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CAPA
Euelyn Grutnach
PROJETO GRÁFICO
Euelyn Gruttuch e Jodo de Souza Leite
crP-BRASrL. CATALOGAÇÃO-Ne-rONTS
SINDICATO NACIONAL DOS EDITORES DE LIVROS, RJ.
C974 Cultura política e leituras do passado: historiografia e ensino de
/ Martha Abreu, Rachel Soihet e Rebeca Gontijo (orgs.). - Rio
história
de Janeiro: Civilização Brasileira, 2007.
Inclui bibliografia
ISBN 978-85-200-0695-5
cDD - 907
06-4642 CDU - 930(072)
Impresso no Brasil
2007
Dos "Estados nacionais" ao "sentido
da colonizaçâo": história moderna e
historio grafia do Brasil colonial
Maria Fernanda Bicalho*
membro do
da universidade Federal Fluminense;
[ .pr.f.rr-" d. Departamenro de História (Nupehc)'
I i;.b" de Pesquisas em História Cultural
Mas há uma distância enorme entre os conselhos distribuídos a aprendi-
zes em certos momentos e duma maneira discursiva e fragmentada
- há
uma enorme distância entre essas indicaçóes de trabalho e essa espécie de
confiança humana de mestre-de-obras explicando aos seus leitores, que
não sáo necessariamente 'da sua especialidade", o que para ele represen-
ta o seu trabalho, que fins lhe propõe e em que espírito o pratica: e tudo
isto, não como pedante que dogmatiza, mas como homem que procura
compreender-se na íntegra.
Lucien Febvre, 'Vers une autre histoire" (1949), em Combats pour I'histoire;
comentando a experiência e a obra de Marc Bloch.
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CUTTURA POríÏICA E TEITURAS DO PASSADO
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O ANTIGO REGIME E A COIONIZAçÃO EM QUEsTÃO
nos inserimos. O que temos vivenciado nas últimas décadas são movimen-
tos de explosão ou de implosão das antigas nacionalidades e a emer-
- -
gência de outras identidades, locais, regionais, religiosas, étnicas. Sobre
elas vem se pautando um profundo rearranjo da geografia, da política e
do próprio conceito que tínhamos até então de Europa. Por outro lado, a
Europa e não só ela tem presenciado, em termos econômicos e po-
- -
líticos, o desenvolvimento de organizações supranacionais, como a Co-
munidade Européia. Tâis processos levam necessariamente a um exercício
de reinterpretação histórica daquilo que há cerca de cinqüenta anos
em plena Guerra Fria- era visto e sentido como dado e, quiçá, imutável.
-
Não é por acaso que nas últimas décadas novos objetos, novos méto-
dos, novas teorias, novas interpretaçóes têm povoado e provocado
- -
os estudos históricos. E essas rupturas vêm incitando a construçáo de novos
conceitos e a ressignificação de antigas noções. Um desses conceitos é o
de "Estados compósitos" ou, como prefere Elliott, de "monarquias
compósitas": formações políticas que incluíam diferentes reinos, regióes,
liovos e tradições sob a soberania de um governante. Essa era a experiên-
cia da monarquia hispânica dos Habsburgo, que reunia, sob a soberania
de Castela, os reinos de Aragão, Leão, Catalunha, Navarra; mais tarde,
Milão, Nápoles, Sicília, Países Baixos e, por último, Portugal. Ourro exem-
plo pode ser depreendido da reunião do País de Gales, da Escócia e da
Irlanda sob o domínio da Inglaterra.
Algum grau de integração deveria ser aringido pelas monarquias
compósitas se o soberano quisesse ter efetivo controle sobre o território
anexado, seja por meio da guerra, seja por união dinástica. Certamente a
força e a coerção desempenharam seu papel, mas tornava-se dispendioso
manter um exército de ocupação no território anexado,alémdo risco de
rebeliões locais ou provinciais. A reunião das cortes espécie de assem-
-
bléias compostas pelo rei e os representantes das três Ordens ou Estados
constitutivos do reino6
-, assim como a nomeação de conselheiros "au-
tóctonesD para os órgãos colegiados que aconselhavam o monarca eram
formas de 'ouvir as vozes" e os interesses dos súditos e das comunidades
locais, além de aproveitar suas experiências na implementação de futuras
políticas.
