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PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

PRESTAÇÃO DE CONTAS Nº 0602608-18.2018.6.06.0000


ORIGEM: FORTALEZA - CE
RELATOR: JUIZ FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA
REQUERENTE: GUILHERME DE FIGUEIREDO SAMPAIO
ADVOGADA: Francisca Martirda Silva

EMENTA
PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CAMPANHA. CANDIDATO. ELEIÇÕES 2018.
DEPUTADO ESTADUAL. INÉRCIA DO CANDIDATO PARA JUSTIFICAR OMISSÃO DE
DESPESAS. AFRONTA AO ART. 56, I, “G” DA RTSE Nº 23.553/2017. VALOR ELEVADO.
PERCENTUAL ACIMA DE 10%. INAPLICABILIDADE DOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. IRREGULARIDADE GRAVE. ÓBICE
À FISCALIZAÇÃO E CONTROLE DAS CONTAS. CONTAS DESAPROVADAS.
1. Na espécie, a medida sugerida pela Secretaria de Controle Interno foi acolhida pela
Procuradoria Regional Eleitoral, que também entendeu haver, entre as inconsistências relatadas,
uma grave o suficiente para justificar a desaprovação das contas.
2. Omissões relativas às despesas constantes da prestação de contas em exame e aquelas
constantes da base de dados da Justiça Eleitoral, obtidas mediante circularização e/ou
informações voluntárias de campanha e/ou confronto com notas fiscais eletrônicas de gastos
eleitorais, revela indícios de omissão de gastos eleitorais, infringindo o que dispõe o art. 56, I,
“g”, da Resolução TSE nº 23.553/2017.
3. A omissão de despesas é considerada falha grave o suficiente para macular as contas e gerar
sua desaprovação, somado o fato de o candidato ter quedado inerte quanto ao referido item, não
trazendo qualquer esclarecimento acerca da falha, demonstrando desinteresse quanto à
transparência das contas de campanha e criando óbice à atividade fiscalizatória da Justiça
Eleitoral.
4. Inaplicáveis os postulados da razoabilidade e da proporcionalidade, pois os gastos omitidos
somam o montante de R$ 26.581,60, não podendo ser considerado de pequena monta, pois
atingiu quase 12% do total de gastos da campanha do candidato.
5. “Inaplicabilidade dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade ante a existência de
irregularidades graves, que representam mais de 10% do montante global arrecadado”. (Agravo
Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 25641, Acórdão de 01/10/2015, Relator(a) Min.
GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE - Diário de justiça eletrônico, Tomo 211,
Data 09/11/2015, Página 82-83).
6. Contas desaprovadas.

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA - 19/12/2018 13:58:13 Num. 1177777 - Pág. 1
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Número do documento: 18121913581262700000001028407
ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, por unanimidade, em julgar desaprovadas as contas de
campanha, nos termos do voto do(a) Relator(a).

Fortaleza, 18/12/2018

JUIZ(A) FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA

PODER JUDICIÁRIO

TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

PRESTAÇÃO DE CONTAS Nº 0602608-18.2018.6.06.0000


ORIGEM: FORTALEZA - CE
RELATOR: JUIZ FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA
REQUERENTE: GUILHERME DE FIGUEIREDO SAMPAIO
ADVOGADA: Francisca Martirda Silva

RELATÓRIO

Cuida-se deprestação de contas de campanha, relativa ao pleito de 2018, apresentada


pelo candidato ao cargo de deputado estadual, GUILHERME DE FIGUEIREDO SAMPAIO, em

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cumprimento à Lei nº 9.504/97, regulamentada pela Resolução TSE nº 23.553/2017, que dispõe sobre a
arrecadação e os gastos de recursos por partidos políticos e candidatos e sobre a prestação de contas nas
eleições.

1
Publicado edital para os fins do art. 59 da referida Resolução e decorrido o prazo legal,
não houve impugnação à presente prestação de contas.

Expedido Relatório Preliminar pela Secretaria de Controle Interno deste Regional e


intimado o candidato para que apresentasse esclarecimentos e providenciasse ajustes em sua prestação de
contas, com inserção de dados obrigatoriamente através do sistema SPCE, transcorreu in albis o prazo de
72 horas, conforme certidão ID nº 935227.

