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EQUAÇÕES DIFERENCIAIS (2109106)

Professor responsável: Marcelo Ferreira


Perı́odo 2019.1

0.1 Equações diferenciais ordinárias de primeira


ordem
EDOs de primeira ordem como
dy
= x2 + 1 (1)
dx
são resolvidas por integração direta. De fato, neste caso
x3
Z Z
dy
y= dx = (x2 + 1) dx = + x + c,
dx 3
onde c ∈ R é uma constante arbitrária, descreve todas as soluções de (1).
Além disso, a condição inicial y(x0 ) = y0 determina univocamente uma
solução. Por exemplo,
13 5
y(1) = 3 =⇒ + 1 + c = 3 =⇒ c = .
3 3
Portanto,
x3 5
y= +x+
3 3
é a solução procurada.
Observação: Dada f : [a, b] → R contı́nua, a equação diferencial
dy
= f (x) (2)
dx
sempre admite solução. De fato, pelo Teorema Fundamental do Cálculo,
y = F (x), onde F : [a, b] → R é dada por
Z x
F (x) = f (y) dy
a

é uma solução de (2). Em adição, y(a) = 0 (condição de contorno).

1
0.1.1 EDOs lineares
Uma EDO de primeira ordem é denominada linear se puder ser expressa
na forma
y 0 + p(x)y = q(x), (3)
para funções p, q : (a, b) → R contı́nuas. As funções p e q são denominadas
os coeficientes da equação. Ela é dita homogênea se q = 0. Em outro caso,
é dita não-homogênea
Exemplos:
dy
1. = ky é linear de primeira ordem e homogênea, com p(t) = −k.
dt
2. y 0 + y = xe−x + 1 é linear de primeira ordem não-homogênea, com
p(x) = 1 e q(x) = xe−x + 1.
2
3. ty 0 +2y = sin t é linear de primeira ordem não-homogênea, com p(t) =
t
sin t
e q(t) = .
t
dy 1+y
4. = é linear de primeira ordem não-homogênea, com p(x) =
dx 1+x
1 1
− e q(x) = .
1+x 1+x

Método do fator integrante


As equações diferenciais lineares de primeira ordem são resolvidas pelo
método do fator integrante. Para ter uma idéia do que é um fator integrante,
consideremos a equação diferencial
y 0 − y/2 = e−x . (4)
x
Multipliquemos ambos os membros de (4) por µ(x) = e− 2 . Neste caso,
obtemos
x x 3x
e− 2 y 0 − e− 2 y/2 = e− 2 . (5)
x
d
ye− 2 . Logo,

Observe então que o primeiro membro de (5) é igual a dx
podemos reescrevê-la como
d x 3x
ye− 2 = e− 2 , (6)
dx
2
que é uma equação que pode ser resolvida por integração direta. De fato,
obtemos de (6)
Z Z
−x/2 d − x2 3x
dx = e− 2 dx,

ye = ye
dx
ou seja, Z
x 3x 2 x
y=e 2 e− 2 dx = − e−x + ce 2 ,
3
onde c é uma constante arbitrária.
Conforme ilustrado no exemplo anterior, a idéia de fator integrante
consiste em uma função tal que, após multiplicarmos ambos os membros da
equação diferencial linear dada por este fator, a equação seja transformada
em uma outra equação diferencial na mesma incógnita y, mas que possa ser
resolvida por integração direta, exatamente como as equações (1) e (2).
Para a obtenção do fator integrante (abreviadamente f.i.), considere a
equação diferencial linear de primeira ordem geral (3). Seja então µ = µ(x)
tal que
d
µy 0 + µp(x)y = (yµ). (7)
dx
Como
d
(yµ) = µy 0 + yµ0 ,
dx
por comparação com o primeiro membro de (7), obtemos

µ0 = p(x)µ. (8)

As soluções não-triviais de (8) se exprimem como


R
p(x) dx
µ(x) = ±e . (9)

Um fator integrante será qualquer µ > 0 do tipo acima, obtido tomando


uma primitiva particular para p. Em particular, aplicando a fórmula (9) à
equação (4) obtemos então
− 21 dx x
R
µ=e = e− 2 ,

o fator integrante considerado acima para resolvê-la.

3
Exemplos de aplicação

1. Determine a corrente elétrica em um circuito elétrico do tipo RC,


supondo que E(t) = E0 constante.
Solução: Neste caso, a equação diferencial a ser estudada é
1
RI 0 + I = 0,
C
ou seja,
1
I0 = − I. (10)
RC
Todas as soluções de (11) são da forma
1
I = ce− RC t , (11)

para alguma constante c. De fato, tomando t = 0 em (11) obtemos


1
I = I(0)e− RC t .

2. Determine a corrente elétrica em um circuito elétrico do tipo RC,


1
supondo que E(t) = eat , onde a < 0 e a 6= − RC .
Solução: Neste caso, a equação diferencial a ser estudada é
1
RI 0 + I = aeat ,
C
ou seja,
1 a
I0 + I = eat . (12)
RC R
1 a
Para simplificar a notação, escrevamos α = RC
e β = R
. Um fator
integrante para resolvermos (12) é então
R
α dt
µ=e = eαt . (13)

De fato, multiplicando os dois lados de (12) por µ obtemos


d
Ieαt = eαt I 0 + αeαt I = βe(α+a)t .

dt
4
Daı́, Z
−αt β −αt β at
I = βe e(α+a)t dt = c e + e , (14)
α+a α+a
para alguma constante c. Tomando t = 0 em (14), deduzimos
α+a
c = I(0) − 1,
β
e assim,
β
I = I(0)e−αt − eat − e−αt .

(15)
a+α
Ou seja,
1
− RC t a 
at 1
− RC t

I = I(0)e − e −e .
aR + C −1

Exercı́cios

(a) Encontre todas as soluções de


(i) y 0 + y = xe−x + 1.
(ii) ty 0 + 2y = sin t.
dy 1+y
(iii) = .
dx 1+x
(b) Considere a equação y 0 + (cos x)y = e− sin x .
(i) Encontre a solução y tal que y(π) = π.
(ii) É verdade que toda solução y tem a propriedade

y(kπ) − y(0) = kπ,

para k ∈ Z?
(c) Considere a equação x2 y 0 + 2xy = 1.
(i) Mostre que as soluções em I = (0, ∞) tendem a zero no in-
finito.
(ii) Determine as soluções y tais que y(2) = 2y(1).

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