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Tribunal Regional Eleitoral do Acre

ACÓRDÃO N. 5.023/2017

Feito: RECURSO ELEITORAL N. 112-68.2016.6.01.0002 - CLASSE 30


(Protocolo n. 9.526/2016)
Procedência: Xapuri-AC (2a Zona Eleitoral)
Relator: Juiz Raimundo Nonato da Costa Maia
Recorrente: VANDERLEY VIANA DE LIMA e JOSEMAR DA SILVA
CONDE, candidatos aos cargos de Prefeito e Více-Prefeito do
Município de Xapuri
Advogado: Suzana Barbosa Melo da Costa (OAB/AC n. 3.910)
Assunto: RECURSO ELEITORAL - Prestação de contas - Candidato - Cargos -
Prefeito - Vice-Prefeito - Desaprovação - Pedido de reforma da
sentença.

PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CANDIDATO MAJORITÁRIO -


ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2016 - DESAPROVAÇÃO -
ASSUNÇÃO DE DÍVIDA DE CAMPANHA - COMISSÃO
PROVISÓRIA MUNICIPAL - IRREGULARIDADES
CONSTATADAS - DESPROVIMENTO.

1. Não é possível, via de regra, juntar documentos na fase


recursal, que deveriam ter sido submetidos ao crivo do juízo a quo.

2. Na assunção de dívidas de campanha de candidato


específico, é imprescindível que seja juntado tempestivamente o termo
competente, com o prévio conhecimento comprovado dos credores,
nos termos da legislação de regência, a saber, art. 299 do Código Civil
e art. 27, § 3°, da Rés. TSE n. 23.463/2015.

3. A admissão da assunção de dívida de campanha depende da


indicação da origem do recurso que será utilizado para a quitação dos
débitos.

4. Recurso desprovido.

A _C _O _R _D _A _M __ os juizes que compõem o Tribunal á


Regional Eleitoral do Acre, por unanimidade, negar provimento ao recurso, nos termos/
do voto do relator.

Sala das Sessões, em Rio Branco, 26 de abril de 2017.


Tribunal Regional Eleitoral do Acre
Ref.: Acórdão n. 5.023/2017.

Juie Raimundo Nonato da Cpsta Maia


Relator
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ACRE

RECURSO ELEITORAL n. 112-68.2016.6.01.0002 - Classe 30


Relator: Juiz Raimundo Nonato da Costa Mala
Recorrente: Varderley Viana de Lima
Advogada: Suzana Barbosa Melo da Costa, OAB/AC n. 3.910

RELATÓRIO

1. Trata-se de Recurso Eleitoral interposto por Vanderley Viana de


Lima (fls. 45/49), candidato ao cargo de Prefeito no Município de Xapuri, no pleito
de 2016, em face da sentença prolatada pelo magistrado titular 2a Zona Eleitoral,
que desaprovou suas contas de campanha, sob o principal argumento de que
"não foi apresentada/complementada com documento/esclarecimentos
indispensáveis ao exercício da fiscalização pela Justiça Eleitoral e demonstração
da regularidade das receitas e despesas", especialmente no que toca às falhas
relativas à assunção de dívida de que trata o art. 27, § 3° da Rés. TSE n.
23.463/2015 (fls. 38/41),

2. O Recorrente aduz, em síntese, que promoveu a juntada da


"Autorização de Assunção da Dívida" pelo Diretório Nacional do Partido
Republicano da Ordem Social - PRÓS, embora reconheça a falha concernente à
ausência da comprovação da cientificação dos credores (fls. 45/49).

3. Além disso, o Recorrente fez referência a julgados de outros


Tribunais Regionais que fazem menção à aplicação do princípio da
proporcionalidade e razoabilidade quando as falhas encontradas forem de caráter
meramente formal e não comprometerem a análise das contas pela Justiça
Eleitoral.

4. Por fim, buscando corrigir a irregularidade que ensejou a


desaprovação da prestação de contas, o Recorrente anexou à peça recursal
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comprovação da cientificação dos credores e pugnou pela reforma do decisum a


quo declarando as contas aprovadas com ressalvas (fIs. 50).

5. A Procuradoria Regional Eleitoral, em parecer subscrito por seu


representante, manifesía-se pelo conhecimento do recurso e, no mérito, por seu
desprovimento enfatizando a impossibilidade de juntada de documentos em
fase recursal quando já oportunizado ao candidato sanar as trregularidades,
conforme julgados do TSE nesse sentido (fls. 64/65).

6. É o relatório.

