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Jueves 14 de Marzo de 2019


23:04 hs.

LAVA JATO

Fundação Lava Jato: fraude, autoritarismo


judiciário e subserviência aos EUA

Rafael Barros

Ainda que tenham recuado temporariamente do plano, devido à enorme repercussão


dessa absurda ação, dois documentos de acordos judiciais firmados entre Petrobras,
MPF e o Departamento de Justiça dos EUA são fundantes para estabelecer o papel deste
fundo privado, a garantia dos interesses estadunidenses, e o fortalecimento ainda maior
da Lava Jato no Brasil a partir de ter seu financiamento próprio, privado.

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Imagem: Theo Marques/Folhapress

A base estabelecida para o fundo privado de financiamento ao combate à corrupção,


encabeçada pela Lava Jato, se dá de forma bem clara, em consonância e atendendo aos
interesses do imperialismo norte americano.

Um dos acordos, assinado em setembro de 2018, nas vésperas do primeiro turno das eleições
presidenciais, entre Petrobras e o Departamento de Justiça dos EUA, define que a Petrobras
terminará de pagar um valor de 2,95 bilhões de dólares (11, 41 bilhões de reais), que seriam
destinados a uma ação coletiva privada, que teria como principais envolvidos, acionistas dos
EUA que investiram na estatal. Com esta decisão a Petrobras se adiantava a decisão da justiça
americana, onde ainda cabia recurso, ou seja, voluntariamente escolheu entregar essa fortuna
aos acionistas em Wall Street. Neste acordo para roubar a Petrobras o MPF atuou fornecendo
informações a justiça americana para condenar a estatal brasileira, ou seja, ajudou a tungarem
receitas do país. Além disso, o documento deixa marcado em tinta que a Petrobras terá de
pagar um total de U$853,2 milhões (equivalente a cerca de R$ 3,3 bi) em multas. Deste
montante bilionário, 80% seriam destinados a autoridades do Brasil, e 20% para autoridades
americanas. Os 20% destinados aos EUA seriam divididos igualmente entre duas seções do
Departamento de Justiça americano (A “Fraud Section”, setor especializado em fraudes, e a
Security and Exchange Comission, a Comissão de Valores Mobiliários americana), totalizando
R$ 660 milhões que seriam destinados aos EUA.

O segundo acordo que trataremos é o assinado no final de Janeiro, entre o Ministério Público
Federal (MPF), encabeçado por Dallagnol, e a Petrobras. Nesse texto se define o destino de
grande parte dos 80% dos valores definidos desde o acordo da Petrobras com o Departamento
de Justiça dos EUA. O acordo basicamente é a consolidação de antiga aspiração do MPF, de
transformar os montantes bilionários arrecadados pelas diversas delações premiadas, em
arrecadação direta de um fundo privado para coordenar “ações e projetos de combate à
corrupção” no Brasil. Segundo o texto, seriam 2,6 bilhões de reais destinados à esse fundo,
dando ao MPF e à Lava Jato, uma autonomia financeira sem precedentes.

Não é de hoje de denunciamos o uso da Lava Jato de dinheiro arrecadado em delações que
deveriam ir para a União e não vão. O próprio pacote “anti-crime” de Sergio Moro, sua primeira
“grande obra” no superministério, tenta tornar lei o uso de recursos arrecadados na bilionária
indústria de delações criada pela Lava Jato, de forma a destiná-los ao seu pretexto de “combate
a corrupção”. Quem determina o que é corrupção, o que é caixa dois, se o Caixa 2 de um
parceiro de ministério como Onyx é perdoável são os “infalíveis” homens da Lava Jato.

No texto de Moro, sobre o confisco de bens produtos de crimes, não se explicita o destino dos
bens confiscados, dando margem ao plano de Moro e do MPF de angariar para si as
arrecadações de delações premiadas, sob o pretexto de usar um dinheiro que deveria ser
destinado à União. Outra parte do pacote que toca nessa questão é sobre “Bens apreendidos
para combater o crime”, deixando explicitado a autorização para utilizar os bens sequestrados e
apreendidos “para atividades de prevenção e repressão a crimes, com prioridade do órgão de
segurança pública que fez a investigação.” Segundo a constituição de 88, o dinheiro recuperado
por investigações de corrupção deveriam ser destinados ao grupo que foi lesado (no caso a
própria Petrobras).

Não é a toa, afinal, que os pilares da transformação do regime de 88 ainda mais à direita no
Brasil, sejam também os mesmos que querem agora marcar na caneta e no papel a legalidade
da grande indústria bilionária de delações da Lava Jato e do MPF a partir deste “fundo privado”,
dando ainda mais autonomia financeira para os paladinos do imperialismo do “combate à
corrupção", sugando enormes quantias que deveriam ser destinadas aos cofres públicos, e
retornar ao que eram originalmente: dinheiro da população.

