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Patologias de Edifícios Históricos Tombados

Estudo de Caso – Cine Teatro Central


Maria Teresa Barbosa, Antônio Eduardo Polisseni, Maria Aparecida Hippert,
White José dos Santos, Igor Moura de Oliveira e Karla Teixeira Monteiro

Fig. 1 - Cine Teatro Central em Juiz de Fora.


Foto autores

1. Introdução
O termo Patrimônio Cultural pode ser entendido como o conjunto de bens de
interesse para a memória do Brasil e de suas correntes culturais formadoras,
abrangendo os patrimônios: arquitetônico, artístico, bibliográfico,
científico, histórico, museológico, paisagístico, entre outros. Dentro deste
contexto, engloba as representações, as expressões, os conhecimentos, as
técnicas e também os instrumentos, os objetos, os artefatos e os lugares que a
eles estão associados; as comunidades, os grupos e, em alguns casos,
indivíduos que se reconhecem como parte integrante de seu patrimônio cultural,
e está associado a construção e a acumulação de bens e à sua permanência, no
tempo e no espaço, portanto, à História e à sua continuidade e trajetória. São
os testemunhos da história e da cultura, produzidos pelos grupos sociais, que
permitem conhecer o modo de vida de pessoas que viveram em outras épocas e
lugares, em situações diferentes das nossas. Tudo isto nos conscientiza de que
fazemos parte de um todo maior, que continua nos dias de hoje e se estenderá
para o futuro (1).
Se a ocorrência de problemas patológicos é grande nos edifícios atuais, é bem
maior nos antigos, como no caso do Cine Teatro Central (vide figuras 1 e 2),
que constitui uma das principais atrações turísticas da cidade de Juiz de Fora
(Minas Gerais – Brasil). A caracterização da sua estrutura é o principal
objetivo, sendo também importante o conhecimento da sua história, projeto e
intervenções, a partir de dados coletados e depoimentos de pessoas envolvidas,
direta ou indiretamente, em concepção e realização (2).
Fig. 2
Foto autores

