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3 Luís de Camões,
Rimas
vista e recordada, mas não fisicamente desejada, valorizada
por atributos morais e físicos, inacessíveis ao poeta que ama.1
Enquanto motivo de expressão amorosa, a mulher da poesia ca-
moniana é um ponto de partida para a celebração do amor em
si mesmo, mais do que para o elogio de uma mulher concreta.
O sofrimento, a saudade e até a frustração que a mulher
amada pode causar sugerem que o amor é um sentimento
cuja plenitude o poeta persegue, mas jamais atinge.
3.1. A representação da amada A partir daqui, tratamos de ler um soneto motivado pela repre-
sentação da mulher amada, registando alguns elementos de leitura
A representação da mulher amada na poesia de Camões liga-se que poderão ser desenvolvidos:
como uma celebração da beleza física, sem censura moral. Ambos designam uma entidade ficcional construída a partir do texto, que não deve ser
A mulher enquanto figura ideal, olhada como modelo de per- confundida com a figura real de Camões.
2. A menos que haja indicação em contrário, citamos a poesia lírica camoniana pela edição das
feição, sem dimensão sensual. Assim, a mulher é uma entidade Rimas (texto estabelecido, revisto e prefaciado por Álvaro J. da Costa Pimpão). Coimbra: Atlântida
Editora, 1973.
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