You are on page 1of 4

A floresta tropical da aprendizagem

Construir a estrutura do conhecimento


(“The Learning Rainforest” de Tom Sherrington)

Pedro Damião
Twitter: @geofactualidade | Blogger: geofactualidades.blogspot.com

A metáfora “Learning Rainforest” (floresta tropical da aprendizagem) não é mais do que uma forma que o autor,
Tom Sherrington, encontrou para dar forma às suas ideias sobre o que considera um ensino de qualidade.
Consciente do debate atual entre o ensino progressivo e o ensino tradicional, o autor afirma-se no espaço
intermédio entre estas duas posições, através de um constructo assente na metáfora da árvore da aprendizagem:
nas raízes, as condições necessárias para aprender; no tronco, o conhecimento; e, na folhagem, as diversas
experiências de aprendizagem que podemos criar.Este segundo resumo corresponde à secção – Construir a
estrutura do conhecimento.

Explicar, modelar, promover a prática, questionar, feedback, avaliar

1. Explicar. No centro das competências de um bom professor está a capacidade para explicar os conceitos, as
teorias e as técnicas que fazem parte da disciplina. Saber explicar é tornar simples aquilo que é complexo. É
conseguir acelerar o processo de aprendizagem para todos através da clareza das explicações.

Levar os alunos a explicar as ideias do professor aos outros alunos é uma excelente forma de determinar a
profundidade da sua compreensão. Como professores, precisamos dominar os conteúdos da nossa disciplina e
de tempo para desenvolver a capacidade de explicar os conceitos de forma simples. Associado à explicação está
também a formulação de questões probatórias e a capacidade para ganhar a atenção e o envolvimento dos
alunos.

Para promover uma boa explicação de um conceito conteúdo, recomenda-se:

- contar uma história, fazendo ligações entre as ideias abstratas e a vida real; - usar modelos, para criar
significado e exemplificar;

- usar figuras, conforme recomenda a teoria de "dual code"; combinar a explicação verbal com imagens, esboços,
diagramas de conceitos, frisos cronológicos ou fotos, facilitará a explicação do professor e a compreensão;

- utilizar analogias, para dar sentido às ideias abstratas;

- tomar a perspectiva do aluno: é importante ter sensibilidade para estabelecer a profundidade da explicação
necessária para aqueles alunos em particular, em função dos conhecimentos prévios que já detêm;

2. Modelação e metacognição. É importante que o professor modele ou exemplifique tudo aquilo que pretende
que os alunos façam por si próprios. Desta forma, comunica-se como deve ser feito e apresenta-se o critério de
qualidade. Ao mesmo tempo que o professor modela aprendizagem, deve verbalizar o pensamento inerente,
ajudando na metacognição.

3. Verificar a compreensão. O professor deve certificar-se que os alunos aprenderam aquilo que é suposto
aprender. Não basta perguntar se perceberam. É importante fazer perguntas que obriguem os alunos a demonstrar
a sua compreensão de um conceito.

4. Questões probatórias. São questões que dirigem os alunos para níveis mais profundos de compreensão, que
não se situam à superfície, e que envolvem ainda mais os alunos na aprendizagem.

5. Ser dialógico. É a tendência natural dos professores que distribuem questões por toda a turma, mantendo os
alunos envolvidos e interessados, num diálogo aberto sobre uma determinada questão, dando dinamismo à sala
de aula. Para tal é necessário que as perguntas envolvam o raciocínio, a formulação de hipóteses e pensar em voz

Batalha de Ideias para a Sala de Aula 1


alta. Envolve também respostas orais mais elaboradas. O que pensas sobre...? Como avalias...? Que relação
existe entre...? Como demonstras que...? Que elemento no gráfico que permite concluir que...?

