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Para a autora, o medo estaria incorporado à rotina dos brasileiros, tendo mais
visibilidade que a própria violência urbana. Diante disso, as cidades e o modo de viver
estariam sendo tomados pela chamada “arquitetura do medo”, visível em sistemas de
segurança e monitoramento, prédios murados e etc. Ainda nesse sentido, os espaços
urbanos tornam-se cada vez menos democráticos, já que fortificações e separações
tendem a prevalecer.
Ainda nessa ordem de ideias, a autora cita estudos do ILANUD (Instituto Latino-
americano das Nações Unidas para a Prevenção do Delito e Tratamento do
Delinquente) sobre as distorções midiáticas no campo da violência criminal. A despeito
da incidência muito mais significativa de pequenos furtos e lesões corporais, a mídia
realiza uma cobertura muito maior de delitos menos frequentes, como estupros,
sequestros e homicídios. Com isso, há uma superestimação dos crimes violentos, o que
potencializa a sensação de insegurança. Essas distorções também são apropriadas com
frequência por políticos e membros das forças armadas, que não raro se refletem em
políticas públicas de recrudescimento penal.
É importante precisar, então, o papel da ideologia na construção da cultura.
Esta é compreendida como “a expressão das necessidades historicamente
condicionadas de um grupo social e de seus indivíduos”, ao passo que a ideologia é
concebida enquanto “sistema de representações, normas e valores da classe
dominante que ocultam sua particularidade numa universalidade abstrata”.