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Eventos de letramento no ensino fundamental: a escrita 
narrativa 
 
 
 
 
Resumo   
A produção textual está presente na vida dos alunos desde  Gabriela Kloth 
os anos iniciais do Ensino Fundamental até o Ensino Médio.  gabikloth@hotmail.com 
O  presente  artigo  pretende  analisar  as  narrativas   
produzidas  por  alunos  de  uma  escola  pertencente  à  rede   
estadual de ensino de Santa Catarina. Observa‐se as formas   
de retomada, as relações de causa e efeito, e o clímax das   
produções  e  traça‐se  um  comparativo  entre  os  textos   
escritos em dois momentos distintos (2011 e 2012). O corpus   
de  análise  provém  das  atividades  do  subprojeto  de  Letras 
do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência 
(PIBID).  As  narrativas  foram  coletadas  a  partir  de  duas 
propostas de produção de textocom o intuito de identificar 
os  elementos  e  recursos  presentes  na  escrita  dos  alunos. 
Subsidiados nos Estudos do Letramento e nas Concepções 
do  Círculo  de  Bakhtin,  nota‐se  que  a  interferência  das 
atividades  propostas  pelos  bolsistas  aliada  à  inserção 
contínua  dos  alunos  em  práticas  letradas,  contribuiu  para 
que  a  segunda  produção  evoluísse  nos  quesitos 
enfatizados.  Os  estudantes  passaram  a  utilizar  diferentes 
formas  de  retomada,  problematizar  relações  de  causa  e 
efeito e a construir um clímax para a história. As práticas e 
eventos  de  letramento  auxiliaram,  assim,  os  alunos  a 
tornarem‐se  proficientes  em  diversas  e  diferentes 
situações. 
 
Palavras‐chave: Letramentos; Narrativas; Ensino 
Fundamental; Língua Portuguesa. 
 
 

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X Anped Sul
Eventos de letramento no ensino fundamental: a escrita narrativa 
 Gabriela Kloth 

Introdução 
As  práticas  de  leitura  e  escrita  estão  presentes  em  todas  as  esferas  da 
comunicação humana, sejam elas familiar, escolar ou do trabalho. A cultura grafocêntrica 
e as atividades de leitura permeiam, todos os dias, as distintas situações vividas na escola 
e  em  outras  instâncias  pelos  diferentes  atores  sociais.  Nesse  contexto  se  inserem  as 
discussões aqui propostas. 

O presente artigo provém de uma pesquisa em desenvolvimento em um programa 
de pós‐graduação stricto sensu em educação e objetiva analisar as narrativas produzidas 
por  alunos  nas  práticas  e  eventos  de  letramento  que  constituem  as  aulas  de  Língua 
Portuguesa,  uma  vez  que  um  dos  objetivos  da  escola  é  “possibilitar  que  seus  alunos 
possam participar das várias práticas sociais que se utilizam da leitura e da escrita na vida 
da  cidade”  (ROJO,  2008,  p.  585).  Pretendemos,  ainda,  assinalar  de  que  maneira  essas 
aulas, como eventos de letramento, interferiram na produção textual dos estudantes. 

A relevância dessa pesquisa se constata a partir do levantamento feito acerca da 
temática empreendida. Ao voltarmos nosso olhar para o GT 10 (Alfabetização, Leitura e 
Escrita)  da  ANPED  SUL  2012  e  para  o  GT  4  (Educação  Básica)  de  2010,  entre  outras 
produções  científicas,  percebemos  que  as  discussões  propostas  se  voltam  para  os 
letramentos na prática da alfabetização, dirigem‐se, em sua maioria, aos primeiros anos 
do Ensino Fundamental. Compreendemos que há trabalhos que contemplam a discussão 
acerca  dos  letramentos  na  esfera  escolar,  mas  minoria  se  direciona  para  essas  práticas 
nos  anos  finais  do  Ensino  Fundamental,  principalmente,  no  que  concerne  à  escrita  de 
narrativas. 

