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PROFFORMA Nº 10 – Junho de 2013 Conversando com Marcelo Rebelo de Sousa

Conversando com Marcelo Rebelo de


Sousa, professor na Universidade de
Lisboa
Luísa Moreira
CEFOPNA

Profforma – Sr. Professor, como encara, impossível e indesejável, na primeira


hoje, o ensino básico e secundário em exigência, e complexo, na segunda.
Portugal?
Profforma – O ministro Nuno Crato,
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Têm antes de ser ministro, foi um crítico do
vivido em mudança permanente. Nuns sistema. Os professores conhecem o
casos, com sucesso cabal. Noutros, mais ou seu polémico “Eduquês”, entre outras
menos. Mas, os problemas sentidos não tomadas de posição públicas. Como
são, uns, diferentes dos experimentados encara a sua prática, considerando o
por toda a sociedade, e, outros, dos que que defendia?
atravessam países que nos são próximos
em geografia ou crise. Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Chegou
ao Governo no meio de uma crise, que
Profforma – Ultimamente, os impõe sacrifícios draconianos. Acho que
professores, e a Escola Pública, têm continua a pensar como pensava. E
sido alvo de críticas frequentes da que deve estar a fazer o equilíbrio
opinião pública. Como encara essas impossível entre o ideal e o
críticas? Parecem-lhe justificadas? viável, que é pouco ou muito pouco.
Pagando a inerente factura
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Em crise, política.
a busca de bodes expiatórios é ainda mais
tentadora. Num tempo em que televisão e Profforma – Uma das medidas
internet destronaram a impostas pela actual equipa do
família, como agente educativo, e ela sofre Ministério da Educação, e que muita
muito para sobreviver, pode polémica tem causado, prende-se com
ser apelativo exigir aos professores que o crescendo de número de alunos por
substituam a família e superem televisão e turma. De 28 a 30 crianças e jovens por
internet. O que é manifestamente turma, parece-lhe um número
facilitador de aprendizagens?

1 Luísa Moreira
PROFFORMA Nº 10 – Junho de 2013 Conversando com Marcelo Rebelo de Sousa

Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Claro que Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Dentro
não. É uma óbvia imposição da crise. E dos recursos limitados, têm feito obra
só... meritória.

Profforma – Com a mudança Profforma – De acordo com o Professor


alucinante do mundo que integramos, Roberto Carneiro, mais cortes na
sem dúvida novas metodologias e Educação significam a destruição do
didácticas se impõem. Sem dúvida as sistema. Concorda com a afirmação?
tecnologias são hoje indispensáveis,
conseguiremos conciliá-las com o Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Em
desenvolvimento de uma educação princípio sim, mas depende dos cortes, que
humanista? ainda não conhecemos.

Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Teremos Profforma – Os mega agrupamentos,


de conciliar. Nunca esquecendo que o sobretudo no interior onde,
essencial são os fins personalistas, não os concretamente no Alentejo, as
meios tecnológicos. distâncias são enormes, têm sido muito
contestados pelos professores e pessoal
Profforma – Sem dúvida, cremos, à não docente. Como encara esta
Escola Pública cabe, entre muitas decisão?
outras dimensões, manter a raiz
cultural e identitária de um povo. Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Nunca a
Considerando os actuais programas de vi como ideal.Nem no Alentejo,nem
História e de Português, nos ensinos noutro Portugal ainda rural. É justificada
básico e secundário, parece-lhe que os ou eventualmente justificável sobretudo
últimos governos têm acautelado esta por estritas razões financeiras.
dimensão formativa?
Profforma – Se o senhor Professor fosse
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Penso que convidado para Ministro da Educação,
se pode mudar, nesse particular, para e partindo do pressuposto que aceitaria
melhor, no que toca a problemas de o cargo, quais as três primeiras
expressão em português e de domínio de medidas que adoptaria?
inglês, muitas vezes visíveis.
Prof. Marcelo Rebelo de Sousa - Hoje,
Profforma – A formação contínua de tudo visto e somado, não aceitaria a
professores, apesar da longa função, num só Ministério da Educação,
congelação da progressão da carreira envolvendo também o Ensino Superior e a
docente, continua a acontecer e Ciência. E, a haver separação, não aceitaria
depende, em grande parte, da acção ser Ministro da Educação, por
dos CFAE (Centros de Formação de entender estar esgotada a fórmula de um
Associação de Escolas). Como avalia o Ministro para os outros graus de ensino ser
desempenho destas entidades ao longo um professor universitário
dos últimos 20 anos?

2 Luísa Moreira

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