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cuLTuRA poLírtca e LEtruRAs Do pAssADo
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O ANTIGO REGIME E A COLONIZAçÁO EM QUESTÃO
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o ATTIGo REGIìIE E A coToI{IzAçÀo EM
QuEsTÃo
das cidades
- todos aqueres que tinham meios de servir ao rei - espera-
ram receber em retribui$o dádivas e mercês,
em títulos, cargos, proventos
cacrescentamento de status.A identidade
de homens e mulh-eres com a sua
ourunidade local com aupâtriau, no sentido em que esse termo
-
cntendido nos séculos XM e XVII
era
não era incompatível com a extensão
da lealdade a uma entidade mais - ampra" um rei, uma monarquia ou um
Estado, desde que as vantagens da união pudessem
ser reconhecidas.
segundo Ellioa, se por um rado a Europa do
século XVI era predomi-
rrntemente uma Europa de monarquias compósitas,
coexistindo com uma
miríade de unidades territoriais e jurisdicionais
independenres, por ou_
ro' essa mesma constatação ou interpretação não nos
-
Pensar que os Estados compósitos eram um meio - caminhodeve levar a
necessário,
cmbora incompleto e insatisfatório, no lento
e sempre contínuo processo
dc formação dos Estados unitários, em termos
políticos e curturais. Essa
linha inexorável e evolutiva de "formação
dos Estados nacionais,, traçada,
desde o século XVI até o sécuro XIX,
deve e rem sido
c revista pela historiografia dos nossos dias.- - questionada
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CULTURA POLÍTICA E LEITURAS DO PASSADO
Apesar de todos os méritos, que náo são poucos, o livro de Caio Pra-
do é tributário de uma perspectiva histórica de um regime de histori'
- própria das décadas
cifude, para usar o conceito de François Hartogls
-
de 1940,50 e 60. Ao analisar a constituição do Estado e da naçáo no Bra-
sil e na América Latina, traça, por um lado, uma linha mestra de evoluçáo
e desenvolvimento; entendendo-4, por outro, como decorrência ou ma-
nifestação interna de processos estruturais como o desenvolvimento
-
do capitalismo ocorridos externamente, nos centros dinâmicos da Eu-
-
ropa Ocidental. Preocupado em compreender os fundamentos da nacio-
nalidade brasileira, Caio Prado afirma que:
Todo povo tem na sua evoluçáo, vísta à distância, um certo "sentido'. Este
se percebe não nos pormenores de sua história, mas no coniunto dos fatos
e acontecimentos essenciais que a constituem num largo período de tem-
po. Quem observa aquele conjunto, desbastando-o do cipoal de inciden-
tes secundários que o acompanham sempre e o fazemmuitas vezes confuso
e incompreensível, não deixará de perceber que ele se forma de uma linha
mestra e ininterrupta de acontecimentos que se sucedem em ordem rigo-
rosa, e dirigida sempre numa determinada orientação.16
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O ANTIGO REGIME E A COTONIZAçÁO EM
QUESTÁO
E acrescenta:
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o ANTTGO REGTME E A COrOr{tzAçÂo EM QUESTÃO
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O ANTIGO REGIME E A COTONIZAçÃO
EM QUESTÃO
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CULTURA POLiTICA E LEITURAS DO PASSADO
JoãoFragosoeMariadeFátimaSilvaGouvêavêmdesenvolvendodo
esrudos sobre redes imperiais que, entre fins do
século XVII e início
xvlll, envolviam diferlntes agentes do império português: casas aristo-
e, inclusive,
cráticas do reino, magistrados, oficiais régios, negociantes
regiões ultramari-
membros das elites coloniais residentes em diferentes
e troca entre esses
nas. Elas eram tecidas pela circulaçáo, comunicaçáo
homens e mulheres de mercadorias, informaçóes, bens materiais e
- - e clientelísticas'
culturais, e eram adensadas por relaçóes de parentesco
de alianças políti-
aproximando e afastando diferentes grupos, em termos
que
cas e interesses pecuniários. Os autores argumentam
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o AiTtco REGtUE G A CoroxtzAçÃO EM
QuEsTÃ0
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CUITURA POTÍTICA E TEITURAS DO PASSADO
Notas
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O ANTIGO REGIME E A COLONIZAçÃO EM QUESTÃO
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CULTURA PO!ÍTICA € !EITURAS DO PASSADO
30. cf., a esse respeito, A.J, R, Russell-síood, "centro e periferia no mundo luso-bra-
sileiro, 1500-1808", Reuista Brasileira de História, v 18, n. 36, lggï, p.202.
31. João Luís Ribeiro Fragoso e Maria de Fátima silva Gouvêa, "vtorino Magalhães
Godinho et les réseaux impériaux", Arquiuos do centro cultural calouste Gul-
benkian, v 50,2005, p. 89.
3Z Maria de Fátima Silva Gouvêa e Marília Nogueira dos Santos, "Cultura política na
dinâmica das redes imperiais portuguesas", publicado neste livro, Cf,, também, Maria
de Fátima silva Gouvêa, G. de A, Frazão e Marília Nogueira dos sanros, "Redes de
poder e conhecimento na governação do império português, 1688-1735-,Tbpoi:
revista de História, v 5, n. 8, jan.-jun. 2004, p, 96-137.
33. Iara, op. cit,, p.25.
í. Hartog, op, cit., p. 14.
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Sumário
AGRADECIMENTOS 9
ReneserureçÃo 11
PARTE I
PARTE II