Carta de Mingyur Rinpoche que está em retiro isolado há
aproximadamente 2 anos, traduzida para o português por
Luisa Vanossi, via Tergar Brasil.
"A minha querida mãe, familiares, comunidade monástica, estudantes e a todos
aqueles que têm alguma conexão comigo. Pelas bênçãos dos gurus, eu estou com boa saúde e não enfrentei nenhum obstáculo. Neste momento eu estou vagando de um lugar a outro, sem nenhuma localização fixa. Neste momento eu estou com Lama Tashi que encontrei inesperadamente. Lama Tashi pediu com sinceridade se poderia me acompanhar e eu aceitei seu pedido. Ele me deu um pouco de comida, roupas e outras necessidades. Ele também falou sobre as boas e más notícias, que me deixaram numa mistura de sensações de felicidade e tristeza. Recentemente, Lama Tashi tem praticado diligentemente a fundação do budismo (ngondro) e as práticas principais do Mahamudra e Dzogchen. Eu tenho vagado sem localização fixa, ficando isolado nas montanhas e em outros locais assim como estes. Eu tenho tido sensações de felicidade e sofrimento, que surgem e desaparecem, assim como as ondas dos oceanos. Algumas vezes, foi difícil receber comida e roupa, e por isso senti frio, sede e fome. Mesmo ao pedir esmolas, algumas vezes não recebia nada além de insultos e palavras grosseiras. Outras vezes, sem nenhum esforço ou sem nem mesmo pedir recebia comidas e roupas, e em minha mente era como se estivesse desfrutando os prazeres dos deuses. Ao ter experiências tanto de felicidade como de sofrimento, o mais importante foi uma profunda e verdadeira sensação de certeza que surgiu no meu mais profundo ser, que seja lá o que aconteça, eu sei que a verdadeira natureza destas experiências, na sua verdadeira essência, é a consciência plena atemporal e a vasta compaixão. Esta clareza natural da consciência plena tem estado conosco desde o princípio. É a verdadeira essência e verdadeira natureza das nossas mentes. Estão sempre presentes, durante o dia e durante a noite. Por esta razão, cada um deve manter o fluir da pura consciência plena através de suas melhores habilidades, sem meditar, mas também sem se perder nas distrações. Grande amor e compaixão são também qualidades inatas do nosso ser. Todos os pensamentos, emoções destrutivas, e sofrimentos que nos deparamos são, em essência, permeados por uma vasta compaixão. Como sinal disto, nós naturalmente queremos desfrutar a felicidade e ser livres de sofrimento. Todos os seres têm uma grande compaixão e sabedoria, mas nem sempre é aparente. Isto simplesmente acontece por que não reconhecem o que na verdade já tem dentro de si. Por isso, além do mero reconhecimento da nossa verdadeira natureza, não existe nada em que devemos meditar. Reconhecendo a importância disto, eu passei alguns dias me sentindo alegre e contente, vagando pelas montanhas e vales ficando em diferentes locais. De coração, eu sinceramente encorajo todos vocês a praticarem diligentemente desta maneira. A meu pedido Lama Tashi retornou a cidade com esta carta e algumas fotos do meu retiro. Eu espero que vocês gostem. Eu rezo para que em breve nos reencontremos, e possamos estar todos juntos compartilhando felicidade e alegria para aproveitar a riqueza do Dharma."