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sileira, particularmente do rock, de forma signifi- sociais em tomo de um ideal de nação, defendi-
cativa, eram de classes sociais elevadas, porém da primordialmente por setores nacionalistas da
o vemos expondo a tais classes e aos valores esquerda.” (NAPOLITANO, 2002, p. 22). O mo-
pregados por elas. Desse modo, abordamos vimento Tropicalista demonstra esse ímpeto de
o conceito de Indústria Cultural, desenvolvido valorização do Brasil, com influências modernis-
pelos teóricos da escola de Frankfurt, Theodor tas. Na música “Tropicália”, Caetano Veloso rea-
Adorno e Max Horkheimer. Tema importante, ao liza críticas a supervalorização da cultura norte-
passo que o rock era uma produção de baixo -americana, em detrimento da brasileira, que
custo para indústria fonográfica. Assim, a Indús- tinha como pano de fundo a influência ideológi-
tria Cultural simpatizou com esse estilo musical, ca do bloco Capitalista (EUA), pois esse período
que além de demandar menos investimento fi- era marcado pela Guerra Fria. Ele apresenta o
nanceiro, mobilizava grandes massas da popu- Brasil como país da “Bossa” (movimento elitista)
lação no período 1980 e 1990, principalmente e da “Palhoça” (casas simples, geralmente em
com a ascensão de bandas como Legião Urba- regiões periféricas), o que remete a desigualda-
na10 e Barão Vermelho11. de social existente no país.
Entre outros estilos, com o surgimento do
DESENVOLVIMENTO rock, as letras ganharam um teor mais humorís-
tico e tratavam de temas como amor e relaciona-
É inegável que a música desde o início mentos. Porém, é a partir dos anos 1960 com os
do século XX passou por mudanças em sua es- movimentos contraculturais, que a música ga-
trutura e principalmente no que remete a sua nhou uma face de protesto, portanto surge uma
função social. Em meados dos anos 1920 com nova função social para ela, além de entreter,
a ascensão do jazz e do blues a música deixava consegue produzir uma crítica social. De acordo
de ser contemplativa, como era no século XIX, com Marcos Napolitano a música “é espaço de
passa, então, para ritmos mais dançantes e mui- um exercício de “liberdade” criativa e de compor-
to criticados pelos teóricos da escola de Frank- tamento, ao mesmo tempo em que se busca a
furt, Adorno e Horkheimer, que questionavam “autenticidade” das formas culturais e musicais,
essa nova produção musical, propondo que ela categorias importantes para entender a rebelião
era aparato de alienação da sociedade e servia de setores jovens.” (NAPOLITANO, 2002, p. 13).
a uma Indústria Cultural, visando ao lucro e um Um exemplo da música de protesto foi o
público passivo. Conforme Napolitano: “Adorno rock brasileiro dos anos 1980 e 1990, que além
vislumbrava a música popular como a realização de abordar temas transversais como amor, rela-
mais perfeita da ideologia do capitalismo mono- cionamento e angústias, tratava constantemente
polista: indústria travestida em arte.” (NAPOLI- de política, sociedade e cultura. Bandas como
TANO, 2002, p. 21). Barão Vermelho, Legião Urbana, Engenheiros
O século XX representou uma eferves- do Hawaii13 ascenderam no cenário musical da
cência na música brasileira. Segundo Napo- época. Conseguimos perceber que a produção
litano, o desenvolvimento da Música Popular musical, especificamente o Rock and Roll brasi-
Brasileira (MPB)12 “expressou um momento de leiro apresenta um ímpeto de muitos jovens por
aliança social e política entre diversas classes mudanças. No Brasil, ficou visível a gradativa
mudança no que se refere ao período da Ditadu-
conta da multiplicidade de comportamentos e estilos musicais, ra Militar (1964 – 1985) e o retorno à democra-
sobretudo a partir dos anos 1980. (NAPOLITANO, 2002, p. 31).
Ver: NAPOLITANO, Marcos. História & Música. Belo Horizonte: cia, mas não apenas na cena política, os jovens
Autêntica, 2002. clamavam por mudanças sociais, alteração de
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Legião Urbana é uma banda brasileira de rock que surgiu em valores, o fim de preconceitos e desigualdades.
