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PAULO

Sua Vida, Seu Ministério e Seus Ensinamentos

Fevereiro | 2019
Capítulo 1 - As Origens do Apóstolo Paulo
Introdução
Para compreender as origens de Paulo, que se tornou o Apóstolo dos gentios, o primeiro desbravador do
evangelho ao lado de Barnabé, é preciso tempo e dedicação em leitura e investigação. Nessas lições,
buscaremos ler e entender sobre ele cujo trabalho missionário, doutrinário e obra social fizeram repercutir,
através dos séculos, resultados incontestáveis acerca da fé em Cristo Jesus.
1. Seus dados pessoais
São muitos os detalhes sobre Paulo. Seu nome, onde nasceu e a grandeza da sua cidade natal. São informações
importantes para entender um pouco mais sobre a história desse homem tão importante em sua época e nos
dias de hoje. Ele continua contribuindo enormemente para com a fé cristã através de sua vida, cartas e teologia.
1.1. Nome
O judeu, natural de Israel, costumava ter o nome seguido pelo nome de seu pai, por exemplo, Jesus, filho de
José (Lucas 3.23); Tiago, filho de Zebedeu (Mateus 4.21); Zacarias, filho de Baraquias (Mateus 23.35). E, em
outros textos, também é indicada a linhagem tribal ou o seu ancestral proeminente (Mateus 15.22; Atos 13.21;
Romanos 11.1). Porém todo judeu que vivia fora de Israel, pelo Império Romano afora, tinha dois nomes, um
em hebraico e outro latino, ou grego também. O Apóstolo dos Gentios era possuidor de dois nomes, “Saulo”
que significa “o desejado”; e um nome latino “Paulo” que significa “pequeno”.
1.2. Local de nascimento
Paulo tinha muito orgulho de sua origem (Atos 21.39). Para ele era uma glória proceder de Tarso, pois ser de
Tarso lhe conferia automaticamente o direito de cidadania romana por nascimento, o que era conseguido por
alguns com grande soma de dinheiro (Atos 22.27,28). Α cidade de Tarso estava localizada na Cilícia, que, nos
dias de Paulo, pertencia à Síria. Tarso era um lugar de belas paisagens, com um centro comercial muito
próspero, era uma cidade portuária com grande movimentação de mercadorias e de pessoas.
Atos 21.39 – “Sou judeu, cidadão de Tarso, cidade importante da Cilícia. Permite-me falar ao povo”. Paulo
informou a Cláudio Lísias que nascera em Tarso, uma importante cidade que ficava na Cilícia. O seu desejo
era válido, porquanto, a fama que essa cidade tinha, devido à sua cultura e erudição, as suas inscrições traziam
a seguinte inscrição: “Metrópole autônoma”, ou seja, cidade independente, já que esse governo próprio lhe
fora outorgado pelas autoridades romanas. Júlio Cesar dera aos habitantes de Tarso da Cilícia todos os direitos
e privilégios da cidadania romana.
Atos 22.27,28 - O comandante dirigiu-se a Paulo e perguntou: “Diga-me, você é cidadão romano?” Ele
respondeu: “Sim, sou”. O comandante já poderia estar seriamente comprometido, porquanto era reputado um
crime até mesmo amarrar um cidadão romano, segundo já se fizera com Paulo. Porém, a fim de garantir que
nenhum outro problema em potencial fosse criado, ele se sentia na obrigação de averiguar pessoalmente se era
correta a informação que acabara de dar ao centurião.
Tarso era o que se cidade livre, não era uma colônia romana, como era o caso de Filipos.
Atos 22.28 - Então o comandante disse: “Eu precisei pagar um elevado preço por minha cidadania”. Respondeu
Paulo: “Eu a tenho por direito de nascimento”. Cláudio Lísias, o comandante, provavelmente era um grego
que apenas recentemente obtivera a cidadania romana. Isso pode ser deduzido pelo fato de que os cidadãos
recentes com frequência adotavam o nome do imperador então reinante, e “Cláudio” era o nome do imperador
reinante. Messalina, esposa do imperador Cláudio, costumava vender títulos de cidadania romana por grandes
somas de dinheiro, e, por causa desse exemplo real, o costume se generalizou.
1.3. Exuberância de Tarso
Por tornar-se uma célebre cidade, nos dias de Paulo, era considerada uma cidade cosmopolita, seus habitantes
eram procedentes de vários lugares do Império. Havia ali um apego e um entusiasmo grande com relação ao
aprendizado, chegando a tal ponto que Tarso superou Atenas e Alexandria no Egito com sua universidade.
Portanto era uma cidade com forte influência grega muito ligada à filosofia, principalmente estoica. Muitos de
seus habitantes eram tecelões e faziam tendas a partir de um tecido grosseiro fabricado com pelo de cabra e
tudo indica que Paulo aprendeu tal profissão ali.
Escola Estoica, no grego, στοικοι, os filósofos epicureus e estoicos são mencionados uma única vez em toda a
Bíblia, em Atos 17:18, quando é indicado que alguns filósofos dessas escolas puseram-se a contender com o
apóstolo Paulo, em Atenas. Dentre os fatos, os filósofos estoicos também rejeitavam a ideia da ressurreição do
corpo físico.
2. Origem familiar
A história não nos fornece informações precisas com respeito à família de Paulo, nem se realmente foi casado
ou não, mesmo sendo ele capaz de discorrer com maestria sobre relação conjugal. Todavia podemos facilmente
compreender o valor que Paulo dava à família. As instruções precisas e os conselhos sábios contidos na sua
correspondência às igrejas demonstram fartamente isso.
2.1. Hebreu de hebreus
Apesar de não ser mencionado o nome do pai e nem da mãe de Paulo em nenhuma parte do N.T., sabe-se
perfeitamente que ele é de ascendência hebraica. Ora, uma coisa importante de saber-se é que para ser
considerado israelita, tem de necessariamente ser filho de mãe judia, logo era realmente hebreu, circuncidado
ao oitavo dia (Filipenses 3.5). Portanto isso quer dizer que ele era filho segundo a carne de Abraão, Isaque e
Jacó, pertencente à linhagem da tribo de Benjamim (Romanos 11.1; Fp 3.5). Não sabemos que circunstâncias
levaram os ancestrais de Paulo a imigrar à região da Cilicia e instalarem-se em Tarso. O motivo mais aceito,
seria que sua família estaria dentre os judeus da diáspora que moravam numa enorme colônia judaica da época.
2.2. Pais
Seu pai era fariseu, isso significa que era membro de um grupo religioso em Israel muito rigoroso quanto à Lei
de Moisés e os costumes dos antepassados (Atos 23.6). Como vários fariseus daquela época tinham seu próprio
negócio, era possível que o pai de Paulo fosse um homem assim também, pois pôde financiar os estudos do
filho em Jerusalém, o de natureza superior, quando este ainda era bem jovem. Como todo pai dedicado, queria
posicionar bem o filho na sociedade judaica de sua época. Não há qualquer registro do nome do pai e da mãe
de Paulo. Mas seria o menino Saulo filho único? Claro que não, pois tinha uma irmã provavelmente mais velha
- ela morava em Jerusalém e tinha um filho jovem na época em que estava preso na Fortaleza de Antonia. Foi
esse moço, seu sobrinho, que o livrou da morte através de informação sigilosa, de uma conspiração dos judeus
para tirar-lhe a vida durante o seu translado para Cesaréia (Atos 23.16-24).
2.3. Outros parentes
Na Carta de Paulo aos Romanos, capítulo 16, nas saudações finais; dentre as 36 pessoas mencionadas, três são
apontadas como parentes seus quando diz, “Saúda Adrônico e Júnias, meus parentes” (v.7); e em seguida,
escreve: “Saudai meu parente Herodião” (v. 11). Daí se conclui que, além de ter parentes, eles eram fiéis que
pertenciam à Igreja que estava em Roma. Cremos que, a partir da sua conversão, muitos vieram a se converter
depois, ainda que não tenha sido resultado de seu trabalho direto, pois o cristianismo se espalhou no mundo
antigo chegando também a Roma rapidamente.
3. Cultura e personalidade
Paulo estava bem posicionado em sua época, até porque isso lhe garantiria livre trânsito por todo Império
Romano. Se Paulo vivesse em nossos dias, com certeza procuraria estar na dianteira, não por uma questão de
ostentação, mas pelo rápido deslocamento, livre acesso a todos os lugares possíveis até por uma questão de
segurança em tempos de perseguição. Que bom seria ver os obreiros de nossas igrejas buscando tal melhora e
aperfeiçoamento.
3.1. Cultura judaica e grega
Quando Paulo era pequeno em Tarso, como toda criança judia, ia à escola que ficava ao lado da sinagoga. Aos
cinco anos, iniciava seu aprendizado elementar sobre a lei de Moisés baseado em Deuteronômio, e estudava
também os Salmos (113 a 118), nos anos subsequentes, estudava a história de Israel e, entre outros estudos,
aos doze anos, tinha que aprender, aos pés de um rabino, uma série de preceitos orais e divinos, essa fase pode
ter acontecido tanto em Tarso quanto em Jerusalém, pois ele se mudou para lá, ainda bem novo, como ele
mesmo chegou a dizer em Atos 22.3. “Mas criei-me nesta cidade (Jerusalém)”. Posteriormente Paulo fez o seu
curso superior aos pés de Gamaliel, renomado mestre da sua época, como ele mesmo testemunhou: “aqui fui
instruído aos pés de Gamaliel”. Paulo é reconhecidamente o homem mais culto dentre os apóstolos. Mas isso
não aconteceu por acaso, seus pais investiram em sua instrução.
3.2. Evidência de amplos conhecimentos
O mundo antigo estava sob o domínio romano, mas impregnado da cultura grega. Assim, ser bem-sucedido e
ter “status” social era de vital importância naquela época. No currículo de Paulo, constavam idioma grego,
filosofia, história e lendas. Basta olharmos para suas cartas e veremos citações gregas e pensamentos
filosóficos comuns, sua viagem a Atenas e seu discurso no areópago para eliminar quaisquer dúvidas sobre a
sua vasta cultura postas a serviço do reino de Deus após sua conversão. Outra coisa digna de nota é que Paulo,
ao escrever a “Carta aos Romanos”, o maior tratado acerca da salvação, fê-lo em tom jurídico, pois o direito
fascinava os romanos.
3.3. Personalidade de Paulo
Paulo era decidido, com conceitos firmes e de muita atitude. Tinha um temperamento voltado para a liderança,
nasceu para o comando e sabia desenvolver uma equipe de voluntários num trabalho árduo e sem recompensa
financeira. Era uma pessoa capaz de despertar profundo amor e ódio nas pessoas, por ser ele um homem
verdadeiro, muito trabalhador e cheio de zelo e de docilidade ao mesmo tempo. Tão foi o apóstolo, que, por
mais que se fale a seu respeito, ainda é pouco. Porém o que sabemos a seu respeito é o suficiente para o
seguirmos e o imitarmos como ele mesmo disse: “sede meus imitadores, como eu sou também de Cristo” (I
Coríntios 11.1; Filipenses 3.17; l Tessalonicenses 1.6; 2.14; 2 Tessalonicenses 3.7,9; Hebreus 6.12).
Conclusão
Qualquer um que olhasse para o jovem Paulo de Tarso veria nele um fanático, perseguidor soberbo. Mas Deus
que vê além do óbvio, do natural, do presente, das origens e das intenções do coração, olhou e viu, naquele
moço, um poderoso aliado; viu nele um vaso útil para depositar os tesouros do Reino e utilizou-se de tudo
quanto Paulo tinha para o futuro engrandecimento da Sua obra aqui na terra. Maravilhosa visão de Deus que
deu, a sua Igreja, tal homem como presente.

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Capítulo 2 - A conversão de Paulo


Introdução
Estudaremos, nesta lição, a conversão de Paulo, filho de um fariseu, que, depois de terminar seus estudos, aos
pés do doutor da Lei, Gamaliel, pôs-se como arqui-inimigo do Senhor Jesus por causa da sua ignorância em
relação à alvorada de uma nova dispensação que surgia no horizonte da história religiosa. Paulo se doía com a
nova “Seita do Caminho” que conquistava cada vez mais adeptos entre os judeus.
1. Antes da mudança
Quando o jovem Paulo perseguia os seguidores de Jesus, fazia-o nas melhores das intenções, e, naquele
contexto social e religioso, era até uma coisa louvável. Nem todo proceder tem a aparência de boas intenções,
isso todos sabem. Levados pelo pensamento de que estão fazendo algo para Deus, muitos perseguem,
espancam, mutilam e matam aqueles que são fiéis a Cristo, mesmo nos dias atuais.
1.1. Saulo, o assolador (Atos 8.1-3)
O texto nos diz: “E Saulo assolava a igreja”. Ele inspirava terror nos cristãos primitivos, ou seja, havia
elementos que sustentavam aquele seu comportamento agressivo, tais como: a ignorância, a incredulidade e o
falso pensamento de que, agindo assim, estivesse fazendo um trabalho para Deus (João 16.2), ele mesmo
confessou posteriormente: “A mim, que dantes fui blasfemo, e perseguidor, e injurioso; mas alcancei
misericórdia, porque o fiz ignorantemente, na incredulidade” (I Timóteo 1.13).
Atos 8.1-3 - O Livro de Atos e as Epístolas fornecem informações suficientes para traçarmos um esboço do
começo da vida de Saulo. Ele nasceu em Tarso, na Cilícia, um “hebreu entre hebreus”, “filho de fariseu” e
cidadão romano. Foi educado por Gamaliel em Jerusalém e se tornou um fariseu devoto. No tocante à Lei, sua
vida era irrepreensível. Era um dos jovens fariseus mais promissores de Jerusalém, a caminho de se tornar um
grande líder da fé judaica.
Saulo demonstrou seu zelo pela Lei de maneira bastante clara em sua perseguição à Igreja. Acreditava
sinceramente que servia a Deus ao perseguir os cristãos, de modo que o fazia com a consciência tranquila (2
Timóteo 1.3). Obedecia à luz que conhecia, até que Deus lhe deu mais luz, à qual ele também obedeceu e,
assim, se tornou um cristão.
João 16.2 Vocês serão expulsos das sinagogas; de fato, virá o tempo quando quem os matar pensará que está
prestando culto a Deus.
1 Timóteo 1.13 - a mim que anteriormente fui blasfemo, perseguidor e insolente; mas alcancei misericórdia,
porque o fiz por ignorância e na minha incredulidade;
1.2. Saulo diante de Estevão (Atos 8.1; 22.20)
Lucas, o escritor de Atos, destaca a pessoa de Estevão como um discípulo do grupo dos sete (diáconos) de
Jerusalém, em virtude da sua devoção a Deus, cultura elevada, que fez extraordinários milagres, sofredor e de
grande popularidade entre os gregos e judeus, pois era de uma oratória flamejante e de sabedoria irresistível.
Sua popularidade foi além dos termos de Jerusalém e de Israel, pois uma liga das sinagogas espalhadas em
vários lugares, uniram-se e enviaram seus representantes para altercarem com Estevão, os quais não puderam
resistir a sua sabedoria (Atos 6.8-10). Eles apelaram para a baixeza de subornarem alguns, a fim de darem falso
testemunho de blasfêmia contra Estevão no Supremo Tribunal Judaico, o Sinédrio. Estevão fez a sua defesa
improvisada com um discurso que o sentenciou injustamente, sendo, em seguida, levado para ser executado
por meio de apedrejamento. Na execução, precisava-se de um oficial que o acompanhasse aos pés de quem se
depositavam as roupas dos executores. O nome desse oficial era Saulo, seu nome em hebraico.
Atos 22.20 – Paulo reforça seu argumento no sentido de que a perseguição que encabeçara contra os primitivos
cristãos era amarga, como largamente conhecida; portanto, a transformação havida em sua vida, a sua
conversão ao cristianismo, seriam encaradas, talvez, com maior respeito, contribuindo assim para conversão
de muitos outros. O extremo de seus crimes não fora o homicídio, porquanto fora a principal testemunha de
acusação contra Estêvão, e alegrou por vê-lo morrer. O fato de posteriormente ele admitir seu erro,
arrependendo-se do mesmo, e passou a anunciar ao mesmo Cristo que antes perseguira, sem dúvida serviriam
para convencer a outros sobre o caráter genuíno de sua conversão.
“... Estêvão, tua testemunha...” Com base na palavra aqui usada no original grego para traduzir “testemunha”
é que surgiu a nossa palavra moderna “mártir”. As primeiras testemunhas do cristianismo com tanta frequência
foram martirizadas que o termo passou a ser usada para indicar o testemunho delas, embora isso só tenha
ocorrido gradualmente.
1.3. Como Paulo assolava a Igreja? (Atos 8.3-4)
Naquela ocasião, em que havia uma grande perseguição, o grupo mais forte, no templo de Jerusalém, e no
Sinédrio, era o dos Saduceus, embora os fariseus fossem os mais populares e de maior influência entre os
judeus. Esses dois grupos se rivalizavam, mas uniram-se para matarem Jesus e depois para perseguirem a
Igreja. Paulo era o seu principal instrumento de assolação, pois tinha autoridade para entrar nas casas, prender
os homens e mulheres, castigá-los com surra de varas, e obrigá-los a renunciarem o nome de Jesus, e dEle
blasfemando.
Atos 8.3-4 – As predições feitas por Jesus, de que os seus discípulos seriam entregues aos concílios e tribunais,
e lançados nas prisões, estavam sendo cumpridas novamente. Esse incidente, naturalmente, como o ódio
daqueles homens se intensificava cada vez mais, porquanto, agora não tratavam os discípulos de Cristo nem
ao menos com um mínimo de respeito, segundo fora o caso em Atos 3.1-3.
A perseguição faz com a Igreja aquilo que o vento faz com a semente: espalha e aumenta a colheita. Os
cristãos em Jerusalém eram as sementes de Deus, e a perseguição foi usada por Deus para plantá-los em novo
solo, a fim de que dessem frutos (Mateus 13.37, 38). Alguns foram espalhados em toda Judeia e Samaria (Atos
1.8), enquanto outros foram levados campos mais distantes (Atos 11.19).
2. O que produziu mudança?
O maior desejo do jovem Paulo era fazer algo de valor para Deus, para o judaísmo e para os judeus em si. Ele
concluiu que estava absolutamente certo em repelir com veemência aquela doutrina sectária no seio do
judaísmo, que mais trazia escândalo do que bem. Afinal, para ele Jesus de Nazaré teve o que mereceu quando,
nas mãos dos romanos, caiu sob a acusação de ser um rei ilegítimo, por fazer-se Filho de Deus.
2.1. Paulo, confrontado pelo Senhor Jesus (Atos 9.3-7)
Quando ia a caminho para Damasco, acompanhado da sua comitiva de soldados para perseguirem os cristãos,
Paulo, subitamente ao meio-dia, viu uma luz mais brilhante que o sol (Atos 26.13). Nesse momento, caindo
por terra, ouve uma voz que lhe disse: “Saulo, Saulo por que me persegues”. Até aquele momento, Jesus
ressuscitado era um mito forjado, uma coisa digna de pleno descrédito. Mas, ao perguntar-lhe: “Quem és
Senhor?” E ter a resposta: “Eu sou Jesus, a quem persegues. Duro é para ti dar coices contra os aguilhões”.
Saulo trêmulo, assustado, e sem saber o que fazer diante daquela poderosa voz, pergunta: “O que devo fazer?”.
E o Senhor lhe responde: “Levanta-te e entra na cidade e lá te será dito o que convém fazer” (Atos 9.4-6).
Atos 9.3-7 – A atitude de Saulo era semelhante à de um animal furioso, do qual até o fôlego representa um
perigo. Como muitos outros rabinos, acreditavam que era preciso obedecer completamente à Lei antes que o
Messias viesse. No entanto, aqueles “hereges” pregavam contra a Lei, o templo e a tradição dos patriarcas
(Atos 6.11-13). Saulo devastou as igrejas da Judeia (Gálatas 1.23) e, em seguida, obteve permissão do sumo
sacerdote para perseguir os discípulos de Jesus até em Damasco. Não foi uma iniciativa insignificante, pois
contou com a autoridade do supremo concílio dos judeus (Atos 22.5).
Damasco possuía uma grande população de judeus, e se acredita que houvesse de trinta a quarenta sinagogas
na cidade. O fato de haver cristão por lá mostra como a Igreja pregara a mensagem com eficácia. É possível
que alguns cristãos de Damasco fossem fugitivos da perseguição em Jerusalém, o explica por que Saulo
desejava autoridade para leva-los de volta. Naquela época, os cristãos ainda eram associados às sinagogas
judaicas, e seu rompimento só se deu alguns anos depois (Tiago 2.2).
Então Saulo estava no chão. Por volta de meio-dia, viu uma luz resplandecente no céu e ouviu uma voz dizer
seu nome. Os homens que também estavam com ele também caíram por terra e ouviram um som, mas não
compreenderam as palavras proferidas do céu.
Naquele dia, Saulo de Tarso fez algumas grandes descobertas. Em primeiro lugar descobriu, para sua surpresa,
que, de fato, Jesus de Nazaré estava vivo! Era acerca desse fato que os cristãos testemunhavam continuamente,
mas Saulo se recusara a aceitar tais testemunhos.
Saulo também descobriu que era um pecador perdido e que corria o risco de ser julgado por Deus. “Eu sou
Jesus, a quem tu persegues”. Saulo acreditava estar servindo a Deus, quando na realidade quando na verdade
estava perseguindo o Messias! Comparadas à santidade de Jesus Cristo, as boas obras de Saulo e seu farisaísmo
legalista pareciam trapos imundo. Todos os seus valores mudaram. Ao crer em Jesus Cristo, tornou-se uma
nova pessoa.
2.2. Saulo obedece ao Senhor Jesus (Atos 9.8-9)
Conforme o seu temperamento e cultura, Paulo não se encurvava diante de ninguém, mas, quando se levantou
do chão abatido e cego, nada mais restava de oposição nele senão obedecer. A transformação dele aconteceu
tanto imediatamente, quando ouviu a voz do Senhor Jesus, quanto na medida em que ele Lhe obedecia. Paulo
poderia ter voltado e escolhido outro caminho. Mas o campeão do judaísmo foi vencido pela “voz da Luz que
lhe brilhou no caminho”. Para Damasco, Paulo teve de ser conduzido, pois não enxergava mais. Dá pra
imaginar o tremor e temor que sobreveio em seus parceiros? Atender aquela voz e entrar na cidade representou
a Saulo um sinal incontestável da sua completa conversão; significou um rompimento com todo seu modo de
vida; produziu a conversão de um contingente incontável de pessoas em sua época e, ao longo dos séculos,
onde seu testemunho foi ouvido.
Os homens levaram Saulo para a cidade, pois o touro furioso, havia se tornado um cordeiro dócil! O líder teve
de ser conduzido, pois ficou cego pela visão resplandecente. Seus olhos espirituais foram abertos, mas os olhos
físicos haviam sido abertos, mas seus olhos físicos estavam fechados. Deus o humilhara inteiramente,
preparando Paulo para ser ministrado por Ananias. Saulo orou e jejuou por três dias (Atos 9.11), durante os
quais começou a reavaliar suas convicções. Havia sido salvo pela graça, não pela Lei, por meio da fé no Cristo
vivo. Deus começou a instruir Saulo e a lhe mostrar a relação entre o evangelho da graça de Deus e a religião
mosaica tradicional que havia praticado ao longo da vida.
2.3. Resultado da obediência de Paulo
Depois que entrou na cidade, lá permaneceu em jejum absoluto por três dias, até o momento em que Ananias,
que depois de alguma resistência à ordem de Jesus, foi visitá-lo e impôs-lhe as mãos, e curou-o na hora. Um
sinal incontestável da misericórdia divina a favor de Paulo. Para ele, naquele momento, nada mais restava
senão se batizar como um sinal de morte para o pecado e identificação plena com Jesus Cristo, como ele mesmo
veio a ensinar depois em suas cartas (Rm 6.1-6; G1 2.20). O arrependimento é um ato de obediência que deve
refletir no abandono do pecado para viver uma nova vida, seguido, logo que possível, do batismo em água. Foi
a partir daí que Paulo passou a pregar o evangelho publicamente conforme indica o livro de Atos (Atos 9.19-
20). Hoje, não significa que para falar de Jesus é necessário se batizar primeiro, mas é o mais recomendável.
Romanos 6.1-6 – Paulo desejava que compreendêssemos uma doutrina básica. A vida cristã depende do
aprendizado cristão; o dever é sempre fundamentado na doutrina. Ao manter um cristão na ignorância, Satanás
o impede de ter qualquer poder.
Nessa passagem, Paulo ensina a verdade essencial da identificação do cristão com Jesus Cristo em sua morte,
sepultamento e ressurreição. Assim como nos identificamos com Adão no pecado e na condenação, também
nos identificamos agora com Cristo na justificação. Em outras palavras, a justificação pela fé não é apenas
uma questão legal entre Deus e nós; é um relacionamento vivo. É uma “justificação que dá vida” (Rm 5.18).
Estamos em Cristo e somos identificados com ele. Portanto, tudo que aconteceu com Cristo, acontece conosco.
3. Consequências dessa mudança
Evidentemente, que a conversão de Paulo teve muitos efeitos no reino de Deus e no mundo, que talvez seja
difícil enumerá-los e esquadrinhá-los na sua exata proporção. Mas abordaremos apenas alguns principais que
são arrolados por Lucas no livro de Atos.
3.1. Paulo passou a pregar o evangelho
A graça de Deus salvadora alcançou um inimigo implacável, eliminando assim um agente que causava grande
dano e tirava a paz dos judeus convertidos. Embora fosse Paulo um assolador da Igreja, Deus é aquele que
contempla aquilo que está além do que tocamos e do discernimento humano. Alguns anos depois, Paulo teve
chance de conhecer os discípulos de Jerusalém. Todavia ele ainda estava sob a mira e a desconfiança deles.
Pois não havia passado, ainda, tanto tempo assim daquela cruel perseguição. Sendo Paulo um homem muito
ativo, logo passou a pregar ousadamente no nome de Jesus, tanto em Damasco quanto em Jerusalém, e sua
presença gerava insegurança e clima ruim entre os discípulos, pois alguns judeus helenizados, dados à
discussão, resolveram matá-lo, quer dizer, o ex-perseguidor passou a ser perseguido.
3.2. Paulo sofreu perseguição
A perseguição pelo fato de pregar o evangelho e fortalecer os novos convertidos a Cristo Jesus se tomou algo
constante em sua vida, e Paulo conviveu, desde o início de sua pregação, até a sua morte. Imediatamente a sua
mudança radical, quando começou a pregar, foi perseguido em Damasco, depois em Jerusalém e no restante
de seu trabalho missionário. Como ele desejava ardentemente o crescimento do evangelho ao longo do Império
Romano, orou a Deus para que Ele lhe tirasse a vara da perseguição de suas costas. Visto que concluísse que
o evangelho se desenvolveria muito mais rápido num ambiente tranquilo, pois as pessoas estavam famintas de
Deus. Mas o senhor Jesus apenas lhe disse que a sua graça lhe bastava (2Co 12.9).
3.3. O crescimento da Igreja
Tendo Jesus Cristo transformado um inimigo tão voraz em servo, agora a comunidade cristã espalhada pela
Judéia, Galiléia e Samaria desfrutava de paz e vivia harmonicamente entre si. Consequentemente cresciam, e
várias pessoas se convertiam dia a dia (Atos 9.31). As vezes, imaginamos que a igreja só cresce mediante a
perseguição, mas ela cresce também e melhor quando está em condições favoráveis de paz.
Conclusão
A conversão de Paulo de Tarso é um dos maiores legados da história, pois a mensagem dele sobreviveu a sua
morte, a pessoa dele jamais foi esquecida com o passar dos séculos. Na sua conversão podemos saber como o
Senhor Jesus transforma um inimigo em servo e em vaso útil, tornando-o portador de Sua mensagem.