Deve-se, portanto, levantar dados suficientes buscando detectar o envolvimento


das autoridades no que se refere à preservação e restauração para se evitar a
destruição do patrimônio arquitetônico e o rompimento da consciência
histórica.
A edificação se encontra com a fachada frontal direcionada para Praça João
Pessoa e os fundos para Rua Barão São João Nepomuceno; as laterais encontram-
se as galerias Ali Halfeld e Azarias Vilela. Possui os serviços: água, luz,
telefone, rede de esgotos e águas pluviais, rede viária pavimentada e coleta
de lixo.
Sua estrutura é constituída, basicamente, em alvenaria de tijolo maciço com
elementos de pórticos em concreto armado. A laje principal é reforçada com
estrutura metálica, devido a sua pequena espessura. Constata-se a presença de
marquises e platibandas em todo o seu perímetro; o telhado é constituído de
duas águas em telha cerâmica, tipo francesa, apoiada sobre uma estrutura mista
composta por: madeira (caibros e ripas) e aço (tesoura); entre a telha e a
ripa há uma película impermeável para promover a prevenção contra possíveis
vazamentos.
O teatro pode ser subdividido em duas partes: a área técnica e área de acesso
público. A área técnica é constituída por 4 (quatro) pavimentos, sendo
o primeiro, o subsolo, composto por: área de serviço, 2 (dois) banheiros, 2
(dois) depósitos, caixa d’água, 1 (uma) entrada de serviço e um fosso
destinado a uso de orquestra. O segundo pavimento encontra-se o palco, 2
(dois) camarins e área de circulação. O terceiro, contempla 2 (dois) camarins,
sala da antiga projeção e área de circulação e, finalmente,
o quarto pavimento, além da sacada há o urdimento.
A área de acesso ao público é composta por 3 (três) pavimentos e o sótão.
No primeiro verifica-se a existência do Foyer, de 2 (duas) bilheterias, de 2
(dois) halls de acesso às escadas, de 4 (quatro) escadas, da plateia, do hall
da plateia, de 2 (dois) balcões laterais, de 9 (nove) banheiros e de 3 (três)
depósitos. O segundo pavimento é constituído pela área para camarotes, 2
(dois) camarotes especiais, balcão nobre, hall, 4 (quatro) banheiros e 2
(duas) escadas com hall. O terceiro apresenta além da área da galeria, sala de
projeção, 5 (cinco) banheiros, 2 (dois) halls de acesso às escadas e 1 (uma)
escada de acesso ao sótão e, finalmente, ao nível do sótão há uma sacada.
2. Metodologia
O programa foi dividido em cinco etapas. Considerando as mesmas de forma
sucinta, tem-se: pesquisa bibliográfica; estudo de manutenção de imóveis
históricos tombados; estudo de casos: análise, inspeção preliminar, detecção
da necessidade de intervenção; análise das condições de manutenção de bens
públicos tombados (análise histórica do edifício, levantamento fotográfico das
patologias encontradas, seleção da estratégia a adotar, levantamento e
diagnóstico) e, finalmente, uma sistemática de proposta para recebimento dos
serviços a serem desenvolvidos.
Este trabalho pretende atingir resultados que possam contribuir para se
estimar, com maior consistência, os efeitos produzidos pela má conservação dos
patrimônios antigos e bens tombados bem como, das consequências dos maus
tratos com relação à conservação dos mesmos, o que poderá proporcionar, no
futuro, restaurações, recuperações e revitalizações mais precisas.
3. Avaliação e diagnóstico das patologias da edificação
3.1. Vistoria nas fachadas da edificação
A área externa do teatro reflete a aparência e a beleza do patrimônio
histórico – Cine Teatro Central, necessitando de observações nas questões
podem vir a contribuir para a degradação e o comprometimento da vida útil da
edificação. Neste sentido, constatam-se algumas anomalias que deverão ser
sanadas a fim de restaurar/ recuperar e garantir o perfeito funcionamento dos
elementos construtivos da edificação.
3.1.1. Fissuras na união parede - piso externo
Constatou-se a presença de fissuras na união parede/pavimento externo
(calçamento) em praticamente toda a extensão do teatro, principalmente nas
regiões localizadas nas galerias; essas são oriundas de movimentações
higrotérmicas entre componentes distintos, conforme ilustrado na Figura 3.
Deve-se considerar inclusive, o declive inadequado do pavimento que propicia o
acúmulo de água nessas regiões, bem como o desenvolvimento de fungos e bolores
e favorece o acesso da água para o interior da edificação.

Fig. 3
Foto autores

3.1.2. Recalque no piso do passeio na fachada frontal


Observou-se, conforme ilustrado na Figura 4, um recalque próximo à escada de
acesso a entrada principal do teatro, oriundo, provavelmente, de vazamentos na
rede de capitação e/ou distribuição de água pluvial e/ou esgoto da cidade.
Verifica-se a ocorrência, sem sucesso, de intervenções a fim de sanar tal
transtorno.

Fig. 4
Foto autores

3.1.3. Fissuras por atuação de sobrecarga nas aberturas de janelas


Observa-se o aparecimento de fissuras, com inclinação de cerca de 450, no
canto das aberturas de janelas e basculantes geradas pela falta e/ou
deficiência de vergas e contra-vergas, oriundo de erros no processo
construtivo da edificação, vide Figura 5. Salienta-se que esta patologia
possibilita a percolação de água e, posterior deterioração da argamassa de
revestimento, bem como dos materiais constituintes devido às movimentações
higroscópicas.
Fig. 5
Foto autores

3.1.4. Degradação da marquise, sobre muros e guarda-corpo das fachadas da


edificação
Constatou-se o desenvolvimento de bolor e fungos, bem como o desprendimento do
emboço nas extremidades das marquises devido à inexistência de pingadeira,
vide Figura 6. Tal fato foi observado em toda a extensão da fachada da
edificação.