Brasília. Ativa entre 1982 e 1996, a banda foi desfeita após a morte
do seu vocalista e líder, Renato Russo, em 11 de outubro de 1996. Porém, no discurso desses jovens an-
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Barão Vermelho é uma banda de rock brasileiro fundada em siosos por liberdade e direitos, percebemos
1981, na cidade do Rio de Janeiro. Álbuns mais repercutidos:
“Maior Abandonado” e “Puro Êxtase”.
um questionamento sobre e pelo poder14, pois
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Segundo Marcos Napolitano: “Aquilo que chamamos hoje de mú-
sica popular, em seu sentido amplo, [...], é um produto do século 13
Engenheiros do Hawaii é uma banda brasileira de rock, formada
XX. Ao menos sua forma “fonográfica”, com padrão de 32 compas- em 1984 na cidade de Porto Alegre.
sos, adaptada a um mercado urbano e intimamente ligada à busca 14
Para Michel Foucault, o Poder é uma prática social construída
de excitação corporal (música para dançar) e emocional (música historicamente. São formas díspares, heterogêneas, em constante
para chorar, de dor ou alegria)”. Ver: NAPOLITANO, Marcos. His- transformação. Constata Foucault que o poder está por toda parte
tória & Música. Belo Horizonte: Autêntica, 2002. e provoca ações e uma relação flutuante, não está em uma institui-
como propõe Michel Foucault: “o discurso não é tanto, ressignifica valores, postos anteriormente.
simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os Para demonstrar sua teoria o autor afirma que:
sistemas de dominação, mas aquilo por que, ou
pelo que se luta, o poder do qual nos queremos A corrente invisível que prendia os trabalha-
apoderar.” (FOUCAULT, 1996, p. 10). Além des- dores em seus lugares e impedia sua mobili-
se ímpeto de lutar por mudanças, o contexto em dade era, nas palavras de Cohen, “o coração
que eles estavam inseridos se caracteriza pela do fordismo”. O rompimento dessa corrente
foi também o divisor de águas decisivo na
“Pós-Modernidade” (ou “modernidade líquida”) e
experiência de vida, e se associa à decadên-
a “mudança” nas relações entre indivíduos, uma cia e extinção aceleradas do modelo fordista.
característica pós-moderna, que também é ex- “Quem começa uma carreira na Microsoft”,
pressa pela música. Dentro dessa perspectiva, observa Cohen, “não sabe onde ela vai ter-
“líquida”, há relativização de imperativos categó- minar. Começar na Ford ou na Renault impli-
ricos e a dissolução de cânones que outrora nor- cava, ao contrário, a quase certeza de que a
tearam a humanidade. Zygmunt Bauman explica carreira seguiria seu curso no mesmo lugar.”
esse conceito e ressalta: (BAUMAN, 2001, p. 76).
de novembro de 2015. Palestra realizada pelo historiador e profes- Entrevista para o portal: <http://noticias.uol.com.br/politica/
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perialismo americano” e “consumismo”. Como p. 29). E era assim que muitos jovens se iden-
demonstra a letra de “Geração Coca-Cola, que tificavam, pois ansiavam pelos mesmos ideais,
constitui o álbum “Mais do Mesmo”: isso de certa forma os unia e fortalecia.
Diante dessa influência norte-americana
Quando nascemos fomos programados a indústria cultural se faz presente em produções
A receber o que vocês artísticas em geral, principalmente ao longo do
Nos empurraram com os enlatados século XX. Conforme Silva (2009), em “Dicioná-
Dos U.S.A., de 9 às 6 rio de conceitos históricos”, a indústria cultural é
a produção e disseminação de produtos culturais
No trecho citado há uma evidente críti- para o consumo em massas, se distanciando da
ca ao imperialismo americano, uma ideia de que crítica individual em optar por determinadas mú-
nós não podemos escolher mais o que quere- sicas ou gêneros. Nesse sentido, o filósofo da
mos consumir, pois “quando nascemos fomos escola de Frankfurt, Adorno “começa a rejeitar o
programados”. Como se a vida não fosse mais conceito de “gosto” na era das massas. [...] não
composta por nossas escolhas, mas sim por haveria subjetividade e escolha na experiência
estruturas pré-estabelecidas e impostas a nós social da arte”. (NAPOLITANO, 2002, p. 25).