VOTO

7. Preliminarmente, destaco que o recurso é tempestivo e preenche


todos os requisitos para sua admissibilidade, razão pela qual dele conheço.

8. No tocante ao ponto central do recurso, verifico que o Recorrente


apresentou sua Prestação de Contas contendo débitos de campanha não
adimplidos no montante de RS 3-475,00 (três mil quatrocentos e setenta e
cinco reais), relativos a material reprográfico eleitoral (fls. 15/16).

9. A propósito desse débito, o Recorrente apresentou "Autorização de


Assunção de Dívida", subscrita pelo Presidente Nacional do PRÓS, para que a
Comissão Provisória Municipal dessa agremiação assumisse a dívida de
campanha deixada pelo candidato majoritário no pleito de 2016 (fl. 31).

10. O Recorrente juntou também aos autos, documento que denominou


de "Cronograma de Pagamentos das Dívidas de Campanha", no qual são listados
os fornecedores/credores, seus CNPJs, a descrição dos serviços prestados, a
nota fiscal, os valores e as datas prevista para pagamento.
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11. No entanto, nesse cronograma de pagamentos das dívidas de


campanha, foi omitida a anuência dos credores, que é requisito essencial para
a validade da assunção da dívida, de acordo com o art. 299 do Código Civil1 e
também com o art. 27, § 3° da Rés. 23.463/20152.

12. Nesta instância, pretende o Recorrente sanar a irregularidade, por


meio da juntada, por cópia não autenticada, da cientificação do já mencionado
cronograma de pagamentos aos credores (fí. 50).

13. Contudo, como dito alhures, na assunção de dívida de despesas de


campanha de candidato específico, é imprescindível a juntada tempestiva do
competente termo, com o prévio conhecimento e anuência dos credores, nos
termos da legislação de regência. O que não ocorreu no caso destes autos.

14. Nesse ponto, insta rememorar que não é possível, via de regra,
juntar documentos na fase recursal, que deveriam ter sido submetidos ao crivo do
juízo a quo.

1 Art. 299. É facultado a terceiro assumir a obrigação do devedor, com o consentimento


expresso do credor, ficando exonerado o devedor primitivo, salvo se aquele, ao tempo da
assunção, era insolvente e o credor o ignorava.
Parágrafo único. Qualquer das partes pode assinar prazo ao credor para que consinta na
assunção da dívida, interpretando-se o seu silêncio como recusa.

2 Art. 27. Partidos políticos e candidatos podem arrecadar recursos e contrair obrigações até o dia
da eleição.
§ 3° A assunção da dívida de campanha somente é possível por decisão do órgão nacional de
direção partidária, com apresentação, no ato da prestação de contas final, de:
I - acordo expressamente formalizado, no qual deverão constar a origem e o valor da obrigação
assumida, os dados e a anuência do credor:
II - cronograma de pagamento e quitação que não ultrapasse o prazo fixado para a prestação de
contas da eleição subsequente para o mesmo cargo;
III - indicação da fonte dos recursos que serão utilizados para a quitação do débito assumido.
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15. O art. 268 c/c art 270 do Código Eleitoral não abre margem para
dúvida quanto à excepcionalidade da juntada de documentos na fase recursai,
uma vez que enumera taxativamente as hipóteses, in verbis:

Art. 268. No Tribunal Regional nenhuma alegação escrita ou nenhum documento


poderá ser oferecido por qualquer das partes, salvo o disposto no art. 270.

Art. 270. Se o recurso versar sobre coação, fraude, uso de meios de que trata o
art. 237, ou emprego de processo de propaganda ou captação de sufrágios
vedado por lei dependente de prova indicada pelas partes ao interpô-lo ou ao
impugná-lo, o Relator no Tribunal Regional deferi-la-á em vinte e quatro horas da
conclusão, realizando-se ela no prazo improrrogável de cinco dias.