O subprojeto de Letras do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência 
(PIBID),  no  qual  os  dados  foram  gerados,  teve  por  objetivo  identificar  e  analisar  as 
dificuldades  dos  alunos  no  que  tange  à  leitura  e  à  escrita,  e  abrangeu  o  período 
compreendido entre junho de 2011 e dezembro de 2013. Os dados analisados são frutos 
de duas propostas de produção de texto: a primeira, desenvolvida em outubro de 2011, 
compreendia  a  sequência  de  imagens  de  um  menino  plantando  duas  árvores  e 
descansando  entre  elas;  a  segunda,  em  dezembro  de  2012,  apresentava  gravuras 
referentes  a  um  cachorro  atropelado  e  encaminhado  ao  hospital.  Ambas  as  propostas 

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continham figuras sem falas, que focavam as relações de causa‐consequência, e serviram 
de subsídio para que os alunos desenvolvessem suas narrativas.  

A  pesquisa  tem  caráter  longitudinal,  sendo  os  alunos  acompanhados  e  as 


intervenções realizadas ao longo de dois anos. É, ainda, de cunho qualitativo e insere‐se 
na área da educação. De acordo com Bogdan e Biklen (1994, p. 16, grifos do original) 

 
A  investigação  qualitativa  em  educação  assume  muitas  formas  e  é 
conduzida  em  múltiplos  contextos.  [...]  Os  dados  recolhidos  são 
designados  por  qualitativos,  o  que  significa  ricos  em  pormenores 
descritivos  relativamente  a  pessoas,  locais  e  conversas,  [...]  Privilegiam 
essencialmente,  a  compreensão  dos  comportamentos  a  partir  da 
perspectiva dos sujeitos da investigação. 
 
Nossas  análises  ancoram‐se  nos  Estudos  do  Letramento  e  nas  compreensões  do 
Círculo  de  Bakhtin,  buscando  traçar  um  comparativo  entre  os  resultados  das  duas 
propostas  de  produção  textual,  apontando  possíveis  avanços  oriundos  dos  eventos  de 
letramento que constituíram as aulas de Língua Portuguesa ministradas pelos bolsistas do 
projeto.  Essas  atividades  visaram,  diretamente,  à  escrita  de  narrativas,  entretanto,  as 
demais  práticas  e  eventos  de  letramento  em  que  os  alunos  se  inseriram  também 
agregaram conhecimentos para a realização dessas produções. 

Após  a  contextualização  da  pesquisa  proposta,  apresentamos  brevemente  as 


teorias  que  nos  subsidiam  e  tecemos  nossas  análises  do  corpus  coletado,  traçando  um 
comparativo entre os dois momentos de produção textual e os seus resultados. Por fim, 
expomos nossas considerações acerca do processo. 

Apresentando a teoria: um pouco acerca dos letramentos  
O  cerne  desse  artigo  diz  respeito  às  práticas  de  letramento  nos  anos  finais  do 
Ensino Fundamental, especialmente nas aulas de Língua Portuguesa. O termo letramento 
originou‐se  da  “necessidade  de  reconhecer  e  nomear  práticas  sociais  de  leitura  e  de 
escrita  mais  avançadas  e  complexas  que  as  práticas  do  ler  e  do  escrever  resultantes  da 
aprendizagem  do  sistema  da  escrita”  (SOARES,  2004,  p.  6).  O  letramento  ou  os 
letramentos,  no  plural,  estão,  assim,  ligados  às  situações  e  as  concepções  de  leitura  e 

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escrita  próprias  de  cada  sociedade,  particulares  a  cada  grupo  social  pertencente  a 
diferentes épocas e momentos históricos. 

Ao  utilizarmos  o  termo  práticas  de  letramento,  nos  referimos  ao  modo  como  os 
significados  de  letramento  são  construídos  nos  contextos  sociais  e  culturais  em  que  a 
leitura e a escrita desempenham um papel (STREET, 2000), ou seja, prática de letramento 
é  a  forma  como  as  pessoas  lidam  com  os  diferentes  letramentos.  As  práticas  de 
letramento  não  são  observáveis.  Já  os  eventos  de  letramento  são  ocasiões  nas  quais 
podemos  observar  o  desenvolvimento  da  leitura  e/ou  da  escrita,  percebendo  as  suas 
características,  ou  seja,  são  ocasiões  onde  podemos  ver  a  leitura  e/ou  a  escrita 
acontecendo. A perspectiva ideológica dos estudos do letramento considera os eventos 
de letramento observáveis (STREET, 2000). 

As  práticas  de  letramento  acontecem  de  acordo  com  a  esfera  (BAKHTIN,  2003) 
onde  se  inserem,  resultando  no  que  podemos  chamar,  por  exemplo,  de  letramento 
acadêmico, religioso ou familiar. Essas práticas não se excluem, mas completam‐se, uma 
vez  que  “é  por  meio  das  práticas  de  letramento  que  os  sujeitos  aprendem,  constroem 
novos conhecimentos” (DIONÍSIO, 2007, p. 214). O sujeito torna‐se, então, proficiente em 
diferentes práticas letradas, uma vez que se constitui de relações sociais acontecidas nas 
diversas esferas da interação humana. 