como “enlatados”. Nesse trecho cabe a menção Theodor Adorno e Max Horkheimer, em
ao desenvolvimento de uma Industria cultural, “Dialética do esclarecimento: fragmentos filo-
que deturpa a ideia de “gosto musical” quando sóficos”, afirmam que a cultura contemporânea
utiliza sua influência para padronizar a arte e as- confere a tudo um ar de semelhança. Assim, rá-
sim vendê-la as grandes massas. O sociólogo dio, cinema e as revistas constituem um siste-
Renato Ortiz comenta sobre essa visão norte- ma. Destacam ainda que o cinema e o rádio, não
-americana: precisam mais se apresentar como arte, pois
não passam de um negócio e seu objetivo é legi-
Os Estados Unidos seriam o espelho do
timar o que produzem através de uma ideologia.
mundo. Caberia aos publicitários um papel
importante na divulgação de sua imagem. Desse modo a indústria cultural padroni-
Sua missão, promover a transição dos povos za as vontades por meio das propagandas; “a
“atrasados” para a modernidade norte-ame- cultura se funde com a publicidade [...]”. (ADOR-
ricana. De alguma maneira, ao ensinar aos NO; HORKHEIMER, 1985, p. 119). A publicida-
outros como consumir suas mercadorias, de é a representação do poderio social, há na
eles estariam realizando uma tarefa pedagó- repetição mecânica do mesmo produto cultural
gica, educando os homens para uma socie- uma intenção de subjugar o cliente, os autores
dade “melhor. (ORTIZ, 1994, p. 88). declaram que, “os produtos da indústria cultural
podem ter a certeza de que até mesmo os distra-
Essa concepção colonialista que os EUA ídos vão consumi-los alertamente” (ADORNO;
possuíam de “ensinar” as outras nações como HORKHEIMER, 1985, p. 119). O que remete a
deveriam viver, ou seja, impor sua cultura é o letra de “Geração Coca-cola” quando cita a im-
ponto fulcral da crítica realizada pela música posição dos produtos dos “U.S.A” que lhes vem
“Geração Coca-cola”. Seguem as críticas se- enlatados e prontos, sem a possibilidade de con-
guem: testação, como é a intenção da indústria cultural.
Essa intenção é discutida por Teixeira Coelho:
E aí então vocês vão ver
Suas crianças derrubando reis A indústria cultural fabrica produtos cuja fina-
Fazer comédia no cinema com as suas leis lidade é de serem trocados por moeda; pro-
move a deturpação e a degradação do gosto
A partir desse trecho é perceptível o de- popular; simplifica ao máximo seus produtos,
sejo de “retaliação” desses jovens que ansiavam de modo a obter um atitude sempre passiva
pela liberdade. Os teóricos “Stuart Hall e Paddy do consumidor; assume uma atitude paterna-
Whannel, em 1964, desenvolveram o conceito, lista, dirigida ao consumidor ao invés de co-
enfatizando os grupos minoritários que se au- locar-se à sua disposição (COELHO, 1980,
todenominavam “geração jovem”, identificados p. 23-24).
como uma “minoria criativa”, questionadores
das convenções sociais.” (NAPOLITANO, 2002, Comentando sobre a influência norte-
-americana, Renato Ortiz em seu livro “Mundiali-
zação e Cultura” propõe que: foi usado pela indústria cultural, pois a indústria
fonográfica via nele um produto atraente a uma
Ao percorrer os escritos sobre a cultura con- massa juvenil, visto que, sua produção requeria
temporânea, dificilmente o leitor escapará menos investimento financeiro do que outros es-
de uma tese insistente: a americanização do tilos musicais. Temos então uma via de mão de
mundo. Seja na sua vertente ideologizada dupla, enquanto uns cantavam contra a indústria
norte-americana, ou como crítica ao impe-
cultural, outros cantavam para ela.
