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Biologia e Geologia - 10º Ano

Ficha Informativa Janeiro de 2015


Prof. José Luís Alves

Nome: __________________________________________ Nº:____ Turma:___

Teixo, os dias do fim?


Venenoso, todavia pleno de virtudes curativas, odiado por pastores e no entanto,
avidamente procurado por multinacionais farmacêuticas, o teixo é, certamente, uma das
mais extraordinárias, porém raras e ameaçadas, árvores da flora portuguesa.
"Por mim cortava-os todos", sentencia Manuel Sebastião,
pastor sexagenário da aldeia de Parada, referindo-se aos
inúmeros teixos de pequeno e médio porte que pontuam a
encosta da Corga das Quebradas, na vertente oriental da
serra do Gerês.
"Se o gado lhes chega, não tem remédio, morre!", explica o
pastor enquanto vai ajuizando dos malefícios do teixo sobre
os animais. De facto, a elevada toxicidade do teixo (Taxus baccata), situação que advém da
presença de um alcaloide venenoso em todos os órgãos desta árvore, a taxina, terá sido,
provavelmente, um dos fatores que mais diretamente contribuiu para o declínio da espécie
em Portugal ao longo dos últimos séculos, já que para proteger os animais domésticos de um
eventual envenenamento, os pastores a foram eliminando dos tradicionais locais de
pastoreio.
Atualmente, pouco resta dos magníficos bosques de teixos, as
Teixeiras, que terão vegetado um pouco por toda a região
montanhosa do norte e centro do país, sobretudo em áreas
abrigadas, até aos 1500 metros de altitude. E nem a extrema
resistência desta conífera à seca, às pragas e até aos
incêndios, característica que a converteu numa das espécies
mais longevas da nossa flora – podendo alcançar os 2000 e até 3000 anos! – obstou ao seu
paulatino desaparecimento, confinando-se as últimas e escassas centenas de exemplares
selvagens a locais húmidos, isolados e de difícil acesso nas serras do Gerês e da Estrela. Com
efeito, só os incêndios do Verão de 2005 terão afetado diretamente a quase totalidade da
população de teixos do Parque Natural da Estrela, estimada em cerca de 500 exemplares, no
que se tratou de um rude golpe na já reduzida população
nacional de teixos.
Apesar desta situação de pré-extinção que tanto aflige os
botânicos portugueses, tempos houve em que o teixo, uma
árvore nativa da Eurásia, com origem algures no período
Jurássico (entre 213 e 65 milhões de anos), ocupou lugar de
destaque nas crenças de várias comunidades humanas. Na
cultura celta, por exemplo, o teixo era venerado como árvore sagrada. Acreditava-se que
encerrava propriedades mágicas porque mantinha a sua folhagem verde durante todo o ano,
prolongando eternamente a vida do espírito. Também a história do cristianismo está

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intimamente ligada ao teixo, uma vez que, de acordo com alguns investigadores, o “lenho
sagrado” (a cruz onde Cristo terá sido crucificado) foi feita a partir da sua madeira.
De resto, desde a mais remota antiguidade que a madeira de
teixo, por ser forte, compacta, «elástica» e resistente à
putrescência, tem sido utilizada por escultores e torneadores
para o fabrico dos mais variados utensílios, como arcos,
lanças, pipos, tamancos, utensílios de cozinha e até
instrumentos musicais. As próprias amêndoas da semente do
teixo, cujo invólucro globoso e coloração vermelha viva são
uma das características distintivas desta planta, foram
durante séculos utilizadas no fabrico de um óleo apreciado pelo seu sabor agradável. Mais
recentemente, o teixo tornou-se alvo do interesse da indústria farmacêutica, pelo facto das
suas folhas serem ricas em taxol, um agente anti-tumoral utilizado com sucesso no
tratamento do cancro do ovário e da mama.

Relíquias centenárias
Em Portugal, são raros os teixos de grande porte. Ainda assim, é possível encontrar alguns
exemplares, provavelmente plantados, com centenas de anos, facto que motivou a sua
classificação como «Árvores de Interesse Público». É o caso do teixo de Tranguinha, o mais
antigo conhecido em Portugal, e que se estima ter cerca de 700 anos de idade. Encontra-se
na freguesia de Santa Maria (Bragança) e está classificado desde 1974. Cerca de 200 anos é a
idade estimada do teixo que se encontra na Quinta do Senhor da Serra, na freguesia de
Belas, em Sintra. Igualmente centenário é o teixo da Quinta de S. João, classificado em 2000
e localizado na povoação de Teixoso, na Covilhã. Por último, duas referências curiosas. A
primeira para dois imponentes teixos existentes na cidade de Lisboa, ambos localizados no
Jardim Braancamp Freire e classificados em 1968 e 2000, respetivamente; a segunda para
dois outros teixos de soberbas proporções, existentes no recinto da antiga Faculdade de
Engenharia do Porto, na Rua dos Bragas, e que embora não se encontrem classificados,
constituem exemplares dignos de nota.

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