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MANUAL SISTEMATIZADO
(Processo Penal)
Bibliografia utilizada:
CAPEZ, Fernando. Curso de Processo Penal. 21. Ed., São Paulo: Saraiva, 2016.
OLIVEIRA, Eugenio Pacelli de. Curso de Processo Penal. 21. ed., São Paulo: Atlas, 2017.
LIMA, Renato Brasileiro de. Curso de Processo Penal – Niterói, Rj: Impetus, 2017.
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
1. PROCESSO .................................................................................................................. 4
DOS PROCEDIMENTOS
1. Processo
Segundo Renato Brasileiro de Lima, “processo é instrumento por meio do qual o estado
exerce jurisdição, havendo entre seus sujeitos (partes e juiz) uma relação jurídica, que impõe a todos
deveres, direitos, ônus e sujeições”. Logo, processo nada mais é do que o meio pelo qual a atividade
jurisdicional se concretiza, ao passo que procedimento constitui o instrumento viabilizador do
processo”.
Cuidado para não incluir a ideia de “ação” dentro do conteúdo de “processo”. Ação é, na
verdade, um fenômeno da realidade, matéria que deve anteceder a análise do processo. Logo
Os procedimentos podem ser comuns ou especiais, matéria que veremos mais a frente.
Antes porém de partir para esse assunto, iremos analisar os pressupostos processuais.
2. Pressupostos Processuais
Pressupostos processuais são elementos que devem estar presentes para a existência
válida da relação jurídico processual. Faltando qualquer deles, o processo não poderá se desenvolver.
Esse ponto é um pouco controverso na doutrina, e cada autor costuma trazer uma
classificação própria para os pressupostos processuais. Usaremos, no ponto, as irretocáveis lições de
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
Renato Brasileiro de Lima. Antes de adentrar nas classificações, vejamos trecho da obra de Renato
Brasileiro que explica a diferença entre os pressupostos de existência e de validade:
"a falta de um pressuposto de existência implica na virtual inexistência do processo, que será, assim,
um nada jurídico. Tal, portanto, é um vício mais grave do que a nulidade, pois, enquanto esta em
alguns casos pode ser sanada, e sempre será exigido um instrumento legalmente previsto para sua
decretação, a inexistência não precisa ser declarada e nem admite sanatória. Simplesmente aquele
ato ou processo nunca existiu no mundo jurídico. Já a falta de um pressuposto de validade, como é
intuitivo, só desafia a nulidade, que deverá sempre ser declarada, através de provocação de
instrumento próprio, sendo certo que o ato anulável produz efeitos até que se dê a nulidade (LIMA,
Renato. 2017, p. 1300).
# Esquematizando:
- Demanda
- Partes em juízo
Pressupostos processuais
Art. 394. O procedimento será comum ou especial. (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
§ 1o O procedimento comum será ordinário, sumário ou sumaríssimo. (Incluído pela Lei nº 11.719, de
2008).
I - ordinário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada for igual ou superior a 4
(quatro) anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
II - sumário, quando tiver por objeto crime cuja sanção máxima cominada seja inferior a 4 (quatro)
anos de pena privativa de liberdade; (Incluído pela Lei nº 11.719, de 2008).
III - sumaríssimo, para as infrações penais de menor potencial ofensivo, na forma da lei.
Percebe-se de forma clara que o ponto definidor do procedimento a ser usado no caso
concreto é a pena em abstrato cominada para o crime, não fazendo diferença o fato de tal pena ser
de detenção ou de reclusão.
#Esquematizando:
- Crimes falimentares
- Crimes contra a honra
Procedimento especial - - Crimes funcionais
- Júri popular
- Lei de drogas
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Obs: Na prática, depois da reforma trazida em 2008 ao Código de Processo Penal, restaram
pouquíssimas diferenças entre o procedimento comum ordinário e o sumário, ambos agora prezam
pela celeridade.
#Questãodeconcurso:
(DPESC – 2018) Pode-se afirmar que pelo Código de Processo Penal a definição da categoria do rito
comum não terá como parâmetro a pena máxima cominada abstratamente ao crime.
Resposta: Errado! Como visto, a pena máxima cominada é exatamente o parâmetro usado para
escolha do rito (procedimento)
#Questãodeconcurso
(DPEBA – 2016) O procedimento Sumário é aplicável quando tiver por objeto crime cuja sanção
máxima cominada seja inferior a 4 (quatro) anos de pena privativa de liberdade.