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Capítulo 3 - O discipulado do Apóstolo Paulo
Introdução
Paulo era um homem de grande valor para o judaísmo, uma pessoa preparada desde o seu nascimento, na
convivência, na escola da sinagoga e, até, finalmente, tornar-se um pupilo do famoso Gamaliel. Tudo isso para
lutar apologética e juridicamente pela causa do judaísmo do mundo pagão de sua época. Mas bastou uma
aparição do Filho de Deus em sua glória para abater todo o seu orgulho genealógico, toda a soberba intelectual
e ignorância espiritual.
1. A necessidade de cuidado
Após o encontro de Paulo com Jesus, no caminho de Damasco, ele fora curado e imediatamente começou a
pregar. Isso aconteceu, mas não tão imediatamente, pois levou alguns dias. Veremos que foram necessários
pelo menos três dias aguardando outra resposta de Jesus.
1.1. Paulo não podia ver (Atos 9.8a)
Enquanto Paulo estava a caminho, acompanhado de alguns que formavam a sua comitiva, por volta de meio-
dia, repentinamente brilhou uma forte luz do céu ao redor de Paulo, e tal luz falava com ele referindo-se ao
seu nome hebraico, “Saulo, Saulo, porque me persegues?”. Depois de palestrar com a luz, levantou-se do chão,
mas a ninguém via (Atos 22.6). Precisou terminar a viagem conforme as instruções do Senhor Jesus, mas agora
amparado.
Paulo viu algo que os outros não puderam ver. Essa visão modificou todo o curso da história humana, tendo
afetado os destinos de milhões de criaturas humanas.
Atos 22.6 - “Por volta do meio-dia, eu me aproximava de Damasco, quando de repente uma forte luz vinda do
céu brilhou ao meu redor. - A alma de Saulo de Tarso vinha cheia de trevas e ímpetos de violência, numa
piedade que transparecia na forma de ódio e malícia, o contrário exato de todas as reais qualidades de um
autêntico caráter espiritual. Somente a luz divina, proveniente dos céus, poderia modificar tão densas trevas
espirituais como as de Saulo de Tarso.
1.2. Limitado para andar (Atos 9.8b)
Paulo, agora cego, foi conduzido pelas mãos de outros ao seu destino. Dessa maneira, o Senhor Jesus o estava
humilhando, abatendo-o para que Paulo aprendesse mais sobre Ele. O andar de Paulo por melhor que fosse
não estava agradando a Deus, e essa sua arrogância natural precisava ser abatida até o chão a fim de aprender
um novo andar, que repetidamente Paulo ensina e relembra às igrejas que fundou. Deus resiste ao soberbo e
pessoas normais evitam o soberbo. Mas, no caso de Paulo, era um agir divino na experiência dele para que
ficasse marcado para sempre. Depois, quando necessário, ele testemunhava dessa sua queda visando a que
alguém se convertesse.
Os homens levaram Saulo para a cidade, pois o “touro furioso”, havia se tornado um “cordeiro dócil!” O líder
teve de ser conduzido, pois ficou cego pela visão resplandecente. Seus olhos espirituais foram abertos, mas
seus olhos físicos estavam fechados. Deus o humilhara inteiramente, preparando Paulo para ser ministrado por
Ananias. Saulo orou e jejuou por três dias (Atos 9.11), durante os quais começou a reavaliar suas convicções.
Havia sido salvo pela graça, não pela Lei, por meio da fé no Cristo vivo. Deus começou a instruir Saulo e a
lhe mostrar a relação entre o evangelho da graça de Deus e a religião mosaica tradicional que havia praticado
ao longo da vida.
1.3. Sem comer e beber (Atos 9.9)
Onde estava hospedado, Paulo permaneceu sem comer e beber, entendendo a grandeza de seu pecado. Dá para
imaginar a agonia em sua alma e as lembranças de determinados momentos em que havia perseguido os
discípulos do Senhor Jesus. Mesmo depois de muito tempo, ele demonstra esse sentimento nas suas cartas
(Filipenses 3.6; I Timóteo 1.13). Mas por outro lado o que lhe confortava, era o fato de Jesus lhe ter aparecido
e falado, impedindo a sua completa perdição. O jejum é uma forma de demonstrar fraqueza, auto humilhação
diante de Deus, visando buscar e praticar a vontade de Deus. É também uma maneira de romper com as
ataduras firmes da ignorância espiritual, injustiças cometidas, e falta de fé. Não se jejua para conseguir o perdão
de Deus, o preço já foi pago, antes, jejua-se para que a vontade divina seja exercida e fortalecida em nós.
Filipenses 3.6 - “quanto ao zelo, perseguidor da igreja”. Ele sabe como a mensagem do evangelho é revoltante
para toda pessoa séria em termos morais e religiosos. Porque precisamente isso fora o jovem Saulo de Tarso:
um moço impecável, sincero e devoto, “quanto à justiça, à justiça na lei, irrepreensível”. Quando lhe
apresentavam os mandamentos, podia afirmar com o jovem rico: “Tudo isso tenho observado desde a minha
juventude”. Por essa razão ele também era conhecido nos mais altos escalões, um personagem promissor, ao
qual desde já se confiavam importantes tarefas (Atos 9.2).
1 Timóteo 1.13 – “Que outrora fui blasfemo, perseguidor e violento”. Ele, que mais tarde teve de sofrer
perseguições e foi maltratado, havia pessoalmente torturado os cristãos. Mais de uma vez Paulo apontou, em
sua proclamação, para seu passado sombrio. Não se pode descartar que nas prisões, injúrias, maus tratos e
temores que ele sofreu como servo de Cristo, o apóstolo teve de se recordar de que no passado cometera as
mesmas humilhações contra outros.
“Mas foi-me concedida misericórdia, porque agi na ignorância, quando não tinha fé”. Porque somente a
persistência intencional e obstinada em uma condição de ignorância leva a atrevimento e impenitência, que
provocam o juízo. Jesus intercede pelos que o crucificam: Pai, perdoa-lhes, porque não sabem o que fazem. O
que fazem é pecado, até mesmo quando acontece por ignorância. Somente quando souberem o que fizeram
sua atitude mostrará se aceitarão o perdão e então confessarão como pessoas agora iluminadas: pecamos. Foi
assim que Paulo agiu. Jamais se desculpa por seu agir condenável, apenas indica o motivo pelo qual foi possível
que seu pecado não lhe custasse a vida, mas a compaixão de Deus o atingisse. Quando Jesus o confrontou,
superando assim sua ignorância, Paulo se afastou do pecado de sua incredulidade e confessou Jesus como
Senhor, passando a servi-lo.
2. A visão de cuidado
O Senhor Jesus havia começado uma obra de conversão ao aparecer repentinamente para Paulo. Mas continuou
operando no sentido de aperfeiçoar a fé que começara a despontar. Deus não começa nada que não possa
terminar e tudo faz com perfeição. Todavia essa segunda parte ficaria por conta de Ananias, um legítimo
representante do Senhor Jesus pertencente à igreja de Damasco.
2.1. Levanta-te e vai à... (Atos 9.11)
Paulo estava hospedado em residência de um certo Judas, ali em Damasco, e repousava aguardando uma
resposta do Senhor Jesus. E ela veio, pois Paulo tivera uma visão espiritual disso, ao ver entrar um homem
chamado Ananias e impondo as mãos sobre ele para que fosse curado. Simultaneamente, Ananias recebeu em
visão a orientação para ir num lugar exato, pois ele estava orando e aguardando resposta. Pensemos uma coisa,
o Senhor Jesus não poderia curar Paulo diretamente? É claro que sim. Ou então, se Judas, o anfitrião de Paulo
fosse um discípulo, e tudo indica que ele o era, não poderia curá-lo através dele? Perfeitamente. Mas por que
Cristo não fez assim? Para que a experiência de Paulo tivesse testemunhas e ele mesmo sempre tivesse aceso
em sua lembrança. Outra coisa é que Cristo deseja usar os vários membros do seu corpo para edificação
espiritual mútua.
2.2. Punha sobre ele a mão... (Atos 9.12)
É importante também notar que, nessa passagem, o Senhor Jesus demonstra que Paulo estava avisado, em
visão, de que o próprio Ananias iria ao seu encontro para curá-lo. E essa cura sucederia mediante a imposição
de mãos de Ananias. O ato de impor às mãos é abençoador, capaz de transferir virtudes que vão além do calor
humano. Na verdade, o poder de Deus é completo em si mesmo e não se faz necessário impor as mãos. Todavia
se torna muito importante e marcante para quem recebe tal imposição. O Senhor Jesus fez isso incontáveis
vezes, e as Escrituras determinam que se imponham as mãos sobre os enfermos e eles serão curados (Mc 16.18;
Atos 4.30).
Jesus age na vida de Saulo através de Ananias, assim como repetidamente realiza sua obra em um irmão por
intermédio de outro irmão.
2.3. Senhor, de muitos ouvi... (Atos 9.13)
Quando Ananias entendeu que se tratava de Saulo, o perseguidor, arguiu o Senhor acerca de seu procedimento.
Os males que tinha causado aos santos através da perseguição em Jerusalém, eram bem nítidos para ele.
Reconhecemos que era uma missão difícil a ser realizada, mas o Senhor disse a Ananias que Paulo já o
aguardava, pois já o tinha visto numa visão, entrando onde estava, e impondo-lhes as mãos, e curando-o de
sua cegueira. Foi importante Ananias ter esse relevante detalhe para que executasse essa missão sem temor,
visto que a fama de Paulo como perseguidor oficial do judaísmo corria entre as colônias judaicas para onde os
cristãos fugiram. Quanto à visão simultânea de Ananias e Paulo, o sentido disso era para que não houvesse
dúvida alguma de que o Senhor estava orquestrando a situação mostrando que era seguro para ambos.
Instintivamente Ananias levanta objeções. A intenção de Lucas não deve ter sido afirmar que Ananias queria
dizer a Jesus: “Para lá não quero ir, tenho medo.” Pelo contrário, o diálogo entre Ananias e seu Senhor trata
do “nome” de Jesus. Ananias alega: “Afinal, esse homem merece transigência e graça?” “E para aqui trouxe
autorização dos principais sacerdotes para prender a todos os que invocam o teu nome.” Também Ananias
percebe que no ataque de Saulo aos cristãos o alvo real é o nome de Jesus. Apenas a partir desse dado a resposta
de Jesus ganha impacto e magnitude: “Vai, porque este é para mim um instrumento escolhido para levar o meu
nome perante os gentios e reis, bem como perante os filhos de Israel.” Precisamente aquele que queria
exterminar o nome de Jesus da terra levará esse nome para dentro do mundo como mais ninguém.
3. A missão cumprida
É interessantíssimo que o Senhor se permite arguir por Ananias e com ele palestra, ainda que brevemente.
Depois de Ananias falar o que pensava demonstrando a necessidade de prudência, as providências para que
tudo saísse perfeitamente em ordem e segurança estavam sendo tomadas naquele momento, em que Paulo
como já foi dito, simultaneamente tinha uma visão acerca do próprio Ananias (Atos 9.15,16).
3.1. Ananias foi encontrar Paulo (Atos 9.17)
Uma vez que tudo se tornara claro para Ananias, ele entendeu que se deveria apressar. Pois Paulo de Tarso
não poderia ficar esperando indefinidamente em casa de Judas. Assim, pôs-se a caminho para achar o endereço
que o Senhor lhe havia mostrado. A narrativa que se segue demonstra diligência, fé e muita alegria de Ananias
ao encontrar a Paulo. Suas palavras são auspiciosas e demonstram conhecimento de tudo o que estava se
passando, pois ele disse, “Irmão Saulo, o Senhor Jesus, que te apareceu no caminho por onde vinhas, me
enviou, para que tornes a ver e sejas cheio do Espírito Santo”.
3.2. Paulo foi batizado (Atos 9.18)
O certo é que Paulo estava deitado ou sentado, de qualquer maneira sua posição indicava estar esperando, ou
pelo menos se recuperando do tratamento de choque recebido da parte do Senhor. O texto não afirma
claramente quem batizou Paulo, mas diz que ele “foi batizado”. É bem provável que tenha sido o próprio
Ananias quem realizou o seu batismo ou outra pessoa próxima. No caso dos judeus, o batismo ocorria
imediatamente, pois eles apenas aceitavam as promessas de Deus reveladas no Antigo Testamento, uma vez
identificando que o homem Jesus era mesmo o Messias, tudo acontecia automaticamente.
3.3. Paulo com outros discípulos (Atos 9.19)
Após o batismo, Paulo se alimenta, pois ele estava afligindo seu corpo físico com o jejum até aquele momento.
Mas também a sua alma sofria por lembrar-se de que, como oficial do Sinédrio, perseguira implacavelmente
inofensivos cristãos tratando-os como bandidos. A comida lhe confortou, Deus lhe perdoou, mas, a partir dali,
usou a sua vida para Deus. Ao que tudo indica, Ananias era um líder local, e ali em Damasco, Paulo pôde
permanecer alguns dias, até que foi à Arábia, ficando por três anos conforme seu pequeno relato autobiográfico
(G11.17).
Com o batismo acaba seu jejum: “Alimentou-se e recuperou as forças.” Podemos crer que para ele essa refeição
também se tornou ao mesmo tempo a celebração da “ceia do Senhor”. Então o “recuperar as forças” era físico
e espiritual, fortalecendo, na unidade de “refeição” e “celebração da ceia do Senhor”, toda a pessoa de Saulo
para o imenso serviço que começaria imediatamente.
Conclusão
Os cuidados básicos desfrutados por Paulo de ser assistido, batizado, usufruindo da convivência com outros
discípulos mais experientes são os mesmos direitos de todo o cristão neófito que entra nas milícias do Senhor
Jesus Cristo. Se isso for ignorado, estar-se-á gerando um cristianismo normal.