Os  letramentos  diferenciam‐se  da  alfabetização  uma  vez  que  são  concebidos 
“como  práticas  sociais,  que  envolvem  o  texto,  que  envolvem  a  leitura  e  a  escrita.  E 
alfabetização – práticas de escolarização, práticas em que se introduzem as crianças ou 
os adultos num determinado código” (DIONÍSIO, 2007, p. 211). Assim, depreendemos que 
a  alfabetização  relaciona‐se  à  natureza  psicológica  e  individual,  a  uma  capacidade 
adquirida  (ROJO,  2009).  Já  os  letramentos  estão  sujeitos  às  interações  sociais,  situadas 
em  determinado  tempo  e  espaço,  reporta‐se  à  prática  social  (STREET,  2003).  Os 
letramentos,  assim,  não  se  restringem  à  alfabetização:  embora  a  maioria  das  práticas 
requeira  o  domínio  do  código  escrito,  outras  práticas  letradas  não  dependem  da 
alfabetização. 

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A  análise  ora  proposta  insere‐se  na  esfera  escolar,  ambiente  composto  por 
múltiplas práticas de letramento, presentes nos mais variados gêneros (BAKHTIN, 2003) e 
linguagens,  mas  que,  muitas  vezes,  não  focalizam  essas  práticas,  como  se  o  ambiente 
escolar não fosse esfera de relações sociais. Embora permeada por práticas consideradas 
tradicionais,  “escola  é  letramento  e  dele  decorre,  quer  suas  práticas  sejam  orais  ou 
escritas;  quer  haja  ou  não  texto  escrito  sendo  utilizado  na  sala  de  aula.  Logo,  só  é 
admitida  uma  estrutura  adjetiva:  ‘letramento  escolar’”  (ROJO,  2000,  p.  6,  grifos  da 
autora).  A  instituição  escolar  é,  portanto,  uma  agência  de  letramento  e  está,  a  todo  o 
momento,  por  diferentes  práticas,  inserindo  os  estudantes  nesse  contexto, 
resignificando seus saberes e contribuindo para que se tornem sujeitos letrados.  Porém, 
as  práticas  de  letramento  escolar  não  podem  ser  suficientes,  é  preciso  promover  a 
integração  desses  letramentos,  os  quais  se  tem  maior  afinidade,  com  aqueles 
letramentos que não estão tão presentes no dia‐a‐dia. Uma das formas de integrar esses 
letramentos  é  através  do  trabalho  com  gêneros  discursivos  (BAKHTIN,  2003),  desde 
aqueles  comuns  aos  alunos  até  os  que  não  fazem  parte  da  sua  interação  diária,  o  que 
possibilita ao estudante transitar entre as diferentes esferas da interação humana. 

Voltando‐nos  para  Scliar‐Cabral  (2003),  encontramos  um  dos  motivos  que 


possibilita  a  compreensão  de  novas  narrativas:  as  histórias  seguem  uma  estrutura 
canônica  condizente  com  o  modo  como  conhecemos  e  percebemos  o  desenrolar  dos 
fatos  no  espaço  e  no  tempo.  A  essa  estrutura  canônica  chamamos  de  esquemas 
narrativos ou gramáticas das estórias. Para a análise proposta, utilizaremos o esquema de 
Stein  &  Glenn  (1979)  reformulado  por  Scliar‐Cabral  e  Grimm‐Cabral  (1991),  configurado 
como uma organização ativa das experiências e reações passadas e formulado em regras 
nas quais as histórias podem ser encaixadas. Contudo, a internalização desses esquemas 
depende de as crianças estarem expostas ou não a experiências narrativas. 

Sendo  as  aulas  de  Língua  Portuguesa  consideradas  eventos  de  letramento  e  os 
alunos  inseridos  continuamente  em  práticas  letradas,  analisamos,  na  sequência,  como 
esses  eventos  e  práticas  letradas,  que  constituíram  as  intervenções  dos  bolsistas  do 
PIBID,  influenciaram  na  produção  textual  dos  alunos,  contribuindo  na  escrita  de 
narrativas mais claras e articuladas. 

