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A peça Maria Stuart do alemão Friedrich Schiller escrita em 1799, tem como pano

de fundo a real luta pelo trono inglês das rainhas Maria Stuart, da Escócia (1542-1587) e
Elizabeth I, inglesa de origem (1533-1603). Para entender a peça faz-se necessário um
levante histórico da vida da rainha escocesa, e sua relação com a prima Elizabeth I1.
Maria Stuart foi a única descendente legítima do rei Jaime V da Escócia, tendo
apenas nove dias de idade quando seu pai morreu, assumindo assim o trono da Escócia.
Ao cinco anos de idade se muda para a França, enquanto a Escócia era governada
por regentes2, mais precisamente pelo pastor John Knox. Na França Maria estava sendo
educada por seus parentes da família real de Guise para se tornar mulher e herdeira do
trono francês, casando-se em 1558 com seu primeiro esposo Francisco II, Delfim da
França. Francisco II morre em dezembro de 1560, de um abscesso no cérebro advinda de
uma otite média (doença inflamatória no ouvido), e Maria devastada com sua morte
retorna a Escócia em agosto de 1561, assumindo assim o trono de seu país, que estava em
regência. Assim sendo os tios de sua mãe, os Guise, logo perderam a influência que
tinham na corte francesa, e sua sogra, Catarina de Médici, substituiu-os como regente do
Rei Carlos IX na segunda metade do século XVI, e que durante algum tempo os três
países foram controlados por mulheres: França, Inglaterra e Escócia. Desses, porém,
somente o governo de Elisabeth I tinha estabilidade (CHURCHILL 1960).
Em fevereiro de 1561, antes de partir para a Escócia, conhece brevemente seu
primo escocês residente na Inglaterra Henrique Stuart, Lord Darnley, que fora para a
França em nome de seus pais, Mateus Stuart, 4º Conde de Lennox e Margarida
Douglas, para dar as devidas condolências a rainha, e na qual se tornaria seu segundo
esposo em julho de 1565. Os políticos ingleses William Cecil, Barão de Burleigh e Robert
Dudley, Conde de Leicester trabalharam para conseguirem a licença de Henrique para
que ele viajasse da Inglaterra até a Escócia, para o matrimônio. Jaime Stuart, meio irmão
de maria, se rebela contra o casamento da meia irmã com um católico, e organiza uma
rebelião juntamente com os protestantes. Maria e Henrique saem de Edimburgo, mas
retornam a capital no mês seguinte para reunir mais aliados as suas causas, e apesar de
nunca terem feito um combate direto, Maria sai por toda Escócia para organizar um

1
Toda narrativa sobre a vida de Maria Stuart aqui contada terá como referência duas obras: História dos
povos de língua inglesa: o novo mundo, de Winston S. Churchill, e História da Inglaterra, de André
Maurois.
2
A regência é um tipo de governo temporário instituído em um país durante um impedimento do chefe de
Estado, especialmente de um monarca.
contra-ataque, ganhando forças para si, principalmente depois do retorno da França de
Jaime Hepburn, 4º Conde de Bothwel, um guerrilheiro de fronteiras e seu forte aliado,
fazendo com que Jaime fuja para a Inglaterra, onde pede asilo político.
Elizabeth I, atual rainha da Inglaterra, vê no casamento de Maria Stuart e Lord
Darnley uma ameaça a seu trono, já que o Lord, além de primo, era um súdito inglês,
além de Cecil e Dudley serem seus secretários. Maria tinha uma personalidade diferente
de Elizabeth, embora de certo modo a situação de ambas fosse semelhante, pois Maria e
Elisabeth eram descendentes de Henrique VII e possuíam um trono, além de viver em
uma época na qual era novidade uma mulher ser chefe de Estado (SILVEIRA;
BARBOSA 2013, p. 198).
Em outubro de 1565 Henrique exigiu a Coroa Matrimonial, por estar insatisfeito
com sua situação de rei consorte, o que o faria co-soberano da Escócia e com o direito de
manter o trono para si caso sua esposa viesse a falecer, mas Maria, já grávida de Henrique,
recusa o pedido e este, com ciúmes da amizade da rainha com seu secretário católico
David Rizzio (onde havia certos rumores que o apontavam como o verdadeiro pai da
criança), arma para a esposa, em março de 1566, uma conspiração com os protestantes
locais, incluindo também alguns nobre que estiveram ao lado do meio irmão de Maria no
primeiro embate. Rizzio é assassinado no mesmo mês pelos conspiradores de Henrique,
que desiludido com a própria ambição permanece ao lado de Maria, e se refugiam ambos
no castelo de Dunbar, em Edimburgo. O filho de Maria e Henrique nasce em junho de
1566, já com a relação em crise. Maria passa a visitar Jaime Hepburn que estava doente
devido ferimentos de combate, e isso passa a ser usado por seus adversários como
evidência de um caso extraconjugal.
Maria decide então se separar de Lord Darnley, que não aceita a separação e com
receio da própria morte foge para uma abadia em Glasgow, e no meio do caminho fica
doente, provavelmente envenenamento ou havia contraído varíola. Porém através de uma
reunião com um conselho de nobres escoceses em novembro de 1566, que repudiava a
figura tola, tirânica e orgulhosa de Henrique, Maria decide ela mesma visita-lo para
tomarem juntos uma decisão sobre seu relacionamento. Todavia, um dia após sua visita
a Glasgow, uma explosão devastou a abadia em que se encontrava o Lord, matando-o,
Maria e Jaime Hepburn eram tidos como os principais suspeitos do crime.
Para Maurois (1965),
odiando o marido, desesperada e sem alternativas, ela foi conivente com seu
assassinato e, em 1567, se casou com o assassino, Jaime Hepburn, que havia
se divorciado doze dias antes de sua esposa Joana Gordon, cuja a espada
indomável ainda poderia salvar-lhe o trono e a felicidade, no entanto, o que
veio foi a derrota e a prisão.

