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Psicologia – Uma (nova) Introdução

Luis Cláudio M. Figueiredo; Pedro Luiz Ribeiro de Santi

QUESTÕES DE ESTUDO E DISCUSSÃO

1. A Psicologia como ciência independente


1. Quais as dificuldades envolvidas na criação de uma nova ciência e, especificamente, na
elaboração de uma psicologia científica?

As dificuldades envolvem a definição de um objeto e métodos próprios de estudo para esta


ciência, em específico, além desta ciência afirmar-se enquanto tal frente a outras áreas do
saber. No caso da psicologia enquanto ciência, a tarefa ainda torna-se mais complexa
porque 1) todos os grandes sistemas filosóficos desde a Antiguidade já incluíam noções e
conceitos relacionados ao que hoje se faz parte do domínio da psicologia (ex:
comportamento, alma, ‘espírito’, mente); 2) os temas da psicologia estavam espalhados
entre a filosofia, as ciências físicas, biológicas e sociais precedentes; 3) o objeto de estudo da
psicologia, a ‘psique’ (entendida como mente) não se apresenta como um objeto observável,
indo de encontro às exigências positivistas e 4) os estudos em psicologia mantém relações
estreitas com muitas ciências biológicas e sociais, sendo difícil definir e manter a sua
especificidade.

2. Como você vê a questão da independência da psicologia e das suas relações com as


demais ciências? Justifique a sua resposta.

Acredito que está havendo um movimento humano cada vez maior em direção à formação
de um conhecimento, por assim dizer, transdisciplinar, ou seja, transcendendo os limites das
suas ‘disciplinas’, ou áreas de conhecimento. Chega-se a um determinado nível de
aprofundamento teórico-metodológico tal que, para prosseguir, torna-se quase automático
o contributo de outras áreas do saber. Ou seja: para se expandir o conhecimento psicologia,
por exemplo, acaba-se tendo que dialogar com outras áreas do saber, como a física, as
ciências sociais, a matemática, a linguística, etc. E isso vale pra qualquer ciência. A longo
prazo, acredito que isso tenderá a uma unificação dos saberes, transcendendo a sua inicial
divisão.

2. Precondições socioculturais para o aparecimento da


psicologia no século XIX
1. Em que condições a experiência da subjetividade privatizada se aprofunda e generaliza?
Por que isto ocorre? Quais são para você, nas nossas atuais condições de vida, os fatores
socioculturais que propiciam a privatização das experiências? Exemplifique.

As grandes irrupções da experiência subjetiva privatizada ocorrem em situações de crise


social, quando uma tradição cultural e contestada e surgem novas formas de se viver. Nestas
crises, onde há uma desagregação das velhas tradições, com perdas de referências coletivas
(raça, religião, povo etc.), o ser humano acaba se vendo obrigado a recorrer ao ‘foro íntimo’,
a parâmetros internos, para construir novas referências, e tomar responsabilidade por elas.
Isso abre espaço para a experiência da subjetividade privatizada. Acho que o advento da
tecnologia de comunicação interpessoal, em complemento e contrapartida à comunicação
em passa, através especialmente das redes sociais, torna mais aguda a experiência
subjetiva, ao mesmo tempo que a expõe para a coletividade. Por outro lado, as decisões
coletivas acabam sendo muito mais influenciadas por este ‘movimento subjetivo’ do que
antes. Um exemplo envolve os resultados das eleições presidenciais, onde a decisão foi muito
mais influenciada por mídias de interação pessoa-pessoa do que pelos grandes meios de
comunicação.

2. Em que sentido Descartes pode ser considerado o fundador da concepção moderna de


sujeito?

Descartes é considerado o pai do racionalismo moderno. Ele pretende estabelecer as


condições de possibilidade para que obtenhamos um conhecimento seguro da verdade. Ele
utiliza o instrumento do ceticismo (a dúvida) para buscar alguma verdade sobre a qual não
paire a menor dúvida e possa tornar-se o fundamento para toda a construção de
conhecimento válido. Ele chega a conclusão de que a única ação que suporta a dúvida é a
própria ação de duvidar, e que para duvidar é necessário a existência de um sujeito que
duvide – daí a frase ‘penso, logo existo’. Este sujeito passa a ser o sujeito do conhecimento,
e a verdade passa a significar uma representação correta do mundo, tornando-se imanente,
ao invés de transcendente.

3. O Romantismo ao mesmo tempo critica a modernidade e valoriza o sujeito. Como é


possível essa tarefa aparentemente contraditória?

O romantismo é uma das formas de crítica às pretensões totalizantes do ‘eu’, e da Razão e


Método universais. Ele contrapõe a ideia de que o homem é um ser essencialmente racional
para um ser essencialmente passional e sensível. O romantismo critica a modernidade no
sentido de valorização da natureza como aquilo que é verdadeiro, opondo-se à civilização e
suas idiossincrasias, concomitantemente, fazendo nostalgia a um estado humano anterior
perdido até então. Por outro lado, traz a experiência de que o homem possui níveis de
profundidade desconhecidos para ele mesmo, e latentes. Havendo um ‘potencial oculto’, há
uma valorização da individualidade e da intimidade.

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