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Extrapyramidal side effects as a consequence of treatment with neuroleptics


Efeitos extrapiramidais como conseqüência de tratamento com neurolépticos

Article · January 2008

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1 1,927

4 authors, including:

Shirley Taniguchi
Hospital Israelita Albert Einstein
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Artigo Original

Efeitos extrapiramidais como conseqüência de tratamento


com neurolépticos
Extrapyramidal side effects as a consequence of treatment with neuroleptics
Wanessa Alves Frederico1, Seizi Oga2, Maria de Lourdes Rabelo Pequeno3, Shirley Fumi Taniguchi4

RESUMO of the city of São Paulo, who had  previously agreed to participate
Objetivo: Identificar a ocorrência de efeitos extrapiramidais in the project. Results: Among 39 patients studied, 85% presented
(EPS) com o uso de neurolépticos, em pacientes esquizofrênicos, extrapyramidal symptoms. Of these, 69.7%  were treated for the
bem como verificar o possível aparecimento de alucinação side effects, 73.9% were treated with biperiden and 26.09% had
secundária ao tratamento dos EPS. Métodos: Trinta e nove their neuroleptic drug reduced. Out of those patients treated with
pacientes que estiveram em tratamento com neurolépticos em biperiden, 70.5% had side effects, such as hallucination and delusion,
uma instituição pública de atenção primária em saúde mental, blurred vision, somnolence and verbal memory deficit. Conclusions:
localizada na região sul da cidade de São Paulo, tiveram seus dados The majority of patients (85%) undergoing treatment with neuroleptic
coletados  do prontuário e  participação por meio de entrevistas drugs developed motor side effects. When these extrapyramidal
após concordarem, voluntariamente, em fazer parte da pesquisa. symptoms were treated with central action anticholinergic drugs
Resultados: Dos 39 pacientes esquizofrênicos em tratamento com (biperiden), hallucination and/or delusion occurred in 52.94% of
neurolépticos analisados, 85% apresentaram EPS, enquanto 69,7% patients – probably because of increased dopaminergic activity as
receberam tratamento para estes efeitos colaterais de movimento. a consequence of cholinergic activity reduction caused by biperiden
Foram tratados com biperideno 73,91% dos pacientes, enquanto in the mesocortical and mesolimbic pathways.
29,06% tiveram redução da dose do neuroléptico. Dos pacientes
que receberam biperideno, 70,50% apresentaram alucinação/ Keywords: Antipsychotic agents/adverse effects; Cholinergic
delírio, visão embaçada, sonolência ou deficit de memória antagonists; Biperiden/therapeutic use; Schizophrenia/drug therapy 
verbal. Conclusões: Grande parte dos pacientes que receberam
neurolépticos (85%) apresentou efeitos colaterais motores e estes,
quando tratados com anticolinérgico de ação central (biperideno), INTRODUÇÃO
apresentaram alucinação e/ou delírio (52,94%) – provavelmente A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico caracterizado
pelo aumento da atividade dopaminérgica decorrente da redução por dois distintos grupos de sintomas: positivos e
de atividade colinérgica nas vias mesocortical e mesolímbica. negativos. Os sintomas positivos incluem alucinação,
ilusão e distorção da realidade. Já os negativos, se
Descritores: Agentes antipsicóticos/efeitos adversos; Antagonistas manifestam como isolamento social, acompanhado de
colinérgicos; Biperideno/uso terapêutico; Esquizofrenia/quimioterapia
embotamento afetivo e diminuição da atenção(1).
Os sintomas positivos são aqueles que geralmente
ABSTRACT respondem ao tratamento com neurolépticos(2),
enquanto que os sintomas negativos são relativamente
Objective: To check the occurrence of extrapyramidal side effects in
patients receiving neuroleptic drugs, how these effects are treated,
difíceis de serem tratados(1,3-4).
and to observe the occurrence of hallucinations caused by treatment Os neurolépticos são fármacos usados para tratar
of extrapyramidal symptoms. Methods: The present study analyzed a esquizofrenia e têm como mecanismo de ação o blo-
medical records and interviewed  39 schizophrenic patients  being queio dos receptores dopaminérgicos centrais. São clas-
treated in a public primary care clinic located in the southern part sificados em típicos e atípicos. Os neurolépticos típicos