Antes de seguir para nova análise pelo setor técnico, o candidato atravessou nos autos
petição, apresentando justificativas às irregularidades constatadas no relatório preliminar –
tempestivamente, segundo sua advogada –, pleiteando, ao fim, a aprovação das contas.

Entendendo não estarem supridas todas as irregularidades detectadas, novo relatório


preliminar foi lavrado pelo setor técnico, para novas diligências, sendo mais uma vez intimado o
candidato para sanar inconsistências. Porém, o prazo transcorreu sem que houvesse qualquer
manifestação do interessado.

Por fim, foi então elaborado por esse Órgão, Parecer Técnico Conclusivo, o qual,
considerando o resultado dos exames técnicos empreendidos, constatou, na conclusão de exames,
impropriedades e irregularidades, sugerindo fossem consideradas prestadas, mas desaprovadas as contas
2
do candidato, nos termos do art. 77, III , da RTSE nº 23.553/2017.

Parecer da Procuradoria Regional Eleitoral, ID nº 1109827, opinando pela


desaprovação das contas, dada a irregularidade relativa à omissão de gastos eleitorais, que alcançou o
patamar de 10% do valor total do gasto de campanha, somada à inércia do candidato em prestar os
esclarecimentos sobre a falha.

É o relatório, no essencial.

1Art. 59. Com a apresentação das contas finais, a Justiça Eleitoral disponibilizará as informações a que se refere o inciso I do
caput do art. 56 desta resolução, bem como os extratos eletrônicos encaminhados à Justiça Eleitoral, na página do TSE na
internet, e determinará a imediata publicação de edital para que qualquer partido político, candidato ou coligação, o Ministério
Público, bem como qualquer outro interessado, possa impugná-las no prazo de 3 (três) dias.

2 Art. 77. Apresentado o parecer do Ministério Público e observado o disposto no parágrafo único do art. 76 desta resolução, a
Justiça Eleitoral verificará a regularidade das contas, decidindo (Lei nº 9.504/1997, art. 30, caput):

(...)

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III – pela desaprovação, quando constatadas falhas que comprometam sua regularidade;

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TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO CEARÁ

PRESTAÇÃO DE CONTAS Nº 0602608-18.2018.6.06.0000


ORIGEM: FORTALEZA - CE
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REQUERENTE: GUILHERME DE FIGUEIREDO SAMPAIO
ADVOGADA: Francisca Martirda Silva

VOTO

Conforme relatado, trata-se de processo atinente à arrecadação e gastos de recursos


financeiros na campanha eleitoral de 2018.

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Após minuciosa análise efetuada pelo Setor competente e diante da inércia do candidato
em apresentar todos os esclarecimentos e ajustes necessários para análise de suas contas, foi sugerida a
desaprovação das contas de Guilherme de Figueiredo Sampaio.

A medida sugerida pela comissão formada para analisar as contas de campanha,


relativas às Eleições 2018, foi acolhida pela Procuradoria Regional Eleitoral, que também entendeu haver,
entre as inconsistências relatadas, uma grave o suficiente para justificar a desaprovação das contas.

Foram constatadas pela Secretaria de Controle Interno deste Regional as seguintes


impropriedades e irregularidades:

a) arrecadação de recursos antes da data da abertura da conta bancária, ocorrida em


17/8/2018, contrariando o disposto no art. 3°, III, da Resolução TSE nº 23.553/2017;

b) doações recebidas em data anterior à data inicial de entrega da prestação de contas


parcial, mas não informadas à época, frustrando a execução tempestiva das medidas de controle
concomitante, transparência e fiscalização, contrariando o que dispõe o art. 50, § 6º, da Resolução TSE nº
23.553/2017;

c) realização de despesas após a concessão do CNPJ de campanha, ocorridas em


14/8/2018, mas antes da abertura da conta bancária específica de campanha, que se deu em 17/8/2018,
contrariando o disposto nos arts. 3°, III, e 38, da Resolução TSE nº 23.553/2017;

