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A COMUNIDADE DO BOSQUE

Extraído do: Alzogaray Silvana e Ferreyra


Marcela. 2007. Anotações do curso: Juntos pelo
bosque nativo I.

OS COMPONENTES BIÓTICOS DO ECOSSISTEMA

Os seres vivos: a comunidade.

Cada ser vivo é um individuo. Palavra que significa indivisível, ou seja, se fosse dividido, não
cumpriria com as suas funções vitais. Exemplos: um “arrayán” ou murta – espécie de cerca
viva, um “fio-fío”, ou fío-frío (espécie de pássaro que canta durante o tempo gelado), ou uma
libélula.

Os indivíduos da mesma espécie que convivem em um mesmo lugar e em um momento


determinado constituem as populações. Exemplos: populações de “radales” ou RADAL –
(árvore ou arbusto da família das proteas (gênero botânico) originárias do Chile e da
Argentina. Com uma casca cinzenta e grandes folhas dentadas brilhantes, é apreciado por sua
madeira de cor escura com estrias iridescentes. Também é usado como lenha ou para tingir lã)
que se encontravam na ladeira do Cerro Otto no ano 2002, de araucárias no passo Pino
Hachado no verão de 93; de “huemules”ou HUEMUL – (espécie de cervo andino em perigo de
extinção) no Parque Nacional Perito Moreno na década de 80.

As condições para que dois ou mais organismos pertençam à mesma espécie são: ter a
morfologia parecida, ser capaz de se reproduzir e sua descendência ser fértil.
Pode acontecer que se ocorra a reprodução entre diferentes espécies, próximas entre si, sua
descendência, que geram os chamados híbridos, que geralmente são estéril.
No bosque andino-patagônico encontraram-se híbridos de “coihue” (espécie de árvore
conífera) e “ñire” (árvore caducifólia – que perdem suas folhas no inverno) e de “roble
pellín”(também caducifólia – porém é a principal hospedeira do fungo comestível chamado
“diguene” e “raulí”.
As populações vivem como parte de uma comunidade – a comunidade é o conjunto de
populações que habitam um ambiente comum e que estão em recíproca interação.
Nas comunidades terrestres, o tipo de vegetação e sua estratificação determinam a estrutura
física ou fisionômica da comunidade. As mesmas se denominam de acordo ao tipo vegetação
dominante: bosques, selvas, estepes, alto-andinas, etc.
Quando nos referimos a uma comunidade em particular, deve-se especificar em que lugar a
mesma se encontra, por exemplo, existem certas diferenças entre a comunidade do bosque
de “lenga” (árvore conífera) do Parque Nacional Nahuel Huapi com as do Parque Nacional
“Tierra Del Fuego”

As comunidades podem mudar ao longo do tempo. Perturbações como incêndios, introdução


de espécies, desmatamento, etc, podem alterá-las. Depois, as comunidades se recolonizam
pela dispersão de espécies que provêem de comunidades vizinhas. Transcorre-se suficiente
tempo antes de outra perturbação importante, geralmente uma comunidade passa através de
um processo de sucessão ecológica, onde os primeiros colonizadores são substituídos por
outras espécies que por sua vez podem ser substituídos por outras mais.
As comunidades, igualmente assim como as populações das quais estão compostas, são
dinâmicas e mudam continuamente à medida que variam as condições.

Interação entre as povoações de uma comunidade

Ao longo da história os organismos foram evoluindo, o que gerou diferentes tipos de


interações: tróficas, de competência, simbióticas, entre outras.
Tais interações se estabelecem entre organismos da mesma espécie (intra-específicas) ou de
diferente espécie (interespecíficas).
Às vezes as relações estabelecidas resultam benéficas e outras prejudiciais.

Interações intra-específicas (entre organismos da mesma espécie):

a. Competência: este tipo de relação se estabelece quando os recursos dos que se dispõe
os indivíduos de uma população - luz, alimentos, água, espaço vital, pontos de
nidificação ou “madrigueras”, etc – são limitados.

Exemplos.