Trabalho realizado no Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
1
 Enfermeira da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
2
 Professor titular de Toxicologia da Faculdade de Ciências Farmacêuticas do Departamento de Análises Clínicas e Toxicológicas da Universidade de São Paulo – USP, São Paulo (SP), Brasil.
3
Mestre, Professora responsável pela Disciplina de Enfermagem em Psiquiatria da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
4
Mestre, Professora responsável pela Disciplina de Farmacologia da Faculdade de Enfermagem do Hospital Israelita Albert Einstein – HIAE, São Paulo (SP), Brasil.
Autor correspondente: Wanessa Alves Frederico – Rua Jacirendi, 91 – apto. 42A – Tatuapé – CEP 03080-000 – São Paulo (SP), Brasil – Tel.: 11 6197-8256 – e-mail: wanalves@gmail.com
Não há conflitos de interesse dos autores.
Data de submissão: 1/8/2007 – Data de aceite: 27/3/2008

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estão representados pelo haloperidol, clorpromazina, Existe relação dose-dependente com o apareci-
flufenazina, tioridazina, flupentixol e loxapina, e os atí- mento dos EPS e, particularmente, com a discinesia
picos, pela clozapina, quetiapina, risperidona, olanzapi- tardia(14). O biperideno é uma referência para o trata-
na, supiride e sertindol(1,5). mento dos EPS, e a dose prescrita está relacionada com
Os neurônios dopaminérgicos estão presentes no a do neuroléptico utilizado.
sistema nervoso central (SNC), nas vias mesolímbica, Os EPS, como conseqüência do uso de neurolépticos,
mesocortical, túbero-infundibular e nigroestriatal(6). são causas importantes da não adesão do paciente ao
A via mesolímbica parte do mesencéfalo até o sis- tratamento psiquiátrico, de modo que esta pesquisa
tema límbico. O mesencéfalo está relacionado às fun- teve por interesse estudar estes efeitos colaterais.
ções de sono e vigília, enquanto o sistema límbico é o
responsável pela elaboração das reações emocionais e
comportamento de punição e recompensa. Já a via me- OBJETIVO
socortical inicia-se no mesencéfalo e termina no córtex, O objetivo desta pesquisa foi estudar pacientes em
que está ligado à linguagem, ao pensamento abstrato e tratamento com neurolépticos, da seguinte forma:
às funções motoras, associativas e visuais(6). • identificando o neuroléptico utilizado no tratamento
Enquanto a via túbero-infundibular se estende do pisiquiátrico e a ocorrência de EPS conseqüente a
hipotálamo à eminência média, o hipotálamo comanda esse tratamento;
funções autonômicas, elabora funções específicas como • verificando as formas de tratamento utilizadas para
sede e fome, apetite por nutrientes específicos, como sal melhorar os EPS e sua reações adversas;
e açúcar, além de ser responsável pela sobrevivência do • proporcionando possíveis estratégias a serem utili-
indivíduo e propagação da espécie (comportamento de zadas para melhorar a ação de Enfermagem frente
luta/fuga e comportamento sexual). Finalmente, a via ni- a esses pacientes.
groestriatal segue do mesencéfalo ao corpo estriado, que
está relacionado ao controle central do movimento(6).
O paciente esquizofrênico pode apresentar ilusões na MÉTODOS
área emocional, mística e sexual, alucinações auditivas e Trata-se de um estudo exploratório, quantitativo, des-
olfativas e distorção da realidade. Esses sintomas estão critivo e de campo.
relacionados ao aumento de dopamina na via mesolím- De acordo com a resolução 196/1996, do Conselho Na-
bica e mesocortical e são tratados com neurolépticos que cional de Saúde (CNS), o projeto foi submetido à aprova-
bloqueiam os receptores dopaminérgicos centrais(6). ção pelo Sistema Nacional de Informações sobre Ética em
Os neurolépticos bloqueiam os receptores dopa- Pesquisa envolvendo Seres Humanos (Sisnep), do Minis-
minégicos em todo o SNC; conseqüentemente, há o tério da Saúde; Comissão Científica da Faculdade de En-
bloqueio das vias túbero-infundibular e nigroestriatal, fermagem do Hospital Israelita Albert Einstein (HIAE);
o que resulta em efeitos colaterais hormonais e extrapi- Comitê de Ética em Pesquisa do HIAE; Comitê de Ética
ramidais, respectivamente(7). em Pesquisa do Centro de Atenção Psicossocial (Caps)
O bloqueio dopaminérgico, indesejável na via túbero- Jardim Lídia; Comitê de Ética em Pesquisa da Secreta-
infundibular, traz efeitos colaterais como galactorréia e ria Municipal de Saúde de São Paulo (SMS-SP) e teve o
síndrome neuroléptica maligna. Já na via nigroestriatal, comprometimento dos pesquisadores em utilizar os dados
causa efeitos motores (efeitos extrapiramidais, EPS), coletados exclusivamente para o presente estudo.
como acatisia, parkinsonismo farmacológico, distonia A população deste estudo compreendeu 39 pacientes
aguda, tremor perioral e discinesia tardia(2,7-9). que estiveram em tratamento com neurolépticos em uma
Os EPS podem ser tratados com a redução da dose instituição pública de atenção primária em saúde mental,
dos neurolépticos ou com antiparkinsonianos (antico- localizada na região sul da cidade de São Paulo.
linérgico e antagonista muscarínico central), como bi- A coleta de dados se deu após aprovação para
perideno, benzehexol, orfenadrina, benztropina, pro- pesquisa em prontuários, nos quais foram coletados
metazina e amantadina. Esses fármacos melhoram o dados exclusivos do prontuário e entrevistas realizadas
tremor e a rigidez, diminuem a secreção salivar, mas com os pacientes que concordaram, voluntariamente,
podem ocasionar confusão mental, retenção urinária e em participar da pesquisa, após assinatura do termo
visão embaçada como efeitos colaterais(1,5). Sendo lar- de consentimento livre e esclarecido, com utilização de
gamente utilizados para tratar os EPS causados pelos formulários elaborados pelos pesquisadores.
neurolépticos, como o haloperidol, estes anticolinérgi- Os dados coletados foram agrupados, submetidos
cos de ação central ainda podem causar efeitos colate- à análise estatística e tabulados, sendo os resultados
rais, como alucinação, delírio(8,10-11) e deficit de memória apresentados em números absolutos e percentuais, na
verbal(12-13). forma de figuras e tabelas.