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Capítulo 4 - O progresso espiritual do Apóstolo Paulo
Introdução
Depois que Paulo reconfigurou a sua mente através da sua Conversão a Cristo, ele passou a viver de acordo
com as suas novas convicções. Isso evidenciou a profunda transformação que sofreu no caminho de Damasco,
e essa transformação, a cada tempo, tanto mais se evidenciava. Será estudado aqui como se processou o
desenvolvimento espiritual de Paulo.
1. O esforço evangelístico de Paulo
A convivência com os irmãos de Damasco era muito boa, disso ninguém duvida, mas Paulo era uma pessoa
com o temperamento e a vontade de demonstrar gratidão a Deus, e crescer espiritualmente. Sentia a
necessidade de compartilhar tão logo a sua dramática conversão, e quem de fato era Jesus de Nazaré.
1.1. Pregando nas sinagogas (Atos 9.20)
O autor de Atos omite o fato de Paulo ter viajado para Arábia, mas Paulo, ao escrever aos gálatas, informa
que, três anos após a sua conversão, ele foi das regiões da Arábia paia Jerusalém (Gálatas 1.17-18). Em Atos
9.20, Paulo expõe o fato de ter estado em Damasco novamente, conforme maiores detalhes escritos por Lucas
lá estiveram pregando. Fica uma pergunta no ar: Por que teria Paulo ido à Arábia, e o que ficou fazendo
naqueles três anos? Embora não tenhamos detalhes, sabemos que ele ali parou para refletir sobre a sua decisão,
visando-a fortalecer. Todavia é certo que ele procurou falar de Jesus causando algum tipo de problema na
Arábia. Por isso retomou a Damasco, e, aos sábados, vestia-se com os trajes de fariseu, e, indo às sinagogas,
dali pregava acerca de Jesus ressuscitado.
Nisto, porém, Saulo revela-se por inteiro: “E logo pregava, nas sinagogas, a Jesus.” É próprio de sua natureza
empenhar-se resolutamente. Ao mesmo tempo, porém, ele também entendeu sua conversão da forma correta.
Afinal, desde o início ela não foi simplesmente sua própria salvação e bem-aventurança, mas vocação para o
serviço. E para Paulo esse serviço não era um adendo amargo para a doce salvação recebida. Ele sempre
percebia a profundidade da misericórdia que lhe fora concedida (2 Coríntios 4.1; 1 Timóteo 1.12) justamente
na incumbência do serviço. Por essa razão ele imediatamente se torna o “arauto” de seu Rei. Novamente usa-
se o termo “ser arauto” para “proclamar”. As sinagogas – nas cidades grandes com numerosa população de
judeus havia sempre várias casas de oração judaicas – são o local em que deve soar o grito do arauto para o
Rei de Israel.
O conteúdo de sua proclamação é uma única frase de significado imensurável: “Este é o Filho de Deus.” Pedro
falara aos israelitas acerca do “Servo de Deus”. Paulo, porém, imediatamente vai além. Sua experiência no
encontro com Jesus e o que entendeu sobre Jesus a partir disso fez com que captasse a ligação integral de Jesus
com Deus. De acordo com o entendimento judaico o Messias também podia ser um simples ser humano. Paulo,
porém, viu: o Messias Jesus não se encontrava entre as pessoas, nem mesmo como a maior e mais gloriosa
delas. Ele veio de Deus e subsistia “em forma de Deus” (Filipenses 2.6).
Gálatas 1.17-18. Paulo não temia a consequência integral. Nem subi a Jerusalém para os que já eram
apóstolos antes de mim. O chamado: Subamos a Jerusalém! Estava no sangue de todo judeu devoto, fazendo
os corações bater mais depressa. Contudo o lugar de Paulo não era mais aos pés dos coapóstolos lá na cidade
santa. Ele reconhecia a vantagem cronológica deles, assim como sua dignidade especial (Gálatas 2.2), mas o
próprio Deus lhe havia interditado o caminho em direção da dependência deles na questão da missão aos
gentios.
No presente contexto era importante para ele o fato de ter permanecido longe da instrução dos de Jerusalém.
Mas parti para as regiões da Arábia. Que fez ele ali? Como está no contexto da demonstração de sua
obediência imediata diante de sua incumbência missionária, é provável que pregasse. É provável que por meio
dessa pregação, como em quase todos os lugares de sua atuação, também se tenha tornado malquisto na Arábia
(Atos 9.22 -25; 2Co 11.32,33). Isso dificilmente teria acontecido se ele tivesse permanecido para meditar num
lugar solitário. E voltei, outra vez, para Damasco. Ele diz, outra vez: Portanto, ele já havia entrado na cidade
anteriormente, o que coincide com Atos 9.8-25; 22.11-16; 26.20, e podia pressupor esse conhecimento entre
seus leitores. No entanto, por mais inconstante e fugitivo que ele fosse, evitou Jerusalém. Com a distância
geográfica manteve também uma distância pessoal das demais autoridades. Seu evangelho é independente e
do mesmo valor.
1.2. O espanto dos que o ouviam (Atos 9.21)
Os comentários sobre a conversão de Paulo se tornaram notórios na igreja (Gl 1.23). Era uma enorme surpresa
ouvir Paulo muito bem trajado como fariseu, aos sábados, nas sinagogas de Damasco. Ele era um ótimo orador,
mas ouvi-lo, agora, apresentando o Nazareno morto na cruz, como o Cristo prometido, causava espanto. Afinal,
não era Paulo aquele que antes recebera cartas para prender os dissidentes? Como agora procura convencer
que esse Jesus é o Cristo? Realmente o espanto e a confusão impregnavam a plateia.
Entre os judeus de Damasco formam-se perplexa confusão e consternação, porque Paulo não se deteve em
reflexões teóricas acerca de Jesus, mas “demonstrou que esse é o Messias”. Assim, cada israelita estava sendo
confrontado com a decisão prática. É preciso estar à disposição do Messias de Israel com todo o coração e toda
a vida. Paulo “demonstrou” isso com base na Sagrada Escritura.
Gálatas 1.23. As igrejas da Judéia tinham de Paulo apenas uma ideia restrita como pregador cristão: Ouviam
somente dizer: Aquele que, antes, nos perseguia, agora, prega a fé que, outrora, procurava destruir.
Divulga-se nas igrejas da Judéia a conversão que não era algo comum. Reconhecem uma intervenção do alto,
formulando-o de maneira marcante.
1.3. Seu esforço apologético (Atos 9.22)
Paulo se esforçava para convencer os membros das sinagogas locais de Damasco, quanto à messianidade de
Jesus de Nazaré. E, inicialmente, ele encontrava certa dificuldade, por causa da incredulidade e, possivelmente,
das muitas altercações por parte dos ouvintes mais conservadores. Entretanto, com o passar do tempo,
observamos que Paulo se fortalecia cada vez mais, quer dizer, mais em graça, e mais em argumentação e
persuasão, de maneira que seus ouvintes começaram a ficar confusos quanto a sua opinião original. O ser
humano pode chegar a conhecer a verdade, mas preferir a tradição na qual recebeu dos seus pais, ou mesmo
por uma questão de orgulho se recusar a mudar da opinião que tanto creu, ensinou ou discutiu. Por isso o texto
de Lucas nos diz que “se esforçava muito mais” num esforço apologético.
2. Fugindo de Damasco
Quando se entende que o governante de Damasco era alguém delegado pelo rei Aretas IV, da Arábia, conclui-
se facilmente que a estada de Paulo de Tarso lá na Arábia não foi tão tranquila como se imagina. Sua própria
palavra define como foi: “Em Damasco, o que governava sob o rei Aretas pôs guardas às portas da cidade dos
damascenos, para me prenderem” (2 Coríntios 11.32). O contexto imediato do que Paulo trata escrevendo aos
coríntios fala das humilhações, perseguições, açoites, fugas, etc., vividas ao longo de seu ministério exatamente
nessa época. Assim, pode-se supor que essa indisposição não foi apenas por causa de seu trabalho em Damasco,
mas na Arábia também.
2.1. Conselho de morte (Atos 9.23,24)
A pregação de Paulo era forte, persuasiva, e cheia de poder. Vendo que Paulo caia na graça de muitos, e que,
com uma pregação convincente, crescia cada vez mais, os religiosos judeus, reunidos em conselho local,
concluíram que nada havia que pudesse ser feito, senão eliminarem Paulo. É importante lembrar que o Príncipe
deste mundo não ficaria de braços cruzados à medida que o seu reino estava sendo saqueado, ele reagiria
tentando corromper ou eliminar o servo de Deus a ele dedicado. Caso não conseguisse, dificultaria ao máximo
para que o obreiro de Cristo desistisse de fazer a obra de Deus.
Atos 9.23 - Decorridos muitos dias, os judeus decidiram de comum acordo matá-lo. Não há maneira para
que homens perversos e violentos, armadores de ciladas e homicidas, sejam homens de Deus; mas era isso que
aqueles “...judeus...”, aqui referidos, diziam ser. Eram os líderes reconhecidos da igreja judaica, visitantes
permanentes do templo de Jerusalém, praticantes constantes das cerimônias e dos ritos legais exarados no
Antigo Testamento, autoridades civis e religiosas, conhecedoras das Escrituras, cidadãos respeitáveis, que os
demais chamavam de “rabinos”. Imaginavam-se pregadores e protetores da revelação divina.
Atos 9.24 - mas Saulo ficou sabendo do plano deles. Dia e noite eles vigiavam as portas da cidade a fim
de matá-lo. Quanto odiavam a Saulo, e quão resolvidos estavam em mata-lo. Porém, nenhum homem de Deus
morre antes do tempo, porquanto os seus dias estão numerados e ordenados, e ele vive cada um deles. E nisso
nos é dado a observar a providência de Deus. Não há de se duvidar que o plano teria sido bem-sucedido, se
Deus não houvesse guardado a Saulo na palma de sua mão, fazendo o plano urdido chegar ao seu
conhecimento, através de meios que desconhecemos, e iluminando-o quanto ao meio de fugir da cidade.
2.2. A fuga de Paulo (Atos 9.25)
Havia um entrosamento muito firme entre Paulo e os discípulos dali de Damasco, e, pelo risco que eles
assumiram em salvá-lo, isso ficou claramente demonstrado. Paulo não era diferente de seu mestre. Sua
influência fazia com que muitos o odiassem, mas também fazia com que vários outros fossem capazes de
arriscar a própria vida por ele (Rm 16.4). Quando Paulo teve conhecimento da estratégia contra sua vida teve
de fugir, mas, qual o porquê de tudo isso? A resposta está no seu trabalho que: incomodava, crescia, e se
fortalecia cada vez mais. Como dizem por aí: “ninguém chuta um cão morto”.
Atos 9.25 - Mas os seus discípulos o levaram de noite e o fizeram descer num cesto, através de uma
abertura na muralha. Paulo, no trecho de II Coríntios 11.33, diz-nos especificamente como essa fuga se
realizou. Foi através de “...janela...” Isso parece subentender que ele foi arriado através de uma janela de uma
casa ou edificação qualquer que havia à beira do muro, ou que essa janela era uma abertura na própria muralha,
de tal modo que essa janela era, ao mesmo tempo, janela do muro e de uma casa contígua. Tais “janelas” têm
sido observadas em tempos modernos, tanto nas muralhas de Damasco como em outras localidades antigas do
oriente; e é evidente que isso é o que está em foco aqui. Pode se comparar isso com o trecho de Js 2.15, pois
foi através de um plano desse que Raabe permitiu que os espias fugissem de Jericó.
Romanos 16.4 - Eles pela minha vida expuseram suas cabeças. E isto não lhes agradeço eu só, mas
também todas as igrejas dos gentios. A expressão “...expuseram suas cabeças...”, se for traduzida
literalmente, dirá: “expuseram seus pescoços”, o que é uma alusão ao machado do verdugo. Pois quando um
homem era executado por decapitação, punha o pescoço sobre o bloco de madeira. Paulo, pois, dá a entender
que, ao servirem juntamente com ele, por serem seus companheiros de luta, Priscila e Áquila, por mais de uma
vez poderiam ter sido mortos em meio às tribulações que assediavam àquele Apóstolo.
“...também todas as igrejas dos gentios...” A questão das ações de graças, em face da dedicação desse casal,
não poderia terminar com Paulo, porquanto todas as igrejas gentílicas (o que talvez indique, especialmente,
aquelas que havia na Ásia Menor) deveriam mostrar-se gratas para com o papel desempenhado por Priscila e
Áquila, no ministério do evangelho naquelas regiões. Priscila e Áquila tinham sido figuras centrais,
instrumentos poderosos nas mãos de Jesus Cristo naqueles territórios. Muitas almas haviam sido conduzidas
aos pés de Cristo, tendo sido também firmadas na doutrina cristã, direta ou indiretamente, por meio deles.
2.3. De Damasco para o mundo (Atos 9.23-24)
Os detalhes da fuga de Paulo são interessantes, o sucesso dela dependeu da cumplicidade e ajuda dos irmãos
dali, observe que ele escapou à noite, pelo muro da cidade, num cesto descido através de uma corda. A partir
de então, o que se sabe é que ele foi para Jerusalém, onde sua vida foi marcada pela atividade evangelizadora
nos anos seguintes. Ainda que, aparentemente em algum momento de sua história, não tenha sido bem-
sucedido, seu exemplo vívido permanece como fonte de inspiração a todos os missionários posteriores.
3. Chegada de Paulo a Jerusalém e a sua partida
Dentre tantos lugares que Paulo poderia ter ido pelo vasto Império Romano, em sua fuga, ele decidiu ir a
Jerusalém. Mas com que interesse? O que fica claro, conforme narrou posteriormente, era que ele tinha como
objetivo primário que era o de ver Pedro (Gálatas 1.18). Todavia, por algum motivo, não o encontrou de
imediato, encontrando apenas dificuldades com alguns irmãos que não tinham certeza da sua genuína
conversão.
3.1. A dificuldade de entrosamento (Atos 9.26)
Para os cristãos de Jerusalém, a conversão de Paulo não passava de “fachada” para tentar aprisionar depois.
Aliás, a sua conversão, de certa maneira, era algo recente e os traumas relacionados à pessoa dele eram
enormes. Então, Paulo procurava se ajuntar a eles, porém eles com medo o evitavam. Ele já havia sido
beneficiado pela oração de Estevão, pela acolhida calorosa e perdoadora de Ananias, mas faltava alguém que
lhe servisse de conexão para ajudá-lo quanto à dificuldade de entrosamento. Havia um motivo sério que
impedia as pessoas dele se aproximar, posto que muitas feridas ainda estivessem abertas na vida de algumas
famílias cristãs de Jerusalém. Entretanto, é difícil entender como em alguns lugares, certos novos convertidos
e crentes, vindos de outras cidades distantes não conseguem entrosamento, porque alguns grupos da igreja
local se cristalizam em torno de si impedindo a integração de novatos ou recém-chegados.
Atos 9.26 - Quando chegou a Jerusalém, tentou reunir-se aos discípulos, mas todos estavam com medo
dele, não acreditando que fosse realmente um discípulo.
“Quando chegou a Jerusalém…” O próprio Paulo afirmou em Gálatas 1.18-20 sobre sua primeira permanência
em Jerusalém. Ainda que tenham passado “muitos” dias até o atentado e a fuga de Damasco, eles perfazem
aproximadamente “três anos”, como Paulo escreve em Gálatas 1.18. Porém Lucas, que em muitos pontos de
seu livro deixa de apresentar em detalhe tudo o que indubitavelmente aconteceu, não menciona o que nos
informa o próprio Paulo: “Parti para as regiões da Arábia e voltei, outra vez, para Damasco” (Gl 1.17). Saulo
não permaneceu ininterruptamente em Damasco, mas de lá foi para a “Arábia”. Essa região não era a Arábia
de hoje, que representa apenas um remanescente do grande reino dos nabateus, mas que no tempo dos apóstolos
se estendia até Damasco, tendo como capital Petra (a antiga Edom).
3.2. Barnabé o apresenta aos apóstolos (Atos 9.27-28)
Barnabé era um líder de elevada estatura espiritual “que insistia em crer no melhor dos outros”. Era certo que
ele evitou Paulo quando ainda era um perseguidor, mas agora, ao saber que se convertera, deixou aflorar as
boas lembranças de um conhecimento anterior, de um tempo possível em que estudaram juntos. É certo que
ele averiguou a história recente da conversão e tomou conhecimento da palavra profética de Ananias: de que
Paulo era um vaso escolhido para anunciar o nome do Senhor. Diante de tantas evidências, ou seja, de como
Paulo vira o Senhor e lhe falara da sua disposição em anunciar ousadamente no nome do Senhor, Barnabé fez
a ponte, servindo de conexão entre os apóstolos e Paulo. Foi a partir daí que Paulo passou andar com eles em
Jerusalém, entrando e saindo.
Atos 9.27-28 - Então Barnabé o levou aos apóstolos e lhes contou como, no caminho, Saulo vira o Senhor,
que lhe falara, e como em Damasco ele havia pregado corajosamente em nome de Jesus. Assim, Saulo
ficou com eles, e andava com liberdade em Jerusalém, pregando corajosamente em nome do Senhor.
O informe pessoal de Paulo sobre sua permanência em Jerusalém leva a supor, a princípio, apenas uma breve
e tranquila visita a Pedro. E, com base em Gálatas 1.19, Paulo viu na ocasião somente a Pedro e o irmão do
Senhor, Tiago. É o que ele assevera expressamente. Do mesmo modo, porém, a breve nota da carta aos Gálatas,
porque no contexto da carta o interesse de Paulo se concentra numa única coisa, que é explicitar toda sua
autonomia e independência em relação aos primeiros apóstolos.
É compreensível que mesmo depois dos três anos de trabalho em Damasco e na Arábia houvesse suspeitas e
rejeição entre os cristãos de Jerusalém contra o perseguidor de outrora. Haviam sofrido demais por meio dele.
Não é explicado por que Barnabé o avaliou de outra maneira e foi tomado de plena confiança nele. No entanto,
o que é importante para os crentes relembrar, é que ocasionalmente, a vida do crente é inteiramente nova.
Existe pessoas que como Saulo, transforma-se em nova criatura. Ai do homem que se posta no caminho deles
e que, devido o seu passado, se recusam a permiti-lhes o direito de serem transformados. Muito melhor é entrar
em jogo com um homem e perder, do que perder um homem por recusar dar-lhe uma chance!
3.3. Seu retorno a Tarso (Atos 9.29-31)
Paulo não se acomodava a rotinas, era ousado e como tal anunciava o nome de Jesus. Essa coragem o colocava
constantemente em risco, principalmente quando decidiu falar e disputar contra os helenistas, os judeus de fala
grega a quem Estevão antes tivera também testemunhando de Jesus. Quando os irmãos souberam que os
helenistas procuravam matá-lo, aí decidiram o aconselhar deixar Jerusalém e o acompanharam até Cesaréia
onde havia um porto construído por Herodes. Então partiu Paulo para Tarso, sua terra natal, e os irmãos
puderam respirar aliviados, pois senão ele teria o mesmo destino de Estevão.
Conclusão
O progresso espiritual de uma pessoa é evidenciado pela sua forma de proceder. Qualquer pessoa pode
experimentar progresso ou retrocesso espiritual. Paulo demonstrou seu progresso de algumas maneiras como
foi visto nesta lição. Que possamos seguir suas pegadas corajosas, para continuar nosso progresso espiritual.