Fig. 6
Foto autores

A presença de umidade constante no guarda corpo e nos muros das fachadas


propiciam o desenvolvimento de microorganismos (fungos e bolores) resultando
na degradação da pintura e da argamassa de revestimento, comprometendo, assim
a vida útil dos materiais, conforme ilustrado na Figura 7.

Fig. 7
Foto autores

3.1.5. Fissuras nas paredes externas


Constata-se a presença de fissuras na parede da varanda frontal, exposta,
diariamente a variação de temperatura, vide Figura 8. Verifica-se que é
oriunda da má execução dos serviços de reparo efetuados que desrespeitaram os
procedimentos necessários a serem adotados quando da união entre materiais
distintos, ocasionando tensões e resultando na ruptura, ou seja, fissura.

Fig. 8
Foto autores

3.1.6. Telhas quebradas e/ou empenadas no telhado


Recentemente ocorreu uma reforma no telhado, sendo assim, constata-se que sua
estrutura está adequada, porém nota-se a ocorrência de telhas quebradas e/ou
empenadas que poderão ocasionar o aparecimento de vazamentos que serão
minimizados pelo sistema de impermeabilização existente entre as telhas e as
ripas, vide Figura 9.

Fig. 9
Foto autores

3.1.7. Infiltração oriunda do sistema de impermeabilização (marquise e sacada


frontal)
A Figura 10 apresenta as imagens do teto da laje situada na entrada principal
do teatro, onde constata-se diversos pontos com presença de umidade
(infiltração de água), oriundos do vazamento do sistema de impermeabilização
utilizada na marquise (manta), bem como a deficiência no funcionamento dos
ralos, que se encontram, muitas vezes, entupidos.
Fig. 10
Foto autores

3.2. Vistoria na parte interna da edificação


A área interna, assim como a externa do Cine Teatro Central, reflete a
aparência e a beleza do patrimônio histórico, necessitando de uma atenção
especial nas questões que podem contribuir para a degradação e o
comprometimento da vida útil da edificação. Neste sentido, observa-se algumas
anomalias que deverão ser sanadas a fim de restaurar/ recuperar e garantir o
perfeito funcionamento dos elementos construtivos da edificação. A seguir são
apresentadas as patologias identificadas com suas respectivas medidas
corretivas
3.2.1. Conservação dos pisos
Por meio de uma análise visual constataram-se diversas patologias nos pisos da
edificação, a saber:
 Ladrilhos hidráulicos: observou-se a existência de ladrilhos quebrados e/ou
com elevado índice de desgaste superficial e/ou deteriorados pela ação das
intempéries. Deve-se considerar, inclusive, a presença de fissuras e o
descolamento de algumas peças, que sofreram reformas com o emprego de cimento
queimado, muitas vezes, de coloração e textura diferenciadas, evidenciando a
deficiência no controle tecnológico na execução deste serviço; vide Figura 11.
 Piso queimado das plateias: o piso de cimento liso, queimado (vermelhão),
apresenta-se com pontos de deterioração com o aparecimento de fissuras e
elevado desgaste.
 Pisos vinílico: os pisos de PVC, existente nos camarins e na bilheteria
apresentam-se desgastados e deteriorados.
 Pisos cerâmicos: os pisos cerâmicos utilizados nos banheiros dos camarins e
dos Funcionários apresentam-se deteriorados, trincados e manchados com vida
útil comprometida pelo uso e falta de manutenção.Deve-se considerar inclusive
que os azulejos utilizados nos banheiros dos camarins, das plateias, dos
servidores e das bilheterias apresentaram algumas patologias, sendo as
principais: deficiência no material de rejunte, descolamento de placas de
azulejo, danos oriundos dos serviços de manutenção de rede hidráulica, trincas
devido à atuação de sobrecargas (falta de contraverga).
Fig. 11
Foto autores