d) gastos eleitorais realizados em data anterior à data inicial de entrega da prestação de


contas parcial, mas não informados à época (art. 50, § 6°, da Resolução TSE nº 23.553/2017;

e) omissões relativas às despesas constantes da prestação de contas em exame e aquelas


constantes da base de dados da Justiça Eleitoral, obtidas mediante circularização e/ou informações
voluntárias de campanha e/ou confronto com notas fiscais eletrônicas de gastos eleitorais, revelando
indícios de omissão de gastos eleitorais, infringindo o que dispõe o art. 56, I, “g”, da Resolução TSE nº
23.553/2017.

Relativamente à impropriedade detectada no item “a”, em que houve arrecadação de


gastos antes da abertura da conta bancária, o candidato, após a intimação do primeiro parecer preliminar
da comissão de contas, justificou tratar-se de contratos de serviços de advocacia e assessoria contábil, na
forma de doação. A assinatura ocorrera um dia antes da abertura da conta, porém, teve início em data
posterior, postergando-se até o final das eleições, de forma continuada.

Nesse caso, como bem salientou a Secretaria de Controle Interno, não houve prejuízo
para a análise das contas.

O mesmo se deu em relação ao item “b”, em que foram detectadas doações em data
anterior à entrega da prestação parcial, mas não informadas naquela época. O candidato justificou
tratar-se de vício formal, que não impõe nulidade.

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Decerto, a inconsistência acima, apesar de contrariar a regra de regência, não constitui
óbice ao exame das contas, principalmente quando lançados na prestação final, mitigando a falha e
caracterizando um vício meramente formal, incapaz de macular as contas, ao ponto de desaprová-las.

A irregularidade identificada no item “c”, em que houve realização de despesas antes da


abertura de conta bancária específica, mas já com a concessão do CNPJ, embora o candidato não tenha
justificado a falha, a comissão de contas afirma que, com a análise dos documentos apresentados, foi
possível identificar se tratar de pagamento de uma das parcelas do aluguel do imóvel contratado para o
período de 16 de agosto a 6 de outubro, com boleto emitido para o dia 5 de setembro e pago com recursos
que transitaram em sua conta de campanha.

Assim, a falha não foi suficiente a comprometer a regularidade das contas,


principalmente porque “o contrato foi assinado apenas um dia antes da abertura da conta, com a
finalidade de o imóvel ser usado durante a campanha eleitoral, ademais a despesa foi paga com recursos
que transitaram na conta bancária, permitindo sua fiscalização por parte da Justiça Eleitoral”.

A impropriedade mencionada no item “d” cuida de gastos eleitorais realizados em data


anterior à data inicial de entrega da prestação de contas parcial, mas não informados àquela época.

A justificativa apresentada pelo candidato foi a de que “o presente caso se justifica pelo
fato de que a prestação de contas da despesa correspondeu ao seu pagamento, data em que se deu a
conclusão dos serviços, sendo considerado que se tratavam se serviços continuados.”

Essa irregularidade, à semelhança da descrita no item “b”, é classificada como de


caráter formal, não comprometendo a regularidade das contas, tendo sido as despesas devidamente
registradas na prestação de contas final e os valores correspondentes transitado na conta bancária.

Portanto, analisando as inconsistências acima descritas, fica claro que houve, de certa
forma, esclarecimentos por parte do candidato, quando intimado do primeiro relatório preliminar. No
entanto, apesar de não elidirem as impropriedades detectadas, não foram suficientes a frustrar a análise
das contas, sugerindo a aposição apenas de ressalvas.

No entanto, o mesmo não se pode dizer em relação à irregularidade constante do item


1
“e”. Nesse caso, omissão de despesas, em desacordo com o disposto no art. 56, I, “g” da Resolução TSE
nº 23.553/2017, é considerada falha grave o suficiente para macular as contas e gerar sua desaprovação.

Some-se a isso o fato de o candidato ter quedado inerte quanto ao referido item, não
trazendo qualquer esclarecimento acerca da falha, demonstrando desinteresse quanto à transparência das
contas de campanha, criando óbice à atividade fiscalizatória da Justiça Eleitoral.