6. Pensar, a pares, partilhar (think, pair, share). De cada vez que o professor elabora uma questão para a turma,
concede tempo para que cada aluno pense na resposta. Depois, cada aluno partilha a sua resposta com o colega
e só depois com a turma. Desvantagens da resposta de "braço no ar": Apenas responde uma pessoa cada vez e o
professor fica sem saber o pensamento dos outros alunos; a resposta correta pode ser conhecida antes do aluno
pensar nela por si próprio; o aluno pode evitar responder ou pensar na resposta; é fácil responder que não se
sabe a resposta; os alunos mais introvertidos sentem-se inibidos para levantar o braço; os alunos têm pouco
tempo para pensar na resposta.

7. Respostas de toda a turma (whole-class response). Para respostas simples, os alunos escrevem a resposta numa
folha branca ou num mini quadro branco, e levantam-na todos ao mesmo tempo, podendo o professor ler a
resposta que cada um deu.

8. Escolha múltipla. Esta é uma excelente estratégia para perceber se a turma compreendeu alguns dos conceitos
chave antes de avançar e permite ter informações sobre cada aluno de forma simples. O segredo reside no
desenho de boas perguntas que forneçam ao professor informações sobre o sucesso do seu ensino e da
aprendizagem. Uma taxa de sucesso de 80% deve ser considerada para avançar em frente. Menos do que isso
significa que há muitos alunos que estão a ficar para trás.

9. Prática guiada. Esta é uma componente essencial em cada fase da aula, pois deve ser concedido tempo para
que os alunos treinem ou experimentem na presença do professor, que lhes pode dar apoio e confiança. A prática
guiada faz a ligação entre a explicação do professor e a prática independente.

10. Dizer melhor. Sempre que um aluno dá uma resposta oral, o professor pede para que o aluno reformule a
resposta para uma frase mais bem construída e utilizando os conceitos adequados. Esta é uma rotina que deve ser
implementada de forma recorrente. Exemplo: O que nos diz o gráfico? 1ª vez: Está a subir. 2ª vez: As medidas
natalistas promovem o aumento do número de filhos e a taxa de natalidade aumenta.

Desta forma estamos a comunicar elevadas expectativas aos alunos, afirmando que não aceitaremos respostas
pouco consistentes, ao mesmo tempo que damos hipótese aos alunos para ensaiarem melhores respostas.

Feedback e revisão

11. Feedback oral. O propósito do feedback é levar os alunos a seguir em frente na sua aprendizagem e não
simplesmente de escrever o quanto progrediram até agora. Idealmente o feedback deve ser dado prontamente
para que o progresso possa ser retomado de imediato. Por isso o feedback oral, dado no decorrer da aula, é a
forma mais efetiva. O feedback deve ser específico e claro; focado na tarefa e não no aluno, pois pretende
comprometer o aluno com essa tarefa; explicitador e focado na melhoria; desenhado para fazer corresponder os
resultados aos fatores que o aluno pode controlar; desenhado para ligar o esforço ao resultado.

Não basta dizer "Bom trabalho, continua a esforçar-se para melhorar". Apesar de ser motivador não diz ao aluno o
que pode fazer em concreto para melhorar. Melhor será se o professor disser "Podes fazer ainda melhor se, antes
de responderes, sublinhares no texto o vocabulário relevante para a resposta". O feedback deve centrar-se nos
aspectos que podem fazer a diferença para melhorar, ao invés de descrever o que está errado ou fazer afirmações
genéricas como "Podes fazer melhor".

12. Ensino responsivo. A melhor forma de ensino responsivo é a "avaliação para a aprendizagem". É sobretudo
uma atitude professor, mais do que um conjunto de estratégias. Ao adotar o ensino responsivo como atitude
mental, o professor vai para cada aula com objetivos de aprendizagem bem definidos mas também com um plano
de contingência para ajustar a aula ao progresso dos alunos. Para além da intencionalidade necessária, o
professor necessita de algumas ferramentas: métodos para identificar o progresso dos alunos (ferramentas para
avaliação formativa) e métodos para ajustar o ensino ou a prática dos alunos aos objetivos de aprendizagem.
Algumas técnicas para o ensino responsivo: estratégias de questionamento, critérios de sucesso, auto avaliação.