3.2.3. Conservação das pinturas e revestimentos das paredes


As paredes da edificação merecem muita atenção ao se propor qualquer
alteração, uma vez que, a maioria, está incluída no tombamento do patrimônio
histórico. As principais patologias identificadas e suas medidas de correção
são listadas a seguir.
 Fissuras devido a falta de verga e contraverga: as fissuras devido à falta
contra-vergas, conforme se observa na Figura 5, é um exemplo de patologia
presente em cerca de 80% das paredes nas regiões próximas as janelas,
basculantes e portas(vergas) da edificação. Tal fato é oriundo da atuação de
sobrecargas, ocasionando a entrada de água (umidade) e a deterioração.
 “Cantos vivos” danificados: verifica-se vários “cantos vivos” (quinas)
quebrados nas paredes do teatro, vide Figura 12, bem como no detalhe
artísticos existente no palco, que comprometem o sistema de pintura. Essas
patologias são geradas pelo atrito e impactos de equipamentos e utensílios
utilizados nas apresentações realizadas.
 Umidade ascensional: vários locais na edificação, no primeiro pavimento,
apresentam patologias ocasionadas por umidade ascensional, conforme de observa
na Figura 13. Esta corresponde a um foco de umidade na parte inferior de
paredes com descolamento/estufamento da pintura/revestimento causando
deterioração da mesma.
 Inclinação inadequada dos peitoris das janelas: as janelas, em praticamente
sua totalidade, apresentaram peitoris com inclinação para região interna da
edificação. Como não existe pingadeira tem-se o retorno da água de chuva e
consequentemente a deterioração da argamassa de revestimento e da pintura,
vide Figura 14.
 Reparos mal executados: o teatro tem sofrido pequenas intervenções (reparos),
contudo a sua efetivação necessita de cuidados, conforme ilustrado na Figura
15. Ressalta-se, nesses casos, principalmente as pinturas da parede devido a
sua importância histórica.
 Patologias de umidade causados por vazamentos nas calhas de esgotamento
pluvial do telhado: observou-se, nas regiões superiores do teatro, a presença
de manchas de umidade oriundas, possivelmente, de vazamentos da tubulação de
captação de água do telhado. A Figura 16 apresenta o detalhe de um dos cantos
superiores do teatro. Pode-se observar que os vazamentos estão deteriorando a
pintura e ocasionando a formação de microrganismos (fungos).
Fig. 12
Foto autores

Fig. 13
Foto autores
Fig. 14
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Fig. 15
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Fig. 16
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3.2.6. Recalque da região frontal do palco


Verificou-se que a parte frontal do palco apresenta 2 cm de desnível em
relação ao piso de cimento situado em região posterior. Percebe-se riscos aos
artistas e aos operadores. A Figura 17 mostra os detalhes deste desnível no
palco.

