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VENDE-SE SHAPE: o corpo do Profissional de Educação Física nas redes sociais1.

Thanandra Priscila de Sousa Rocha Ferreira2


Fábio Soares da Costa3
Resumo
O objetivo deste estudo, foi identificar através de comentários no Instagram, quais categorias são
produzidas sobre o corpo dos profissionais de Educação Física que estão fora do padrão corporal
magro. Para alcançar os resultados, foi aplicado um estudo de caso de abordagem qualitativa
com caráter descritivo-analítico, através da análise de conteúdo categorial, dos comentários.
Foram encontradas 5 categorias a partir da quantidade de vezes que as palavras apareceram, em
um total de 120 comentários. Os resultados identificaram as palavras: acreditar, competência,
credibilidade, saber, saúde, estando relacionadas à piora da capacidade profissional na medida
proporcional que os mesmos, mantém ou aumentam um tipo físico fora do padrão corporal
magro.
Palavras-chave: Corpo; Subjetividades; Mídia.

Cada sociedade delineia um saber singular sobre o corpo e lhe confere sentido e valor
diferenciado, como a diferença entre as culturas ocidentais e orientais, onde na primeira o corpo
é objeto de censura, e para a segunda não há a separação entre o homem e o corpo, fato este, que
nos dá somente a certeza sobre a existência do homem como ser corporal. Para o homem
moderno, “ter um corpo é mais que ser um corpo”, onde as consequências disto, estão no
progresso dos desejos estéticos, assim, os profissionais que trabalham com a imagem/estética
corporal, tem por sua vez maior clientela (LE BRETON, 2011, p. 9).
Diante de exposto torna-se necessário identificar, quais categorias são produzidas sobre o
corpo dos profissionais de Educação Física que estão fora dos padrões corporais magros, nas
redes sociais? Bem como objetivamos compreender quais categorias sobre o corpo destes
profissionais apresentam maior significância, analisando os comentários produzidos sobre uma
postagem específica.

1 Trabalho apresentado ao Grupo de Trabalho 5 Corpo, Arte e Mídia, do IV Simpósio Nacional de Arte e Mídia.
2 Aluna do Programa de Pós-Graduação em Comunicação – UFPI. Email: thanandrapsrocha@gmail.com.
3 Mestre em Comunicação – UFPI e Doutor em Educação – PUCRS. Email: fabiosoares.com@hotmail.com.
De acordo com Sobreira (2017) no contexto mercadológico do segmento fitness, a
modelagem do corpo não depende somente, nas redes, do exercício e boa alimentação, mas
sobretudo do estilo de vida, de uma frase feita, da conjugação com a ingestão dos suplementos
anunciados, do modelamento do corpo ou da colaboração de profissionais (CARDOSO, 2016;
SOBREIRA, 2017). Sendo a ação do profissional questionada quanto sua forma física, por não
estarem cumprindo todas as exigências sociais e mercadológicas.
A abordagem metodológica se construiu a partir de uma perspectiva empírica, com
abordagem qualitativa de caráter descritivo-analítico e aplicação das técnicas de análise de
conteúdo categorial, foi realizado um estudo de caso dos comentários da rede social: Instagram.
Para a análise de conteúdo categorial, seguimos três etapas (ANDER-EGG, 1978), a primeira
consistiu em estabelecer a unidade de análise, para esta pesquisa as mesmas serão: Corpo e
Mídia. A segunda fase foi determinar as categorias de análises que se referem à seleção e
classificação dos dados. A postagem utilizada para esta pesquisa foi de um Profissional de
Educação Física, com perfil social no Instagram denominado @gutogalamba, com mais de 250
mil seguidores, e mais de 4.437 publicações, a postagem selecionada data do dia 05 de Outubro
de 2017, que teve um total de 3.354curtidas e 1.191 comentário 4, sendo selecionado para análise
10% deste número (120 comentários).
Figura 1 – postagem utilizada para estudo de caso

Fonte: Instagram, @gutogalamba

Por fim na terceira fase, realizamos a fase de análise, esta técnica consiste em classificar
diferentes elementos em categorias e, a partir de critérios que estabelecem sentidos, ser capaz de
introduzir uma ordem (análise de conteúdo categorial), ao que Bardin (2011, p. 43) denomina,
confusão inicial, que ocorreu com o auxílio do software gratuito IRAMUTEQ, utilizado para a
4 Dados do perfil @gutogalamba acessados em: 18/06/2018.
construção de diagramas com as palavras mais frequentes na análise textual das categorias
(CAMARGO e JUSTO, 2013, p. 517). Foram encontrados 5 classes de palavras, a partir da
quantidade de vezes em que as mesmas formam inseridas, tendo como partida da análise de 120
comentários (10% do total). As cinco classes derivam das seguintes palavras: a) NÃO (151
ocorrências), b) PESSOA (46 ocorrências), c) ESTAR (45 ocorrências), d) PESO (39
ocorrências) e e) com a palavra ACIMA (33 ocorrências).
Figura 2 – postagem utilizada para estudo de caso