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RESULTADOS parkinsonismo; quatro (12,12%), distonia aguda; e


Atendendo aos critérios de inclusão, participaram da quatro (12,12%), tremor perioral. A comparação
pesquisa 39 pacientes que realizaram tratamento com entre a presença dos quatro EPS estão representadas e
neuroléptico. Para facilitar a análise dos dados, optou- comparadas na Figura 1.
se em agrupar os resultados em três categorias:
• perfil epidemiológico; 82%

• EPS como conseqüência de tratamento com 100% 70%


neuroléptico; 80%
Acatisia
• tratamento de EPS. 60% Parkinsonismo
Distonia aguda
40% 12% 12% Tremor perioral
Perfil epidemiológico 20%

Sexo e idade 0%
1
Entre os 39 pacientes que participaram da pesquisa,
21 (53,85%) eram do sexo masculino e 18 (46,15%) do Figura 1. Histograma comparativo para a variável dos efeitos extrapiramidais
sexo feminino.
A idade dos pacientes submetidos à pesquisa variou en- Tratamento dos efeitos EPS
tre 18 (idade mínima) e 54 (idade máxima) anos, com mé- Entre os 33 pacientes submetidos à pesquisa que
dia de idade de 32,4 anos e desvio-padrão de 9,71. apresentaram algum tipo de efeito extrapiramidal,
23 (69,70%) realizaram tratamento, enquanto dez
(30,30%) não realizaram tratamento para EPS.
EPS como conseqüência
Desses 23 pacientes que realizaram tratamento
de tratamento com neurolépticos para EPS, 17 (73,91%) fizeram uso de anticolinérgico
Nessa categoria foram separadas todas as combinações de ação central, o biperideno, e seis pacientes (26,09%)
de medicamentos utilizadas entre os 39 pacientes reduziram a dose do neuroléptico (Figura 2).
submetidos à pesquisa, verificando a presença de alguns
dos EPS: acatisia, parkinsonismo, distonia aguda e 73,91%
tremor perioral.
A  Tabela 1 foi construída de maneira que fosse
80,00%
relacionada à presença de EPS ao(s) neuroléptico(s)
70,00% 26,09%
utilizado(s) em cada tratamento.
60,00%
Tabela 1. Presença de efeitos extrapiramidais 50,00%
Medicamentos utilizados Presença de efeitos extrapiramidais 40,00%
Olanzapina 4 30,00%
Olanzapina + clorpromazina 1 20,00%
Olanzapina + haloperidol 4 10,00%
Haloperidol 4 0,00%
Uso de biperideno Redução de dose de
Haloperidol + clorpromazina 4
neuroléptico
Risperidona 6
Clozapina 3 Figura 2. Gráfico para avaliar os efeitos colaterais do tratamento com os
Ziprazidona 0 diversos tipos de extrapiramidais
Haloperidol decanoato 3
Haloperidol + olanzapina + clorpromazina 1 Nos pacientes tratados com biperideno, os EPS
Risperidona + ziprazidona 1 induzidos por neurolépticos apresentaram outros
Haloperidol + risperidona 0 efeitos colaterais.
Clorpromazina 1 Os seguintes efeitos colaterais relacionados ao uso
Olanzapina + risperidona 1 do biperideno foram analisados: sonolência, alucinação/
Total 33 delírio, visão embaçada e deficit de memória verbal.
Entre os 17 pacientes que fizeram uso de biperideno,
Dos 39 pacientes pesquisados, 33 (85%) 12 (70,58%) apresentaram pelo menos um efeito
apresentaram pelo menos um efeito extrapiramidal, colateral a esse tratamento, enquanto cinco (29,42%)
enquanto seis (15%) não apresentaram EPS. não apresentaram nenhum.
Entre os 33 pacientes submetidos à pesquisa, Dos 17 pacientes que foram medicados com
27 (81,81%) apresentaram acatisia; 23 (69,70%), biperideno, três (17,65%) apresentaram sonolência;