Fig. 17
Foto autores

3.2.7. Conservação das portas


As portas encontram-se desgastadas, com presença de umidade e cupins, partes
quebradas, falta de fechaduras e/ou dobradiças.
Nas portas de vários cômodos é possível verificar as más condições das
fechaduras, trincos e dobradiças. Algumas portas da edificação detectam-se a
presença de cupins (60%) danificando a sua estrutura e estética.
3.2.8 – Conservação das Janelas
Durante a vistoria diagnosticou várias patologias nas janelas da edificação. A
maioria oriunda da ação do intemperismo e da falta de manutenção, destacando-
se: janelas apodrecidas oriunda da presença de umidade, regiões danificadas
devido a falta de serviços de manutenção, janelas com vidros quebrados e/ou
desuniformes com os modelos existentes no teatro.
4. Sistemática de produção e recebimento da obra
As fases de planejamento e projeto dizem respeito à previsão da edificação,
portanto, as decisões tomadas nessas fases são aquelas que influenciam
diretamente na qualidade do ambiente construído. Salienta-se que o
planejamento é um instrumento de integração entre a concepção e a produção,
enquanto que o projeto é o instrumento que viabiliza a produção do
empreendimento, concretizando a concepção (3).
No que se refere ao projeto, constata-se que se for efetuado inadequadamente
ocorrerá o surgimento de falhas, na relação com: o planejamento, a
determinação de fabricantes e fornecedores de materiais, além de graves
problemas na execução dos serviços, refletindo para os usuários e para a etapa
de operação e manutenção.
Dentre deste contexto, verifica-se que a etapa de projeto está configurada
como o fluxo de atividades de decisões que caracterizam por momentos
fundamentais, como: análises dos vínculos e objetos do projeto, elaboração de
hipóteses de soluções, determinação de soluções e a verificação da
correspondência das mesmas com os objetivos propostos. Essa verificação é uma
condição necessária e suficiente para um bom projeto, controlando e validando
a garantia de qualidade de um projeto de construção.
A fase preliminar de um projeto consiste em definir os vínculos e os objetos
do mesmo, conhecida também, por instruções. O responsável pode ser o
contratante com a ajuda de construtores e projetistas, para que se definir os
objetivos iniciais da qualidade em termos de funcionalidade e ambiente ou
então, mais genericamente, tecnológica. Nesta fase, são definidos todos os
objetivos, tanto técnicos quanto econômicos e, como será possível alcança-los
em função dos recursos disponíveis.
Na fase seguinte, denominada projeto funcional, são definidas as
características morfológicas e dimensionais dos espaços e dos elementos a fim
de se satisfazer as exigências dos usuários, terminando-a com a identificação
dos defeitos que devem ser estudados nas fases seguintes.
A fase de definições das tecnológicas de uma edificação, considerando a
durabilidade de um edifício e suas partes, poderá ser denominada por projeto
tecnológico. Esta, também, e uma fase prescritiva onde se define os elementos
técnicos que garantam as condições de funcionalidade, habitabilidade e
conforto dos ambientes. E, finalmente, efetua-se o controle da durabilidade do
projeto, que resulta em soluções técnicas, em definições dimensionais,
materiais e construtivas, da partes que constituem cada elemento da
edificação.
O quadro 1 apresenta alguns fatores que podem ser gerados nas diferentes fases
do projeto. O controle da durabilidade de uma solução poderá ser analisado
através da “análise do mecanismo de falhas”, podendo ser realizado
concomitantemente com o comportamento dos materiais, através de ensaios
diretos e indiretos, podendo ser obtida por:
 Determinação dos elementos técnicos e instalações que constituem o sistema
tecnológico do edifício;
 Determinação dos agentes degradantes, aos quais aos materiais estão sujeitos;
 Estabelecimento de uma correlação entre as alterações dos materiais e a
modificação geométrica e funcional dos elementos;
 Determinação da gravidade da falha e sua estimativa quantitativa e
qualitativamente.
Um exemplo ilustrativo da proposta apresentada está descrito no Quadro 2, no
que se refere à confecção de argamassas. Estes requisitos fundamentais devem
garantir a garantia da qualidade e durabilidade das mesmas. Salienta-se que
para o controle da durabilidade a solução proposta deve determinar os
possíveis erros patológicos mediante uma análise dos mecanismos de falhas.
Conhecer as principais propriedades das argamassas no estado fresco (p. ex.:
trabalhabilidade, retenção da água), que resultam nas propriedades do estado
endurecido (p.ex.: capacidade de absorver deformações) é uma forma eficaz de
evitar alguns erros grosseiros que resultam em patologias.
Ao longo do tempo, independente do tipo do material ou do uso à que se
destina, deve-se exigir sempre as mesmas funções básicas das argamassas: unir;
vedar; regularizar e proteger.
Quadro 1 – Definições para cada uma das fases do projeto de uma edificação
Fase do projeto Produto Fatores a considerar