Em seguida, foi adicionado a esse material um quadro resumo para ajudar na verificação
do procedimento cabível ao caso concreto (retirado do livro “Pratica Forense Penal”, do professor
Guilherme de Souza Nucci):
A resposta muda para cada tipo de circunstâncias. Vejamos cada uma deles.
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3.1.1. Qualificadoras:
Para explicar essa questão, Fernando Capez usa o exemplo do crime de Dano (163, caput,
CP), que em sua forma simples tem pena máxima de 6 meses, e por isso segue o procedimento da lei
9.099/95 (sumaríssimo).
Porém, o Paragrafo Único do mesmo artigo 163 do Código Penal apresenta a figura
qualificada do dano. Caso o agente pratique dano contra o patrimônio da União, por exemplo,
responderá pela pena qualificada do delito, que é de até 3 anos. Nesse caso (da figura qualificada),
tendo em vista que a pena máxima é maior que 2 anos e menor do que 4, aplica-se o procedimento
comum sumário .
*Diferenciando:
Qualificadora: prevê nova pena mínima e máxima para condutas mais graves
Causa de aumento: prevê um quantum de aumento (ex: metade (1/2)) em situações apontadas pela
lei.
NÃO interferem no procedimento, pois não alteram a pena base. Nesse sentido, vide o
teor do enunciado 231 da Súmula do STJ:
Súmula 231, STJ: “A incidência da circunstância atenuante não pode conduzir a redução da pena
abaixo do mínimo legal”.
O que fazer caso ocorra conexão entre infrações penais que sigam procedimentos
diferentes? Imagine, por exemplo, que Tício comete, na mesma situação, o crime de Tráfico de
drogas (procedimento especial) e também desacato (procedimento comum sumaríssimo).
Tal questão não é respondida de forma direta pela doutrina, existindo certa controvérsia.
Adverte Fernando Capez que deverá prevalecer o procedimento previsto para a infração mais grave,
nos termos do artigo 78 do CPP. Outros autores, como é o caso de Vicente Greco Filho, defendem
que deve ser usado o procedimento mais amplo, privando assim pela ampla defesa e o contraditório.
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
Na prática, a jurisprudência tem dito que deve se somar as penas máximas, e com esse
resultado aplicar o procedimento cabível.
§ 4o As disposições dos arts. 395 a 398 deste Código aplicam-se a todos os procedimentos penais de
primeiro grau, ainda que não regulados neste Código.
O que a lei tentou fazer foi dizer que em caso de silêncio na legislação específica o
procedimento comum ordinário será usado de maneira subsidiária.
#Questãodeconcurso
(MPE – RO) Todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não regulados pelo Código de
Processo Penal, estarão sujeitos à análise de rejeição da acusação e de absolvição sumária.
Resposta: Certo! É claro o comando legal que afirma serem aplicáveis os artigos 395 a 398 para todos
os procedimentos penais de primeiro grau (comuns ou especiais)
Nesse ponto usaremos as lições de Renato Brasileiro de Lima, autor de analisa muito bem
a temática de “procedimentos”.
Art. 41. A denúncia ou queixa conterá a exposição do fato criminoso, com todas as suas
circunstâncias, a qualificação do acusado ou esclarecimentos pelos quais se possa identificá-lo, a
classificação do crime e, quando necessário, o rol das testemunhas.
*Observa-se que, no processo penal (diferente do processo civil), o juiz pode declarar sua
incompetência de oficio, seja ela relativa ou absoluta.
O que vai guiar o magistrado nessa escolha é o disposto no artigo 395, CPP:
Art. 395. A denúncia ou queixa será rejeitada quando: (Redação dada pela Lei nº 11.719, de 2008).
Ou seja, não estando presentes nenhum dos impeditivos previstos no dispositivo acima, o
juiz irá receber a peça acusatória e determinar a citação do réu para, no prazo de 10 dias, oferecer
resposta escrita (Art. 396, CPP).
Como visto no ponto anterior, existem casos já enumerados pelo CPP em que o juiz irá
rejeitar a peça acusatória. O que faremos nesse tópico é ver um pouco mais detalhadamente cada
um desses casos.
- a classificação do crime e;
Caso falte qualquer dos requisitos da peça acusatória, em regra, haverá rejeição da
denúncia por reconhecida inépcia, fato que poderá ser atacado por Recurso em Sentido Estrito (RESE,
Art. 581, I, CPP).
Pontue-se que a rejeição da peça acusatória com base no dispositivo em estudo (Art. 395,
I, CPP) só gera coisa julgada formal, tendo em vista que não há análise do mérito da imputação. Com
efeito, afirma-se que, caso seja corrigido o vício, é possível a propositura de nova acusação.