1. No bosque as árvores de “coihue” (Nothofagusdombeyi) crescem bem altas


buscando a luz, um dos fatores indispensáveis para elaborar seu alimento. Os
indivíduos que chegam a alturas maiores são os mais beneficiados, pois as suas folhas
permanecem mais tempo expostas aos raios solares e deste modo dificultam a
captação de luz dos indivíduos mais baixos. Nem as suas novas folhas poderão crescer
enquanto não se produza um clarão no bosque.
2. O beija-flor rubi (Sephanoidesgaleritus) possui uma conduta territorial bem marcada.
Compete com outros indivíduos da mesma espécie pelo alimento. Em maciços de flores
de “quintral” é comum encontrar machos solitários defendendo seu território com
intervalos de busca de néctar, ao mesmo tempo em que emitem sons deixam aparecer
a sua cabeça iridescente.

3. Durante o período reprodutivo, os “huemules” machos permanecem a maior parte do


dia perto das fêmeas e tentam manter afastados a outros, com rápidas perseguições,
bufadas e golpes no solo com uma das patas dianteiras. Ocorrem brigas como prova
de força e dominação, porém sem violência.

b. Canibalismo:
Exemplo:

A “perca” é um peixe, habitante de lagos e rios da Patagônia, muito voraz. Além de ingerir
peixes e outros pequenos animais aquáticos é capaz de comer a sua própria cria. A truta
(trucha) marrom (salmonideo introduzido) age de forma similar.

Interações interespecíficas (entre distintas espécies):

a. Competência:
Exemplos:

1. A cana “colihue”, quando está presente em alta densidade no bosque, costuma


inibir a regeneração das espécies arbóreas e arbustivas, que potencialmente
poderiam ocupar o “dosel” (parte mais alta do bosque) ou o “sotobosque”.
2. A única espécie de “abejorro” nativo dos bosques andino-patagônicos é o
mangangá (Bombusdahlbomii). Este poliniza a maioria das plantas herbáceas do
bosque, favorecendo, desta maneira a reprodução das mesmas. No Chile foram
introduzidos desde Europa, duas espécies de “abejorros” (Bombusruderatus e
Bombusterrestris), os que transpassaram a fronteira argentina e atualmente estão
competindo com o mangangá, devido a que utilizam os mesmos recursos florais:
amancay, arvejilla, parrilla, etc.
3. O “huemul” é um mamífero em grande perigo de extinção no PNNH. As principais
causas desta ameaça estão intimamente relacionadas com a atividade do homem:
fragmentação e perda do habitat natural pela introdução do gado e do cervo
colorado. Os animais domésticos representam uma ameaça importante para o
“huemul” porque o deslocam do seu território, competem pelo alimento e lhe
transmitem doenças.

Predadora
É a conduta pela qual os indivíduos de uma população capturam e consomem total ou
parcialmente aos indivíduos de outra população, incluindo plantas por animais, animais
por animais. Também é considerada predadora a digestão de pequenos animais por
plantas carnívoras ou por fungos (cogumelos).
A população que come outra é predadora e a população consumida é a presa.

Exemplos:

1. O puma é um dos depredadores naturais do “huemul” e do “pudú-pudú”; o zorro


cinza do macaquinho do monte (monitodel monte), roedores e de frutos; o gato
“huiña” de pássaros.
2. Os “búhos” e as corujas, também são aves depredadoras e estão especializadas
para a captura de presas vivas, principalmente roedores, aves, anfíbios, repteis e
insetos.

Mutualismo
Este tipo de relação é manifestado quando os organismos de espécies diferentes vivem
firmemente ligados, porém somente um deles é beneficiado.

Exemplos:
1. Os liquens do gênero Usnea e Protousnea (barbas do diabo) são organismos
epífitos dos bosques andino-patagônicos. Utilizam as árvores e arbustos para
conseguir sustento e maior exposição à luz solar. Desta maneira são favorecidos
enquanto que as árvores não.
2. As espécies de trepadeiras do bosque: cynanchum, mutisia e arvejillasusan usam as
outras plantas para apoiarem-se e subir. Algumas delas o fazem mediante umas
estruturas encontradas nos talos denominadas gavinhas. Desta forma são
beneficiadas.
3. Os “búhos” (corujas) que habitam o bosque possuem um método de caça que se
constitui em perseguir desde um ponto e atacar subitamente à presa, o que
usualmente acontece desde ramas baixas. Estas aves de rapina são favorecidas
pelas plantas.
4. Os pássaros “carpinteiros” (Pica-pau) constroem buracos, principalmente nas
árvores de “lenga” e “ñire” em busca de alimento ou nidificação. Outras aves do
bosque como o “rayadito” (listadinho), os “caburés” e as “cachañas”, se convertem
em usuários de tais buracos quando são abandonados pelos carpinteiros. As
mesmas se refugiam do frio inverno ou os aproveitam para preparar seus ninhos.
Resumindo, as pequenas aves resultam favorecidas sem causar nenhum dano aos
pássaros carpinteiros (pica-pau).

