escolar,
porém, aparentemente o que se faz necessário é que se trate de forma mais
explicita das questões de sexualidade, visto que o modelo anterior, supostamente,
não surte os resultados esperados pela sociedade contemporânea, dos quais
enfatiza-se o adiamento da maternidade para após a plena formação familiar,
psicológica e profissional.

1. OBJETO, OBJETIVO E RELEVÂNCIA DO TEMA

O principal objetivo deste trabalho, que tem caráter exclusivamente


bibliográfico, é fazer uma análise comparativa de algumas das obras, resultadas de
trabalhos acadêmicos, que tratem da relação entre sexualidade, gravidez entre
jovens e educação escolar. Isso foi feito através do levantamento de pesquisas
(monografias, teses, dissertações, artigos etc.) que abordam a temática sugerida, e
da observação dos resultados dessas pesquisas. Trata-se de averiguar, em primeiro
lugar, quais são as problemáticas e tematizações propostas pelos pesquisadores
acerca do objeto de estudo em questão. A par disso, também se procura apreender
quais são as conclusões e direções para a resolução dos problemas que foram
destacados na análise.
Reitero que a abrangência deste estudo foi reduzida devido ao curto prazo
para entrega deste trabalho de conclusão de curso, cuja continuidade se fará
oportunamente. É de meu interesse dar continuidade aos estudos de tema de
relevante importância e interesse social e educacional, visto que como pude
comprovar ao fazer o levantamento bibliográfico para esse estudo, são escassos os
trabalhos que tratem de sexualidade e gravidez na educação escolar. Não me
limitarei, portanto, a esse estudo inicial, e me proponho, em oportunidade futura,

6
aprofundar-me nesse tema visando não somente produzir trabalhos de pesquisa no
meio acadêmico, mas também me qualificar em minhas atividades docentes.
O tema “gravidez na adolescência” não é recente em estudos acadêmicos,
porém muitos desses estudos são frutos de pesquisas nas áreas da sociologia ou da
saúde, reduzindo-se, portanto, as expectativas de encontrar-se grande variedade
desses trabalhos na área da educação, afirmação essa que pretendo comprovar
após levantamento de bibliografia disponível, atendo-me às pesquisas que tratem da
gravidez na adolescência em uma óptica educacional, enfocando, principalmente, a
abordagem da prática docente sugerida ou questionada pelos pesquisadores, além
do desfecho na vida escolar das adolescentes alvos desses estudos.6
Procurarei ressaltar, neste trabalho, a posição de profissionais do meio
acadêmico e dos educadores sobre as questões que incluam a temática proposta,
principalmente no tocante à visão pedagógica do processo de formação de jovens, e
identificar as expectativas desses profissionais quanto ao seu desempenho
profissional, tendo em vista a possibilidade de propor reflexões em torno da
formação de educadores mais preparados para lidar e se posicionar diante de
questões sociais tão relevantes como a sexualidade e a gravidez, especialmente nos
casos em que esta é citada como indesejada ou não planejada. Como preparar
profissionais que saibam lidar, de forma pertinente, com os aspectos biológicos,
sociais e psicológicos envolvidos com tal dimensão da vida juvenil? Trata-se de
temas que ainda são considerados tabus e cuja discussão ainda é considerada, por
alguns educadores, responsabilidade exclusiva da sociedade e da família, enquanto
se pretende eximir a responsabilidade às instituições de ensino.

2. SELEÇÃO DAS FONTES, METODOLOGIA DE ANÁLISE E


APRESENTAÇÃO DAS OBRAS SELECIONADAS

A proposta atual foi tema de múltiplas discussões com minha orientadora que,
após indicar-me a obra “A gravidez na adolescência e sua relação com a escola
pública: visibilidade ou exclusão?” de Eduardo Quintana, ajudou-me a optar por um

6
O tema “gravidez e adolescência” será melhor explanado no primeiro capítulo dessa monografia.

7
estudo de natureza bibliográfica, que possibilitasse a análise de como tem ocorrido a
discussão acadêmica sobre o tema “gravidez na adolescência e educação escolar”.
A limitação do prazo para entrega desse estudo foi também relevante para
outra decisão: seriam levantados e utilizados apenas artigos, monografias,
dissertações de mestrado e teses encontradas no acervo das bibliotecas vinculadas
a rede “Athena” da Universidade Estadual Paulista, mesmo que não fossem
resultados de estudos de alunos dessa instituição. Fora deste campo, também
poderiam ser utilizadas produções cujos volumes já estivessem em posse de minha
orientadora.
O critério fundamental para a primeira seleção do “corpus” a ser analisado foi
o de que a menção à educação escolar estivesse inclusa no título dos trabalhos que
tratam da “gravidez na adolescência”, ou, então, presente nas palavras-chave do
trabalho. 7
Foram encontrados, porém, obstáculos à realização desse levantamento. Foi
localizada, no acervo da instituição local, apenas uma obra que correspondesse aos
critérios estabelecidos. Entre aquelas encontradas em bibliotecas de outras
unidades da UNESP, os temas “educação”, “sexualidade e gravidez” foram
localizados, porém, não eram em todas as obras abordados paralela ou
articuladamente.
Além disso, alguns pedidos de empréstimo de volumes localizados no acervo
de bibliotecas de outros campi da UNESP foram negados, sob a alegação de que
tais obras não circulam por estarem extraviadas ou por existir apenas um exemplar
em posse das referidas bibliotecas. Por fim, alguns volumes solicitados, segundo
informação da própria biblioteca da Faculdade de Ciências e Tecnologia – UNESP –
de Presidente Prudente, não fazem parte do acervo da rede de bibliotecas atendidas
pelo sistema de empréstimos conhecido como “EEB” (Empréstimo Entre
Bibliotecas), das quais fazem parte os campi da UNESP, UNICAMP e USP. Por e-
mail me foram transmitidas as seguintes informações:

Informo-lhe que a obra: Abortamento na adolescência (pedido


de EEB), não foi localizada nem na USP nem na UNICAMP.

7
Encontra-se, no Apêndice I, a relação das chaves utilizadas no site da instituição para localizar as
obras, além dos resultados obtidos a partir de cada combinação de palavras.

8
Atenciosamente,
Márcia – Biblioteca8

Boa tarde, Fábio!


Comunicamos que as obras solicitadas pelo EEB, não poderão
ser emprestadas, pois as mesmas estão extraviadas ou não
circulam.
CALAZANS, Gabriela Junqueira. O discurso acadêmico sobre
gravidez na adolescência
SÃO PAULO(ESTADO). SECRETARIA DE ESTADO DA
EDUCAÇÃO. A prevenção na escola
Lairce9

Bom dia, Fábio!


A obra solicitada pelo EEB:
VIEIRA, Leila Maria. Abortamento na adolescência, só existe
em BOTUCATU/FM e não circula
Lairce10

Contudo, para compor o quadro de referências bibliográficas de meu trabalho,


solicitei também o empréstimo de algumas obras que discutiam apenas o tema
“gravidez na adolescência”. Constatei, ainda, que várias delas não se enquadravam
nos critérios previamente estabelecidos.11
Na definição final das fontes bibliográficas a serem objeto de análise,
levantadas em bibliotecas da Unesp, foram mantidos três trabalhos: a dissertação
intitulada “O discurso acadêmico sobre a gravidez na adolescência: uma produção
ideológica?”, de Gabriela Calazans (2000), apresentado ao Núcleo de Estudos de
Gênero, Raça e Idade (NEGRI) do Programa de Estudos Pós-Graduados em

8
MÁRCIA. EEB [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <gulo_fabio@yahoo.com.br> em 03
out. 2006.
9
LAIRCE. EEB [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <gulo_fabio@yahoo.com.br> em 26
set. 2006.
10
LAIRCE. EEB [Mensagem pessoal]. Mensagem recebida por <gulo_fabio@yahoo.com.br> em 31
out. 2006.
11
O Apêndice II contém uma relação das obras pré-selecionadas, constando título, autor, ano de
publicação, campus em que se encontra, disponibilidade para empréstimo, adequação às normas
pré-estabelecidas para seleção dos títulos a serem analisados, e resumo do trabalho, retirado, na
íntegra, da folha de rosto da obra.

9
Psicologia Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC), de São Paulo 12; as
monografias “Grávidas e desinformadas? Estudo sobre as falhas da educação na
prevenção da gravidez entre adolescentes de Taquaritinga-SP”, de Ketriri Cristina
Belentani; e “Reflexões na escola sobre as causas da gravidez na adolescência”, de
Léia Pettenuci Miranda Barbosa, Sônia Maria Montanari e Vera Lúcia Guastalle
Alves, ambas apresentadas como trabalhos de conclusão de cursos de
especialização na Universidade Estadual Paulista, respectivamente nos campi de
Araraquara e Presidente Prudente. A esses trabalhos foi somada a dissertação de
mestrado de Eduardo Quintana (2004), intitulada “A gravidez na adolescência e sua
relação com a escola pública: visibilidade ou exclusão?”, defendida junto ao
Programa de Pós Graduação do Centro de Educação e Humanidades da UERJ.
A dificuldade em encontrar estudos acadêmicos sobre sexualidade e gravidez
na juventude pela ótica da educação tem como contrapartida a valorização de tal
questão em várias outras áreas do conhecimento. Gabriela Calazans constatou, em
mapeamento de trabalhos acadêmicos, a forma como o tema “gravidez na
adolescência” é tratado em vários trabalhos como um problema, principalmente nos
da área da saúde. A autora cita ainda alguns nomes de grande importância na área
das ciências sociais como Dirce de Paula, que aborda o tema como um “drama
social”; Diana Pearce que trata da formulação de políticas públicas para a questão
da gravidez na adolescência e Alberto Reis que trata de questões e significados
sociais atribuídos a esse fenômeno, porém nenhum pesquisador em educação ou
que enfoque a educação escolar é mencionado pela autora. Essa afirma que suas
pesquisas foram realizadas, prioritariamente, no âmbito da saúde, visto que não
foram localizadas referências provenientes de outras áreas, como educação
(CALAZANS, 2000).
A citada autora analisou obras publicadas entre 1990 e 1999, e, neste estudo,
as obras selecionadas têm sua produção datada a partir do ano 2000. Além disso,
diferentemente de Calazans, tenho como objetivo discutir, especificamente, as
seguintes questões: 1) Como os trabalhos analisados enfocam as questões
educacionais?; 2) Qual a relevância da educação no processo de formação para a
12
Mesmo fazendo parte do acervo da biblioteca de um dos campi da UNESP, a obra consta no
Apêndice II como indisponível a empréstimo via EEB, porém passou a constar como fonte
bibliográfica nesta monografia após ser fornecida cópia por Taluana Laiz Martins Torres, também
orientanda da Profª Drª Maria de Fátima Salum Moreira.

10
sexualidade dos jovens? 3)Qual é a importância da abordagem do tema
“sexualidade e gravidez” em cursos de formação de professores?
Após leitura e estudos bibliográficos, evidenciarei, nas obras selecionadas, os
recortes a respeito da sexualidade e da gravidez no currículo escolar e da
importância da atuação docente na formação dos jovens, proporcionando a análise
comparativa das intervenções sugeridas ou questionadas nesses trabalhos
acadêmicos.

