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Apontamentos de Filosofia – 11º ANO

Tópico de Estudo nº 4 – O conhecimento e a racionalidade científica e tecnológica

1- Estrutura do ato de conhecer:


A Epistemologia é a área da Filosofia que se dedica ao estudo dos problemas relativos
à natureza, às fontes, ao alcance e aos limites do conhecimento. De entre os problemas
mais discutidos em Epistemologia destacam-se os seguintes: O que é o conhecimento?
Como podemos ter a certeza de que sabemos seja o que for? Será o conhecimento
possível? Qual a origem do conhecimento? Etc.

2- O que é o conhecimento?
O problema da natureza do conhecimento pode ser intuitivamente formulado do
seguinte modo: “O que é o conhecimento?”. De um modo muito geral, o
conhecimento pode ser entendido como uma relação entre um sujeito – aquele que
conhece – e um objeto – aquilo que é conhecido.

3- Tipos de conhecimento
No que diz respeito ao seu objeto é comum distinguirem-se três tipos de
conhecimento: o conhecimento por contacto, o conhecimento prático e o
conhecimento proposicional.

a) Conhecimento por contacto - Diz-se que temos conhecimento por contacto,


quando estamos em contacto direto, através dos sentidos, com uma
determinada porção do real, como por exemplo, quando alguém afirma: “Eu
conheço o Presidente dos Estados Unidos”.
b) Conhecimento prático – Diz-se que estamos perante uma situação de
conhecimento prático quando sabemos executar uma determinada atividade. Por
exemplo: “Eu sei nadar”.
c) Conhecimento proposicional – Diz-se que temos conhecimento proposicional
quando aquilo que sabemos consiste numa proposição verdadeira acerca da
realidade (‘saber-que’, ou conhecimento acerca das coisas). Por exemplo, “Eu sei
que Sócrates era filósofo”.
Destes três tipos de conhecimento, apenas o conhecimento proposicional pode ser
diretamente transferido de pessoa para pessoa.

O conhecimento proposicional tem vindo a ser um dos tipos de conhecimento mais


discutidos desde a Antiguidade.

A crença, a verdade e a justificação são conjuntamente condições necessárias e


suficientes para o conhecimento.

Podemos concluir que: S=sujeito/ p=proposição

S sabe que p, se, e só se:

1. S acredita em p.

2. p é verdadeira.

3. S tem uma justificação para acreditar em p

Esta definição ficou conhecida como Definição Tradicional de Conhecimento, ou Definição


Tripartida de Conhecimento.
4- Os casos de Gettier:
Edmund Gettier (filósofo americano, 1963) apresentou contraexemplos à Definição
Tradicional de Conhecimento que ficaram conhecidos como os casos de Gettier.

No fundo, Gettier dizia que é possível termos uma crença verdadeira justificada e,
ainda assim, não termos conhecimento, pois, por vezes, a nossa justificação não se
baseia nos aspetos da realidade relevantes para a verdade da nossa crença.

Por exemplo:
O relógio da cozinha é sempre fiável e costumo utilizá-lo para ver as horas.
Hoje antes de ir para a escola vi as horas no relógio da cozinha e marcava 7:55h.
Daí, pensei que eram 7:55h. O facto de o meu relógio da cozinha nunca me ter
enganado, estando sempre certo, justifica a minha crença.
Embora, sem que eu soubesse, o relógio ficou sem pilhas e parou no dia anterior
precisamente às 7:55h.
Neste caso, temos uma crença verdadeira justificada (é ainda necessário que sejam, de
facto, 7:55h) que não é um conhecimento.

5- Análise comparativa de teorias explicativas do conhecimento


Será o conhecimento possível?

Para esta questão vamos ter duas respostas: a resposta cética e a resposta
fundacionalista.

Ceticismo

A argumentação cética baseia-se na ideia de que só temos conhecimento se tivermos


crenças justificadas e, uma vez que justificamos as nossas crenças com base noutras
crenças, acabamos sempre por cair numa cadeia de justificações, mas como as cadeias
de justificações ou terminam arbitrariamente numa crença injustificada, ou voltam-se
sobre si mesmas de modo viciosamente circular, ou regridem infinitamente, não são
capazes de justificar seja o que for e, por conseguinte, o conhecimento não é
possível.

Objeções ao ceticismo:

Alguns autores consideram o ceticismo uma posição autorrefutante, isto é, que


demonstra a sua própria falsidade, pois afirma que sabe que o conhecimento não é
possível.
a) Bertrand Russell fez notar que não há justificação possível para colocarmos em
suspenso todas as nossas crenças em simultâneo, pois se todas as nossas crenças
estão suspensas, nenhuma delas pode servir de justificação seja para o que for.

b) David Hume considera que se puséssemos permanentemente em causa


determinadas ideias que no dia-a-dia assumimos como garantidamente
verdadeiras, poderíamos acabar por nos tornar incapazes de fazer fosse o que
fosse.

Conclusão:

Os fundacionalistas rejeitam o ceticismo através da distinção entre dois tipos de


crenças: as crenças básicas e as crenças não-básicas.

As crenças básicas são de tal modo evidentes que não precisam de ser justificadas
por outras crenças, justificam-se a si mesmas, são autoevidentes. Exs.: “Eu existo”,
“Estou a ter a experiência de ler um livro” e “2 + 2 = 4”.

As crenças não-básicas, pelo contrário, não são autoevidentes, são inferidas a


partir de outras crenças, justificam-se com base noutras crenças. Exs.: “Existem
outras mentes pra além da minha”, “A obra Os Maias, de Eça de Queirós tem mais
de 200 páginas”.

Assim, segundo o fundacionalismo, visto que crenças básicas não carecem de


justificação, elas podem justificar as crenças não-básicas sem que sejam
necessárias justificações adicionais.

c) O Fundacionalismo Cartesiano

René Descartes é um dos mais famosos fundacionalistas de todos os tempos. O


seu objetivo era estabelecer um conhecimento seguro e indubitável. O seu
método era a dúvida metódica, que consistia em duvidar de tudo o que se possa
imaginar e averiguar o que resiste a esse processo.
Ao contrário da dúvida cética original, a dúvida cartesiana é:
 Metódica: é apenas um método para encontrar um conhecimento seguro;
 Provisória: subsiste apenas até que se encontre algo absolutamente certo
e indubitável;
 Universal: por princípio, pode aplicar-se a todas as nossas crenças;
 Hiperbólica: não se limita a pôr tudo em dúvida, mas rejeita como falso o
meramente duvidoso.

Descartes apresentou várias razões para duvidar: as ilusões dos sentidos, a


indistinção vigília-sono, os erros de raciocínio, a Hipótese do Deus Enganador
e a Hipótese do Génio Maligno.

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