Parasitas e Semiparasitas
Esta relação é manifestada quando um organismo vive a custas do outro, causando-lhe
dano e não recebendo nada em troca. Existem organismos que na primeira etapa de sua
vida são parasitas, mas logo após que conseguem se estabelecer torna-se semiparasitas.
Isto quer dizer que dependem parcialmente do hospedeiro (organismo em que vive um
parasita).

Exemplos:
1. Os cogumelos do gênero Cyttaria (os llao-llao) vivem exclusivamente sobre as árvores
do gênero Nothofagus apoderando-se dos nitratos de carbono ou açúcares que essas
plantas fabricam mediante o processo da fotossíntese.
2. O “quintral” (Tristerixcorimbosus) é uma planta hemiparasita. Esta planta não possui
raízes e é por meio de “haustorios” (estruturas similares a raízes), que se prendem aos
ramos de plantas como “maitén”, “chin-chin”, “maqui”, onde extrai água e sais
minerais. As mesmas são utilizadas pelo “quintral” para elaborar seus açúcares, já
que,suas folhas contêm clorofila.
3. Além do “Quintral”, outro caso de semiparasitas nos bosques patagônicos é
constituído pela espécie de gênero Misodendron. Estas plantas endêmicas se agarram
a ramas jovens das árvores do gênero Nothofagus, mediante “haustórios”. Logo após
romper a casca (córtex) estabelece uma conexão entre seus vasos condutores com os
da planta “hospedeira” - para a obtenção de água e minerais, a pesar que estudos
recentes afirmem que durante os primeiros anos (entre 2 a 8) os Misodendron se
comportam como plantas parasitas.
4. Outro exemplo de parasitismo, que alguns autores denominam Inquilinismo: como as
“agallas” que são “estruturas anormais de partes de tecidos ou órgãos das plantas que
se desenvolvem pela reação especifica ante a presença de atividade de um organismo
condutor, freqüentemente um inseto”. Este induz (pica) folhas, talos ou gemas para
nutrir-se ou para botar seus ovos. Desta forma é produzida uma reação da planta que
incluí basicamente um fenômeno de hipertrofia (crescimento anormal das células) e
hiperplasia (multiplicação anormal das células). Como conseqüência aparece
estruturas com diversas formas, que na maioria dos casos são volumosas, esféricas, de
bolsas fechadas ou abertas e que as pessoas costumam confundi-las com frutas e/ou
flores por seu parecido.
5. Logo de colocar os ovos nascem as larvas que por sua vez utilizam a “agalla” como um
meio de busca de nutrição especializada, proteção frente ao meio e aos inimigos
naturais. Quando são adultos abandonam a “agalla” repetindo o ciclo. Tais ciclos são
muito variados, dependendo do tipo de inseto que produziu a indução.
6. As “agallas” são comuns de ver nas árvores do gênero Nothofagus, e também no
gênero Berberis (michay, calafate), em chaura e laura.

Mutualismo: é uma associação de aproveitamento mutuo entre dois indivíduos que vivem em
harmonia. Às vezes é manifestado em forma permanente (simbiose obrigatória) e em outras
(simbiose facultativa).