11
CAPÍTULO I – SEXUALIDADE E ADOLESCÊNCIA

A sexualidade humana não é um dado da


natureza, é construída socialmente pelo contexto
cultural em que está inserida.13

Após a instituição do conceito cristão de sexo, houve, segundo Foucault


(1976), um “aprisionamento das práticas sexuais dentro dos limites estreitos dos
interesses procriadores”. Segundo Bozon (2004, p. 26) alguns textos de religiosos
“teorizam a recusa ao desejo e ao prazer, de tal forma que levam a uma restrição
em direito da atividade sexual apenas à obra de procriação”.
O termo sexualidade, ainda segundo Bonzon (2004, p.17), surgiu no século
XIX, assim como, no mesmo século, surgiram às primeiras pesquisas que a tiveram
como objeto de estudo, resultadas de “uma vontade de saber e [...] um desejo de
interpretar os movimentos secretos do corpo”, em uma sociedade que já não
aceitava mais essa velha retórica religiosa da carne e da procriação.
Para Belentani (2002, p. 18) a sexualidade pode ser expressa através do
comportamento e do relacionamento entre as pessoas. A autora utiliza-se da
14
compreensão de Perry para definir o termo: “a sexualidade é expressa por meio
das interações e relacionamentos com as pessoas do sexo oposto e/ou do mesmo
sexo e inclui os pensamentos, as experiências, as aprendizagens, os ideais, os
valores, as fantasias e as emoções”.
Por envolver tantas atribuições psicológicas e sociais, a sexualidade torna-se
essencial na maioria dos estudos do comportamento dos adolescentes,
principalmente porque, muitas vezes, ela é fundamental no processo de atribuição
de definições e de distinção entre crianças e adolescentes ou entre esses e os
adultos. Calazans (2000, p. 31) fala sobre o comportamento dos jovens que
“passam a exercer sua sexualidade” ainda enquanto estão vinculados às famílias de

13
BOZON (2004)
14
PERRY, 1998. apud BELENTANI, 2002

12
origem, até mesmo sem que haja nenhuma preocupação com as questões de
reprodução. A autora ainda cita a maior liberação dos costumes em relação à
sexualidade e a disponibilidade de métodos contraceptivos para justificar os novos
“percursos” observados no período compreendido entre a infância e a idade adulta,
a que chama de “juventude”.
Outros autores utilizam as questões de sexualidade como uma das bases
para definir a adolescência, como fazem Gherpelli e Mariana, cujas citadas
definições são destacadas, respectivamente, nas obras de Calazans e de Barbosa,
Montanari e Alves:

Um indivíduo com o corpo na puberdade e a mente


descobrindo o pensamento – este é o adolescente. Nessa
idade, duas coisas acontecem simultaneamente e ocupam
quase todo o espaço psíquico: a descoberta da capacidade de
pensar e a sexualidade focalizada nos genitais.15

Adolescer é coisa tão complicada que a própria palavra vem de


doer, de adoecer. Exagero dos romanos, que criaram no seu
latim a palavra adolescentia com essa ambigüidade? Nem
tanto. Toda a literatura sobre o tema converge em certas
questões, destacadas pela psicologia, pela sociologia e por
todas as outras ciências que estudam o comportamento
humano. Questões sobre a transição, a aventura de cada
descoberta, o desabrochar da sexualidade, as mudanças
corporais e o imenso salto intelectual com o acúmulo de
informações sobre o mundo que marcam essa etapa.16

Diversos autores, porém, utilizam definições pré-estabelecidas por


organismos sociais que buscam padronizar tais definições, classificando o indivíduo
como criança, jovem, adolescente ou adulto, de acordo com a faixa etária.
Eduardo Quintana (2004, p. 4), utiliza conceitos da Organização Mundial da
Saúde (OMS) e do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) para definir os
termos “criança”, “adolescente”, e “jovem”. Segundo o autor, essas etapas da vida

15
GHERPELLI, 1996. apud CALAZANS, 2000. p. 150
16
MARIANA, 1992. apud BARBOSA, MONTANARI e ALVES, 2001. p. 28

13
se caracterizam e se diferenciam “por suas especificidades fisiológicas, psicológicas
e sociológicas”.
Esse trecho citado, porém, é a única alusão do autor ao termo “juventude”.
Em seu trabalho, Quintana utiliza o termo “adolescente” para se referir às meninas
alvos de seu estudo, e define o termo da seguinte forma: “A adolescência constitui
um processo fundamentalmente biológico, durante o qual se aceleram o
desenvolvimento cognitivo e a estruturação da personalidade”.
Quintana utiliza as definições do ECA para definir adolescência que, segundo
o mesmo estatuto, abrange as idades de 10 a 19 anos, podendo ser dividida em
“pré-adolescência”, compreendida entre os 10 e os 14 anos, e “adolescência”
propriamente dita, compreendida entre os 15 e os 19 anos. Ainda segundo o ECA,
ocorrendo uma gravidez nesse período, tal deve se caracterizar como “gravidez na
adolescência”.
Calazans (2000) tem outra abordagem para diferenciar adolescência de
juventude. Segundo a autora, reafirmando o que diz Sposito 17, os dois termos são
utilizados de acordo com a área do conhecimento em que são aplicados, e cita, para
tanto, a psicologia e a sociologia. A psicologia privilegia o termo “adolescência” para
se referir à faixa etária que representa “um momento privilegiado de formação da
identidade individual”. Já a sociologia procura “privilegiar questões como a
configuração da juventude como categoria social, a transmissão da herança cultural,
a normatização e o desvio nas relações entre jovens e adultos”. 18
Assim como Calazans, procurarei evidenciar os significados sociais
atribuídos a categoria estudada, assim como os significados atribuídos nas
interpretações sobre a gravidez entre jovens presentes nas obras analisadas
privilegiando as abordagens sociológicas. Em conformidade com o que foi
esclarecido, seria oportuno privilegiar o termo “jovens” referindo-se aos indivíduos
alvos desse estudo, termo esse que acredito ser o mais apropriado, porém, levando-
17
SPOSITO, 1997. apud CALAZANS, 2000, p. 24
18
Entre os autores que tem como objeto de estudo a sexualidade, apenas Calazans e Quintana
apresentam em suas obras alguma definição de “juventude” e “adolescência”, distinguindo essas
duas nomenclaturas. Nas monografias de Belentani e de Barbosa, Montanari e Alves, no que diz
respeito à terminologia utilizada (adolescente x jovem), aparentemente não existe uma lógica na
utilização dos dois termos. Tanto no título quanto no corpus dos trabalhos, as autoras utilizam o termo
“adolescência” repetidas vezes, porém, existem incidências do termo “jovem”, sem nenhuma
explicação lógica ou seqüência aparente que justifique tais ocorrências, e principalmente, sem que
haja qualquer diferenciação no uso desses vocábulos nos citados trabalhos.

14
se em consideração que grande parte dos estudos analisados ou utilizados como
bibliografia nessa monografia utilizam a terminologia “adolescente”, farei uso desse
mesmo vocábulo em concordância com tais trabalhos, até mesmo para que não
haja, no decorrer desse estudo, dubiedade das informações, incoerências dos
pensamentos ou utilização de termos inapropriados em conformidade com as
análises efetuadas. E é com o mesmo propósito que evidenciarei, neste ponto, as
definições do termo “adolescente” utilizadas pelos autores, cujas obras serão
analisadas nesta monografia.
Os autores destacados, inicialmente, sugerem a adolescência como uma
“fase de transição” entre a infância e a idade adulta19. Independentemente do termo
utilizado, adolescente ou jovem, Quintana, Calazans, Belentani e Barbosa,
Montanari e Alves, concordam com essa primeira definição, porém atribuem alguns
significados diferentes em suas respectivas definições de adolescência.
Calazans (2000, p. 24) destaca essa transição da infância para a idade adulta
ressaltando outros valores como a responsabilidade e a autonomia adquiridas
durante esse processo. Para a autora, um fator importante que ajuda a determinar
essa fase da vida é o cuidado demandado pelos pais, ou seja, o cuidado
normalmente observado nos adultos em relação às crianças. O momento em que
essas “crianças” deixam de exigir esse cuidado e passam a cuidar de si próprios ou
de seus filhos, visto que justamente a maternidade é o alvo desse estudo,
caracteriza o processo de transição mencionado. Além desse, existem outros fatores
como a formação familiar, ingresso no mercado de trabalho, circulação mais ampla
no universo público etc., que ajudam a caracterizar o indivíduo nessa fase da vida.
Esse processo, ainda segundo Calazans, é caracterizado por diversas crises. Entre
elas “a crise da puberdade”, relativa às transformações corporais; “a crise da
adolescência”, associada à formação da identidade desses adolescentes e “a crise
da juventude” que é “fundada nas dificuldades de adequação ao mundo adulto e no
questionamento de normas e instituições sociais”.

19
Apenas Eduardo Quintana, citando trecho do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), faz uma
referência contrária a essa definição de adolescência. Segundo o ECA “adolescência é uma etapa
evolutiva peculiar ao ser humano, não podendo ser considerada meramente uma etapa da transição
entre infância e a idade adulta, pois é nela que culmina todo o processo de maturação biopsicossocial
do indivíduo”. Quintana, porém, também cita, em suas afirmações, que a adolescência é esse citado
período de transição (QUINTANA, 2004, passim)

15
Quintana (2004, p. 4) utiliza, em sua definição de “adolescente”, algumas
afirmações de Calazans, como o fato de ser esse um período de transição entre
“criança e adulto”, “dependente e autônomo”, em que se assumem
responsabilidades mesmo diante de tantos conflitos:

Ser adolescente é viver um período de transição entre criança


e adulto. É vivenciar novas experiências, reformular a idéia que
tem a respeito de si mesmo e transformar sua auto-imagem
infantil. Ser adolescente e viver entre o “ser e não ser”. É um
período confuso, de contradições, doloroso, caracterizado
muitas vezes por atritos de família e na escola; no ambiente
em que vive. Sociologicamente, é um período de transição do
estado de dependência para o de autonomia. É quando se
começa a assumir as responsabilidades do mundo adulto.

Para Barbosa, Montanari e Alves (2001, p. 16), assim com afirmam Quintana
e Calazans, a adolescência é caracterizada por um período muito confuso, em que
já não se aceita o termo “criança” como definição e, principalmente, em que se
começa a experimentar “as primeiras sensações do prazer sexual”. Ainda segundo
as autoras, nesse período da vida, o indivíduo acredita ser capaz “de qualquer
proeza”, ou seja, esse é um período em que existe grande autoconfiança por parte
desses adolescentes.
As autoras completam sua definição de “adolescência” demonstrando uma
visão negativa dessa fase da vida. Na visão das autoras

o adolescente se sente dono da verdade, capaz de qualquer


proeza. Age como se fosse o mais inteligente, o mais
poderoso, um indivíduo que só tem direitos, jamais deveres.
Questiona tudo o que lhe pedem, até porque, do seu ponto de
vista, não lhe fazem o que considera de seu direito. Não
permite que nada seu seja tocado, ao mesmo tempo em que,
muitas vezes, não respeita o que é de seus familiares.
Geralmente em casa é mal-educado, grosseiro e até pode ser
agressivo, (...) Como se sente pronto para enfrentar qualquer
situação da vida, não permite que nenhum familiar se intrometa
na sua vida afetiva, sexual, escolar e social, pois julga que não

16
se intromete na vida de ninguém. Tudo sempre dará certo na
onipotente certeza desses jovens.20

Belentani (2002, p. 16) é mais uma autora a definir a adolescência como um


período de transição. Para tanto, ela recorre a Calligaris 21, que afirma que a
adolescência “é também um tempo de transição, cuja duração é misteriosa”.
Também recorre, assim com fizera Quintana (2004), à Organização Mundial
de Saúde, que classifica “adolescência” como um período da vida que compreende
a idade entre os 10 e os 19 anos, em que se nota a passagem dos primeiros
caracteres sexuais para a maturidade sexual, acompanhada de alterações
psicológicas e de comportamento, configuração da identidade pessoal e início de um
processo de independência em relação aos adultos. Adolescência é ainda, para a
autora, um período de mudanças hormonais no organismo, como também
mudanças sociais, comportamentais e psicológicas.22
Mesmo havendo alguma divergência na classificação dos indivíduos como
“jovens” ou “adolescentes”, ou até mesmo sem que haja essa diferenciação, caso
dos trabalhos de Belentani e Barbosa, Montanari e Alves, pode-se afirmar que as
obras analisadas apresentam uma definição muito próxima para referir-se a essas
mulheres, cuja referência principal é o período de transição entre a infância e a
idade adulta, citada em todas as obras. Apesar de preferir o uso da palavra “jovem”,
segundo seu sentido sociológico, vou usar o vocábulo “adolescente” sempre que
discutir as idéias de autores que fazem uso dele. Acho que isso é fundamental para
transmitir, do modo mais fidedigno possível, as idéias e reflexões de Quintana,
Calazans, Belentani e Barbosa, Montanari e Alves, apresentados neste trabalho,
buscando, neste estudo comparado, não manipular qualquer resultado ou induzir o
leitor a conclusões fechadas.

