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Esquerda Diário
LAVA JATO
Rafael Barros
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Um dos acordos, assinado em setembro de 2018, nas vésperas do primeiro turno das eleições
presidenciais, entre Petrobras e o Departamento de Justiça dos EUA, define que a Petrobras
terminará de pagar um valor de 2,95 bilhões de dólares (11, 41 bilhões de reais), que seriam
destinados a uma ação coletiva privada, que teria como principais envolvidos, acionistas dos
EUA que investiram na estatal. Com esta decisão a Petrobras se adiantava a decisão da justiça
americana, onde ainda cabia recurso, ou seja, voluntariamente escolheu entregar essa fortuna
aos acionistas em Wall Street. Neste acordo para roubar a Petrobras o MPF atuou fornecendo
informações a justiça americana para condenar a estatal brasileira, ou seja, ajudou a tungarem
receitas do país. Além disso, o documento deixa marcado em tinta que a Petrobras terá de
pagar um total de U$853,2 milhões (equivalente a cerca de R$ 3,3 bi) em multas. Deste
montante bilionário, 80% seriam destinados a autoridades do Brasil, e 20% para autoridades
americanas. Os 20% destinados aos EUA seriam divididos igualmente entre duas seções do
Departamento de Justiça americano (A “Fraud Section”, setor especializado em fraudes, e a
Security and Exchange Comission, a Comissão de Valores Mobiliários americana), totalizando
R$ 660 milhões que seriam destinados aos EUA.
O segundo acordo que trataremos é o assinado no final de Janeiro, entre o Ministério Público
Federal (MPF), encabeçado por Dallagnol, e a Petrobras. Nesse texto se define o destino de
grande parte dos 80% dos valores definidos desde o acordo da Petrobras com o Departamento
de Justiça dos EUA. O acordo basicamente é a consolidação de antiga aspiração do MPF, de
transformar os montantes bilionários arrecadados pelas diversas delações premiadas, em
arrecadação direta de um fundo privado para coordenar “ações e projetos de combate à
corrupção” no Brasil. Segundo o texto, seriam 2,6 bilhões de reais destinados à esse fundo,
dando ao MPF e à Lava Jato, uma autonomia financeira sem precedentes.
Não é de hoje de denunciamos o uso da Lava Jato de dinheiro arrecadado em delações que
deveriam ir para a União e não vão. O próprio pacote “anti-crime” de Sergio Moro, sua primeira
“grande obra” no superministério, tenta tornar lei o uso de recursos arrecadados na bilionária
indústria de delações criada pela Lava Jato, de forma a destiná-los ao seu pretexto de “combate
a corrupção”. Quem determina o que é corrupção, o que é caixa dois, se o Caixa 2 de um
parceiro de ministério como Onyx é perdoável são os “infalíveis” homens da Lava Jato.
No texto de Moro, sobre o confisco de bens produtos de crimes, não se explicita o destino dos
bens confiscados, dando margem ao plano de Moro e do MPF de angariar para si as
arrecadações de delações premiadas, sob o pretexto de usar um dinheiro que deveria ser
destinado à União. Outra parte do pacote que toca nessa questão é sobre “Bens apreendidos
para combater o crime”, deixando explicitado a autorização para utilizar os bens sequestrados e
apreendidos “para atividades de prevenção e repressão a crimes, com prioridade do órgão de
segurança pública que fez a investigação.” Segundo a constituição de 88, o dinheiro recuperado
por investigações de corrupção deveriam ser destinados ao grupo que foi lesado (no caso a
própria Petrobras).
Não é a toa, afinal, que os pilares da transformação do regime de 88 ainda mais à direita no
Brasil, sejam também os mesmos que querem agora marcar na caneta e no papel a legalidade
da grande indústria bilionária de delações da Lava Jato e do MPF a partir deste “fundo privado”,
dando ainda mais autonomia financeira para os paladinos do imperialismo do “combate à
corrupção", sugando enormes quantias que deveriam ser destinadas aos cofres públicos, e
retornar ao que eram originalmente: dinheiro da população.
Este triângulo é completo com a própria continuidade da Lava Jato, uma das maiores exigências
do imperialismo desde a votação do impeachment na Câmara. A Operação, uma das bases do
golpe institucional, serviu e ainda serve tanto à privatização dos recursos petrolíferos brasileiros,
como ao controle por parte do Judiciário com mil laços com os Estados Unidos como árbitro da
política nacional.
E isso se desenvolveu de 2016 para cá, com o Judiciário cada vez mais sendo árbitro da política
brasileira, como citamos acima com o processo eleitoral de 2018. A chave para entender isso é
que a Lava Jato cumpriu e cumpre ainda um papel central no fortalecimento do braço do
Imperialismo na política brasileira, com um sentido claro de aprovação dos ajustes econômicos,
como a Reforma da Previdência, mas também, de forma bem clara, para a privatização e
entrega de nossos recursos naturais para as mãos do imperialismo. E para seguir cada vez
mais forte, quer agora garantir o seu financiamento “legal” a partir da bilionária indústria das
delações premiadas, marcando na cal esse financiamento com o acordo entre MPF e Petrobras.
Defendemos que todo juiz seja eleito e revogável, e receba o mesmo salário médio de um
trabalhador, abolindo os tribunais superiores, para que todo julgamento seja feito por júri
popular. Nesse cenário, para tirar a Petrobras das mãos autoritárias do MPF e da corrupção dos
capitalistas, também é necessário que a Petrobras seja 100% estatal, em todas as suas
operações, sob administração dos trabalhadores e controlada pela população, sem um centavo
de indenização aos acionistas privados.
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