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SANTOS, B. S. Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das emergências. In:
Revista crítica de Ciências Sociais, nº 63, 2002. Disponível em:
http://www.boaventuradesousasantos.pt/media/pdfs/Sociologia_das_ausencias_RCCS63.P
DF
APRESENTAÇÃO DO AUTOR
RESUMO DA OBRA
Em sua obra intitulada “Para uma sociologia das ausências e uma sociologia das
emergências.” Santos se opõe à tradicional razão ocidental, a qual denomina razão
indolente e propõe uma nova racionalidade, a razão cosmopolita, pois, segundo o autor, a
ciência social tal como a conhecemos hoje em dia não considera a enorme diversidade de
experiências, pelo contrário, desqualifica muitas experiências alternativas. O objetivo da
fundação desta nova racionalidade seria trazer para a cena social experiências
desvalorizadas, invisibilizadas e desperdiçadas. Para tanto, três procedimentos são
fundamentais: a sociologia das ausências, a sociologia das emergências e o trabalho de
tradução.
Santos, citando Japers (1951,1976) e Marramo (1995), irá mostrar como que o
Ocidente constituiu-se a partir do Oriente, apropriando dele apenas aquilo que interessava
para a expansão capitalista: o mundo terreno e o tempo linear. Desperdiçou por outro lado
outros mundos e tempos presentes no Oriente. Para recuperarmos as experiências
desperdiçadas é fundamental uma crítica a essa razão metonímica, fazendo-a coexistir com
outras totalidades heterogêneas, entendendo que as partes que a compõe têm vida própria
fora dela e devem, portanto, ser pensadas fora das relações de poder que as vinculam de
forma dicotômica. Para tanto, propõe a sociologia das ausências que tem como objetivo
“transformar obcjetos impossíveis em possíveis e com base neles, transformar as ausências
em presenças” (p. 246).
A sociologia das ausências é pensada então como uma forma de transgressão a essas
lógicas de exclusão. A primeira lógica deve então ser questionada a partir da identificação
de outros saberes e critérios de rigor, uma vez que todos os saberes são incompletos e por
outro lado, não há ignorância total. A monocultura do saber científico pode ser assim
substituída por uma ecologia de saberes.
Tanto a sociologia das ausências como a sociologia das emergências tem como
fundamento o inconformismo. No caso da primeira, em relação às experiências
desperdiçadas. No caso da segunda, em relação às carências que podem ser supridas.
Quanto mais experiências houver e mais diversas forem, maior será a expansão
do presente e contração do futuro. No entanto, essa diversificação e ampliação de
possibilidades e experiências trazem consigo dois problemas, a saber a fragmentação
da realidade e a dificuldade em dar sentido às mudanças. Santos critica tanto o modo
como a razão metonímica e proléptica tentaram resolver esses problemas, como o
modo pelo qual o pós-modernismo negligencia-os. Para ele, o primeiro passo a ser
dado na resolução desse dilema é considerar todas as totalidades como partes e todas as
partes como totalidade e propõe como alternativa às grandes teorias o trabalho de
tradução, pois este trabalho focaliza tanto a relação hegemônica entre experiências
diversas, quanto o que há nessas experiências independente dessa relação.
O trabalho de tradução assenta num pressuposto sobre o qual deve ser criado
consenso transcultural: a teoria geral da impossibilidade de uma teoria geral.
Sem este universalismo negativo, a tradução é um trabalho colonial, por mais
pós-colonial que se afirme. (p.268)
No fim do texto Santos nos coloca a seguinte questão, que segundo ele abarca
as outras anteriormente colocadas: para que traduzir? e responderá a essa questão
dizendo que os problemas que os paradigmas da modernidade ocidental procurou
solucionar ainda restam sem solução. Deste modo, é necessário à criação urgente de
práticas alternativas à globalização neoliberal, que promovam transformações em
futuro mais próximo: “o novo inconformismo é o que resulta da verificação de que
hoje e não amanhã seria possível viver em um mundo muito melhor.” (p. 38)
CONCLUSÕES
Santos discorre ao longo do seu texto sobre o modo pelo qual muitas
experiências sociais são desperdiçadas devido a uma certa razão indolente e propõe
como alternativa a esta a razão cosmopolita. Para tanto, propõe três procedimentos
fundamentais: a sociologia das ausências, a sociologia das emergências e o trabalho de
tradução. A partir desses três procedimentos poderíamos reverter o desperdício das
experiências e encontrar por meio do diálogo entre estas, alternativas para a construção
de um mundo melhor e para resolução dos problemas com os quais nos deparamos.
Referências Bibliográficas