20
BARBOSA, MONTANARI e ALVES, 2001, p. 31
21
CALLIGARIS, 2000, apud BELENTANI, 2002, p. 16
22
BELENTANI, 2002, p. 12

17
CAPÍTULO II – A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA:
UM PROBLEMA SOCIAL?

“...a gravidez na adolescência tem sido


construída como ‘problema social’ ou de saúde
pública. Os qualificativos ‘precoce’ e ‘indesejada’
sempre acompanham a caracterização do
fenômeno que representa, segundo concepções
médico-epidemiológicas, um desvio ou transtorno
para a vida do (a) jovem”.23

Minhas experiências como educador, o convívio com os pares, a pressão


exercida pela mídia e pelo senso comum e outros fatores externos sempre me
fizeram ter a visão única e distorcida da gravidez na adolescência como um grave
problema social, sempre vista somente como “indesejada”, “não planejada”,
“problema” etc. As taxas de natalidade entre meninas nessa faixa etária,
principalmente as pertencentes às classes sociais mais baixas, foram suficientes
pretextos, durante muitos anos, de meu preconceito movido por idéias pré-
concebidas e pelas influências externas, especialmente as exercidas pela mídia.
A presente pesquisa iniciou-se a partir dessa visão parcial e pouco
fundamentada em estudos desse pesquisador que buscava inicialmente uma
proposta de solução para esse grave “problema social”. Frustrei-me, porém, ao
encontrar várias conclusões, de autores diversos, sobre essa questão. Para muitos
essa questão não é encarada como um problema, pelo menos não maior do que a
gravidez em qualquer outra etapa da vida de uma mulher, talvez fruto de falhas
sociais, mas não uma delas. Para outros, o problema encontra-se na esfera da
saúde, e no risco que correm bebê e gestante quando essa é muito jovem, ou ainda
como fator primordial para o engrossamento das taxas, já alarmantes, de pobreza
vivenciadas cotidianamente. Alguns autores, entretanto, ainda trabalham sob o
ponto de vista de que esse é, definitivamente, um problema, tanto do ponto de vista
da saúde, como do social e educacional.
Neste capítulo pretendo comparar a visão dos autores e obras selecionados
para este estudo quanto ao fato de a gravidez na adolescência ser, ou não, um
23
CABRAL, 2003, p. 284.

18
problema, e quais são os estigmas e preconceitos observados, pelos autores, em
afirmações, tanto desses pesquisadores selecionados, quanto dos autores citados
em seus estudos.

1. Eduardo Quintana

Já na introdução de seu trabalho, “A gravidez na adolescência e sua relação


com a escola pública: visibilidade ou exclusão?”, uma dissertação de mestrado em
Educação defendida junto ao Programa de Pós Graduação do Centro de Educação
e Humanidades da Universidade Estadual do Rio de Janeiro, Eduardo Quintana cita
o resultado do Censo demográfico 2000, que, segundo o autor, retratou uma
“realidade desumana”, referindo-se às questões de gravidez e maternidade na
adolescência (QUINTANA, 2004. p. 02)
O autor utiliza o termo “problema” para referir-se as crescentes taxas de
gravidez na adolescência e a redução da idade das adolescentes que engravidaram,
segundo pesquisa da OMS, se comparada com pesquisas anteriores , além da
preocupação gerada nos diversos segmentos como saúde, assistência social,
psicologia, educação e família, citando, como base, os dados da citada pesquisa da
Organização Mundial da Saúde24. Segundo o autor, referindo-se a esses dados:

...as adolescentes estão engravidando mais e cada vez mais


cedo. O problema atinge países ricos como os Estados Unidos
e tão pobres quanto os da África Meridional, e vêm
preocupando profissionais da área da saúde, assistentes
sociais, psicólogos, profissionais da educação e familiares.

Ainda no mesmo capítulo o autor cita novamente o termo “problema”, dessa


vez para referir-se às conseqüências da gravidez, entre elas: “a interrupção da
gravidez através do aborto ilegal; o uso de medicação abortiva, como o Sitotec; o
casamento por conveniência e, por fim, ser mãe adolescente”.25 Nesse ponto, o que
mais me chamou à atenção foi a afirmação de que ser mãe nessa fase da vida está
entre os “problemas” das adolescentes. O autor cita ainda, no mesmo parágrafo, que
24
QUINTANA, 2004, p. 13
25
Ibid. p. 16

19
alguns desses problemas são geradores de exclusão social e exclusão educacional,
e que esses são mais graves que os riscos biológicos gerados pela gravidez. Ao
citar a gravidez como excludente, o autor reafirma a visão negativa que tem da
gestação entre meninas nessa faixa etária.
O termo “problema”, referindo-se à gravidez entre adolescentes, ainda é
citado em outras passagens, como no momento em que o autor se refere aos altos
índices de gravidez entre adolescentes26; quando se refere às falhas na educação
sexual27; bem como ao citar uma adolescente mãe como “autoridade entre as
colegas”, referindo-se ao poder de influência dessa adolescente diante de outras por
já ter vivenciado tal “problema” (nesse caso referindo-se ao fato de essa “ter sentido
na pele a falsa ludicidade da maternidade na adolescência”)28; além da introdução e
da conclusão, em que não cita o termo “problema” mas refere-se à gestação entre
alunas como um “fenômeno”, e à escola como “espaço privilegiado para seu
enfrentamento”. A importância da escola nesse processo será abordada no capítulo
subseqüente, porém cabe, nesse ponto, observar-se a posição do autor diante do
fato estudado, principalmente por atribuir à escola uma função de tamanha
importância social, se virmos, assim como o pesquisador em questão, a sexualidade
e a gravidez na adolescência como problemas sociais.
É importante destacar, nesse ponto, que a pesquisa realizada pelo autor é
fruto de um trabalho realizado em 2004, que teve como um dos procedimentos de
pesquisa o levantamento de informações através de entrevistas realizadas com
alunas (adolescentes gestantes ou mães) de uma escola da cidade do Rio de
Janeiro.
Entre os depoimentos registrados chamou-me à atenção o de duas
adolescente, cujos nomes fictícios “Cristina” e “Lílian” lhes são atribuídos. Apesar de
haverem depoimentos de quatro adolescentes, essas são as únicas que expõem
suas opiniões sobre a gravidez na adolescência, mesmo que timidamente através de
seus relatos. As outras entrevistadas apenas relatam suas vivências, não
qualificando o fato como positivo ou negativo.
Segundo Cristina, 20 anos, que foi mãe aos 15 anos:

26
Ibid, p. 93
27
Ibid, p. 85
28
Ibid, p. 86

20
É difícil né, é difícil e é legal. (...) eu tenho o apoio da minha
mãe, pra estudar, pra sair. (...) é uma responsabilidade que a
gente (...) vai ter (...) desde o momento que já tá grávida. (...)
Filho fica doente, filho gasta, filho come, filho tem plano de
saúde, tem isso, tem aquilo.

A mãe adolescente não encara a maternidade como um problema, ao


contrário, afirma ser “legal”, mesmo com as responsabilidades que cercam esse
acontecimento, porém ela não deixa claro se essas responsabilidades são um fator
positivo ou negativo.
Em outro ponto da entrevista com a adolescente, a mesma afirma não se
arrepender da maternidade ao afirmar que a gravidez foi fruto de uma única relação
sem uso de preservativo com um parceiro aparentemente fixo, seu único lamento é
quanto ao fato de o relacionamento com o pai de seu filho não ter se consolidado:
“...foi legal. Eu não me arrependo. Só me arrependo de não ter dado certo.”
Quintana afirma, referindo-se ao caso da adolescente citada, que existe
relação entre o fato observado, nesse ponto classificado como “acidente”, e a “falha
na educação sexual, falha no seu sentido mais amplo”, o que é classificado pelo
autor, como já citado neste capítulo, como um dos “problemas” dentro do contexto
observado, ou seja, no fato relatado pela adolescente.29
O autor, ao se referir à maternidade da adolescente em questão, deixa clara
sua posição quanto ao fato de a gravidez ser um fator negativo, e reconhece que a
aluna pode caracterizar uma “boa influência” para as demais adolescentes. Segundo
o autor30.

Ela, a aluna mãe, é, na verdade, o elemento que possibilita que


a informação se transforme em conhecimento, uma conversa
entre pares. Uma vez que, pelo fato de ter vivenciado o
problema, de ter sentido na pele a falsa ludicidade da
maternidade na adolescência, lhe confere autoridade diante
das colegas.

29
QUINTANA, 2004, p. 85
30
Ibid. p. 86

21
A aluna, ainda em entrevista ao citado autor, confirma o desejo de meninas
adolescentes em serem mães: “(...) elas são doidas para serem mãe. (...) elas falam:
- Eu sou doida para ter um filho”. Com essa afirmação a aluna deixa bem claro que
existe o desejo à maternidade, o que torna impróprio, nesses casos, o uso do termo
“indesejada” para referir-se à gravidez. Porém, em outro ponto da entrevista, a aluna
ressalta os aspectos negativos da maternidade, e afirma que incentiva às amigas a
não serem mães nessa fase da vida31.

Então não tem necessidade de elas terem um filho agora, vai


atrapalhar a vida delas, porque atrapalha. Querendo ou não
atrapalha, e ela não tiver assim, uma mãe, um pai, um parente
para dar apoio, elas nem continuar estudando, estudam.

Outra mãe adolescente entrevistada, chamada pelo autor pelo nome fictício
de “Priscila” relata o momento em que soube de sua gravidez:

(...) quando eu fui descobrir eu já estava com três meses. (...)


passou legal o tempo (...) Aí eu fui fazer o exame... eu não
fiquei triste, não fiquei mesmo (...) Ele (o pai do bebê) gostou...
tadinho. Ele ficou todo bobo.32

Para essa adolescente a questão da gravidez também não é encarada como


um fator negativo, tampouco para o namorado, que, segundo os relatos da mesma,
já residia com ela em uma relação marital, caso muito diferente de outra adolescente
entrevistada, chamada ficcionalmente de Lílian. Essa, grávida no momento da
entrevista e ainda abalada com o fato, pensou inclusive no aborto e lamenta não ter
perspectivas para o futuro. Faz-se importante ressaltar que a adolescente não vive
com o pai biológico, apenas com a mãe e um dos irmãos, sente-se rejeitada pela
família, está grávida de um primo paterno e, segundo o autor, teve a “infância
dilacerada pela volúpia incestuosa de um prazer estúpido”. A adolescente, relatando
seu histórico familiar afirma: “Eu não tenho contato com o meu pai (...), eu me sentia
rejeitada”33. E ao relatar o momento em que soube da gravidez completa:
31
Ibid, p. 87
32
Ibid, p. 101
33
Ibid, p. 103-105

22
Foi um choque terrível, tremendo, nossa! Até hoje, assim... Às
vezes quando eu paro pra pensar... É... Me pergunto como
aconteceu? Como é que eu pude? (...) Se não fosse por ele (o
primo), eu acho que eu me desesperaria na hora. (...) foi uma
coisa difícil pra mim, a primeira semana, a segunda semana,
eu chorava muito. (...) até hoje eu fico meio abalada com que
está acontecendo. A perspectiva do futuro, o que eu vou fazer
depois? Se eu chegar a ter essa criança, o que vai ser...