De acordo com o artigo 395, II, a denúncia ou queixa será rejeitada quando faltar
pressuposto processual para a ação.
Nesse ponto, remetemos o aluno para o item “2.2” desse capítulo, onde os pressupostos
processuais foram analisados de forma completa. Para relembrar, vejamos o esquema utilizado
naquela oportunidade:
4.3.3. Falta de condições para o exercício da ação penal (Inciso II, 2ª parte e III)
Nos termos do artigo 395, II, 2ª parte, do CPP, a denúncia ou queixa também será
rejeitada caso falte condições para o exercício da ação penal.
Possibilidade juridica
do pedido
Condições da ação
Legitimidade
Interesse de agir
Justa causa
*Obs: Perceba que “justa causa” foi colocado em um inciso separado dentro da análise do artigo 395,
CPP. Pequena parte da doutrina costuma afirmar que isso foi feito pelo fato de que o legislador não
reconhece a justa causa como mais uma das “condições da ação penal”. É importante saber dessa
divergência doutrinária, mas tome nota de que é majoritário o entendimento de que a JUSTA CAUSA é
sim uma das condições da ação penal.
Sem maiores celeumas, afirma o artigo 581, CPP que é cabível recurso em sentido estrito
(RESE) contra decisão que não receber a denuncia ou queixa. Cuidado com o caso de rejeição no
âmbito do procedimento sumaríssimo previsto na lei 9.099/95, em que o recurso cabível será o de
apelação no prazo de 10 dias.
Afirma Renato Brasileiro, que é desnecessária fundamentação profunda por parte do juiz
quando receber a peça acusatória. Segundo o autor (que segue corrente majoritária), não deve
haver excesso na fundamentação justamente para que o juiz não adiante sua decisão final. Se nesse
momento o juiz fizer uma análise muito profunda do caso, pode ser que praticamente já demonstre a
sentença que irá proferir no final do procedimento, o que é inadmissível do ponto de vista do
contraditório e ampla defesa, tendo em vista que o réu ainda não teve a oportunidade de se
defender.
Com isso, afirma-se que no momento do recebimento, o juiz irá apenas atestar a
regularidade da peça acusatória, principalmente se está nos conformes do artigo 41 CPP e se contem
os pressupostos processuais e condições da ação.
Ainda tratando sobre o recebimento da denuncia, há que se ressaltar que em regra não
há recurso para combater tal decisão, tendo em vista ter silenciado do Código. Porém, apesar de não
haver recurso, e considerando que o recebimento da denuncia pode gerar perigo à liberdade de
locomoção do réu, a jurisprudência tem admitido o remédio constitucional do habeas corpus* para
trancar a ação penal, sendo essa a forma atualmente usada para reapreciar a decisão do juiz que
recebe a peça de acusação (denuncia ou queixa).
* Obs: Muito cuidado. O Habeas corpus é ponto que será estudado mais adiante, porém é importante
adiantar que ele só pode ser usado para proteger a liberdade de ir e vir do cidadão. Com isso, afirma-
se tranquilamente que não cabe o remédio do HC caso a única pena possível para o delito no caso
concreto seja uma multa por exemplo (ex: porte de drogas para consumo). Para se usar do HC é
indispensável que seja prevista pena privativa de liberdade ao delito em análise.
4.5. Citação
Recebida a peça acusatória, deve o juiz determinar a citação do acusado para responder à
acusação, por escrito, no prazo de 10 dias. A regra é que a citação será feita pessoalmente, mas, caso
o acusado não seja encontrado, será citado por edital (Art. 366, CPP). Por conseguinte, verificando o
oficial de justiça que o acusado se oculta para não ser citado, deverá ser feita a citação por hora certa
(Art. 362, CPP).
4.6. Revelia
Feita a citação, o acusado fica vinculado ao processo, com todos os ônus daí decorrentes.
Logo, se deixar de oferecer resposta escrita (e tiver sido citado), o processo correrá a sua revelia.
Vejamos o artigo 367, CPP que trata desse ponto:
Art. 367. O processo seguirá sem a presença do acusado que, citado ou intimado
pessoalmente para qualquer ato, deixar de comparecer sem motivo justificado, ou, no caso
de mudança de residência, não comunicar o novo endereço ao juízo.
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
Art. 366. Se o acusado, citado por edital, não comparecer, nem constituir advogado, ficarão suspensos
o processo e o curso do prazo prescricional, podendo o juiz determinar a produção antecipada das
provas consideradas urgentes e, se for o caso, decretar prisão preventiva, nos termos do disposto no
art. 312.