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Capítulo 5 - Paulo e Barnabé, aliados na obra do Senhor
Introdução
Quando Paulo retornou à sua cidade natal (Tarso) pareceu um desfecho um tanto melancólico dado por Lucas.
Mas aí ele passa a narrar vividamente os atos de Pedro, para depois retornar à trajetória de Paulo como um
assistente de talento. Aqui estudaremos um pouco do perfil de Paulo que atendendo um convite para auxiliar
Barnabé, teve um contínuo progresso espiritual e ministerial em Antioquia.
1. Paulo, um companheiro em potencial
Aquele era um momento surpreendente de crescimento e multiplicação de conversões nas regiões da Judéia,
Galileia e Samaria, e os irmãos que saíram dispersos por causa da perseguição iam anunciando a Palavra por
onde passavam, de maneira que muitos judeus se convertiam cada vez mais ao Senhor.
1.1. Antioquia, uma igreja crescente (Atos 11.20,21)
Grande número de pessoas se converteu ao Senhor em Antioquia, mas o fato de ser uma igreja fora dos termos
de Israel e mista, ainda era algo complicado para os apóstolos em Jerusalém. O motivo era preconceito. Por
esse motivo, Pedro, o primeiro a entrar na casa de um centurião romano e pregar a salvação em Cristo teve que
se explicar por entrar na residência de um pagão incircunciso, ainda que piedoso e dirigido por revelação divina
(Atos 11.4-18). É claro que essa notícia se espalhou na comunidade dos fiéis a Cristo, estimulando muitos a
falarem de Jesus aos não judeus também. A igreja de Antioquia cresceu de tal maneira que alcançou mais
expressão do que Jerusalém com o passar do tempo.
Quando os cristãos foram dispersos durante a perseguição de Paulo contra a Igreja (Atos 8:11), alguns
chegaram até Antioquia, a capital da Síria, a quase 500 quilômetros ao norte de Jerusalém (é importante não
confundir essa cidade com Antioquia da Pisídia; ver Atos 13:14). Havia pelo menos dezesseis cidades
chamadas Antioquia no mundo antigo, mas esta era uma das maiores.
Com cerca de meio milhão de habitantes, Antioquia era a terceira maior cidade do império romano, depois de
Roma e Alexandria. Suas construções grandiosas contribuíram para que fosse chamada de "Antioquia, a
Cidade Dourada, Rainha do Oriente". Sua rua principal tinha mais de 7 quilômetros de extensão; era calçada
de mármore e ladeada de colunas desse mesmo material. Naquela época, era a única cidade do mundo antigo
com iluminação noturna.
Porto movimentado e centro de luxo e de cultura, Antioquia atraía pessoas de todo tipo, inclusive oficiais
romanos aposentados e abastados que passavam os dias conversando nas casas de banho ou apostando nas
corridas. Com sua enorme população cosmopolita e seu grande poder político e comercial, a cidade oferecia à
igreja oportunidades extraordinárias de evangelismo.
Antioquia era uma cidade perversa, superada apenas, talvez, pela cidade de Corinto. Apesar de todas as
divindades sírias, gregas e romanas que os cidadãos de Antioquia adoravam, os santuários locais eram
consagrados a Dafne, cuja veneração incluía práticas imorais. Lá, onde todos os deuses da Antiguidade eram
adorados, era preciso que Cristo fosse exaltado".
Quando os cristãos perseguidos chegaram a Antioquia, não se sentiram nem um pouco intimidados pela
grandiosidade das construções ou pelo orgulho dos cidadãos. Tinham a Palavra de Deus em seus lábios e a
mão de Deus sobre seu testemunho, e muitos pecadores arrependeram-se e creram. Foi uma obra espetacular
da graça maravilhosa de Deus.
1.2. Barnabé o enviado (Atos 11.22-24)
Quando aquele fenômeno de crescimento da igreja em Antioquia chegou ao conhecimento da liderança de
Jerusalém, a igreja enviou Barnabé com a finalidade de legitimar Antioquia. Barnabé era homem generoso,
benquisto entre os apóstolos, e de grande reputação na igreja. A pessoa perfeita para aquele momento. Eusébio
de Cesaréia afirma que Barnabé foi um dos setenta discípulos do Senhor Jesus (H. Eclesiástica, L.l Cap.12,1).
Em virtude do seu perfil tolerante e empreendedor, Barnabé trabalhou de modo tão excelente que a comunidade
dos crentes cresceu com muita qualidade (Atos 11.24). Porém ele observou que Paulo era um companheiro
perfeito para aquele trabalho.
Os líderes da igreja em Jerusalém tinham a responsabilidade de "pastorear" o rebanho disperso, que passou a
incluir congregações gentias de lugares distantes como a Síria. Ao que parece, os apóstolos ministravam fora
de Jerusalém naquela ocasião, de modo que os presbíteros enviaram Barnabé a Antioquia, a fim de descobrir
o que se passava entre os gentios. Foi uma escolha sábia, pois Barnabé fez jus ao seu nome, "filho de exortação"
(Atos 4:36).
Atos 11:24 apresenta um "perfil espiritual" de Barnabé que nos parece ser um exemplo de vida cristã a ser
imitado. Era um homem justo, que obedecia à Palavra em sua vida diária e, portanto, de caráter irrepreensível.
Era cheio do Espírito, o que explica a eficácia de seu ministério. O fato de ser um homem de fé fica evidente
na maneira de exortar a igreja e, mais tarde, também de exortar Saulo. Os novos cristãos e as novas igrejas
precisam de pessoas como Barnabé para encorajá-los em seu crescimento e ministério.
De que maneira Barnabé foi um estímulo a esses cristãos gentios? Em primeiro lugar, se regozijou com o que
viu. Adorar a Deus com gentios foi uma experiência nova para ele, mas abordou essa situação com uma atitude
positiva, sem procurar Coisas para criticar. Aquele ministério era obra de Deus, e Barnabé agradeceu pela
graça divina.
Ao ensinar a Palavra de Deus ao povo, enfatizou a devoção do coração. A expressão "permanecer no Senhor"
não significa que deviam "manter-se salvos". A mesma graça que nos salvou também nos guarda (1 Co 15:10;
Hebreus 13:9). Essa expressão traz à memória a admoestação de Josué a Israel em Josué 22:5. Permanecer no
Senhor é amar ao Senhor, andar em seus caminhos, obedecer à sua Palavra e servi-lo de todo o coração.
Significa que pertencemos somente a ele e que cultivamos nossa devoção a ele. "Ninguém pode servir a dois
senhores" (Mateus 6:24).
O trabalho de Barnabé em Antioquia teve dois resultados maravilhosos. Em primeiro lugar, o testemunho da
igreja causou grande impacto na cidade, de modo que "muita gente se uniu ao Senhor" (Atos 11:24). Quando
os cristãos estão fundamentados na Palavra, seu testemunho aos perdidos é vivo e eficaz e há um equilíbrio
dentro da igreja entre a edificação e o evangelismo, entre o ensinamento e o testemunho.
1.3. Paulo é convidado para trabalhar (Atos 11.25)
Barnabé tinha uma convicção de que Paulo, ao ouvir o relato das grandezas de Deus em Antioquia, e a sua
responsabilidade pastoral ali naquela cidade, interessar-se-ia em acompanhá-lo. Barnabé partiu em busca de
Paulo, até que, finalmente, o achou. Diante do relato de Barnabé, Paulo aceitou prontamente ir com ele para
Antioquia a fim de auxiliá-lo. Aí vemos o verdadeiro coração de um servo de Deus. Paulo aceitou ficar em
Tarso da Cilicia trabalhando com tendas, ofício que aprendera quando mais novo, mas diante da necessidade,
dispôs-se a trabalhar em Antioquia. Parece incrível, mas todas as grandes personalidades de destaque nas
páginas sagradas estavam ocupadas quando foram chamadas. Um chamado divino deve sempre ter prioridade
na vida de quem serve a Deus.
O crescimento da igreja criou a necessidade de mais pessoas para ajudar, de modo que Barnabé foi até Tarso
e chamou Saulo. Mas por que ir a um lugar tão distante só para encontrar um assistente? Por que não pedir que
a igreja de Jerusalém enviasse Nicolau, um diácono nascido em Antioquia? (Atos 6:5). Porque Barnabé sabia
que Deus havia incumbido Saulo de ministrar aos gentios (Atos 9:15; 22:21; 26:27). Convém lembrar que
Barnabé fez amizade com Saulo em Jerusalém (Atos 9:26, 27) e, sem dúvida, os dois conversavam sobre o
chamado especial que Saulo havia recebido de Deus.
2. O trabalho de Barnabé e Paulo
A igreja em Antioquia principiou com elementos judeus, depois helénicos, e por fim gentios. Essa massa de
pessoas vindas de diferentes lugares com culturas diferentes, no entanto, tinham uma coisa em comum, o fato
de crerem em Jesus Cristo. A fé em Jesus foi o agente agregador que os reuniu eliminando vantajosamente
todas as diferenças e possibilitando a realização posterior da obra missionária no Império Romano.
2.1. A prioridade no ensino (Atos 11.26)
Quando pensamos na integração de Paulo junto aos irmãos de Antioquia, lembra que tudo foi diferente de
Damasco e Jerusalém por causa da aceitação de seu trabalho junto a Barnabé. A princípio, ambos laboraram
firmemente no ensino durante um ano inteiro; eles foram sábios o suficiente para realizarem um trabalho
pastoral e missionário sem negligenciar a instrução. Esse cuidado foi tão decisivo e salutar para aquela igreja
que os fiéis se esforçaram para se parecer cada vez mais com Jesus, o Cristo. Note que por causa do ensino
acompanhado de bom testemunho, pela primeira vez, os crentes em Jesus foram chamados cristãos (Atos
11.26; Mateus 22.29; Pv 18.15).
O que Barnabé fez por Saulo precisa ser colocado em prática nas igrejas de hoje. Os cristãos maduros precisam
chamar outros membros do corpo e encorajá-los em seu serviço ao Senhor. Uma das políticas de D L. Moody
era dar alguma incumbência a todos os recém-convertidos. A princípio, poderia ser alguma tarefa simples,
como distribuir hinários ou receber as pessoas na entrada da igreja, mas cada convertido deveria ter uma
ocupação. Como mencionamos anteriormente, Moody costumava dizer: "É melhor colocar dez homens para
trabalhar do que fazer o serviço de dez homens”. Muitos dos "assistentes" de Moody tornaram-se excelentes
obreiros cristãos trabalhando de modo independente e multiplicando o testemunho da Palavra.
Em Antioquia, os discípulos de Jesus Cristo foram chamados pela primeira vez de cristãos. O sufixo em latim
correspondente ao nosso “ão” significa "pertencente ao partido de". Como forma de zombaria, os cidadãos de
Antioquia juntaram o sufixo em latim ao nome grego "Cristo" (N. do T.: do grego Christós - o que foi ungido),
resultando na designação cristão. O termo aparece apenas três vezes no Novo Testamento: em Atos 11:26;
26:28 e 1 Pedro 4:16.
Infelizmente, a palavra “cristão” perdeu muito de seu significado ao longo dos séculos e não quer dizer mais
"aquele que deixou o pecado, creu em Jesus Cristo e recebeu a salvação pela graça" (Atos 11:21-23). Muita
gente que não nasceu de novo se considera "cristão" simplesmente porque afirma não ser "pagão". Afinal,
participa de uma igreja, frequenta os cultos com certa regularidade e, de vez em quando, até contribui para o
trabalho da igreja! Mas é preciso mais do que isso para o pecador tornar-se filho de Deus. É preciso
arrependimento do pecado e fé em Jesus Cristo, que morreu por nossos pecados na cruz e ressuscitou para nos
dar vida eterna.
Os seguidores de Cristo na Igreja primitiva sofreram por serem cristãos (1 Pe 4:16).
2.2. Proveram socorro aos necessitados (Atos 11.28-29)
Como o cenário político era muito inconstante, as crises assolavam facilmente, somado às catástrofes naturais
como em nossos dias, isso por si só gerava muitos necessitados de pão no mundo afora. Todavia, nesses dias,
em que Barnabé e Paulo estavam em Antioquia, desceu de Jerusalém uma comitiva de profetas, não se sabe o
propósito exato deles nessa visita, mas a fama do crescimento da igreja em Antioquia contribuiu decisivamente
para isso (Atos 11.26). O exercício ministerial de profeta era um ofício comum naqueles dias que contribuía
uniformemente para o crescimento da igreja, junto com os apóstolos. E um daqueles profetas vindo com a
comitiva de Jerusalém, por nome Ágabo, anunciou uma fome que se abateria por sobre todo o mundo (Atos
11.27), “e isso aconteceu no tempo de Cláudio César”.
O Espírito disse a Ágabo (ver Atos 21:10, 11) que logo haveria uma grande fome, o que de fato ocorreu no
reinado de Cláudio César (41 - 54 d.C.), quando as colheitas foram escassas durante vários anos. Os escritores
da Antiguidade citam pelo menos quatro grandes fomes: duas em Roma, uma na Grécia e outra na Judéia. A
escassez de alimentos na Judéia foi especialmente grave e, de acordo com o historiador judeu Josefo, muitas
pessoas morreram por falta de recursos para comprar a pouca comida que havia disponível.
Ágabo entregou sua mensagem aos cristãos de Antioquia, e eles resolveram ajudar seus irmãos cristãos da
Judéia. A finalidade de uma profecia genuína não é de satisfazer nossa curiosidade sobre o futuro, mas sim de
encorajar nosso coração a fazer a vontade de Deus. Os cristãos não podiam impedir a vinda da fome, mas
podiam mandar ajuda aos necessitados.
Esta passagem ilustra um princípio espiritual importante: se as pessoas foram uma bênção espiritual para nós,
devemos ministrar-lhes por meio de nossos recursos materiais. "Mas aquele que está sendo instruído na palavra
faça participante de todas as coisas boas aquele que o instrui" (Colossenses 6:6). Os cristãos de Jerusalém
haviam levado o evangelho a Antioquia. Enviaram Barnabé para exortar os recém-convertidos. Nada mais
certo do que os gentios de Antioquia retribuírem e enviarem a ajuda material de que seus irmãos e irmãs na
Judéia precisavam. Alguns anos depois, Saulo recolheria uma oferta parecida das igrejas gentias e a levaria
aos cristãos de Jerusalém (Atos 24:17); ver também Rm 15:23-28).
É importante observar que havia ocorrido uma mudança na igreja de Jerusalém. Antes, ninguém da igreja
precisava de coisa alguma (Atos 4:34), nem era necessário pedir a ajuda de outros. Aqueles primeiros anos
foram como "o Paraíso na terra", enquanto Deus abençoava seu povo ricamente e os usava para testemunhar à
nação incrédula. Foram "tempos de refrigério" do Senhor (Atos 3:20). À medida que a mensagem passou dos
judeus para os samaritanos e gentios, o "programa de partilha" de Jerusalém foi desaparecendo, e as coisas
voltaram ao normal.
O parâmetro bíblico para a oferta nos dias de hoje não é Atos 2:44, 45 e 4:31-35, mas sim Atos 11:29: "cada
um conforme as suas posses". Os ensinamentos de Paulo em 2 Coríntios 8 e 9 seguem esse parâmetro. A prática
do "comunismo cristão" só se deu em Jerusalém como medida temporária, enquanto o evangelho era pregado
"primeiro aos judeus". Como o cuidado de Deus pelo povo de Israel no deserto, foi uma demonstração prática
das bênçãos que Deus concederia, caso a nação se arrependesse e cresse.
2.3. Representantes de Antioquia (Atos 11.30)
É muito interessante que os discípulos resolveram enviar suprimentos aos irmãos que habitavam na Judéia
através de seus representantes legítimos, a saber, Barnabé e Paulo. Eles receberam a palavra profética, mas
deliberaram entre si cooperar, a fim de mitigar a fome dos irmãos na Judéia. Para ambos os líderes restou a
alternativa feliz de representá-los conduzindo o donativo que demonstrava carinho e gratidão aos irmãos de lá.
Através desse fato, aprende-se que nem toda a iniciativa deve começar exclusivamente com a liderança, mas
esta pode ser conduzida a organizar, enviar ou mesmo representar a assembleia local dos crentes numa obra
social.
O fato de a igreja escolher Barnabé e Saulo para levar a oferta a Jerusalém mostra sua confiança neles. Esses
dois homens trabalhavam juntos no ensino da Palavra e uniram esforços no ministério prático de assistência
aos cristãos necessitados de Jerusalém. Por certo, também ministraram a Palavra pelo caminho, ao percorrerem
a longa jornada de Antioquia a Jerusalém. Em pouco tempo, o Espírito levaria esses dois amigos a se unirem
para levar o evangelho aos gentios de outras terras (Atos 13:1 ss); ainda percorreriam muitos quilômetros
juntos.
Essa experiência dos cristãos judeus de receber a ajuda dos gentios contribuiu para que desenvolvessem uma
atitude de humildade? Talvez. Mas também foi uma demonstração belíssima de amor e um testemunho
maravilhoso da união da Igreja. Como disse Sir Winston Churchill “Sobrevivemos com o que recebemos por
nosso trabalho, mas verdadeiramente vivemos de acordo com o que contribuímos”.
3. O retorno da missão representativa
Barnabé e Paulo provaram mutuamente ser bons parceiros na seara do Senhor. Barnabé estava satisfeito por
ter buscado Paulo como companheiro na missão pastoral em Antioquia. E Paulo, por sua vez, estava
demonstrando ser um assistente de talento ao lado de Barnabé, sempre dentro de suas expectativas.
3.1. A Palavra crescia e multiplicava-se (Atos 12.24)
O escritor de Atos nos dá uma nota do grande crescimento da obra do Senhor não apenas em Antioquia da
Síria, mas também nas regiões da Judéia. Antioquia alcançou um momento de crescimento e de multiplicação
por todo seu termo. Na verdade, a perseguição contra os cristãos os forçou a se espalharem, aumentou o seu
fervor e a disposição em anunciar as boas novas, o que, finalmente, contribuiu para aumentá-la. Embora pareça
um assunto solto do autor, Lucas, ao dar uma visão rápida do que estava acontecendo, estava preparando o
leitor para saber do movimento missionário que já estava por florescer envolvendo os dois campeões, Barnabé
e Paulo. Parece que, às vezes, toma-se necessário um pouco de perseguição para que se chegue ao ponto certo
em que Deus possa usar o homem. José entendeu isso perfeitamente depois de trabalhado por Deus (Gn 45.7,8).
A Igreja primitiva não tinha qualquer influência política nem amigos em altos escalões para "mexer os
pauzinhos" por eles. Em vez disso, se dirigiam ao trono mais elevado de todos, o trono da graça. Os primeiros
cristãos eram um povo de oração, pois sabiam que Deus poderia resolver seus problemas. O trono glorioso de
Deus era muito maior do que o trono de Herodes, o exército celestial de Deus poderia derrotar os frágeis
soldados de Herodes a qualquer momento! Não precisavam pagar subornos para conseguir que se fizesse
justiça. Simplesmente levavam seu pleito à Suprema Corte e o entregavam ao Senhor! Qual foi o resultado de
tudo isso? “A palavra do Senhor crescia e se multiplicava” (Atos 12:24). Trata-se de mais um dos resumos ou
"relatórios de progresso" de Lucas, dos quais o primeiro se encontra em Atos 6:7 (ver 9:31; 16:5; 19:20; 28:31).
Lucas esta cumprindo o propósito de seu livro ao mostrar como, a partir de suas origens modestas em
Jerusalém, a Igreja espalhou-se por todo o mundo romano. Que grande estímulo para nós hoje! No início de
Atos 12, Herodes parecia no controle, e tudo indicava que a Igreja perdia a batalha. Mas, no final do capítulo
Herodes está morto, enquanto a Igreja está bem viva e crescendo rapidamente! Era uma Igreja que orava, por
isso foi bem-sucedida.
Quando estava em dificuldades, a missionária Isobel Kuhn orava: "Se este obstáculo vem de ti, Senhor, eu o
aceito; mas, se vem de Satanás, eu o rejeito e também a todas as suas obras em nome do Calvário!" E Alan
Redpath costuma dizer: "Vamos manter a cabeça erguida e os joelhos dobrados - a vitória está do nosso lado!"
3.2. Retornaram acompanhados (Atos 12.25)
Mesmo com o enorme crescimento e multiplicação da Igreja, a situação não era tranquila em Jerusalém e nos
arredores para os fiéis, pois Herodes Agripa I, neto de Herodes, o Grande, reinava e procurava agradar aos
judeus observando os seus costumes e perseguindo os cristãos. Tiago, filho de Zebedeu, foi executado sob suas
ordens e Pedro escapou da prisão sobrenaturalmente por intercessão da Igreja. Na fuga, Pedro se dirigiu à casa
de Maria, mãe de João Marcos, onde muitos irmãos estavam orando. Ao que tudo indica, ao levar os donativos
Paulo e Barnabé aproveitaram para agregar João Marcos entre eles (Atos 12.25; 13.5). João Marcos trouxe
uma vitalidade a mais e pôde estar entre os notáveis pioneiros do Evangelho, tais como Pedro, Barnabé e Paulo.
3.3. Retorno com um devocional intensificado
Quando Barnabé e Paulo chegaram de viagem, evidentemente eles apresentaram o novo companheiro à Igreja
de Antioquia, João Marcos (Atos 13.5). Após o retomo de Barnabé e Paulo, verifica-se uma intensificação na
busca a Deus com orações e jejuns da liderança da Igreja. O Espírito Santo é o principal responsável por essa
fome de Deus e pela sede do estabelecimento de sua vontade na terra gerado nos crentes. É claro que a viagem
cooperou para isso, mas Deus sempre esteve por trás de tudo o que acontecia naquele momento. Devemos
entender que, quando o próprio Deus quer estabelecer mudanças, elevar a Igreja local a patamares espirituais
mais profundos, ele vai usar aqueles que estão disponíveis, mais acessíveis ao seu agir (Jeremias 1.5-9).
Conclusão
Percebemos, ao longo desta lição, que a figura de Paulo, quando veio de Tarso para Antioquia, não apareceu
muito. Senão ensinando a Igreja junto com Barnabé e, evidentemente, com outros mestres locais. Paulo era
um assistente de valor, mas que reconhecia a sua posição na Igreja e honrava seu colega que lhe dera tamanho
privilégio ao convidá-lo como assistente direto. Paulo soube aproveitar as oportunidades que lhe davam.

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Capítulo 6 - Paulo como missionário