Batalha de Ideias para a Sala de Aula 2


13. Verificação de cadernos e trabalhos. A verificação de cadernos e trabalhos dos alunos ("marking") tem dois
objetivos: para os professores conhecerem mais em detalhe o trabalho dos alunos e aferir da sua evolução; para
dar a informação aos alunos sobre onde e como devem melhorar.

Esta é uma tarefa que sobrecarrega o trabalho do professor e por isso podem ser seguidas as seguintes sugestões:
selecionar os aspectos a verificar e com uma frequência definida; verificar apenas o trabalho cujos comentários ou
anotações do professor possam conduzir a melhorias; restringir os comentários escritos apenas àqueles que
informem os alunos sobre como melhorar e como devem proceder para melhorar; esta tarefa deve conduzir a
mais trabalho dos alunos do que ao próprio professor; dar tempo para responderem face ao feedback que o
professor deu; utilizar esta estratégia para explicitar aos alunos critérios de qualidade mais elevados, sem aceitar
como "Bom" qualquer trabalho realizado.

14. Feedback à turma. A estratégia consiste em recolher todos os cadernos dos alunos e ler as partes sobre as
quais se pretende dar feedback; registar numa folha os aspectos a merecer em atenção pois repetem-se em muitos
alunos (erros comuns, aspectos a melhorar, bons exemplos a partilhar); entregar os cadernos aos alunos e ler os
comentários para toda a turma; mostrar a turma os exemplos de excelência e falar individualmente com os alunos
cujo trabalho requer atenção especial. É uma alternativa ao feedback individual, menos penalizadora para o
professor.

15. Preencher as lacunas. Significa dar feedback para garantir a melhoria. A lacuna é a diferença entre o nível de
detalhe produzido pelo aluno e o nível que poderia atingir se tomasse o feedback em consideração.

16. Ensinar para a memória. Podemos ensinar para a compreensão agora e podemos ensinar para recordar mais
tarde. Quanto melhor os alunos compreenderem agora, serão capazes de relembrar no futuro. Temos porém que
afirmar que os alunos não aprenderam a menos que no futuro consigam demonstrar ou relembrar os
conhecimentos e as competências que foram ensinados. Por esta razão é importante ensinar para a memória de
longo prazo. É frequente considerarmos que os alunos não conseguem reproduzir conhecimentos adquiridos
algumas aulas depois e que esquecem rapidamente tudo quanto lhes foi ensinado. Certamente porque o trabalho
do professor não se dirigiu para melhorar a capacidade de retenção na memória de longo prazo.

Ensinar com o objetivo explícito de relembrar mais tarde, em vários momentos no tempo, implica que os alunos
saibam o que esperamos que façam com o conhecimento adquirido. Não basta expor os alunos a informação que
lhes damos e esperar que esta seja assimilada e transferida para a memória de longo prazo. Se os alunos
souberem que a informação que lhes damos vai ser testada em breve, irão certamente desencadear os
mecanismos mentais para a reterem na memória. Um dos métodos mais eficazes consiste na realização de
pequenos quizzes, cerca de uma semana após a informação ser ensinada. Outro método reside no treino quando
se trata de algo repetível tais como aplicação de fórmulas, entrando facilmente na rotina quando realizado muitas
vezes.

