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AGRICULTURA NO EGITO ANTIGO

Os produtos básicos da agricultura do Antigo


Egito eram os cereais (trigo duro e cevada
principalmente) e linho. Figos, uvas, tâmaras,
maças, rábanos, ervilhas e favas também estavam
entre as produções do solo egípcio. O papiro era
coletado nas terras pantanosas e utilizado não só
para a alimentação, preparada com os seus
rizomas, mas também como matéria-prima em
produtos de uso variado. Cordas eram fabricadas
a partir dos seus troncos e suas fibras permitiam
confeccionar tecidos, desde os mais finos, para o
vestuário elegante, até lonas grosseiras. Por sua
vez, vimes, juncos e folhas de palmeiras
tamareiras eram utilizados no fabrico de cestos e
esteiras. O trabalho agrícola ocupava pouco mais
de seis meses do ano e, assim, se dispunha de
mão-de-obra abundante para trabalhos
artesanais da aldeia, para conservação dos canais de irrigação e para as obras hoje ditas
faraônicas: templos, palácios, monumentos e sepulcros. Ao lado vemos um agricultor
segurando uma enxada. Confeccionada em madeira pintada, a peça foi encontrada em Asyut e
datada da VI dinastia (c. 2323 a 2150 a.C.). Para ver uma outra foto dessa figura, clique aqui.

Eram três as estações do ano típicas do país: a inundação, a saída e a colheita. A primeira
estendia-se de julho a outubro e durante ela as águas elevavam-se, normalmente, até sete ou
oito metros de altura; a segunda era marcada pelo reaparecimento das terras cultiváveis antes
escondidas pelas águas, era a época da semeadura e ia de novembro a fevereiro; finalmente a
colheita realizava-se de março a junho.

O semeador trazia da aldeia, nas costas, um cesto com duas asas. Chegando ao campo, enchia-
o de grãos e atava-o ao pescoço com uma corda cumprida o bastante para que a sua mão
pudesse tirar facilmente os grãos que espalharia pelo solo. Às vezes esse semear era realizado
antes que as águas voltassem totalmente ao leito do rio, a fim de que se aproveitasse a terra
amolecida pela inundação, o que facilitava o trabalho. Nesses casos, fazia-se com que o gado
menor, geralmente carneiros, passasse sobre o campo para enterrar as sementes. O pastor
agarrava num pouco de pasto e dava-o ao carneiro da frente que o seguia docilmente e
arrastava consigo o resto do rebanho. Cabras e porcos também chegaram a ser usados nessa
tarefa.

Caso a terra já
estivesse seca, eram
usados a charrua ou o
alvião para recobrir os
grãos. Eram
instrumentos simples
e leves feitos em
madeira. O alvião era
formado por um cabo,
uma placa e uma
travessa. É um A
maiúsculo com uma
perna mais comprida
do que a outra. Servia ainda para quebrar torrões de terra, o que também podia ser feito com
uma espécie de malho. A ilustração mostra um lavrador trabalhando. Essa peça em madeira
pintada é datada do Império Médio (c. 2040 a 1640 a.C.). Para ver uma outra foto dessa figura,
clique aqui.

O autor Ciro Flamarion Cardoso nos explica que como entre a semeadura e a colheita se
passavam de quatro a cinco meses, durante os quais os campos dispensavam maiores cuidados
e a umidade proveniente da última inundação era suficiente, os camponeses podiam se dedicar
a cultivos mais intensivos, que exigiam irrigação permanente, até o Reino Novo transportando
água em vasilhas dependuradas numa vara, e depois do século XIV utilizando o shaduf. Assim
era praticada a horticultura, sendo produzidos alho, cebola, pepino, alface e outras verduras e
legumes; também eram plantadas árvores frutíferas, e videiras. Várias plantas (como o
sésamo) eram cultivadas para obtenção de azeite; o azeite de oliva era importado. Sabemos
ainda que os óleos vegetais eram utilizados não apenas na cozinha, mas também na
iluminação, nos cosméticos e na terapêutica e provinham principalmente da bolota, do coco e
do rícino. Acima, numa foto © do Canadian Museum of Civilization Corporation, uma cena
agrícola com a
participação de
bovinos. Note o
arado e a
enxada na mão
dos
campesinos.

Inimigos
naturais dos
camponeses, os
donos das
terras ou seus
representantes
chegavam
como
gafanhotos com
uma nuvem de escribas, de mensuradores, empre-gados e guardas, logo que as espigas
amareleciam. Mediam inicialmente os campos e a seguir a quantidade de grão. Assim, fazia-se
uma idéia exata do que o camponês deveria entregar ou aos agentes do tesouro ou aos
administradores de um deus como Amon que possuía as melhores terras do país.

