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Política e Organização da Educação Brasileira

Profa. Shirley Silva

DESIGUALDADES DE GÊNERO E
RAÇA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR

Cinthia Torres Toledo


Pedagoga, mestra e doutoranda em Educação (FEUSP)
Grupo de Estudos de Gênero, Educação e Cultura Sexual (EdGES)
Gênero
* Segunda vaga do movimento feminista (final da déc. de 1960): termo
gramatical empregado para fazer referência a traços sexuais (SCOTT, 1995).

Sexo – biológico
Gênero – cultural

* Questionamento da dicotômia: a construção social do sexo.

Modelo predominante de sexo único até o Iluminismo (LAQUEUR, 2001)

Sentido sobre o que é ser homem ou mulher deve ser encontrado e não
pressuposto
Gênero
Gênero como categoria de análise: a organização social da diferença
sexual

Quando falo de gênero, quero referir-me ao discurso da diferença dos


sexos. Ele não refere apenas às ideias, mas também às instiituições, às
estruturas, às práticas cotidianas, como também aos rituais e a tudo que
constitui as relações sociais. O discurso é um instrumento de ordenação
do mundo, e mesmo não sendo anterior à organização social ele é
inseparável desta. Portanto, o gênero é a organização social da diferença
sexual. Ele não reflete a realidade biológica primeira, mas ele constrói o
sentido dessa realidade. A diferença sexual não é a causa originária da
qual a organização social poderia derivar. Ela é antes uma estrutura social
movente, que deve ser analisada nos seus diferentes contextos históricos
(SCOTT apud GROSSI; HEILBORN, 1998, p. 115)
Gênero
Quando a diferença sexual é criada e evocada nas interações entre as
crianças? (TOLEDO, 2016)

Quais são os significados atribuídos pelas crianças sobre ser menino e


menina na escola? (TOLEDO, 2016)

Esses significados mudam de acordo com o contexto ou com a cor/raça


das crianças? (TOLEDO, 2016)

É possível perceber definições de ser menino alternativas, negadas e


suprimidas? (TOLEDO, 2016)

Os significados de ser menino na escola excluem a possibilidade de ser


‘bom aluno’? (TOLEDO, 2016)
Raça
*Conceito sociológico:

“Raça” é um conceito que não corresponde a nenhuma realidade


natural. Trata-se, ao contrário, de um conceito que denota tão
somente uma forma de classificação social, baseada numa atitude
negativa frente a certos grupos sociais, e informada por uma noção
específica de natureza, como algo endodeterminado. A realidade das
raças limita-se, portanto, ao mundo social. Mas, por mais que nos
repugne a empulhação que o conceito de “raça” permite – ou seja,
fazer passar por realidade natural preconceitos, interesses e valores
sociais negativos e nefastos - , tal conceito tem uma realidade social
plena, e o combate ao comportamento social que ele enseja é
impossível de ser travado sem que lhe reconheça a realidade social
que só o ato de nomear permite” (GUIMARÃES, 2009, p. 11)
Estatísticas
População brasileira por sexo - Brasil, 2010
Homens Mulheres

48,97%
51,03%

Fonte: Censo Demográfico 2010 (IBGE).


População brasileira por cor/raça - Brasil, 2010
Brancos Pardos Pretos Amarela Indígena

7,61%

1,09% 0,42%

47,74%

43,14%

Fonte: Censo Demográfico 2010 (IBGE).


Fonte: Censo Demográfico 2000, disponível em Ferraro (2010).
Analfabetismo entre homens e mulheres, por grupos de idade – Brasil, 2009
30

25

20

Total
Mulheres
15 Homens

10

0
15 ou + 15 a 19 20 a 24 25 a 29 30 a 39 40 a 49 50 ou +

Fonte: PNAD 2009 (IBGE), extraído de ROSEMBERG & MADSEN, 2011.