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Articulando teoria e prática: os letramentos no ensino fundamental 
Os  textos  que  compõem  o  corpus  de  análise  provêm  de  duas  propostas  de 
produção de texto, realizadas, respectivamente, em outubro de 2011 e dezembro de 2012. 
Na  primeira  ocasião,  alguns  alunos  estiveram  ausentes  por  diferentes  motivos,  dessa 
forma,  nos  limitamos  a  analisar  somente  os  textos  daqueles  presentes  nos  dois 
momentos.  Assim,  do  total  de  24  estudantes,  voltamos  nosso  olhar  sobre  14  deles, 
analisando  e  tecendo  nossas  análises  acerca  das  duas  produções  textuais  que 
escreveram.  Ressaltamos,  ainda,  que  análises  limitam‐se  às  práticas  dos  bolsistas  nas 
aulas  de  Língua  Portuguesa,  pois  foram  atividades  com  as  quais  todos  tiveram contato. 
Não  excluímos,  porém,  a  influência  e  importância  de  outras  práticas  e  eventos  de 
letramento na produção textual dos alunos. 

De  posse  das  propostas  de  produção  de  texto,  a  partir  das  ilustrações  que  as 
compunham, os alunos tiveram o período de uma aula – 45 minutos – para desenvolver as 
suas narrativas. Após essas coletas de dados, os textos foram digitados, de acordo com 
as  particularidades  da  escrita  de  cada  um,  e  tabulados  para  análise.  Entre  as  categorias 
observadas  estavam,  por  exemplo:  título,  fórmula  inicial,  descrição  do  personagem, 
introdução  de  cenário,  entre  outras.  Nesse  trabalho,  nos  deteremos  às  categorias  que 
abrangem os anafóricos (retomadas), relações de causa e efeito e clímax.  

Um olhar para os anafóricos 
A  relação  pela  qual  os  elementos  do  texto  vão,  de  alguma  forma,  sendo 
retomados  chama‐se  reiteração  (ANTUNES,  2005).  Esse  movimento  para  trás  e  para 
frente  é  o  que  assegura  ao  texto  a  sua  continuidade,  o  seu  fluxo.  Entre  as  formas  de 
reiteração consta a substituição gramatical que se caracteriza, na maioria das vezes, pelo 
uso de pronomes como forma de retomada; a substituição lexical, ou seja, o uso de uma 
palavra no lugar de outra que lhe seja equivalente; e a retomada por elipse, a omissão de 
um termo ou expressão já apresentados anteriormente (ANTUNES, 2005). Nas primeiras 
produções  houve  a  predominância  da  substituição  gramatical.  Nos  textos  analisados,  o 
pronome pessoal ele/ela estava presente, quase sempre, de maneira absoluta, isso é, era 
a  única  forma  de  retomada.  Como  exemplo,  temos  a  produção  de  uma  estudante  que 

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lança mão dos pronomes para retomar os personagens (grifos nossos): “No dia seguinte 
ele plantou mais uma árvore, todos os dias ele ia regar as árvores até elas crescerem quando 
elas  cresceram  ele  ficou  feliz  porque  ele  tinha  ajudado  a  plantar  duas  árvores”.  O 
personagem  apresentado  como  um  menino  é  retomado,  ao  longo  de  todo  texto  como 
ele; as árvores, mencionadas no trecho, transformam‐se em elas no desenvolvimento da 
narrativa.  

Ao  notarmos  essa  regularidade  em  quase  todas  as  narrativas,  desenvolvemos 
atividades  voltadas  para  esse  fim.  Pautados  no  conceito  de  sequência  didática 
(SCHNEUWLY; DOLZ, 2004), trabalhamos com os alunos a estrutura dos contos de fada, 
sua  sequência  e  organização.  Abordamos  também  a  forma  como  os  personagens  eram 
retomados  nesses  textos,  comparando  à  maneira  como  aos  estudantes  faziam  essa 
retomada.  

