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Evani Zambon Marques da Silva KOVACS, M, J. Amorte em vida. In: BROMBERG, M. H, P.F. (et e morte: lagos de existéncia, S30 Paulo: Casa do Psicdlogo, 1996, OLIVEIRA, C. C, Casamento e viuvez, In: FRANCO M. Estudos avangados sobre 0 luto. S40 Paulo: Livro Pleno, PARKES, C. M. Luto: estudos sobre a perda na vide adulta, So Paulo: ‘Summus, 1998, SHINE, S.K.A familia em ltigio. In: RAMOS, M. (org.) 0 ‘como paciente. S20 Paulo: Escuta, 1994, SILVA, E. Z. M.A pat Juarez de Oliveira, 1999, nidade ativa na separago conjugal, So Paulo: termindvel. Sao Paulo: Casa do WALSH, F; MCGOLDRICK, M. Morte na familia: sobrevivendo as perdas. Porto Alegre: Artes Médicas, 1998, so mizados: Criangas e adolescentes rotina dos atendimentos Solange Maria Amaral S. Pinheiro presente trabalho visa abordar a pratica no que perfil psicolégico de criangas e adolescentes {ratos fisicos e psicolégicos, inseridos num processo de ave de atendimentos realizados na Vara Central da Infénci psicdlogo judiciario difere daquele do psi que sua atividade esté circunscrita no ambiente inst o Férum Central. Devemos portanto levar em consideracdo a vinculagao como sistema juridico. ‘A realizagdo de uma avaliagdo psicolégica para fins de pericia junto & frea juridica parte de conhecimentos basicos da psico- Togia, mas necessita que se faca uma adaptagio desses conheci- mentos junto as normas legais (Cunha, p. 18) Segundo essa autora, 0 psicélogo judiciério para realizar uma avaliagdo psicologica deve possuir conhecimentos da area psicolégi- ca como também conhecimentos do ponto de vista legal. Nas Varas de Infincia e Juventude ndo se realiza a pericia propria- mente dita, mas a vinculago com o sistema juridico requer a adaptacao dos conhecimentos psicoldgicos as normas legais. O acesso as vitimas decorre da procura das mesmas, de seus familiares ou por meio de deniin- cias que séo apuradas de acordo com determinagées judiciais. A partir deste primeiro contato é que se inicia 0 processo de avaliagdo psi As criangas e adolescentes maltratados apresentam sinais e sin- tomas caracteristicos e representativos em termos de amostra, Sé0 casos que muitas vezes dependem de observagdo atenta e aprofiun- dada pelo proceso de avaliagto psicolégica, pois a violencia tende a Solange Maria Amaral S, Pinheiro ser encoberta, principalmente quando a crianea ou 0 adolescente sao vitimas dos préprios pais ou parentes mais proximos. A despeito da atmosfera de urgéncia e dramatizaglo, quando entramos em contato com familias cuja erianga foi exposta a ccaréncia, maus-tratos, abusos sexuais, éessencial dar-se 0 tempo de olhar; observar,avaliaras relagdes paisfilhos, tanto do ponto de vista da crianga, quanto de seus pais (Gabel, p. $20). A tentativa dos adultos de encobrir a violéncia contra criangas e adolescentes, de impedir que venha & tona por uma simples coleta de dados, € fato que pudemos perceber em nossa pratica profissional como psicdloga judiciaria na Vara da Infincia e Juventude do Férum Central, no periodo de 1996 a 2001 © nosso trabalho se insere no esforgo coletivo de langar mais luz sobre esse fendmeno social do qual temos poucos dados ainda. ‘Temos claro que todas as estatisticas disponiveis no Brasil e no mundo mostram apenas a ponta visivel de um iceberg. Embora ~ sobretudo @ partir da segunda metade do sée. XX — existam dados sobre as varias modalidades de violéncia doméstica na infancia e adolescéncia em grande nimero de paises, forgoso Feconhecer que esses dados referem-se quase sempre @ VIO- LENCIA DENUNCIADA (Azevedo e Guerra, p. 65), A propria citagdo das autoras acima aborda um fato denomi- nado complé do siléncio, que envolve todo o contexto da violencia, no qual os familiares, 0 agressor e a prépria vitima passam a ‘compactuar para a perpetuagao das respostas agressivas. Este silén- cio cria um segredo entre vitima e agressor, que deve ser desvendado ‘no momento certo e com as devidas precaugdes do profissional, fase denominada revelacdo, que para algumas vitimas, dependendo das caracteristicas de personalidade ¢ do tipo e freqiiéncia da agressao, ocorre com mais facilidade do que para outras, As mesmas autoras adiantam que: “Um grande niimero de casos permanece encoberto pelo ‘complé do siléncio’, de que acabam sendo ctimplices os pais, familiares, vizinhos e propria vitima’” CCriangas @ adolescentes vitimizados: rotina dos atendimentos Nesse sentido, ataref do psicélogo judicidrio é de extrema im- portancia e requer uma investigagéo pormenorizada, atenta voltada para o ndo-verbal. Na t6nica da avaliacdo de criangas ¢ adolescentes, ‘maltratados, inseridos no contexto e atendimento do judicidrio ea fim de possibilitar uma visto mais pratica do cotidiano dos profissionais que atuam nesta area, apresentaremos uma amostra de 53 casos de maus-tratos e/ou abuso sexual, dentro de um total geral de 85 atendi- mentos de criangas ¢ adolescentes realizados na Vara da Infancia Juventude de Sio Paulo, Férum Central, no periodo de janeiro de 1996 a marco de 2001 A descrigdo das caracteristicas observadas