Ademais, como bem destacou o Procurador Regional Eleitoral, o gasto omitido, no


montante de R$ 26.581,60, não pode ser considerado de pequena monta, pois atingiu quase 12% do total
de gastos da campanha do candidato, que somou R$ 223.591,49. Cito excerto do Parecer:

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“Contudo, no item 3.1 foram identificadas despesas de campanha não informadas na
prestação de contas, o que representa uma irregularidade grave já que a comprovação
de omissão de gastos eleitorais no valor de R$ 26.581,00, que, representam mais de 10%
do valor total, de fato, compromete a análise da prestação de contas”.

Sobre o assunto, seguem precedentes:

ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO


DE CONTAS. PREFEITO E VICE-PREFEITO. DESAPROVAÇÃO. C
OMPROMETIMENTO DA CONFIABILIDADE DAS CONTAS. PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. INAPLICABILIDADE.
IRREGULARIDADES GRAVES.

1. Pode o relator proferir decisão monocrática, nos termos do art. 36, § 6º, do RITSE, para
negar seguimento a recurso manifestamente improcedente ou contrário à jurisprudência
do Tribunal sem que isso caracterize usurpação da competência do Plenário ou
cerceamento de defesa.

2. Não há falar em violação ao devido processo legal quando o Ministério Público


Eleitoral, atuando como fiscal da lei, oferece parecer após o prazo de 48 horas e junta
novos documentos que comprovariam a omissão de despesa e receita, pois, além de
cuidar-se de prazo impróprio, o candidato manifestou-se sobre aqueles documentos
(contraditório) e apresentou contraprova (ampla defesa). Não pode ser declarada a
nulidade do ato processual sem a efetiva demonstração de prejuízo material, nos termos
do art. 219 do Código Eleitoral. Precedentes do STJ e do TSE.

3. Suposta ilicitude da prova - o documento juntado pelo Parquet eleitoral seria oriundo de
gravação ambiental. O Regional, ao apreciar os declaratórios, assentou que a questão não
fora ventilada no recurso eleitoral, cuidava-se de inovação recursal, o que impede sua
apreciação em recurso especial eleitoral, ante a ausência do imprescindível
prequestionamento. Na linha da jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, "a alegação
tardia de matéria constitucional, só suscitada em sede de embargos de declaração, não
supre o requisito do prequestionamento. Precedentes: ARE 693.333-AgR, Rel. Min.
Cármen Lúcia, Primeira Turma, DJe de 19.9.2012; e AI 738.152-AgR, Rel. Min. Ricardo
Lewandowski, Segunda Turma, DJe de 8.11.2012" (ARE nº 861275 AgR/RJ, rel. Min.
Luiz Fux, julgado em 28.4.2015). Nem mesmo os recorrentes afirmaram, nas razões
recursais, que se tratava de gravação ambiental realizada por um dos interlocutores, mas,
conforme consta do acórdão regional, de filmagem de veículos padronizados com
determinado adesivo, prova que, obviamente, nada tem de ilícita, pois "não configura
prova ilícita gravação feita em espaço público, no caso, rodovia federal, tendo em vista a

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Número do documento: 18121913581262700000001028407
inexistência de 'situação de intimidade' (HC nº 87341-3, Min. SEPÚLVEDA
PERTENCE, Julgamento: 7.2.2006)" (STJ: MS nº 12429/DF, rel. Min. Felix Fischer,
julgado em 23.5.2007, Terceira Seção).

4. O Tribunal Regional Eleitoral, analisando o conjunto probatório dos autos,


concluiu pela desaprovação das contas dos candidatos, pois a não contabilização de
despesas, a não emissão de recibos eleitorais e a ausência de trânsito de recursos
arrecadados em campanha pela conta bancária específica comprometeram a análise
acerca da confiabilidade das contas de campanha - decisão que se alinha ao
entendimento desta Corte.

5.A jurisprudência do TSE tem admitido a aplicação dos princípios da razoabilidade


e da proporcionalidade para aprovar as contas com ressalvas quando a
irregularidade representa percentual ínfimo e a falha não inviabilizou o controle das
contas pela Justiça Eleitoral.