Fonte: dados gerados pelo software Iramuteq

Para Fonseca (2017, p. 16) o corpo contemporâneo é uma espécie de valor moral
“presente na vida do indivíduo, e, de tão potente, o discurso da boa forma já está encrustado na
superfície de nossos corpos, legitimado pelos discursos midiáticos e corroborado por uma
imensurável variedade de produtos e serviços.” Partindo deste pensamento, as cinco classes
apresentadas construíram grupos de palavras que geraram significados distintos.
Vale destacar que a classe 1 (NÃO), está também atrelada as outras palavras das diversas
classes, fato este observável pelo número de ocorrências (151 ocorrências no texto), sendo-lhe
atribuído os sentimentos de preconceito, raiva, medo, frustração. Resultado este refletido pelos
julgamentos dos seguidores, especialmente pelo posicionamento sobre o corpo meio de avaliação
profissional. Como destaca o exemplo a seguir: Seguidor_3 “Pq acho q quem é gordo não tem
competência p me ajudar a emagrecer. Pode ser cruel, mas não confio em personal ou nutri
gorda”.
Quando trazemos todas as classes de palavras, para a discussão concluímos que as
categorias atribuídas aos profissionais de Educação Física que se encontram fora do padrão da
boa de forma, são associadas as palavras: acreditar, competência, credibilidade, saber, saúde. São
diretamente relacionadas à piora da capacidade profissional na medida proporcional que os
mesmos mantêm ou aumentam a má forma física.
Toda essa similaridade de conquistar um corpo que é reflexo do resultado de outro, não é
novidade, Bauman (2001, p. 79-80) nos dá como exemplo a atríz hollywodyana Jane Fonda, que
fez sucesso após comercializar um programa de ginástica para que mulheres de todas os perfis
corporais pudessem ter o corpo idêntico. Dar credibilidade ao que se vê (corpo) parece a curto
prazo um alívio às metas que são estabelecidas ano após ano, porém a verdade é mais profunda,
o conhecimento não pode ser medido somente pelo volume do bíceps, ou a carga que é
adicionada ao aparelho de agachamento, mas para que haja a certeza de que determinado
profissional é dotado de fato do conhecimento, clientes precisam dar como se diz popularmente,
um voto de fé. Poderíamos como sugestão simples navegarmos mais nos catálogos de currículos
para selecionarmos futuros profissionais do que, selecionamos as buscas das redes sociais.
Como pontua Moraes et al (1997, p. 48), “é possível que a própria palavra “navegação”
signifique, conforme o Aurélio, um percurso de ponto a ponto até a superfície – ou uma
escapadela para desbravar os sete mares virtuais”, da mesma forma pode ser que a solução para
nossa indagação seja a pesquisa correta para necessidades específicas. Fica aqui porém o desejo
enquanto profissional de Educação Física, não que as redes sociais estejam limitadas para nossos
serviços, mas que ela seja ferramenta útil para um público maduro nas suas escolhas.

Referencias

ANDER EGG, Ezequiel. Introducion a las tecnicas de investigación social: para


trabajadores sociales. 7 ed. Buenos Aires: Editora Humanitas, 1978.

BARDIN. Laurence. Análise de conteúdo. 2ª reimpressão da 1ª edição. Lisboa: Editora Edições


70, 2011.

BAUMAN, Z. Modernidade líquida. Rio de Janeiro, Jorge Zahar, 2001.

CAMARGO, Brigido Vizeu; JUSTO, Ana Maria. IRAMUTEQ: Um Software Gratuito para
Análise de Dados Textuais. ISSN 1413-389X, DOI: 10.9788/TP2013.2-16. Temas em
Psicologia – Vol. 21, nº 2, 513-518, 2013.

CARDOSO, B. C. Influência das redes sociais da Digital Influencer Paula Feijó no


comportamento de seus seguidores. Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2016.
FONSECA, A. F. Ruínas do corpo: práticas de si e os sentidos da “boa forma” na
contemporaneidade. Dissertação (Mestrado em Comunicação) Universidade de Brasília, 2017.

LE BRETON, David. Antropologia do corpo e modernidade. Petrópolis, RJ: Editora Vozes,


2011.

MORAES, Dênis de (org). Globalização, mídia e cultura contemporânea. Campo Grande:


Letra Livre, 1997.

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