Importante lembrar também que o réu que deixa de comparecer a um ato para o qual
tenha sido regularmente intimado, terá sua fiança quebrada, o que acarretará a perda de metade do
valor recolhido, cabendo ao juiz decidir sobre a imposição de outras medidas cautelares ou, se for o
caso, a decretação da prisão preventiva.
Revelia e presunção de veracidade dos fatos alegados (?): É bem verdade que no processo
civil a revelia gera a presunção de todos os fatos levantados pelo autor que não sejam refutados pelo
réu. No processo penal, em outro giro, isso não ocorre. Por conta do princípio da presunção de
inocência, mesmo que o acusado não compareça ou confesse o delito, subsiste o ônus da acusação
de comprovar a imputação constante da peça acusatória. Não há que se falar, no processo penal, em
confissão ficta ou presumida.
Diante do que foi analisado, afirma a doutrina que a única consequência da revelia no
processo penal é a desnecessidade de intimação do acusado para a prática dos demais atos
processuais (com, exceção da intimação da sentença, que deverá sempre ser feita). Logo, decretada
a revelia do acusado, a comunicação dos atos processuais deverá ser feita apenas ao advogado.
Por fim, caso o acusado revel compareça em momento posterior, cessarão os efeitos da
revelia, passando o acusado a participar do processo conforme o estado em que se encontrar (não
terá direito de repetição dos atos já praticados).
* Cuidado! Em alguns procedimentos especiais, como é o caso da lei de drogas e nos crimes praticados
por funcionários públicos (CPP, 513 a 518), existe a figura da defesa preliminar, que não se confunde
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
com a resposta à acusação. A defesa preliminar tem a finalidade de impedir o recebimento da peça
acusatória, e, justamente por isso, deverá ocorrer antes mesmo do recebimento formal da denuncia ou
queixa crime.
Art. 396-A. Na resposta, o acusado poderá arguir preliminares e alegar tudo o que interesse à sua
defesa, oferecer documentos e justificações, especificar as provas pretendidas e arrolar testemunhas,
qualificando-as e requerendo sua intimação, quando necessário.
Ou seja, como a peça acusatória já foi recebida, o escopo principal da resposta à acusação
é uma eventual absolvição sumária (Art. 397, CPP). Caso a defesa não veja isso como possível, deverá
aproveitar a mesma oportunidade para arguir preliminares, oferecer documentos e justificações,
especificar provas pretendidas e arrolar testemunhas quando necessárias, sob pena de preclusão e
perda da possibilidade de produção de prova testemunhal.
Nos termos do que ensina Renato Brasileiro, não poderá o próprio acusado apresentar
resposta à acusação, à exceção do caso de o acusado ser também advogado inscrito na OAB.
Como visto acima, o prazo para apresentação da referida resposta é de 10 dias, que
deverão ser contados a partir do dia da efetiva citação (e não da juntada do mandado cumprido
como é no processo civil)*. Se a defesa for feita por um defensor público, tal prazo será de 20 dias,
nos termos da Lei Complementar 80/94 (Lei orgânica da Defensoria pública).
Súmula 710 - No processo penal, contam-se os prazos da data da intimação, e não da juntada aos
autos do mandado ou da carta precatória ou de ordem.
Importante lembrar que a absolvição sumária (assim como a rejeição da peça acusatória e
a resposta à acusação) aplica-se a todos os procedimentos penais de primeiro grau, ainda que não
regulados neste código (procedimento comum ou especial).
#Questãodeconcurso
(TJSP – 2017) De acordo com o texto expresso do art. 397 do CPP, o juiz deverá absolver sumariamente
o acusado no processo penal quando verificar que ocorreu a extinção da punibilidade.
Observa-se, ainda, que pela própria redação dos incisos do artigo 397, a absolvição
sumária, por importar em verdadeiro adiantamento de julgamento, deve ser reservada para as
situações em que não houver qualquer dúvida acerca de seus motivos. Há necessidade de um juízo
de certeza para que se declare a absolvição sumária. Logo, se, por exemplo, não ficar claramente
demonstrado que houve uma excludente de ilicitude, o juiz deverá, na dúvida, dar prosseguimento
ao processo, determinando a produção normal de provas para só ao final julgar. Vigora, então, no
momento da absolvição sumária, o princípio do in dubio pro societate. Veja interessante julgado que
exemplifica a questão:
Jurisprudência:
RECURSO ESPECIAL. PROCESSO PENAL. CRIME DE CONTRABANDO. TESE DE NEGATIVA DE VIGÊNCIA AO
ART. 334, 1.º, ALÍNEA C, DO CÓDIGO PENAL; AOS ARTS. 396, 396-A E 399, DO CÓDIGO DE PROCESSO
PENAL; AO ART. 89 DA LEI N.º 9.099/95; E DIVERGÊNCIA JURISPRUDENCIAL A RESPEITO DA
ABSOLVIÇAO SUMÁRIA. IMPOSSIBILIDADE DE SE VERIFICAR O CONHECIMENTO, POR PARTE DO
ACUSADO, DA ORIGEM ESTRANGEIRA DAS MÁQUINAS APREENDIDAS E SEUS COMPONENTES SEM A
DEVIDA DILAÇAO PROBATÓRIA. RECURSO ESPECIAL PROVIDO.