rialismo, ela permeia o senso comum e boa
parte dos textos sobre o “contato cultural” A produção musical dos anos 1980, mais
nas sociedades atuais. A concepção genui- especificamente na cena do rock, apresentava
namente americana não passa de uma afir- muitas críticas aos anos de ditadura, a políti-
mação rústica do pensamento, e tem origem ca, aos valores da sociedade e ao consumismo
na idealização de seu povo e de sua história. exacerbado. Nesse momento muitos dos jovens
“América”, terra prometida, seria a síntese cantores eram céticos e entenderam a sua im-
das esperanças humanas (ORTIZ, 1994, p. portância dentro da sociedade, por isso passam
87). a ter voz. A partir de então, os jovens puderam
abrir espaço e debater esses temas, o rock criou
Na sequência destacamos que os versos um vínculo de união perante eles, funcionando
de “Geração Coca-Cola” revelam também a von- como um mecanismo de expressão de todos
tade de mudança dos jovens cantores e musi- aqueles ideais em comum e do sentimento de
cos, sua posição ativa diante de tais imposições. mudança que eles compartilhavam. “Para os jo-
Notamos que eles mesmos se “definem” como vens o rock surge como “meio de autodefinição,
“Geração Coca-cola”, fazendo alusão crítica aos um emblema para marcar a identidade do grupo”
produtos norte-americanos. Depois das críticas (ROCHEDO, 2011, p. 15).
aos produtos “enlatados” vindos dos Estados De acordo com Stuart Hall, a identidade
Unidos, a música propõe que essa “geração co- não é fixa, ela está em constante formação. No
ca-cola” é quem fará a mudança: livro “The question of cultural identidy” (“A ques-
tão da identidade cultural”), Hall desenvolve essa
Vamos fazer nosso dever de casa ideia, afirmando que: “formada ao longo do tem-
E aí então vocês vão ver
po, através de processos inconscientes, e não
Suas crianças derrubando reis
Fazer comédia no cinema com as suas leis algo inato, existente na consciência no momen-
Somos os filhos da revolução to do nascimento [...] Ela permanece sempre in-
Somos o futuro da nação completa, está sempre ‘em processo’, ‘sempre
sendo formada’”. (HALL, 2002, p. 38). Diante da
Tem-se aí a identificação de uma gera- fala desse teórico pode-se ressaltar que na pós-
ção que quer fazer mudanças, que é “o futuro da -modernidade, não cabem mais identidades e
nação”, de acordo com essa afirmação, é possí- conceitos engessados, até mesmo as relações
vel perceber um olhar pretensioso nesse discur- não se estabelecem como outrora, portanto bus-
so, pois quando afirmam ser o “futuro da nação” camos na pesquisa entender essas mudanças,
presume-se que essa nação está em declínio e para compreender quais foram suas motivações
que necessita que essa juventude “revolucio- e seus desdobramentos, para isso relacionamos
nária” tome alguma atitude para que a salve. com outros períodos, mas não com ímpeto de
Eni Orlandi em seu livro “Análise de Discurso” simples valoração.
propõe que existem aspectos no discurso que Hall também contrapõe a identidade
não estão explícitos e que mesmo que os au- presente na Modernidade – que ele nomeia
tores não queiram passar essa mensagem, é o de sujeito do Iluminismo – e a identidade pós-
que transparece, ela afirma que: “sem que isto -moderna: “O ‘sujeito’ do Iluminismo visto como
estivesse em suas intenções, mas determina- tendo uma identidade fixa e estável, foi descen-
dos pelo modo como eram afetados pela língua trado, resultando nas identidades abertas, con-
e pela história, seu gesto de interpretação pro- traditórias, inacabadas do sujeito pós-moderno.”
duzia todos esses efeitos.” (ORLANDI, 2001, p. (HALL, 2002, p. 46).