Após as intervenções realizadas e a escrita da segunda proposta de produção de 
texto,  retomamos  a  mesma  estudante  e  a  narrativa  escrita  por  ela  (grifos  nossos):  “A 
menina  não  gostava  de  animais  muito  menos  de  cachorro,  então  ela  pediu  para  seu 
namorado  se  livrar  do  cachorro.  Mas  o  menino  tinha  se  apegado  muito  com  o  seu  novo 
cachorro,  então  não  queria  se  livrar  do  Bilu”.  Nesta  produção,  a  aluna  lançou  mão  não 
apenas  de  pronomes  (ela),  mas  também  de  substantivos  (menina,  namorado,  cachorro, 
Bilu)  para  retomar  os  personagens  da  sua  história.  Depreendemos,  assim,  que  as 
atividades  desenvolvidas  foram  significativas  para  os  estudantes,  oportunizando 
repensarem a sua escrita e internalizarem outros recursos que poderiam ser aplicados ao 
texto.  Traçando  um  comparativo  entre  as  duas  produções  de  texto,  demonstramos  a 
seguir os avanços obtidos com relação ao uso dos anafóricos (grifos nossos): 

 
Quadro 1 – A retomada dos personagens 

  Outubro 2011  Dezembro 2012 
  E  ele  ficou  muito  alegre.  E  ele  Quando  Lary  avista  seu  cachorro 
  colocou  uma  rede,  amarrada  nas  caido  ao  chão  ele  se  dessespera  e 
  duas  árvores,  e  todos  os  dias  ele  começa  a  gritar  e  correr  pedindo 
Aluno 1  relachava  Tranquilo  no  jardim  socorro, um homem que percebe o 
observando a natureza.  desespero  do  garoto  chama  a 
Ambulância. 

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  Aproveitou para plantar 2 arvores  Certo  dia  um  menino  chamado 


  para  ele  colocar  uma  rede  nelas,  Cory  estava  dando  uma  volta  com 
  ele  regou  todo  dia  e  até  que  a  seu  cachorro  Ludi,  por que  ele  não 
Aluno 2  arvore cresceu e ele botou a rede  saia  de  casa  por  uns  4  meses  e  ai 
e descansou.  Cory desidiu dar uma voltinha pelo 
bairro. 
  Ele  vai  plantando  arvores  com  Seu dono dezesperado sem saber o 
  muito  carinho,  uma  por  uma  ele  que fazer chamou uma ambulancia 
  vai  plantando,  depois  ele  vai  por  que  na  cidade  que  ele  morava 
  regando  suas  arvores,  depois  de  não  existia  veterinário,  quando  a 
Aluno 3  varios dias a arvore cresceu.  ambulancia  chegou  não  viu 
nenhuma pessoa atropelada, eles ja 
estavam  indo  embora  e  o  homem 
chamou eles devolta. 
Fonte: Arquivo das autoras. 

Observando o quadro 1, percebemos que, embora ainda utilizem o pronome como 
anafórico,  essa  não  é  mais  a  única  forma  de  retomar  o  personagem.  A  substituição 
gramatical,  predominante  nos  primeiros  textos,  é  acompanhada,  na  segunda  produção, 
pela  substituição  lexical.  No  excerto  que  corresponde  à  produção  do  Aluno  1,  o 
personagem  é  apresentado  como  Lary  (substantivo  próprio),  retomado  a  primeira  vez 
como  ele  (pronome  pessoal)  e,  na  sequência,  por  garoto  (substantivo  comum). 
Reportando‐nos  ao  Aluno  2,  a  primeira  opção  foi  o  substantivo  comum  (um  menino), 
seguido pelo substantivo próprio (Cory), pelo pronome pessoal (ele) e, novamente, pelo 
substantivo  próprio.  Já  o  Aluno  3  optou  por  seu  dono  (substantivo  comum)  e  pelo 
pronome  pessoal  (ele).  Essas  escolhas  garantem  a  continuidade  do  texto,  a  fluidez  da 
narrativa, uma vez que a escrita não aparece marcada por repetições, tornando a leitura 
simples  e  prazerosa.  Contudo,  a  substituição  de  palavras  não  é  ocasional.  Essa  atitude 
supõe  um  ato  de  interpretação  e  análise,  avaliando  a  adequação  do  termo  substituidor 
àquilo que se pretende conseguir. 

Os alunos, assim, adquiriram a capacidade de se referir a um mesmo personagem 
de diversas maneiras, abandonando o uso de uma só forma de reiteração. A substituição 
gramatical,  predominante  nos  textos  de  2011,  divide  espaço  com  a  substituição  lexical, 
garantindo fluidez e continuidade na escrita dos alunos. 