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nove (52,94%), alucinação ou delírio; quatro (23,53%), nas vias mesolímbica e mesocortical. O bloqueio de recep-
visão embaçada; e dois (11,76%), deficit de memória tores de dopamina causado pelo neuroléptico equilibra a
verbal. A comparação da freqüência dos quatro efeitos atividade dos neurônios dopaminérgicos e colinérgicos
colaterais do biperideno está representada e comparada nestas vias. Porém, a ação bloqueadora dopaminérgica
na Figura 3. do neuroléptico sobre a via nigroestriatal, que controla o
movimento normalmente equilibrado no paciente esqui-
zofrênico, fica em desequilíbrio (baixa atividade dopami-
nérgica em relação à atividade colinérgica)(15).
Alucinação/delírio
52,94% Esse quadro causa no paciente distúrbios de movi-
23,53% Visão embaçada mento, como a acatisia, distonia aguda, tremor perioral
1 17,65%
e parkinsonismo farmacológico(5,7).
Sonolência
A acatisia refere-se a sensações subjetivas de
11,76%
Deficit de memória mal-estar ou desconforto ansioso e a necessidade
verbal
incontrolável de estar em constante movimento(5,7).
0,00% 20,00% 40,00% 60,00% A distonia aguda manifesta-se clinicamente por espas-
mos nos músculos da língua, face, pescoço e dorso(5,7).
Figura 3. Gráfico comparativo da incidência dos efeitos colaterais do biperideno
Na doença natural de Parkinson, os neurônios do-
paminérgicos da via nigroestriatal degeneram-se ao lon-
DISCUSSÃO
go dos anos. Porém, no parkinsonismo farmacológico
A esquizofrenia é um distúrbio psiquiátrico no qual se causado por neurolépticos, há diminuição da atividade
observam disfunção comportamental acentuada, inca- dos neurônios dopaminérgicos causado pelo bloqueio
pacidade de raciocínio coerente, distorção da realidade dos neurolépticos, causando rigidez e tremores de
e alucinações(5). repouso(5,7).
O aumento de dopamina nas vias dopaminérgicas, O tremor perioral é também um efeito extrapiramidal,
mesolímbica e mesocortical, está relacionado com a ocasionando no paciente movimentos de boca e nariz,
patologia psiquiátrica(15). parecidos aos movimentos oronasais de coelho(5,7).
Os neurolépticos são usados no tratamento da No presente estudo, estes EPS estiveram presentes em
esquizofrenia para bloquear receptores de dopamina no 85% dos pacientes que fizeram uso de neurolépticos.
SNC, diminuindo as atividades dopaminérgicas nestas De acordo com a intensidade desses efeitos, é
vias e, assim, melhorando os sintomas da doença(15). necessária a realização de avaliações freqüentes, a
Os pacientes estudados foram tratados com neuro- redução da dose do neuroléptico e/ou o tratamento
lépticos típicos, como a clorpromazina e haloperidol, e contínuo dos efeitos colaterais desses pacientes.
com neurolépticos atípicos, como a clozapina, olanza- O tratamento desses pacientes requer a ação de
pina, risperidona e ziprazidona, ou com a combinação enfermeiros que conheçam o mecanismo de ação deste
destes agentes fármacos. grupo de fármacos e que possam prever os possíveis
Os neurolépticos típicos são os mais antigos e são ca- efeitos colaterais, colaborando com o tratamento.
racterizados por bloquearem receptores dopaminérgicos Para melhorar a ação da Enfermagem frente a esses
centrais do tipo D2, os quais estão presentes também em pacientes, propõe-se a utilização de escalas de avaliação,
grande quantidade na via do movimento (via nigroestriatal), pois a avaliação periódica e a investigação ativa dos
provocando efeitos colaterais de movimento (EPS)(7,15). efeitos colaterais desses fármacos são importantes para
Os neurolépticos possuem como ação principal minimizá-los e permitir uma melhor adesão do paciente
o bloqueio de receptores dopaminérgicos centrais. ao tratamento medicamentoso em questão. As escalas
Observa-se o bloqueio destes receptores, nas vias são as seguintes:
mesolímbica e mesocortical, bem como na via • escala de EPS de Simpson e Angus(16), que é
nigroestriatal. O bloqueio desnecessário dos receptores composta por dez itens com uma classificação de
dopaminérgicos na via nigroestriatal geram efeitos zero (ausente) a quatro (grave). Cada item traz a
colaterais na área do movimento, o que limita a adesão instrução para avaliação e especificação da gravidade
dos pacientes a este tratamento(15). de cada sintoma;
As vias dopaminérgicas caminham paralelas a • escala de acatisia de Barnes(17), que é composta por
vias colinérgicas no SNC. O equilíbrio das atividades três itens, com as seguintes classificações:
dopaminérgica e colinérgica é importante para a 1. avaliação objetiva de zero (ausente) a três
normalização das funções destas vias(15). (acatisia constante);
A esquizofrenia caracteriza-se pelo aumento da ati- 2. avaliação subjetiva que possui dois subitens,
vidade dopaminérgica em relação à atividade colinérgica percepção da inquietação e desconforto rela-