6. Inaplicabilidade dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade ante a


existência de irregularidades graves, que representam mais de 10% do montante
global arrecadado.

7. Dissídio jurisprudencial. Ausência do indispensável cotejo analítico a demonstrar a


similitude fática entre o acórdão impugnado e o paradigma.

8. Decisão agravada mantida por seus fundamentos. Agravo regimental desprovido.

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 25641, Acórdão de 01/10/2015,


Relator(a) Min. GILMAR FERREIRA MENDES, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 211, Data 09/11/2015, Página 82-83)

Negritei

ELEIÇÕES 2016. RECURSO EM PRESTAÇÃO DE CONTAS. CANDIDATO.


PERFEITO. OMISSÃO DE DESPESA E DE RECEITA. COMPROMETIMENTO DA
LISURA DAS CONTAS. PERCENTUAL ACIMA DE 10%. INAPLICABILIDADE
DOS PRINCÍPIOS DA PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE.
RECURSO DESPROVIDO.

1. Existência de despesa com confecção de material publicitário não declarada na


prestação de contas.

2. Não há que se falar em aplicação dos princípios da razoabilidade e da


proporcionalidade na hipótese em que a omissão de receitas e despesas, além de
comprometer a lisura das contas, contamina percentual superior a 10% dos recursos

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Número do documento: 18121913581262700000001028407
financeiros movimentos durante a campanha. Precedentes do TSE.

3. Recurso a que se nega provimento.

(TRE-AM - RE: 22582 RIO PRETO DA EVA - AM, Relator: ANA PAULA
SERIZAWA SILVA PODEDWORNY - NÃO USAR, Data de Julgamento: 17/07/2018,
Data de Publicação: DJEAM - Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 137, Data 25/07/2018,
Página 10)

Negritei

EMENTA - ELEIÇÕES 2016. RECURSO ELEITORAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS.


CANDIDATO. VEREADOR. OMISSÃO DE DESPESA. GASTO COM
COMBUSTÍVEL QUE REPRESENTA 14,29% DO TOTAL DAS DESPESAS.
IMPOSSIBILIDADE DE APLICAÇÃO DOS PRINCÍPIOS DA
PROPORCIONALIDADE E DA RAZOABILIDADE. RECURSO CONHECIDO E
DESPROVIDO.

1. A omissão de despesas com combustíveis no valor de R$ 82,30 (oitenta e dois reais


e trinta centavos), que representa 14,29% do total dos gastos de campanha, em razão
de seu alto percentual, obsta a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da
razoabilidade. Precedentes do TSE e desta Corte Eleitoral.

2. Recurso conhecido e desprovido.

(TRE-PR, RECURSO ELEITORAL nº 50440, Acórdão nº 53511 de 17/10/2017,


Relator(a) GRACIANE APARECIDA DO VALLE LEMOS, Publicação: DJ - Diário de
justiça, Data 20/10/2017)

Negritei

Ademais, o candidato, instado a se manifestar por duas vezes, omitiu-se em fornecer


esclarecimentos acerca desta irregularidade, obstaculizando o trabalho de análise e fiscalização. Nesse
sentido, seguem precedentes:

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Número do documento: 18121913581262700000001028407
ELEIÇÕES 2012. AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO
DE CONTAS DE CAMPANHA. RETIFICADORA APRESENTADA A DESTEMPO.
JULGAMENTO DAS CONTAS COMO NÃO PRESTADAS. IMPOSSIBILIDADE.
ART. 30 DA LEI Nº 9.504/97 QUE NÃO PREVÊ ESSA HIPÓTESE.
PROCESSAMENTO REGULAR DAS CONTAS NOS TERMOS DO ART. 4º DA
RES.-TSE Nº 23.376/2012. IMPOSSIBILIDADE, CONTUDO, DE EFETIVO
CONTROLE POR PARTE DESTA JUSTIÇA ESPECIALIZADA. CONTAS
PRESTADAS, PORÉM DESAPROVADAS. PROVIMENTO.

