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F Estado Mental ‘exame de um paciente, com propésito de avaliacao psiquié- tria na pratica, nao se diferencia de um exame médico geral: do se pode, arbitrariamente, dividir a histéria de um exa tando em componentes fisicos e mentais, pois sao profunda- mente interligados, na sua esséncia; nem separar reacdes emo- CGonais da causa orginica ou disfuncao que as provocou. Mui- tasvezes 0 desencadear, 0 agravamento ou o prolongamento de uma doenca fisica sio motivados por fatores psicologicos ‘que. freqiientemente, passam despercebidos. O estudante de Medicina, oo médico, que pretenda compreender o paciente ‘easuadoenca, deverd considerar fatores mentais pertinentes enfermidade, tracando um perfil psicolégico para, no minimo, ‘So ser conduzido 20 mesmo erro que incorrerdo psiquiatrasenido considerar achados fisicos de um quadro. ‘Asintomatologia psiquidtrica ha que ser considerada em re- lagdoatoda a historia de vida do paciente, do exame pessoal, de seunivel sociocultural. Os sintomas, mesmo relacionados &dind- mica de mecanismos inconscientes, deverdo ser correlacionados io s6 com a hist6ria de fatos recentes, mas também com os da vida passada e tendéncias pessoais: por exemplo, uma reacao tistérica pode explodir numa determinada sintomatologia (co- mo defesa do “eu") em dada situagao, enquanto que, noutra, poderio se desencadear sintomas inteiramente diversos: 0 processo pode ser mais significativo do que os sintomas!, afor- ‘ma mais importante do que 0 conteiido. ‘Na prtica médica é possivel encontrar os seguintes tipos de situag + Enfermidade fisica que leva a distarbios mentais — sto as chamadas psicoses sintomiticas, por exemplo, a tireotoxi cose. + Enfermidade fisica que piora os distarbios mentais jd exis- tentes — por exemplo, pneumonia agravando uma depres- sto. * Distirbios psiquicos conduzindo a enfermidades fisicas — s3o as chamadas doengas psicossomaticas — por exemplo, llcera duodenal. , ‘+ Enfermidade fsica que promova reacdes vivenciais anormais por exemplo, reagie hipocondriaca apés infarto agudo do miocirdio. * Distirbios psiquicas e enfermidade fisica havendo uma as- sociacao apenas casual: por exemplo, na evolucao de uma esquizofrenia, a concorréncia de insuficiéncia renal. Exclusivamente distirbios psfquicos, mas a pessoa proct- fou clinico por atribuir suas queixas a problema organico. Silvio Magalhaes_Velloso, Para elucidartais possbilidades, énecessério que se obtenham informacdes detalhadas da historia da vida do paciente — in- cluindo o histérico da doenca —, informagdes aserem colhidas dele proprio, de familiares e/ou amigos. Dificilmente se conse- ‘guirao dados suficientes, apenas com uma entrevista psiquid trica, sendo, freqiientemente, necessérios varios exames-en- trevistas para se chegar a um completo conhecimento do caso —assim mesmo, nao raro, como ficou dito, isto $6 €alcancado aps subsidios fornecidos pela familia ou pessoas de seu relact ‘onamento. Por vezes, torna-se até necesséria hospitalizagao ‘que permita, pela observacao, 0 esclarecimento do quadro. © médico devera registrar detalhadamente 0 que observou a0 re- alizar 0 exame psiquidtrico e, gradativamente, acrescentar ou- tras informacées ou exames que possam melhor orienté-lo ‘quanto ao diagnéstico ea compreensao do caso; é de boa téc ca que entreviste primeiro, ea s6s, 0 paciente; que evite escre- ‘ver durantea entrevista; que ouga mais do que fale; que procure ser ameno, franco sem contundéncia firme, mas nao ameaca- dor: trangiilo, mas nunca parecendo indiferente ao relato do ‘examinado. As perguntas devem evitar sugestdes e alternativas — por exemplo, dorme bem, nao ? Ja pensou em suicidio? Dorme bem ou mal? — procurando ser claras e objetivas e em tinguagem simples — por exemplo, como tem dormido? ANAMNESE Ohistérico colhido junto ao paciente & chamado ananmese dire- tae 0 fornecido por seus familiares e/ou amigos anamnese indi- reta. Compreende: identificacao; motivo da consulta; historia da doenca atual; histéria pessoal; hist6ria familiar. Identificagao Este t6pico, com freqiiéncia pouco valorizado do ponto de vis- ta semiolbgico, pode fornecer dados interessantes: ‘© Nome: ora pela raridade ou extravagancia revela, indireta- mente, a personalidade dos pais: ora o paciente se apresen- ta sob outro nome, que nao 0 verdadeiro, 0 que revela dis- trios da identficacdo do eu, como se verd mais adiante. ‘# Idade:assume importancia por ser sabido que certas patolo- Bias ocorrem em determinadas faixas etérias mais do que em outras — por exemplo, éraro o aparecimento do primei- ro surto esquizofrénico acima dos 40 anos de idade: de ou- tro lado, certos quadros melancélicos sé se desencadeariam entre a quarta e a quinta década de vida. 4a i a « Filiagdo: saber se o paciente é filho natural, se é 6rftio ou se hd parentesco entre os pais sio dados que ajudam na com- preensao de um caso. ‘© Nacionalidade: muitas vezes, dificuldades de adaptacio. com distirbios emocionais acentuados, ocorrem em natura- Jizados, em exilados ou até mesmo em simples turistas. * Profissio: a adaptacio profissional, as condigdes de traba- tho, as mudangas freqiientes de emprego, ou desemprego, sao informacdes iniciais que podem ser de muita utilidade para o examinador. ‘+ Sexo: a prevaléncia de certas patologias mais em um sexo do ‘que em outro indica a importancia deste item: habitos so-

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