nas entrevistas com criancas e adolescentes vitimizados, bem como o conhecimento dos er30s sintomas e do perfil psicolégico que tais criangas podem apresentar serio brevemente abordados e dispostos em tépicos para ‘maior clareza da exposicao. Procuraremos identificar tragos psicolégicos da crianga ou do adolescente vitima e de sua dindmica, percebidos no contexto de ava- liagdo psicoldgica, tratando de elencar os aspectos que permeiam a complementariedade do bindmio vitima-agressor eda reprodug2o da agressio. Cabe ressaltar que em nossa pratica profissional foi posst- vel detectar que muitos dos agressores foram vitimas em sua infan- cia ou adolescéncia, Essa constatagdo adveio das entrevistas que foram realizadas, sempre que possivel, com os agressores que, 20 se reportarem a seus histéticos, trazem contetidos relacionados a trau- mas por agressdes/abuso sexual dos pais e/ou fa damento desta constatagdo pode ser motivo de outra investigagao no sentido de comprovar a hipdtese detectada a partir das entrevistas ‘com as 53 vitimas. Em muitos casos os dados de um passado trauma- tico no historico do agressor vém tona por relatos de outros familiares ‘ou da propria vitima, Observamos que a dependéncia quimica a dro- gas e alcool & uma caracteristica comum ao perfil do agressor, dado obtido também em situacao de entrevista, por meio da pesquisa do historico dos agressores, A psicodinémica do agressor, sua participagao nas entrevistas, individualmente ou em conjunto com a vitima, tanto quanto os encon- {ros com 0 nao agressor (mae ou pai, irméos, tis, primos, avés da vitima e pessoas afins), também fazem parte do processo de aval 33 Solange Maria Amaral S. Pinheiro te trabalho, o enfoque seré dado ao perfil da vitima, abor- dando-se as caracteristicas do agressor quando isto se fizer necessé- rio para uma maior compreensto, No sentido de conceituar a ce adolescentes de forma abrang das as diferengas culturais, pod: ‘Sto maltratadas as criancas vitimas por parte de seus pais ou responsi ides voluntirias seja de uma au- séncia voluntaria de cuidados, acarretando lesdes fisicas ou problemas em geral (Straus, 1985), Entende-se por sevicias toda agressfo fisica ou mental, abuso sexual, negligéncia ou maus-tratos perpetrados sobre um indi- tuo de menos de 18 anos por seus pais ou responséveis (Cortecuisse, 1984), Violéncia fisica é considerada como um ato executado com tenc&o, ou intengdo percebida, de causar dano pessoa. O dano fisico pode ir desde a imposigao leve passando por um tapa até o assassinato (Gelles, 1979), © abuso corresponde aos atos perpetrados que resultam dano ¢ éncia aos atos de omissio que tém efeitos negativos 971). Tais conceituagdes deixam claro que a violencia doméstica é uum fato constatado em criangas e adolescentes com uma freqliéncia a, A agressiio verbal, ao abu- ncia € maus-tratos causados por pais ou respon- sdveis, bem como por pessoas da convivéncia da vitima. Devemos pensar também na violéncia que ocorre fora do ambiente doméstico, que pode ser causada por pessoas desconhecidas da crianga e do adolescente 54 ‘riangas © adolescentes vitimizados:rotina dos atendimentos A entrevista Antes de abordarmos as questdes sobre o perfil psicolégico de iangas e adolescentes vitimas de maus-tratos fisicos ¢ psicolégicos, istem aspectos relevantes na condugo das entrevistas que podem ser apontados. Por exemplo, é possivel verificar que as criangas ou idolescentes vitimizados, ao contarem para o profissional as cir- cunsténcias que envolveram 0 contexto de maus-tratos e/ou abuso sexual estdo dizendo a verdade quando as evidéncias apontaram para relatos coerentes, corroborados através das entrevistas e pela ‘80 de técnicas projetivas. Atuaimente, aqueles que conhecem esses situagées e costumam trabalhar com criangas inscritas numa populagdo dita “de risco” sabem que s€o poucos os casos em que as criangas no dizem verdade. Tudo isso parece ser inspirado pela preocupacao de io da palavra da crianca, base de sustentago que the ‘momento em que sua palavra nao Ihe pertence mais ar significa ir além da busca da sta que intervém numa segunda eta- pa. No entanto que estes parecem concordar ao dizer Summit (1983) ou Liliane Deltaglia (1990) que os casos de fabulacao sto raros e que mesmo um testemunho aparentemente duvido- 0 pode dizer respeito a fatos que, mais tarde, serdo reconheci- dos como reais (Gabel, 1997), No decorrer das entrevistas, as criangas e os adolescentes vitimizados precisam ser esclarecidos e orientados da melhor forma possivel quanto as suas reagdes, seus sentimentos, muitas vezes am- biguos, bem como quanto & necessidade de um trabalho psicoterépi- 0. Verificamos que o momento da revelagao, em alguns casos, pode no ser imediato ao infcio da av izica, dependendo da estrutura do vinculo entre o pr: ‘bem como das caracterist tados. O jovem deve sentir-se trangililo ¢ a vontade, percebendo que pode confiar no profissional que o esté atendendo. As revelagdes, as ve~ es, so parciais eo assunto pode ser mais grave do que aparenta. A ss

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