Introdução
Em lição anterior, foi visto que a carreira espiritual de um homem que chega atingir elevados patamares é
construída com apoio de vários outros que depositaram nele a sua confiança. Serão estatuadas aqui algumas
das muitas qualidades que foram cumuladas com a ajuda desses obreiros, resultado de esforço próprio e de
uma crescente comunhão com Cristo Jesus.
1. Um vaso bem-acabado
Paulo bem sabia da sua chamada para trabalhar entre os gentios, na verdade, ele herdou o zelo missionário dos
fariseus e demais judeus que se esforçavam para trazer para o judaísmo os pagãos.
1.1. Um obreiro preparado (Atos 13.1,2)
Quando o Espírito Santo falou ao coração da Igreja e a liderança onde Barnabé e Paulo estavam, ordenou que
eles fossem separados para a obra previamente determinada pelo conselho divino (Atos 13.2). Paulo já era um
homem preparado por Deus para aquele momento, assim como Barnabé. Todavia, eles continuaram
aprendendo no trabalho missionário, mesmo que já tivessem um conhecimento teórico com base na experiência
dos fariseus proselitistas, algumas experiências anteriores, etc. Observe que ele já falava grego e latim, além
do aramaico que era a língua falada em Israel; a sua cidadania romana lhe conferia ampla mobilidade em todo
o império romano com todos os direitos assegurados a um cidadão comum de Roma, sem contar que aprendera
fazer tendas quando mais novo. Tudo isso foi muito útil.
Até então, Jerusalém havia sido o centro do ministério cristão, e Pedro fora o principal apóstolo. Desse ponto
em diante Antioquia da Síria torna-se o novo centro (Atos 11:19), e Paulo, o novo líder. É o evangelho em
movimento!
Lucas relaciona cinco homens que ministravam na igreja: Barnabé, sobre o qual já lemos (Atos 4:36, 37; 9:27;
11:22-26); Simeão, que talvez fosse da África, uma vez que tinha o sobrenome "Níger” (ou "negro"); Lúcio de
Cirene, que talvez tenha sido um dos fundadores da igreja em Antioquia (Atos 11:20); Manaém, um amigo
íntimo (ou talvez um irmão adotivo) de Herodes Antipas, que havia mandado matar João Batista; e Saulo
(Paulo), o último da lista, mas que em breve seria o primeiro.
Estes homens serviam ao Senhor como "profetas e mestres" nas igrejas locais. Os profetas ajudaram a lançar
os alicerces da Igreja ao proclamarem a Palavra de Deus (Ef 2:20; 1 Co 14:29-32). Eram mais "proclamadores"
do que "prenunciadores", apesar de, em algumas ocasiões, anunciarem coisas vindouras (Atos 11:27-30). Os
mestres ajudaram a fundamentar os convertidos nas doutrinas da fé (2 Tm 2:2). Deus já havia chamado Paulo
para ministrar aos gentios (Atos 9:15; 21:1 7-21) e convocou Barnabé a trabalhar com ele. A igreja confirmou
seu chamado e os enviou para o campo missionário. Faz parte do ministério do Espírito Santo, trabalhando por
meio da igreja local, preparar e chamar cristãos para ir a outras partes e servir.
1.2. Um obreiro experiente
Ninguém nasce experiente em alguma coisa, todos aprendem com os outros, pela observação e pelos próprios
erros. Paulo foi adquirindo experiência pouco a pouco na sua carreira cristã, mas de forma muito substancial
pelos lugares por que passou como: nas regiões da Arábia, em Damasco, em Jerusalém, na Cilicia e agora em
Antioquia da Síria ao lado de Barnabé. Deus foi lhe preparando ao longo de sua vida e não de uma vez, mas
depois chegara a hora de ser lançado como uma flecha polida no coração dos gentios pela Palavra de Deus.
Todavia, deve-se lembrar de que sempre haverá novas situações na obra de Deus, em que as nossas
experiências são insuficientes. Quando isso acontece, é porque Deus quer que seja usada fé e não nossos
conhecimentos anteriores. Paulo possuía a presença e a revelação divina.
1.3. Um servo submisso
Nem Barnabé, nem Paulo fizeram qualquer questionamento sobre ir mundo afora ao longo do Império
Romano. Em verdade, Deus já vinha trabalhando desde antes, falando, confirmando e provendo experiências
para o momento devido que havia chegado ali em Antioquia. Paulo aprendeu ouvir a voz do Senhor desde o
caminho de Damasco em diante. Com esse ouvir, ele atendia prontamente como um servo. Tanto para
trabalhar, quanto para não trabalhar (Atos 16.6,7); tanto para fugir de uma cidade que ficara para dar
testemunho, quanto para suportar as pressões de uma perseguição por amor aos escolhidos (Atos 18.9,10;
22.17,18). Aqui reside um grande segredo, quando se aprende a atender a voz do Senhor prontamente, ele vai
falando mais e mais conosco.
Atos 16.6,7 – Paulo e seus companheiros viajaram pela região da Frígia e da Galácia, tendo sido impedidos
pelo Espírito Santo de pregar a palavra na província da Ásia. Quando chegaram à fronteira da Mísia,
tentaram entrar na Bitínia, mas o Espírito de Jesus os impediu.
Depois de visitar as igrejas que havia fundado, Paulo tentou desbravar novos territórios para o Senhor viajando
rumo ao Oriente, para a Ásia Menor, à Bitínia, mas o Senhor fechou a porta. Não sabemos de que maneira
Deus revelou sua vontade sobre essa questão, mas podemos imaginar que Paulo ficou decepcionado e, talvez,
um tanto desanimado. Tudo corria tão bem em sua segunda viagem e essas portas fechadas devem tê-lo pego
de surpresa. Contudo, é reconfortante ver que mesmo os apóstolos não sabiam sempre com toda clareza qual
era a vontade de Deus para seu ministério! Deus já havia planejado que a mensagem chegaria a esses lugares
em outra ocasião (Atos 18:19 - 19:41; ver 1 Pe 1:1).
Em sua graça soberana, Deus conduziu Paulo ao Ocidente, em direção à Europa, não para o Oriente, em direção
à Ásia. Em Trôade, Paulo teve uma visão na qual um homem o chamou para ir à Macedônia. "Nada fortalece
mais um homem do que um pedido de socorro", escreveu George MacDonald, e, mais que depressa, Paulo
atendeu ao pedido da visão.
Atos 18.9,10 - Certa noite o Senhor falou a Paulo em visão: “Não tenha medo, continue falando e não fique
calado, pois estou com você, e ninguém vai lhe fazer mal ou feri-lo, porque tenho muita gente nesta cidade”.
A conversão de Crispo, um importante líder judeu, criou mais oportunidades e causou mais oposição do
inimigo! Por certo, a comunidade judaica em Corinto ficou furiosa com o sucesso de Paulo e fez todo o possível
para calá-lo e se livrar dele. Lucas não dá detalhes, mas tenho a impressão de que entre Atos 18:8 e 9, a situação
tornou-se particularmente perigosa e difícil. Talvez Paulo estivesse pensando em deixar a cidade, quando o
Senhor dirigiu-se a ele e lhe deu a segurança de que precisava.
É típico do Senhor nos falar quando estamos mais necessitados. Ele nos diz com ternura: "Não temas!" e,
quaisquer que sejam as circunstâncias, suas palavras acalmam a tempestade em nosso coração. Foi assim que
deu segurança a Abraão (Gênesis 15:1), Isaque (Gênesis 26:24) e Jacó (Gênesis 46:3), bem como a Josafá (2
Cr 20:15-17), Daniel (Daniel 10:12,19), Maria (Lucas 1:30) e Pedro (Lucasc 5:10). Algumas passagens
bastante apropriadas sobre as quais meditamos quando nos sentimos sozinhos e derrotados são Hebreus 13:5
e Isaías 41:10 e 43:1-7, e, depois de refletir sobre essas palavras, podemos nos apropriar, pela fé, da presença
de Deus. Ele está conosco!
Jesus já havia aparecido a Paulo na estrada para Damasco (Atos 9:1-6; 26:12-18) e também lhe apareceria no
templo (Atos 22:17, 18). Paulo seria encorajado novamente pelo Senhor quando estivesse preso em Jerusalém
(Atos 23:11) e, posteriormente, em Roma (2 Timóteo 4:16, 17). O anjo do Senhor também apareceria a Paulo,
em meio à tempestade, para garantir a segurança dos passageiros e da tripulação (Atos 27:23-25). Um dos
nomes de Jesus é "Emanuel - Deus conosco" (Mateus 1:23), e ele faz jus a esse nome.
Paulo foi encorajado não apenas pela presença do Senhor, mas também por suas promessas. Jesus garantiu a
seu apóstolo que ninguém lhe faria mal e que ele conduziria muitos pecadores ao Salvador. A declaração:
"Tenho muito povo nesta cidade" deixa implícita a doutrina da eleição divina, pois "o Senhor conhece os que
lhe pertencem" (2 Timóteo 2:19). A Igreja de Deus é constituída de pessoas "[escolhidas] nele antes da
fundação do mundo" (Efésios 1:4; ver também Atos 13:48).
Atos 22.17,18 - “Quando voltei a Jerusalém, estando eu a orar no templo, caí em êxtase e vi o Senhor que me
dizia: ‘Depressa! Saia de Jerusalém imediatamente, pois não aceitarão seu testemunho a meu respeito’.
2. Um soldado valoroso
Quando Barnabé e Paulo saíram de Antioquia sob as ordens do Senhor levaram como cooperador a João
Marcos, com a finalidade de ele instruir sobre os rudimentos da fé aos novos convertidos e batizá-los, enquanto
os missionários se dedicariam mais a pregar aos ainda não convertidos.
2.1. Um servo sofredor
Depois de Chipre, terra natal de Barnabé, Paulo assumiu a liderança da missão. Evidentemente, que Paulo foi
sempre o que assumiu mais riscos em prol do Evangelho, por causa do seu jeito mais ousado de falar. Em
Antioquia da Psídia, por causa da multidão que creu, Paulo foi banido da cidade (Atos 13.50); em Icônio, eles
fugiram a tempo para não serem apedrejados (Atos 14.6); em Listra, Paulo curou a um coxo de nascença, sendo
apedrejado depois pelos judeus de Antioquia e Icônio, e jogado no lixão da cidade (Atos 14.19). O próprio
Paulo ensinava que, “por muitas tribulações nos importa entrar no Reino de Deus” (Atos 14.22). Os
sofrimentos e humilhações foram incontáveis ao longo do seu ministério apostólico entre os gentios. Por isso
disse a Timóteo: “Sofre, pois, comigo, as aflições, como bom soldado de Jesus Cristo”.
2.2. Um missionário estrategista
O que traz vitória na guerra é uma boa estratégia, e Paulo era um ótimo estrategista na evangelização. Ele
sempre priorizava os judeus, pois estavam organizados nas cidades e tinham a sua sinagoga. Ali eles já
desenvolviam um trabalho de proselitismo ao derredor, entre os gentios, o que facilitava muito para o trabalho
de Paulo, por isso, como fariseu que era, ia aos sábados nas sinagogas e pregava a todos os que estivessem lá.
2.3. Um líder que se adapta
Paulo era flexível em seu método de abordagem, para os judeus ele falava como sendo judeu, ele usava a Lei,
com os Profetas lhes relembrando às promessas de um Messias sofredor, etc. Mas para com os gentios, ele
falava como se fosse gentio, de maneira que falava positivamente do Criador de todas as coisas e que enviara
seu Filho, como fez em Listra. Como ele mesmo escreveu: Fiz-me de escravo, de judeu, de fraco, enfim, “Fiz-
me tudo para todos, para por todos os meios chegar a salvar alguns” (I Coríntios 9.22b). Paulo, em seus dias,
enfrentava uma diversidade cultural muito grande, porém a mensagem do evangelho não é privilégio de alguns,
e sim, para todos os povos. Assim, quando abordava as pessoas, ele procurava um ponto de contato social ou
cultural que o identificasse com seus ouvintes e eliminasse as barreiras piscológicas para aplicar o evangelho
com eficácia. Logo, fica claro, que ele não chegava impondo a sua cultura ou desrespeitando as outras crenças,
mas anunciava, com muito tato, a salvação em Jesus Cristo.
I Coríntios 9.22 - Para com os fracos tornei-me fraco, para ganhar os fracos. Tornei-me tudo para com todos,
para de alguma forma salvar alguns. Uma dificuldade especial das igrejas eram os “fracos”. Será que
realmente deviam ser conquistados e introduzidos na igreja? Não seria mais compensador empenhar-se apenas
pelas pessoas fortes e capazes? Por isto, os “fortes” e os “livres” não estavam dispostos a empenhar -se
seriamente por esses fracos. Pudemos ver isto no capítulo 8 desta carta. Paulo sempre lutou para que também
os fracos tivessem seu local pleno na igreja (1 Tessalonicenses 5.14; Romanos 14.1; 15.1). Tentou ganhar
também a eles, tornando-se por isso “um fraco para com os fracos”. Não destacou a sua força, sobrecarregando
os fracos, mas compreendeu-os e respeitou-os em sua fraqueza.
Em seguida Paulo resume tudo numa frase que exprime, de modo inesquecivelmente conciso, uma regra básica
de toda a evangelização: “Fiz-me tudo para com todos, com o fim de, por todos os modos, salvar alguns.” O
evangelista não exige, mas serve. Por isso busca o outro no lugar em que este verdadeiramente se encontra.
Aquilo que o Filho de Deus realizou em grandes proporções ao se tornar humano, seu emissário agora realiza
diante de todas as diferentes pessoas às quais chega.
Para Paulo “ganhar” é essencialmente “salvar”. Por isso Paulo considera todas as pessoas como “perdidas”
que precisam ser salvas pela palavra da cruz. E diante desse alvo extraordinariamente grande e necessário
acontece essa entrega ao ministério em sua vida. Paulo é muito sóbrio nesta questão. Ele não pensa que nessa
dedicação aos outros tenha encontrado o método seguro para alcançar a “todos” e salvar a todos. Porém, com
a penosa seriedade de suas muitas experiências, ele escreve: “com o fim de, por todos os modos, salvar alguns”.
Também nesse ponto temos de aprender dele. Constantemente procuramos métodos eficazes e facilmente
medimos nosso trabalho pelos grandes números que atingimos. Quantas pessoas, porém, realmente
“salvamos”, isso é outra questão. Poderemos ficar cheios de gratidão se forem os mesmos “alguns” de que fala
uma pessoa como Paulo.
3. Um homem focado
A carreira de um homem é determinada pelo constante preparo, e pela dedicação integral no exercício da sua
escolha. Nos antigos jogos gregos de Olímpia, que inspirou a moderna olimpíada, era declarada uma trégua
entre as cidades que se rivalizavam para que os atletas chegassem com segurança, tais homens representavam
a sua cidade de origem, e, no retorno, eram celebrados como heróis por elas quando campeões. Paulo era,
portanto, um homem tal qual um atleta do Reino de Deus que tinha em mente alcançar uma coroa que não se
deteriora.
3.1. O objetivo de Paulo (1Co 9.26)
Paulo, como atleta-missionário, tinha uma marca a atingir, isso significa dedicação integral, ele não podia se
distrair com outra coisa que o afastasse de seu alvo. A sua dedicação era tão intensa que não admitia
desistências como no caso de João Marcos, que diante de Perge na Panfília os deixou. Se bem que lá era um
lugar montanhoso, arriscado e infestado de ladrões. Contudo, para Paulo, tratava-se apenas de um obstáculo a
ser vencido a fim de chegar ao seu destino, ele tinha uma marca a atingir; depois de apedrejado em Listra, e
ali dado como morto, Paulo escapou, mas em seguida levanta-se e entra na cidade novamente. Tentamos
entender o que havia na mente de Paulo, para que mesmo tomando uma surra de varas em praça pública e
sendo injustamente preso, ainda assim insistia em permanecer em Filipos (Atos 16.37-39). Posteriormente,
Paulo mesmo dá uma resposta: “Prossigo para o alvo, pelo prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus” (Filipenses 3.14).
Essa renúncia obviamente não é brincadeira. Paulo mostra isso em sua própria vida. “Portanto corro, não como
indeciso;”. A palavra que Paulo utiliza na realidade significa “de maneira imprecisa”. Não corre de forma a
não conseguir reconhecer para onde, afinal, se dirige sua corrida.
3.2. Assim combato, não como batendo no ar (1Co 9.26)
Os desafios de um missionário são grandiosos, existe um combate pelo estabelecimento do Reino de Deus e
bem sabemos que Satanás de alguma forma contra-atacará. À medida que um obreiro vai tendo êxito, ele
tentará distrair o servo de Deus consigo mesmo, fazendo-o achar-se mais santo, um escolhido de Deus, e um
anjo do céu na terra. Paulo não admitia perda de tempo, pois o elemento com que trabalha é eterno. Assim,
quando ele achava que tinha terminado o seu testemunho em determinado lugar, mudava-se para outro, pois a
vida é curta, o tempo passa, e aquela geração se não for evangelizada, perder-se-á. Ao mirar para as santas
Escrituras, elas são confrontadas com o elevado padrão dos primórdios evangelizadores.
3.3. Para alcançar uma coroa incorruptível (1Co 9.25)
Numa olimpíada, o descumprimento das regras implicava penalidades e até na eliminação da competição como
acontece em nossos dias. Por outro lado, qualquer prêmio que não represente uma participação legítima não
tem valor. No Reino de Deus, a desclassificação é muito real, só que, às vezes, o atleta (crente) nem percebe
que foi eliminado. O sofrimento e a ingratidão no trabalho ministerial podem tornar um coração muito
ressentido, insensível e, é assim que muitos, na verdade, estão fazendo a obra de Deus. Imaginando que tem a
aceitação dele, quando, na verdade, estão desclassificados há tempos, e tudo, quanto fizerem, não terá louvor
algum diante de Deus. Noutras palavras, significa que a coroa incorruptível, de justiça, imarcescível jamais
será alcançada por um desclassificado. Para evitar a desclassificação, o obreiro esmurra o próprio corpo e o
reduz à escravidão, para que ao evangelizar a outros não seja desqualificado (I Coríntios 9.27). É desse homem
que estamos falando. Paulo assim o fez.
Junto a isso, um segundo elemento que os coríntios igualmente conhecem da atividade esportiva: “Todo aquele
