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Apontamentos sobre a música da Reforma e da Contra Reforma

Foi durante o Renascimento, em meados do século XVI, que as crenças e práticas da


Igreja Católica começaram a ser questionadas em vários pontos culminando em uma nova
vertente religiosa derivada de reformulações de valores e práticas do catolicismo, à esta
reforma dá-se o nome de Reforma Protestante. A reforma inicia-se com Martinho Lutero,
monge e professor de teologia, na Alemanha, seguido de Calvino na França, Países Baixos e
Suíca e Rei Henrique VII na Inglaterra.

Durante o início da reforma Lutero foi auxiliado por amigos músicos e poetas que
apoiavam seus ideais, como Johann Walther, Konrad Rupff e Ludwig Senfl. O monge alemão
explicou-lhes a importância da linguagem pura, expressiva, simples e acessível ao povo. Seu
objetivo maior era tornar o texto das músicas o mais compreensível possível afim de que
todos pudessem participar ativamente das práticas religiosas, para isso fez uso de uma
linguagem comum mediante a uma melodia simples em que o canto discorria sobre textos das
escrituras. Lutero também encorajou a composição de novas músicas e textos.

Inicialmente mantiveram as obras de forma semelhante às fontes católicas


tradicionais utilizando-se do cantochão e polifonia. Traduziram escrituras em idioma local e
recorreram também às melodias profanas, uma vez que a prioridade era a palavra e não a
música. Algumas obras conservaram os textos originais enquanto outras foram traduzidas
para língua vernácula, e outros ainda tiveram novos textos sobre melodias antigas, assim
compunha-se o Coral Luterano. Sobre a origem dos textos e melodias, Lutero utilizou-se de
diversificadas fontes, adaptando e traduzindo, por exemplo, a hinódia oficial latina, fez
paráfrases e metrificações de salmos e textos bíblicos, assim como hinos populares anteriores
à reforma. Até a época de Johann Sebastian Bach, no período Barroco, o Coral Luterano foi
um modelo de composição a ser seguido por muitos compositores. Mediante a música Coral
a congregação aprendia os dogmas de sua fé, as músicas possuíam métricas simples e os
textos com versos rimados facilitando assim a memorização. O surgimento da imprensa
musical, por intermédio de Ottorino Petrucci em meados de 1501 em Veneza, muito auxiliou
a disseminação desta nova música coral que ultrapassou as fronteiras.
Canções populares estrangeiras, em especial as francesas também exerceram
influencia sobre o coral luterano, Saltério Huguenote assim como cânticos espirituais
medievais fornecendo subsídio aos corais. Aos poucos a música luterana tornou-se mais
elaborada contando com a participação de solistas e coro, entretanto ainda com o objetivo de
ser prioridade a inteligibilidade do texto e para isso propôs os textos em língua vernácula, pois
o objetivo era de que o povo cantasse e entendesse a mensagem proposta pelos cânticos. O
hino estrófico é uma das maiores contribuições da Igreja Luterana, conhecido também como
Coral, destina-se para o canto congregacional em uníssono, já que Lutero defendia a
participação ativa do povo durante o culto.

Para além de Lutero, a reforma protestante na Europa continuava e é importante


notar que ocorreria forma peculiar em cada país. Na França, o teólogo Calvino e outros
líderes protestantes influentes apresentavam forte oposição a alguns elementos da liturgia
católica. Um dos pontos questionados e apresentados era de que a presença das Artes em local
de culto apenas tornaria os fiéis fascinados e distraídos, ademais se proibia o uso de textos
que não eram pertencessem à bíblia. Lutero, nestes aspectos, demonstrava-se mais menos
incomodado e mais flexível. A contribuição musical dos Calvinistas deste período de reforma
reúne traduções métricas do Livro dos Salmos e coleção de 150 textos dos salmos compostas
com melodias recentes da respectiva época, músicas de origem popular ou , ainda, cantochão
com métricas rimadas e estróficas que ficaram conhecidas como saltério.