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cionado à inquietação, de zero (ausente) a três Alucinação e delírio são sintomas característicos da
(grave); esquizofrenia. Após a ação do anticolinérgico de ação
3. avaliação global da acatisia de zero (ausente) a central, foi observado o reaparecimento destes sintomas
cinco (grave). em 52,94% dos pacientes que realizaram tratamento
com biperideno.
Além de obter conhecimento sobre os neurolépticos, o A estratégia proposta com este trabalho para
enfermeiro deve estar atento à intensidade de seus efeitos melhorar a ação de Enfermagem é a utilização de
colaterais, uma vez que esses podem se tornar emergên- escalas de avaliação, que avalia a intensidade dos EPS,
cias psiquiátricas, como a distonia aguda, que pode causar como a escala de Sympson e Angus e Barnes.
espasmo da laringe e, conseqüentemente, o fechamento
da glote, podendo evoluir a uma parada respiratória.
O enfermeiro ainda deve conhecer o mecanismo de REFERÊNCIAS
ação dos anticolinérgicos de ação central utilizados no tra- 1. Saeb-Parsy K, Assomull RG, Khan FZ, Kelly EA. Instant pharmacology. London:
tamento dos EPS, pois estes fármacos, por terem ação no John Willy & Sons; 1999. p. 95-8.
músculo ciliar, podem aumentar a pressão intraótica – efeito 2. Inada T, Yagi G, Miura S. Extrapyramidal symptom profiles in Japanese
que pode levar pacientes que tenham glaucoma à cegueira. patientes with schizophrenia treat with olanzapine or haloperidol. Schizophr
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Dentre os pacientes tratados com biperideno, 52,94%
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apresentaram alucinação/delírio e 11,76% deficit de me-
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Ainda destes pacientes, 23,53% apresentaram visão em-
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baçada, talvez devido à atividade anticolinérgica periférica
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tando o cristalino para a visão de longe e dificultando a vi- 8. Meszaros K, Lenzinger E, Hornik K, Schönbeck G, Hatzinger R, Langer G, et
são de perto. Além disso, 17,65% apresentaram sonolên- al. Biperiden and haloperidol plasma levels and extrapyramidal side effects in
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Como os neurolépticos causam desequilíbrio na via que 9. Schillevoort I, de Boer A, Herings RM, Roos RA, Jansen PA, Leufkens HG.
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einstein. 2008; 6(1):51-5

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