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Um olhar para as relações de causa e efeito 
Os fatos ocorridos na história possuem uma motivação (causa) e a sua ocorrência 
desencadeia  novos  fatos  (consequência).  À  ligação  entre  a  motivação  e  o  fato 
desencadeado chamamos relações de causa e efeito ou causalidade (GANCHO, 2002). Ao 
olharmos para a proposta de produção de texto utilizada em 2011, entendemos que não 
havia ali muitos complicadores, que exigissem dos alunos elaborar um grande problema. 
Dessa forma, a maioria dos textos apresentou como relação de causa e efeito o menino 
cuidar  das  árvores  para,  depois,  ter  onde  descansar,  como  no  exemplo:  “quando  elas 
cresceram ele ficou feliz porque ele tinha ajudado a plantar duas árvores então ele colocou 
uma  rede  e  deitou‐se  porque  ele  já  estava  cansado  de  tanto  regar  as  árvores  só  mesmo 
cansado  ele  estava  ajudando  a  cuidar  do  nosso  Brasil”.  As  relações  apresentadas 
mantiveram‐se,  em  sua  maioria,  bastante  ligadas  às  imagens  da  proposta.  Não  houve 
inserção de outros complicadores, a não ser aqueles já explícitos na história. 

As relações de causa e efeito também foram abordadas no trabalho com o gênero 
discursivo conto. Ao explorarmos as narrativas com os alunos, enfatizamos a forma como 
o  problema  era  ali  apresentado  e  as  tentativas  feitas  pelos  personagens  até  que  uma 
solução  fosse  alcançada,  mostramos  que  elementos  desconhecidos  ou  não  explícitos 
poderiam  ser  usados  na  escrita.  Porém,  ao  retomarmos  as  produções  de  2012, 
compreendemos que a ênfase dada a essas relações não foi suficiente. 

Observando  os  textos  provenientes  da  segunda  proposta  de  produção  de  texto, 
percebemos  que  os  alunos  eram  ainda  bastante  dependentes  das  figuras  ali  colocadas, 
mesmo que houvesse um elemento diferente na construção da relação de causa efeito, 
como no exemplo: “A menina não gostava de animais muito menos de cachorro, então ela 
pediu para seu namorado se livrar do cachorro; Victor foi passear com seu cachorrinho Bilu, 
quando foram atravessar a rua na faixa de pedestre. Bilu saiu correndo e veio um carro e o 
atropelou  o  pobre  do  cachorrinho”.  A  estudante  lança  mão  de  um  elemento  além  das 
imagens: o sentimento da personagem. O fato da personagem não gostar de animais fez 
com o que Victor passeasse com o cachorro, criando aí a situação para o atropelamento. 
Outra inclusão de elementos é percebida no excerto: “um de seus amigos corta a corrente 
de Laik que fugio e atravesou a rua e foi atropelada, por um carro”. Nas imagens contidas 

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na proposta havia somente o personagem masculino e o cachorro, não havia o desenho 
de outras pessoas, nem de alguém cortando a coleira do cachorro. Essa é, portanto, outra 
adição do aluno para criar as relações de causa e efeito. 

As primeiras produções restringiam‐se, basicamente, à descrição das imagens, sem 
a  inserção  de  complicadores  ou  grandes  conflitos.  De  acordo  com  Gancho  (2002,  p.  8), 
“para  se  entender  a  organização  dos  fatos  no  enredo  não  basta  perceber  que  toda 
história  tem  começo,  meio  e  fim;  é  preciso  compreender  o  elemento  estruturador:  o 
conflito”.  Assim,  constatamos  que  nas  narrativas  de  2011,  os  alunos  encadeavam  a 
história como uma sequência de acontecimentos, somente descritos, sem ligação lógica. 
Não se ativeram a necessidade da utilização do elemento estruturador. Essa ausência de 
conflito, muitas vezes, faz com que a leitura se torne linear, por vezes, monótona. Isso, 
segundo Koch (2004, p. 41), ocorre devido “ao grau de previsibilidade ou expectabilidade 
da  informação,  um  texto  será  tanto  menos  informativo  quanto  mais  previsível 
(redundante) for a informação que traz”. 