Para que o saltério fosse introduzido nos serviços de culto da cidade, cantores
ensinavam ao povo como cantar de forma congregacional, iniciando o trabalho com as
crianças. A intenção do coral infantil era a de estimular a participação dos meninos na missa
para que alguns deles tomassem o caminho sacerdotal e para que também tanto os meninos
como as meninas pudessem cantar os novos hinos aos pais e parentes próximos. Em diversos
países uma quantidade significativa de igrejas adaptaram melodias do saltério, inclusive a
igreja luterana, em outras igrejas também produziam traduções do saltério.

Ao perceber que estava diminuindo o número de fiéis, a Igreja Católica decidiu


tomar providências refletindo e reformulando seus próprios dogmas. O Conselho de Trento é
o marco da Contra Reforma, cujo objetivo foi evitar ambiguidades e arbitrariedades em suas
práticas e pregações. Sobre as questões musicais pouco se discutia em pautas formais,
entretanto durante as práticas havia conjecturas sobre o uso de cantus firmi seculares que
profanaria a missa, o uso da polifonia que obscurecia a compreensão dos textos e o
comportamento irreverente de músicos que utilizariam seus instrumentos de forma
inapropriada. O veredicto final do Conselho de Trento sobre as questões musicais foi deveras
generalista não se contrapondo ao uso de materiais e modelos seculares, entretanto opondo-se
com rigor ao uso de quaisquer modelos ou materiais que possuíssem intenções, que
evocassem atitudes/pensamentos impuros, pecaminosos, como a lascívia. Desta forma, a
música católica também se modificou com a intervenção da Contra Reforma, a voz humana
passou a ser considerada como único instrumento apropriado para a música sacra. O principal
compositor da Contra Reforma foi Giovanni Pierluigi de Palestrina, cujo sentido aguçado de
equilíbrio entre as vozes permitiu que suas obras musicais repassassem de forma íntegra e
clara as mensagens dos textos, apesar do uso da técnica polifônica.

O canto litúrgico protestante é marcado pela característica de valorizar mais à clareza


da mensagem expressa no canto do que em relação ao estilo a ser seguido pela composição e,
de forma oposta, anteriormente à Contra Reforma, a Igreja Católica se opunha ao uso de
quaisquer modelos provindos do gênero secular, além de textos da liturgia encontrarem-se em
latim, o que obscurecia a compreensão do povo sobre o que estava sendo explanado ou
cantado. Os questionamentos e posicionamentos que eclodiram durante a Renascença em
direção à Igreja Católica e seus dogmas modificaram valores e práticas não só musicais, deu
voz ao povo ofertando-lhes também condições para que compreendessem claramente o que se
eles se dispondo a viver por meio da fé.

Referências

GALL, E. A música na Reforma. Paróquia Martin Luther, 25 de Junho de 2006.


Disponível em: https://pt.scribd.com/doc/24061832/Musica-na-Reforma-Protestante
Acesso em: 05/09/2016

GESIEL. Contribuições musicais da Reforma Protestante e da Contra Reforma. Blogdogesiel, 06


de Outubro de 2015.
Disponível em:http://gesiel-blogdogesiel.blogspot.com.br/2015/10/contribuicoes-musicais-da-
reforma.html
Acesso em: 05/09/2016

PASCOA, M. Música na Reforma e Contra Reforma. História da música, 28 de Julho de 2011.


Disponível em: http://historiadamusica2011.blogspot.com.br/2011/07/musica-na-reforma-e-
contra-reforma.html
Acesso em: 05/09/2016

TYGEL, J. História da Música- Grécia Antiga ao Barroco. Renascimento – continuação.


Universidade Federal de São Carlos. História da Música, U3. 2016.
Disponível em: https://ead2.sead.ufscar.br/mod/resource/view.php?id=191218
Acesso em: 05/09/2016

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