Objetivos e características gerais da edificação, tempo


previsto, usuário, atividades, requisitos e especificação Erros na definição do objetivo da
Instrução funcional, dos ambientes e tecnológicas. qualidade.

característica morfológica-dimensional dos espaços e dos


Projeto elementos, tipo de ação para o usuário em cada ambiente Espaço inadequado para o
funcional (tipologia do elemento espacial) desenvolvimento das atividades previstas

Erro na definição tecnológica, nos


Projeto Requisitos e especificações tecnológicas, modelos objetivos relacionados a caracterização
tecnológico funcionais e tecnológicas. do uso.

Modelo de funcionamento primário da edificação e suas Erros na determinações dos materiais,


Durabilidade do partes onde se determina as soluções técnicas a serem deficiência na análise dos agentes
projeto adotadas internos e externos.

Quadro 2 – Exemplo de análise dos fatores que podem ser alterados para a
execução de argamassa
Argamassa Argamassa

Função (concepção) Argamassa (material) (execução)

Especificar espessura, traço que


garanta durabilidade da Emprego de materiais livre de impurezas Garantir a perfeita execução
Materiais edificação. e traço do serviço.

Comprometimento da durabilidade e da Uniformidade e garantia na


Proteção e impermeabilidade a vida útil devido a má qualidade dos perfeita execução dos
Causas penetração de agentes agressivos materiais serviços.

Garantia da qualidade e da
Efeito Aumento da durabilidade Aumento da durabilidade durabilidade

Gravidade Alta Alta Alta

Frequência Alta Alta Alta

Normalização técnica vigente ou


Alternativa definição do emprego de outra. A ser definida Gerenciamento da produção.