Analfabetismo, por sexo e cor/raça
HOMENS
GRUPOS
DE BRANCOS NEGROS BRANCAS NEGRAS
IDADE
(anos)

7 a 14 5,5 10,0 3,7 6,7


15 a 17 1,4 2,6 0,5 1,1
18 a 24 1,5 3,8 0,9 2,1
25 a 39 3,6 9,4 2,3 5,9
40 a 59 6,0 17,4 5,5 16,5
60 ou mais 15,3 38,5 19,7 42,6

Total 14,5 21,2 13,6 19,7

Fonte: PNAD 2009 (IBGE), extraído de ROSEMBERG & MADSEN, 2011.


Fonte: Censo Demográfico 2000, disponível em Ferraro (2010).
Tabela 1- Taxa de frequência escolar líquida (%) – meninos e meninas de
15 a 17 anos
Menina Menino Menina negra Menino negro
branca branco
Brasil 59,4 51,3 46,9 36,1

Diferença de 23,3 pontos percentuais

A inversão do hiato de gênero só pode ser considerada dentro de cada


segmento de cor/raça. As meninas e mulheres negras apresentam
indicadores educacionais inferiores aos indicadores de meninas e de
meninos brancos.

Fonte: Censo Demográfico, 2010.


Pesquisas sobre masculinidades e desempenho
escolar

1. Percepção das professoras sobre a diferença de desempenho de meninos


e meninas

2. Quem são os meninos que fracassam na escola? Cruzamento entre


gênero e raça

3. Socialização familiar

4. Interações entre as crianças e jovens


Estudos sobre a percepção das professoras

Meninas dedicadas x meninos inteligentes

Meninas são passivas e meninos são ativos

Bons alunos são quietos e passivos

As diferenças de desempenho escolar se


devem a socialização empreendida sobretudo
fora da escola

Meninos negros são percebidos como


inteligentes?
Bons alunos e boas alunas: são passivos/as?

Quem efetivamente se encaixava no perfil de excelente


aluno, participativo, crítico e ao mesmo tempo
cumpridor de tarefas, rápido na aprendizagem e
organizado era um pequeno número de meninas
questionadoras e, em especial, um grupo significativo de
meninos, quase todos vistos como brancos ou brancas
pelas professoras (CARVALHO, 2009, p. 38).

CARVALHO, M. P. Sucesso e fracasso escolar: uma questão de gênero. Educação e


Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 1, pp. 185-193, Jan./Jun. 2003.
______. Avaliação escolar, gênero e raça. São Paulo: Papirus Editora, 2009.
Criança “indisciplinada” tem dificuldade?

Crianças encaminhadas para atividades de reforço escolar:

Características com significados distintos de acordo com o sexo.


Meninos: indisciplina e autonomia.

PEREIRA, F. H; CARVALHO, M. P. Meninos e meninas num projeto de


recuperação paralela. Revista Brasileira de Estudos Pedagógico.
Brasília, v. 90, n. 226, p. 673-694, Set/Dez. 2009.

Crianças avaliadas negativamente pelas


professoras:

Meninos “apáticos”
Meninas “agitadas e “contestadoras”

DAL' IGNA, M. C. Desempenho escolar de meninos e meninas: há diferença?


Educação em Revista. Belo Horizonte. n. 46, p. 241-267. Dez. 2007.
Quem são os meninos que fracassam na escola? Um
olhar para a multiplicidade de práticas de masculinidade

Meninos negros mais punidos e percebidos como


indisciplinados:

“Na media em que esses discursos eram eles próprios construídos por meio
de estereótipos racistas relacionados a uma suposta natureza indisciplinada
e violenta dos homens negros, não era surpreendente que os meninos
negros na escola tendessem a se tornar agudamente visíveis em momentos
de crise. Isto é, pode-se argumentar que quanto mais o/a professor/a era
forçado a agir rapidamente, sem a oportunidade de investigar e discernir qual
criança era a principal culpada por qualquer indisciplina específica, mais
esses discursos racializados tinham tendência a encorajar alguns professores
a ficalizar nas crianças negras em meio ao mar de rostos nas assembleias ou
nas slas de aula” (CONOLLY, 1999, p. 78 apud CARVALHO, 2005, p. 89)
Classificação racial e desempenho na aprendizagem:

“Isto é, nossa hipótese inicial foi confirmada no que se refere à


avaliação de aprendizagem das crianças, embora não no que se refere
aos problemas de disciplina. Se lembrarmos que a avaliação escolar
utilizada nesse caso é construída pelas próprias professoras, podemos
supor que elas tanto tendiam a perceber como negras crianças com
problemas de aprendizagem, com relativa independência de sua renda
família, quanto tendiam a avaliar negativamente ou com maior rigor o
desempenho de crianças percebidas como negras.
Isto é, se pensarmos que o status da criança no âmbito da escola
depende tanto de sua renda familiar quanto de seu desempenho,
podemos supor que o fato de a desigualdade de desempenho escolar
entre brancos e negros na escola estudada ser maior quando se usa a
classificação das professoeras do que quando a autoclassificação é
usada, decorreria tanto de as professoras clarearem crianças de melhor
desempenho quanto de, simultaneamente, avaliarem com maior rigor
crianças que percebem como negras. Esse fenômeno é particularmente
intenso em relação aos meninos, o que indica a presença de uma
associação, no quadro de referências utilizado pelas professoras para
avaliar as crianças, entre um tipo de masculinidade negra e o baixo
desempenho na aprendizagem” (CARVALHO, 2005)
Referências

CARVALHO, Marília Pinto de. Sucesso e fracasso escolar: uma


questão de gênero. Educação e Pesquisa, São Paulo, v. 29, n. 1, pp.
185-193, Jan./Jun. 2003.

______. Quem é negro, quem é branco: desempenho escolar e


classificação racial de alunos. Revista Brasileira de Educação, Rio de
Janeiro, n. 28, p. 77-95, Apr. 2005.

______. Avaliação escolar, gênero e raça. São Paulo: Papirus


Editora, 2009.

DAL' IGNA, M. C. Desempenho escolar de meninos e meninas: há


diferença? Educação em Revista. Belo Horizonte. n. 46, p. 241-267.
Dez. 2007.

FERRARO, A. R. Escolarização no Brasil: articulando as perspectivas


de gênero, raça e classe social. Educação e Pesquisa. São Paulo, v.
36, n. 2, p. 505-526, maio/ago. 2010.
GUIMARÃES, A. S. A. Racismo e antirracismo no Brasil. São Paulo: Editora
34, 2009.

GROSSI, M; HEILBORN, M. L. Entrevista com Joan Wallach Scott (Ponto de


Vista). Estudos Feministas. IFCS/UFRJ, n. 1, ano 6, 1998.

LAQUEUR, T. Inventando o Sexo: corpo e gênero dos gregos a Freud. Rio


de Janeiro: Relume Dumará, 2001.

PEREIRA, F. H; CARVALHO, M. P. Meninos e meninas num projeto de


recuperação paralela. Revista Brasileira de Estudos Pedagógico. Brasília,
v. 90, n. 226, p. 673-694, Set/Dez. 2009.

ROSEMBERG, F; MADSEN, N. Educação formal e gênero no Brasil. In:


BARSTED, L. L.; PITANGUY, J. (org.). O progresso das mulheres no Brasil
(2003-2010). Rio de Janeiro: CEPIA, 2011; Brasília: ONU Mulheres, 2011, p.
390 – 434.

SCOTT, J. W. Gênero: uma categoria de análise histórica. Educação &


Realidade. Porto Alegre, v. 20, n. 2, Jul./Dez. 1995, pp. 71-99.

TOLEDO, C. T. Ser menino e “bom aluno”: masculinidades e desempenho


escolar. 2016. Dissertação (Mestrado em Educação) - Faculdade de
Educação, Universidade de São Paulo, São Paulo, 2016
DESIGUALDADES DE GÊNERO E
RAÇA NA EDUCAÇÃO ESCOLAR
Cinthia Torres Toledo
cinthiatt@gmail.com

Obrigada!

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