A rainha inicialmente acreditou que muitos nobres apoiavam o casamento, porém as


coisas logo pioraram para Hepburn, com a união mostrando-se muito impopular. Os
católicos consideravam o casamento como ilegal, já que não reconheciam o divórcio de
Hepburn e a validade da cerimônia protestante. Tanto os protestantes quanto os católicos
ficaram chocados que Maria tenha se casado com o homem acusado de assassinar seu
antigo marido. Após ter seu marido encarcerado, em 1568, Maria escapou para a
Inglaterra e se prostrou aos pés de Elisabeth, pedindo clemência. Elisabeth conhecia sua
rival, pois, sabia que Maria era incapaz de separar suas emoções da política, a rainha dos
escoceses não tinha o vigilante autodomínio que Elisabeth adquirira nos anos amargos de
sua infância (SILVEIRA; BARBOSA 2013, p. 199).
Maria foi forçada a abdicar do trono em junho de 1568 em favor de seu filho
Jaime, então com apenas um ano de idade, e é levada como prisioneira para o castelo no
meio de uma ilha de Loch Leven, região central da Escócia. Conseguirá fugir do castelo
no mesmo mês, e tentou reunir homens para a batalha infrutífera que ficou conhecida
como Batalha de Langside3. Com mais uma perda Maria desembarcou em Workington,
no norte da Inglaterra, e os oficiais locais a levaram sob custódia preventiva em julho
para o Castelo de Carlisle. Maria aparentemente esperava que Isabel a ajudasse a
reconquistar o trono, mas a rainha inglesa estava cautelosa e ordenou que uma
investigação fosse realizada sobre a conduta dos lordes confederados e se Maria era
culpada do assassinato de Henrique. Uma comissão de inquérito seu reuniu em Iorque e
depois em Westminster entre outubro de 1568 e janeiro de 1569. Como rainha soberana,
Maria se recusou a reconhecer o poder de qualquer corte para julgá-la e não compareceu
pessoalmente aos inquéritos em Iorque (porém mandou representantes). Seu meio irmão
Jamie Stuart apresentou como provas contra Maria as chamadas cartas do cofre4: oito
cartas não assinadas supostamente da rainha para Hepburn, dois contratos de
casamento, um soneto de amor ou sonetos que afirmou terem sido encontrados em um
pequeno cofre de prata de 30 cm decorado com o monograma de Francisco II
(CHURCHILL 1960).

3
MAUROIS 1965.
4
A autenticidade das cartas do cofre tem sido assunto de grande controvérsia dentre os historiadores. É
impossível provar a veracidade ou falsidade delas. As originais em francês foram provavelmente destruídas
por Jaime VI em 1584. As cópias restantes, em francês ou traduzidas para o inglês, não representam o
conjunto completo. Existem transcrições incompletas da década de 1570 em inglês, escocês, francês e latim.
Elizabeth considerava como sérias ameaças as aspirações de Maria para o trono
inglês e assim a confinou às propriedades de Jorge Talbot, 6º Conde de Shrewsbury, no
Castelo de Tutbury em 26 de janeiro de 1569incluindo o Castelo de Sheffield, a Mansão
Wingfield e a Casa Chatsworth, todas localizadas no interior da Inglaterra, no meio do
caminho entre Londres e a Escócia e distante do mar.
Encarceramento e morte e Maria.

REFERÊNCIA
CHURCHILL, Winston S.. História dos povos de língua inglesa: o novo mundo. São
Paulo: IBRASA, 1960.
MAUROIS. A. História da Inglaterra. 4. ed. Rio de Janeiro: Irmãos Pongetti Editores.
1965.
SILVEIRA, José Renato Ferraz da; BARBOSA, Juliana Graffunder. A guerra dos tronos:
Elisabeth e Mary Stuart. Revista Sem Aspas, [S.l.], p. 197-208, nov. 2013. ISSN 2358-
4238. Disponível em: <https://periodicos.fclar.unesp.br/semaspas/article/view/6935>.
Acesso em: 21 nov. 2018.

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