A batalha de Moro e da “República de Curitiba” para se enriquecer na base de porcentagens


das delações premiadas é antiga. Desde 2016 que se formaram embates dentro do judiciário
com relação à esse tema. E para entender mais profundamente o papel que cumpre o
enriquecimento da República de Curitiba e de seus paladinos, é muito importante retomar e
reafirmar o papel da Lava Jato na política brasileira, desde o golpe institucional em 2016, até
agora, em 2019, dentro do governo Bolsonaro. Afinal, foi da 13ª Vara de Curitiba que se
constituiu uma força fundamental para a transformação do nosso regime, de lá para cá, com o
golpe institucional em 2016, assim como com a prisão de Lula no ano passado, e a
manipulação direta das eleições de 2018, que foi fruto de um fortalecimento do judiciário como
arbitro da política nacional, totalmente submisso e subserviente aos interesses do imperialismo
norte-americano. Basta ver, que desde o início do suposto “combate a corrupção” nas estatais,
a grande cruzada de Moro e seus aliados do MPF foi de forma arbitrária e seletiva, contra os
esquemas de corrupção com o rosto do PT, deixando de lado esquemas dos governos do PSDB
em SP e MG, e da mesma forma, deixando de lado quaisquer tipos de investigações contra
acionistas de empresas das principais potencias imperialistas que investiam na Petrobras. Basta
observar os monopólios estrangeiros beneficiados pelas “investigações” de Moro. As petroleiras
ianques Exxon Mobil, Chevron, a anglo-holandesa Royal Dutch Shell, a francesa Total, e as
chinesas China National Petroleum Corporation (CNPC) e China National Offshore Oil
Corporation (CNOOC), para citar as maiores, estão envolvidas não apenas nas negociações de
entrega do pré-sal, mas na aquisição de porções da Petrobrás. Sérgio Moro não investigou
qualquer uma das multinacionais que controlam a operação de navios-sonda ou as operações
nas plataformas, como a Halliburton, Schlumberg e a Transocean. Dizer mais seria acender
uma lanterna em plena luz do dia: trata-se da mais eminente política pró-imperialista de direita
no país.

Este triângulo é completo com a própria continuidade da Lava Jato, uma das maiores exigências
do imperialismo desde a votação do impeachment na Câmara. A Operação, uma das bases do
golpe institucional, serviu e ainda serve tanto à privatização dos recursos petrolíferos brasileiros,
como ao controle por parte do Judiciário com mil laços com os Estados Unidos como árbitro da
política nacional.

E isso se desenvolveu de 2016 para cá, com o Judiciário cada vez mais sendo árbitro da política
brasileira, como citamos acima com o processo eleitoral de 2018. A chave para entender isso é
que a Lava Jato cumpriu e cumpre ainda um papel central no fortalecimento do braço do
Imperialismo na política brasileira, com um sentido claro de aprovação dos ajustes econômicos,
como a Reforma da Previdência, mas também, de forma bem clara, para a privatização e
entrega de nossos recursos naturais para as mãos do imperialismo. E para seguir cada vez
mais forte, quer agora garantir o seu financiamento “legal” a partir da bilionária indústria das
delações premiadas, marcando na cal esse financiamento com o acordo entre MPF e Petrobras.

Trata-se de um avanço repudiável do autoritarismo judiciário da Lava Jato, arrebatar verbas da


Petrobras em acordos com os Estados Unidos para criação de sua "fundação" liberticida. Seu
recuo temporário, a suspensão após inúmera críticas de juízes, advogados e até ministros do
STF, não pode ser tomado como a revogação do projeto, o desejo do Partido da Lava Jato em
assegurar seu bilionário auto-financiamento permanece. Não se trata agora, como nunca se
tratou, do combate à corrupção: Moro e os procuradores de Curitiba querem instalar um novo
esquema de corrupção dirigido desde a Lava Jato, enriquecendo-se e implantando, no ínterim,
a militarização mais atroz da vida social (com seu "pacote anti-crime"). Rechaçamos a Lava Jato
e sua política pró-imperialista, encastelada no governo Bolsonaro com a figura de Moro como
superministro da Justiça, e exigimos a liberdade imediata de Lula.

Defendemos que todo juiz seja eleito e revogável, e receba o mesmo salário médio de um
trabalhador, abolindo os tribunais superiores, para que todo julgamento seja feito por júri
popular. Nesse cenário, para tirar a Petrobras das mãos autoritárias do MPF e da corrupção dos
capitalistas, também é necessário que a Petrobras seja 100% estatal, em todas as suas
operações, sob administração dos trabalhadores e controlada pela população, sem um centavo
de indenização aos acionistas privados.

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