1. A prestação de contas retificadora apresentada a destempo não acarreta, por si só, o


julgamento das contas de campanha como não prestadas, a teor do art. 30 da Lei nº
9.504/97, principalmente porque devidamente processadas nos exatos termos do art. 4 da
Res.-TSE nº 23.376/2012, que disciplina a questão.

2. As contas devem ser desaprovadas quando a ausência de documentação


inviabilizar o seu efetivo controle por parte da Justiça Eleitoral, sobretudo em razão
da inércia do candidato.

3. Agravo regimental provido, para, modificando o acórdão regional, julgar desaprovadas


as contas de campanha, afastando-se o seu julgamento como não prestadas.

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 11939, Acórdão de 15/05/2014,


Relator(a) Min. LUCIANA CHRISTINA GUIMARÃES LÓSSIO, Publicação: DJE –
Diário de justiça eletrônico, Tomo 142, Data 04/08/2014, Página 41)

Negritei

AGRAVO REGIMENTAL. RECURSO ESPECIAL. PRESTAÇÃO DE CONTAS.


CAMPANHA ELEITORAL. DEPUTADO ESTADUAL.

1. É inviável a aplicação dos princípios da proporcionalidade e da razoabilidade


quando a irregularidade identificada compromete a transparência das contas
apresentadas e corresponde a valor elevado, relevante e significativo no contexto da
campanha.

2. Hipótese em que as irregularidades detectadas atingiram valor absoluto superior a R$


45.000,00, o que corresponde a mais de 14% dos recursos empregados na campanha
eleitoral.

Agravo regimental a que se nega provimento.

(Agravo Regimental em Recurso Especial Eleitoral nº 72282, Acórdão de 15/12/2015,


Relator(a) Min. HENRIQUE NEVES DA SILVA, Publicação: DJE - Diário de justiça
eletrônico, Tomo 043, Data 03/03/2016, Página 100)

Negritei

Assinado eletronicamente por: FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA - 19/12/2018 13:58:13 Num. 1177777 - Pág. 10
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Número do documento: 18121913581262700000001028407
ELEIÇÕES 2016. PRESTAÇÃO DE CONTAS. CARGO DE VEREADOR.
DESAPROVAÇÃO NA ORIGEM. OMISSÃO DE REGISTRO DE DESPESA.
IRREGULARIDADE CONFIGURADA. SONEGAÇÃO DE INFORMAÇÕES QUE
OBSTA A ANÁLISE DAS CONTAS. IMPOSSIBILIDADE APLICAÇÃO DOS
PRINCÍPIOS DA RAZOABILIDADE E PROPORCIONALIDADE. IMPROVIMENTO
DO RECURSO. DESAPROVAÇÃO DAS CONTAS.

1. Rejeita-se a preliminar de nulidade da sentença, suscitada de ofício, em razão da não


conversão do rito simplificado para ordinário, porquanto este Tribunal firmou
entendimento no sentido de que a referida conversão é faculdade do magistrado, o que
somente deve ocorrer quando, existindo impugnação, manifestação contrária do MPE à
aprovação das contas ou irregularidade identificada na análise técnica, o Juiz Eleitoral não
entender possível decidir-se, com os elementos constantes nos autos, o que não é o caso
do presente processo.

2. Rejeita-se também a preliminar de nulidade da sentença por ausência de


fundamentação, uma vez que, inobstante a sentença ter feito a menção à irregularidade
indicada no parecer técnico, a falha resume-se a apenas uma suposta omissão de registro
de despesa nos demonstrativos contábeis, não impondo a situação qualquer óbice ao
direito de defesa do recorrente.

3. A omissão de registro de despesa constitui falha grave, que macula a


confiabilidade da prestação de contas, impedindo o adequado exame dos gastos
realizados durante a campanha eleitoral, sendo motivo suficiente para ensejar a
desaprovação das contas.

4. A aplicação dos princípios da razoabilidade e proporcionalidade exige-se a


presença de três requisitos cumulativos: primeiro, as falhas que não comprometem a
lisura do balanço contábil; segundo, a irrelevância do percentual dos valores
envolvidos em relação ao total arrecadado e, terceiro, ausência de comprovada má-fé
do candidato.