Na obra de Quintana, ainda podemos observar algumas afirmações de outros


autores citados, sobre a questão da gravidez na adolescência vista, ou não, como
um problema social. Para Campos e Moraes34, o recorte da questão considerando-
se apenas a idade das gestantes não é suficiente para qualificar a gestação como
problemática, se não se situar o fato histórica e socialmente. Já para Maria Luisa
Heiborn35, existe a necessidade de se considerar o fator idade como relevante, pois,
segundo a autora, existem diferenças consideráveis entre a gravidez de dois grupos
de meninas: as de 10 a 14 anos e as de 15 a 19 anos.
Lyra36, outro autor que discute essa problematização da gravidez na
adolescência, presente nas citações de Quintana, questiona a gravidez na
adolescência como um fator a ser classificado apenas como indesejado. Para o
autor, baseado em estudos empíricos, a maternidade pode ser provedora de alguns
benefícios para as adolescentes, e chama de “repressivas e excludentes” algumas
ações da sociedade, relativas à vida reprodutiva das adolescentes.
Quintana cita ainda Cavasin & Arruda37, que admitem a possibilidade de
existir uma gravidez desejada entre as adolescentes, porém tentam distinguir a
vontade da irresponsabilidade que pode estar incutida nesse desejo.
Alguns autores ainda têm uma visão tão negativa do que chamam de
fecundidade precoce quanto o próprio Quintana38. Para Camarano39 e Ferraz &

34
CAMPOS & MORAES, 1986, apud QUINTANA, 2004, p. 14
35
HEIBORN, 1998, apud QUINTANA, 2004, p. 14
36
LYRA, 1998, apud QUINTANA, 2004, p. 15
37
CAVASIN & ARRUDA, 1998, apud QUINTANA, 2004, p. 15
38
Confirmam essa afirmação todas as falas do autor em que a gravidez na adolescência é citada com
um grave problema social ( QUINTANA, 2004, passim)
39
CAMARANO, 1998, apud QUINTANA, 2004, p. 15

23
Ferreira40 a precocidade para a gravidez, mesmo que desejada, pode acarretar
resultados indesejados para as adolescentes, entre eles o abandono à escola.
As afirmações dos autores citados por Quintana e os relatos das
adolescentes entrevistadas, citados em sua dissertação, mostram visões diferentes
e pontos de vista divergentes das questões levantadas sobre a gravidez na
adolescência quanto a ser essa, ou não, um problema social. Visões diferentes tanto
no que diz respeito à sexualidade e à gravidez na adolescência quanto às questões
relacionadas aos recortes temporais e sociais, e divergentes por destacarem, alguns
deles, apenas os aspectos negativos da gravidez na adolescência, assim como o
próprio Eduardo Quintana, como por destacarem, outros autores citados, as
possibilidades de haverem conseqüências positivas, tanto para as adolescentes
grávidas quanto para as pessoas que mantêm relações diretas com essas futuras
mães.

2. Gabriela Calazans

Em sua dissertação “O discurso acadêmico sobre a gravidez na adolescência:


uma produção ideológica?”, apresentada em 2000 ao Núcleo de Estudos de Gênero,
Raça e Idade (NEGRI) do Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia
Social da Pontifícia Universidade Católica (PUC), Gabriela Calazans foi além de
simplesmente caracterizar a gravidez na adolescência como sendo, ou não, um
problema social. A autora estudou, em sua tese, essa problematização presente em
artigos publicados em periódicos científicos, e o papel da produção acadêmica na
configuração de um discurso social sobre a temática apresentada.
Já na introdução de seu trabalho, Calazans procura identificar as origens dos
conceitos atribuídos à gravidez na adolescência, principalmente dos fatores que
causam o estigma social quando se trata de adolescentes pobres. Segundo a
autora as instituições sociais produzem um discurso que “fragmentando a infância e
a adolescência pobres (em meninos de rua, prostitutas, usuários de drogas, grávidas
etc.), generaliza e atribui à família pobre lassidão moral”, e completa afirmando que,

40
FERRAZ & FERREIRA, 1998, apud QUINTANA, 2004, p. 15

24
“ao alimentar o imaginário sobre a pobreza, tal discurso (referindo-se ao discurso
produzido pelas mesmas instituições sociais) indica a incapacidade das famílias
pobres de dar conta de seus filhos.” (CALAZANS, 2000, p. 09 - 10).
A autora considera legítima a hipótese de que “jovens brasileiros pobres, em
alguns momentos, antecipem (em relação ao padrão, tido como dominante, ou seja,
da classe média) o acesso a um dos atributos da maturidade, o da reprodução e da
formação da família de procriação”, baseada em argumentos de diversos
pesquisadores, porém não classifica negativamente a gravidez entre adolescentes,
mantendo um certo distanciamento ao citar o que afirmam os pesquisadores por ela
estudados.41
Calazans afirma existir, nas produções acadêmicas que analisa, uma forte
ênfase no caráter de “indesejável” referindo-se à gravidez na adolescência, e
justifica sua afirmação ao citar estudos de Arilha-Silva42 e Lyra da Fonseca43,
apresentando dois componentes principais encontrados por esses no discurso
social: “o discurso dos riscos obstétrico-pediátricos e dos riscos psicossociais para
as adolescentes (...) e da des-responsabilização, ou esvaziamento da
responsabilidade, de meninos, pais ou parceiros sexuais das adolescentes”
Tanto o discurso acadêmico quanto o discurso adulto do senso comum,
afirma Calazans (2000, p. 16, 50, 142), refere-se negativamente a gravidez na
adolescência, qualificando-a como “precoce”, “indesejada”, “não-planejada”,
“problema” etc. Do mesmo modo, suas conseqüências, segundo tais discursos, são
sempre negativas. Afirma, ainda, existir no discurso acadêmico, “produzido e
veiculado por pesquisadores das Ciências Humanas, Sociais e da Saúde”,
caracterização da gravidez na adolescência “como um evento, em si,
necessariamente indesejável e prejudicial”, agravando-se na medida em que tal
discurso é consumido e reproduzido por vários elementos da sociedade, inclusive
por educadores44, e completa com a afirmação de Paula45 de que existe a premissa
social de que gravidez na adolescência é um drama social que acarreta
conseqüências “desastrosas” às jovens.

41
CALAZANS, 2000, p. 34
42
ARILHA-SILVA, 1999, apud CALAZANS, 2000, p. 11
43
LYRA DA FONSECA, 1997, apud CALAZANS, 2000, p. 11
44
CALAZANS, 2000, p. 17
45
PAULA, 1992, apud CALAZANS, 2000, p. 17

25
A autora destaca duas tendências, citadas por Rosemberg46, existentes na
bibliografia dedicada ao tema “gravidez na adolescência”, surgidas e mantidas na
década de 90, das quais:

A primeira tendência compreende a gravidez na adolescência


como uma ‘patologia’, um evento necessariamente indesejável,
pois carregado de conseqüências negativas nas esferas
biológica, psíquica e social. A reprodução nessa fase do ciclo
vital implicaria danos à saúde da adolescente e de seu filho,
má qualidade dos cuidados para com a criança devida à
imaturidade afetivo-emocional da mãe e prejuízos para as
adolescentes nas carreiras escolar, profissional, familiar e
conjugal. A segunda tendência (...) busca causas para a
gravidez entre adolescentes em amplos fenômenos sociais.
Mais precisamente, nas complexas inter-relações entre classe,
gênero e geração. (...) Essa abordagem caracteriza-se por não
pretender simplesmente o controle e a prevenção da gravidez
na adolescência, mas por propor políticas de acolhimento e
apoio aos adolescentes que tenham experimentado a
gravidez/concepção ou a maternidade/paternidade.

Outro incômodo citado pela autora, observado nas afirmações de Paula


(1992), é a inserção da gravidez em um percurso previamente traçado pela
sociedade (principalmente pela classe média), que compreende os estudos (seja a
conclusão de um curso técnico ou faculdade) e a realização profissional para,
posteriormente, incluir-se o casamento e finalmente a maternidade47. A fuga a esses
planos, como citado por Calazans ao reafirmar o que já dissera Rosemberg48,
ocasionaria, segundo o discurso acadêmico estudado pelas autoras, desfechos
desastrosos, como o aborto ou o abandono dessas adolescentes por parte das
famílias e seus companheiros, o que lhes imporia, como única possibilidade de
sobrevivência, a prostituição .
No decorrer de sua dissertação, Calazans cita inúmeros pesquisadores, e
afirma que todos têm essa visão negativa da gravidez na adolescência, sob os mais
46
ROSEMBERG, 1998, apud CALAZANS, 2000, p. 48
47
CALAZANS, 2000, p. 35
48
ROSEMBERG, 1993. apud CALAZANS, 2000. p. 51.

26
diversos argumentos. A autora reconhece, porém, que eventualmente podem ser
observadas “sugestões de ganhos, vantagens ou conseqüências positivas”,
referindo-se à gravidez entre adolescentes, nas obras por ela analisadas, porém,
classifica tais afirmações como “ambíguas” , visto que sempre são mencionadas
como “uma situação de difícil equacionamento”49, ou seja, por mais que apareçam
citações de possíveis benefícios ocorridos em conseqüência da gravidez, tais
citações sempre são acompanhadas de uma gama de aspectos negativos, o que
dificulta tal classificação como positiva. Como exemplo disso pode-se citar uma das
afirmações de Amazarray et al50:

No que diz respeito à resolução da crise de identidade, as


informantes parecem ter alcançado uma maior estabilidade nos
aspectos referentes à auto-estima e ao auto-conceito.
Entretanto, segundo o padrão encontrado, conclui-se que
algumas atitudes das entrevistadas não condizem com o papel
que acreditam estar exercendo, sugerindo que o senso de
identidade das mesmas ainda está em fase de resolução. Por
exemplo, de acordo com o padrão encontrado, as adolescentes
acreditam estar desempenhando um papel materno completo e
maduro, ao passo que continuam mantendo as mesmas
relações de dependência estabelecidas com seus familiares.

A única referência de aspectos realmente positivos citados pela autora remete


à opinião dos próprios adolescentes. Calazans cita a afirmação de Arilha-Silva 51 de
que existe a compreensão, por eles próprios, da maternidade/paternidade na
adolescência, como fator de responsabilização, ou seja, a gravidez caracterizaria a
passagem para a vida adulta, e toda a responsabilidade adquirida “teria
repercussões (positivas) em outras dimensões de suas vidas”. Para Calazans,
porém, essa visão não é compartilhada pelos adultos, que não vêem a gravidez
nesse período como uma forma de responsabilização dos adolescentes, e acreditam
que o processo, nesse caso, é o inverso do que tais adolescentes afirmariam. Para o
senso comum, primeiramente deve-se adquirir a responsabilidade necessária para

49
CALAZANS, 2000. p. 168
50
AMAZARRAY at al, 1998. apud CALAZANS, 2000, p. 168.
51
ARILHA-SILVA, 1999, apud CALAZANS, 2000, p. 18

27
se tomar tais decisões, como a maternidade/paternidade, para somente depois, já
possuidores dessa característica que classificaria os elementos como adultos, optar
pela gestação e não utilizá-la, irresponsavelmente, como um trampolim para essa
outra fase da vida. Segundo Calazans52 “enquanto os jovens acreditam que algumas
experiências concretas, tais como a da reprodução, levam-nos a realizar tal
passagem, os discursos adultos enfatizam que se deveria garantir a efetivação
dessa transição para que, somente então, ocorram as experiências da reprodução”.
Calazans afirma ainda, em sua pesquisa, que a adjetivação, presente nas
obras acadêmicas, das gravidezes na adolescência, difere completamente da que é
atribuída às gravidezes entre as mulheres adultas. Segundo a autora, referindo-se
aos estudos analisados por ela, para essas cabem adjetivos relacionados à
legitimidade, ao desejado, ao planejado enquanto para as adolescentes, cabe o não-
desejado, o não-planejado, o ilegítimo, em afirmações que classificam a sexualidade
dessas adolescentes como “irresponsável, descontrolada, impulsiva, instável,
experimental” etc53.
Apesar de ressaltar tantos aspectos negativos relacionados, pelos
pesquisadores contemporâneos, à gestação entre adolescentes, a autora não faz
dessas afirmações as suas próprias. Buscando se distanciar, Calazans faz um
panorama das obras acadêmicas com o intuito explicito de evidenciar a dialética
apresentada em obras publicadas por pesquisadores, principalmente os da área da
saúde. A pesquisadora demonstra, porém, sua insatisfação diante da forma como o
tema está sendo abordado e propõe que se reconsidere a compreensão da gravidez
e da sexualidade na adolescência enquanto “desvios”. Entre as quatro obras
analisadas nesta monografia, a de Calazans é a única que não faz menção à
maternidade adolescente como fator negativo no contexto social, porém, não afirma
ser, tal fato, algo positivo ou que devesse ser alvo de incentivo, critica apenas a
forma como o discurso é apresentado, muitas vezes, preconceituosa, estigmatizada
ou generalizadamente.
Por não classificar positiva ou negativamente a gravidez na adolescência,
apenas ao fazer um levantamento de obras que tratam do tema e apresentar a
forma como esse é desenvolvido, a autora não se obriga a sugerir propostas de
52
CALAZANS, 2000. p. 18
53
Ibid. p. 173, 174

28
enfrentamento para a gestação e maternidade entre adolescentes, visto que não
apresenta o tema como um problema social, diferentemente dos outros autores
citados, que assim o classificam. Além disso, a autora apresenta um estudo sobre
obras desenvolvidas na área da saúde, e não na área da educação, o que reduz
ainda mais as possibilidades de encontrar-se a escola sugerida como forma ou
espaço de enfrentamento das questões propostas.