1. É incabível a absolvição sumária quando não evidenciada qualquer das hipóteses previstas nos
incisos I a IV do art. 397 do Código de Processo Penal.
2. No caso dos autos, sendo ponto controvertido o conhecimento, por parte da Acusada, da
procedência estrangeira das máquinas apreendidas e de seus componentes, mostra-se descabido o
afastamento do dolo do agente sem a devida instrução probatória.
O juiz deve absolver sumariamente o acusado quando verificar que o crime foi praticado
sob amparo de causa excludente de ilicitude, ou seja, estado de necessidade, legítima defesa, estrito
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
cumprimento do dever legal e exercício regular de direito. As excludentes de ilicitude são estudadas
em direito penal, mas não se esqueça de que também são justificantes (excludentes) aquelas
previstas na parte especial do Código Penal e em leis especiais, bem como as causas supralegais (ex:
consentimento do ofendido).
Perceba que o final do inciso III ressalva o caso do inimputável, deixando claro que ele
não poderá ser absolvido sumariamente com base na sua inimputabilidade. Como sabido, a
absolvição baseada na inimputabilidade gera a aplicação de uma medida de segurança, ou seja, trata-
se de uma absolvição imprópria (Art. 26). Devido a tal peculiaridade, e considerando que a medida de
segurança não deixa de ter caráter de sanção penal, o acusado deve ter direito a todo um processo
para se defender. Adiantar a absolvição e aplicar medida de segurança sumariamente significaria
suprimir o direito de defesa do inimputável, que poderia se livrar da sanção (medida de segurança).
Com isso, conclui a doutrina de forma tranquila que não se admite a figura da absolvição sumária
imprópria.
*Cuidado. Não confunda a absolvição sumária do procedimento comum (aqui estudada) com a
absolvição sumária do procedimento do júri (que será estudada mais a frente na matéria). Essa ultima
ocorre em momento distinto, qual seja, no final da judicium acusatione (sumário de culpa), depois de
já vencida toda a primeira fase do júri. Com isso, considerando que nesse momento processual já
houve produção probatória e chance de defesa, pode inclusive o juiz decretar a absolvição sumária
imprópria para o inimputável, aplicando nesse momento a medida de segurança. Não se preocupe
muito com isso, pois estudaremos no momento certo, só saiba que existe a diferença.
As causas extintivas da punibilidade estão elencadas no artigo 107, CP, e dentre elas
encontramos a morte do agente, a prescrição e a decadência.
outro lado, sendo a decisão judicial no sentido de negar a referida absolvição, dando continuidade
para o processo, exsurge a possibilidade de impetração de habeas corpus para trancar a ação penal.
§ 1o O acusado preso será requisitado para comparecer ao interrogatório, devendo o poder público
providenciar sua apresentação.
*Obs: No procedimento comum sumário a prazo para tal audiência é de 30 dias. Essa é uma das
poucas diferenças que subsistem entre os dois procedimentos hoje em dia, assunto que será visto em
ponto específico.
#Questãodeconcurso:
(IESES – TJAM – 2018) No procedimento ordinário a audiência de instrução e julgamento deve ser
realizada no prazo máximo de 90 dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à
inquirição das testemunhas arroladas pela acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto
no art. 222 deste Código, bem como aos esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao
reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se, em seguida, o acusado.
Resposta: Errado! Como visto, o prazo para audiência é de 60 dias no procedimento ordinário e 30 no
sumário.
Vejamos o artigo 400 do CPP que resume de forma clara quais atos deverão ser tomados
na referida ocasião:
Art. 400. Na audiência de instrução e julgamento, a ser realizada no prazo máximo de 60 (sessenta)
dias, proceder-se-á à tomada de declarações do ofendido, à inquirição das testemunhas arroladas pela
acusação e pela defesa, nesta ordem, ressalvado o disposto no art. 222 deste Código, bem como aos
esclarecimentos dos peritos, às acareações e ao reconhecimento de pessoas e coisas, interrogando-se,
em seguida, o acusado.