que luta, em tudo se domina.”. O atleta evita determinadas coisas durante o treinamento, não porque fossem
“ruins” ou “proibidas” em si. Sua abstinência tampouco é um fim em si mesmo nem tem valor em si. Serve
apenas ao grande alvo de alcançar o prêmio da vitória, e simplesmente é parte objetiva dele, quando se visa
obter a coroa almejada. Obviamente no esporte trata-se apenas de uma “coroa perecível”. Diante dos cristãos
está a “coroa imperecível” da vida eterna. Então o cristão pode e precisa evitar decididamente tudo o que
poderia atrapalhá-lo na corrida para esse alvo.
Por essa razão Paulo também se restringe à declaração bem genérica: “comedido em todos os aspectos”. O que
ameaça deter e travar cada cristão em sua carreira pode ser muito diversificado. O que não prejudica em nada
a esta pessoa pode vir a ser um sério perigo para outra. Nessa questão não há regras gerais. Contudo cada
cristão precisa prestar atenção com profunda seriedade e decidida clareza àquilo que tenta impedir que
justamente ele chegue ao alvo. É isso que ele terá de deixar de lado, por mais “inofensivo” ou “precioso” que
possa ser.
Conclusão
Ele foi um vaso escolhido para levar o nome de Cristo, um soldado valoroso, um estrategista do Reino, um
fazedor de tendas, um plantador de igrejas, um homem que trouxe, no corpo, as marcas de Cristo. O que fez a
diferença na vida de Paulo foi o preparo constante e a dedicação intensa. Os mesmos princípios que, se levados
a efeito, trarão impacto também ao nosso trabalho.

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Capítulo 7 - Paulo e sua missão entre os gentios


Introdução
A chamada de Paulo para pregar aos gentios não começa em Antioquia da Síria junto com Barnabé, na verdade,
começa com a visão celestial, em Damasco, que o conduziu por toda a sua vida. A experiência no caminho de
Damasco, foi para Paulo uma aparição tão real do Senhor que ele se considerava tão apóstolo de Jesus Cristo,
quanto os que com Ele conviveram.
1. Pregador e apóstolo
A autoridade de Paulo repousa sobre sua chamada na aparição do Senhor Jesus no caminho de Damasco. É
muito interessante que ele não se permitia diminuir visto que entendia a operação da graça em seu favor para
a honra do apostolado, a fim de no serviço do Senhor, conduzir as pessoas do mundo gentílico a crer em Cristo,
e a Ele se tornar obedientes (Rm 1.5).
1.1. Apóstolo, um ministro de Cristo
Paulo se considerava um apóstolo e ministro de Cristo, com base na visão que teve do Senhor, no seu trabalho
e sofrimento pelos escolhidos, como ele mesmo disse: “tudo sofro por amor aos escolhidos”. Apóstolo significa
apenas “enviado”, mas com missão específica. Paulo era enviado como um servo distinto de Cristo aos gentios.
Enviado “Para que eles também alcancem a salvação” (2 Timóteo 2.10).
2 Timóteo 2.10 - Por este motivo, tudo suporto por amor dos eleitos, para que também eles alcancem a
salvação que está em Cristo Jesus com glória eterna. O amor suporta tudo. Paulo não está amargurado nem
desesperado. Está sofrendo, mas, seu sofrimento ocorre “em Cristo”, acontece por causa do evangelho, por
amor daqueles que Deus escolheu, amou e santificou em Cristo. Paulo sabe do sofrimento de Cristo em prol
da igreja dos eleitos. Assim ele descarta qualquer ideia de mérito. Os crentes não alcançam a salvação nele ou
por causa dos sofrimentos dele, mas em Jesus e por meio da morte dele na cruz. Só Jesus traz a salvação aos
pecadores e com ela a glória eterna, que forma um nítido contraste com os padecimentos temporais. Paulo visa
contribuir para que alcancem a salvação, assim como ele mesmo tem a certeza de que terá participação na
salvação.
1.2. Pregador da Palavra de Cristo
Para alcançar a salvação, um direito da humanidade herdado através do sacrifício de Jesus de Nazaré, é
necessário conhecer esse direito e como tomar posse dele. Isso se dá pela pregação do Evangelho. Ora, Paulo
foi constituído anunciador desse direito aos gentios. A exposição desse direito é feita minuciosamente na Carta
aos Romanos. Na verdade, essa carta tem impactado gerações e gerações por onde ela tem sido lida e estudada
através dos séculos.
1.3. A Palavra de Cristo nele fez a diferença
Paulo tinha uma convicção da importância do seu papel no anúncio da salvação entre os gentios. Mas de onde
vinha essa convicção? Bem, de certa forma já falamos sobre isso, porém devemos entender o quanto esse tema
se reveste de importância. A convicção vinha da própria palavra de Cristo a ele e da sua visão espiritual que
eram traduzidas em atitudes. Na sinagoga de Antioquia da Psídia, ele revelou isso de maneira surpreendente
quando disse: “Porque o Senhor assim no-lo mandou: Eu te pus para luz dos gentios, a fim de que sejas para
salvação até os confins da terra” (Atos 13.47). É muito importante conhecer o nosso papel no reino de Deus,
pois é muito triste desperdiçar a vida e não conhecer para o que fomos chamados.
Atos 13.47 - Pois assim o Senhor nos ordenou: “Eu fiz de você luz para os gentios, para que você leve a
salvação até aos confins da terra”. Essa é a missão já dada, em Isaías 49.6, ao “servo de Deus”: “Eu te constituí
para luz dos gentios, a fim de que sejas para salvação até aos confins da terra”! De forma ousada Paulo
relaciona essa palavra, dita ao “servo de Deus”, a seu próprio serviço de mensageiro. Isto é possível porque o
Senhor entra pessoalmente em cena por meio do enviado. Em toda a evangelização o verdadeiro evangelista é
o próprio Jesus. Sendo ele a “luz dos gentios”, é também por meio de seus mensageiros que ele gera “salvação
até aos confins da terra”.
2. Doutor na fé
A expressão “doutor dos gentios na fé” significa instrutor ou “mestre”. Paulo, em I Timóteo 2.7, considera-se
um mestre na fé e não na crença. Embora pareça ser a mesma coisa, não é. Pois a prática da crença religiosa
não envolve necessariamente uma fé viva, capaz de salvar o indivíduo, nem tampouco toda crença religiosa se
ocupa com a salvação da alma das pessoas; a fé faz parte da espiritualidade; a crença faz parte da religiosidade.
Todavia, a Palavra de Cristo promove a fé, salvando a pessoa do seu pecado, do seu vazio, e da falta da
comunhão com Deus, aperfeiçoando-o nas boas obras.
1 Timóteo 2.7 - Para isso fui designado pregador e apóstolo (digo-lhes a verdade, não minto.), mestre da
verdadeira fé aos gentios. Cristo morreu por "todos os homens", e Deus deseja que "todos os homens sejam
salvos". De que maneira essa boa-nova pode chegar ao mundo pecador? Deus chama e ordena mensageiros
para levar o evangelho aos pecadores perdidos. Paulo era um desses mensageiros: era pregador (arauto do Rei),
apóstolo (enviado com uma comissão especial) e mestre. O mesmo Deus que determina o fim (a salvação dos
perdidos), também determina os meios para alcançar esse fim: a oração e a pregação da Palavra. Essa boa-
nova não é apenas para os judeus, mas também para os gentios.
Se a base para a oração é a obra sacrificial de Jesus Cristo na cruz, a oração é uma atividade extremamente
importante na igreja. Deixar de orar é o mesmo que desprezar a cruz! Orar apenas por si mesmo é negar o
alcance mundial da cruz. Ignorar as almas perdidas é ignorar a cruz. "Todos os homens (pessoas)": esse é o
conceito-chave do parágrafo: oramos por "todos", pois Cristo morreu por "todos" e Deus deseja que "todos"
sejam salvos. Devemos nos entregar a Deus a fim de ser parte deste plano mundial para alcançar os perdidos
antes que seja tarde demais.
2.1. Paulo, um especialista na fé salvadora
Muitos estudiosos judeus reconheciam que os sacrifícios oferecidos no templo eram insuficientes para executar
a salvação no indivíduo. Isso é demonstrado em algumas partes do Antigo Testamento. Pois, mesmo Abraão
não alcançou a justiça de Deus somente pelas obras, mas pelo exercício da fé. Desse assunto, Paulo entendeu
e ensinou bastante, visto que havia o pensamento de que as esmolas, as boas obras, jejuns e orações eram
elementos que conduziriam a salvação da alma.
2.2. Paulo expõe a fé com base firme
No mundo grego, as pessoas davam muito valor a coisas racionais, lógicas, e cheias de estética. Noutras
palavras, uma bela argumentação. Porém, dessa maneira as pessoas podiam ficar facilmente reféns daquele
que, com muita arte, expressava-se bem, mesmo que fosse com sofismas. Ainda que, na correspondência
paulina; haja citações de pensadores gregos, mas o seu pensamento base repousa sobre a obra salvadora
efetuada na cruz de Cristo, uma loucura para os gregos e escândalo para os judeus.
2.3. Paulo explica a razão de seu método
O ser humano costuma ter uma inclinação doentia em crenças religiosas que não conduzem à paz com Deus e
uma alegria de vida. Facilmente pode ser levado por um discurso bonito, mas incapaz de produzir salvação.
Quando Paulo se dirigia aos gregos e demais pagãos de seu tempo, levava apenas a simples palavra de Cristo
para que a fé de seus ouvintes se apoiasse não na sabedoria humana, a fim de que eles não viessem a se
vangloriar: “Como está escrito: aquele que se gloria, glorie-se no Senhor” (I Coríntios 1.30,31), mas na
sabedoria de Deus.
1 Coríntios 1.30,31 - É, porém, por iniciativa dele que vocês estão em Cristo Jesus, o qual se tornou sabedoria
de Deus para nós, isto é, justiça, santidade e redenção, para que, como está escrito: “Quem se gloriar, glorie-
se no Senhor”.
Uma vez que todo aquele que crê está "em Cristo" e tem tudo de que necessita, por que competir entre si ou se
comparar uns com os outros? Foi o Senhor quem fez tudo! "Aquele que se gloria, glorie-se no Senhor" (I
Coríntios 1:31, uma citação de Jeremias 9:24, repetida em 2 Coríntios 10:17).
As bênçãos espirituais de que precisamos não são abstrações que escapam por entre nossos dedos; antes, se
encontram todas na Pessoa de Jesus Cristo. Ele é nossa sabedoria (Colossenses 2:3), nossa justiça (2 Coríntios
5:21), nossa santificação (João 17:19) e nossa redenção (Romanos 3:24).
Na verdade, a ênfase dessa passagem é que Deus mostra sua sabedoria por meio da justiça, da santificação e
da redenção que temos em Cristo. Cada uma dessas palavras tem um significa especial para os cristãos. A
justiça refere-se a nossa posição diante de Deus. Fomos justificados: Deus nos declarou justos em Jesus Cristo.
No entanto, também somos santificados, separados para pertencer a Deus e lhe servir. A redenção enfatiza o
fato de que somos livres porque Jesus Cristo pagou o preço por nós na cruz. Quando Cristo voltar, todos os
que creram experimentarão a redenção plena.
Assim, em certo sentido, temos aqui os três tempos da salvação: fomos salvos do castigo do pecado (justiça);
estamos sendo salvos do poder do pecado (santificação) e seremos salvos da presença do pecado (redenção).
Cada cristão tem todas essas bênçãos em Jesus Cristo!
Assim, por que se gloriar em homens? O que Paulo tem que nós não temos? Pedro tem mais de Jesus Cristo
do que nós? Devemos nos gloriar no Senhor, não em nós mesmos ou em nossos líderes espirituais.
3. Doutor na verdade
Devemos lembrar que os líderes de sinagogas e fariseus eram muito proselitistas entre os gentios, tendo pessoas
que frequentavam a sinagoga, mas que não aderiam ao judaísmo por causa da dolorosa circuncisão que era
requerida. Quando nossos campeões pregaram a palavra da fé, não tocaram nesse assunto, logo, estava
implícito que desobrigaram aqueles, dentre os gentios, que se convertiam a Cristo, ao ato da circuncisão. Com
isso eles ficaram felizes! Era esse o público alvo de Paulo, mas dentre eles, vinham muitos judeus também.
3.1. Advogados dos gentios
Subiram da Judéia alguns indivíduos que começaram a ensinar paralelamente a necessidade da circuncisão em
Antioquia (Atos 15.1). Todavia Paulo e Barnabé começaram a rechaçar tais argumentos com veemência, de
forma que virou uma contenda séria contra esses indivíduos, os quais Lucas omite dizer quem eram. Paulo e
Barnabé entendiam que se não dessem um basta naqueles ensinos errados, todo o trabalho de anos que estavam
desempenhando em Antioquia e no restante do mundo helénico donde acabaram de chegar, perder-se-ia.
Atos 15.1 e 2 - Alguns homens desceram da Judéia para Antioquia e passaram a ensinar aos irmãos: “Se
vocês não forem circuncidados conforme o costume ensinado por Moisés, não poderão ser salvos”. Isso levou
Paulo e Barnabé a uma grande contenda e discussão com eles. Assim, Paulo e Barnabé foram designados,
junto com outros, para irem a Jerusalém tratar dessa questão com os apóstolos e com os presbíteros.
Tudo começou quando alguns mestres judeus legalistas chegaram a Antioquia e ensinaram que, a fim de ser
salvos, os gentios deveriam receber a circuncisão e obedecer à Lei de Moisés. Esses homens eram ligados à
congregação de Jerusalém, mas não eram autorizados por ela (Atos 15:24). Identificados com os fariseus (Atos
15:5), esses "falsos irmãos" desejavam privar tanto cristãos judeus quanto gentios da liberdade em Cristo
(Colossenses 2:1-10; 5:1).
Não causa grande surpresa saber que havia pessoas na igreja de Jerusalém defendendo energicamente a Lei de
Moisés sem conhecer a relação entre a Lei e a graça. Eram judeus ensinados a respeitar e a obedecer à Lei de
Moisés, e, afinal de contas, as epístolas aos Romanos, Gálatas e Hebreus ainda não haviam sido escritas! Havia
um grande grupo de sacerdotes na congregação de Jerusalém (Atos 6:7), bem como de pessoas que ainda
seguiam algumas das práticas do Antigo Testamento (ver Atos 21:20-26). Era um período de transição, e
tempos assim são sempre difíceis.
O que esses legalistas faziam e por que eram tão perigosos? Tentavam misturar a Lei e a graça e colocar vinho
novo em odres velhos e frágeis (Lucas 5:36-39). Costuravam o véu rasgado do santuário (Lucas 23:45) e
colocavam obstáculos no caminho novo e vivo para Deus aberto por Jesus ao morrer na cruz (Hebreus 10:19-
25). Reconstruíam o muro de separação entre judeus e gentios que Jesus derrubara no Calvário (Efésios 2:14-
16). Colocavam o jugo pesado do judaísmo sobre os ombros dos gentios (Atos 15:10; Gálatas 5:1) e pediam
que a igreja saísse da luz e fosse para as sombras (Colossenses 2:16, 17; Hebreus 10:1).
3.2. A primeira assembleia
Em função do problema da circuncisão, a igreja de Jerusalém, os apóstolos e presbíteros se reuniram para
discutir o problema. Onde foram apresentados os indivíduos que estavam tentando impor a observância da lei
cerimonial nos crentes gentios (Atos 15.5). Na reunião, Barnabé e Paulo trouxeram um relatório do trabalho
entre os gentios com vivacidade, mas o clima da reunião não permitiu uma alegria maior. Pedro deu uma nota
a favor do trabalho entre os gentios sem as obrigações cerimoniais, e foi de grande peso, e Tiago que presidia
a reunião deu os arremates finais, concordando com Pedro, Barnabé e Paulo, mas com ressalvas da Lei.
Atos 15.5 - Então se levantaram alguns do partido religioso dos fariseus que haviam crido e disseram: “É
necessário circuncidá-los e exigir deles que obedeçam à Lei de Moisés”. Após esse relato intervêm “alguns”
e dizem: “É necessário circuncidá-los e determinar-lhes que observem a lei de Moisés.” Agora são informados
mais detalhes sobre esses “alguns”, de modo que os possamos compreender melhor. Eram cristãos “do partido
dos fariseus que haviam crido”.
Esses homens não haviam sido quebrantados pelo encontro com Jesus até a essência de seu ser, como Paulo
(cf. Atos 9.3). Sua justiça própria ainda não havia sido destroçada completamente. Continuavam sendo
“fariseus”, devotos severos, apegados à lei, que somente “haviam crido” quando reconheceram em Jesus o
prometido Messias de Israel. Para eles era algo totalmente inconcebível que agora gentios pudessem vir ao
Messias Jesus e ser salvos sem pertencer ao povo eleito de Deus pela circuncisão e pela aceitação da lei.
3.3. Anunciando uma nova disposição
De certa forma, o cristianismo, na mentalidade de muitos, ainda não tinha vida própria, ele mais parecia uma
cisão no judaísmo. Em parte, isso é verdade, visto que a igreja saiu da sinagoga, principalmente onde Paulo e
Barnabé evangelizaram. Nesse tempo, ainda era muito o número de judeus que compunham a igreja, entretanto,
com o passar dos tempos, a igreja foi se esparramando mais entre os gentios. Por outro lado, a vinda de Jesus
Cristo eliminou toda pompa ritual de sacrifícios, de vestes paramentais, suntuosidade do templo, e até a
circuncisão. Era então um novo tempo, uma nova era que, em verdade, o concílio apenas estava ratificando,
mas que precisava ser anunciada como um antídoto contra os judaizantes.
Conclusão
O propósito de Paulo entre os gentios foi ensinar sobre a salvação sem a necessidade dos adereços da Lei. Com
preparo teológico relevante, o apóstolo ensinou eficientemente ao seu público alvo, inspirando uma fé
contagiante e inteligente entre os gentios. Suas pregações e cartas conseguiram apresentar a Jesus Cristo como
Filho de Deus, poder de Deus e sabedoria de Deus a humanidade. Graças a Deus pelo empenho e dedicação
desse apóstolo que foi uni instrumento poderoso nas mãos do Senhor.