3. Léia Pettenuci Miranda Barbosa, Sônia Maria Montanari e Vera Lúcia


Guastalle Alves

Já na justificativa de seu trabalho, a monografia de conclusão de curso


“Reflexões na escola sobre as causas da gravidez na adolescência”, apresentado ao
Curso de Especialização em Ensino de Ciências da Universidade Estadual Paulista
– UNESP – Campus de Presidente Prudente, as autoras afirmam que, após
levantamento do número de adolescentes gestantes matriculadas na escola em que
trabalham, viram-se “abaladas” e “profundamente preocupadas”. Justificam a
realização de seu estudo com a possibilidade de “coletar dados e tentar contribuir de
forma eficaz para a diminuição do número de adolescentes grávidas (na citada
escola) e buscar maneiras de intervenção e superação da realidade atual”54.
Com tais informações é possível observar que, para as autoras, a gravidez na
adolescência é um grave problema social, na medida em que essas procuram
afirmar o caráter negativo da gestação entre meninas em idade escolar. Tal
informação reforça-se em outras citações das autoras, como na em que se referem
à gravidez entre adolescentes como sendo “uma das grandes preocupações deste
nosso mundo pós-moderno”. Para as autoras, o aumento no número de
adolescentes grávidas é visto pela sociedade como uma “inversão moral”, e que “o
fato”, referindo-se à gravidez entre adolescentes, é mais observado entre as classes
mais baixas da sociedade, às quais são citadas na obra como “menos abastadas”.55
A visão negativa das autoras sobre a gestação nessa fase da vida é
reafirmada ainda em outros trechos de seu trabalho, como nesta afirmação: “...um
problema a ser solucionado, uma ‘epidemia’ que deve ser detida, um mal a ser
54
BARBOSA, MONTANARI e ALVES, 2001, p. 05
55
Ibid, p. 34

29
extirpado, a incidência da gravidez na adolescência vem crescendo nestes últimos
anos”. E a classificam, ainda, como “uma das conseqüências mais sérias e com
mais fortes repercussões na vida sexual dos jovens”56.
Segundo as autoras, toda essa problemática se justifica pelo fato de, a mãe
adolescente, ter seus estudos e sua profissão dificultados, além de ter de assumir
responsabilidades. Citam ainda a dificuldade de inserção no mercado de trabalho,
ou a submissão diante de salários reduzidos visto que elas, as mães adolescentes,
não possuem “larga qualificação” em função do não término de seus estudos.
Barbosa, Montanari e Alves chegam a classificar a gravidez como uma experiência
“rica e bem-vinda”, porém não para as “jovens” (atente-se aqui para a não
continuidade na utilização do termo “adolescentes” pelas autoras57), visto que essas
ainda “não se encontram com recursos para desfrutá-la” 58, sem citar, no entanto,
quais seriam esses recursos necessários para o efetivo direito à maternidade.
Na conclusão do trabalho, porém, as autoras admitem existir o caráter de
“desejável” em alguns casos de gravidez, e justificam59:

É preciso ir mais longe; entender que muitas meninas


engravidam porque o desejam, porque alimentam um sonho de
que estarão se realizando sendo mães, porque acreditam que
é isto que o namorado quer, porque querem ser vistas como
adultas, além das que engravidam para casar-se, etc.

4. Ketriri Cristina Belentani

Belentani, (2002, p. 11) utiliza em sua monografia “Grávidas e


desinformadas? Estudo sobre as falhas da educação na prevenção da gravidez
entre adolescentes de Taquaritinga-SP”, apresentada ao Curso de Especialização
em Saúde Pública da Faculdade de Ciências Farmacêuticas da Universidade
56
Ibid., p. 35
57
Ver Capítulo I, p. 19
58
BARBOSA, MONTANARI e ALVES, 2001, p. 38
59
Ibid., p. 55

30
Estadual Paulista – UNESP – algumas definições utilizadas pelo Ministério da Saúde
para definir adolescência. Para a autora, utilizando-se de dados do citado Ministério,
a gravidez entre adolescentes é classificada como “de risco”, entre outros fatores,
se ocorrer, entre outros fatores, em mulheres:

- com idade menor que 15 anos


- com situação conjugal instável
- com baixa renda familiar
- com baixa escolaridade

Em sua monografia, Belentani (2002, p. 25) reafirma e consolida sua visão


negativa da gestação entre essas meninas afirmando que a gravidez na
adolescência é um agravante nas dificuldades já enfrentadas pela mulher brasileira
para ingressar no mercado de trabalho.
A autora se refere à gravidez na adolescência, ainda, como “precoce” e
“problema”. Na análise de seu trabalho, encontrei diversas ocorrências desses
termos, referindo-se à gravidez de meninas com idade igual ou inferior a 19 anos.
Nas 38 páginas referentes ao corpus da monografia, ocorrem 9 aparições do termo
“precoce” (páginas 23, 24, 32, 33 e 34, com uma menção cada, e páginas 22 e 26,
com duas menções ao termo em cada uma das páginas) enquanto o termo
“problema” pode ser encontrado, com a mesma referência, 7 vezes (páginas 12, 13,
26 e 33, com uma menção cada, e página 32, com três citações do termo referindo-
se à gravidez entre adolescentes), inclusive atribuindo à gestação a característica de
“causa do desvio do adolescente da sua trajetória esperada”, ou seja, atribui-se à
gravidez a não concretização dos planos feitos, pelos adultos, para essas
adolescentes. Porém, não são mencionados, nesse ponto da monografia aqui
analisada, os planos traçados pelas adolescentes para si próprias, o que não deixa
evidente a característica de “problema” sob o mais importante ponto de vista, o de
quem protagoniza o fato, enquanto se valoriza exacerbadamente a visão da massa
que assiste insatisfeita ao “espetáculo”.
Belentani (2002, p. 24), porém, justifica seu ponto de vista sobre a gravidez
na adolescência como sendo algo negativo. Para a autora, a gravidez entre
meninas nessa faixa etária é prejudicial, na maioria dos casos, por ter como

31
conseqüência o abandono aos estudos e prejuízo na profissionalização dessas
meninas, tudo em função de ela, a mãe adolescente, ter que cuidar de uma criança
recém-nascida. Classifica ainda o fato como “preocupante” e faz uma “previsão”
para essas jovens:

Provavelmente, quando for trabalhar, ganhará baixos salários,


devido à baixa qualificação que possui já que ainda não
completou os estudos, terá que se submeter a empregos
menos qualificados. Para poder estudar, trabalhar ou exercer
atividades de lazer, necessitará de ajuda no cuidado com a
criança.(...) Assim, os jovens acabam empobrecendo uma
capacidade que poderia ser largamente desenvolvida e
desfrutada mais tarde na vida.

A sexualidade e a gravidez na adolescência, como podemos notar através da


análise das quatro obras, muitas vezes são consideradas precoces e classificadas
como problemas sociais. Para esses pesquisadores, excetuando-se Calazans
(2000), tais questões devem ser discutidas e tratadas como algo a ser enfrentado.
Para tanto não bastaria somente classificar o tema objeto desses estudos
negativamente, faz-se necessária a apresentação de propostas de contrapartida que
contemplem as inquietações causadas aos estudiosos e à sociedade por essas
experiências vividas pelas adolescentes.
Tais propostas estão inseridas no corpus de cada trabalho analisado em que
a classificação de gravidez na adolescência é vista como fator negativo, e a escola
aparece, nos trabalhos de Quintana (2004), Belentani (2002) e Barbosa, Montanari e
Alves (2001), como uma das possibilidades de se combater tal fator tido como
indesejado. Apenas Calazans (2000), como visto no item 2 desse capítulo, não
sugere que se deva combater a gravidez entre adolescentes, assim como também
não a defende, apenas investiga alguns trabalhos acadêmicos que abordam o tema,
não apresentando, portanto, sugestões de enfrentamento a tal questão, tampouco
citando a escola como uma dessas possibilidades.

32
CAPÍTULO III – SEXUALIDADE, GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA E SUAS
RELAÇÕES COM A ESCOLA PÚBLICA

As condições de mundo e os paradigmas teóricos só são


passíveis de mudança se houver condições favoráveis para sua
transformação, e a escola não está fora desse plano de construção
e de transformação da realidade.60

Através da análise das quatro obras utilizadas como fontes bibliográficas


neste trabalho, pretendo observar como os pesquisadores investigados pensaram e

60
QUINTANA, 2004, p. 89

33
interpretaram a função, tanto da escola, enquanto espaço de formação, quanto dos
profissionais docentes, cuja ligação com as adolescentes se faz de forma direta, e
quais responsabilidades atribuíram a essa instituição no enfrentamento daquilo que
classificam como problemas sociais. Faz-se importante lembrarmos, porém, que
apenas três obras fazem alusão à gravidez na adolescência como fator negativo,
sejam o de Quintana (2004), o de Belentani (2002) e o de Barbosa, Montanari e
Alves (2001), visto que, como já destacado neste trabalho, a obra de Calazans
(2000) apenas analisa estudos acadêmicos sem que haja intervenção da autora no
tocante a classificação da gravidez entre adolescentes como fator positivo ou
negativo.
Para Quintana (2004, p. 03) não é função da equipe escolar enfrentar esse
“problema”61, porém a escola, enquanto espaço de grande concentração de jovens,
pode se constituir um ambiente privilegiado para se combatê-lo, ou seja, mesmo não
sendo sua principal função, tal instituição torna-se um espaço ideal para tratarem-se
tais questões. O autor, porém, não cita a quem caberia tal função, já que não
responsabiliza a equipe escolar. O autor ainda cita a escola como “o lugar ideal para
se discutir sobre a superexposição do corpo e da sexualidade humana, da
erotização precoce de nossas crianças, das relações de gênero e de debater sobre
essa pulsante realidade pelas quais passam nossos adolescentes”.
As opiniões dos docentes entrevistados pelo autor, porém, se divergem muito
nesse ponto. Alguns depoimentos tentam eximir, à escola, a responsabilidade de tal
enfrentamento, enquanto outros são enfáticos em depositar tal responsabilidade
nessa instituição de ensino. Segundo Rosângela, uma das professoras entrevistadas
por Quintana, cabe à sociedade discutir tais questões, enquanto, à escola, cabe o
ensino e a construção do conhecimento62:

A expectativa da escola deveria ser trabalhar a questão da


construção do conhecimento. Então eu acho que essa questão
da gravidez na adolescência não é uma questão pra escola
61
O autor afirma nesse ponto que não é função da escola o enfrentamento da gravidez na
adolescência, porém, no decorrer de sua dissertação, são encontradas afirmações que comprovam
justamente o contrário, ou seja, o autor afirmará em outros pontos que tais questões são de
responsabilidade da escola. (QUINTANA, 2004, passim)
62
Ibid. p. 64

34
enfrentar, eu acho que isso é uma questão social, como outras
questões que interferem na escola [...] então que não cabe a
escola estabelecer estratégias de enfrentamento.

Segundo o autor63, a professora Rosângela é formada em escola normal e já


atua há muitos anos na área da educação. Formou-se posteriormente em
pedagogia, fez orientação educacional e magistério. Atua como orientadora
educacional em escolas do município do Rio de Janeiro, é aposentada pela rede
municipal de ensino da mesma cidade. À época da entrevista concedida a Quintana,
trabalhava em uma escola municipal como orientadora educacional. Acredito que,
após ter dedicado toda sua vida profissional a atividades relacionadas à educação, a
professora tenha base suficiente para sustentar suas afirmações, o que lhe conferiria
certa idoneidade.
Já para outra entrevistada, chamada por Quintana pelo nome fictício de
Cássia, existe a responsabilidade da instituição, e tal responsabilidade deve ser
assumida pela direção da escola. Segundo tal relato64:

É claro que não há uma unanimidade, mas eu vejo não como


apenas o meu ambiente de trabalho, mas um lugar onde eu
possa ser útil ao meu semelhante, onde eu venho transmitir
conhecimento sim, com um horário preestabelecido sim, mas
que é muito mais do que o professor que vem cumprir com o
seu trabalho.