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Prova irrelevante: apesar de tratar do objeto da causa, não possui aptidão de incluir no
julgamento da causa (acareação por precatória, por exemplo);
Com efeito, incumbe ao juiz indeferir fundamentadamente tais provas, sem que isso
caracterize cerceamento da acusação ou da defesa. A parte prejudicada deve requerer que perguntas
ou outras provas indeferidas constem da ata de audiência, pois, assim fazendo, a matéria poderá ser
novamente discutida em eventual preliminar de apelação ou no bojo de um habeas corpus, quando
em risco a liberdade de locomoção.
Além disso, o ofendido não responde pelo delito de falso testemunho, mas, se imputar
falsamente crime a outrem poderá responder pelo delito de denunciação caluniosa*.
Art. 339, CP: Dar causa à instauração de investigação policial, de processo judicial, instauração de
investigação administrativa, inquérito civil ou ação de improbidade administrativa contra alguém,
imputando-lhe crime de que o sabe inocente:
Caso o ofendido não compareça, tendo sido intimado, é possível que a autoridade judicial
ou policial determine sua condução coercitiva.
Em Virtude do sistema da livre persuasão racional do juiz, tem-se que o valor probatório
das declarações do ofendido é relativo. Logicamente, nos crimes cometidos às ocultas, a palavra da
vítima ganha um pouco mais de importância, mas não quer isso dizer que seu valor seria absoluto.
Veja excerto jurisprudência que analisa a questão:
Jurisprudencia:
CRIMES SEXUAIS - PROVA - PALAVRA DA VÍTIMA - ESTUPRO E ATENTADO VIOLENTO AO PUDOR -
ABSORÇÃO - CONTINUIDADE DELITIVA - PENA - REGIME. Nos delitos sexuais, em regra praticado na
clandestinidade, a palavra da vítima, quando robusta, precisa e coerente, é suficiente para sustentar
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
um decreto condenatório, mormente quando a defesa não apresenta qualquer prova que pudesse
torná-la suspeita, destacar dose que o próprio acusado admitiu ter praticado com a menor atos
libidinosos diversos, inclusive afirmando ter ciência de que ela era menor de 14 anos, apenas tendo
negado a violência física ou moral, eis que os atos foram praticados com o consentimento da ofendida.
TJ-RJ - APELAÇÃO APL 00348325520038190000 RIO DE JANEIRO DUQUE DE CAXIAS 1 VARA CRIMINAL
(TJ-RJ)
*obs: Testemunha referida é aquela que foi citada na petição inicial ou por outra testemunha,
podendo também ser ouvida pelo juiz, mas sem contar para o número máximo.
O artigo 400 do CPP (acima colacionado) afirma que as testemunhas da acusação serão
ouvidas primeiro, em seguida as da defesa. O respeito à essa ordem é de suma importância, pois seu
descumprimento pode gerar nulidade relativa.
Além disso, afirma a doutrina que as perguntas para as testemunhas deverão ser feitas
diretamente pelas partes, e o juiz apenas complementará, ao final, com o que entender cabível
(chamado sistema de exame direto, ou cross examination**). Caberá ao juiz vetar as perguntas que
entenda não ter relação com a causa ou que já tiverem sido respondidas, além daquelas que possam
induzir a testemunha à determinada resposta.
** Obs: O sistema do “cross examination” veio a substituir o antigo sistema presidencialista em que
todas as perguntas eram feitas ao juiz, que em seguida repassava para as testemunhas. O sistema
presidencialista ainda vigora em certos momentos, como no caso das perguntas feitas pelo jurado no
tribunal do júri, ponto que será estudado em momento oportuno.
Por fim, registre-se que, nos termos do Artigo 401, §2º, do CPP, a parte poderá desistir da
inquirição de qualquer das testemunhas que tenha arrolado, mesmo que não haja concordância da
parte contrária.
#Questãodeconcurso:
(TJRS – 2017) No curso da instrução criminal, a defesa técnica do acusado poderá manifestar a
desistência do interesse na oitiva das testemunhas arroladas em sede de Resposta à Acusação,
independentemente da concordância do órgão acusatório.
As partes podem requerer a oitiva dos peritos para esclarecerem a prova ou para
responderem a quesitos, desde que o mandado de intimação e os quesitos ou questões a serem
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
esclarecidas sejam encaminhados com antecedência mínima de 10 (dez) dias, podendo apresentar
as respostas em laudo complementar.