O autor Pierre Montet descreve a cena: O proprietário, ou o seu representante, saía cedo de
casa. Ele próprio conduzia o seu carro, agarrando firmemente as rédeas. Alguns servos
seguiam-no a pé, transportando assentos, esteiras, sacos e pequenas caixas, tudo aquilo de
que os mensuradores teriam necessidade para a sua inspeção e ainda outras coisas. Os carros
param junto de um maciço de árvores. Alguns homens vindos não se sabe donde ocupam-se
deles, desatrelam os cavalos, atam-nos a uma árvore, trazem-lhes água e pasto. Das caixas
retiram pães, várias iguarias, que repartem pelas cadeiras, pelos cestos e até um serviço de
“toilette”. O cocheiro instala-se à sombra e adormece, sabendo bem que pode contar com
algumas horas de tranquilidade. O senhor encontra-se já no meio dos agrimensores. Veste o
seu fato de luxo, peruca, camisa de mangas curtas atada na cintura sobre o saio, gorjal,
bengala e cetro. Os seus pés estão calçados por sandálias, e os artelhos protegidos das ervas
que pisa por polainas de laços. Os ajudantes usam apenas um saio. Alguns têm sandálias.
Outros andam descalços. Alguns agrimensores vestem também por cima do saio uma camisa
de mangas curtas e um saiote pregueado. Repartem os instrumentos da sua profissão: rolos de
papiro, paletas, sacos e pastas.

O chefe dos agrimensores descobre uma linde do campo. Verifica, invocando o grande
deus que está no céu, que ela se encontra exatamente no seu lugar. Coloca aí o seu cetro
enquanto que se desenrola e estende a corda. As crianças fazem grandes gestos para
afugentar as codornizes que voam por cima das espigas já grossas.
Seria errado acreditar que esta operação exige apenas a presença dos interessados. Ao
lado daqueles que trabalham, comprimem-se os curiosos e os conselheiros. Os próprios
executantes fatigar-se-iam depressa, se uma criada desembaraçada não trouxesse uma
refeição ligeira enquanto,
debaixo de um sicômoro, se
prepara uma refeição
substancial.

Para colher o trigo e a


cevada era usada uma foice
de madeira com dentes de
sílex, com a qual se cortava
os caules não rente ao chão
e sim um pouco abaixo das
espigas. Os ceifeiros iam
colocando-os no solo e
atrás deles vinham
mulheres que recolhiam as espigas em cestos e as acumulavam numa das extremidades do
campo. Algumas dessas mulheres estavam munidas de uma escudela, nas quais recolhiam os
grãos caídos por terra. Nas pinturas tumulares os proprietários das terras aparecem a ceifar e
a reunir as espigas, mas trata-se apenas de um simbolismo, pois em geral os senhores apenas
observavam os trabalhos, sentados em tamboretes, à sombra das árvores e com provisões ao
alcance das mãos.

Em algumas regiões do país, eram


os burros que transportavam os
feixes para a aldeia. As espigas
eram

acondicionadas em alforges de corda,


que depois de completamente
lotados ainda recebiam uma
quantidade suplementar dos cereais amarrados também com cordas. Em outras regiões, os
próprios homens efetuavam o transporte. Usavam para isso um saco feito em malha, preso a
uma armação de madeira e provido com duas asas de suspensão. Uma vez abarrotado o
recipiente, enfiava-se nas asas uma vara que era fixada com um nó. Então, sempre cantando,
dois homens carregavam o peso nas costas. As fotos acima, das quais a da direita é © do
Canadian Museum of Civilization
Corporation, ilustram bem esse
procedimento.

Levadas até a eira, as espigas


eram cuidadosamente
espalhadas no solo batido. O
gado (bois, burros e, em último
recurso, carneiros) era posto a
pisotear os cereais para que a
palha se separasse do grão.
Montet nos conta que quando a
camada de cereais era
suficientemente espessa, os bois
e os homens, uns armados de chicote outros de forquilhas, invadiam a eira. Enquanto os bois
espezinhavam o local, os homens não cessavam de mexer as espigas com as forquilhas. O calor
e o pó tornavam penoso este trabalho. Contudo, o boieiro excita os seus animais:

Trabalhai para vós, trabalhai, trabalhai para vós.


A palha é o vosso alimento. Os grãos são para os vossos donos. Não pareis!
O ar está tão fresco!

De vez em quando, um boi baixa a sua enorme cabeça e enche a boca com o que encontra,
palha ou grão, mas ninguém o enxota.

Retirados os animais da
eira, os homens usavam a
forquilha para separar,
ainda que sumariamente, a
palha dos grãos. As
impurezas, mais leves do
que os grãos, subiam à
superfície. Usando uma
vassoura eliminava-se a
maior parte da sujeira.
Finalmente, eram
empregados utensílios que
se assemelhavam um pouco a pás. Segurando o instrumento pelo cabo, os trabalhadores
enchíam-no de grãos, punham-se nas pontas dos pés e, levantando os braços o mais que
pudessem, deixavam cair o cereal. O vento arrebatava as cascas.
Era chegada
então a hora da
segunda invasão
de escribas e
medidores. Os
camponeses que
houvessem
escondido uma
parte de sua
colheita, ou
aqueles que não
tivessem conseguido produzir o que era previsto pela medição anterior que se fizera do
campo, eram derrubados e espancados.

Finalmente, o
cereal era
armazenado em
celeiros de
forma cônica,
construídos
dentro de um
pátio cercado
por altas
muralhas. Com
formato de pães
de açúcar, os
silos eram
cuidadosamente
rebocados
internamente e
caiados de branco por fora. Por meio de uma escada os homens alcançavam uma janela na
parte superior do celeiro, pela qual despejavam os grãos. Para retirar o cereal quando
necessário, havia uma pequena porta situada à altura do solo.

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