Quintana65 ainda afirma que registrou, em sua pesquisa, tanto manifestações


de resistência quanto vínculos de sociabilidade e de integração nas afirmações das
entrevistadas. O autor, nesse ponto, se contrapõe às manifestações de
discordância dos docentes em relação à aceitação da escola como espaço para se

63
Ibid. p. 57
64
Ibid. p. 64
65
QUINTANA, 2004. p. 63, 64

35
combater a gravidez entre adolescentes e responsabiliza os estigmas sociais pela
oposição desses profissionais a tais questões:

O tema da gravidez na adolescência choca a sociedade porque


esta, equivocadamente, o estigmatizou [...] levando-se em
conta que no imaginário de pais, professores/as e alunos/as, a
díade educação/sexualidade se configura um campo de
tensão, instabilidades, e , em última instância, num tabu.

O autor ainda incumbe a escola do enfrentamento da gravidez na


adolescência ao afirmar que a família delega a essa instituição de ensino as funções
que, de fato, lhe pertencem, enquanto a escola observa a ausência da instituição
familiar apresentando tal fato como um inibidor de possibilidades, ou seja, a escola
afirma que, sem o apoio da família, as possibilidades de atuação diante dos
“problemas” relativos à sexualidade e à gravidez na adolescência ficam escassas
enquanto a família se exime totalmente das responsabilidades atribuindo-as
unicamente às instituições educacionais66.
A partir dessa afirmação, o autor afirma que as duas instituições “andam em
círculos”, enquanto uma tenta atribuir à outra as responsabilidades na educação dos
adolescentes, e propõe um efetivo diálogo entre as partes, questionando e
rediscutindo as práticas e as atitudes diante no processo de formação do cidadão.
Tais atitudes, de transferência da responsabilidade entre família e escola, são
justificadas pelo autor. Para Quintana67, os pais já não tem tempo para educar seus
filhos, enquanto a escola encontra obstáculos para cumprir esse papel. Entre esses
obstáculos, o autor cita o despreparo da escola para exercer tal função e a própria
família, que ainda carrega estigmas e preconceitos, e dificulta o trabalho dos
educadores questionando a forma como temas como drogas e sexualidade devem
ser abordados (isso quando aceitam que sejam abordados). Ângela, uma das
professoras entrevistadas por Quintana, afirma:

66
Ibid. p. 70
67
Ibid. p. 71

36
A família joga a bola às vezes pra escola. Mas ela, de uma
certa forma, quer definir, aquilo que ela gostaria que fosse
oferecido ao filho. Ainda há pessoas que temem a informação,
que ela aguça a curiosidade. Discutir sobre droga iria
incentivar o uso, discutir sobre a gravidez na adolescência iria
estimular a gravidez na adolescência. Eu creio que essas
barreiras são do próprio medo, da própria dificuldade da
educação desses filhos que os pais, às vezes, impeçam esse
trabalho.

Quintana, porém, não acusa a escola de omissão, ao contrário, afirma


existirem efetivas tentativas de se cumprir com tal responsabilidade por parte dessas
instituições. Para o autor, as escolas já discutem o tema, já trabalham com tais
informações, porém tais esforços não estão sendo suficientes. Em suas entrevistas,
tanto com alunas quanto com professores, pode-se constatar que existem esforços
nesse sentido, tanto no que diz respeito ao que é cobrado pelos métodos avaliativos
externos, ou seja, o conteúdo inerente às disciplinas que devem abordar o tema,
quanto ao que é cobrado pela sociedade, no que diz respeito à conscientização e
responsabilização dos adolescentes68.
O autor ressalta, ainda, a fala dos educadores que destacam seus esforços
nesse processo de formação, seja ao sugerir aos jovens debates sobre o tema, seja
ao desenvolver projetos que os conscientizem e lhes esclareçam as questões sobre
sexualidade e gravidez. Quintana, baseado no discurso docente, parece passar a
atribuição da responsabilidade das altas taxas de gravidez entre adolescentes, aos
próprios adolescentes. Visto que o autor eximiu a responsabilidade à família, uma
vez que a transferiu para a escola, e após afirmar que existe participação efetiva da
escola na formação do cidadão, tanto no que diz respeito à informação quanto à
conscientização, tal responsabilidade passa a ser atribuída aos atores principais no
cenário da gravidez entre adolescentes.
Nessa visão, tomada dos educadores, o que falta é diálogo entre os próprios
parceiros sexuais. Haveria, portanto, consciência dos adolescentes nesse fato,
68
QUINTANA, 2004. passim

37
porém, no ato sexual, é o corpo e a emoção que falam mais alto. Sob esses
argumentos, poder-se-ia afirmar, ainda, que em muitos casos, os adolescentes
portam o preservativo, mas deixam-se levar pela emoção e não o utilizam, em um
momento em que “a informação deixa de existir”69.
Freqüentar a escola, para o autor, não é suficiente para que se combata o
que ele classifica como “problema dos altos índices de gravidez na adolescência”. O
autor afirma que é necessário que se receba a informação, mas que se a
compreenda, e cita outros fatores como a baixa escolaridade, a falta de auto-estima,
a falta de perspectiva, as violências sofridas pelas adolescentes e o nível social,
como co-responsáveis nesse processo70.
Quintana aponta ainda, no caso específico do estado do Rio de Janeiro, onde
realizou sua pesquisa, o descaso da Secretaria Estadual de Educação (SEE) com os
projetos sociais desenvolvidos nas escolas. Segundo o autor, os projetos são
válidos, e são uma opção viável para se tratar das questões de sexualidade e
gravidez entre adolescentes, porém não se concretizam, e tudo o que ele observou
“não passam de tentativas dissimuladas em projetos que são abandonados após
sua implantação”. Grande quantidade desses projetos, afirma, são arquivados, até
mesmo para que sejam posteriormente revitalizados e, então, novamente
engavetados.
Para o autor, a imposição dos projetos, sem a participação efetiva da
comunidade escolar em sua elaboração, é algo que dificulta o trabalho dos
profissionais envolvidos. Para que se alcancem resultados realmente satisfatórios, é
necessária a participação da escola em que o projeto será desenvolvido,
principalmente porque são os profissionais da educação e a comunidade local que
podem afirmar quais são os pontos principais a serem buscados, quais os principais
problemas vividos pela escola e quais as possíveis soluções.
No caso da sexualidade, caberia à escola, sob o ponto de vista de Quintana,
participação na elaboração desses projetos visando maior envolvimento dos
docentes que serão os multiplicadores dos ideais propostos, em contato direto com
os adolescentes. Segundo os professores entrevistados por Quintana, falta a
abertura para a participação deles na elaboração dos projetos, visto que o “pacote” ,
69
Ibid. p. 75, 76
70
Ibid. p. 93, 94

38
como os chamam, já chega pronto, e é encaminhado aos docentes que, muitas
vezes, não sabem muito bem o que vão encontrar. Além disso, ainda segundo o
autor, não existem recursos, tampouco apoio, para a realização desses projetos,
principalmente no tocante à concessão de tempo para a realização das atividades.
Belentani, 2002, apresenta uma realidade diferente da apresentada por
Quintana, principalmente no tocante a discussão dos temas sexualidade e gravidez
no ambiente escolar. Tais diferenças entre os sujeitos e as práticas investigadas
podem ser justificadas, entre outros fatos, por se tratarem de lugares cujas políticas
e projetos para a educação são bastante diferentes. Um autor apresenta os estudos
realizados em escolas públicas da capital fluminense, um dos mais importantes
centros urbanos e culturais do país, enquanto a outra apresenta dados coletados
junto a uma instituição pública de ensino em Taquaritinga, uma pequena cidade no
interior paulista.
Segundo a autora, baseada nos dados estatísticos que apresenta em sua
obra, as adolescentes alegam não discutirem, na escola, os temas citados. Os
dados apresentados indicam que 55,6% das adolescentes alegam conversar apenas
“às vezes” sobre os temas na escola, enquanto 33,3% afirmam que nunca falam
sobre sexualidade e gravidez nessa instituição. (BELENTANI, 2002, p. 45). A autora
firma ainda:

O que podemos observar é que a educação escolar não está


suprindo as dúvidas e ansiedades sobre sexualidade, pois os
adolescentes possuem conhecimento sobre os métodos
contraceptivos, porém são superficiais, porque o assunto é
abordado na escola pelos educadores, na grande maioria
apenas de forma superficial. 71

Outra realidade, porém, é apresentada em sua própria fala, em que afirma,


em sua visão de educadora, que o “problema”, referindo-se à gravidez entre
adolescentes, também classificada como “precoce”, é presenciado cotidianamente e

71
BELENTANI, 2002, p. 47

39
tenta-se abordar tal tema com a mesma freqüência, de acordo com o que é proposto
pelas políticas educacionais. Nesse caso, a falha estaria, segundo afirma, na forma
como o tema é abordado, visto que se tenta “inculcar” valores da classe média para
esses adolescentes classificados pela autora como “indivíduos cuja classe social é
menos favorecida”, em um processo gerador de um “abismo da distância social” que
prejudica a comunicação entre os educadores e os adolescentes72.
Em sua conclusão, ainda no tocante à discussão do tema, ou sua ausência,
no ambiente escolar, a autora sugere, como proposta de solução para a questão,
sua abordagem de forma exaustiva no cotidiano dos adolescentes, o que reduziria,
segundo Belentani, os índices de gravidez e a transmissão de doenças sexualmente
transmissíveis entre os mesmos73.
A autora porém, nesse ponto, não sugere a mudança na forma como o tema é
abordado, o que se faria necessário, considerando-se a afirmação anterior que
admite existirem problemas de comunicação entre as parte envolvidas no processo,
apenas indica, em outro trecho de seu trabalho, que a “orientação” sobre
sexualidade seja feita aos jovens de maneira diferenciada em substituição à forma
imposta com a qual é apresentada, e que se priorize a participação dos pais em uma
abordagem que não apenas trate das questões da gravidez, mas também que se
destaque as questões de saúde74.
Para Barbosa, Montanari e Alves (2001, p. 10), reafirmando o que dizem
alguns pesquisadores, nunca houve tanta informação sobre sexualidade e métodos
contraceptivos aos adolescentes, não só partindo da escola, mas também de outras
instituições. Nessa obra, as autoras atribuem à escola, um papel fundamental na
formação para a sexualidade dos adolescentes, e na sua inserção na sociedade em
que vivem, e denunciam o descaso do poder público em assumir para si tal
responsabilidade.75
Ainda segundo essas autoras, outro fator que prejudica o cumprimento, pela
escola, de suas funções, é a crescente responsabilidade atribuída aos educadores
pela sociedade e pela própria instituição de ensino (provavelmente referindo-se à
direção e/ou coordenação, ou ainda aos órgãos que supervisionam ou regem a
72
Ibid. p. 32
73
Ibid. p. 47
74
Ibid. p. 29
75
Barbosa, Montanari e Alves 2001, p. 20, 21

40
instituição). Afirma que esta não mantém controle algum sobre o que acontece nas
aulas, demonstrando posições que tentam selecionar conteúdos e disciplinas que
deverão abordar o tema, enquanto as autoras defendem a livre decisão, tomada
tanto pelos educadores quanto pelos próprios adolescentes, por afinidades, tanto
nas disciplinas, como as que envolvem relações interpessoais76:

Hoje a educação sexual é indiscutível e nenhuma escola para


adolescentes deixa de abordá-la. A questão, agora, não é
decidir se trata ou não do assunto, mas sim saber como lidar
com ele. Por enquanto, a maioria das escolas deixa o assunto
nas mãos dos professores e não tem muito controle sobre o
que eles falam em classe ou conversam nos corredores com
os alunos. E muitas vezes os alunos escolhem professores de
outras disciplinas (não o escolhido pela escola) em quem
confiam e que se mostram mais abertos à aproximação. É um
aspecto importante, apesar de a escola incidir, o aluno é quem
escolhe, nos intervalos, ou em sala de aula, quem vai orientá-
lo.

As autoras fazem alusões a algumas questões também abordadas por


Quintana (2004), como a utilização de projetos que contemplem o tema objeto desse
estudo e a reação contrária das famílias diante da abordagem desses mesmos
temas.
Assim como fizera Quintana, no que se refere aos projetos, Barbosa,
Montanari e Alves citam a forma como são apresentados como possíveis soluções
para algo que é encarado como problema, a gravidez entre adolescentes, e
concluem, ambas as obras, que tais projetos não surtem o efeito desejado. Barbosa,
Montanari e Alves, entretanto, não citam a origem dos projetos, seu destino
específico, a forma como são aplicados ou os resultados obtidos, faz apenas uma
breve menção à opinião dos alunos atendidos por tais projetos77.