5. No caso, a atitude do candidato ao omitir a despesa na prestação de contas e,


constatada a omissão pela unidade técnica, não apresentar justificativa para sanar a
irregularidade detectada, lança dúvidas sobre a intenção do candidato de viabilizar
a fiscalização pela Justiça Eleitoral das despesas incorridas na campanha eleitoral,
conduta incompatível com a aplicabilidade dos princípios da razoabilidade e
proporcionalidade.

6. Recurso improvido, para manter a sentença pela desaprovação das contas.

(PRESTAÇÃO DE CONTAS n 46634, ACÓRDÃO n 557/2017 de 07/12/2017,


Relator(a) DENIZE MARIA DE BARROS FIGUEIREDO, TRE-SE. Publicação: DJE –
Diário de Justiça Eletrônico, Tomo 231/2017, Data 14/12/2017).

Negritei

Ante o exposto, diante dos fundamentos elencados e da natureza grave da irregularidade


2
apontada, a desaprovação das contas é medida que se impõe, incidindo o art. 77, III da Resolução TSE nº
23.553/2017.

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Número do documento: 18121913581262700000001028407
3
Por fim, diante do disciplinado no art. 84 da Resolução do TSE nº 23.553/2017 e eis
que identificado o recebimento de recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha em
desacordo com os critérios de distribuição apresentados pelo Tribunal Superior Eleitoral, conforme
consignado no Parecer Técnico Conclusivo da SCI,remetam-se cópias do processo ao Ministério
Público Eleitoral para os fins que entender cabíveis.

DISPOSITIVO

ISSO POSTO, em consonância com o parecer da Procuradoria Regional Eleitoral,


VOTO no sentido de julgar prestadas e desaprovadas as contas de campanha de Guilherme de
Figueiredo Sampaio, candidato ao cargo de deputado estadual nas Eleições de 2018.

É como voto.

Fortaleza/CE, 18 de dezembro de 2018.

Juiz FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA

Relator

1Art. 48. Ressalvado o disposto no art. 65 desta resolução, a prestação de contas, ainda que não haja movimentação de
recursos financeiros ou estimáveis em dinheiro, deve ser composta, cumulativamente:

I - pelas seguintes informações:

(…)

g) receitas e despesas, especificadas;

2 Art. 77. Apresentado o parecer do Ministério Público e observado o disposto no parágrafo único do art. 76 desta resolução, a
Justiça Eleitoral verificará a regularidade das contas, decidindo (Lei nº 9.504/1997, art. 30, caput):

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Número do documento: 18121913581262700000001028407
(...)

III - pela desaprovação, quando constatadas falhas que comprometam sua regularidade;

3Art. 84. Desaprovadas as contas, a Justiça Eleitoral remeterá cópia de todo o processo ao Ministério Público Eleitoral para os
fins previstos no art. 22 da Lei Complementar nº 64/1990 (Lei nº 9.504/1997, art. 22, § 4º).

EXTRATO DA ATA

PRESTAÇÃO DE CONTAS Nº 0602608-18.2018.6.06.0000


ORIGEM: FORTALEZA - CE
RELATOR: JUIZ FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA
REQUERENTE: GUILHERME DE FIGUEIREDO SAMPAIO
ADVOGADA: Francisca Martirda Silva

Decisão: ACORDAM os Membros do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, por unanimidade, em julgar
desaprovadas as contas de campanha, nos termos do voto do(a) Relator(a).

Composição: DESEMBARGADORA MARIA NAILDE PINHEIRO NOGUEIRA (PRESIDENTE),


DESEMBARGADOR HAROLDO CORREIA DE OLIVEIRA MÁXIMO, JUIZ ALCIDES
SALDANHA LIMA, JUIZ ROBERTO VIANA DINIZ DE FREITAS, JUIZ TIAGO ASFOR ROCHA
LIMA, JUIZ FRANCISCO EDUARDO TORQUATO SCORSAFAVA.

Procurador Regional Eleitoral: ANASTACIO NOBREGA TAHIM JUNIOR

SESSÃO DE 18/12/2018.

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