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Sumário:
Radiações ionizantes. Grandezas e unidades relativas às radiações. Aplicações
Radiações ionizantes
O alcance das partículas alfa de 1 MeV é pequeno mas cresce à medida que a energia
das partículas aumenta. Por outro lado, as fontes emissoras de partículas alfa têm
tempos de meia-vida da ordem das centenas de anos o que as torna potencialmente
perigosas se forem ingeridas pois podem ficar alojadas numa parte do corpo, radiando
continuamente. Apesar de o alcance desta radiação ser pequeno, ela é muito destrutiva.
O problema não existiria (ou seria mais limitado) se as meias vidas fossem, no máximo,
da ordem de grandeza do dia.
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O poder de penetração depende, portanto, do tipo de radiação, da energia desta e,
obviamente, do material irradiado. Na Fig. 36.1 representa-se o alcance das partículas
alfa em função da sua energia para diferentes materiais. Esse alcance é muito distinto no
ar ou noutros materiais sólidos ou líquidos. Por isso, e por comodidade de
representação, utilizou-se uma escala vertical logarítmica.
Radiação α
100
Ar
10
alcance / cm
0,1
alumínio
água
0,01 chumbo
0,001
10 20 30 40
Energia / MeV
Figura 36.1
O alcance das partículas no ar é cerca de mil vezes maior (ordem de grandeza) do que
nos outros materiais referidos na figura. O chumbo absorve bem as partículas alfa: uma
chapa com meio milímetro de espessura absorve todas as partículas alfa até 40 MeV.
As partículas alfa provenientes de uma fonte monoenergética têm um
comportamento na matéria que se caracteriza por quase todas terem a mesma penetração
(ver Fig. 36.2).
Nº partículas α absorvidas
Número de partículas α
R0 x R0 x
Figura 36.2
Na parte esquerda da Fig. 36.2 representa-se o número de partículas alfa de uma dada
energia que atingem a profundidade x num material. Poderia acontecer que as partículas
fossem absorvidas à medida que o feixe penetrasse, diminuindo a sua intensidade. Não é
isto que se verifica. Quase todas atingem a profundidade designada na figura por R0 que
é, assim, o alcance médio das partículas. Claro que algumas não chegam a ter esse
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alcance mas outras até o ultrapassam. No lado direito da Fig. 36.2 mostra-se o número
de partículas alfa absorvidas pelo material em função da distância. Quase metade
ultrapassa a posição R0, mas são absorvidas quase imediatamente.
Este mesmo comportamento ocorre com iões pesados (outro nome que se dá aos
núcleos dos átomos) o que aconselha a sua utilização em terapia pois “desaparecem” em
zonas muito limitadas.
As partículas beta (electrões e positrões de origem nuclear) têm massa muito
menor do que a das partículas alfa e energias que podem ser muito maiores do que as
energias típicas com que as partículas alfa são emitidas. Quando atravessam a matéria,
as partículas beta têm trajectórias ziguezagueantes devido justamente à sua massa
diminuta. A sua massa pequena faz, por outro lado, que tenham uma penetração maior
do que as partículas alfa. Na Fig. 36.3 representa-se o alcance da radiação β− na água
alumínio e chumbo. Para uma melhor comparação, representa-se na mesma figura o
alcance das partículas alfa em água (a curva é a mesma da Fig. 36.1 mas notar as escalas
diferentes).
Radiação β
100
água
10 alumínio
alcance / cm
1 chumbo
0,1
α água
0,01
0,001
0,1 1 10 100 1000
Energia / MeV
Figura 36.3
Tal como na Fig. 36.1, utiliza-se na Fig. 36.3 uma escala vertical logarítmica; ao
contrário da Fig. 36.1, utilizamos agora uma escala horizontal também logarítmica pois
a banda de energia da radiação beta é muito maior do que a da radiação alfa. Dos
materiais referidos na figura, o chumbo é o que tem maior capacidade de absorção de
radiação beta. Para parar um feixe de electrões de 100 MeV é necessária uma placa de
chumbo com cerca de 1 cm de espessura.
Os fotões e os neutrões têm ainda maiores penetrações na matéria.
E
D= , (36.1)
M
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onde D é a dose absorvida e E a energia depositada no material de massa M. A unidade
SI de dose absorvida é o joule por quilograma ou gray (símbolo Gy). O rad é uma
unidade também muito utilizada: 1 rad = 0,01 Gy. A designação “rad” vem de radiation
absorved dose.
Radiação com a mesma energia pode ter efeitos fisiológicos distintos. É que o
tipo (ou “qualidade”) da radiação também conta! Daí que se defina um “factor de
qualidade”, Q, tendo por base os efeitos produzidos num órgão ou tecido por uma certa
radiação e os efeitos produzidos por uma radiação de referência (raios X de 200 keV). A
chamada dose de radiação equivalente, que se representa por H, é a dose absorvida
ponderada pelo factor de qualidade dessa radiação: H = QD . Se houver
simultaneamente vários tipos de radiação, a dose equivalente é uma soma de parcelas
como esta:
H= Qi Di (36.2)
i
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Aplicações
Figura 36.4
e + + e − → 2γ . (26.3)
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me c 2 (511 keV) e a conservação do momento linear implica que um fotão tenha a
mesma direcção do outro mas sentido oposto pois o momento linear inicial pode ser
considerado nulo. Cada reação como a (26.3) produz um par de fotões que são
detectados “em coincidência” temporal por detectores colocados em torno do paciente
(Fig. 36.4).
No campo da terapêutica os radioisótopos desempenham um papel importante.
As radiações gama e X são as mais utilizadas e o cobalto-60 uma das fontes mais
usadas. No futuro, a radiação produzida em aceleradores de partículas (radiação de
sincrotrão) irá, substituir em muitos casos as fontes tradicionais. Também a terapia com
hadrões (neutrões, protões, etc.) e iões pesados (núcleos de carbono, por exemplo) virá a
ter uma importância crescente. A vantagem está no facto de a energia das radiações de
hadrões se depositar numa região limitada, na parte final do percurso no organismo.
Desta maneira pode-se confinar a dose à região a tratar, poupando-se os tecidos das
regiões vizinhas. A situação é idêntica à que vimos atrás para as partículas alfa (Fig.
36.2).
As radiações têm aplicação noutros campos como a agricultura. Por exemplo,
com marcadores radioactivos pode-se compreender melhor a acção de adubos e
pesticidas. Por outro lado, a irradiação de sementes permite induzir mutações genéticas
com consequências que podem ser positivas na produção de alimentos. Este assunto,
que é de grande actualidade, tem, como é sabido, dado origem a grandes polémicas.
No campo da indústria e da ciência dos materiais, a utilização de radiação é
abundante e de muito vantajosa (detecção de defeitos em materiais, verificação dos
níveis de desgaste de peças, etc.)