D) Acareações: Nos termos do que ensina Mirabete, acarear é pôr em presença uma da
outra, face a face, pessoas cujas declarações são divergentes. Trata-se, portanto, de um ato
processual consistente na confrontação das declarações de dois ou mais acusados, testemunhas ou
ofendidos, já ouvidos, e destinado a obter o convencimento do juiz sobre a verdade de algum fato.
Art. 226. Quando houver necessidade de fazer-se o reconhecimento de pessoa, proceder-se-á pela
seguinte forma:
I - a pessoa que tiver de fazer o reconhecimento será convidada a descrever a pessoa que deva ser
reconhecida;
Il - a pessoa, cujo reconhecimento se pretender, será colocada, se possível, ao lado de outras que com
ela tiverem qualquer semelhança, convidando-se quem tiver de fazer o reconhecimento a apontá-la;
III - se houver razão para recear que a pessoa chamada para o reconhecimento, por efeito de
intimidação ou outra influência, não diga a verdade em face da pessoa que deve ser reconhecida, a
autoridade providenciará para que esta não veja aquela;
Jurisprudência:
Este Superior Tribunal sufragou entendimento "no sentido de que o reconhecimento fotográfico,
como meio de prova, é plenamente apto para a identificação do réu e fixação da autoria delituosa,
desde que corroborado por outros elementos idôneos de convicção" (HC 22.907/SP, Rel. Ministro FELIX
FISCHER, QUINTA TURMA, DJ 04/08/2003), assim como ocorreu in casu, onde o reconhecimento por
fotografia feito na fase inquisitiva foi confirmado em juízo, pelas declarações do ofendido, as quais
ganharam ainda mais credibilidade na medida em que uma testemunha afirmou ter presenciado o
reconhecimento feito em sede policial. (HC 22.907/SP, Rel. Ministro FELIX FISCHER, QUINTA TURMA, DJ
04/08/2003)
F) Interrogatório do acusado: É o ato por meio do qual o juiz ouve o acusado sobre sua
pessoa e sobre a imputação que lhe é feita. É visto como um meio de prova, apesar de ser
principalmente um meio de defesa do acusado, que poderá nesse momento dizer tudo que lhe caiba
falar.
Com a reforma processual penal de 2008, o interrogatório passou a ser realizado ao final
da instrução processual (o próprio artigo 400 do CPP deixa claro essa ordem a ser seguida). Apesar de
alguns procedimentos, como a lei de drogas, ainda trazerem o interrogatório como o primeiro ato da
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
instrução, o STF analisou a questão e deixou claro que o interrogatório sempre será o ultimo ato da
instrução, mesmo nos procedimento especiais, Vejamos a decisão:
Jurisprudência:
O interrogatório passa a ser sempre o último ato da instrução, mesmo nos procedimentos regidos por
lei especial, caindo por terra a solução de antinomias com arrimo no princípio da especialidade. STJ. 6ª
Turma. HC 403.550/SP, 15/08/2017 e STF HC n. 127.900/AM)
#Questãodeconcurso:
(TJRS – 2017) Na audiência de instrução e julgamento, serão ouvidos, nesta ordem, o acusado, a
vítima, as testemunhas de acusação e as testemunhas de defesa, para, após, serem prestados
esclarecimentos pelos peritos, realizadas as acareações e o reconhecimento de pessoas e coisas.
Resposta: Errado! Como visto acima, o acusado sempre será o ultimo a ser ouvido em audiência.
Art. 402. Produzidas as provas, ao final da audiência, o Ministério Público, o querelante e o assistente
e, a seguir, o acusado poderão requerer diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou
fatos apurados na instrução.
Perceba que o requerimento a ser feito por ocasião do final da audiência deve se referir a
diligências cuja necessidade se origine de circunstâncias ou fatos apurados na instrução. Ou seja, se a
necessidade daquela diligência já existia no começo do processo, a parte já deveria ter requerido no
momento oportuno (na peça acusatória ou na resposta a acusação).
Art. 403. Não havendo requerimento de diligências, ou sendo indeferido, serão oferecidas alegações
finais orais por 20 (vinte) minutos, respectivamente, pela acusação e pela defesa, prorrogáveis por
mais 10 (dez), proferindo o juiz, a seguir, sentença.
As alegações deverão ser apresentadas na seguinte ordem: primeiro fala a acusação (MP
ou querelante), no prazo de 20 minutos, prorrogáveis por mais 10. Depois, pronuncia-se o defensor,
pelo prazo de 20 minutos também prorrogáveis por mais 10. Caso haja assistente da acusação, seu
advogado deverá manifestar-se após o MP, sendo-lhe concedido, para tanto, 10 minutos. Havendo
mais de um acusado, o tempo previsto para a defesa de cada um será individual.