16. Assim também decidiu o Tribunal Superior Eleitoral em diversos


julgados. À guisa de exemplo, vejamos:

ELEIÇÕES 2014. AGRAVO REGIMENTAL AGRAVO DE INSTRUMENTO. AGR


MANEJADO EM 13.5.2016. PRESTAÇÃO DE CONTAS. NEGATIVA DE
PRESTAÇÃO JURISDICIONAL INOCORRÊNCIA. CANDIDATO. DEPUTADO
ESTADUAL. PARTIDO DEMOCRATAS (DEM). CONTAS DESAPROVADAS.
1. Não se configura o vício da nulidade por negativa de prestação jurisdicional,
devidamente explicitados os motivos de decidir. No âmbito técnico-processual, o
grau de correção do juízo de valor emitido na origem não se confunde com vício
ao primado da fundamentação, notadamente consabido que a disparidade entre o
resultado do julgamento e a expectativa da parte não sugestiona lesão à norma do
texto republicano.
2. No processo de prestação de contas, não se admitem, em regra,
esclareci mentos apresentados na fase recursal, quando o candidato,
intimado para o saneamento das falhas detectadas pela unidade técnica,
deixa de se manifestar. Incidência da regra da p reclusão. Precedentes.
Agravo regimental conhecido e não provido. (GN)3

17. Além dessas falhas, é imperioso ressaltar que o Recorrente incidiu


em uma outra irregularidade ao buscar comprovar a assunção de sua dívida de
campanha, qual seja: a falta de indicação da origem do recurso que será utilizado
para a quitação dos débitos.

3 Agravo Regimental ern Agravo de Instrumento n. 160242. Rei. Min. Rosa Weber. Publicação no DJE de
03/10/2076. A »

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18. A obrigatoriedade dessa indicação está prevista no art. art. 27, § 3°,
III da Rés. TSE n. 23.463/2015, já mencionada.

19. Informou o Recorrente que a Comissão Provisória Municipal estava


autorizada a assumir os débitos de sua campanha. Contudo, nesse caso, se faz
necessário que seja explicitado, inclusive, a origem do numerário que a Comissão
Provisória do Partido irá utilizar, uma vez que a Justiça Eleitoral não poderá
chancelar um pagamento feito, por exemplo, com recursos oriundos de fontes
vedadas.

20. Diante dessas variadas razões para a rejeição do pedido recursal,


em face das falhas encontradas na Prestação de Contas do Recorrente, voto pelo
desprovímento do presente Recurso Eleitoral, mantendo a sentença recorrida
inalterada.

21. E como vo

Juiz RAIMUNDO NONATOiDA COSTA MAIA


Relator
TRIBUNAL REGIONAL ELEITORAL DO ACRE

EMENTA

PRESTAÇÃO DE CONTAS DE CANDIDATO MAJORITÁRIO.


ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 2016. DESAPROVAÇÃO.
ASSUNÇÃO DE DÍVIDA DE CAMPANHA. COMISSÃO
PROVISÓRIA MUNICIPAL. IRREGULARIDADES
CONSTATADAS. DESPROVIMENTO.

1. Não é possível, via de regra, juntar documentos na fase


recursal, que deveriam ter sido submetidos ao crivo do juízo a
quo.

2. Na assunção de dívida de despesas de campanha de


candidato específico, é imprescindível que seja juntada
tempestivamente o termo competente, com o prévio
conhecimento comprovado dos credores, nos termos da
legislação de regência, a saber, art. 299 do Código Civil e art.
27, § 3° da Rés. 23.463/2015.

3. A admissão da assunção de sua dívida de campanha


depende da indicação da origem do recurso que será utilizado
para a quitação dos débitos.

4. Recurso desprovido.
Tribunal Regional Eleitoral do Acre
Ref.: Acórdão n. 5.023/2017.

EXTRATO DA ATA

Feito: RECURSO ELEITORAL N. 112-68.2016.6.01.0002 - CLASSE 30


(Protocolo n. 9.526/2016)
Procedência: Xapuri-AC (2a Zona Eleitoral)
Relator: Juiz Raimundo Nonato da Costa Maia
Recorrente: VANDERLEY VIANA DE LIMA e JOSEMAR DA SILVA
CONDE, candidatos aos cargos de Prefeito e Vice-Prefeito do
Município de Xapuri
Advogado: Suzana Barbosa Melo da Costa (OAB/AC n. 3.910)
Assunto: RECURSO ELEITORAL - Prestação de contas - Candidato - Cargos -
Prefeito - Vice-Prefeito - Desaprovação - Pedido de reforma da
sentença.

Decisão: Decidiu o Tribunal, por unanimidade, negar provimento


ao recurso, nos termos do voto do relator.

Julgamento presidido pelo Desembargador Roberto Barros dos


Santos, Presidente. Da votação participaram a Desembargadora Cezarinete Angelim e
os Juizes Nonato Maia, Guilherme Michelazzo, António Araújo, Marcelo Carvalho
e Mareei Chaves. Presente o Dr. Ricardo Alexandre Souza Lagos, Procurador
Regional Eleitoral.

SESSÃO: 26 DE ABRIL DE 2017.

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