5. Conclusão
A manutenção de edifícios possui um significado abrangente tanto econômico,
social, acadêmico, cultural e técnico quanto jurídico. Nos países
desenvolvidos, o valor em cada ano pode atingir 2% do valor total dos prédios,
no Brasil, este valor poderá ser maior devido ao baixo controle de qualidade.
Segundo a normalização brasileira entende-se por manutenção de edifícios “o
conjunto de atividades a serem realizados para conservar ou recuperar a
capacidade funcional da edificação e de suas partes constituintes, de atender
as necessidades e segurança dos seus usuários. Dentre as necessidades dos
usuários enquadram-se as exigências de segurança, saúde, conforto, adequação
ao uso e economia cujo, atendimento é condição para realização das atividades
previstas no projeto” (4).
O diagnóstico das patologias de um edifício como um todo ou em suas partes
significa identificar as manifestações e sintomas das falhas, determinar as
origens e mecanismos de formação, estabelecer procedimentos e recomendações
para a prevenção. A partir do diagnóstico é possível planejar as atividades de
recuperação, restauração, dentre outras. Estes dados apóiam os serviços de
manutenção, que busca maximizar o desempenho quanto à segurança e
habitabilidade dos edifícios e minimizar os custos dos serviços e as
intervenções a serem efetuadas no mesmo.
As patologias do Cine Teatro Central indicam os problemas que vêem surgindo
através dos tempos, por isso, o objetivo é preservar as referências culturais
relevantes, remontar as características tradicionais e intrínsecas à sua
condição. No entanto, um projeto de preservação desse tipo não é simples de
ser implantado, mas, uma vez que se começa, fica muito mais fácil de
continuar.
Espera-se, através deste enfoque, obter resultados que possam contribuir para
se estimar, com maior consistência, os efeitos produzidos pela má conservação
dos patrimônios antigos e seus acervos, bem como das consequências dos maus
tratos com relação à conservação dos mesmos, proporcionando, no futuro,
restaurações, recuperações e revitalizações mais precisas.
A simples ação de preservação e conscientização pode fazer crescer a sociedade
no futuro, pois o presente e o passado são coisas importantes para o
crescimento. Portanto, é preciso criar uma consciência ativa para preservar os
patrimônios culturais, ou as gerações futuras conhecerão o passado apenas
através dos álbuns de fotografias. Se não for levada a sério a preservação,
breve só restará o arrasamento de marcos, a destruição de patrimônios
arquitetônicos e muito arrependimento.
notas
1
BARBOSA, Maria Teresa; FINOTTI, Marzio H.; SOUZA, Vicente C. “Patologias de
Edifícios Históricos Tombados de Propriedade da Administração Pública”,
In: Congresso Internacional sobre Patologia e Reabilitação de Estruturas. Aveiro,
Portugal, 2008.
2
Universidade Federal de Juiz de Fora - UFJF (2007). Cine Teatro Central. Disponível
em: <http://www.ufjf.edu.br >.
3
BARBOSA, Maria Teresa; SANTOS, W. “Controle de Projeto como Instrumento de
Prevenção de Patologias nos Postos de Saúde localizados na cidade de Juiz de Fora”,
In: X Congreso Latinoamericano de Patología y XII Congreso de Calidad en la
Construcción. CONPAT 2009. Anais. Valparaíso, de 29 de setembro a 2 de outubro,
2009.
BARBOSA, Maria Tereza; PIRES, Verônica L. “Prevenção de Fissuras em Argamassas de
Revestimento através do Controle na Etapa de Produção de Uma Edificação”, In: 4th
International Conference on Structural Defects and Repair (CINPAR). Portugal, 2008.
ANGELIS, E.; POLTI, S.; TISO, A. “El Controle del Proyecto como Instrumento para la
Prevención de lãs Patologias de la Co0nstrucción”, In: IV Congresso Iberoamericano
de Patologia das Construções. (CONPAT). Porto Alegre, v. 2, 1997, p. 309-318.
GUS, Marcio. “Um Modelo para Gestão da Qualidade na Etapa de Projeto”, In: Gestão
da Qualidade na Construção Civil. Porto Alegre. 1997, pp. 29-58.
SOUZA, Roberto; MEKBEKIAN Geraldo; SILVA, Maria A.; LEITÃO, Ana C.; SANTOS, Márcia
M. Sistema de Gestão da Qualidade para Empresas Construtoras. São Paulo, PINI,
1995.
4
ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS: NBR 5674. (1999). Manutenção de Edifícios
– Procedimentos.
sobre os autores
Maria Teresa Gomes Barbosa é Engenheira Civil, D.Sc. pela COPPE/UFRJ, Professora
Associada da UFJF, coordenadora do Programa de Pós-graduação em Ambiente
Construído/UFJF. Áreas de interesse: materiais de construção civil, patologia das
construções, inovação tecnológica, enfocando, principalmente o Ambiente Construído
e sua sustentabilidade.
Antônio Eduardo Polisseni é Engenheiro Civil, D.Sc. pela UFRGS, Professor Associado
da UFJF. Áreas de interesse: materiais de construção civil, patologia das
construções, inovação tecnológica, enfocando, principalmente o Ambiente Construído
e sua sustentabilidade.
Maria Aparecida Steinherz Hippert é Engenheira Civil, D.Sc.pela COPPE/UFRJ,
Professora Adjunta da UFJF. Áreas de interesse: materiais de construção,
gerenciamento de empreendimento, inovação tecnológica e informação tecnológica.
White José dos Santos é Engenheiro Civil, aluno do curso de Mestrado Acadêmico em
Ambiente Construído/ UFJF. Áreas de interesse: materiais de construção, manutenção
de edifícios, sustentabilidade da edificação.
Igor Moura de Oliveira é Bolsista de Treinamento Profissional da UFJF – Projeto:
Cine Teatro Central, graduando do curso de Engenharia Civil da UFJF.
Karla Teixeira Monteiro é Bolsista de Treinamento Profissional da UFJF – Projeto:
Cine Teatro Central, graduando do curso de Engenharia Civil da UFJF.

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