Prevalece na doutrina que a não apresentação de alegações finais gera nulidade absoluta,
ou seja, trata-se de uma peça de apresentação obrigatória. Afinal, à luz da Constituição Federal, a
defesa técnica não é mera exigência formal, mas sim garantia insuprimível, de caráter necessário.
Verificada a negligência do defensor ou advogado, cabe ao juiz intimar o acusado para constituir
novo advogado para a apresentação dos memoriais, sob pena de nomeação de defensor dativo.
Nesse caminhar:
Jurisprudência:
Ementa: PENAL. PROCESSO PENAL. AUSÊNCIA DE ALEGAÇÕES FINAIS. NULIDADE ABSOLUTA. OMISSÃO
DOS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS DO CONTRADITÓRIO E DA AMPLA DEFESA. PRELIMINAR
DE NULIDADE ACOLHIDA. 1. As alegações finais constituem ato essencial do processo, cuja ausência
acarreta a sua nulidade absoluta. 2. Anulação do processo a partir da fase do art. 500 do Código
de Processo Penal . 3. Apelação provida.
Ex: MP havia oferecido denuncia por furto qualificado. Ocorre que durante a AIJ nova
prova foi produzida, e restou demonstrado que o fato não fora um furto, e sim um roubo (subtração
com violência ou grave ameaça). Nesse caso, tendo em vista que toda a acusação, e, em
consequência, a defesa, foram embasadas na descrição do furto, deverá o MP aditar a denuncia para
roubo, tendo o réu oportunidade de se defender novamente do novo fato imputado.
4.10. Sentença
PROCESSO PENAL - RAFAEL MEDEIROS
Caso as alegações orais sejam substituídas por memoriais, o juiz terá o prazo de 10 dias
para proferir sentença. Vejamos, no ponto, o artigo 403, §3, CPP:
o
403, § 3 O juiz poderá, considerada a complexidade do caso ou o número de acusados, conceder às
partes o prazo de 5 (cinco) dias sucessivamente para a apresentação de memoriais. Nesse caso, terá o
prazo de 10 (dez) dias para proferir a sentença.
Em conformidade com o princípio da identidade física do juiz, aquele que colheu a prova
em audiência deverá julgar o caso, comando esse que vale para todos os procedimentos (comuns e
especiais).
Sempre que possível o registro dos depoimentos e declarações será feito pelos meios ou
recursos de gravação magnética, estenotipia, digital ou técnica similar, inclusive audiovisual,
destinada a obter maior fidelidade das informações.
Além disso, sabemos que existem algumas situações que geram o envio do procedimento
dos juizados especiais (procedimento sumaríssimo) para o juízo comum. Tais hipóteses em que essa
remessa ocorrerá estão descritas nos artigos 66, § único e 77, §2 da Lei 9.099/95. Vejamos:
Art. 66, Parágrafo único. Não encontrado o acusado para ser citado, o Juiz encaminhará as peças
existentes ao Juízo comum para adoção do procedimento previsto em lei.
Logo, por expressa previsão do artigo 538 do CPP, quando o processo for enviado do
juizado para o juízo comum, o procedimento a ser adotado também será o comum sumário.
Vejamos então o procedimento sumário (perceba que atualmente ele é muito parecido
com o ordinário, e as diferenças serão ressaltadas em ponto posterior desse resumo):
G) Não absolvendo sumariamente, juiz designa AIJ a ser realizada no máximo em 30 dias
(nos mesmos termos do Procedimento ordinário). Também será uma audiência única, concentrando
os atos. Serão permitidas no máximo 5 testemunhas para a defesa e 5 para acusação;
Número de testemunhas 8 5
Possibilidade de
substituição das alegações SIM NÃO
orais por memoriais
#Questãodeconcurso:
(IESES – TJAM – 2018) A quantidade de testemunhas que poderão ser arroladas na instrução do rito
comum ordinário corresponde até 8 (oito) para acusação e até 8 (oito) para a defesa conforme art. 401
do CPP. Já na instrução do rito sumário a quantidade de testemunhas é de até 3 (três) para acusação e
3(três) para a defesa, em consonância com o art. 532 do CPP.
Resposta: Errado! Como visto, no procedimento sumário são 5 testemunhas para acusação e 5 para
defesa.
#Questãodeconcurso:
Resposta: Errado! Não existe essa previsão para o procedimento sumário. Vide tabela acima.
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