17. Revisão diária, semanal e mensal. Os testes de baixo risco numa base regular são um poderoso meio para
avaliação formativa, ao mesmo tempo que ajudam a desenvolver a memória de longo prazo. A revisão regular ou
prática de recuperação (“retrieval practice”) fortalece a nossa capacidade para relembrar o que aprendemos e
quanto mais praticarmos o relembrar de informação, mais fácil se torna esse processo e mais segura fica essa
informação na memória de longo prazo. Para que isto funcione é necessário definir um padrão de procedimentos:

- identificar o conhecimento específico passível de ser testado em quizzes;

- tornar familiar aos alunos os métodos de quizzing (PowerPoint? Socrative? Kahoot? Folha de papel?);

- definir um método rápido para a auto verificação das respostas ou pelos colegas (exemplo projetar as respostas);

- estabelecer uma rotina que teste os mesmos elementos do conhecimento de forma repetida para reforçar o
processo de relembrar. Os alunos irão muito facilmente relembrar coisas que forem testadas sucessivas vezes;

- estes testes de baixo risco não necessitam ocupar muito tempo em cada aula mas devem tornar-se rotinas
semanais e mensais. Diversificar esta tarefa misturando conceitos de outros temas e fazendo ligações entre
conceitos de vários temas (intercalar e espaçar).

Batalha de Ideias para a Sala de Aula 3


Com esta prática os alunos irão ficar mais fluentes na prática de relembrar e considerar este processo muito
positivo. O conjunto de informação a ser testado em cada aula deve ser ponderado para que não seja excessivo
nem demasiado simples.

18. FACE. O acrónimo FACE consiste numa estratégia para ensinar os alunos a rever para os exames ou para os
testes, e significa:

Factos - identificar os factos principais que necessitam ser conhecidos e aprendidos; memorizar e auto testar; não é
possível explicar alguma coisa se os factos principais não forem relembrados;

Aplicar em contexto - relembrar factos para resolver problemas em novos contextos; os factos isolados não
chegam; testar o conhecimento em diferentes cenários através de questões em livros e em exames ou testes
anteriores;

Conectar a outras ideias - é necessário fazer ligações cada vez mais aprofundadas entre os diferentes assuntos,
recorrendo a diferentes fontes de informação, procurando padrões em acontecimentos ou processos;

Exames anteriores - recorrer a perguntas de exames anteriores para ensaiar os processos de resposta debaixo da
pressão do tempo.

Através desta estratégia simples de "aprender os factos - aplicar em contexto - ligar a outras ideias - praticar
questões de exame”, os alunos poderão desenvolver uma rotina de preparação para testes ou exames.

19. Aprender pelo coração. Aprender pelo coração é um método em que os alunos aprendem um grande volume
sequencial de informação através de um estilo poético. Este método aplica-se a qualquer disciplina e, tal como o
retrieval practice através de quizzes, pode ser utilizado para datas e acontecimentos históricos, onde a sequência
seja importante, para sequências de informação (ordem dos planetas, países da União Europeia), sequências de
reações químicas, fórmulas matemáticas,.. Aprender pelo coração consiste em levar os alunos a declamar a
informação num estilo poético e apaixonado por essa mesma informação.

20. Trabalho de casa = estudo orientado. A maior parte dos trabalhos de casa que são consignados aos alunos
evolvem respostas de desenvolvimento ou outras desafiantes para os alunos, sobretudo para os mais novos ou
aqueles com mais dificuldades. As formas mais seguras do trabalho de casa assumem a forma de estudo
orientado, instrumentos para o estudo independente baseado no trabalho que já foi feito na sala de aula. O
trabalho de casa deve servir para o aluno ganhar confiança e para estruturar o estudo independente. Uma das
formas possíveis será solicitar a leitura prévia de material a ser utilizado na próxima aula, com identificação e
pesquisa sobre o vocabulário desconhecido. Outra forma poderá ser a pesquisa de informação de acordo com
um determinado modelo fornecido pelo professor. Para a realização do trabalho de casa é importante que os
alunos tenham os recursos, as orientações e as fontes de informação necessárias, assim que saiam da aula. O
objetivo principal do professor deverá ser ajudar os alunos a construir o seu conhecimento através de tarefas que
podem realizar em casa e sem apoio.

Batalha de Ideias para a Sala de Aula 4

You might also like