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Capítulo 8 - O evangelho do Apóstolo Paulo e sua


Introdução
Paulo se tornou doutor dos gentios e assim considerava-se por causa da sua dedicação ao ensino que objetivava
apresentar todo homem a Deus, perfeito em Cristo Jesus. Este foi um projeto muito ambicioso pelo qual lutou
incansavelmente até os últimos momentos de sua vida. Esse ainda hoje é o alvo mais nobre da pedagogia cristã
pelo qual se deve lutar.
1. Objetivo de firmar convicções
É surpreendentemente maravilhoso ver como o ensino paulino se depara com públicos diferentes, e mesmo
assim, ele se ajusta à necessidade dessa heterogeneidade humana. Aos romanos, a dinâmica pedagógica de
Paulo se ajusta à necessidade de um conhecimento aprofundado acerca da salvação, em tom pertencente ao
direito, visando aprofundar suas convicções.
1.1. O homem precisa da justificação
A comunicação e o ensino de Paulo partem de um ponto que venha despertar o interesse. Por exemplo, Paulo
ao escrever para os romanos, ensina sobre a salvação, mas parte do ponto de vista jurídico, capaz de despertar
e fixar a atenção dos seus leitores, que têm um gosto peculiar pela legalidade. Paulo demonstra que todos são
pecadores, todos estão sob condenação, e por isso, precisam de justificação. No entanto o homem é por si
mesmo incapaz de alcançar essa justificação, mas ela lhe é oferecida gratuitamente, pela fé, e por graça
mediante a redenção que há em Cristo Jesus (Romanos 3.23-25).
Romanos 3.23-25 - Neste ponto, Paulo insere brevemente no seu raciocínio o resultado de 1.18–3.20. Porque
não há distinção (entre judeus e gentios): pois todos pecaram e carecem da glória de Deus. De acordo com
Salmo 8.5,6, o ser humano na verdade está logo abaixo de Deus. Como reflexo de Deus ele traz sobre a cabeça
uma coroa de glória, com a Criação aos seus pés. Ele, porém, possui essa dignidade somente quando persevera
na adoração de Deus, assim como a lua somente brilha quando está voltada para o sol. Por meio da trágica
alteração de percurso mencionada em 1.21, o ser humano perdeu sua irradiação prevista por Deus. Em
Romanos 1.24-32 e 3.10-18, Paulo retratou o ser humano desviado de Deus e, por isso, assustadoramente sem
brilho. Segundo Romanos 2.7,10, no juízo final estará em jogo a pergunta se Deus nos conferirá esse brilho
reluzente da dignidade humana original.
Depois que Paulo trouxe mais uma vez à presença o ser humano silenciado sob a acusação e apagado sob a ira
de Deus, ele afirma, como elemento de contraste, sobre o mesmo ser humano: tão logo chega à fé em Cristo,
é justificado por Deus. É justo para Deus, capaz para Deus e, desse modo, inteiramente capaz de viver. Paulo
assevera duplamente que para isso não se abre uma contabilidade. A pessoa é declarada livre gratuitamente,
sem custos, mas sem que a declaração por isso fosse “barata”. É muito comum recebermos de graça o que não
tem valor, porém de Deus recebemos justamente o que é impagável e, por isso, impossível de adquirir por
dinheiro. O “desconto” total se explica nesse caso como pura graça.
O pecado nos colocou na condição de escravos (Romanos 6; Jo 8.34). Sofremos desenvolvimentos
compulsórios que não só nos vitimam injustamente, mas que também merecemos. Pois também diante de Deus
é justo que o nosso mal não nos faça bem, que colhamos o que semeamos (Gl 6.7). Ou seja, o poder do pecado
pode exibir uma “ordem de execução” divina. Sob esse aspecto, sofremos não apenas a infâmia satânica, mas
também juízo divino. “A força do pecado é a lei (divina!)” (1Co 15.56). Em consequência, o que precisamos
não é “só o amor”. Perdão “sem mais nem menos” não conduz à liberdade. Para haver redenção verdadeira é
preciso proceder de forma correta. Para isso, é necessário anular o direito do nosso pecado. A afirmação da
graça de Deus tem por base legal o ato legal da morte de Cristo. Para valorizá-la, Paulo utiliza em Romanos
pelo menos três palavras muito importantes para o cristão: “redenção” (v. 24), “propiciação” (v. 25) e em
Romanos 5.1-11 “reconciliação” (5.11).
Somos declarados livres por Deus mediante a redenção (que aconteceu) em Cristo Jesus. O resgate era
originalmente uma instituição do direito israelita da família. Quando um israelita estava endividado ao
extremo, seu parente mais próximo intervinha em favor dele com tudo que tinha e que podia fazer, como seu
“resgatador”. Essa instituição de redenção por compra serve na Bíblia também como parábola do agir
redentor de Deus em Israel no Egito, depois, no cativeiro babilônico, e finalmente em Isaías, bem como no
Novo Testamento, como acontecimento em favor de todos os povos.
O Novo Testamento apresenta 18 passagens que falam do resgate. São configuradas de maneiras diferentes,
mas sua mensagem fundamental é a seguinte: o próprio Deus é esse parente mais próximo de todas as pessoas
(Salmo 27.10). Incondicionalmente, ele intervém em favor de suas criaturas escravizadas e deportadas. São
exatamente a culpa, aflição e vergonha que o convocam como “resgatador”. Em Cristo ele se fixou nessa
função. Ali ele é plenamente “resgatador”. Visto que compra não é roubo, e sim um ato legal, o resgate em
Cristo Jesus constitui o negócio mais confiável do mundo.
1.2. A fé no evangelho é o único elemento capaz de justificar o homem
Todos concordam que a justificação é um ato exclusivo de Deus (Romanos 3.21-23). E não é uma doutrina
nova nas Escrituras, mas presente no Antigo Testamento, e mui claramente demonstrada na vida do patriarca
Abraão (Romanos 4.1-5). Por isso, o Apóstolo Paulo se utiliza da figura desse personagem, para exemplificar
que a justificação é consumada no coração humano pela fé, mas que, sobretudo, precisa ser entendida para
depois ser experimentada (Romanos 10.17).
Romanos 3.21-23 – Debaixo da Lei do Antigo Testamento, a justificação dava-se quando o homem se
comportava bem; mas, sob o evangelho, a justificação se dá quando o homem crê. A Lei em si revela a justiça
de Deus, pois "a lei é santa; e o mandamento, santo, e justo, e bom" (Romanos 7:12). Além disso, a Lei dava
testemunho dessa justificação do evangelho, apesar de ela própria não ter poder para justificar. Começando
em Gênesis 3:15 e continuando ao longo de todo o Antigo Testamento, vemos o testemunho da salvação pela
fé em Jesus Cristo. Os sacrifícios, as profecias e os tipos do Antigo Testamento, bem como as principais
"Escrituras do evangelho" (como Isaías 53), davam testemunho dessa verdade. A Lei podia afirmar a justiça
de Deus, mas não podia oferecê-la ao homem pecador, pois somente Jesus Cristo pode fazer isso (ver Gálatas
2:21).
(v. 22a). O valor da fé consiste no valor de seu objeto. Todos os seres humanos creem em alguma coisa,
mesmo que seja apenas em si mesmos; o cristão, porém, crê em Jesus Cristo. A justiça da Lei é uma
recompensa por obras realizadas. A justiça do evangelho é uma dádiva concedida por meio da fé. Muita gente
diz: "Eu acredito em Deus!", mas não é isso o que nos salva. O que salva e justifica o pecador é a fé pessoal e
individual em Jesus Cristo. Até mesmo os demónios no inferno creem em Deus e estremecem; no entanto isso
não os salva (Tiago 2:19).
(vv. 22b, 23). Deus deu sua Lei aos judeus e não aos gentios; mas as boas novas da salvação por meio de
Cristo são para todos, pois todos precisam ser salvos. Em se tratando de condenação, não há diferença alguma
entre judeus e gentios. "Todos pecaram e estão aquém da glória de Deus" (Romanos 3:23, tradução literal).
Deus declarou todos os homens culpados para que pudesse oferecer a todos o dom gratuito da salvação.
Romanos 4.1-5 - Paulo aborda a questão controvertida entre cristãos e judeus quanto à experiência central de
Abraão. Que, pois, diremos ter alcançado Abraão, nosso pai segundo a carne? Em todo caso encontrou graça,
pois é assim que o termo “alcançar” pode ser completado a partir de uma expressão bíblica. Nisso Paulo e seus
adversários eram unânimes. Porém, por meio de que ele chegou a esse estado de graça? Que o tornou correto
diante de Deus, de modo que ele foi chamado “amigo de Deus” (Tiago 2.23)? A deduzir da continuação no v.
2, a resposta adversária era: Cumprimento exemplar da lei rendeu-lhe o louvor de Deus! Nisso é preciso levar
em conta a doutrina judaica de que Abraão já tinha conhecimento da lei do Sinai, ainda que não em forma
escrita, observando-a exemplarmente ponto por ponto. Desse modo adquiriu um saldo positivo de boas obras,
que reverteria em benefício de seus descendentes no juízo final. Se não forem capazes de quitar seus pecados
através de méritos próprios, usufruem do tesouro de méritos dele. Sob esse aspecto, sem a justiça transbordante
das obras de Abraão, sucumbia para os judeus a esperança da salvação.
(v 2) Paulo aguça agora a interpretação judaica: Porque, se Abraão foi justificado por obras (da lei), tem (algo)
de que se gloriar. Poderia triunfar no juízo com sua própria justiça. Contra isso, porém, levanta-se um protesto
exegético. Porém (isso) não (vale) diante de Deus, que fala por intermédio da Escritura.
(v 3) O texto-chave de Gn 15.6 documenta a justiça de Abraão por fé. Pois que diz a Escritura? Abraão creu
em Deus, e isso lhe foi imputado para justiça. “Texto-chave” significa nesse caso: Essa forma de imputação
não estava apenas limitada àquela situação, mas formou o alicerce da relação propriamente dita entre Abraão
e Deus, até o juízo final. Pelo sentido literal daquele texto, fé em Abraão não era praticar com fé as prescrições,
mas submeter-se sem reservas à promessa de Deus. Realmente é imprópria a ideia de obedecer a mandamentos
sobre alimentos, ordens de jejum, ritos e sacrifícios. Logo Abraão, confiante nas promessas, foi a pessoa
acertada para Deus, o aliado ideal. Por isso ele lhe declarou solene aceitação misericordiosa, renunciando ao
direito de que dispunha de lhe imputar culpa (v. 6-8). É essa deliberação fundamental que sustenta Abraão e o
povo que lhe foi prometido. Evidentemente esse “crer” tem uma série de relações com outras manifestações
da vontade de Deus. No entanto, quem visa sempre cumprir a vontade de Deus, imperiosamente deve visar
Deus pessoalmente. Em cada um dos mandamentos, o decisivo é avançar até o I Mandamento e temer e amar
o próprio Deus acima de todas as coisas.
(v 4) O texto de Gn 15.6 desconhece a ideia de creditar contraprestações humanas. Ora, ao que trabalha, o
salário não é considerado como favor (segundo a graça), e sim como dívida. Pois nessa hipótese estaria no
comando a conta dos méritos, que sobe cada vez mais, até permitir a leitura do resultado, a soma da “justiça”,
que pode ser quitada. Para Paulo, porém, vigora a graça, muito em consonância com Romanos 3.24; 11.5,6.
(v 5) Portanto, resta apenas a justiça por fé. Mas, ao que não trabalha, porém crê naquele que justifica o ímpio,
a sua fé lhe é atribuída como justiça. O patriarca está sendo contado, sem que seja dito expressamente, entre
as pessoas sem Deus. Talvez a intenção de Paulo também seja apontar para a descendência gentílica de Abraão.
Em todo caso ele desafia incrivelmente a interpretação judaica de Abraão, sim, ele afronta inicialmente
qualquer percepção tradicional de direito. Reside nisso um dilema, que será solucionado só no final do capítulo,
mas que agora estava sendo sentido como tal.
Romanos 10.17 - Depois de refutar a ideia de um automatismo da fé sob a pregação, Paulo tem condições de
afirmar duas coisas sobre o surgimento da fé: E, assim, a fé vem pela pregação. Antes que venha a fé, vem a
mensagem. Mas a pregação, pela palavra de Cristo. Por trás da boca do mensageiro está a boca do Cristo
ressuscitado.
1.3. Jesus Cristo é o preço pago para nossa justificação
Não é possível apresentar o homem perfeito a Deus sem Cristo Jesus, sem que Ele se torne o tema central nos
nossos próprios ensinamentos. Afinal, foi Ele quem foi entregue à morte e ressuscitou para a nossa justificação
(Romanos 4.25). A graça da justificação pela fé no Cristo ressuscitado é para todos os homens. Tal verdade
deve ser levada com muito empenho para que este alicerce da salvação fique inabalável nas pessoas.
Romanos 4.25 – o qual foi entregue por causa das nossas transgressões e ressuscitou por causa da nossa
justificação. Paulo recoloca mais uma vez a mensagem fundamental da morte propiciatória de Jesus, de
Romanos 3.25: o qual foi entregue por causa das nossas transgressões. Essa ação de Deus está presente também
como base para Paulo nas demais exposições (p. ex., 5.9,10; 6.10; 8.3,32-34). Além disso, porém, o v. 17
direciona especificamente para a ação da Páscoa, que ainda estava ausente em Romanos 3.24,25: e ressuscitou
por causa da nossa justificação. Para o “por causa”, tanto na frase inicial, quanto no período posterior desse
versículo, são possíveis diferentes explicações.
 Cristo morreu em nosso lugar, “por causa” de nossos pecados. Desse modo ele restabeleceu a nossa justiça,
p. ex., no sentido de 5.9: “sendo justificados pelo seu sangue”. Sob essa premissa, ou seja, “por causa” de
nossa justiça perfeita, Deus em seguida respondeu por meio de uma segunda ação, despertando Jesus da
morte. Vista dessa maneira, a ressurreição constituiu o resplandecente “sim” e “Amém” de Deus à obra já
consumada na cruz (João 19.30). Ela a qualificou como inegável. Páscoa é o quebra-dúvidas (1 Coríntios
15.17). Nenhuma experiência negativa será capaz de superá-la.
 Cristo foi ressuscitado “com a intenção” da nossa justificação, do estabelecimento e da preservação da
nossa justiça. Vista assim, a ação de Deus na Páscoa não foi somente uma confirmação retrospectiva da
expiação perfeita, Deus não se limitou a uma limpeza do passado, não apenas restabeleceu o ponto zero,
mas aponta, a partir da Páscoa, para um “algo mais”. Páscoa é ruptura voltada para a frente, em direção da
novidade de uma vida para Deus (5.2; 6.4b,10,11). Cristo foi enaltecido, a fim de salvar também os
reconciliados para todo o futuro “pela sua vida” (5.10). Seu justificar contínuo (8.34; Hebreus 7.25) “dá
vida” (5.18).
2. Paulo e a construção do conhecimento
A pregação e o ensino cristãos não eram o único meio de promover a moral da sociedade greco-romana. Mas
a construção do pensamento cristão através de Paulo, parte do conceito de autoridade das Escrituras,
evidentemente do Antigo Testamento (posto que, naquele tempo, era o que se tinha documentado e ratificado
como inspirado por Deus).
2.1. Tudo parte das Escrituras
O ponto de apoio paulino para a comunicação, convencimento e instrução de seu auditório, não vinham de si
mesmo. Ele mesmo se recusa a usar linguagem floreada, rebuscada e lisonjeira, mas usa a simples e direta
como uma espada. Sua mensagem também não vinha de grande conhecimento corrente de sua época. O seu
cuidado era que a vida cristã de seus ouvintes e destinatários não repousassem sobre qualquer elemento pessoal,
filosófico ou humano. Que o conhecimento e vida prática deles partissem das Escrituras e do Senhor Jesus
(Romanos 15.4; 2 Timóteo 3.16). Ele é a sabedoria, a palavra, e o poder de Deus. Se hoje a igreja local se
desprender do centro do conhecimento revelado, perderá o sentido de sua existência.
2Tm 3.16 - Toda a Escritura é inspirada por Deus e útil para o ensino, para a repreensão, para a correção e
para a instrução na justiça: A doutrina da inspiração das Escrituras é de importância vital e também é uma
doutrina que Satanás tem atacado desde o princípio ("É assim que Deus disse...?" [Gn 3:1]). É inconcebível
que Deus desse a seu povo um livro no qual não pudessem confiar. Ele é o Deus da verdade (Dt 32:4); Jesus
Cristo é "a verdade" (Jo 14:6); e "o Espírito é a verdade" (1 Jo 5:6). Jesus afirmou acerca das Escrituras: "a tua
palavra é a verdade" (Jo 17:17). O Espírito Santo de Deus usou homens de Deus para escrever a Palavra de
Deus (2 Pe 1:20, 21). O Espírito não apagou as características naturais dos escritores. Antes, em sua
providência, Deus preparou escritores para a tarefa de redigir as Escrituras. Cada um deles tem seu estilo e
vocabulário próprios. Cada livro da Bíblia originou-se de um conjunto específico de circunstâncias. Ao
preparar os homens, ao conduzir a história e ao operar por meio do Espírito, Deus realizou o milagre das
Escrituras.
Tudo o que a Bíblia afirma a respeito de si mesma, do ser humano, de Deus, da vida, da morte, da história, da
ciência e de qualquer outro assunto é verdade, isso não significa que todas as declarações encontradas na Bíblia
sejam verdadeiras, pois ela registra as mentiras dos homens e de Satanás. Mas o registro é verdadeiro.
As Escrituras são úteis (v. 16b). São úteis para o ensino (aquilo que é certo), para a repreensão (aquilo que é
errado), para a correção (como fazer o que é certo) e para a educação na justiça (como permanecer no caminho
certo). O cristão que estuda a Bíblia e que aplica o que aprende cresce em santidade e evita muitas ciladas
deste mundo.
2.2. Fé para entender
A pedagogia paulina se baseia na fé que parte da revelação. Nas Escrituras, constatamos que a fé e a razão
andam juntas, e não divorciadas. Mas reconhecemos que a fé tem capacidade de ir mais além do que os olhos
podem ver, tocar e sentir (I Coríntios 2.9). A superioridade da fé que repousa na revelação é capaz de aceitar
o que a razão rejeita, demonstrando depois ser perfeitamente racional. Como disse certo teólogo, “Onde a razão
para a fé caminha, prossegue vitoriosamente”. Por mais chocante que possa parecer, o conhecimento de Deus,
a salvação em Cristo e uma vida cristã abençoada é alicerçada sobre a “fé que atua pelo amor” (Gálatas 5.6;
Hebreus 11.1-2).
I Coríntios 2.9 - Mas, como está escrito: As coisas que o olho não viu, e o ouvido não ouviu, e não subiram
ao coração do homem, são as que Deus preparou para os que o amam. Trata-se de uma citação (adaptada) de
Isaías 64:4. O contexto imediato é relacionado a Israel no cativeiro, esperando o livramento de Deus. A nação
havia pecado e, como disciplina, fora mandada para a Babilônia. O povo clamou a Deus, pedindo que descesse
para livrá-los. Depois de setenta anos de exílio. Deus respondeu a suas orações. Deus tinha planos para seu
povo, e ninguém precisava temer coisa alguma (Jeremias 29:11).
Paulo aplicou esse princípio à igreja. Quaisquer que sejam as circunstâncias, nosso futuro está seguro em Jesus
Cristo. Na verdade, os planos de Deus para seu povo são tão maravilhosos que nossa mente não é capaz sequer
de começar a concebê-los ou a compreendê-los! Deus ordenou tais coisas para sua glória (I Coríntios 2:7). É
glória desde a Terra até o céu!
Para os que amam a Deus, todo dia é um bom dia (Romanos 8:28). Pode não parecer bom ou podemos não
sentir que é bom, mas quando Deus realiza seu plano, podemos ter certeza de que é o melhor. É quando
deixamos de crer no Senhor ou lhe obedecer, quando nosso amor por ele esfria, que a vida se torna sombria.
Se caminharmos com Deus em sabedoria, desfrutaremos suas bênçãos.
Consideramos nesta passagem duas verdades fundamentais acerca do evangelho: o cerne da mensagem é a
morte de Cristo, e ela faz parte do grande plano eterno do Pai. Os cristãos em Corinto haviam esquecido o
preço pago por sua salvação; havia deixado de olhar para a cruz. Também estavam se ocupando de questões
secundárias, coisas de criança, pois haviam deixado de se maravilhar com a magnitude do plano de Deus para
eles. Era necessário que voltassem ao ministério do Espírito Santo.
Hebreus 11.1-2 - Ora, a fé é a certeza daquilo que esperamos e a prova das coisas que não vemos. Pois foi
por meio dela que os antigos receberam bom testemunho.
Não se trata de uma definição da fé, mas sim de uma descrição do que ela faz e de como funciona. A verdadeira
fé bíblica não consiste em um otimismo cego nem em um sentimento forçado de "espero que [...]". Também
não é uma aquiescência intelectual à doutrina. Certamente não é crer apesar das evidências, pois isso seria
superstição!
A verdadeira fé bíblica é uma obediência confiante à Palavra de Deus apesar das circunstâncias e
consequências. Convém ler a frase anterior novamente e deixar que ela penetre a mente e o coração. Essa fé
funciona de maneira bastante simples. Deus fala, e ouvimos sua Palavra. Confiamos em sua Palavra e agimos
de acordo com ela, a despeito das circunstâncias e das consequências. As circunstâncias podem ser impossíveis
e as consequências assustadoras e desconhecidas. Ainda assim, obedecemos à Palavra de Deus e cremos que
ele fará o que é certo e o que é melhor. O mundo não entende que a fé tem o mesmo valor que seu objeto, e
que o objeto de nossa fé é Deus. A fé não é um "sentimento" que criamos. É nossa resposta de corpo e alma
àquilo que Deus revelou em sua Palavra.
Três termos em Hebreus 11:1-3 resumem a verdadeira fé bíblica: certeza, convicção e testemunho. O termo
traduzido por "certeza" significa, literalmente, "servir de escora, sustentar". A fé é para o cristão aquilo que o
alicerce é para a casa: dá confiança e segurança de permanecer em pé com firmeza.
Assim, podemos dizer que ter fé é "estar seguro das coisas que se esperam". A fé do cristão é o meio que Deus
usa para lhe dar confiança e segurança de que as promessas serão cumpridas.
O termo testemunho é importante em Hebreus 11. Aparece não apenas no versículo 2, mas também duas vezes
no versículo 4, uma vez no versículo 5 e uma vez no versículo 39. O resumo em Hebreus 12:1 chama essa lista
de homens e mulheres de "grande nuvem de testemunhas". São testemunhas para nós porque Deus
testemunhou para eles. Em cada exemplo citado, Deus deu testemunho da fé desse indivíduo por meio da
aprovação de sua vida e ministério.
2.3. A renovação da mente
Passar a viver a fé em Jesus Cristo envolve a renovação da mente. Devemos entender que quando alguém
recebe Cristo, ele é regenerado pela Palavra, isto é, nasce como uma criança no reino de Deus. E como todo
bebê precisa ser alimentado para o seu pleno desenvolvimento, assim, o novo convertido precisa ser alimentado
para o seu pleno desenvolvimento espiritual. Isso significa que o espírito humano é renovado e recebe uma
nova disposição e entendimento das coisas de Deus, as quais antes eram impedidas pela cegueira do pecado,
da incredulidade e a atuação maligna (2Co 4.3,4). Entretanto, essa mente não é transformada por um milagre,
mas com esforço pessoal, pois Paulo diz o seguinte: “sede transformados pela renovação do vosso
entendimento, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus” (Romanos
12.1,2).
Romanos 12.1,2 - Rogo-vos, pois, irmãos, pelas misericórdias de Deus, que apresenteis o vosso corpo por
sacrifício vivo, santo e agradável a Deus, que é o vosso culto racional. E não vos conformeis com este século,
mas transformai-vos pela renovação da vossa mente, para que experimenteis qual seja a boa, agradável e
perfeita vontade de Deus.
(v. 1). Antes de crer em Cristo, usávamos o corpo para prazeres e propósitos pecaminosos; agora que
pertencemos ao Senhor, usamos o corpo para sua glória. O corpo do cristão é o templo de Deus (I Coríntios
6:19, 20), pois o Espírito de Deus habita nele (Romanos 8:9). É nosso privilégio glorificar e engrandecer a
Cristo com nosso corpo (Filipenses 1:20, 21).
Assim como Jesus Cristo precisou ter um corpo para realizar a vontade de Deus na Terra, também devemos
entregar o corpo a Cristo para que possa continuar a obra de Deus por meio de nós. Devemos entregar os
membros de nosso corpo como "instrumentos de justiça" (Romanos 6:13) para o Espírito Santo realizar a obra
de Deus. Os sacrifícios do Antigo Testamento eram sacrifícios mortos, mas devemos ser sacrifícios vivos.
Há dois "sacrifícios vivos" na Bíblia que ajudam a entender o verdadeiro significado desse conceito. O primeiro
é Isaque (Genesis 22); o segundo é nosso Senhor Jesus Cristo. Isaque colocou-se voluntariamente no altar e se
mostrou disposto a morrer em obediência à vontade de Deus, mas o Senhor enviou o cordeiro que tomou seu
lugar. Ainda assim, Isaque "morreu" para si mesmo e se entregou prontamente à vontade de Deus. Quando
saiu do altar, Isaque era um "sacrifício vivo" para a glória de Deus.
É evidente que o Senhor Jesus Cristo é a ilustração perfeita de um "sacrifício vivo", pois, na verdade, morreu
como sacrifício em obediência à vontade do Pai. No entanto, ressuscitou e hoje está no céu como "sacrifício
vivo", levando ainda em seu corpo as marcas do Calvário. Ele é nosso Sumo Sacerdote (Hebreus 4:14-16) e
nosso Advogado (1 João 2:1) diante do trono de Deus.
O termo "apresentar", neste versículo, significa "apresentar-se de uma vez por todas". Ordena uma entrega
definitiva do corpo ao Senhor, como os noivos se entregam um ao outro na cerimônia de casamento. E essa
entrega definitiva que determina o que fazem com o corpo. Paulo apresenta dois motivos para essa
consagração: (1) é a atitude certa diante de tudo o que Deus fez por nós "Rogo-vos, pois, irmãos, pelas
misericórdias de Deus; (2) essa entrega é nosso "culto racional" ou nossa ''adoração espiritual", o que significa
que, quando consagramos nosso corpo ao Senhor, cada dia é uma experiência de adoração.
(V. 2a). O mundo quer controlar nossa mente, mas Deus quer transformá-la (ver Efésios 4:17-24; Colossenses
3:1-11). O termo traduzido aqui por transformar é o mesmo traduzido por transfigurarem Mateus 17:2. Em
nossa língua, equivale à palavra "metamorfose". Descreve uma mudança que ocorre de dentro para fora. O
mundo deseja mudar nossa mente e, para isso, exerce pressão externa. Mas o Espírito Santo transforma nossa
mente, liberando poder interior. Se o mundo controla nossa maneira de pensar, somos conformados, mas se
Deus controla nossa maneira de pensar, somos transformados.
Deus transforma nossa mente e a focaliza nas coisas espirituais usando sua Palavra. Ao passar tempo
meditando sobre a Palavra de Deus, memorizando-a e assimilando-a em nosso ser interior, aos poucos, Deus
torna nossa mente cada vez mais espiritual (ver 2 Co 3:18).
(v. 2 b). A mente controla o corpo e a volição controla a mente. Muitas pessoas acreditam que podem controlar
a volição pela "força de vontade", mas normalmente não são bem-sucedidas. (Essa é a experiência que Paulo
relata em Romanos 7:15-21.) Somente quando entregamos nossa volição a Deus é que seu poder assume o
controle e nos dá a força de vontade de que precisamos para ser cristãos vitoriosos.
Entregamos nossos desejos a Deus pela oração disciplinada. Ao passarmos tempo em oração, entregamos a
Deus nossa volição e oramos como Jesus Cristo: "Faça-se a tua vontade, e não a minha". Devemos orar sobre
todas as coisas e permitir que Deus faça o lhe aprouver em todas as coisas.
3. Pedagogia que transforma vidas
A pedagogia de Paulo não é milagreira, mas passa um conteúdo capaz de transformar vidas. Parece
contraditório isso, mas a explicação é que não se trata do trabalho de Paulo apenas, e sim, da graça de Deus
que opera através da sua vida e suas palavras.
3.1. O Conteúdo do evangelho
Falamos acima sobre a importância da renovação da mente. Mas qual o conteúdo usado por Paulo e demais
apóstolos capazes de operar isso? Como também já dissemos Jesus é o tema central de seu conteúdo
pedagógico, que se apoia no cumprimento fiel das profecias do Antigo Testamento, pelo fato de que Jesus
morreu e ressuscitou de acordo com testemunho de muitos fiéis (I Coríntios 15.3-8), um ensino que gera
esperança e nutre a fidelidade a Deus. Todavia há três tipos principais do ensino evangélico paulino: primeiro,
através do próprio exemplo piedoso de quem ensina, nesse aspecto, o próprio Paulo se oferece como um
modelo (I Coríntios 4.16; 11.1); segundo, aqueles destinados a instruir, eliminando dúvidas e a responder
questões, como por exemplo, sobre a ressurreição, costumes locais, etc.; terceiro, aqueles ensinos com peso
dogmático, ético, ou seja, para obedecer-se. Esses três modelos de ensino continuam, e jamais devem deixar
de ser empregados na igreja.
I Coríntios 15.3-8 - (v. 3, 4). A expressão antes de tudo significa "o que é de suma importância". O evangelho
é a mensagem mais importante que a Igreja pode proclamar. Apesar de o envolvimento com as ações sociais
e com o aperfeiçoamento humano ser algo louvável, não há motivo algum para esses ministérios tomarem o
lugar do evangelho. "Cristo morreu [...] foi sepultado [...] ressuscitou [...] e apareceu [...]" - esses são os fatos
históricos fundamentais nos quais o evangelho encontra-se apoiado (1 Co 15:3-5). "Cristo morreu pelos nossos
pecados", essa é a explicação teológica dos fatos históricos. Os romanos crucificaram muita gente, mas apenas
uma dessas "vítimas" morreu pelos pecados do mundo.
Na cruz, Jesus ficou exposto aos olhos dos incrédulos; mas, depois da ressurreição, foi visto por seus
seguidores, que poderiam dar testemunho da ressurreição do Mestre (Atos 1:22; 2:32; 3:15; 5:32). Tanto Pedro
quanto os outros apóstolos viram o Cristo ressurreto. Tiago era o meio-irmão de Jesus que se converteu depois
que Jesus apareceu a ele (Jo 7:5; Atos 1:14). Mais de quinhentos irmãos e irmãs o viram ao mesmo tempo (1
Co 15:6), de modo que pode ter sido uma alucinação ou um engano. É possível que esse acontecimento
ocorrido antes da ascensão de Cristo Mateus 28:16ss).
Todavia, uma das principais da ressurreição foi o próprio Paulo, antes de ser salvo, estava plenamente convicto
de que Jesus continuava morto, mudança radical em sua vida, formação que lhe causou sofrimento e per-
seguições, sem dúvida é prova de que Jesus, de fato, havia ressuscitado dentre os mortos.
I Coríntios 4.16 - Admoesto-vos, portanto, a que sejais meus imitadores.
“Exorto-vos, pois: sede meus imitadores”. Paulo reitera isso em 1Co 11.1 e declara igualmente aos filipenses
(Filipenses 3.17), aos gálatas (Gl 4.12) e com vistas aos tessalonicenses (1 Tessalonicenses 1.6). Pessoas
renascidas não se encontram mais sob a lei. Não se deve dar-lhes, como na instrução rabínica, uma multidão
de preceitos específicos, aos quais tenham de seguir. Porém, de acordo com quem hão de conduzir-se em sua
nova vida? De acordo com pessoas vivas que lhes servem de exemplo na vida de fé! Também nisso têm a
liberdade de ser, filhos que imitam espontaneamente os pais, crescendo assim na vida correta.
3.2. O lado pragmático do evangelho
O ensino de Paulo é prático e deve ser acatado pelos crentes em Jesus, que por sua vez, devem ir “na
contramão” do curso deste mundo. Os cristãos não devem tomar como modelo as formas pagãs tão
modernizadas e correntes, tão momentâneas que refletem o domínio do espírito que permeia este mundo sem
Deus. Atualmente, a arqueologia tem encontrado vestígios claros que demonstram a licenciosidade em muitos
lugares do tempo de Paulo no Império Romano, isso sem contar o muito da literatura daquela época existente
também em nossos dias. Diante disso, devemos a cada dia, mais e mais nos identificar com o Filho de Deus,
abandonando todo pecado do século presente e buscando insaciavelmente níveis profundos de transformação
segundo a imagem de Jesus Cristo, nosso Senhor.
3.3. Objetivo de um ensino transformador do evangelho
Principalmente na Carta aos Romanos, encontramos de uma maneira bem organizada os objetivos de um viver
transformado. Primeiro todo homem deve viver para agradar a Deus e a vida em comunhão com o Espírito de
Deus é que possibilita isso (Romanos 8); segundo, essa nova vida em comunhão com Cristo segundo o poder
do Espírito Santo é o único meio eficaz de se vencer as paixões da nossa natureza pecaminosa (Romanos 8;
Gá1atas 5.16); terceiro, a vida assim, como expusemos, é o único meio de produzir frutos para Deus através
das virtudes cristãs, a única maneira de glorificar o seu nome. Isto se dá pela expressão de emoções sadias tais
como amar, ser benigno e alegre com o nosso próximo; pela demonstração de virtudes individuais pelo domínio
próprio, mantendo-se longe de vícios de todo o tipo; pelas virtudes demonstradas num relacionamento falando
a verdade sempre, sendo paciente e honesto; e por fim, pelas atitudes religiosas corretas, tais como fugir da
idolatria e feitiçaria.
Conclusão
O maior alvo do evangelho em relação ao homem é torná-lo perfeito em Jesus Cristo através da justificação
pela fé. Onde houver um coração sem Cristo, há ali uma terra cultivável para o desenvolvimento das convicções
que toma o homem melhor. O maior alvo do evangelho em relação a Deus é promover a sua glória através do
conhecimento de Cristo para a obediência da fé.

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Capítulo 9 - O estilo de liderança do Apóstolo Paulo