76
Ibid. p. 22
77
Ibid. p. 23

41
Quanto à reação dos pais diante da abordagem de temas como a
sexualidade, as autoras são enfáticas ao afirmar, também como fizera Quintana, que
esses são muitas vezes contrários e mantêm posturas rígidas contra a exposição
dos filhos a temas tidos como pervertidos78:

...os pais ainda não aceitam tranqüilamente que se toque no


assunto no primeiro grau. O medo tanto dos pais como
também por parte da escola é que estas crianças despertem
precocemente para o sexo (...). ainda acontecem casos nas
primeiras séries do ensino fundamental, segundo ciclo (quinta
e sexta séries), onde os pais, ao serem informados pelos filhos
que haverá aula sobre educação sexual, não deixam seus
filhos irem à escola para poupá-los desse assunto tão
“pervertido”.

Por fim, as autoras concluem que é necessário que haja a efetiva participação
da escola no processo de transformação da realidade observada, referindo-se às
taxas de gravidez entre adolescentes, e sugerem que seja feito um trabalho de
forma “aberta”, sem preconceitos e, na ocorrência da gravidez, que haja contato com
a família da adolescente e esclarecimento sobre “repercussões psicossomáticas” da
gravidez, os possíveis riscos e a necessidade da existência de apoio e
compreensão79. Para tanto as autoras citam, em outro ponto de seu trabalho, a
necessidade de haver “uma atenção mais qualificada”80, o que se faz necessário à
coerência dos fatos, visto que em outros pontos, inclusive em outras obras, os
educadores são citados como despreparados para cumprir tais funções81.

78
Ibid. p. 24
79
Ibid. p. 55
80
Ibid. p. 41
81
Ibid. passim

42
CONSIDERAÇÕES FINAIS

A escassez de trabalhos acadêmicos que abordem a sexualidade e a


gravidez na juventude em uma óptica educacional foi primordial para que eu
percebesse o aparente descaso dessa área de conhecimento acerca de um tema
tão valorizado em outras áreas. Os estudos de Gabriela Calazans (2000) e suas
afirmações de que entre suas fontes de pesquisa não havia trabalhos da área da
educação me instigaram a buscar respostas para questões que há tempos são
apresentadas, e para as quais, aparentemente, não existem iniciativas concretas na
busca por respostas.
Algumas dessas questões cercam o profissional docente, que lida com os
temas, apontados neste estudo, em seu cotidiano, e para o qual é atribuída
incansavelmente a responsabilidade pelo combate de todas as práticas identificadas
como “problemáticas” para a vida social.

43
Um desses “problemas sociais” é a gravidez de meninas com idade entre 10 e
19 anos, para as quais se traçam projetos que apenas incluem atividades escolares
e de preparação profissional, além de uma gama de responsabilidades que
envolvem a instituição familiar, seja no tocante à submissão aos pais, seja na
responsabilidade de preparar-se para formar uma nova família, desde que, para
tanto, sejam galgados degraus que incluam em sua base uma formação profissional
sólida, e somente no topo a maternidade.
Em todas as pesquisas que analisei, os autores concordam com as
afirmações de que cabe à escola combater o que classificam como problema, a
gravidez na adolescência. Dentre esses trabalhos, apenas o de Gabriela Calazans
(2000) não se referia à gestação nessa fase da vida como sendo um grave problema
social, nem à escola como principal forma de se combatê-lo, conquanto a autora
também não atribua apenas aspectos positivos a essa questão.
Ao atribuir tais responsabilidades aos profissionais docentes, os
pesquisadores investigados esbarram em outro problema, o despreparo das
entidades e dos profissionais docentes no cumprimento da atribuída função de
educar e orientar os adolescentes no tocante à sexualidade. Atribui-se então tal
papel aos órgãos governamentais responsáveis pela educação, tanto no
planejamento quanto no desenvolvimento de projetos que contemplem a educação
para a sexualidade, indicando-se que não só conscientizem os jovens, mas também
que os apóiem caso esses venham a experimentar a gravidez ainda enquanto
adolescentes. Para tanto, ainda se insiste tanto na necessidade do apoio da família
nesse processo, quanto se reitera a importância do apoio das instituições de ensino
no processo de formação dos adolescentes.
Observa-se, ainda, a insistência para que haja tanto uma participação efetiva
na vida deles, contribuindo para que se evitem tais “problemas” como também para
que ocorra a ressocialização das jovens mães. Nesse “jogo” de responsabilidades,
não se define, com clareza, a quem cabe ajudar a resolver os problemas que
envolvem a educação para a sexualidade, a gravidez na adolescência e o apoio às
jovens mães. Nos três trabalhos que discutem o envolvimento da escola, é notório,
entretanto, que não há nenhuma tentativa de responsabilização do próprio meio
acadêmico que tem como uma de suas funções formar profissionais preparados na

44
formação de jovens para o exercício da cidadania. Também não se observam
definições mais precisas quanto ao que “fazer” no âmbito do trabalho escolar. São
desconsiderados os procedimentos e as ações a serem desenvolvidos, levando-se
em conta as reais condições da formação dos professores e as atuais características
organizativas das escolas públicas brasileiras.
Segundo Moreira (2005, p. 158,159) é necessário formar professores “a partir
de estudos e debates mais consistentes acerca do sujeito e do mundo que se
pretende construir”. Afirma ainda que “os cursos de formação de professores
deveriam tomar como elemento central da organização de seus currículos o
propósito de um debate sobre a idéia de sujeito, prática social, sociedade e
conhecimento”.

45
Apêndice I – Relação dos descritores utilizados na pesquisa por títulos na base de
dados “Athena” da Universidade Estadual Paulista. 42

1. Gravidez + adolescência43

Resultado

# Autor Título DataPub. Edição Bibliot.


FREIRE, Fac.-H.-D.-
GRAVIDEZ
1 AMANDA e-S.S.---
PRECOCE :
VALERIA Franca
TROCCHIO,
Fac.-H.-D.-
MARIA GRAVIDEZ NA
2 e-S.S.---
ANTONIETA ADOLESCENCIA :
Franca
DI
O
CINTRA, AMADURECIMENTO Fac.-H.-D.-
3 SORAIA PRECOCE - DA e-S.S.---
VELOSO SITUACAO DE Franca
FILHA PARA MAE :
SANTOS, Fac.-H.-D.-
GRAVIDEZ NA
4 SANDRA e-S.S.---
ADOLESCENCIA
DOS Franca
MIURA, AS IMPLICACOES Fac.-H.-D.-
5 LUIZA DE UMA GRAVIDEZ e-S.S.---
SAYURI NA ADOLESCENCIA Franca
Campus-
GRAVIDEZ NA
6 1986 de-Rio-
ADOLESCENCIA
Claro
Almeida,
Adolescência e Campus-
7 José Miguel 2003
maternidade / de-Bauru
Ramos de
Almeida,
Margareth Treze meninas e Campus-
8 2001
Aparecida suas histórias... : de-Botucatu
Santini de.

42
As tabelas contidas neste anexo foram extraídas na íntegra do site da instituição
43
ATHENA, Banco de dados bibliográficos da Universidade Estadual Paulista. Disponível em
<http://aleph.cgb.unesp.br:4505/ALEPH>. Acesso em: 19 set 2006.

46
Barbosa, Reflexões na escola
Fac.-C.-
Léia sobre as causas da
9 2001 Tecnol.----
Pettenuci gravidez na
P.-Prudente
Miranda. adolescência /

Campus-
de-Botucatu
Fac.-H.-D.-
e-S.S.---
Franca
Barroso, Gravidez na
10 1986. Fac.-de-
Carmen. adolescencia /
Farmacia---
Araraquara
Fac.-de-
Filosofia---
Marilia

Belentani, Fac.-de-
Grávidas e
11 Ketriri 2002 Farmacia---
desinformadas? :
Cristina. Araraquara
O discurso
Calazans,
acadêmico sobre Campus-
12 Gabriela 2000
gravidez na de-Botucatu
Junqueira
adolescência :
Campus-
Coates,
13 Gravidez / 1999 de-Rio-
Anne.
Claro
Coates, Campus-
14 Gravidez / 1994.
Anne. de-Botucatu
Fac.-C.-
O parto na
15 Darze, Elias. [19--] Tecnol.----
adolescência /
P.-Prudente
Anemia ferropriva em
gestantes
Dias, Ana Fac.-de-
adolescentes
16 Catarina 2000 Farmacia---
atendidas em postos
Perez. Araraquara
de saúde de
Araraquara - SP /
Campus-
Duarte, Gravidez na
17 2002 de-Rio-
Albertina. adolescência :
Claro
Fac.-C.-e-
Duarte, Gravidez na
18 1998 Letras---
Albertina. adolescência :
Assis

47
Fac.-de-
Filosofia---
Marilia

Representações de
gestantes
Garcia, adolescentes Fac.-H.-D.-
19 Telma solteiras sobre 1984. e-S.S.---
Ribeiro. aspectos de sua Franca
problemática
psicossocia
Justo, José Rumos do saber Campus-
20 1998
Sterza. psicológico / de-Bauru

# Autor Título DataPub. Edição Bibliot.


Lima,
Campus-
Roberto A gravidez na
21 2003 de-Rio-
Antonio de, adolescência /
Claro
1954-
Lourenço,
Textos e contextos
Maria Campus-
22 da gravidez na 1998
Madalena de de-Bauru
adolescência :
Carvalho
A GRAVIDEZ NA
ADOLESCENCIA:
MELO, Fac.-C.-e-
UMA ABORDAGEM
23 APARECIDA Letras---
MULTIDISCIPLINAR
VIEIRA DE Araraquara
/MESTRADO/ PUC-
SAO PAULO, 1993
Reece, E. Campus-
24 Diabetes in women : c2004
Albert. de-Botucatu
Fac.-H.-D.-
Rubin, Sexo e adolescência
25 1970 e-S.S.---
Isadore. :
Franca
Sakamoto, Fac.-H.-D.-
Gravidez na
26 Dulcinéia 2003 e-S.S.---
adolescência:
Luccas. Franca
Fac-de-
Farmacia---
Silva, Ana Adolescente Araraquara
27 2003
Lúcia da. grávida :

Estudo
Soares,
epidemiológico Campus-
28 Elisabeth de 2001
descritivo de recém- de-Botucatu
Oliveira
nascidos vivos de

48
mães adolescentes
e adultas, no munic
Vieira, Leila Abortamento na Campus-
29 2005
Maria. adolescência : de-Botucatu

2. Gestação + adolescência

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

3. Gravidez + adolescência + educação

Resultado

# Autor Título DataPub. Edição Bibliot.


Belentani, Fac.-de-
Grávidas e
1 Ketriri 2002 Farmacia---
desinformadas? :
Cristina. Araraquara
Coates, Campus-de-
2 Gravidez / 1999
Anne. Rio-Claro
Fac.-C.-e-
Letras---Assis
Duarte, Gravidez na
3 1998 Fac.-de-
Albertina. adolescência :
Filosofia---
Marilia
Duarte, Gravidez na Campus-de-
4 2002
Albertina. adolescência : Rio-Claro
Lima,
Roberto A gravidez na Campus-de-
5 2003
Antonio de, adolescência / Rio-Claro
1954-
Rubin, Sexo e Fac.-H.-D.-e-
6 1970
Isadore. adolescência : S.S.---Franca

4. Gravidez + adolescência + escola

Resultado

49
No. Sistema 0024217
Autor Principal Garcia, Telma Ribeiro.
Representações de gestantes adolescentes
solteiras sobre aspectos de sua problemática
Título
psicossocial : implicações para a enfermagem
obstétrica / Telma Ribeiro Garcia. -
Local Public. São Paulo :
Editora [s.n.],
Ano Public. 1984.
Descrição Física 140f.
Nota Geral Orientador: Maria Jacyra de Campos Nogueira.
Dissertação (mestrado) - Universidade de São
Dissertação/Tese
Paulo, Escola de Enfermagem.
Assunto Tópico Gravidez na adolescência - Aspectos psicológicos.
Grau Cod. de
TESE
tese
Grau Cod. de
TM
tese
Entrada Secund. Nogueira, Maria Jacyra de Campos.
Entrada Secund. Universidade de São Paulo. Escola de Enfermagem.