Nos textos escritos em 2012, os alunos permitiram‐se adicionar novos elementos, 
causadores de problemas e conflitos, possibilitando ao leitor criar expectativas frente os 
fatos da história. Conforme Scliar‐Cabral (1991, p. 84), “há sempre a expectativa de que, 
após  o  conflito  ou  problema  qualquer,  que  seria  o  tema  da  estória,  ocorra  a  resolução 
que  encaminha  para  o  fim  da  narrativa”.  Depreendemos,  pois,  que  ancorados  pelos 
estudos  acerca  das  narrativas,  pela  leitura  e  audição  de  histórias,  atrelados  ao  trabalho 
realizado em sala de aula, os alunos compreenderam que suas narrativas precisavam mais 
que  começo,  meio  e  fim.  Para  que  despertassem  a  curiosidade  do  leitor  ou  causassem 
surpresa,  elementos  problemáticos  deveriam  ser  inseridos,  explanados  e  solucionados. 
Embora  tenham  ficado  bastante  ligados  à  figura,  os  estudantes,  na  segunda  produção, 
adicionaram  novos  elementos,  criaram  um  conflito,  produzindo,  assim,  uma  narrativa 
melhor articulada. 

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Um olhar para o clímax 
O clímax é o ponto culminante da história, o momento de maior tensão, quando o 
conflito  chega  ao  seu  ponto  máximo  (GANCHO,  2002).  Está  intimamente  ligado  às 
relações de causa e efeito, e aos conflitos acontecidos na história. Voltando nosso olhar 
para  as  narrativas  de  2011,  percebemos  que  as  produções  são  lineares,  não  apresentam 
muitos conflitos, tornam‐se histórias fluídas, sem picos de emoção ou grandes guinadas. 
Retomamos  aqui  o  que  foi  exposto  acima:  a  proposta  de  produção  de  texto,  nesse 
momento,  não  apresentava  grandes  conflitos,  era  linear,  mostrava  o  menino  plantando 
as  árvores  e  desfrutando  da  sombra  ofertada  por  elas.  A  proposta  apresentada 
contribuiu, então, para a falta de clímax nas histórias escritas. 

As  intervenções,  os  eventos  de  letramento  realizados,  também  abrangeram  o 


clímax  dos  contos  de  fada.  Após  a  leitura  dos  textos,  conversávamos  com  os  alunos 
acerca  do  ponto  alto  da  história,  como  foi  descrito,  quais  os  elementos  estavam 
presentes  e  como  foi  finalizado.  Conforme  a  sequência  didática  era  desenvolvida,  os 
alunos  percebiam  que  todas  as  histórias  lidas  ou  comentadas  possuíam  clímax,  todas 
apresentavam  um  conflito  que,  primeiro,  gerava  grande  tensão  para,  depois,  ser 
resolvido. 

Diante do exposto e compreendido nas aulas, a maioria das produções escritas em 
2012 apresentavam clímax, todos ligados ao momento em que o cachorro era atropelado 
e  o  seu  dono  não  sabia  ao  certo  o  que  fazer,  conforme  o  exemplo:  “veio  um  carro  e  o 
atropelou o pobre do cachorrinho. Victor entrou em desepero começou a berrar feito louco, 
todos pararam para ver o estado do Bilu, então a Laura que era a namorada de Victor, ligou 
para o hospital e logo veio a ambulância e levou o Bilu”. Traçando um comparativo entre os 
dois momentos de produção, observamos como a linearidade das histórias cedeu lugar a 
momentos de tensão: 

Quadro 2 – O clímax das histórias 
  Outubro 2011  Dezembro 2012 
  [...]  ficou  esperando  que  elas  [...]  a  corrente  se  escapa  e  Rabito 
  crescesem...  atravesa  no  sinal  vermelho  e  só  se 
  Algum  tempo  depois  essas  ouve um barulho. 
  arvores  creceram.  E  ele  ficou  Quando  Lary  avista  seu  cachorro 
Aluno 1  muito  alegre.  E  ele  colocou  uma  caido  ao  chão  ele  se  dessespera  e 

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rede, amarrada nas duas árvores,  começa  a  gritar  e  correr  pedindo 


e  todos  os  dias  ele  relachava  socorro, um homem que percebe o 
Tranquilo no jardim observando a  desespero  do  garoto  chama  a 
natureza.  Ambulância. 
  Um  certo  dia  um  menino  viu  que  Ludi  sai  correndo,  e  um  carro  em 
  estava sol no tempo, e aproveitou  alta felocidade atropela ele. 
  para  plantar  2  arvores  para  ele  Cory  desesperado  chama  um  taxi, 
Aluno 2  colocar uma rede nelas, ele regou  no  caminho  para  o  hospital  o  taxi 
todo  dia  e  até  que  a  arvore  quebra,  e  Cory  liga  para  a 
cresceu  e  ele  botou  a  rede  e  ambulancia. 
descansou.  
  Eles  ganharam  uma  muda  de  Foi  atravessar  a  faixa  de  pedestre 
  árvore  e  ele  foi  para  casa,  e  a  sem  olhar  para  os  dois  lados  Bilu 
  plantou em um bosque e plantou  saiu, em uma desparrada, que nem 
  duas  de  uma  vez  só  e  os  dias  deu  tempo  do  carro  parar  e  bateu 
Aluno 3  passar  ele  regava as  suas  árvores  no pobre cachorro de Bruno. Bruno 
para crenser para ele brincar com  começou a pedir socorro!  
sua rede 
Fonte: Arquivo das autoras. 