Introdução
A liderança exercida pelo Apóstolo Paulo tem a influência direta de Jesus Cristo. Sua comunicação tem
carisma, coragem e comprometimento. E busca em seus liderados desenvolver seus talentos mais preciosos.
1. Liderança nos moldes de Cristo
Imagine você, quando pela primeira vez, Paulo, ainda não convertido, teve algum contato com o nome Jesus,
como um líder religioso da Galileia. Qualquer um que tenha falado com ele, provavelmente lhe passou uma
horrível impressão acerca de Jesus e alimentou ódio em seu coração. E interessante como se pode odiar uma
pessoa que mal se conhece, apenas porque se falou mal dela, e somando com as noções preconcebidas, tanto
mais esse ódio é alimentado. Todavia, após o seu encontro com aquela Luz falante no caminho de Damasco,
Paulo passou a amá-lo, e tomou para si o exemplo de liderança de seu Mestre todos os dias de sua vida.
1.1. Servir aos outros
Os reis e governadores caem sempre na tentação de se acharem os “escolhidos”, viam-se a si mesmos como
filhos dos deuses e sempre exerciam uma política em torno da qual deveriam ser servidos, adorados, e exercer
domínio sobre os outros. Não há exageros ao falar isso, pois havia estátuas e sacrifícios oferecidos a esses reis,
é possível até citar, por exemplo, os reis romanos, que, com o passar do tempo, não resistiram a tal tentação e
acabaram cedendo. Evidentemente, que, para um judeu praticante, isso era inaceitável. Mas essa ideia de ser
servido, ser o centro de tudo, permanecia até mesmo nos próprios discípulos. Esse fato Jesus combateu com
seu exemplo e ensino, mostrando que, como Filho de Deus, não veio para ser servido e sim para servir. E foi
a esse estilo de liderança que Paulo abraçou e viveu.
1.2. Inspirar aos outros
A liderança por inspiração não era novidade, mas sim um estilo que, apesar da sua eficácia, era desprezado,
como em dias atuais, a sua prática ainda o é. Na verdade, liderança cristã tem a sua base no exemplo que visa
inspirar a outros a segui-lo. Neste nível, nada é feito por imposição, mas se busca ser transparente e confiável.
Enquanto “os governantes” utilizam o poder para impor, controlar, e nunca serem transparentes nas suas
decisões com as pessoas, seguindo o exemplo do Mestre, Paulo sempre teve em vista se oferecer como exemplo
a ser imitado (I Coríntios 11.1; 2 Tessalonicenses 3.9). Lamentavelmente, a verdadeira liderança é muito
combatida no plano ideológico dentro das igrejas.
2 Tessalonicenses 3.9 - não por que não tivéssemos tal direito, mas para que nos tornássemos um modelo para
ser imitado por vocês.
Como apóstolo, Paulo tinha o direito de esperar o sustento financeiro, mas abriu mão desse direito
deliberadamente, a fim de ser um exemplo aos recém-convertidos (ver 1 Co 9:6-14). Por meio dessa atitude,
mostrou ser um líder cristão maduro. Líderes egoístas usam as pessoas para garantir o próprio sustento e estão
sempre exigindo seus direitos. Um líder verdadeiramente dedicado usa seus direitos para edificar as pessoas e
coloca seus privilégios de lado por amor aos outros.
O apóstolo já havia se referido a seu exemplo de trabalho na epístola anterior (1 Tessalonicenses 2:9). Os
leitores sabiam que Paulo e seus colaboradores não tiraram seu sustento de qualquer igreja recém-formada.
Antes, deram o exemplo ao suprir as próprias neessidades e ao ajudar a suprir as necessidades de outros. Paulo
admoesta os leitores a seguirem o exemplo dado por ele e seus colaboradores.
As influências mais marcantes são exercidas por meio da vida piedosa e do sacrifício. Um líder pode apelar
para a autoridade da Palavra, mas se não for capaz de apontar para o próprio exemplo de obediência, seu povo
não lhe dará ouvidos. Eis a diferença entre autoridade e grandeza. Um líder adquire grandeza ao obedecer à
Palavra e servir a seu povo de acordo com a vontade de Deus. A autoridade vem do cargo, enquanto a grandeza
vem da prática e do exemplo. A grandeza confere ao líder o direito de exercer autoridade.
Todo obreiro cristão tem o direito de receber sustento da igreja onde serve ao Senhor (Lc 10:7; Colossenses
6:6; 1 Tm 5:17, 18). Não devemos usar o exemplo de Paulo como desculpa para não sustentar os servos de
Deus. Mas todo servo de Deus tem o privilégio de colocar de lado esse direito para a glória de Deus. Paulo o
fez para que fosse um exemplo aos recém-convertidos de Tessalônica.
Essa política de Paulo não apenas era um estímulo para os recém-convertidos como também servia para calar
seus acusadores. Havia, em todas as cidades, mestres itinerantes que "vendiam seus produtos" pelo preço que
conseguissem. Paulo não desejava ser colocado na mesma categoria que eles. Também não desejava que
incrédulos dissessem que ele pregava o evangelho por dinheiro. Segundo sua afirmação em 1 Coríntios 9, seu
desejo era oferecer o evangelho gratuitamente, a fim de não permitir que o dinheiro fosse um empecilho para
ganhar almas perdidas.
1.3. Crer no melhor que há nos outros
Um líder inspirador usa o seu exemplo para influenciar os outros. Desta maneira, ele é forçado a crer no melhor
que neles há. Talvez nenhum pudesse ver qualidades em Pedro para ser um líder, nem tampouco em Paulo,
pois ambos eram muito desqualificados em muitos aspectos. Note que nem mesmo eles queriam tal encargo a
princípio, todavia foram escolhidos e conquistados pelo Senhor Jesus. Tal escolha resultou no abundante
crescimento da Igreja cristã. Barnabé tem o seu justo destaque, pois, segundo o livro de Atos, tornou-se o
exemplo mais notável neste aspecto, quando apresentou Saulo aos apóstolos, depois o convidou para trabalhar
em Antioquia da Síria, e deu oportunidade a João Marcos de ser cooperador.
2. Liderança e comunicação paulina
Liderar em qualquer estilo é comunicar, mas o estilo paulino nos moldes de Jesus Cristo leva essa comunicação
com algumas considerações preliminares. Como Paulo liderava então? Vejamos alguns pontos principais.
2.1. Carisma
Do ponto de vista de Atos, Paulo é apresentado como um homem cuja comunicação exala abundante graça.
Considerando o seu trabalho em Antioquia ao lado de Barnabé e também nas viagens missionárias, ele foi um
ótimo comunicador diante de reis, governadores e sacerdotes. Chegando a ser confundido na cidade de Listra
com Mercúrio, o deus mensageiro dos gregos e da eloquência, sofrendo posteriormente um terrível
apedrejamento por recusar a apoteose (Atos 14.12). Todavia, nem sempre foi assim, pois do ponto de vista
estético diante de alguns que tinham profundo conhecimento de oratória diziam: “As cartas, com efeito, dizem,
são graves e fortes; mas a presença pessoal dele é fraca, e a palavra desprezível” (2Co 10.10). Fica claro
também que tal palavra procedia de opositores seus de dentro de Corinto, sem discernimento espiritual. Liderar
é ministrar biblicamente boas palavras aos cansados, e isso Paulo fazia muito bem, mesmo que sua linguagem
fosse destituída de floreios (Is 50.4).
Atos 14.12 - A Barnabé chamavam Zeus e a Paulo Hermes, porque era ele quem trazia a palavra.
Os milagres, por si mesmos, não convencem ninguém de seus pecados nem produzem fé. É preciso que sejam
acompanhados da Palavra (Atos 14:3). Tratava-se de uma multidão supersticiosa, que interpretou os
acontecimentos à luz da própria teologia. Identificaram Barnabé com Júpiter (Zeus), o maior dos deuses, e
Paulo com Mercúrio (Hermes), o mensageiro dos deuses. Júpiter era o padroeiro da cidade, de modo que o
sacerdote de Júpiter viu nessa ocasião uma excelente oportunidade de ganhar projeção e levar o povo a honrar
seu deus.
2Co 10.10 - Afirmando que possui essa autoridade de seu Senhor, Paulo “não se envergonhará” dela. Essa
autoridade se evidenciará como real em sua visita, “para que não pareça ser meu intuito intimidar-vos por
meio de cartas. As cartas, com efeito, dizem, são graves e fortes; mas a presença física dele é insignificante,
e a palavra, desprezível.” Logo no começo dessa última seção da carta Paulo havia feito alusão aquilo que os
adversários afirmavam sarcasticamente sobre ele: “De longe esse Paulo é tão audacioso, falando palavras
poderosas, mas quando se encontra olho no olho diante da igreja e de nós, ele é “insignificante” e não tem
coragem para nada.” Em Corinto, porém, igualmente se comentava que as cartas do apóstolo eram
impressionantes e poderosas. Mas, quando o escritor dessas cartas impactantes aparecia ao vivo diante deles,
como parecia fraco! Tampouco sabe falar, falar de maneira desenvolta e cativante. Certamente contribuía para
essa sentença a valorização grega da arte da retórica. Não obstante, precisamos aprender a não fabricar uma
imagem equivocada do apóstolo baseada nos desejos da veneração cristã de heróis.
2.2. Coragem
A ousadia na comunicação de Paulo era algo constante e abundante. A visão equilibrada de si mesmo fazia
dele uma pessoa odiada em muitos lugares. Quer dizer, ele não se sentia superior ou inferior no trato com as
pessoas, mas entendia que exercia sua liderança mediante a sobre-excelente graça divina. Pois se fosse olhar
para sua história de perseguidor, seria um homem indigno. Nem por isso ele se anulou diante do brilho dos
apóstolos, quando precisou repreender Pedro em público, fê-lo; quando precisou contender com os judaizantes
ao lado de Barnabé, não deixou para depois; e mesmo o próprio Barnabé, foi alvo de sua reprovação por querer
dar mais uma chance àquele que abortara a missão diante de Perge na Panfília. A humildade de um líder não
impede que o mesmo exponha o seu pensamento.
2.3. Comprometimento
Todo grande comunicador costuma despertar grandes sonhos nos outros, fazer promessas e marcar
compromissos. Porém, o verdadeiro líder cristão é um homem de palavra, que sustenta o que diz; aborrece a
palavra fingida e a duplicidade de caráter. Só promete o que vai cumprir, e caso não cumpra, arrepende-se e
explica o porquê do não cumprimento, pedindo desculpas. Paulo se tornou um homem notável por ser
fidelíssimo ao que dizia e não permitia ou tolerava que seus obreiros fossem de “língua dobre” (I Timóteo 3.8).
Mas houve vezes que ficou impedido de atender alguns compromissos, mesmo assim reconheceu a falha em
suas cartas (Romanos 1.13; 15.22,23; l Tessalonicenses 2.17).
3. Liderança que desenvolve talentos
Uma das qualidades de Paulo, em seu ministério evangélico, era de ter olhos abertos para identificar líderes e
possibilitar desenvolvê-los. Naquele momento, em que a fé cristã ainda emergia, era difícil arranjar candidatos
ao ministério, pelos motivos que veremos mais adiante. Contudo Paulo não facilitava as coisas, mas estimulava
seus ouvintes (I Timóteo 3.1).
I Timóteo 3.1 - Esta afirmação é digna de confiança: Se alguém deseja ser bispo a, deseja uma nobre
função.
De acordo com o Novo Testamento, os termos "bispo", "pastor" e "presbítero" são sinônimos. A palavra bispo
significa "supervisor", e os presbíteros têm a responsabilidade de supervisionar o trabalho da igreja (Atos
20:17, 28; 1 Pedro 5:1-3). "Presbítero" significa "um ancião". Paulo usa o termo presbitério em 1 Timóteo
4:14, referindo-se não a uma denominação, mas ao conjunto de presbíteros da assembleia que ordenaram
Timóteo. Os presbíteros e bispos (dois nomes para o mesmo cargo, Tito 1:5, 7) eram pessoas maduras, com
sabedoria espiritual e experiência espiritual. Por fim, o termo "pastor" também tem o sentido de "pastor de
ovelhas", aquele que conduz e cuida do rebanho de Deus.
Quando comparamos as qualificações apresentadas nesta passagem para os bispos com aquelas apresentadas
para os presbíteros em Tito 1:5-9, vemos que, na verdade, todas se referem ao mesmo cargo. No período
apostólico, a organização da igreja era bastante simples: havia os pastores (bispos, presbíteros) e os diáconos
(Filipenses 1:1). Ao que parece, vários presbíteros supervisionavam o trabalho de cada igreja, alguns deles
encarregados de "presidir" (trabalhar com a organização e o governo), outros, de ensinar (1 Timóteo 5:17).
Mas era necessário que esses homens fossem qualificados.
3.1. Dificuldades em achar interessados no ministério
A extensão da capacidade de um líder varia, tal princípio é largamente exposto nas Escrituras, porém ela pode
ser ampliada ou reduzida com o próprio exercício da liderança. Um líder exemplar tende a confiar e dar
oportunidade aos outros mais facilmente, é como se seus olhos estivessem sempre abertos para seus liderados
e para Deus, visando ampliar o Reino. As principais dificuldades daquela época em arranjar interessados no
ministério: Primeiro, ser diácono ou presbítero não trazia status, como em muitos lugares hoje; segundo, muitas
vezes não havia remuneração alguma na maioria dos lugares, exceto, o obreiro titular; terceiro, muitos não se
interessavam principalmente por causa da perseguição dos próprios conterrâneos e chefes do lugar, como ainda
hoje acontece. Contudo, não devemos imaginar que não havia candidato algum, pois sempre havia alguém,
mas era uma escolha mais bem pensada, visto que se tratava de assumir inúmeros riscos.
3.2. Olhos e ouvidos abertos para identificar líderes
Paulo tinha os seus olhos e ouvidos abertos para identificar líderes que pudessem prosseguir na obra. Na
segunda viagem missionária, ele levou consigo Silas, em meio à viagem, tomou também Timóteo que tinha
bom testemunho dos de Listra e Icônio, e vários engrossaram essa lista, tais como: Tito, Lucas, Epafras, e
tantos outros que talvez nunca saibamos. Paulo mais parecia um viveiro de líderes ambulantes, sem, contudo,
declinar na qualidade das exigências ministeriais.
3.3. Coração aberto para dar oportunidades
O grande segredo para um homem identificar talentos é ser líder de fato, ter certo conhecimento de si mesmo,
da sua chamada, e ser exemplo. Assim, tal líder jamais se sentirá inseguro, ameaçado ou com ciúmes. O
ministério tem seus riscos peculiares, algumas vezes será vítima de ingratidão, traído e abandonado, mas o seu
coração estará sempre conectado ao trono de Deus e aberto aqui na terra para dar oportunidade a homens e
mulheres para o desenvolvimento ministerial. Paulo é um exemplo sobejo nesse aspecto, tanto de dar
oportunidade quanto de ser abandonado, por exemplo, João Marcos, Demas, etc. Todavia, ele não guardava
rancor, quanto a João Marcos, Paulo reconheceu o seu grande valor tendo-o em alta estima (2Tm 4.11).
Conclusão
Não se deve pensar que os tempos de Paulo eram melhores que os de hoje, e jamais desejar que aquele tempo
retome. Pois, afinal, nada mudaria. Mas podemos nos valer de todo o acervo histórico de experiência cristã em
termos de liderança, e resgatarmos os princípios que nortearam o trabalho de Paulo como servo líder. Duas
coisas foram profundamente marcantes na carreira ministerial do Apóstolo dos gentios: o desejo de agradar a
Cristo e a sua longanimidade admirável.

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Capítulo 10 - Paulo e a relevância de suas cartas


Introdução
As cartas de Paulo são notáveis, pois respondem às questões de sua época, e a situações dos dias atuais. Suas
epístolas são influentes, mantendo a igreja sempre firme e constante na obra do Senhor e em sua, difícil, mas
compensadora peregrinação rumo ao céu. De modo mui excelente, seus textos são importantes e fundamentais
para a consolidação do cristianismo.
1. A importância da correspondência paulina
O Cristo revelado a Paulo se tornou a sua mensagem de vida, quer ensinada de maneira verbal ou escrita.
Aproveitando-se das facilidades oferecidas pela administração do Império Romano, no tocante ao envio da
correspondência e à relativa segurança nas estradas.
1.1. Um grande volume
As várias neo-igrejas espalhadas pelo Império não podiam contar com a presença física de Paulo, embora os
destinatários sempre gostassem das cartas, preferiam a palavra verbalizada. Em virtude das necessidades
locais, um bom volume de cartas foi produzido. Paulo tanto recebeu quanto enviou cartas, mas, para a nossa
perda, nenhuma das cartas que recebeu, chegou até nós. Dos 27 livros do Novo Testamento, 13 são da autoria
de Paulo, um embora seja o seu estilo, não se pode atribuir com certeza a ele, que é a Carta aos Hebreus, e o
Livro de Atos foi escrito sob a sua influência. Já imaginou se Paulo fosse vivo hoje com telefone, fax e internet,
como seria o volume de sua correspondência?
1.2. Paulo escreveu respondendo às situações
Atualmente, há aqueles que escrevem capítulo de um determinado assunto numa revista ou jornal, e depois,
transformam aquele conteúdo em um livro. Não se deve imaginar que Paulo idealizou uma estratégia de
elaboração assim. Na época de Paulo, havia um modelo de carta iniciada com a indicação do destinatário,
seguida de saudação e com uma mensagem em tomo de 90 palavras. Todavia, as cartas paulinas não se ajustam
a esse modelo. Elas eram de fato cartas particulares, mas endereçadas a comunidades que precisavam de
fortalecimento e orientação específica, cujo teor era para ser exposto publicamente na assembleia local. Tais
cartas eram mais parecidas com um tipo de “cartas abertas”, essas “eram escritas para informar o público
acerca de certos itens dignos de nota”.
1.3. Notabilidade de suas cartas
Da conversão de Paulo a Cristo até a sua primeira carta escrita levaram vários anos, logo ele estava maduro o
suficiente para tratar de questões peculiares a igreja local com profundidade. A sua primeira Carta que temos
em mãos e que se sabe é Gálatas, a data mais remota possível e provável de sua autoria é de 48 d.C., levando-
se em conta o primeiro Concílio em Jerusalém, evidentemente ela foi escrita após esse evento. Possivelmente,
a última foi 2a Timóteo, pouco antes de sua morte entre 62-65 d.C. Grande foi a notabilidade delas visto que
refletiam o cuidado pastoral através das instruções que as igrejas precisavam na ausência do apóstolo, mas
também refletiam o seu carinho por elas.
2. Alguns detalhes da correspondência paulina
Desde a invenção da escrita pelos sumérios a mais de 4.000 anos a.C., ela tem sido um poderoso aliado na
promoção da vontade de Deus entre os seres humanos. Lembremos que os dez mandamentos foram escritos
empedra pelo dedo de Deus, para que ficasse para a posteridade. Paulo reconhecendo o valor da palavra escrita
tratou de escrever o que pôde para ajudar às igrejas.
2.1. O que Paulo escreveu e chegou até nós
Por que será que o que Paulo escreveu perdurou a ponto de chegar a nossos dias? Evidentemente, houve uma
série de cuidados que proporcionaram isso com o passar dos séculos, o cuidado no manuseio dos escritos, as
cópias feitas pelos amanuenses e sua proteção em tempos de perseguição, de maneira que temos a palavra de
Paulo conosco hoje. O seu assunto nas suas Cartas pode ser resumido com uma palavra - Cristo. E esse foi o
grande segredo naquele primeiro momento das jovens comunidades cristãs espalhadas pelo Império afora, quer
dizer, Paulo escreveu assunto de interesse deles e permanente, “a salvação”, que envolve o reinar em vida no
tempo presente e a eternidade com Cristo no porvir. Ninguém melhor do que Paulo, o fundador dessas igrejas,
para responder a questões tão cruciais que se repetem pelos séculos.
2.2. De Paulo às igrejas e as igrejas entre si
Paulo enviava suas cartas para a leitura pública nas reuniões da comunidade cristã local, era uma ordem
expressa dele com toda a sua autoridade apostólica. As cartas paulinas tinham função instrutiva, mas era
também uma forma dele se fazer presente pela palavra escrita, receber as correspondências delas, e desenvolver
uma tradição cristã local (I Tessalonicenses 5.27 Diante do Senhor, encarrego vocês de lerem esta carta a todos
os irmãos.; 2 Tessalonicenses 3.6 Irmãos, em nome do nosso Senhor Jesus Cristo nós lhes ordenamos que se
afastem de todo irmão que vive ociosamente a e não conforme a tradição que vocês receberam de nós.).
Em certa altura de seu ministério, chegou uma época que o próprio Paulo ordenou uma leitura alternada das
suas cartas entre algumas igrejas. Por exemplo, a leitura da carta enviada à igreja de Colossos, pediu que a
enviasse para leitura na igreja em Laodicéia, e que a carta de Laodicéia fosse lida na igreja de Colossos, ou
seja, que houvesse uma alternância. Percebe-se com isso que Paulo tinha em mente criar e desenvolver uma
tradição cristã, caso alguém não obedecesse, deveria ser advertido (Colossenses 4.16 Depois que esta carta for
lida entre vocês, façam que também seja lida na igreja dos laodicenses, e que vocês igualmente leiam a carta
de Laodicéia.; 2 Tessalonicenses 3.14-15 Se alguém desobedecer ao que dizemos nesta carta, marquem-no e
não se associem com ele, para que se sinta envergonhado; contudo, não o considerem como inimigo, mas
chamem a atenção dele como irmão.).
2.3. Algumas características das cartas paulinas
O que determina as certas características nas cartas de Paulo é a necessidade de seus destinatários. Dependendo
do assunto, obviamente o tom de Paulo pode ser afetuoso, triste, imperial ou vitorioso. Porém, sempre quando
escreve sua doutrina, escreve embasando-se no Antigo Testamento, sem deixar de se contextualizar com a
época em que vive. Paulo também retira ilustrações do comércio de escravos que conhecia, para falar sobre
compra e resgate do Senhor Jesus em relação aos fiéis. Utiliza-se de figuras de soldados, atletas e até parada
militar. Escreve com base nas tradições militares romanas. Há momentos de abatimento nas suas cartas,
narrativas de experiências pessoais, mas também de poesias e cânticos em vários lugares (I Coríntios 13;
Filipenses 2.5-11 Seja a atitude de vocês a mesma de Cristo Jesus, que, embora sendo Deus a, não considerou
que o ser igual a Deus era algo a que devia apegar-se; mas esvaziou-se a si mesmo, vindo a ser servo, tornando-
se semelhante aos homens. E, sendo encontrado em forma humana, humilhou-se a si mesmo e foi obediente
até a morte, e morte de cruz! Por isso Deus o exaltou à mais alta posição e lhe deu o nome que está acima de
todo nome, para que ao nome de Jesus se dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra, e toda língua
confesse que Jesus Cristo é o Senhor, para a glória de Deus Pai).
A correspondência de Paulo se equilibra sobre dois poios: da profundidade de pensamento teológico, sem,
contudo, deixar de ser prático. Assim, semelhantemente, devemos buscar esse equilíbrio na vida entre a teoria
e prática, a teologia e a devoção fervorosa.
3. Correspondência paulina e sua influência
Paulo colocou os seus dons e capacidades a serviço do Mestre, e utilizou-se eficientemente deles para a
propagação das boas novas do reino através dos séculos. Sem qualquer exagero, o cristianismo cresceu e se
consolidou através da influência de sua pessoa e de suas cartas preservadas.
3.1. Sua influência sobre outros Escritores
O fluxo da influência da correspondência paulina foi algo que começou como um grande rio, de forma pequena
e constante. As igrejas por Paulo fundadas são as primeiras a usufruírem dela, tempos depois, outros autores
como Pedro, Tiago, Judas e João entraram em cena. Mesmo os evangelhos, curiosamente foram escritos depois
dos escritos de Paulo. Pedro faz comentário positivo às cartas de Paulo (2 Pedro 3.15,16 Tenham em mente
que a paciência de nosso Senhor significa salvação, como também o nosso amado irmão Paulo lhes escreveu,
com a sabedoria que Deus lhe deu. Ele escreve da mesma forma em todas as suas cartas, falando nelas destes
assuntos. Suas cartas contêm algumas coisas difíceis de entender, as quais os ignorantes e instáveis torcem,
como também o fazem com as demais Escrituras, para a própria destruição deles.); Tiago explica o lado prático
que se deve acompanhar a justificação, pois não existe fé sem atitudes, e qualquer leitor das cartas paulinas
entende perfeitamente que se trata de uma alusão indireta à doutrina da justificação em Paulo, quando escreveu
a Carta aos Romanos.
3.2. Sua influência na igreja primitiva
A influência das castas de Paulo atravessava os tempos e muitos sentiam falta de novas circulares de Paulo,
vendo a sua influência diminuir. Com isso certo obreiro da Ásia resolveu escrever um livro apócrifo em sua
homenagem por volta de 160 d.C., um escrito lendário (Atos de Paulo e Tecla). Não se sabe o nome desse
presbítero, mas sabe-se que ele foi chamado para dar explicações do seu escrito e, sendo repreendido, perdeu
seu cargo a seguir por causa desse escrito. O tempo foi passando e comentários e citações das cartas de Paulo
foram sendo feitos pelos líderes da igreja. O tempo continuou passando, e grandes homens interpretaram e
fundamentaram a sua teologia a partir das Cartas de Paulo. O que aprendemos com isso? Que os elementos
trabalhados ou produzidos por nós devem ser agradáveis a Deus e inspirar os homens, mesmo depois de nossa
morte.
3.3. Sua influência hoje
A obra de um autor é posta à prova não só em vida, mas principalmente depois da sua morte. Por vezes,
escritores vigorosos fazem sucesso em sua geração, mas com o passar do tempo ficam esquecidos. Há uma
regra entre os estudiosos das Escrituras que diz que tudo aquilo que é de Deus tende a aumentar a sua
influência, mesmo com a sua morte e o passar do tempo. Muitos dos não cristãos, é claro, tem mais ódio de
Paulo de Tarso do que o próprio Senhor Jesus. Por ter sido ele o grande propagador do cristianismo. Outro
teste de fogo são os livros produzidos em torno da biografia e pensamento daquela pessoa importante. No
tocante a Paulo, anualmente, publicam-se diversos tipos de materiais citando seu nome, suas obras e
pensamentos.
O que temos produzido para o evangelho tem sido feito em Deus? E o que é fazer algo para Deus e em Deus?
Como apontamos acima, sobre a obra paulina, podemos observar algumas coisas, podemos cruzar os braços e
nada produzir para Deus e seu reino, ou podemos nos lançar a trabalhar para Deus. mas sem efeito no reino
dele, pois não conta com a sua aprovação e participação. Isso consiste não apenas em realizar coisas boas, mas
realizar em obediência a Palavra de Deus, em oração, sob o sangue de Jesus e no poder do Espírito Santo.
Muita coisa pode ser feita para Deus, dependendo como se realiza poderá ser aceito por Ele ou não.
Conclusão
Ainda que possamos lamentar que nenhuma carta que Paulo recebeu chegou até nós, e muitas delas se
perderam com o passar dos anos, perseguição, desgaste, etc. Cremos que o que temos é exatamente aquilo que
precisávamos. Deus preservou exatamente naquilo que é útil para gerar e consolidar a fé salvadora no coração
humano.

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