Simbiose obrigatória: quando a relação entre dois indivíduos é fundamental para as suas
vidas.
Exemplos:
1. Os líquenes, já citados anteriormente, são organismos do produto da associação de
algas e cogumelos (fungos). Estes últimos aportam umidade e sais minerais
necessários que coletam o ambiente e as algas, ao possuir clorofila fabricam açúcares
por fotossínteses para serem utilizados pelos fungos.
2. Uma das associações simbióticas mais conhecidas no solo é constituída pelas bactérias
do gênero Rhizobiumcom, com as raízes das plantas da família das leguminosas ou
fabales (no Brasil chamado de favela – fica no sertão nordestino) (plantas que
produzem frutos em forma de vagens como as “vicias”, “lupinos”, “retamas”, entre
outras. A planta proporciona à bactéria hidratos de carbono como fonte de energia e
um meio protetor, e em troca, a planta recebe da bactéria nitrogênio numa forma
utilizável para a formação de proteínas. Esta relação é fundamental para as plantas,
pois, as mesmas não são capazes de transformar o nitrogênio do ar em nitrogênio
assimilável, como fazem com o dióxido de carbono. Como produto desta associação,
forma-se nas suas raízes umas estruturas mais ou menos esféricas aonde vivem as
bactérias.

Simbiose facultativa: quando a relação estabelecida entre os dois indivíduos não é


permanente, ou seja, podem viver em independência.

Exemplos:
1. O colibri rubi ( Sephanoidessephanoides) alimenta-se, durante o outono e o inverno
das flores do “quintral” (Tristerixcorimbosus). Introduz seu bico na corola das mesmas
e com a língua chupa o néctar. Para isso, o colibri golpeia os estames do quintral e
contribuindo assim com a polinização, transportando o pólen de uma flor a outra,
estabelecendo uma proveitosa ajuda.
2. O macaquinho do monte é um marsupial do bosque que se alimenta, entre outras
coisas, dos frutos do quintral. Posteriormente dispersa, junto aos seus excrementos, as
sementes do quintral sobre as ramas das plantas: “chin-chin”, “maqui”, “maitén”, etc.
Desta forma o macaquinho do monte e o quintral se ajudam mutuamente. O primeiro
se nutre e o segundo se reproduz.

AS RELAÇÕES ALIMENTISTAS NO BOSQUE

Um dos aspectos mais importantes, tanto no bosque como em qualquer outro ecossistema
são as relações alimentícias entre as diferentes populações ou comunidades. As mesmas se
representam por meio de cadeias denominadas alimentícias ou tróficas e marcam a rota da
energia através duma serie ordenada de seres vivos de um ecossistema.
A maior parte dos indivíduos é “comida” (relação de um comer o outro ou servir como
alimento) por várias espécies predadoras. Por esta razão as cadeias não estão isoladas, senão
que formam uma complexa rede de cadeias entrelaçadas às quais se denominam redes
tróficas.
Consumidores – todos os seres vivos precisam se alimentar de outro ser vivo para obter
energia e nutrientes.
O lugar que ocupa cada organismo dentro da rede, chama-se nível trófico. No primeiro nível
trófico, encontram-se os produtores, ou seja, os organismos autótrofos da comunidade: as
plantas responsáveis da produção de alimentos a partir de CO2, água e sais minerais. Neste
nível a fonte de energia é a luz solar.
No segundo nível estão localizados os consumidores primários ou herbívoros, que se
alimentam diretamente das partes verdes dos vegetais, dos seus talos e folhas ou flores,
frutos e sementes.
Logo, no terceiro nível, estão os consumidores secundários ou carnívoros.
Existem também os consumidores terciários, que são os animais que se alimentam dos
carnívoros ou de algumas de suas partes; um exemplo deste último são os animais
carniceiros, como os condores e os “jotes” (espécie de urubu chileno), aos quais ocupam o
4to nível trófico.
Sobre todos os organismos citados atuam os decompositores - ou redutores; neste
conjunto se encontram os fungos (cogumelos), as bactérias e os actinomicetes, os que
utilizam como fontes nutritivas os excrementos destes organismos, como também os seus
cadáveres. Desfazem a matéria orgânica (restos de plantas e animais) através do processo
de desmineralização – devolvendo os minerais ao solo.
Os decompositores são os seres vivos que possuem a tarefa de decompor e reincorporar a
matéria prima ao meio ambiente.

Tradução: Prof. Flávia Do Amaral Marino (AUSMA – DIEPE – UNCO)


Revisão específica: Gisele Rodrigues Rosa - Bacharel em Geografia, licenciada em
Pedagogia e Pós-Graduada em Gestão do Currículo. Atua como Professora de
Geografia na Rede Estadual de São Paulo desde 2008.

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