Voltando nosso olhar para o quadro 2, percebemos que na segunda produção as 
histórias possuíam um ponto de tensão, diferente das narrativas de 2011. O clímax ocorre 
a partir do desenvolvimento de um conflito e culmina no seu desfecho. Assim, através da 
inserção  e  do  desenvolvimento  das  relações  de  causa  e  efeito,  também  ausentes  na 
produção  de  2011,  os  estudantes  apresentaram  um  ponto  máximo  na  história.  Sendo  o 
momento  mais  perigoso  do  personagem,  a  crise  mais  iminente,  o  clímax,  na  produção 
dos  alunos,  ligou‐se  basicamente  a  ação  do  dono  ao  ver  o  cachorro  atropelado.  Ao 
olharmos  para  o  excerto  do  Aluno  1  temos  o  clímax:  “Quando  Lary  avista  seu  cachorro 
caido ao chão ele se dessespera e começa a gritar e correr pedindo socorro”. Na sequência, 
acontece o desfecho, a resolução do problema: “um homem que percebe o desespero do 
garoto chama a Ambulância”. Voltando‐nos para a produção do Aluno 2, temos o clímax 
no momento em que “Ludi sai correndo, e um carro em alta felocidade atropela ele”. Para 
solucionar  o  problema,  o  personagem  Cory  chama  um  táxi  e  leva  seu  cachorro  ao 
hospital. Por fim, nos escritos do Aluno 3, Bilu, o cachorro, “saiu, em uma desparrada, que 
nem deu tempo do carro parar e bateu no pobre cachorro de Bruno”. O menino, ao ver o 
cachorro atropelado, pede socorro, desencadeando a solução do conflito. Retomando as 
palavras de Koch (2004, p. 41), “se a informação for introduzida, pelo menos em parte, de 

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forma  menos  esperada,  menos  previsível,  haverá  um  grau  médio  de  informatividade”. 
Depreendemos, assim, que embora se relacionem basicamente a ação do dono para com 
o  cachorro,  os  alunos  fugiram  da  previsibilidade  da  descrição,  gerando  conflitos  que 
acabaram, na maioria das vezes, surpreendendo o leitor e enriquecendo as narrativas. 

Conclusão 
Como  proposto  no  início  deste  artigo,  nos  dispusemos  a  analisar  as  narrativas 
produzidas  por  alunos  dos  anos  finais  do  Ensino  Fundamental  em  dois  momentos 
distintos, bem como os avanços e retrocessos ocorridos. Para tanto, trouxemos excertos 
dos textos escritos por 14 alunos em 2011 e 2012. 

No  aspecto  geral,  compreendemos  que  os  eventos  de  letramento,  as 
interferências realizadas pelos bolsistas do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à 
Docência (PIBID), aliados às demais práticas e eventos de letramento participados pelos 
alunos,  contribuíram  para  que  suas  narrativas  se  tornassem  mais  claras  e  articuladas, 
abarcando, na segunda produção, campos não contemplados na primeira e fazendo usos 
de elementos que, no primeiro momento, não estavam presentes na escrita. 

Considerando que é por meio das práticas e eventos de letramento que os sujeitos 
constroem  o  seu  conhecimento,  e  concebendo  a  escola  como  agência  de  letramento, 
percebemos  as  práticas  aqui  descritas  como  auxílio  para  tornar  os  estudantes 
proficientes  em  diferentes  práticas  letradas.  Os  letramentos  estão,  portanto,  ligados  às 
práticas  e  concepções  de  leitura  e  escrita  próprias  de  cada  esfera  social,  a  diferentes 
épocas  e  momentos  históricos.  É  papel  da  escola  integrar  essas  práticas,  contribuindo 
para a transição efetiva dos estudantes entre as diferentes esferas da interação humana. 

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REFERÊNCIAS
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 Gabriela Kloth 

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