Bib Local - Itens Fac. H. D. e S.S. - Franca

5. Gravidez + jovem + educação

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

6. Gravidez + jovem + escola

50
Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

7. Gestação + adolescente + escola

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

8. Gestação + adolescente + educação

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

9. Gestação + jovem + educação

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

10. Gestação + jovem + escola

Resultado

Não foi localizado nenhum documento com o termo solicitado.

51
APÊNDICE II – RELAÇÃO DOS VOLUMES SOLICITADOS ÀS BIBLIOTECAS DA UNIVERSIDADE ESTADUAL

PAULISTA (UNESP) / ATENDIMENTO À SOLICITAÇÃO / TRABALHOS ADEQUADOS AOS CRITÉRIOS

Enquadramento
Atendimento aos critérios
ordem Autor Título ano Campus Descrição
à solicitação pré-
estabelecidos

S. P. (Estado). Secretaria de Estado da


1 Educação. Fundação para o A Prevenção na escola : 1999 Campus de Botucatu Não //////////////////////82 /////////////////////////////83
Desenvolvi// da Educacão

Monografia apresentada
ao curso de
Especialização em Saúde
Pública da Faculdade de
Ciências Farmacêuticas
Grávidas e desinformadas? Estudo
da Universidade Estadual
sobre as falhas da educação na Fac.-de-Farmacia---
2 Belentani, Ketriri Cristina. 2002 Sim Sim Paulista "Júlio de
prevenção da gravidez entre Araraquara
Mesquita Filho", para
adolescentes de Taquaritinga-SP
obtenção do título de
Especialista em Saúde
Pública. Orientadora:
Profa. Dr. Maria de Fátima
Ferreira.
A GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA:
UMA ABORDAGEM Fac.-C.-e-Letras---
3 MELO, APARECIDA VIEIRA DE 1993 Sim Não ////////////////////////////45
MULTIDISCIPLINAR /MESTRADO/ Araraquara
PUC

8244
Não é possível identificar se o volume se enquadra nos critérios devido ao fato de esse não poder ser retirado da biblioteca onde se encontra.
83
Não foi possível fazer o levantamento de tais informações devido ao fato de o volume não poder ser retirado da biblioteca onde se encontra e tais informações
não estarem disponíveis no site da biblioteca, ou as informações não eram relevantes pelo fato de o volume não se enquadrar nos critérios pré-estabelecidos.
4
5

52
Monografia apresentada
ao curso de
especialização "Ensino de
Ciências" da Universidade
Reflexões na escola sobre as causas Fac.-C.-Tecnol.----
Barbosa, Léia Pettenuci Miranda. 2001 Sim Sim Estadual Paulista, para
da gravidez na adolescência P.-Prudente
obtenção do título de
especialista. Orientador:
4
Prof. Ms. Décio Gomes de
Oliveira

5 Almeida, José Miguel Ramos de Adolescência e maternidade 2003 Campus de Bauru Sim Não /////////////////////////////45

6 Vieira, Leila Maria. Abortamento na adolescência : 2005 Campus de Botucatu Não //////////////////////44 /////////////////////////////45

Campus de Rio Editora Degaspari, 2003.


7 Lima, Roberto Antonio de, 1954- A gravidez na adolescência / 2003 Sim Não
Claro Obra de ficção

Dissertação apresentada
ao programa de pós
graduação em serviço
social - nível mestrado -
da faculdade de história,
direito e serviço social, da
universidade estadual
Gravidez na adolescência: análise da Fac.-H.-D.-e-S.S.--- "Julio de Mesquita Filho" -
8 Sakamoto, Dulcinéia Luccas. 2003 Sim Não
reincidência Franca UNESP - campus de
Franca, área de
concentração, serviço
social: trabalho e
sociedade, para obtenção
do título de mestre, sob
orientação do Prof. Dr. Pe.
Mário José Filho.

4
5

4
4

4
5

53
Monografia apresentada
ao curso de
especialização em Saúde
Pública da Faculdade de
Ciência Farmácia da
Fac.-de-Farmacia--- Universidade Estadual
Silva, Ana Lúcia da. Adolescente grávida : 2003 Sim Não
Araraquara Paulista "Júlio de
Mesquita Filho" para
obtenção do título de
9
especialista em saúde
pública. Orientadora:
Maria de Fátima Pereira.

O discurso acadêmico sobre gravidez


10 Calazans, Gabriela Junqueira 2000 Campus de Botucatu Não ///////////////////////44 ////////////////////////////////////45
na adolescência :
Fac.-H.-D.-e-S.S.---
11 TROCCHIO, MARIA ANTONIETA DI GRAVIDEZ NA ADOLESCENCIA : ? 84 ///////////////85 ///////////////////////44 ////////////////////////////////////45
Franca
AS IMPLICACOES DE UMA Fac.-H.-D.-e-S.S.---
12 MIURA, LUIZA SAYURI ? 46 ///////////////47 ///////////////////////44 ////////////////////////////////////45
GRAVIDEZ NA ADOLESCENCIA Franca
Representações de gestantes
Fac.-H.-D.-e-S.S.---
13 Garcia, Telma Ribeiro. adolescentes solteiras sobre aspectos 1984. ///////////////47 //////////////////////44 ////////////////////////////////////45
Franca
de sua problemática psicossocia

4
4

4
5

84
O símbolo “?” representa a data de publicação do volume que não se encontrava informado no site da instituição, fonte deste levantamento
85
Os volumes solicitados não foram solicitados por não conterem a data de publicação expressa entre as informações disponíveis no site da biblioteca ou por ter
sua publicação em ano anterior ao ano 2000.
4
4

4
5

4
6

4
7

4
4

4
5

4
7

4
4

4
5

54
Fac.-C.-e-Letras---
14 Almeida, Maria Isabel Mendes de. Maternidade: um destino inevitavel? 1987. ///////////////47 ///////////////////////44 ////////////////////////////////////45
Assis
Fac.-H.-D.-e-S.S.---
15 Rubin, Isadore. Sexo e adolescência : 1970 /////////////// 47 //////////////////////44 ////////////////////////////////////45
Franca

4
7

4
4

4
5

4
7

4
4

4
5

55
REFERÊNCIAS

ARILHA-SILVA, Margareth. Masculinidades e gênero: discursos sobre a


responsabilidade na reprodução. 1999. 117f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1999.

BAKHTIN, M. Marxismo e filosofia da linguagem. 3 ed. Trad. Michel


Lahoud e Yara F. Vieira. São Paulo: Hucitec, 1990.

BARBOSA, P. M. B.; MONTANARI, S. M.; ALVES, V. L. G. Reflexões na


escola sobre as causas da gravidez na adolescência. 2001. 58 f.
Trabalho de Conclusão de Curso (Especialização em Ensino de Ciências).
Faculdade de Ciência e Tecnologia, Universidade Estadual Paulista,
Presidente Prudente, 2001.

BARDIN, L. Análise de conteúdo. Trad. Luís Antero Reto e Augusto


Pinheiro. Lisboa: Edições 70, 1977.

BELENTANI, K. C. Grávidas e desinformadas? Estudo sobre as falhas


da educação na prevenção da gravidez entre adolescentes de
Taquaritinga – SP. 2002. 56 f. Trabalho de Conclusão de Curso
(Especialização em Saúde Pública). Faculdade de Ciências
Farmacêuticas, Universidade Estadual Paulista, 2002.

BOZON, M. Sociologia da sexualidade. Tradução de Maria de Lourdes


Menezes. Rio de Janeiro: FGV, 2004.

BRASIL. Estatuto da Criança e do Adolescente: Lei Federal n. 8.069/90

CABRAL, C. S. Contracepção e gravidez na adolescência na


perspectiva de jovens pais de uma comunidade favelada do Rio de
Janeiro. Cad. Saúde Pública. Sup. 2: Rio de Janeiro, 2003. Disponível em
<www.scielo.br/pdf/csp/v19s2/a10v19s2.pdf>. Acesso em 25 ago. 2006.

CALAZANS, G. O discurso acadêmico sobre gravidez na


adolescência: uma produção ideológica? 2000. 190 f. Dissertação
(Mestrado em Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica, São
Paulo, 2000.

CALLIGARIS, C. A adolescência. São Paulo: Publifolha, 2002.

CAMARANO, A. A. Fecundidade e anticoncepção da população


jovem. In: Comissão Nacional de População e Desenvolvemento (CNPD),
Jovens acontecendo na trilha das políticas públicas. Brasília: CNPD,
1998. p. 109-134.

56
CAMPOS, M. M.; MORAES, M. L. Q. de. Introdução e comentários
finais. In: BARROSO, C. (org.). Gravidez na adolescência. Brasília, DF:
1986. p. 11-17/117-122.

CAVASIN, S.; ARRUDA, S. Educação sexual e comunicação. In:


SEMINÁRIO GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, Anais do Seminário
Gravidez na Adolescência. Rio de Janeiro: CEPIA/IPEA, 1998. p. 110-118.

FERRAZ, E.; FERREIRA, I. Q. Início da atividade sexual e


características da população adolescente que engravida. In:
SEMINÁRIO GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, Anais do Seminário
Gravidez na Adolescência. Rio de Janeiro: CEPIA/IPEA, 1998. p. 110-118.

FOUCAULT, M. Histoire de la sexualité. Paris: Gallimard, 1976.

GULO, F. H. A influência causada pelas gírias apresentadas nas


telenovelas na formação dos adolescentes. Monte Aprazível: FAECA,
2004.

HEIBORN, M. L. Gravidez na adolescência: considerações preliminares


sobre as dimensões culturais de um problema social. In: SEMINÁRIO
GRAVIDEZ NA ADOLESCÊNCIA, Anais do Seminário Gravidez na
Adolescência. Rio de Janeiro: CEPIA/IPEA, 1998. p. 110-118.

LIBÓRIO, R. M. C. Desvendando vozes silenciadas: adolescentes em


situação de exploração sexual. Tese (Doutorado em Psicologia Escolar e
do Desenvolvimento Humano). Instituto de Psicologia, Universidade de
São Paulo, São Paulo, 2003.

LYRA, J. et al. “A gente não pode fazer nada, só podemos decidir sabor
de sorvete”. Adolescentes: de sujeito de necessidades a um sujeito de
direitos. Cadernos Cedes, Campinas, v.22, n. 57, p. 9-22, ago 2002.

LYRA DA FONSECA, J. L. C. Paternidade adolescente: uma proposta


de intervenção. 1997. Dissertação (Mestrado em Psicologia Social).
Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1997.

MARIANA, M. Confissões de adolescente. Rio de Janeiro: Relume-


Dumara, 1992.

MOREIRA, M. F. S. Fronteiras do desejo: amor e laço conjugal nas


décadas iniciais do século XX. Tese (Doutorado em História Social).
Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 1999.

MOREIRA, M. F. S. Preconceitos, sexualidade e práticas educativas. In:


SILVA, D. J. da; LIBÓRIO, R. M. C. (org). Valores, preconceitos e
práticas educativas. São Paulo: Casa do psicólogo, 2005.

57
PAULA, D. M. B. de. Gravidez na adolescência: uma estratégia de
inserção no mundo adulto. 1992. 241 f. Dissertação (Mestrado em
Psicologia Social). Pontifícia Universidade Católica, São Paulo, 1992.

PERRY, P. Fundamentos da enfermagem. 4.ed. rio de Janeiro:


Guanabara Koogan, 2001.

QUINTANA, E. A gravidez na adolescência e sua relação com a escola


pública: visibilidade ou exclusão? 2004. 129 f. Dissertação (Mestrado em
Educação) – Centro de Educação e Humanidades, Universidade Estadual
do Rio de Janeiro, Rio de Janeiro, 2004.

_____________. A escola como espaço privilegiado de


enfrentamento da gravidez na adolescência: verso e reverso de uma
mesma moeda. V ENCONTRO DE PESQUISA EM EDUCAÇÃO DA
REGIÃO SUDESTE, 2002. Águas de Lindóia. Anais..., 2002.

ROSEMBERG, F. O discurso sobre criança de rua na década de 80.


Cadernos de Pesquisa, São Paulo, n. 87, p. 71-81, nov. 1993.

SPOSITO, M. Estudos sobre a juventude em educação. Revista


Brasileira de Educação, São Paulo, n. 5 e 6, p. 37-52, Mai-Dez, 1997.
(Número especial: Juventude e Contemporaneidade)

58

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