30). Como citado anteriormente, um parado-
Já Araújo (2011) ressalta que, esse rock xo se engendra em meio à cena do rock brasilei-
“contestatório”, por vezes pessimista, também ro do período, a “burguesia” tão criticada por es-
ses jovens roqueiros, era a classe a qual muitos Vermelho, em meados da década de 1980, ve-
deles pertenciam. Notamos a crítica ferrenha a mos que há sim uma crítica do compositor aos
essa classe social quando analisamos os versos valores burgueses e a própria camada burgue-
da letra da música a “A burguesia”18, de Cazuza, sa, porém há sua ascendência, suas origens
no trecho abaixo é perceptível a crítica a “mais- presentes nela. Ele não se identifica com essa
-valia” praticada pelos burgueses, que obtinham burguesia “fria e calculista” que goza do lucro
lucros exorbitantes em detrimento dos trabalha- gerado pelo trabalho de outrem. Porém, admite
dores que sequer podiam comprar os produtos e se orgulha daqueles que conquistam seu patri-
que produziam. O trecho também faz alusão mônio honestamente, à custa de seu próprio es-
ao consumismo exacerbado e ao imperialismo forço. E assim, o discurso de Cazuza segue, se
americano, quando declara que “A burguesia declarando como um burguês que está ao lado
quer ir a New York fazer compras”, concepção do povo, que ama seu país e se revolta com a
presente no imaginário da época, pois produtos exploração e a desigualdade.
norte-americanos eram supervalorizados. Se-
gue a primeira estrofe de “A Burguesia”: Mas também existe o bom burguês Que vive
do seu trabalho honestamente Mas este quer
Enquanto houver burguesia construir um país E não abandoná-lo com
Não vai haver poesia uma pasta de dólares
A burguesia não tem charme nem é discreta
Com suas perucas de cabelo de boneca Nesse trecho ele mostra que existe um
A burguesia quer ser sócia do Country “estrato” na camada burguesa que está ao lado
povo, que não explora e “vive do seu trabalho
Na análise do discurso o que interessa honestamente”. Esse burguês que não renega
“não é a organização linguística do texto, mas seu país, e sim, quer vê-lo crescer. Acrescenta-
como o texto organiza a relação da língua com -se ainda certa identificação que o compositor
a história no trabalho significante do sujeito em apresenta para com esse burguês “humaniza-
sua relação com o mundo.” (ORLANDI, 2001, do”, “honesto”.
p. 69). Sendo assim, o compositor (Cazuza), se Indubitavelmente o rock brasileiro dos
identifica como burguês, se vê como componen- anos 1980 foi porta-voz de parte da população,
te dessa classe social que tanto critica. Porém, com suas letras rebeldes e que buscavam a li-
tenta se justificar, se eximindo dos aspectos ne- berdade de expressão. Influenciados pela con-
gativos de ser, quando afirma: tracultura também buscavam a liberdade sexual,
cultural e a queda de preconceitos. Todavia, faz-
Pobre de mim que vim do seio da burguesia -se necessária uma análise mais crítica perante
Sou rico mas não sou mesquinho essas letras, ao passo que elas eram compos-
tas em sua maioria por “burgueses”, revoltados
Em outra estrofe percebemos que ele com a classe com certeza, mas não deixavam
chama o povo “pra rua”, para lutar contra a bur- de pertencê-la. Outro ponto relevante é que os
guesia, pois haverá um momento no qual a po- jovens do rock dos anos 80 tinham ideiais em
pulação vai perceber que é vítima dos burgue- comum, portanto esse estilo musical por mais
ses, que só se aproveitam de seu trabalho e irá que buscasse a liberdade de expressão, carre-
se revoltar. A letra faz menção ao golpe militar gava consigo uma carga ideológica intensa além
nos trechos: de suas especificidades.
As pessoas vão ver que estão sendo rouba- CONSIDERAÇÕES FINAIS
das
Vai haver uma revolução
Ao contrário da de 64 Na análise das letras “O mundo anda tão
complicado”, “Geração Coca-cola”, “A burgue-
Ao analisar a letra dessa música com- sia” e “Anos 80”, é visível como elas retratam o
posta por Cazuza, membro da banda Barão momento pelo qual passavam seus composito-
res e que devemos sempre levar em considera-
Para gravar o LP “Burguesia” (1989), Cazuza chegava ao estúdio
18 ção o contexto histórico para a compreensão do
da gravadora Polygram na cadeira de rodas, deitava-se num sofá que foi cantado. A década de 1980 representou
e mesmo com a voz nitidamente enfraquecida gravava seu disco.